A variabilidade cultural no Período Paleoíndio (11.000-8.000 AP) no Brasil: algumas hipóteses

August 21, 2017 | Autor: Astolfo Araujo | Categoria: Prehistoric Archaeology, Brazilian Archaeology, Paleoindians, Paleoindian archaeology, First Americans
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A VARIABILIDADE CULTURAL NO PERIODO PALEOINDIO NO BRASIL (11.000 - 8.000 AP): ALGUMAS HIPOTESES Astolfo Gomes d e Mel10 Araujo"

RESUMO Por volta d e 11.000 anos AP, já é patente a grande variabilidade observada nas indústrias liticas e m toda a América do Sul. Neste artigo, analisamos mais detalhadamente o que ocorre no território brasileiro, tendo como pano d e fundo mudanças paleoclimáticas. Propomos ainda algumas reflexões relacionadas aos eventos d e entrada e rotas d e expansão das primeiras populações humanas nas Américas.

Palavras-chave: Arqueologia, paleoíndios, indústria lítica, primeiros americanos, paleoambiente. ABSTRACT T h e extreme variability observed in the lithic industries of South América since 11,000 yr BP is striking. In this paper we proceed a more detailed analysis of lithic industries occurring in Brazil, coupling the data with a paleoenvironmental background. T h e main events of human migration into the Americas, as well possible routes of expansion are also addressed.

Keywords: Archaeology, Paleoindians, lithic industry, First Americans, paleoenvironment.

A variabilidade observável nas indústrias liticas d e sítios arqueológicos datados da transição Pleistoceno/Holoceno na América do Sul

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Laboratório d e Estudos Evolutivos Humanos, Departarriento d e Biologia, Instituto d e Biociências, Universidade d e São Paulo. Rua do Matão 277, São Paulo, SP, Brasil. CEP 05508-900. [email protected] Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.28, n.39, p. 1 1 1-130, jan./jun. 2004

Museu de Arqueologia e EUDIW~ Universidade de Ç'io PMIlO BIBLIOTECA

sugere uma profundidade temporal para a entrada do Homem nas Américas mais recuada do que o proposto pelo modelo tradicionalmente defendido pela maioria dos arqueólogos norte-americanos (Clovis First). O modelo tradicional defende uma entrada relativamente tardia para os primeiros bandos d e caçadores a atravessarem a Beríngia, por volta de 12.000 AP e uma rota eminentemente continental, aproveitando a formação d e um corredor livre d e gelo entre as geleiras Laurentidea e Cordilheirana. Neste artigo serão apresentadas algumas hipóteses para explicar a variabilidade das indústrias Iíticas sul-americanas e suas implicações na aceitação ou refutação dos modelos de povoamento pré-histórico. Por questões intrínsecas à natureza do registro arqueológico, será dada ênfase quase absoluta ao material lítico deixado por essas populações humanas antigas, mesmo correndo o risco de tornar o quadro geral excessivamente simples. Um dos pressupostos básicos deste trabalho é o d e que as condições climáticas vigentes no período de interesse tiveram um papel preponderante nas rotas de expansão e no povoamento diferencial das distintas regiões do Brasil.

2 INDÚSTRIAS LÍTICAS DO SUL

ANTIGAS NA AMÉRICA

Para melhor embasar a discussão referente à variabilidade Iítica d e períodos recuados no território brasileiro, torna-se necessário colocar em contexto a arqueologia do período Paleoíndio na América do Sul. Uma vez que nem todos os sítios arqueológicos supostamente antigos são datados, o contexto e a tipologia Iítica acabam por ser utilizados como indicadores d e sua faixa cronológica. Os dados aqui apresentados são baseados principalmente nas sínteses elaboradas por Bate (1990), Borrero e colaboradores (1998), Dillehay (2000), Politis (1993) e Suárez & López (2003). Na porção setentrional do continente, indústrias líticas predominantemente unifaciais, encontradas nos abrigos de Tequendama, Tibitó, Sueva e E1 Abra , na Colômbia, apresentam idades entre 12.000 e 8.000 AP. Não muito distante dessa região foram encontradas grandes pontas bifaciais, denominadas Restrepo, que alguns autores consideram datadas do início do Holoceno (p. ex., DILLEHAY 2000:124). Na Venezuela, o sítio de Taima-Taima, com idades entre 13.000 e 11.000 AP, apresentou restos de mastodonte com material lítico associado, incluindo pontas bifaciais do tipo E1 Jobo. No Equador, o sítio d e E1 Inga apresenta uma

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indústria bifacial, com pontas "rabo-de-peixe" e uma infinidade de outros tipos. A datação do sítio é complicada pela falta de material orgânico, embora algumas idades obtidas por hidratação de obsidiana estejam entre 11.000 e 9.000 AP. Nas terras baixas da costa do Pacífico, ainda no Equador, os níveis mais antigos do sítio Las Vegas apresentaram uma indústria lítica unifacial datando entre 10.800 e 10.300 AP. Na costa norte do Peru, além de uma grande quantidade de sítios de superfície apresentando pontas bifaciais cuja faixa cronológica não está bem definida (Paiján), há alguns abrigos datados. O Abrigo Quirihuac, por exemplo, apresentou uma indústria bifacial com idades entre 12.800 e 8.600 AP. Ainda na costa do Peru, mais a sul, os sítios de Quebrada Jaguay e Quebrada Tacahuay mostram uma adaptação eminentemente marítima, com material lítico predominantemente unifacial, alguns bifaces e lascas. As idades obtidas variam entre 10.800 e 10.500 AP para Quebrada Tacahuay e 11.100 e 9.850 para Quebrada Jaguay. Na costa do Chile, o sítio de Quereo teve seus níveis mais antigos datados entre 11.600 e 11.100 AP, com uma indústria lítica extremamente simples. Mais a sul, o sítio de Tágua-Tágua representa provavelmente um local de matança e desmembramento de mastodontes, datado entre 11.400 e 9.700 AP, com uma indústria lítica variada, apresentando tanto pontas bifaciais "rabo-de-peixe" como raspadores unifaciais bem elaborados. Monte Verde, mais a sul, apresenta uma das mais inquestionáveis evidências da presença do homem na América e m períodos mais recuados, com duas ocupações distintas, a mais antiga datada entre 35.000 e 30.000 AP (aceita com reservas pelo pesquisador, T . Dillehay), e a mais recente datada de 12.500 AP. A indústria lítica do nível mais recente, apesar d e apresentar algumas pontas bifaciais e peças unifaciais bem lascadas, era composta em sua maior parte por artefatos bastante rudimentares, seixos utilizados ou com poucos retoques. Nos Andes Centrais, algumas cavernas e abrigos apresentam datas bastante recuadas, chegando a até 20.000 AP, mas várias delas foram desconsideradas. Em Pikimachay, no Peru, além de um nível mais antigo e dúbio datado entre 25.000 e 15.00 anos, há um nível mais recente, entre 15.000 e 13.000 anos. Em Pachamachay, também no Peru, acredita-se que o material arqueológico mais antigo, composto de numerosas pontas bifaciais triangulares, date de 10.500 AP. Mais a sul, nos Andes Argentinos, o sítio Inca Cueva 4 forneceu idades entre 10.700 e 9.200 AP, com pontas bifaciais triangulares. Nas regiões pampeana e patagônica, abrangendo Argentina e Chile, são conhecidos vários sítios arqueológicos com evidências da

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exploração de megafauna extinta por parte d e seres humanos. Nos pampas, La Moderna é um desses sítios, com uma idade de 12.300 AP que, porém, não é plenamente aceita. A indústria lítica d e La Moderna é simples e composta d e lascas d e quartzo. E m Paso Otero 5, tambkm associados a animais extintos, foram encontrados fragmentos de bifaces datados de 10.200 AP. Outros sítios pampeanos, como Cerro La China e Cerro E1 Sombrero, forneceram pontas "rabo-de-peixe" datadas por volta de 10.700 AP. Na Patagônia, vários sítios importantes apresentam também pontas bifaciais "rabo-de-peixe", sendo possível perceber uma cronologia que colocaria estas pontas como mais antigas a sul do que a norte (DILLEHAY 2000:209). As indústrias líticas dos níveis mais antigos ("pré-ponta") seriam unifaciais. Em Los Toldos, por exemplo, há uma idade de 12.600 AP associada a artefatos unifaciais. E m Piedra Museo, o nível mais antigo, com indústria unifacial, foi datado de 12.890 AP, seguido depois por pontas bifaciais do tipo "Fell", datadas d e 10.400 AP. Na Caverna Fell, próxima ao Estreito de Magalhães, foram encontradas indústrias líticas bifaciais datadas entre 11.000 e 10.720 AP. Outros sítios como Tres Arroyos, Cueva De1 Medio, Cueva De1 Mylodon, Cueva 1 e Cueva 4 do Lago Sofia, apresentam níveis datados por volta d e 11.000 AP, com indústrias predominantemente bifaciais. No Uruguai, dados recentes apontam para uma indústria bifacial datada de até 11.200 AP, além d e abundantes exemplares d e pontas "rabo-de-peixe" encontradas e m superfície.

3 INDÚSTRIAS L~TICASANTIGAS EM TERRITÓRIO BRASILEIRO Embora alguns sítios arqueológicos localizados em território brasileiro tenham apresentado idades bastante recuadas, como por exemplo o Boqueirão da Pedra Furada, no Piauí (PARENTI, 2001), o Abrigo Santa Elina (VIALOU e t a1 2000) e o Abrigo do Sol, no Mato Grosso (MILLER, 1987), o foco desta análise será a variabilidade lítica encontrada nos sítios datados e m torno d e 11.000 AP. Os dados aqui apresentados foram compilados a partir de Dias & Jacobus (2001), Etchevarne (2000), Martin (1997), Noelli (2000), Oliveira & Viana (2000) e Prous (1992). Pontas bifaciais com características "antigas" (acaneladura, pedúnculo "rabo-de-peixe") encontradas e m superfície aparecem e m vários pontos do Brasil, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Bahia (PROUS 1992:148; WALTER 195851). Na Rev.

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região sul temos as idades mais antigas relacionadas à tradição Umbu, e m torno d e 12.800 AP, na região d e Alegrete e Uruguaiana (RS). A característica mais notável desta indústria é a presença de pontas bifaciais de formas diversas (foliáceas, triangulares, com ou sem aleta, serrilhadas etc), com pequena variação ao longo dos milênios. A área d e dispersão desta indústria bifacial se estende desde o Rio Grande do Sul (na verdade, incluindo o Uruguai) até a porção central do Estado d e São Paulo. Mais a norte, no centro de Minas Gerais, os sítios arqueológicos de Lagoa Santa e d e Santana do Riacho apresentam indústrias líticas com uma tecnologia bastante simples, predominantemente unifacial e sem artefatos formais. Algumas pontas bifaciais são raramente encontradas (p.ex., WALTER 1958). E m contraste com as indústrias bifaciais da região sul, no Brasil Central as indústrias líticas existentes por volta d e 11.000 AP são predominantemente unifaciais, com forte presença d e "lesmas" e ausência quase total de pontas bifaciais. Esta indústria é comumente chamada de Tradição Itaparica, e se estende pelos estados d e Goiás, Mato Grosso, Piauí, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Tocantins. O Nordeste brasileiro também apresenta indústrias predominantemente unifaciais relacionadas à Tradição Itaparica, sendo que as poucas pontas bifaciais com caracteristicas potencialmente "antigas" ocorrem principalmente no Rio Grande do Norte e no Médio Vale do São Francisco. Na Amazônia, o único sítio dentro da faixa cronológica de interesse é a Caverna da Pedra Pintada (ROOSEVELT e t a1 1996). Este sitio é extremamente bem datado, e a indústria dos níveis mais antigos, entre 11.200 e 10.000 AP, apresentou tanto artefatos bifaciais (pontas com pedúnculo) como unifaciais ("lesmas").

4 VARIABILIDADE E CRONOLOGIA: POSSÍVEIS INTERPRETAÇ~ES A partir dos dados apresentados, torna-se patente que o panorama geral da América do Sul mostra uma ampla diversidade d e indústrias líticas já e m período bastante recuado. E m algumas áreas, como os Pampas e Patagônia, há uma predominância de indústrias com pontas bifaciais. E m outras, como na costa do Equador, as indústrias unifaciais são predominantes. As diferentes formas de pontas bifaciais (E1 Jobo, Fell, Pay Paso, Restrepo, Paiján, triangulares) também refletem essa alta variabilidade. No Brasil, indústrias líticas bastante distintas se desenvolveram nas d

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porções meridional e central do país. Mesmo que nem todos os sítios, datas e contextos sejam completamente aceitos, os sítios mais antigos da América do Sul sugerem um cenário muito distante da homogeneidade tecnológica ou estilística. Vamos iniciar analisando os modelos propostos para a cronologia do povoamento das Américas. D e maneira admitidamente simplificada, esses modelos podem ser divididos e m dois grandes grupos: Clovis first, que propõe uma entrada relativamente "tardia" para o homem na América, por volta d e 12.000 AP, e "Pré-Clovis", q u e sugere entrada(s) anterior(es) a 12.000 anos. Dentro d e cada um desses grupos há pesquisadores com opiniões bastante distintas, mas para efeito da discussão que nos interessa o agrupamento é satisfatório, uma vez que tem implicações profundas na questão do ritmo da mudança cultural observada. A pergunta inicial é: a variabilidade observada é condizente com a cronologia proposta pelo modelo Clovis flrst? A primeira vista, isso seria possível s e imaginássemos uma população Clovis descendo para a América do Sul de maneira rápida, explorando mamíferos de grande porte e apresentando alta mobilidade. Esta visão, defendida pela maioria dos arqueólogos do hemisfério norte (p. ex., KELLY & T O D D 1988; MARTIN 1967; S T E E L E et al. 1998), teria como resultado natural uma grande expansão das pontas Clovis, ao menos no norte da América do Sul, o que não se verifica empiricamente. Ao contrário, as pontas Clovis (ou similares) são raríssimas ao sul do Panamá (BRYAN e GRUHN, 2003). A única alernativa seria imaginar que esses caçadores paleoíndios modificaram seu instrumental lítico na medida e m que novos ambientes foram sendo explorados. Isto implicaria necessariamente que o instrumental lítico, a única porção preservada do aparato tecnológico das populações caçadoras, fosse extremamente flexível. A cada novo ambiente encontrado, uma nova tecnologia lítica seria adotada, reinventada ou modificada a ponto d e s e tornar completamente diferente das formas originais. Segundo este raciocínio, as pontas rombóides do tipo E1 Jobo, ou as pontas tipo "rabo-de-peixe", por exemplo, seriam modificações radicais da forma e tecnologia d e Iascamento originalmente existentes nas pontas Clovis. As populações caçadoras desenvolveriam, portanto, mudanças rápidas e estruturalmente profundas em suas indústrias líticas (e, supostamente, e m vários outros aspectos d e seu aparato tecnológico) para se adaptarem aos novos ambientes. A meu ver, este modelo (que está embasado no que podemos chamar de "camaleonismo tecnológico") padece de suporte empírico em vários aspectos. Primeiramente, não parece haver uma relação tão estreiRev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.26, n.35, p. 30-31, jan./iun. 2002

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ta entre meio-ambiente e diferentes tecnologias líticas, isto é, diferentes

maneiras d e se fazer uma ponta d e flecha, ou d e se reduzir um núcleo. Prova cabal disso reside na própria América do Norte: as pontas Clovis se distribuem ao longo d e grandes extensões do continente, atravessando paleoambientes bastante distintos, englobando áreas semi-áridas, estepes, pradarias, florestas decíduas e bosques (ANDERSON, 1996; S T E E L E e t al. 1998). Uma possível explicação para essa homogeneidade tecnológica poderia residir em um suposto sistema de subsistência baseado na especialização em caça de grande porte, mas vários autores já alertaram para o fato de que os caçadores Clovis eram muito provavelmente generalistas (p.ex., DIXON 1999), apesar do forte apelo popular que possuem os raros sítios onde as pontas estão associadas a mamutes ou bisões. Ainda nesta linha de raciocínio, se quisermos utilizar um exemplo mais próximo, basta notar que os paleoambientes abrangidos pela Tradição Itaparica no Brasil englobam cerrado, caatinga e matas litorâneas (ETCHEVARNE, SOOO), novamente refutando a noção d e q u e as indústrias Iíticas respondam de maneira tão rápida e maleável aos fatores ambientais. E m face dos dados disponíveis, pode-se dizer que uma cronologia "curta", advogada pelo modelo Clovis first, parece inadequada para explicar a variabilidade encontrada nas indústrias líticas mais antigas da América do Sul.

5 VARIABILIDADE E ROTAS DE DISPERSÃO A relação entre a variabilidade das mais antigas indústrias líticas sulamericanas e as rotas de dispersão das populações que as produziram é outro aspecto que deve ser analisado, posto que o entendimento de ambos fatores deve ser integrado. O modelo tradicional de entrada do homem nas Américas aposta e m uma rota eminentemente continental, que se valeria do corredor livre d e gelo formado entre as geleiras Cordilheirana e Laurentidea. As porções continentais a sudoeste do Canadá e nordeste dos Estados Unidos teriam sido, de acordo com o modelo, as primeiras a serem ocupadas em latitudes abaixo da linha de glaciação. As populações indígenas teriam se dispersado pela América do Norte e depois pela América do Sul, provavelmente se dispersando novamente e seguindo ambas vertentes dos Andes, até a Terra do Fogo. Mais recentemente, surgiram evidências que parecem contradizer o modelo. E m primeiro lugar, vários autores sugerem que o corredor livre de gelo não era uma rota viável, seja por estar obstruída durante mais Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.28, n.39, p. 1 1 1- 130, jan./jun. 2004

tempo do que se pensava, seja por se constituir e m um ambiente totalmente desfavorável à sobrevivência de um grupo humano caçador (MANDRYK e t al 2001). E m segundo lugar, os sítios arqueológicos Clovis mais antigos não estão próximos à desembocadura do corredor livre d e gelo, mas sim na porção sul dos Estados Unidos. E m terceiro lugar, não há pontas Clovis "verdadeiras" no Alaska, e nada semelhante na Sibéria (BRYAN & GRUHN 2003; DIXON, 2001). Um modelo alternativo, que tem ganhado mais força nos últimos anos, defende uma rota costeira para a dispersão das populações humanas paleoindígenas (DIXON, 1999, 2001; MANDRYK e t al. 2001). Os trabalhos d e Dixon (1999, 2001) têm aumentado o escopo da discussão, incluindo um modelo para a ocupação da América do Sul (Mapa 1). D e acordo com o autor, a entrada das primeiras populações humanas nas Américas teria se dado por volta d e 14.000 - 13.500 AP. Condições climáticas mais amenas (ambientes costeiros geralmente são menos frios e mais úmidos do que as áreas plenamente continentais) e abundância d e recursos alimentares teriam favorecido a expansão das primeiras populações humanas na América do Sul ao longo da costa. Como esse é um habitat eminentemente linear, a expansão ao longo da costa seria relativamente rápida, ao passo e m que a expansão continente adentro seria mais lenta, provavelmente devido a uma combinação de fatores como aumento da população, melhor conhecimento do ambiente e melhoria das condições climáticas. O modelo d e Dixon parece, até o momento, o mais adequado para explicar as possíveis rotas de expansão humana nas Américas. Algumas pequenas modificações poderiam ser sugeridas, como por exemplo quanto à questão da cronologia das diferentes fases d e ocupação. Observando o Mapa 1, não se percebe nenhum motivo para q u e as populações paleoíndias tenham "virado à direita" após atravessar o Istmo do Panamá, seguindo pela costa do Pacífico, rumo sul até a Terra do Fogo, para só então começar a ocupar a costa atlântica. Muito mais realista seria supor que, ao chegar no norte da América do Sul, as populações humanas tenham se dispersado pela costa e seguido dois ramos, um atlântico e outro pacífico, conforme o modelo proposto por Neves e t al. (2003). O Mapa 2 representa uma situação onde, a partir da entrada das primeiras populações no norte da América do Sul, a dispersão tenha se dado primeiramente ao longo das zonas costeiras do Atlântico e do Pacífico, com a ocupação do interior ocorrendo mais tardiamente. Obviamente, o ponto fraco do modelo de expansão costeira é a dificuldade d e refutá-lo. Os sítios arqueológicos mais antigos estariam todos submersos, haja vista

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que dependendo da região, o nível do mar subiu até 150 m desde o último máximo glacial.

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS COM BASE EM DADOS PALEOCLIMÁTICOS Uma análise da bibliografia recente a respeito dos paleoclimas durante o Quaternário tardio na América do Sul suporta a hipótese d e que, após um Último Máximo Glacial seco e frio, eventos d e maior umidade tenham ocorrido entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno (BEHLING, 1998; LEDRU, 1993; MOURGUIART & L E D R U 2003 ; RODRIGUES-FILHO e t a1 2002). Esse clima mais ameno teria favorecido a ocupação humana e m várias regiões do continente, sendo seguido posteriormente por períodos d e menor pluviosidade (aumento da estação seca?) durante o Holoceno Médio (BEHLING, 2002; LEDRU, 1993; L E D R U e t a1 1996; MARTIN e t a1 1997; SERVANT e t a1 1993), desta vez promovendo o abandono de extensas regiões por parte d e populações humanas (ARAUJO et a1 2003; NUNEZ e t a1 2001). Esses eventos d e abandono regional foram observados, inicialmente, e m ambientes marginais, locais com baixa disponibilidade d e água e recursos, como é o caso do centro e norte do Chile (NUNEZ e t a1 2001; NUNEZ e t a1 2002), sendo recentemente expandidos para áreas extra-andinas, como é o caso do Brasil Central e Pampas argentinos (ARAUJO e t a1 2003). A porção meridional do Brasil, por sua vez, apresenta um cenário distinto. As inferências paleoambientais para a região sugerem que o clima era bastante frio e seco durante o Tardiglacial, havendo uma modificação paulatina rumo a condições mais quentes e úmidas ao longo do Holoceno ( B E H L I N G 2002; B E H L I N G & N E G R E L L E 2001). Áreas costeiras, por sua vez, provavelmente apresentavam condições climáticas muito mais amenas, devido a fatores orográficos e proximidade do mar. Na costa do Paraná, por exemplo, uma vegetação análoga A Mata Atlântica já começava a se formar por volta d e 12.300 AP (BEHLING & NEGRELLE, 2001). Na costa norte do Rio d e Janeiro, os dados disponíveis também apontam para a estabilidade ambiental, com uma vegetação muito similar à atual ocorrendo desde o Holoceno Médio (SCHEELYBERT, 2000). Se conjugarmos os dados arqueológicos e paleoclimáticos, o modelo d e expansão costeira parece ser o mais adequado para explicar o povoamento humano da América do Sul. Se as condições climáticas continentais eram, em linhas gerais, mais frias e secas durante o Ultimo

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Máximo Glacial, e se as condições climáticas costeiras no mesmo período eram mais amenas, é bastante provável que a interiorização d e grupos humanos tenha se dado após o aumento de umidade verificado no início do Holoceno. Bate (1990) identifica pelo menos três grandes unidades culturais distintas por volta de 11.000 AP na América do Sul, agrupadas principalmente por meio da tecnologia lítica (Mapa 3). Esse quadro se coaduna com uma interiorização "tardia", na medida em que os sítios continentais mais antigos já apresentam diferenças culturais marcantes, provavelmente herdadas das populações litorâneas parentais (cujos sítios devem estar, em sua maioria, submersos). A diversificação cultural teria ocorrido ao longo da costa, um ambiente que por sua geometria linear favoreceria um distanciamento relativamente rápido entre grupos parentais e derivados, e também pela divisão entre grupos "atlânticos" e "pacíficos", após a entrada no norte da América do Sul. A diversificação de atributos culturais no tempo parece estar diretamente relacionada ao tamanho da população envolvida. Uma simulação feita por Neiman (1995) sugere que entre populações pequenas, a "vida média" de um determinado atributo cultural é muito menor, e sua fixação muito mais rápida, do que entre populações grandes. Outro fato digno de nota é que a ação da deriva' é muito mais forte em populações pequenas, favorecendo um distanciamento maior entre populações uma vez que elas se separem (NEIMAN, 1995:25). Assim, quanto menores as populações humanas presentes ao longo da faixa litorânea, maior a probabilidade de que os atributos culturais tenham se diversificado em relativamente pouco tempo. Cabe aqui um parêntese. A simulação de Neiman (1995) se refere a atributos estilísticos. Até que ponto podemos encarar as diferenças entre indústrias líticas como variações estilísticas, e não funcionais? Seriam as formas dos artefatos e as estratégias de redução regidas por imperativos funcionais ou não? Acredito que muito da variação nas "tradições" líticas possa se dever a aspectos não estritamente funcionais (DIAS e SILVA, 2001; SACKETT, 1982). A idéia é que um mesmo artefato possa encerrar e m si tanto atributos estilísticos como funcionais. Assim, uma ponta projétil pode apresentar alguns atributos quase imutáveis: a própria ponta aguçada, um gume, uma determinada massa, cuja variação vai depender do meio propulsor (arco, atlatl ou braço), e um sistema de fixação a uma haste. Outros atributos podem ser mais maleáveis, como por exemplo a

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Deriva ou "drift", é o erro amostra1 que acompanha inevitavelmente a transmissão cultural, seja ela horizontal, oblíqua ou vertical (Neiman 19959).

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própria matéria-prima: a ponta pode ser d e pedra, osso ou madeira, sendo igualmente efetiva para ferir e m qualquer uma d e suas versões. A existência ou não de um dispositivo que faça com que a ponta se prenda à presa, geralmente na forma d e aletas, pode ter características funcionais mas também estilísticas (as aletas podem ter variados graus d e inclinação). O sistema d e encabamento, apesar d e ser um imperativo funcional, pode também apresentar variações totalmente estilísticas. A ponta pode ter pedúnculo ou não, por exemplo. O sistema d e fixação da ponta à haste pode apresentar uma variação imensa, sem afetar minimamente a função básica do artefato. Podemos pensar igualmente na forma do gume (reto, ligeiramente convexo, acentuadamente convexo, etc), que provavelmente pouco influi na função básica do artefato. O mesmo raciocínio pode ser feito para qualquer classe d e artefato. Por exemplo, a única característica mais ou menos fixa d e um raspador é que o gume seja suficientemente resistente para suportar o uso sem quebrar, o que se consegue por meio d e um ângulo d e gume grande, geralmente retocado. Obedecida esta condição básica, um raspador pode ter qualquer formato, e esse "qualquer formato" pode ser encarado como estilístico. Até mesmo as estratégias d e redução lítica cabem neste contexto. Se o objetivo final é obter lascas, ou mais especificamente gumes cortantes, então espatifamento, lascamento bipolar ou lascamento unipolar são igualmente viáveis. E m suma, para a execução d e u m conjunto d e atividades d e subsistência, várias são as possibilidades d e forma e até mesmo matériaprima dos artefatos envolvidos. A " e s ~ o l h a "dentre ~ as várias opções é mediada por uma relação dialética entre as necessidades básicas d e subsistência e normas culturais, sendo que estas últimas vão estar sujeitas a deriva. Portanto, se incluirmos no modelo de Neiman (1995) as indústrias líticas, podemos pensar e m uma diversificação inicial, relacionada a grupos pequenos habitando áreas mais ou menos distantes ao longo da costa, seguida por um aumento paulatino da população e uma interiorização, favorecida pelas condições climáticas do início do Holoceno. Se o aumento da população e a interiorização ocorreram de maneira mais ou menos concomitante, o resultado esperado pela simulação d e Neiman

A palavra "escolha" está sendo utilizada aqui no sentido de que um determinado rumo evolutivo foi tomado, sendo um dentre os possíveis caminhos, sem implicar que os indivíduos constituintes da população tenham controle sobre as opções, manutenção ou mudança desse rumo.

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(1995) é o d e uma maior "longevidade" dos atributos, ou seja, d e uma maior homogeneidade das indústrias líticas, tanto pela redução do papel da deriva, dado o aumento da população, como pela maior interação entre grupos. Às expectativas do modelo podemos acrescentar uma maior dispersão espacial dos atributos, devido à maior visibilidade arqueológica que reflete tanto a expansão territorial como o aumento da população. N o caso do Brasil, a situação prevista pelo modelo d e Neiman parece se verificar pela distribuição das indústrias unifaciais, no Brasil Central e Nordeste, e pela distribuição das indústrias bifaciais na porção meridional. A relativa homogeneidade interna dessas indústrias e o nítido contraste entre as mesmas sugere que grupos humanos relativamente numerosos, oriundos d e regiões distintas da costa, tenham adentrado o continente por volta d e 11.000 AP. O Mapa 3 , baseado e m Bate (1990), sugere uma continuidade entre as indústrias liticas do norte da América do Sul e as existentes no Brasil Central e Nordeste. Segundo Bate (1990:128), os artefatos plano-convexos da Tradição Itaparica seriam muito semelhantes aos encontrados no complexo E1 Jobo. Poderíamos, portanto, postular uma rota atlântica para os ancestrais dos grupos relacionados à Tradição Itaparica. Por outro lado, as indústrias bifaciais do Brasil meridional parecem estar mais relacionadas ao cone sul. Neste caso, uma possível rota pacífica rumo sul, seguida por uma dispersão rumo leste e norte no extremo meridional do continente, parece plausível.

A existência, no Brasil, d e diferentes tradições tecnológicas e m tempos tão recuados pode ser entendida de, pelo menos, duas maneiras: por u m lado, podemos pensar e m uma entrada mais antiga para as populações humanas na América. O quão "mais antiga" essa entrada seria depende d e vários fatores, mas é fato que deveria ter transcorrido tempo suficiente para que houvesse uma diferenciação considerável nas estratégias d e redução lítica, principalmente por mecanismos d e deriva (drift). Por outro lado, pode-se pensar que a diferenciação das indústrias líticas tenha se dado face à exploração d e novos ambientes, e m combinação com modificações substanciais no clima, com suas evidentes conseqüências na subsistência. Neste caso, inovações tecnológicas podem ser potencializadas pelo grau de risco oferecido pelo ambiente, promovendo modificações radicais no aparato tecnológico d e populações sujeitas à pressão ambiental. Esta última hipótese não parece ser favorecida e m vista dos dados

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empíricos. A luz dos dados paleoambientais, poder-se-ia imaginar u m cenário e m q u e as primeiras populações humanas tenham chegado na América do Sul ainda e m fins do Pleistoceno (13.000 AP?) e s e estabelecido, prioritariamente, ao longo da costa, u m dos ambientes mais propícios à ocupação humana, tanto pela disponibilidade d e recursos como pela amenidade do clima. A interiorização teria se dado d e maneira paulatina, dificultada pelas condições ambientais (ou pouco favorecida pelas condições mais amenas na costa). O clima no Brasil Central durante o Tardiglacial seria frio e seco, seguido por um período mais úmido (e ainda frio) no Holoceno Inicial, entre 10.000 e 8.500 AP. É nesse período mais úmido que porções consideráveis do Brasil Central teriam sido efetivamente povoadas, conforme sugerem os dados que temos para Lagoa Santa. A partir d e 10.000 anos AP os abrigos começariam a ser ocupados intensamente, apesar da evidência de que humanos já estariam visitando a região de maneira esporádica. É importante notar que não se trata simplesmente d e um evento d e migração, mas de migração associada a u m aumento da população humana, provavelmente favorecida pela amenização do clima e conseqüente aumento da capacidade d e carga do ambiente. A porção interior do Brasil meridional teria sido povoada d e maneira ainda mais esporádica, haja vista que os dados paleoambientais sugerem u m aumento de umidade gradual, detectada de maneira sensível apenas no Holoceno terminal. Esta discussão se limita ao Pleistoceno Final/Holoceno Incicial e à variabilidade nas indústrias líticas observada nesse período. Não descartamos a possibilidade d e a entrada d e humanos nas Américas ter sido ainda anterior a 14.000 AP (conforme dados recentes publicados por CHLACHULA 2003 e PITULKO e t a1 2003), com correspondentes (e talvez raros) eventos anteriores d e expansão continente adentro, como sugerem dados do Chile (DILLEHAY 2000) e Brasil (PARENTI 2001; VIALOU 2003).

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Costa oeste - 13.000 a 12.500 AP Cordilheirana - 12.500 a 12.000 AP Costa leste - 12.000 a 11.500 AP

0 Interior - 11300 a 11.O00 AP

Mapa 1: Modelo de povoamento da América do Sul d e Dixon (1999, 2001). As quatro etapas de ocupação são indicadas na legenda. A mais antiga se daria ao longo da costa do Pacífico, seguida por uma interiorização andina. A costa atlântica só teria sido ocupada mais recentemente.

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Linha de msta no último máximo glaciril

Mapa 2: Modelo de povoamento da América do Sul levando em conta uma dispersão inicial pela costa, mas seguindo dois rumos, um pelo Atlântico e outro pelo Pacífico. A ocupação efetiva do interior do continente se daria mais tardiamente. Note-se que grandes extensões da antiga linha de costa estão hoje submersas. Rev. do CEPA, Santa Cruz do Sul, v.28, n.39, p. 1 11- 130, jan./jun. 2004

F IConjunto i

1-

Conjunto iii

Mapa 3: Conjuntos tecnológicos líticos antigos da América do Sul, propostos por Bate (1990).A distribuição dos conjuntos I e I11 sugere uma diferenciação com origem no norte do continente, talvez refletindo a divergência inicial dos ramos Atlântico e Pacifico proposta no Mapa 2.

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