A Trindade - O Mistério de Deus

June 15, 2017 | Autor: Sérgio Gorjão | Categoria: Religious art, Arte sacra, Obidos, Museu Municipal de Óbidos
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Descrição do Produto

A TRINDADE O MISTÉRIO DE DEUS

SÃO JOÃO

MUSEU PAROQUIAL Paróquia São Pedro

Óbidos

MUSEU PAROQUIAL DE ÓBIDOS (IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA)

A TRINDADE O MISTÉRIO DE DEUS

MUSEU PAROQUIAL DE ÓBIDOS IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

Ficha Técnica Organização: Câmara Municipal de Óbidos Rede de Museus e Galerias Óbidos Patrimonium, E.M. Coordenação e textos: Sérgio Gorjão Museografia: Sérgio Gorjão Empréstimos: Paróquia de Santa Maria de Óbidos Paróquia de São Pedro de Óbidos Santa Casa da Misericórdia de Óbidos Santuário do Senhor Jesus da Pedra Fotos: Câmara Municipal de Óbidos Associação de Defesa do Património do Concelho de Óbidos Colaboração: Daniel Sousa, João Liberata Machado, João Pedro Tormenta, Patrícia Roque, Paula Maria Ganhão, Zélia Ferreira. Design: Costa Valença, Publicidade Lda Impressão: Palma Artes Gráficas, Lda Depósito legal n.º 1000 exemplares

Óbidos, 2006

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SANTÍSSIMA TRINDADE Séc. XVI (1.ª metade) Escultura em pedra policromada e dourada 60 x 30 x 25 cm. Museu Municipal de Óbidos, Inv.nº.157 (aquisição 1999)

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Cristo Ressuscitado Escultura policromada e dourada, séc. XVI (final), Igreja de São Tiago de Óbidos (Museu Municipal de Óbidos)

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INTRODUÇÃO A exposição e o presente texto, propõem uma abordagem sintética e parcial dos texto bíblicos onde se refere a figura de Deus que, na tradição religiosa cristã, se assume numa unidade, a Trindade, ou seja, uma só natureza em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A justificação para a apresentação deste tema radica no facto de ser um elemento central da teologia cristã, tão importante que em tempos foi motivo de acesas discussões entre as diversas igrejas e mesmo motivo de cisão entre o Ocidente e Oriente. Óbidos é uma terra onde os aspectos religiosos e a vida espiritual se revelam sob diversas formas. Há evidências de uma religiosidade pungente e histórica nos templos dispersos na Vila e no extenso calendário de actividades que pontuam todo o ano. Sobretudo sente-se um ambiente subtil que nos transporta facilmente para uma dimensão diversa daquela a que nos habituámos no contexto de vida actual. Mais uma vez o Museu Paroquial tenta trazer à luz do dia um tema importante para o cristianismo, mas configurando-o como uma referência cultural. Arte, Cultura e Religião são conceitos que em muitos aspectos se relacionam para ajudar o Homem a compreender e a vivenciar a sua dimensão espiritual. No contexto do mundo contemporâneo, sobretudo no mundo tocado pelo Catolicismo, o aspecto simbólico da arte pode ser crucial para a defesa dos valores da vida, da paz e da tolerância; bem como para a assunção da consciência do Homem como um meio de expressão do divino. A pesquisa sobre a arte, no seu aspecto externo e na sua dimensão interna (transcendente), são veículos para o entendimento da vocação da Igreja, da História do Homem, do caminho apontado por Cristo no passado, no presente e, sobretudo, no futuro.

Reflectir sobre a Santíssima Trindade, um tema tão central para o cristianismo, é essencial para entender a História e a natureza da palavra de Deus, numa manifestação superabundante de amor. Para este “Catálogo”, além dos textos introdutórios, utilizaram-se duas bases textuais insuperáveis: a Bíblia e o Novo Catecismo (Lei e Doutrina), basilares para o conhecimento e entendimento (ou justificação) da realidade transcendente da Trindade. Para a exposição utilizaram-se peças de referência no panorama artístico do concelho de Óbidos, sendo que nos merecem especial destaque os provenientes de templos como o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, importante monumento barroco dedicado à figura de Cristo no Calvário; a Igreja de Santa Maria (com várias representações da vida de Cristo), a Igreja de São Pedro, dedicada a um dos discípulos de Cristo, a Capela do Espírito Santo da Sancheira Grande (A-dosNegros) e, obviamente, os museus, onde se concentram algumas das principais obrasprimas. No contexto da presente exposição e dos propósitos de uma unidade museal com as características do Museu Paroquial de Óbidos, é fundamental ter presente o valor espiritual dos bens artísticos religiosos que se exibem. Segundo o novo Catecismo, “o homem exprime também a verdade da sua relação a Deus Criador pela beleza das suas obras artísticas. A arte é, com efeito, uma forma de expressão especificamente humana. Para além da busca da satisfação das necessidades vitais, comum a todas as criaturas vivas, a arte é uma superabundância gratuita da riqueza interior do ser humano”. Sérgio Gorjão

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Fides omnium christianorum in Trinitate consistit A fé de todos os cristãos consiste na Trindade 6

O PRINCÍPIO DA UNIDADE TRINITÁRIA A formação do dogma da Trindade encontra-se na raiz da fé cristã e é expresso em diversos passos bíblicos, como na saudação “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2 Co 13,13; cf. 1 Cor 12,4-6; Ef 4,4-6). A partir das referências bíblicas e desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja procurou formular com exactidão a base doutrinal da sua fé trinitária, não só para aprofundar a sua compreensão da fé, mas também para evitar eventuais deturpações ou ambiguidades na sua interpretação. Desta forma foram vários os concílios e doutores da Igreja que se debruçaram sobre a questão, desenvolvendo raciocínios filosóficos e teológicos, bem como uma terminologia específica, na qual se sintetizam conceitos como o de “substância” (o equivalente a “natureza” ou “essência”), ”pessoa” ou “hipóstase” (a diferenciação das figuras divinas), e outros conceitos. No dogma da Santíssima Trindade defende-se o aspecto de unidade já que não há uma confissão a três deuses distintos, mas a um só Deus manifesto em três pessoas. É o conceito de “Trindade consubstancial” estabelecido no Concílio de Constantinopla II, no ano 553 (DS 421).

entre si: “Deus é único, mas não solitário”. “Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é o Pai ou o Filho” (Cc. de Toledo XI, ano 675: DS 530), distinguindose pela suas relações de origem “O Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede” (Cc. Latrão IV, ano 1215: DS 804). Sendo que as pessoas divinas apresentam uma relatividade para com as restantes é neste ponto que elas se distinguem (não propriamente dividem). Também esta definição é feita no Concílio de Toledo XI, no ano 675 (DS 528), na qual se diz “Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois; quando se fala destas três pessoas considerando as suas relações, crê-se todavia em uma só natureza ou substância”. Perto de 800 anos depois, no Concílio de Florença de 1442 (DS 1330 e 1331) reafirma-se este princípio de unidade já que “Tudo neles é uno, lá onde não existe a oposição de relacção”. “Devido a esta unidade, todo o Pai existe no Filho e no Espírito Santo; o Filho está todo no Pai, e no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo no Pai e no Filho”.

No Concílio de Toledo XI, em 675 (DS 530), defende-se que as três pessoas da Trindade valem cada uma por si o mesmo que todas juntas, já que de algum modo a “divisão” nas três pessoas é apenas relativa e não absoluta; situação esta sublinhada no Concílio de Latrão IV, no ano 1215 (DS 804) em que se diz que “Cada uma das três pessoas é a mesma realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina”.

Define-se, também, em diversos eventos da história do cristianismo, o conceito de “filioque” em que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, como aliás é expresso no Credo de Niceia e mais tarde, no Concílio de Florença de 1438, se redefine que “O Espírito Santo tem sua essência e seu ser subsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de Ambos como de um só princípio e por uma única expiração...”

Na obra Fides Damasi (DS 71) defende-se que as três pessoas divinas são distintas

Embora em 381, no Concílio de Constantinopla, afirmação do “filioque” não figurasse,

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existiu desde cedo esta tradição latina e alexandrina, a qual teve especial expressão com o papa São Leão em meados do século V. É a diferença de entendimento sobre a procedência do Espírito Santo que gerou a discórdia e a divisão doutrinal entre as igrejas cristãs (orientais e ocidental). No Oriente afirma-se que o Espírito procede do Pai pelo Filho. No Ocidente é dado relevo

Urna do Santíssimo (com representação da Trindade) Talha dourada, séc. XVIII (final), Igreja da Misericórdia de Óbidos (Museu Municipal de Óbidos)

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à comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho, afirmando-se que o Espírito procede do Pai e do Filho (“filioque”). Um dos grandes doutores da igreja do século IV, o Padre Grego da Capadócia S. Gregório Nazianzeno (c.330-390), denominado “o Teólogo”, faz a seguinte síntese de fé aos Catecúmenos de Constantinopla: “Antes de todas as coisas, conservai-me este

bom depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar todo os males e desprezar todos os prazeres; refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. Eu vo-la dou como companheira e dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Poder, que existe Una nos Três, e que contém os Três de uma maneira distinta. Divindade sem diferença de subs-

tância ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe... A infinita connaturalidade é de três infinitos. Cada um considerado em si mesmo é Deus todo inteiro... Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade, e a Trindade me banha no seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, e a unidade toma conta de mim” (0r. 40,41: PG 36,417).

Pai

Espírito Santo

Filho

Pormenor do Sacrário do Retábulo da Capela-Mor (com representação da Trindade) Talha dourada, séc. XVIII (início), Igreja de São Pedro de Óbidos

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O MISTÉRIO DA SANTÍSSIMA TRINDADE De acordo com a doutrina católica, o entendimento da figura trinitária de Deus, ou de Deus em três “pessoas”, é matéria de Fé, sobrepondo-se a um mero conhecimento racional. Segundo o Novo Catecismo da Igreja Católica “a Trindade é um mistério de fé no sentido estrito, um dos “mistérios escondidos” em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto” (Cc. Vaticano I: DS 3015)”. Embora Deus (trinitário) se tenha revelado no Antigo Testamento manteve-se, contudo, um mistério inacessível à “pura a razão e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo” (1). Este conhecimento, entendimento ou interiorização pela Fé, é um sinónimo de desenvolvimento espiritual, ligando-nos a uma dimensão superior e sobrenatural. Trata-se de um conhecimento mais íntimo mas, mesmo assim, ainda podemos entendê-lo como um estado intermédio para uma realidade de revelação em que a dimensão de beatitude e de clarividência se tornam absolutamente pungentes e determinantes. Os mistérios da Trindade, da Encarnação e da Redenção, pondo a tónica no primeiro que, de algum modo, aglutina os seguintes, são os mais importantes do Catolicismo, pelo que a sua observação e compreensão se tornam cruciais para uma franca realização espiritual e para uma verdadeira Fé em Deus. Se por um lado a manifestação de Deus Filho é muito “palpável” dado a sua componente histórica e humana, por outro a Santíssima Trindade é a realidade profunda e um dos fulcros da Fé, devendo por isso ser mais “estudada” e “ensinada”.

Sendo Deus uma entidade única, as três pessoas da Trindade não podem ser vistas separadamente. Este paradoxo transportaria para o Cristianismo uma visão politeísta. Assim Deus revela aspectos diversos num plano relativo, mas trata-se apenas de várias “formas” do mesmo “objecto”. É como que a manifestação de várias cores do arco-íris que não o são por si, mas sim como a “diferenciação” de um feixe de luz. Pai, Filho e Espírito Santo são detentores de uma mesma natureza divina, não repartem entre si essa natureza e não podem ser entendidas nunca como três naturezas diferentes. Contudo, atendendo às limitações do ser humano, por vezes, do ponto de vista intelectual e conceptual é “necessário” distinguir ou analizar cada uma das três pessoas que compõe a Trindade. Esta “diferenciação” revela-se não tanto na natureza divina (que é igual e concomitante a ambos), mas sim nos paralelos de relaccionamento existentes entre cada uma das pessoas divinas. O Pai e o Filho têm uma relação de paternidade / filiação e a relação destes com o Espírito Santo é de Processão (ou seja procede do Pai e do Filho). Esta “Pessoa” divina é como que um elemento vivificador, nascida do laço de amor que une o Pai e o Filho. As três pessoas divinas, por possuírem a mesma natureza, são absolutamente iguais entre si, manifestam a mesma imutabilidade, imensidade, infinidade, poder, sabedoria e amor. Na realidade absoluta não se pode entender que exista Pai sem Filho e sem Espírito Santo e vice-versa, nem nenhuma relação hierárquica, pese embora se entenda que o Filho procede do Pai e que o Espírito proceda de ambos. O Filho de Deus está no Pai porque participa

(1) Catecismo da Igreja Católica, Coimbra, Gráfica de Coimbra, 1993

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da mesma natureza; o Pai está no Filho pela mesma razão e porque este é feito à Sua imagem; por fim o Espírito Santo convive na Natureza divina, é expressão de Amor entre Pai e Filho, pelo que resulta que as pessoas divinas habitam em reciprocidade. “Paradoxalmente” a relação de procedências do Filho relativamente ao Pai, e do Espírito Santo conduzem a uma caracterização de atributos mais adequados a uma ou outra pessoa divina. Deste modo o Pai é essencalmente detentor de poder e criação (“Deus Pai Todo Poderoso, criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis

e invisíveis.....”); o Filho é instrumento de redenção e, por isso mesmo, manifestação de Sabedoria de conciliação entre justiça e Misericórdia e, sobretudo, de dádiva do seu ser para a remissão dos pecados do Mundo; e o Espírito Santo é manifestação de Amor, cuja missão é a santificação das Almas. Ao receber o sacramento do Baptismo este é dado “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Por este motivo se afirma que o Mistério da Santíssima Trindade é o mistério central do Cristianiamo e da Fé, já que se reporta a Deus em si mesmo, sendo, por isso, precedente a qualquer outro mistério.

Apresentação da Trindade (três Anjos) a Abraão (Gn 18) Azulejos polícromos, fábrica do Juncal (Alcobaça) ?, c. 1770-80, Quinta das Janelas (Óbidos)

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“Continuava eu a olhar até que foram preparados uns troncos e um ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário e os cabelos da cabeça eram como de lã pura (...)”. (Dn 7, 9) 12

DEUS PAI A invocação de um deus criador ou do qual procede o ser humano ou o universo é comum a muitas religiões. Na antiga religião judaica a concepção Deus é materializada na figura do Rei supremo de Israel e sobretudo na figura de Pai: a origem primordial de todas as coisas; a autoridade transcendente e a expressão de um amor paternal de bondade e solicitude para com os seus filhos, mas também de punidor (tal é o caso do Deus da Aliança com Noé). Há, contudo, um forte sentimento dual entre o sujeito e o objecto, ou seja, entre o Homem e o seu Deus. A Fé em Deus Pai radica, desta forma, na confiança da relação e experiência humana da paternidade e maternidade. Por este motivo é considerada a primeira esfera de relação espiritual a dos filhos com os seus pais biológicos ou de criação e daí uma segunda relativa aos sacerdotes (segundos pais) e com Deus (o Pai absoluto).

Criação do Universo No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo, e o espírito de Deus movia-se sobre as águas. Deus disse: “Faça-se luz”. E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz e às trevas, noite (...) foi o primeiro dia. Deus disse: “Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras” (...) foi o segundo dia. Deus disse: “Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca”. (...) Deus disse: “Que a terra produza verdura” (...) foi o terceiro dia.

Para o cristianismo Deus Pai não é só o Deus Criador de todas as coisas, numa origem historicamente remota, mas é também um Pai eterno, que está para além da concepção humana de tempo, personificada em Cristo como Seu filho, a encarnação do Verbo, tornando-se, assim, Pai de todos os Homens de todos os tempos. No ritual cristão o primeiro passo é o sacramento do baptismo, acção iniciática e propiciatória em que se afirma, perante o exemplo de Cristo, a fé no Mistério da Trindade. Deste modo os apresentados são baptizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19), tendo antes, contudo, respondido “Creio”, inequivocamente, à pergunta sobre a sua certeza e fé nas três pessoas da Trindade.

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Deus Pai (pormenor do Túmulo de D. João de Noronha e D.ª Isabel de Sousa) João de Ruão, Coimbra, escultura em pedra calcária, c. 1523, Igreja de Santa Maria de Óbidos

Deus disse: “Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos” (...) foi o quarto dia. Deus disse: “Que as águas sejam povoadas por inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus” (...) foi o quinto dia. Deus disse: “Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes (...)”. Depois, Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança (...)”. Deus criou o ser humano (...) Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os Deus disselhes: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra (...) foi o sexto dia. Concluída, no sétimo dia, toda a obra que havia feito, Deus repousou (...). Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação. (Gn 1-2) A Expulsão do Paraíso e a Aliança com Noé Após a expulsão de Adão e Eva do jardim do Éden, gera-se uma descendência de homens

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que se entregam ao mal e Deus, pretendendo puni-los, ordena a Noé, “...um homem justo e perfeito, entre os homens do seu tempo (...)”, que construísse uma arca. Deus disse a Noé: “(...) Constrói uma arca de madeiras resinosas. Dividi-la-ás em compartimentos e calafetá-la-ás com betume, por dentro e por fora. (...) É que Eu vou lançar um dilúvio que, inundando tudo, eliminará debaixo do céu todos os seres vivos. (...) Contigo, porém, farei a minha aliança: entrarás na arca com os teus filhos, a tua mulher e as mulheres de teus filhos. De tudo o que tem vida, de todos os animais, levarás para a arca dois de cada espécie (...)”. Choveu torrencialmente durante quarenta dias sobre a terra, depois a chuva parou, as águas foram baixando e a terra foi secando, até que se puderam libertar os animais que estavam na arca. Noé construiu um altar ao Senhor, onde Lhe fez ofertas em holocausto. Deus disse no seu coração: “De futuro não amaldiçoarei mais a terra por causa do homem (...). Enquanto subsistir a Terra, haverá sempre a sementeira e acolheita, o frio e o calor, o Verão e o Inverno, o dia e a noite”. (Gn 6-8)

Moisés e a Sarça-ardente (Ex 3, 2) Azulejos polícromos, fábrica do Juncal (Alcobaça) ?, c. 1770-80, Quinta das Janelas (Óbidos)

A Aliança com Abraão Deus ordena a Abrão que partisse para a terra que Ele indicasse, e este assim fez fixando-se em Hebron, terra que lhe ficara prometida para si e para os seus descendentes, apesar da sua mulher, Sarai, ser estéril. Sarai, para manter a linhagem de Abrão, oferece ao marido a sua escrava Agar, a qual veio a conceber e a dar à luz Ismael. Deus, contudo, aparece a Abrão e estabelece com ele uma nova aliança, permitindo-lhe ter filhos da própria mulher, os quais haveriam de constituir a origem de diversos povos. Em sinal da aliança com Deus, todos os homens da sua casa e ele próprio, seriam circuncidados. Desde esse momento Abrão passa a denomi-

nar-se Abraão e a sua mulher deixaria de se chamar Sarai para ser conhecida por Sara. Nasce Isaac, filho legítimo de Abraão e Sara, mas Deus ordena a Abraão, como prova do sua fidelidade, que sacrifique Isaac, o seu filho legítimo. Abraão, dilacerado mas com total obediência a Deus, promove a execução de Isaac, mas num último instante o mensageiro do Senhor chamou Abraão do céu (...) e disse-lhe: “Juro por mim mesmo, declara o Senhor, que, por teres procedido dessa forma e por não teres recusado o teu filho (...), abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar (...)”. (Gn 12-22)

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Recolha do Maná (Ex 16, 15), azulejos polícromos, fábrica do Juncal (Alcobaça) ?, c. 1770-80, Quinta das Janelas (Óbidos)

Apanha das codornizes no deserto (Ex 16, 13), azulejos polícromos, fábrica do Juncal (Alcobaça) ?, c. 1770-80, Quinta das Janelas (Óbidos)

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Água na rocha no Horeb (Ex 17, 6), azulejos polícromos, fábrica do Juncal (Alcobaça) ?, c. 1770-80, Quinta das Janelas (Óbidos)

A Aliança com Moisés Deus Libertador e Justo Moisés, nascido de uma família judia, salva-se ao martírio dos inocentes ordenado pelo faraó Ramsés II, sendo depositado num cesto e deixado à deriva no Nilo, de onde é recuperado e adoptado por uma princesa egípcia. Crescendo na convicção de ser um membro da casa real, Moisés é confrontado, já em idade adulta, com a sua verdadeira origem e retira-se para junto das famílias de Israel, casando com Séfora. Estando um dia, na montanha, a apascentar os rebanhos de seu sogro, assiste ao milagre da sarça-ardente, revelando-lhe Deus a missão a que estava destinado: libertar os povos de Israel. Por ordem de Deus, Moisés e Aarão vão à presença do faraó pedir-lhe a libertação dos seus povos. O faraó recusa, mesmo quando confrontado com as sete pragas que foram lançadas sobre o Egipto: a transformação da água do Nilo em sangue, a praga de rãs, de

mosquitos e moscas, a morte dos animais de criação, e a criação de úlceras e pústulas; a chuva de granizo e fogo; a praga dos gafanhotos e as trevas e, por último, a morte de todos os filhos primogénitos no Egipto durante a celebração da Páscoa judaica. Só depois disto o faraó acaba por permitir a partida dos judeus. Na travessia do mar vermelho, Deus opera um novo milagre, permitindo a passagem por entre as águas. Na outra margem, no deserto, o povo de Israel chega ao oásis de Elim, onde se opera o milagre da purificação das águas, e o milagre do maná e das codornizes. Os israelitas chegam, por fim, ao deserto do Sinai, onde Deus pronuncia os dez mandamentos a Moisés. (Êxodo) Embora o Antigo Testamento esteja repleto de revelações de Deus Pai, estes são os passos essênciais da aliança estabelecida com a Sua criação e os alicerces da Casa que culmina com a assunção do Filho Redentor.

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Morte da filha de Jefté (Jz 11, 34), azulejos polícromos, fábrica do Juncal (Alcobaça) ?, c. 1770-80, Quinta das Janelas (Óbidos)

Moisés apresentando as Tábuas da Lei (Ex 32, 15) Azulejos polícromos, fábrica do Juncal (Alcobaça) ?, c. 1770-80, Quinta das Janelas (Óbidos)

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Eu sou o alfa e o ómega, O primeiro e o último, o princípio e o fim. O que é, o que era e que há-de vir. (Apoc 22, 13 e 1, 8)

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DEUS FILHO - JESUS CRISTO A manifestação encarnada do Verbo divino na pessoa de Jesus é um dos momentos mais extraordinários da História da Humanidade, independentemente de se professar o Cristianismo. Este sentimento de algo tão transcendentalmente extraordinário reside no facto desta ser uma manifestação da natureza primordial em absoluto, e não tanto pelo seu aspecto relativo no que respeita à História humana ou à história das diversas igrejas cristãs. Jesus portou em si todo um potencial que veio a manifestar-se gradualmente em vários estágios da sua vida. Como Ser espiritual Ele é perfeitamente realizado e consubstancial ao seu Pai. Como Ser físico e humano, Ele reporta a Si toda a humanidade assumindo-se como um caminho vivo ou um porta para a Salvação. Pese o contexto histórico e cultural em que Jesus nasceu e de um trajecto comum aos restantes seres que buscam a Felicidade, os episódios relativos à Sua vida, os sentimentos, sensações e a transformação mental que provocou; a Sua expressão, actos e palavras são profundamente actuais. Podemos mesmo dizer que estas “acções” de Jesus Cristo, por se basearem na expressão absoluta de amor e compaixão, aplicados com igualdade a tudo e todos por igual, transforma a segunda pessoa da Trindade na totalidade das restantes duas partes e, em simultâneo, numa expressão que está para além da nossa capacidade de conceptualização de espaço e tempo. Cristo é o “Jesus” homem, síntese de todos os outros; e é a manifestação física e humana de uma natureza superior presente em todos os tempos ou para além dos tempos. De acordo com a tradição apostólica e com a confissão do “Credo” emanado do primeiro concílio ecuménico (reunido em Niceia no ano 325), Jesus é o Filho “consubstancial” ao Pai, sendo, por isso, Deus com o Pai. No segundo concílio ecuménico (realizado em Constantinopla em 381), redefiniu-se esta

expressão: “Filho unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; Luz de Luz; Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai.” Ainda na oração do “Credo” se concentra todos os restantes mistérios da Sua vida, reportando-se ao Pai e ao Espírito Santo.

Missale Romanum Roma, 1735, Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos)

As Fontes Os evangelhos foram produzidos em condições históricas ímpares, em pleno processo de afirmação e de expansão das comunidades cristãs não só no próximo oriente, mas também no mundo romano (sobretudo na Grécia e Roma), pelo que as suas redacções em primeira-mão são vulgarmente conhecidas em grego. A redacção definitiva dos textos ocorre a partir da década de 70 do primeiros século, até cerca do ano 100, numa segunda geração de cristãos que transportavam uma tradição oral veiculada por testemunhas presenciais de Cristo mas, temendo a possibilidade de corrupção da pureza inicial dessa comunicação, transformaram a palavra verbal em texto.

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Evangelistas da banqueta do altar-mor Francisco Borjão, Lisboa, 1747, Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos)

Os evangelhos sinópticos São considerados sinópticos (semelhantes entre si) os evangelhos de S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas, ficando de fora apenas o de S. João devido ao grau de diferenças, inclusivamente de ordem descritiva do ambiente onde decorre a acção. De todos eles, o escrito atribuído a Mateus é aquele que apresenta um maior grau de historicismo e, sobretudo, foca com maior insistência a relação entre Cristo e a Lei de Moisés. Os textos apócrifos Do conjunto de textos, existentes a determinado momento, foi necessário seleccionar os “verdadeiros”, embora alguns dos que ficaram de fora tenham uma celebridade e “autenticidade” que rasam a fronteira do “canónico”. De entre todos eles são famosos os “evangelhos” de S. Pedro, de S. Tomé, Santa Maria, Santa Maria Madalena, etc., revelando passos da vida de Cristo, de S. Joaquim e Santa Ana, ou mesmo de S. José e da Virgem, mais ou menos aceites pela Igreja. Recorde-se que na actual composição bíblica são escassas as referências à Mãe de Deus e que, devido à expansão da devoção mariana, esta torna-se uma das figura mais presentes. Assim, artistas e teólogos, têm constantemente recorrido ao conteúdo de alguns apócrifos para caracterizar a vida da Virgem.

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Cristo Antes de nascer A esperança na vinda do Messias, o ungido, estava no auge devido às humilhações sentidas pelos judeus no decurso da ocupação romana. A manifestação do Salvador, sabia-se, teria lugar na cidade santa de Jerusalém. Mais ainda, o Messias seria da descendência de David. O Profeta Isaías declara-o com veemência: “Brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o espírito do Senhor” (Is 11, 1-2). Sabia-se, também, que nasceria em Belém, de acordo com as indicações de Miqueias: “Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que há-de sair aquele que governará em Israel” (Mq 5, 1). Nascendo como homem, no dizer de Ezequiel e de Daniel, chamar-se-ia Emanuel, ou seja “Deus connosco” (Is 7, 14), e teria uma vida sujeita a opressão mas que, no final, seria de triunfo. O Livro de Isaías é precioso e minucioso nas descrições que faz das características do Salvador, revelando um forte sentido profético. Anunciação a Maria Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada por um homem chamado José, da Casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela,

o anjo disse-lhe: “Salvé, ó cheia de graça! O Senhor está contigo.” Ouvindo isto, Maria ficou preocupada e perguntava a si mesma o que a saudação queria dizer. O anjo disse-lhe: “Maria, não temas, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que vais ficar grávida e darás à luz um Filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dar-lhe-á o trono de seu pai David, e Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacob. E o seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?” O anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre Ti e o poder do Altíssimo Te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel, apesar da sua velhice, concebeu um filho. Aquela que era considerada estéril já há seis meses que está grávida. Para Deus nada é impossível”. Maria disse: “Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo retirou-se de junto dela. (Lc 1, 26-38). Visitação de Maria a Isabel Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, à pressa, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança agitouse no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto do Profeta do Antigo Testamento (pormenor do Túmulo de D. João de Noronha e D.ª Isabel de Sousa), João de Ruão, Coimbra, escultura em pedra calcária, c. 1523, Igreja de Santa Maria de Óbidos

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Natividade José era da família e descendência de David. Subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de David, chamada Belém, na Judeia, para se registar com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogénito. Ela enfaixou-o e colocou-o numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria. (Lc 2, 1-7)

Visitação, André Reinoso, 1628, pintura sobre madeira, Igreja da Misericórdia de Óbidos

teu ventre! Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada Aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor Lhe prometeu”. (Lc 1 39-45)

Visitação, séc. XVI (final), pintura sobre madeira, Igreja de São Pedro de Óbidos / Museu Paroquial

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Adoração dos Magos do Oriente Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com, Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho. (Mt 2, 1-12)

Adoração dos Magos, Marcos da Cruz ?, séc. XVII (meados), pintura sobre tela, Capela de Nossa Senhora de Monserrate (Óbidos) / Museu Municipal de Óbidos

Adoração dos pastores Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor envolveu-os em luz e eles ficaram com muito medo. Mas o anjo disse aos pastores: “Não tenhais medo! Eu anuncio-vos a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, o Senhor.

Adoração dos pastores Missale Romanum, Roma, 1735, Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos)

De repente, juntou-se ao anjo uma grande multidão de anjos. Cantavam louvores a Deus, dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados”. (Lc 2, 8-14).

Circuncisão e apresentação de Jesus no Templo Celebra-se, a 2 de Fevereiro, duas festividades no calendário litúrgico. Uma reporta-se à Purificação da Virgem e, outra, à apresentação de Jesus no Templo, festividades celebradas em conjunto e que adquiriram um extraordinário peso religioso durante a Idade Média. Por ser o dia em que as velas eram benzidas, velas essas que, acesas, simbolizavam Cristo (reportando-se ao milagre do velho Simeão no Templo), a Virgem assume nesta data a invocação de Senhora das Candeias ou da Candelária. A festividade mariana deste dia reporta-se ao momento em que a Virgem, quarenta dias depois do nascimento de Cristo e obedecendo à lei judaica, se deveria apresentar no templo e entre- Circuncisão da Costa, c. 1622, Igreja de gar ao sacerdote João Santa Maria de Óbidos para sacrifício um cordeiro, duas rolas e dois pombos. Só assim a mulher era readmitida nas suas funções normais e poderia entrar no templo. Uma outra lei fazia com que os primogénitos varões fossem circuncidados e, no caso especial dos da tribo de Levi (à qual pertencia S. José), fossem apresentados no templo e dedicados ao serviço de Deus. Esta festividade é uma das mais tradicionais em Óbidos e remonta à Idade Média, sendo celebranda a evocação da Senhora da Graça. O oratório desta evocação é numa das portas da Vila. Dada a localização deste oratório no limite da antiga judiaria, era também este um tema compreensível pela comunidade hebraica, já que a festa da Purificação e Apresentação no Templo, e mesmo a circuncisão, faziam parte dos preceitos judaicos.

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Repouso na fuga para o Egipto, Baltazar Gomes Figueira, Óbidos, 1643, pintura sobre tela, Igreja de Santo António de A-da-Gorda (Óbidos).

Baptismo, André Reinoso, c. 1640, pintura sobre tela, Igreja de Santa Maria de Óbidos.

Fuga para o Egipto Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.” E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho. (Mt.2, 13-15)

Pai-Nosso “Rezai, pois, assim: Pai-nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no Céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia; perdoa-nos as nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas”. (Mt 6, 9-15)

Baptismo de Jesus Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser baptizado por ele. João opunha-se, dizendo: “Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti, e Tu vens a mim?” Jesus, porém, respondeu-lhe: “Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.” João, então, concordou. Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que o Céu se abriu e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus o meu encanto.” (Mt 3, 7-17)

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Eleição dos Doze Jesus chamou doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos maus e de curar todas as enfermidades e doenças. São estes os nomes dos doze Apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu; e Tadeu; Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que o traiu.

Cura do paralítico de Cafarnaum, Bartolomeu Antunes ?, Lisboa, c. 1747, Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos).

Cura do leproso, Bartolomeu Antunes ?, Lisboa, c. 1747, Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos).

Cura do paralítico de Cafarnaum “Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder para perdoar pecados: Levanta-te, - disse Ele ao paralítico - toma o teu catre e vai para tua casa”. E ele, levantando-se, foi para casa. Ao ver isto a multidão ficou dominada pelo temor e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens” (Mt 9; 6-8).

alarido disse: “Retirai-vos, porque a menina não está morta; dorme”. Mas riram-se d’Ele. Retirada a multidão, Jesus entrou, tomou a mão da menina e ela ergueu-se” (Mt 9; 18-19, 23-25).

Ressurreição da filha de Jairo “Dizendo-lhes estas coisas, aproximou-se d’Ele um chefe da sinagoga, que se Lhe prostrou diante e disse: “Minha filha acaba de morrer, mas vem impor-lhe a Tua mão e viverá”. Jesus, levantando-Se, seguiu-o com os discípulos”. “Quando chegou a casa do chefe, vendo os flautistas e a multidão em grande

Ressureição da filha de Jairo, Bartolomeu Antunes ?, Lisboa, c. 1747, Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos).

Cura do leproso “Ao descer o monte, seguia-O uma enorme multidão. Foi então abordado por um leproso que se prostrou diante d’Ele, dizendo-Lhe: “Senhor, se quiseres, podes limpar-me”. Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: “Quero, fica limpo”! No mesmo instante, ficou são da lepra” (Mt 8; 1-3). Cura do cego Bartimeu “Quando ia a sair de Jericó com os Seus discípulos e uma grande multidão, o filho de Ti-

Cura do Cego Bartimeu, Bartolomeu Antunes ?, Lisboa, c. 1747, Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos).

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meu, Bartimeu, um mendigo cego que estava sentado à beira da estrada, ouvindo dizer que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: “Jesus, filho de David, tem piedade de mim!” “Jesus parou e disse-lhe: “Chamai-o”. Chamaram o cego, dizendo-lhe: “Coragem, levanta-te, que Ele chama-te”. E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: “Que queres que te faça?” “Rabboni, que eu veja!”, respondeulhe o cego. Jesus disse-lhe: “Vai, a tua fé te salvou!” E logo recuperou a vista e seguiu a Jesus na viagem” (Mc 10; 46-47, 49-53).

Edificação da Igreja “E vós, quem dizeis que eu sou?” Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também eu te digo: tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha igreja (...) Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu”. (Mt 16, 15-19)

São Pedro e São Paulo, esculturas em madeira policromada e dourada, séc. XVIII, Igreja de São Pedro de Óbidos

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Transfiguração de Jesus Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e levou-os, só a eles, a um alto monte. Transfigurou-se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. Nisto, apareceram Moisés e Elias a conversar com Ele. (Mt. 17, 1-3)

A liturgia deste dia comemora este acontecimento, e as celebrações tradicionais de Ramos, com a sua procissão, identifica os cristãos católicos como o povo de Jerusalém. Em Óbidos a procissão de Ramos abre a quadra pascal com uma procissão que tradicionalmente sai da Igreja de São João Baptista, hoje Museu Municipal. Última ceia - Instituição da Eucaristia Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, comei: Isto é o meu corpo”. Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: “Bebei dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados”. (Mt, 26, 26-29)

Transfiguração, André Reinoso, c. 1640, pintura sobre tela, Igreja de Santa Maria de Óbidos.

Entrada triunfal em Jerusalém Do ponto de vista litúrgico o Domingo de Ramos celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Sucedendo ao Sábado da ressurreição de Lázaro, este dia de Ramos simboliza, também, a vitória da Vida sobre a Morte e pronuncia a Paixão de Cristo. A entrada solene e triunfal de Jesus na cidade santa cumpre a profecia de Zacarias “Eis o teu Rei que vem montado num jumento” (Zac. 9:9), e significa a aclamação pública de Jesus como sendo o Messias, Rei e Salvador de Israel. É a inauguração do Reino de Cristo.

Oração de Jesus no monte Getsémani Tendo Jesus dito isso, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou com os seus discípulos. E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos. Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes, e armas. Cálice - Custódia Séc. XVII (primeira metade), prata cinzelada e dourada, Igreja de São Pedro de Óbidos.

Jesus no horto, Baltazar Gomes Figueira, Óbidos, c. 1640-50, pintura sobre tela, Igreja de Santo António de A-da-Gorda (Óbidos).

Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava também com eles. Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra. (Jo 18, 1-6) Coroação de espinhos Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a corte à volta dele. Despiram-no e envolveram-no com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele, escarneciam-no, dizendo: “Salve, rei dos Judeus!” E, cuspindo-lhe no rosto, agarravam na cana e batiam-lhe na cabeça. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. (Mt 27, 27-31) Pilatos saíu de novo e disse-lhes: “Vou trazê-Lo cá fora para saberdes que eu não vejo Nele nenhuma causa de condenação”. Então saíu jesus com a coroa de espinhos e o manto púrpura. Disse-lhe Pilatos: “Eis o Homem”.(Jo 19,4-5)

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Senhor da cana verde (Ecce Homo), Diogo Teixeira, c. 1590, pintura sobre tela, Igreja da Misericórdia de Óbidos.

Procissão de Passos, 1960, Óbidos

Gafaú na Procissão de Passos, 1960, Óbidos

A caminho do Calvário - Crucifixão de Jesus À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus. Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, “Lugar do Crânio”, deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber. Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte. Figuraram ali sentados a guardá-lo. Por cima da sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”. Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda. Os que passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: “Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!” Os sumos-sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: “Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos nele. Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: “Eu sou Filho de Deus!” Até os salteadores, que estavam com Ele crucificados, o insultavam. (Mt 27, 32-44)

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Calvário, séc. XV, pintura sobre madeira, Igreja de Santa Maria de Óbidos

Morte de Jesus Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: “Eli, Eli, lemá sabactháni?”, isto é: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: “Está a chamar por Elias.” Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: “Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo”. E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou. (Mt 27, 45-50)

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Calvário, séc. XVII, Índia (Goa) escultura em marfim, ébano e latão, Igreja de Santa Maria de Óbidos / Museu Paroquial Cristo crucificado, séc. XVI, Ceilão (Sri Lanka), escultura em marfim, Igreja da Misericórdia de Óbidos

Cristo crucificado, séc. XVIII, escultura em madeira, Igreja da Misericórdia de Óbidos

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Sepultura de Jesus Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lho entregassem. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se. Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro. (Mt 27, 57-61)

Descimento da cruz, André Reinoso, c. 1628-30, pintura sobre tela, Igreja da Misericórdia de Óbidos

Pietá, séc. XVI-XVII, escultura em barro policromado, Museu Municipal de Óbidos Lamentação sobre Cristo morto, Baltazar Gomes Figueira, c.1640-50, pintura sobre tela, Igreja de Santo António de A-da-Gorda (Óbidos)

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Ressurreição As mulheres vão ao sepulcro - Terminado o sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro. Nisto, houve um grande terramoto: o anjo do Senhor, descendo do Céu, aproximou-se e removeu a pedra, sentando-se sobre ela. O seu aspecto era como o de um relâmpago; e a sua túnica, branca como a neve. Os

guardas, com medo dele, puseram-se a tremer e ficaram como mortos. Mas o anjo tomou a palavra e disse às mulheres: “Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde jazia e ide depressa dizer aos seus discípulos: Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis. Eis o que tinha para vos dizer”. (Mt 28, 1-7)

Cristo Ressuscitado, séc. XVIII, escultura em madeira policromada e dourada, Igreja de São Pedro de Óbidos / Museu Paroquial

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O Espírito desce ao mundo, mas a sua Pessoa esconde-se... Só se manifesta nos seus dons e nos seus carismas. As suas imagens na Escritura são vagas e fugidias: sopro, chama, perfume, unção, pomba, sarça ardente... Ele é essencialmente misterioso. P. Evdokimov

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ESPÍRITO SANTO Antes da Páscoa de Jesus Cristo este anunciou o envio de “outro Paráclito” (Defensor): o Espírito Santo. Esta figura divina e consubstancial ao Pai e ao Filho manifesta a sua acção desde a criação (cf. Gn 1,2) e pela voz dos profetas, bem como na pessoa dos discípulos de Jesus Cristo (cf. Jo 14,17) a fim de ensiná-los (cf. Jo 14,16) e conduzi-los “à verdade” (Jo 16,13). O Espírito Santo, apesar de não se conter num plano temporal, manifesta-se, contudo em diversas missões e assume aos olhos dos homens algumas “formas”, embora a sua “materialidade” seja vacuidade. Segundo concílio ecumênico de Constantinopla em 381, vincula-se a crença “no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que procede do Pai”, “a fonte e a origem de toda a divindade” (Cc. de Toledo VI, ano 638: DS 490), e “com o Pai e o Filho é adorado e glorificado” (Concílio de Constantinopla, ano 381). Esta tradição latina, expressa no Credo, que confessa que o Espírito “procede do Pai e do Filho” (naquilo que se designa por filioque) reporta-se à explicação de que o Espírito Santo ser subsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procedente eternamente de ambos como de um só princípio e por uma única expiração. A afirmação do filioque não figurava no símbolo professado em 381 em Constantinopla. Contudo, tendo por base uma antiga tradição latina e alexandrina, o Papa S. Leão afirmou-o dogmaticamente em 447, posição reforçada no Concílio de Calcedónia em 451. Contudo o uso desta fórmula no Credo e na liturgia romana foi inserida gradualmente entre os séculos VIII e XI. Esta referência fez com que se clivasse a distância teológica, doutrinária e de relação de poder entre a igreja de Roma e a ortodoxia imperial de Constantinopla, já que a tradição oriental “organiza” a procedência do Espírito como advindo do Pai pelo Filho não “procedente do Pai e do Filho”, logo, não pondo em evidência a comunhão consubstancial das três pessoas da Trindade como se adoptou no Ocidente.

De algum modo a clivagem criada provocou um sectarismo entre as confissões cristãs (catolicismo romano versus ortodoxia oriental), que nos dias de hoje poderiam ser esbatidos no sentido de uma maior comunhão com os princípios básicos do cristianismo e sem exacerbar cada um dos pontos de vista, em último recurso pontos estes que confluem para uma mesma realidade, promovendo a unidade, a tolerância religiosa, prevenindo a radicalização, característicos da imperfeição dos fenómenos humanos e absolutamente contraproducentes ao desenvolvimento saudável de uma espiritualidade. Sem dúvida que, nos tempos que correm, o afastamento de uma linha mais tradicional e institucional de Fé, deve-se às aparentes incongruências e às sucessivas tentativas de massificação, pouco ajustadas a uma capacidade individual de crescimento espiritual, de conhecimento (mesmo que académico) e de vivência interior. O Espírito Santo é recebido na vida de cada crente em primeiro lugar pelo Baptismo, manifestação de pertença à comunidade de crentes e de purificação de todos os pecados precedentes, sinal que revela um forte simbolismo pelo uso da água; e depois pelo Crisma, com óleo consagrado, a confirmação da vontade de pertença a Cristo.

Baptismo de Cristo, of. Bartolomeu Antunes ?, Lisboa, c. 1750, Capela do Espírito Santo da Sancheira Grande (Óbidos).

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O Espírito Santo A terceira pessoa da Santíssima Trindade é o Espírito Santo, também designado por Espiração ou Amor. O Espírito Santo é uma pessoa divina porque age sobre todos os seres e sobre todas as coisas no dom de Amar. Este Amor procede da relação do Pai e do Filho, numa superabundância de vida. O Amor do Espírito Santo é o caminho e o elo de ligação com a Essência Divina. A Missão do Espírito Santo A Missão do Espírito Santo é a preparação dos corações para o caminho de Amor que conduz à Luz. É uma missão que opera de forma silenciosa e oculta em cada pessoa e corresponde a um terceiro “momento” do mundo. Deus Pai cria um mundo visível e sem pecado, que o homem desfigura; Deus Filho confere ao mundo a redenção e restaura-o, sendo evidente a presença material e visível desse mesmo mundo. O Espírito Santo não promove a criação de um mundo visível, mas de um caminho para atingir o mundo livre e redimido por Cristo. A acção do Espírito Santo resume-se à tentativa de fazer com que o Homem sinta o apelo do Amor emanado do Pai e do Filho. Decorrendo da Passagem de Cristo na Terra surge a Igreja que recebe o legado de conduzir, na terra, os fiéis. Esta Igreja, conjunto do povo cristão, também é tutelada pelo Espírito Santo. O Espírito Santo não tem forma Deus Pai, sem que, contudo, possa ser representado, vislumbra-se por se conhecer que o Homem foi criado à Sua imagem e por diversas outras manifestações, como a visão de Daniel (Dn 7, 9). Deus Filho, por ter encarnado, tem feição humana e, por esse motivo, é representável como acto de lembrança. O Espírito Santo, pelo contrário, não produz manifestações visíveis ao Homem, agindo como uma energia superior. Mesmo assim o Espírito fez-se ocultar (revelando-se) através da pomba imaculada, a mesma que trouxe a Noé o ramo de oliveira após o dilúvio (Gn 1,

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2), ou que sobrevoou Cristo no Seu baptismo. O próprio João Evangelista afirma: “Vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele” (Jo 1, 32). Surge, ainda, em forma de nuvem que envolve Jesus no momento da Transfiguração, dela saindo uma voz que dizia “Este é o Meu Filho Bemamado” (Mt 17, 5). O fogo é outra das manifestações, surgindo a Moisés, no Monte Sinai, no milagre da sarça-ardente (Ex 19, 18); e em línguas de fogo que pairaram sobre as cabeças dos apóstolos no Pentecostes: “Quando chegou o dia de Pentecostes, encontravam-se reunidos no mesmo lugar. Subitamente ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de uma forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde estavam. Viram, então,

Pentecostes, André Gonçalves?, Lisboa, c. 1750, pintura sobre tela, Capela do Espírito Santo da Sancheira Grande (Óbidos).

aparecer umas línguas à maneira de fogo que se iam dividindo, e pousou uma sobre cada um deles” (Act 1,14). Surge frequentemente em “forma” de voz, ou sopro, veja-se o caso da descrição do episódio da Torre de Babel (Act 2, 2), as palavras dos profetas, ou mesmo na iconografia do Papa S. Gregório Magno, cuja reforma na igreja que promoveu fora-lhe segredada pelo Espírito Santo. Por último Ele vislumbra-se através de raios de luz e áureas (símbolo místico do caminho para Deus ou do estado de graça divina). As Virtudes, Dons e Frutos do Espírito Santo Virtudes Teologais: Fé, Esperança e Caridade. Virtudes Morais: Temperança, Fortaleza, Justiça e Prudência. Dons relativos às Virtudes Morais: Temor, Fortaleza em Jesus Cristo, Espírito de Piedade, Espírito de Conselho Dons relativos ás Virtudes Teologais no sentido da vida contemplativa: Espírito de Ciência, Espírito de Inteligência, Espírito de Sabedoria. Frutos do Espírito Santo amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio (Gl 5, 22-23).

São João Baptista, séc. XVIII, escultura em madeira policromada e dourada, Igreja de São Pedro de Óbidos

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A TRINDADE O MISTÉRIO DE DEUS

SÃO JOÃO

MUSEU PAROQUIAL Paróquia São Pedro

Óbidos

MUSEU PAROQUIAL DE ÓBIDOS (IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA)

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