A variação da nasal velar por aprendizes brasileiros de inglês-L2

June 1, 2017 | Autor: Athany Gutierres | Categoria: Second Language Acquisition, Phonology, Optimality Theory, Language Variation
Share Embed


Descrição do Produto

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

A VARIAÇÃO DA NASAL VELAR POR APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS–L2 Athany GUTIERRES1 Elisa BATTISTI2

RESUMO: Este estudo é uma das etapas da investigação sobre variação fonológica na interlíngua, com foco na percepção da nasal velar em inglês por aprendizes brasileiros. A nasal velar é uma das realizações do arquifonema nasal em português (CÂMARA JR., 1970) verificado em contextos de consoante dorsal seguinte (manga) ou de vogal dorsal precedente (bom). Esse processo não é variável em português. Em inglês, há variação na produção da nasal velar em contextos como interesting (interessante), em que a consoante alterna com a nasal alveolar. No inglês, a nasal velar alterna, além disso, com a palatal. Como acontece a aprendizagem desse padrão fonológico variável da língua-alvo? Em que medida a variação na interlíngua, entendida como a competência linguística do aprendiz nas diferentes etapas da aprendizagem da LE (SELINKER, 1972), converge para o padrão variável em língua materna? Em que medida é efeito da transferência de traços do português para o inglês? Em busca de respostas a essas perguntas, são feitos testes de percepção da nasal velar com aprendizes brasileiros de inglês do Programa de Línguas Estrangeiras da Universidade de Caxias do Sul, no intuito de verificar alguns dos pressupostos que norteiam o estudo. Tais pressupostos, conforme Bayley (2007), são os de que (a) a produção do aprendiz é em parte reflexo da interlíngua em desenvolvimento e que (b) a variação fonológica na interlíngua, como em qualquer língua natural, está sujeita à influência de múltiplos fatores contextuais, considerando-se o papel da percepção processo de aquisição. PALAVRAS-CHAVE: percepção, interlíngua, variação, nasal velar. ABSTRACT: This study is one of the phases of the investigation about variation in the Interlanguage, focusing the perception of the English velar nasal by Brazilian learners. The velar nasal is one realization of the nasal archiphoneme in Portuguese (CÂMARA JR., 1970), verified in contexts of following dorsal consonant (manga) or previous dorsal consonant (bom). This process is not variable in Portuguese. In English, there is variation on the production of the velar nasal in contexts such as interesting (interessante), in which the consonant alternates with the alveolar nasal. In English learnt by Brazilian learners, the velar nasal also alternates with the palatal nasal. How does the learning of this variable phonological pattern happen in the target language? In which way the variation in the Interlanguage, seen as the linguistic competence of the learner in different phases of learning the foreign language (SELINKER, 1972), converges to the variable pattern in the mother language? In what sense is this an effect of transference of features from Portuguese to English? Searching answers for these questions, perceptual tests about the velar nasal are done with Brazilian learners of English from Programa de Línguas Estrangeiras from the Universidade de Caxias do Sul, aiming at verifying some of the assumptions which guide the study. These assumptions, according to Bayley (2007) are that (a) the production of the learners is in part a reflex of Interlanguage in progress and that (b) the phonological variation in the Interlanguage, as any other natural language, is subject to the influence of multiple contextual factors, taking into consideration the role of perception in the acquisition process. 1 2

Doutoranda em Letras (UFRGS), Universidade de Caxias do Sul, [email protected] Doutor em Letras (PUCRS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, [email protected]

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

KEYWORDS: perception, Interlanguage, variation, velar nasal. 1 Introdução Este estudo aborda a variação fonológica na interlíngua, essa entendida, conforme Selinker (1972), como o sistema linguístico do aprendiz de língua estrangeira 3. Tal sistema emerge e se (re)configura ao longo da aprendizagem, processo esse aqui tratado como aquisição de L2. A percepção desempenha importante papel na emergência desse sistema. A interlíngua apresenta tanto elementos da língua-alvo quanto elementos da língua materna (L1) do aprendiz. Pressupõe-se que, como qualquer língua, caracteriza-se pela heterogeneidade ordenada (WEINREICH, LABOV e HERZOG, [1968] 2006), isto é, pela ocorrência das formas condicionadas (probabilisticamente) por aspectos linguísticos e sociais. A teoria fonológica tem dado lugar à discussão e tratamento da variação nas línguas naturais em razão de os padrões variáveis expressarem efeitos de restrições que se aplicam também a processos categóricos. Em termos de processamento pela OT (do inglês Optimality Theory, de PRINCE e SMOLENSKY, 1993; McCARTHY e PRINCE 1993, 1995) e no que tange ao condicionamento estrutural da variação, isso deve resultar da interação de restrições na gramática do falante/ouvinte da língua. É a concepção de gramática e seu processamento o que está em jogo nas discussões, mais do que as restrições linguísticas em si. A variação fonológica desperta interesse também na pesquisa sociolinguística que envolve aprendizagem de segunda língua e de língua estrangeira. Segundo Bayley (2007), a variação na interlíngua é efeito de múltiplos fatores: linguísticos e também referentes à natureza da tarefa, aos interlocutores, ao tópico de discussão e até ao ambiente físico em que a aula ocorre. Lucena e Alves (2010) verificaram efeitos de diferenças dialetais na interlíngua. Na investigação da epêntese vocálica realizada por aprendizes brasileiros de inglês em sílabas fechadas por obstruinte (break~break[i] „quebrar‟, cap~cap[i] „boné‟), compararam aprendizes gaúchos e paraibanos. Os primeiros tendem a não promover epêntese, os segundos, a promovê-la, o que se relaciona aos padrões (dialetais) de epêntese em L1, mas ainda assim é peculiar à própria interlíngua. O objeto deste estudo é a nasal velar [], produzida variavelmente não só pelo aprendiz brasileiro de inglês, mas também pelos próprios falantes nativos da língua. Reunimos aqui informações de uma pesquisa que se inicia, e que será realizada futuramente em diferentes etapas. Caracterizaremos a realização da nasal velar no português e no inglês (seções 2 e 3). Abordaremos a variação que envolve essa consoante em inglês (seção 4), em específico na realização da terminação -ing. Relataremos a análise fonética de percepção da nasal velar por aprendizes brasileiros de inglês e como a percepção e a variação estão correlacionadas no processo de aquisição (seção 5), localizando a pesquisa nesse contexto (seção 6). Na sequência, serão apresentadas a metodologia empregada (seção 7) e os resultados alcançados (seção 8). A análise realizada orientou-se pela seguinte questão: dadas as diferentes distribuições da nasal velar em português e em inglês, o aprendiz brasileiro percebe a produção da segmento? 2 A nasal velar em português A nasal velar no português é realização fonética, não é unidade fonológica da língua. É uma das manifestações do fonema nasal em posição final de sílaba, o arquifonema nasal. Com essa noção, proposta pela fonologia do Círculo Linguístico de Praga, Câmara Jr. (1953) concilia a percepção da existência de uma consoante nasal pós-vocálica a um ponto de vista 3

Este trabalho não fará distinção entre os termos „segunda língua‟ (L2) e „língua estrangeira‟ (LE).

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

fonemicamente amplo, para mostrar que a consoante nasal de travamento não tem valor distintivo em português. O autor observa que essa consoante é “indiferenciada quanto ao ponto de articulação na boca” (CÂMARA JR., 1984, p.30), sendo labial, dental, velar ou palatal de acordo com o contexto, isto é, com a consoante seguinte. Em termos fonéticos, se estabelece uma relação de homorganicidade entre ambas, como em mppara os vocábulos campo [mp], lenda [lenda], longo [log], onde o que se realiza é uma consoante nasal reduzida e homorgânica à consoante que segue. Assim é que, na análise do autor, a consoante nasal é representada por um “arquifonema dos fonemas nasais existentes em português, que deles só conserva o traço comum da nasalidade” (CÂMARA JR., 1984, p.30). O arquifonema nasal /N/ é o fato estrutural básico, que acarreta, como traço acompanhante, a ressonância nasal da vogal” (CÂMARA JR.,1977, p.49)4. A realização da nasal velar em português é, portanto, previsível, definida pelo contexto (linguístico). Faz parte de um padrão sistemático, resulta da aplicação de uma regra fonológica de assimilação de ponto de articulação. Cagliari (1977) constata que há duas manifestações fonéticas opcionais do arquifonema nasal no interior de palavra: ele nasaliza a vogal e não vem à superfície, ou ele se realiza foneticamente, nesse caso podendo provocar, ou não, a nasalização da vogal. Exemplos da primeira manifestação, sem a presença da nasal, são os que seguem: /poiN/ /maNa/ /maNta/

 (põe)  (mancha) [(manta)

(CAGLIARI, 1977, p.04)   o segundo tipo de manifestação, com a presença da nasal na superfície, dois podem ser os elementos de que a consoante assimila ponto: a vogal precedente ou a oclusiva seguinte. Assimilado o ponto da vogal precedente, a nasal será palatal se a vogal for anterior, ou velar, se a vogal for posterior. Assimilado o ponto da oclusiva seguinte, a nasal assumirá o ponto de articulação daquela consoante, exceto no contexto de fricativa. Exemplos: /fiNka/ /fuNdu/ /koNa/

(finca) ] (fundo) (concha) (CAGLIARI, 1977, p.05)

Na primeira coluna das manifestações fonéticas, a nasal nasaliza a vogal e se realiza com o ponto da vogal. Na segunda coluna, a nasal assimila o ponto da vogal, mas não a nasaliza. Na terceira coluna, a vogal é nasalizada e assimila ponto da consoante seguinte, o que não ocorre se essa for uma fricativa.

4

Câmara Jr. (1953, p.90-92) mostra a preocupação de conciliar o que chama de apuro fonético, que admite a existência de um som de transição após a vogal e antes de outra consoante, ao ponto de vista fonêmico, que despreza a consoante nasal de travamento por não ter, nessas condições, valor distintivo. Câmara atribui esse desprezo ao fato de a nasal de travamento realizar-se como um mero glide, sendo, por essa razão, desconsiderada face à maior intensidade da ressonância nasal da vogal.

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

Cagliari (1977, p.39) esclarece que, em geral, as nasais homorgânicas são muito curtas, sendo, por essa razão, quase inaudíveis: “Algumas nasais homorgânicas curtas originam-se da nasalização sobre a parte inicial das oclusivas (sua fase de fechamento) quando precedidas por vogal nasalizada”. A nasal velar em português, então, não é fone em variação livre, que alterne imprevisivelmente com outros fones. É uma realização possível para o (arqui)fonema nasal em final de sílaba, determinada pelos segmentos vizinhos, o que faz de sua manifestação algo „automático‟ para o falante-ouvinte de português. Já em inglês, tanto o status quanto a distribuição da nasal velar são diferentes do que se verifica em português. 3 A nasal velar em inglês São três os fonemas nasais do inglês, /m n /. Seu valor contrastivo pode ser verificado num conjunto mínimo como o seguinte: [smr] simmer „ferver em fogo brando‟ [snr] sinner „pecador‟ [sr] singer „cantor‟ Diferentemente de /m n/, cuja distribuição é relativamente livre (podem combinar-se com diferentes vogais, podem ocorrer em diferentes posições da sílaba e da palavra), a distribuição da nasal velar // é mais restrita. Conforme Roach (2000), a) // não se realiza em início de palavra. Não há ocorrências como *[t] em inglês; b) não ocorre após ditongos ou vogais longas. São apenas cinco as vogais após as quais // se realiza: /    /. Por exemplo, sing [s] „cantar‟, penguin [peg] „pinguim‟, hang [h] „pendurar‟, lung [l] „pulmão‟, congress [kgres] „congresso‟; c) é relativamente frequente em meio de palavra (anchor [kr]„âncora‟, finger [fgr] hanger [hr] „cabide‟. Nessa posição, não é a nasal, propriamente, o que chama a atenção, mas o fato de a plosiva [k] poder sempre se realizar após //, e a plosiva /g/ realizarse após a nasal em palavras não derivadas (finger), e em adjetivos nos graus comparativo e superlativo (longer [lr] „mais longo‟, longest [lst] „o mais longo‟); d) em final de palavra, em algumas variedades e/ou modalidades do inglês, // pode realizar-se alternativamente como a velar [] ou a alveolar [n]: living [lv]~[lvn] „vivendo‟. Os fatos (a, b c) acima mostram que há condicionamento estrutural ou gramatical na realização da nasal velar em inglês. O padrão fonético obedece a restrições fonológicas (prosódicas e segmentais) e também morfológicas. Forma um quadro de manifestações previsíveis e invariáveis, com que o falante/ouvinte nativo de inglês lida automaticamente, mas com que o aprendiz de inglês-L2 necessita operar conscientemente, o que, como afirma Roach (2000), pode lhe criar problemas consideráveis. O que se aborda em (d) é um fato de variação linguística: o mesmo falante, ou grupos de falantes, podem usar uma ou outra forma, sem determinação contextual, como nos casos acima. A diferente manifestação fonética não implica mudança de significado. Pode haver correlação com estilo de fala, classe social, que são fatores sociais, como também com fatores linguística, mas não há determinação estrutural para as diferentes manifestações. 4 A variação de -ing em inglês

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

A terminação -ing em inglês pode manifestar-se com nasal velar ou nasal alveolar: []~[n]. Trata-se de um caso de variação bastante estudado pelos sociolinguistas porque a alternância é percebida pelos usuários da língua. Como resultado das práticas escolares, há a identificação da variante [] com o estilo de fala formal, e da variante [n] com o estilo de fala coloquial, informal. Além disso, como afirma Labov (2001), a alternância em questão é variação estável em inglês: a distribuição etária é „plana‟ entre os adultos, isto é, não há aumento, tampouco diminuição do emprego de uma das alternantes com o aumento da idade; a distribuição é monotônica para classe social: aumenta o emprego de uma das alternantes, a nasal velar, com a elevação da classe social. O envelope da variação de -ing inclui palavras em que a terminação é um sufixo (living „vivendo‟), nomes monomorfêmicos como morning „manhã‟ e ceiling „teto‟ e compostos com -thing (nothing „nada‟, something „algo‟). A alternância []~[n] afeta todas as sílabas // não acentuadas, mas, como Labov (2001) explica, não na mesma proporção. Segundo o autor, a alternância sofre um forte condicionamento gramatical: quanto mais verbal for a construção, maior o uso da variante alveolar, quanto mais nominal for a construção, maior o uso da variante velar. A construção progressiva (verbal) é a que mostra o grau mais alto de uso alveolar, seguida do particípio em construções não-progressivas, adjetivos, gerúndios compostos e, por último, substantivos. No inglês falado na Filadélfia, anything „algo/nada‟ e everything „tudo‟ sempre exibem a realização velar, o que pode ser reflexo de acento secundário ou terciário na última sílaba. Já nothing e something apresentam alto índice de realização alveolar. Em nomes próprios como Flushing, Reading, Harding, a nasal velar é realizada consistentemente. Quanto mais formal e/ou cuidado o estilo de fala, maior a ocorrência da nasal velar, e isso em todas as classes sociais, destacando-se que, entre as classes, as mais altas realizam mais a nasal velar. Trata-se de um marcador de níveis culturais e estilos contextuais. Mas independentemente desses aspectos sociais, as implicações gramaticais são grandes, o que, segundo Labov (2001), pode ter relação com a história do -ing em inglês: a especialização da nasal velar para as formas nominais e alveolar para as verbais surgiu no inglês da Idade Média, e deriva da oposição entre as terminações -inge e -inde do particípio. A alternância permanece na língua desde então, mas foi apenas entre os séculos XVII e XIX que as correlações hoje verificadas – nasal velar no inglês formal, nasal alveolar no inglês informal – foram estabelecidas. 5 Percepção e variação fonológica na aquisição de L2 O aprendiz de língua estrangeira utiliza informações do sistema fonológico de sua L1 para perceber e produzir realizações fonéticas em L2. O modelo teórico de Flege (1995), o Speech Learning Model (Modelo de Aprendizagem de Fala, doravante SLM), pressupõe que os sons da língua-alvo podem ser percebidos pelo aprendiz como idênticos, similares ou diferentes e que, nessa projeção, quanto mais semelhantes eles forem dos sons da L1, mais difícil será adquiri-los. Para Flege (1995), a fonologia da L2 pode ser adquirida em qualquer idade da vida do indivíduo e decorre da criação de novas categorias fonéticas no espaço fonológico da mente do falante. Entretanto, essa capacidade diminui com a idade, apesar de permanecer intacta por toda vida (isto é, quanto mais tardiamente um indivíduo adquirir um fonema, mais marcas de sotaque ele terá). A aquisição de um novo som na L2 é um processo difícil para o aprendiz, pois só acontece quando este som não é percebido como equivalente a um som da L1, já que não é possível “separar” os subsistemas da L1 e da L2: eles coabitam o espaço fonológico na mente do falante. Assim, para que esse processo se desenvolva, é necessário esforço e atenção

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

por parte do aprendiz, para que, diante dos sistemas sonoros das duas línguas, seja possível reorganizá-los para acolher novas categorias fonéticas. O SLM apresenta quatro postulados e sete hipóteses para a aquisição fonológica. Aqui, serão destacadas apenas duas hipóteses: de acordo com a primeira (H1), predomina a percepção/produção da diferença alofônica, não da fonética, entre sons da L1 e da L2. A sétima (H7) aponta que a produção de um som em L2 corresponde às propriedades de sua categoria fonética e que, se uma nova categoria for estabelecida pelo aprendiz e corresponder a um som de um falante nativo de L2, então esse fonema será produzido corretamente. A relevância de tais pressupostos sugere que se tenha um olhar cuidadoso aos processos de percepção sonora e, por decorrência, de produção do aprendiz, já que a última é resultado da primeira, segundo o SLM. Best (1995) apresenta um modelo teórico bastante semelhante, o Perceptual Assimilation Model (Modelo de Assimilação Perceptual, doravante PAM). Como o próprio nome diz, esse modelo é uma teoria de percepção, e não de aquisição. Prevê que os sons da L2 são assimilados a categorias fonéticas da L1, e que, quanto mais distintos os sons, mais facilmente são assimilados. Em outras palavras, o modelo sugere que, ao entrar em contato com sons da L2, devido à experiência com sua L1, os sujeitos são capazes de assimilar os fonemas não nativos aos articulatoriamente mais semelhantes aos de sua L1. Ainda, em termos do fator “idade”, o PAM assume um aprendiz sem nenhuma experiência na língua, o naïve learner (aprendiz ingênuo), o que expressa não preocupação com o desenvolvimento da aquisição fonológica, apenas com a assimilação num estágio inicial. Tanto o SLM quanto o PAM postulam que os fonemas das duas línguas compartilham um mesmo espaço fonológico, mas afirmam que a categorização não é foneticamente dirigida: o aprendiz pode pronunciar o mesmo som como alofone, mas isso não necessariamente implica a não percepção da diferença entre eles. O ouvinte assimila o som da L2 como o mais próximo de sua L1. Ambos os modelos exercem a função de filtro do sistema fonéticofonológico da L2 e defendem o grau de importância da semelhança dos sons entre as duas línguas. Além disso, pontuam que erros de produção têm origem na percepção e no sistema fonológico da L1. O objetivo principal desse modelo é analisar a percepção dos sons por aprendizes não experientes de L2, distribuída em três macro-categorias: Tabela 1 – Categorias de assimilação perceptual - L2 (Best, 1995) Categoria de assimilação Single-Category Assimilation (SC) [dois sons diferentes da L2 são percebidos como um som diferente da L1]

Qualidade da discriminação pobre

Two-category assimilation (TC) [dois sons não nativos são percebidos como aceitáveis: um som da L2 é percebido como idêntico ao da L1 e outro como similar]

de muito boa a excelente

Category goodness difference (CG) [dois sons diferentes da L2 são percebidos como um mesmo som na L1]

de intermediária a muito boa

Both uncategorizable (UU) [um som da L2 é percebido como som, mas não é reconhecido pelo aprendiz]

de pobre a muito boa

Nonassimilable (NA) [um som da L2 não é percebido como um som pelo aprendiz]

de boa a muito boa

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

Segundo Best (1995), a discriminação é melhor quando dois sons não nativos são percebidos como aceitáveis, ou seja, os sons da L2 são percebidos como idênticos ou semelhantes a sons da L1. Por outro lado, se dois sons não nativos são percebidos como um mesmo som (as interdentais do inglês, percebidas como /f/, por exemplo, por aprendizes brasileiros), o nível de discriminação é muito baixo. A próxima seção traz informações sobre as perguntas norteadoras do trabalho, hipóteses e previsões teóricas. 6 Contextualização da pesquisa A percepção de sons da fala não nativa gera diferentes graus de dificuldade a aprendizes estrangeiros. Esse fenômeno, atestado como categórico por diversos estudos, ocorre pois os sistemas fonético-fonológicos da L1 e da L2, apesar de distintos, interagem no processo de aquisição fonológica da L2. No entanto, veem-se muitos casos de sucesso na aquisição de uma L2, em que estão imbricados tanto processos de percepção quanto de produção de fala. Muitas vezes a interação dos sistemas fonológicos das duas línguas é responsável pela produção equivocada de alguns sons, por razões de transferência de características fonéticas e fonológicas da L1 para a L2, como comprovado em muitas pesquisas. Exemplo dessa afirmação é a aquisição da nasal velar do inglês: apesar do fonema ser pronunciado em algumas palavras do português, como em “sangue”, por exemplo, ele não ocorre em fronteira final de palavra, como em “long”, em inglês. Isso pode ocasionar alguns desvios na produção da pronúncia padrão da língua-alvo. Alves (2003, p. 1413), em breve estudo sobre os sons do inglês causadores de dificuldades a aprendizes brasileiros, ao mencionar as nasais, afirma que há dificuldade de aquisição por parte do falante pelo fato de que há restrições posicionais em sua L1 (língua que somente admite a produção fonética dessa nasal quando esta antecede uma plosiva velar), que não existem em inglês, uma vez que, nesta língua, tal segmento tem o “status” de fonema, não de realização fonética de um arquifonema em coda.

Nesse contexto, esta investigação apresentará dados de percepção da consoante nasal velar do inglês em coda silábica em fronteira de palavra. No Brasil, há alguns estudos sobre as consoantes nasais neste contexto (BECKER, 2009; KLUGE, 2009), mas nenhuma investigação mais específica sobre a nasal velar na interlíngua. Como exposto previamente, essa investigação é um pilotagem parcial de um estudo mais abrangente que engloba não apenas a percepção, mas também a produção do segmento, analisado sob a ótica variacionista. De fato, por razões de testagem metodológica e limitações de tempo, o estudo se restringirá à percepção da velar, apenas. Três perguntas circunscrevem investigação, a saber: (1) Qual o grau de acurácia na discriminação da consoante nasal alveolar e da velar em coda silábica por aprendizes de inglês-L2 de nível avançado?; (2) Há relação entre a qualidade da vogal das palavras das tríades (/a/ e /i/) e a porcentagem de acertos dos informantes? e (3) Há relação entre o tempo de reação e a porcentagem de acertos dos informantes? Acerta dessas questões, têm-se as seguintes hipóteses: (1) os resultados obtidos no teste de discriminação podem estar correlacionados à variável “nível de proficiência”5; 5

Apesar de todos os informantes freqüentarem um mesmo grupo do curso de Inglês do PLE (Avançado 1), foi aplicado o Oxford Placement Test (grammar and listening) (ALLAN, 2004), para fins de verificação oficial do real nível de proficiência dos informantes.

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

(2) aparentemente, não há previsões acerca da qualidade da vogal em relação ao nível de acertos dos informantes no teste; resultados estatísticos poderão, talvez, informar se a qualidade da vogal que precede a nasal influencia o segmento ou não; (3) quanto menor o tempo de reação às respostas no teste, maior o grau de correção; (4) os informantes assimilam os sons da L2 como os mais próximos de sua L1 (FLEGE, 1995; BEST, 1995); (5) os informantes têm dificuldades em perceber a nasal velar por ela ser “parecida” com a nasal alveolar (FLEGE, 1995); (6) em um par mínimo como “pin” e “ping”, por exemplo, (a) a nasal alveolar (L2) é percebida como a nasal alveolar (L1) e a nasal velar (L2) é percebida como a nasal alveolar (L1) (Two-Category Assimilation, BEST, 1995); ou (b) tanto a nasal alveolar quanto a velar são percebidas como a alveolar (Category-goodness difference, BEST, 1995); Postas as perguntas e as hipóteses que motivam o presente estudo, a próxima seção deste trabalho apresentará detalhamentos a respeito da produção e da aplicação do teste de percepção, bem como uma caracterização geral da amostra de participantes. Tais antecipações teóricas foram testadas via teste de discriminação auditiva e analisadas estatisticamente com o objetivo de verificar se elas se confirmam ou não. Esses detalhamentos serão apresentações nas seções seguintes do estudo. 7 Metodologia O teste de percepção auditiva aplicado foi o teste de discriminação ABX. Nesse teste, são apresentadas tríades (sequências de três palavras) formadas por pares mínimos. Os participantes da pesquisa, ao ouvirem cada tríade, deviam informar se o último som ouvido da última palavra da tríade (X) é igual ao último som da segunda palavra (B), ao último som da primeira palavra (A) ou igual ao último som das duas palavras (AB) (FLEGE, 2003, p. 35). Para a montagem do teste, primeiramente, foram elencadas tríades a com os pares mínimos encontrados. A seleção de pares mínimos foi feita com palavras monossílabas cujo segmento em coda é uma nasal alveolar x palavras monossílabas cujo segmento em coda é uma nasal velar antecedida da oclusiva //. Foi encontrado um número suficientemente adequado de pares mínimos com a vogal baixa // e a vogal alta //; não foi encontrado um número relativamente favorável de uso de pares mínimos para as vogais médias // e //, nem para a vogal alta //. A montagem dos pares foi feita pela própria pesquisadora. Foram listados cinco pares mínimos com a vogal // e cinco pares mínimos com a vogal // (totalizando dez pares mínimos). Cada par mínimo gerou seis combinações de tríades sonoras, sendo duas delas catch trials6. Assim, sendo seis tríades por par mínimo, e dez pares mínimos, há um total inicial de sessenta tríades. Para o teste, foram utilizadas vinte e cinco tríades (três tríades extraídas das sete primeiras combinações entre pares mínimos + duas tríades das três últimas combinações entre pares mínimos). Considera-se este número adequado para a aplicação do teste neste momento, visto que o número de informantes é baixo, a qualidade do estudo é de pilotagem e, por razões relacionadas ao tempo e provavelmente ao cansaço dos participantes durante a realização do teste, um número alto de tríades poderia comprometer a credibilidade dos resultados.

6

Catch trials são, nesse caso, tríades formadas por três palavras iguais. O conceito recebe essa designação justamente por tentar “confunfir” o ouvinte e testar sua percepção quando, na verdade, não há diferenças das quais se quer testar.

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

Os estímulos auditivos foram gravados por três falantes nativos de inglês americano (sexo masculino, 21 e 22 anos de idade), em junho/2012, numa das cabines do estúdio de rádio da Universidade de Caxias do Sul. Cada falante recebeu uma folha com as palavras selecionadas listadas, uma abaixo da outra; a lista com as palavras foi gravada duas vezes. O software utilizado na gravação foi o Pro-tools 6.4 (Digi-001), com três microfones marca Shure, modelo Beta58 e uma mesa digital da marca Yamaha, modelo 01V. A gravação durou aproximadamente trinta minutos, e todos os estímulos foram gravados com uma taxa de amostragem de 44100 Hz. Depois de gravados os estímulos, eles foram editados e recortados para que a montagem das tríades fosse possível. Para isso, foi utilizado o software Audacity 2.0.1 (ASH et AL, 2012). Para a montagem das tríades, foi utilizado o software Praat (BOERSMA, 2012) e inserido um arquivo de silêncio de 0,5 segundos entre as palavras. O teste foi produzido com o software TP-S (RAUBER et AL, 2009). Este é um programa para produção de testes de percepção auditiva relativamente novo e de plataforma user-friendly. O software encontra-se disponível gratuitamente online e é necessário fazer um cadastro rápido na página 7 para poder baixá-lo. Atualmente, já está disponível uma versão atualizada desse programa que, além das ferramentas da versão anterior, possui também recursos de vídeo. Antes de iniciar o teste, os participantes preencheram um questionário social que permite uma caracterização geral da amostra. O teste foi aplicado no laboratório de línguas do PLE/UCS, que contém 28 computadores da marca HP de sistema operacional Windows XP. Cada aluno fez o teste na sua própria máquina, com headsets (fones e microfone) da marca Tandberg Educational, através do programa de áudio Sanako Lab300. O aplicativo TP-S foi instalado em cada um dos computadores. Na tela de inicio do teste, os informantes deveriam escrever seu nome e clicar em “teste de discriminação”, conforme a figura seguinte: Figura 1 – Tela de abertura do software

Ao clicar no botão que dá início ao teste, surge a primeira tela, que reproduz automaticamente a primeira tríade. Os informantes podiam ouvir a sequência dos três sons 7

Disponível em: http://www.worken.com.br/tp_regfree.php, último acesso em 27-07-12.

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

duas vezes em cada tela, clicando no botão “Repetir”. Ao ouvir (por uma ou duas vezes) a tríade, o participante devia clicar nos botões “1ª palavra”, “2ª palavra” ou “ambas”, indicando se o último som da última palavra da tríade era igual ao último som da primeira palavra, da segunda ou de ambas. No total, os informantes ouviram 60 tríades e levaram aproximadamente de 10 a 15 minutos para concluir. É importante mencionar que os participantes receberam instruções de como proceder no teste, antes de iniciá-lo. A Figura 2 ilustra a tela de início do teste: Figura 2 – Tela de início do Teste de Discriminação

Participaram como voluntários desse estudo 9 alunos de inglês do PLE/UCS. Esses aprendizes estudam inglês há mais ou menos 6 anos e são todos estudantes de curso superior na UCS (com exceção de dois alunos, que já se formaram). A idade dos informantes varia de 19 a 25 anos, sendo apenas um deles do sexo masculino e os outros 8, do sexo feminino. A maioria trabalha durante o dia e estuda à noite; 3 dos 9 informantes são apenas estudantes, sem nenhum vínculo empregatício. Todos residem em Caxias do Sul. A seção final apresentará os resultados obtidos a partir da análise dos dados que, por sua vez, serão comparados às perguntas e hipóteses de pesquisa. Ainda, serão retomadas as questões teóricas e sua contribuição à leitura desses resultados. 8 Resultados e Discussão Um dos propósitos deste estudo foi o de testar a montagem e aplicação de um teste de percepção como uma pilotagem para a execução de um estudo mais abrangente, de nível longitudinal, sobre a percepção e a produção da nasal velar por aprendizes de inglês (L2), procurando testar instrumentos metodológicos que poderão ser utilizados e/ou aprimorados para esse estudo futuro. Dessa forma, buscaram-se respostas às questões de pesquisa através de perguntas e hipóteses, e os dados foram obtidos por análise estatística via programa computacional IBM SPSS Inc (versão Statistics 18). Quanto à primeira pergunta, (1) “Qual o grau de acurácia na discriminação da consoante nasal alveolar e da velar em coda silábica por aprendizes de inglês-L2 de nível

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

avançado?”, pode-se afirmar que os informantes obtiveram uma boa porcentagem de acertos no teste (Média = 76,6%, DP = 8,44), conforme a Tabela 1. Tabela 1 – Média e desvio padrão de acertos no teste Statistics Porcentagem de acertos no teste N Valid Missing Mean Std. Deviation Minimum Maximum

9 0 76,56 8,443 65 90

Ao verificar se há associação entre as variáveis “Porcentagem de acertos” e “Nível de proficiência”, o Teste de Correlação de Pearson revela não haver uma correlação significativa entre as variáveis em questão (r = -0,38, p = 0,45), ou seja: o nível de proficiência não está associado a uma maior ou menos porcentagem de acertos no teste de discriminação. Essas constatações podem ser observadas na Tabela 2, a seguir. Tabela 2 – Teste de Pearson Correlations

Qual o nível de proficiência do informante segundo o OPT? Porcentagem de acertos no teste

Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N

Qual o nível de proficiência do informante Porcentagem segundo o de acertos no OPT? teste 1 -,384 ,452 6 6 -,384 ,452 6

1 9

Apesar de não haver relação significativa entre a porcentagem de acertos e o nível de proficiência dos informantes, o resultado negativo do Teste de Pearson (r = -0,38) revela, de fato, haver uma associação negativa entre as variáveis testadas, como se observa a linha decrescente do gráfico seguinte. De acordo com o Gráfico 1 (a seguir), níveis mais baixos de proficiência podem indicar uma porcentagem de acertos mais alta no teste de percepção, como, por exemplo, um informante de nível 1 (básico), cuja porcentagem de acertos no teste é de 80%, e um informante de nível 3 (modesto), cuja porcentagem de acertos no teste é de aproximadamente 70%. Isso indica que nem sempre um nível de proficiência mais alto é garantia de um grau de percepção mais acurado em inglês-L2.

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

Gráfico 1 – “Porcentagem de acertos” x “Nível de proficiência”

Em relação à segunda pergunta, (2) “Há relação entre a qualidade da vogal das palavras das tríades (// e //) e a porcentagem de acertos dos informantes?”, não houve nenhum tipo de previsão específica em se tratando da qualidade da vogal antecedente à nasal, já que é desconhecida a existência de estudos acerca da questão. Para verificar, de fato, se há correlação entre as variáveis, foram realizados testes de normalidade da distribuição de dados e testes de associação, obtendo-se os resultados que seguem. Testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk relevam que a distribuição dos dados é normal (p>0,05) conforme a Tabela 3, permitindo a aplicação do Teste de Correlação QuiQuadrado. Tabela 3 – Testes de Normalidade Tests of Normalityb A qualidade da vogal interfere na Kolmogorovincidência de erros? Smirnova Shapiro-Wilk Statistic df Sig. Statistic df Sig. Porcentagem de vogal /a/ ,269 3 . ,949 3 ,567 dimension1 acertos no teste vogal /i/ ,163 5 ,200* ,985 5 ,959 a. Lilliefors Significance Correction *. This is a lower bound of the true significance. b. Porcentagem de acertos no teste is constant when A qualidade da vogal interfere na incidência de erros? = mesmo n° de erros para /a/ e /i/. It has been omitted.

O Teste Qui-Quadrado (Tabela 4) revelou não haver uma relação significativa entre qualidade da vogal e porcentagem de acertos dos informantes (²(2) = 2,67, p = 0,26). Entretanto, como as células não apresentaram as frequências mínimas para a validade do teste, foi necessário rodar um Teste de Fisher (Fisher’s Exact Test) para compensar a fraqueza da baixa porcentagem dos resultados e verificar se realmente não há significância ao fazer o cruzamento dessas variáveis.

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

Tabela 4 – Teste Qui-Quadrado (Chi-Square) Test Statistics Porcentagem de acertos no teste A qualidade da vogal interfere na incidência de erros? Chi-square ,000a 2,667b df 8 2 Asymp. Sig. 1,000 ,264 a. 9 cells (100,0%) have expected frequencies less than 5. The minimum expected cell frequency is 1,0. b. 3 cells (100,0%) have expected frequencies less than 5. The minimum expected cell frequency is 3,0.

A correção pelo Teste de Fisher (Tabela 5) reitera os resultados obtidos no teste Quiquadrado, apresentados anteriormente, indicando que não há associação significativa entre a qualidade da vogal das tríades do teste e a porcentagem de acertos dos informantes (p = 0,14 ou p > 0,05). Tabela 5 – Teste de Fisher (Fisher’s Exact Test) Chi-Square Tests Asymp. Sig. Exact Sig. (2- Exact Sig. (1Value df (2-sided) sided) sided) 4,800a 1 ,028 2,133 1 ,144 6,086 1 ,014 ,143 ,071 4,200 1 ,040

Pearson Chi-Square Continuity Correctionb Likelihood Ratio Fisher's Exact Test Linear-by-Linear Association N of Valid Cases 8 a. 4 cells (100,0%) have expected count less than 5. The minimum expected count is 1,50. b. Computed only for a 2x2 table

Tratando-se da terceira pergunta do estudo, (3) “Há relação entre o tempo de reação e a porcentagem de acertos dos informantes?”, a hipótese lançada é, de certa forma, bastante lógica: quanto menor o tempo de reação, maior a porcentagem de acertos dos informantes. Para confirmar ou refutar essa assertiva, foi necessário associar as variáveis “Tempo de reação” e “Porcentagem de acertos”. Testes de Correlação de Spearman (Tabela 6) revelam não haver associação entre a porcentagem de acertos no teste e o tempo de reação à resposta (r = -0,05, p = 0,90). Em outras palavras: responder mais rapidamente não significa responder com um grau de correção maior, fato que não corrobora com a hipótese prevista. Tabela 6 – Teste de Spearman Correlations

Porcentagem de acertos no teste Tempo de reação à resposta

Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N

Porcentagem de acertos no teste 1 9 -,048 ,903 9

Tempo de reação à resposta -,048 ,903 9 1 9

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

9 Considerações finais Tendo em vista os resultados estatísticos obtidos no estudo, aliados a algumas limitações e dificuldades encontradas no percurso, parece que, informantes de diferentes níveis de proficiência não apresentam graus de dificuldade de percepção tão elevados. A média de erros obtida (média = 22,33%, DP = 7,81) pode estar associada aos padrões de assimilação de Best (1995) e de aquisição de Flege (1995), que pressupõem assimilação fonológica por proximidade e percepção por relação com o fonema mais próximo de sua L1. Ainda, tais resultados indicam um bom nível de discriminação perceptual, aplicando-se, neste caso, o padrão de assimilação perceptual Two-category assimilation (Best, 1995), em que dois sons nativos são percebidos como aceitáveis (no caso, a nasal alveolar percebida como a alveolar, e a nasal velar percebida como a alveolar), gerando uma qualidade de percepção superior à intermediária, como prevê o Category-goodness difference, padrão hipoteticamente proposto neste estudo. Entretanto, para fazer tal afirmação com mais robustez, seria necessário, talvez, refazer o teste com a mesma amostra de informantes, mas com estímulos provenientes de outros falantes nativos, já que as nasais tratadas nesse estudo estão sujeitas à variação não somente em L1, como também na L2. Investigações futuras podem analisar mais particularmente a influência da variável nível de proficiência, realizando-se um teste de percepção de design intersujeitos, procurando verificar se, de fato, o nível de proficiência está associado ao grau de acurácia na identificação ou discriminação de fonemas em L2. Além disso, poder-se-ia executar o mesmo teste com design intrasujeitos, repetindo-se o teste com a mesma amostra de informantes em outros momentos, e verificar se há ou não diferenças nos resultados em dois momentos de tempo distintos. Enfim, diversas variáveis podem ser listadas e investigadas, e as possibilidades de pesquisa são inúmeras, levando-se em consideração um número maior de informantes e um tempo mais longo para execução de todos os procedimentos metodológicos. Referências ALVES, Ubiratã Kickhöfel. A explicitação da interfonologia no ensino de inglês como língua estrangeira. In: Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, 2003, p.1411-1419. Disponível em: http://www.celsul.org.br/Encontros/05/pdf/196.pdf , último acesso em 04/08/2012. ASH, Richard; CHINEN, Michael; CROOK, James; et AL. Audacity 2.0.1. Editor de áudio digital livre. Disponível em: http://audacity.sourceforge.net/, último acesso em 04/08/2012. BAYLEY, R. Second language acquisition: a variationist perspective. In: BAYLEY, R.; LUCAS, C. (Eds.) Sociolinguistic variation: theories, methods and application. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. BECKER, Maria Regina. Análise Acústica da Produção de Nasais Bilabiais e Alveolares em Codas de Monossílabos por Alunos de Inglês. 2007. 96 f. Dissertação (Mestrado em Letras – Estudos Lingüísticos) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. Disponível em: http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/handle/1884/12138 , último acesso em 04/08/2012. BEST, Catherine. A direct realist view of cross-language speech perception. In: STRANGE, W. Speech perception and linguistic experience: issues in cross-language research. Timonium, MD: York Press, 1995. p.171-204. BOERSMA, Paul; WEENINCK, David. Praat: doing phonetics by computer – version 5.3.14. 2012. Disponível em: www.praat.org, último acesso em 04/08/2012. CAGLIARI, L.C. An experimental study of nasality with particular reference to Brazilian Portuguese. Edimburgo, 1977. Tese (Doutorado em Linguística) - Departamento de Linguística, Universidade de Edimburgo.

Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISBN 9788575901144

CÂMARA JR., J.M. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953. _________________. Estrutura da língua portuguesa. 8.ed. Petrópolis: Vozes, 1977. _________________ . Problemas de linguística descritiva. 11.ed. Petrópolis: Vozes, 1984. FLEGE, James E. Second Language Speech Learning: Theory, findings, and problems. in: STRANGE, W. (Ed). Speech perception and linguistic experience: issues in cross-language research. Timonium, MD: York Press, 1995. p.233-277. _____________. Assessing constraints on second-language segmental production and perception. in: MEYER, A.; SCHILLER, N. Phonetics and phonology in language comprehension and production: differences and similarities. Berlin: Mouton, 2003. KLUGE, Denise C. Brazilian EFL learners’ identification of word-final /m-n/: native/nonnative realizations and effect of visual cues. Tese (Doutorado em Letras). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009. LABOV, W. Principles of linguistic change: social factors. Malden/Oxford: Blackwell, 2001. LUCENA, R.M.de; ALVES, U.K. Implicações dialetais (dialeto gaúcho vs. paraibano) na aquisição de obstruintes em coda por aprendizes de inglês (L2): uma análise variacionista. Letras de Hoje, v.45, n.1, 2010. p.35-42. PRINCE,A.; SMOLENSKY,P. Optimality theory: constraint interaction in generative grammar. (não-publicado). New Brunswick/Boulder: Universidade de Rutgers e Universidade do Colorado, 1993. McCARTHY, J.; PRINCE, A. Prosodic morphology I - constraint interaction and satisfaction. (não-publicado). Amherst/New Brunswick, Universidade de Massachusetts e Universidade de Rutgers, 1993. McCARTHY, J.; PRINCE, A. Faithfulness and reduplicative identity. In: BECKMAN,J.N et al. (eds.) Papers in Optimality Theory - Umass Occasional Papers 18. Amherst, Massachusetts: GLSA, 1995. p. 249-384. RAUBER, Andréia S.; RATO, Anabela; KLUGE, Denise; SANTOS, Giane R. dos; FIGUEIREDO, Marcos. TP – Testes de Percepção/Treinamento Perceptual. 2009. Disponível em: http://www.worken.com.br/tp_regfree.php, último acesso em 04/08/2012. ROACH, P. English phonetics and phonology: a practical course. 3.ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. SELINKER, L. Interlanguage. International review of applied linguistics, n.10, 1972. p.219231. WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M.I. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, [1968] 2006.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.