A Turquia perante o Estado Islâmico

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21-08-2015

A Turquia perante o Estado Islâmico Petra Salomé da Silva Bastos | C19 AICEP | Ancara Turquia O auto proclamado Estado Islâmico (EI) é um grupo jihadista no Médio Oriente, que se financia através da exploração do ouro negro – o petróleo. Com diversas denominações ao longo do tempo, em 2013 auto intitulou-seEstado Islâmico do Iraque e do Levante, e em junho de 2014 alterou a sua denominação para EI.

O fortalecimento do EI tem estado diretamente ligado à guerra civil na Síria. O conflito sírio surgiu em 2012, e ao longo do tempo, foi-se intensificando. A guerra civil síria ficou marcada pelo confronto entre Bashar al-Assad e os rebeldes. Foi do lado dos rebeldes mais extremistas que o EI começou a conquistar terreno. Desde então, o EI tem conseguido diversos avanços em território sírio como também iraquiano, principalmente junto à fronteira com a Turquia.

Devido à posição geográfica privilegiada da Turquia, esta tem sido a porta de entrada de muitos recrutas estrangeiros que se pretendem alistar no exército do EI. Por fazer fronteira com a Bulgária, Grécia, Geórgia, Azerbaijão, Irão, Iraque e Síria, este país tem sido a principal ponte de passagem dos recrutas provenientes da Europa.

O epicentro das entradas de recrutas do EI tem ocorrido em Istambul. O criticismo internacional sobre o facilitismo em atravessar a Turquia em direção à Síria não tardou. Até o Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, apelou às autoridades turcas para bloquearem o fluxo de militantes para a Síria.

Também, são várias as acusações que surgem diariamente nos media, ilustrando diversas situações dúbias. Foi o caso dos recrutas jihadistas que foram escoltados por homens da Organização Nacional de Inteligência turca até território sírio. Ou até, quando camiões turcos foram intercetados em Adana indicando que levavam ajuda humanitária, e na realidade transportavam armas para Tel Abyad, que dias mais tarde viria a estar controlado peloEI.

Outras situações como o ataque da Líbia ao navio turco, sob a acusação de que este transportava armas para fornecer o EI, marcaram também as primeiras páginas dos media.

A hipótese de realizar uma incursão militar turca ao território sírio, juntamente com a Arábia Saudita, foi

colocada em equação pelo Presidente Erdogan. Apesar das ações contraditórias do governo turco, Erdogan defende publicamente que há necessidade de derrubar Bashar al-Assad do poder e combater o EI. No entanto, há quem defenda que uma incursão militar resultaria num desastre, pois arrastaria o conflito para território turco devido à sua proximidade. De notar que os oficiais militares turcos afirmaram que o exército é contra a execução de operações terrestres na Síria.

Para além da questão geográfica, entrar na guerra civil síria implicaria o confronto com outros atores internacionais, como a Al-Qaeda, o Irão e a Rússia. O que se torna improvável devido à proximidade da Turquia ao governo russo, e às tentativas de aproximação ao governo iraniano.

Tendo em conta todas as controvérsias que ligam o governo ao EI, coloca-se a questão se este estará, efetivamente, disposto a realizar uma incursão militar terrestre ao território sírio, que por sua vez se encontrainfestado com extremistas.

Os avanços do EI em território sírio têm vindo a forçar a deslocação de milhares de refugiados em direção à fronteira turca. Até ao momento, a Turquia já abriu as suas fronteiras para cerca de 2 milhões de refugiados sírios. Contudo, encontram-se ainda milhares de refugiados junto à fronteira a aguardar autorização para entrar em território turco.

Ancara é a capital política da Turquia. Para além de ser uma cidade segura é uma cidade securizada. As tensões vividas relativamente ao EI não se refletem no dia a dia da população. As referências ao EI apenas aparecem nos jornais. No entanto, devido à grande afluência de refugiados sírios, cada vez mais se consegue ver pelas ruas famílias sírias a mendigar.

Ancara paira num período de incerteza, pois 2015 foi ano de eleições na Turquia. Pela primeira vez em 13 anos, o partido do governo perdeu a maioria absoluta nas eleições de 2015. Há quem diga que o resultado das eleições reflete o grito do povo para mais transparência, luta contra a corrupção, rejeição de um regime presidencialista e término da violência. Sem dúvida nenhuma que os próximos meses vão marcar fortemente a história política da Turquia.

A população vive um período de dúvida entre negociações para a formação de coligações, manutenção da coligação e eleições antecipadas. Consegue-se até perceber a ansiedade da população cada vez que a moeda desvaloriza. Por isso, para a agenda do governo, após as eleições, o combate ao EI não é uma prioridade. Isto também significa, que nos próximos tempos será difícil prever a estratégia do governo quanto à questão do EI. Uma vez que o governo não tem maioria absoluta, em caso da formação de uma coligação continuará a permanecer este facilitismo em atravessar a Turquia para militares do EI?

Situações como o envio de armas para o EI irão repetir-se? Tudo dependerá de como as negociações pós-eleitorais forem conduzidas. Posted at 8:58 by Petra Salomé da Silva Bastos | Category: internacionalização; Estruturas; Cultura; Cidades |Permalink | Email this Post | Comments (0)

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