A Verdade como correspondência em Tomás de Aquino

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA – UNISUL CAMPUS GRANDE FLORIANÓPOLIS – UNIDADE ILHA CENTRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

A Verdade como correspondência em Tomás de Aquino

Nahor Lopes de Souza Júnior

Florianópolis Dezembro de 2006.

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA – UNISUL CAMPUS GRANDE FLORIANÓPOLIS – UNIDADE ILHA CENTRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

A Verdade como correspondência em Tomás de Aquino

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito final à obtenção do título de bacharel em filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, sob a orientação do Professor Sérgio Sell

Acadêmico: Nahor Lopes de Souza Júnior

Florianópolis Dezembro de 2006

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA – UNISUL CAMPUS GRANDE FLORIANÓPOLIS – UNIDADE ILHA CENTRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

VERDADE COMO CORRESPONDÊNCIA EM TOMÁS DE AQUINO

NAHOR LOPES DE SOUZA JÚNIOR

TERMO DE APROVAÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso foi aprovado como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL

Avaliação final:______________.

Florianópolis, 14 de dezembro de 2006.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ Professor Sérgio Sell – Orientador

_________________________________ Professor José Dimas Maciel Monteiro – Membro

___________________________________ Professor Nei Antônio Nunes - Membro

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Para todos os jovens e crianças, nos quais encontro a semente da verdade.

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Agradecimentos

Tantos motivos para agradecer! Tantas dificuldades vencidas e alegrias conquistadas! Obrigado, Deus, pois mesmo nas minhas argumentações e questionamentos racionais, estavas presente, como luz interior, que guiava esta razão. Obrigado, pai, obrigado, mãe, pela vida e testemunho da verdade em nossa família. Obrigado, todos os meus amigos e amigas, pois, sem eles, não conseguiria enxergar que haveria um mundo além daquele que eu pensava. Obrigado, mestres, por me proporcionar a cada dia nas aulas uma paixão pelo saber. Obrigado, padres, pois foi através de sua vida e testemunho, em busca da verdade por vocês professada, que foi me motivado cada dia para continuar na mesma vocação. Ó bom Jesus, por tudo isso quero concluir em teu nome, a fim de que a cada dia eu possa ser um outro de tua presença, testemunhando a Verdade. 5

Sumário

Introdução ..........................................................................................................................7 1. Visão geral sobre o problema da verdade ......................................................................9 1.1 Aletheia, Veritas e Emunah ..........................................................................................11 1.2 Parmênides ...................................................................................................................12 1.3 Platão e Aristóteles .......................................................................................................13 1.4 Patrística e Escolástica: Agostinho de Hipona e Anselmo de Cantuária e a verdade como transcendental em Tomás de Aquino .......................................................................15

2. Introdução à “teoria do conhecimento” e ao problema da verdade em Tomás de Aquino.................................................................................................................................19 2.1 Tomás de Aquino e a herança intelectual de Aristóteles e Alberto Magno ................19 2.1.1 O(s) intelecto(s) .........................................................................................................21 2.2 Metodologia tomista na obra Questões disputadas sobre a verdade ........................23 2.2.1 O contexto medieval e escolástico das disputatio ...........................................…......23 2.2.2 Visão geral da obra Questões disputadas sobre a verdade .......................................25 2.2.3 Questões e soluções ..................................................................................................27

3. O que é a verdade? Tomás de Aquino responde! .........................................................31 3.1 O que é a falsidade? Tomás de Aquino também responde! .........................................34 3.2 Adequatio rei et intelecto: as implicações da correspondência como meio para alcançar a objetividade da verdade lógica e ontológica ...................................................................35 Considerações finais .........................................................................................................37 Bibliografia .......................................................................................................................39 6

Introdução

“Qui est veritas?” Quem assistiu ao filme A Paixão de Cristo, do diretor Mel Gibson, deve ter percebido que esta pergunta, feita pela personagem Pôncio Pilatos a Jesus Cristo, cena baseada em Jo 18, 38, remete, na espera de sua resposta, a um misterioso silêncio. O que é a verdade? Seria realmente um profundo silêncio? Ao longo dos séculos, muitos pensadores tentaram dar respostas, querendo preencher o referido silêncio. Ou seja, a busca pela verdade é um grande processo tido ao longo da História, que envolveu as religiões, as ciências, a Filosofia, a Teologia, e tantas outras formas utilizadas pelo ser humano para construir o conhecimento e as civilizações. Vimos, ao longo da História, a verdade dentro de um doloroso processo: sendo objetivada, sendo imposta, usada para criticar, construir, destruir, libertar, e, por “fim”, sendo relativizada. E temos muitos nomes que trataram da verdade em discursos e obras, com os fins citados acima: Parmênides de Eléia, Sócrates, Platão, Aristóteles, Jesus, Irineu de Lião, Agostinho de Hipona, Anselmo de Cantuária, Tomás de Aquino, René Descartes, David Hume, Immanuel Kant, Hegel, Nietzsche, Foucault, entre outros, só para citar alguns, não querendo, com isso, desvalorizar as centenas de razões que pensaram o problema da verdade e não foram citadas. Meu trabalho consiste em expor a visão sobre a verdade do filósofo, teólogo e frade dominicano, o italiano Tomás de Aquino (1225 – 1274). Santo Tomás, como é mais conhecido no círculo cristão (por ter sido canonizado pela Igreja Católica na pessoa do papa João XXII no ano de 13231), está situado no período filosófico mais conhecido como Escolástica, dentro da Idade Média. Seu pensamento, por um lado, pende à organização das verdades da religião, e, por outro lado, à síntese filosófica de Aristóteles, tendo, de certo modo, um pensamento teológico mesclado com a Filosofia 2. Ele segue uma tradição cristã, que trabalha muito a visão da verdade, desde o próprio Jesus (em todos os Evangelhos), passando pelos pensadores da Patrística (usando muito a verdade cristã para combater as 1

Cf. TORRELL, Jean-Pierre. Iniciação a Santo Tomás de Aquino: sua pessoa e obra. São Paulo: Loyola, 1999, pp. 371-379. A memória de Santo Tomás de Aquino, no calendário litúrgico da Igreja Católica, comemora-se no dia 28 de janeiro. 2 Cf. BRÉHIER, Émile. Histoire de la Philosophie: Tome I – L’Antiquité et le Moyen Age – 3. Moyen Age et Renaissance. 7. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1967, p. 587.

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heresias), Agostinho de Hipona (que em diversas obras trata do problema, especialmente nos Solilóquios, dedicando capítulos ao tema), Anselmo de Cantuária (que tem uma obra dedicada ao tema, intitulada, em português, A verdade), até chegar ao próprio Tomás de Aquino, que faz um tratamento especial do tema na obra abordada de modo especial neste trabalho, de nome Questões disputadas sobre a verdade, além de tratar dela também na Questão 16 da sua principal obra, a Suma Teológica e em trechos da Suma contra os gentios. O presente trabalho será dividido em três capítulos, cujo primeiro irá expor uma visão geral sobre o problema da verdade ao longo da Filosofia, não se atentando aos pormenores, mas fazendo primeiramente o resgate das origens da noção de verdade e também a visão dos que trataram da verdade como correspondência ou adequação, principalmente; o segundo capítulo irá abordar uma chamada “teoria do conhecimento” em Tomás de Aquino e uma visão geral e metodológica do filósofo, analisando principalmente as Questões disputadas; e o terceiro e último capítulo mostra, a partir das Questões disputadas, os questionamentos e as soluções dadas pelo Aquinate ao problema da verdade e também ao da falsidade. Boa leitura e discussão!

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Capítulo I

1. Visão geral sobre o problema da verdade

“(...) conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8, 32)

Conhecer a verdade: eis aí um grande desafio para a Filosofia! Ao longo da História, muitos ousaram a aceitar esse desafio. Neste capítulo, vou expor de forma sucinta as diversas concepções de verdade e também os principais pensadores deste tema a partir da noção de correspondência. Ao consultar em um dicionário de língua portuguesa o verbete verdade (vamos ter como exemplo um grande referencial nosso, o dicionário Aurélio), nos deparamos com as seguintes definições: “1. Conformidade com real; exatidão. 2. Coisa verdadeira. 3. Princípio certo”3. Com base no dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, podemos considerar a verdade dentro de 5 concepções: correspondência, revelação ou manifestação, conformidade com uma regra ou conceito, coerência e, por fim, utilidade4. 1. Correspondência: a noção de verdade como correspondência tem suas origens nas escolas pré-socráticas, porém, sendo formulada primeiramente por Platão. Essa noção é uma concepção ontológica, onde a verdade está no discurso feito de maneira correta de como as coisas realmente são. A correspondência não é só apenas no discurso, mas, na noção medieval, pode se dar também entre o intelecto e a coisa (que é o problema abordado neste trabalho, com Tomás de Aquino). Na Idade Moderna, principalmente com Leibniz e Kant, essa noção reaparece fortemente, como critério para resolver a problemática da objetividade do conhecimento.

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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 523. 4 Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp. 994-998.

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2. Revelação ou manifestação: a verdade, segundo essa noção, pode se revelar de duas maneiras, pelos sentidos, como se mostra o fenômeno, ou uma forma de revelação excepcional, dada por um ser (Deus) de forma privilegiada, fugindo da percepção sensória. O que caracteriza essa noção é a evidência, que nada mais é do que a revelação e a manifestação. 3. Conformidade com uma regra ou conceito: Platão também foi quem enunciou essa concepção. Segundo ela, podemos julgar as coisas existentes dentro de uma conformidade com uma regra lógica com um conceito estabelecido. Essa noção está fortemente esclarecida em Kant, onde o critério da verdade consiste na conformidade com as leis gerais e necessárias do intelecto. 4. Coerência: essa noção aparece na segunda metade do séc. XIX, com o movimento idealista inglês. Algo é considerado verdadeiro na coerência perfeita verificada nele, essa coerência é a abolição de qualquer multiplicidade relativa e forma de harmonia que não se deixe de entender nos termos do pensamento humano. 5. Utilidade: a noção de verdade como utilidade foi formulada primeiramente por Nietzsche, e que foi absorvida pelos pragmatistas e pela corrente da filosofia da ação. O verdadeiro aqui é aquilo que é útil e apropriado à conservação da humanidade, ou que é útil para entender o conhecimento.

De onde vieram essas definições, tanto a dos dicionários quanto as de perspectiva mais filosófica? O problema da verdade é tão antigo e natural quanto à existência humana. Para tratar dessa questão, há uma interessante colocação de Marilena Chauí, no seu livro Convite à Filosofia5. Ela afirma que a idéia tida atualmente sobre verdade, tanto nos dicionários, no senso comum e na Filosofia foi construída com base nas concepções oriundas das línguas grega, latina e hebraica6. A seguir, com base no texto de Chauí, vamos esmiuçar cada uma dessas concepções.

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Cf. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, pp. 95-97. Ibidem, p. 95.

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1.2 Aletheia, Veritas e Emunah

Literalmente, o termo grego aletheia quer dizer “não-esquecido” (a = negação; léthe = esquecimento). É na concepção de não-esquecimento, de lembrança, que temos, por exemplo, a visão de verdade em Platão, que fala da lembrança da contemplação da verdade no mundo inteligível. A verdade é então “(...) a manifestação daquilo que é realmente ou do que existe realmente tal como se manifesta ou se mostra”7. Desse modo, a verdade estaria nas coisas que se manifestam, e o conhecimento verdadeiro será quando o intelecto apreende essa verdade manifesta, sendo assim, a verdade como uma propriedade ontológica. O oposto da verdade é a aparência, o pseudos. Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade e, portanto, a verdade depende de que a realidade se manifeste, enquanto que a falsidade depende de que ela se esconda ou se dissimule em aparências. Por isso, na concepção grega, o verdadeiro é o ser (o que algo realmente é) e o falso é o parecer (o que algo aparenta ser e não é)8.

Essa visão foi retomada na contemporaneidade por Heidegger 9, que fala da manifestação ontológica do ser, e também pela hermenêutica fenomenológica. A concepção latina de verdade é definida pelo termo veritas. Esse termo lembra veracidade, ou seja, qualidade daquele onde há precisão da verdade, que diz a verdade. Precisão é a marca da verdade quando definida pelo termo veritas. Para simplificar, podemos afirmar que o discurso verdadeiro é aquele que deve ter fidelidade ao fato ocorrido. A verdade nessa concepção está ligada ao discurso que a envolve, ou seja, relatos de fatos, que deve corresponder ao fato ocorrido. O oposto da verdade aqui é a mentira: “As coisas e os fatos ou são reais ou são imaginários; os relatos sobre eles é que são verdadeiros ou falsos” 10. Verdade na concepção hebraica se diz pelo termo emunah, que significa “confiança”. A verdade consiste em cumprir uma promessa, uma palavra dada, por Deus e pelas pessoas. É a concepção muito presente no judaísmo e no cristianismo primitivo,

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Ibidem, p. 96. Ibidem, p. 96. 9 Martin Heidegger faz várias menções sobre o problema da verdade em diversas obras, mas há uma em especial que merece ser consultada, onde dá um tratamento especial a essa questão: HEIDEGGER, M. Sobre a essência da verdade. São Paulo: Nova Cultural, 1973. 10 CHAUÍ, 2003, p. 96. 8

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principalmente numa linha profética 11. Um exemplo disso é a ética altruísta, que tem em algumas de suas bases o pensamento semítico de confiança na pessoa do outro, quer ela seja Deus ou um ser humano, onde a linguagem, a palavra dada, tem uma importância fundamental nas relações12.

1.2 Parmênides

O que expus até aqui foi uma visão geral sobre o problema da verdade, suas diferentes concepções que moldaram o conceito de verdade que comumente nos referimos. A partir daqui, irei expor brevemente as concepções de verdade dentro de alguns pensadores importantes para entender a problemática no enfoque da correspondência. Inicio com Parmênides. Parmênides de Eléia (aproximadamente 530 - 460 a. C) é, como já muito estudado, um pensador pré-socrático, fundador da ontologia (o discurso sobre a questão do Ser), sempre colocado em posição filosófica em contraposição a Heráclito de Éfeso (aproximadamente 540 - 470 a.C), outro pré-socrático. Enquanto Heráclito tende a classificar a realidade dentro do devir, onde tudo se encontra em dinamicidade, Parmênides evoca a unicidade da mesma, onde só há uma única via, a do ser. Mas o que nos interessa aqui, dentro da linha de pensamento proposta neste trabalho, não é a discussão ontológica entre Parmênides e Heráclito, mas sim sua concepção de verdade, claro que também intimamente ligada à sua ontologia. Dentro da proposta contida nos fragmentos de Parmênides onde uma deusa o leva para uma viagem esclarecedora, podemos dividir em três partes o caminho do eleata, segundo o historiador da filosofia Giovanni Reale: o primeiro, o caminho da verdade; o segundo, o caminho da falsidade; e o terceiro, o da opinião plausível13:

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Grande parte do Antigo Testamento da Bíblia é embasada no profetismo, em vista da vinda do Messias, que, segundo o cristianismo, se concretiza então em Jesus Cristo, no Novo Testamento. Os profetas eram vozes que denunciavam, mas, ao mesmo tempo, incutiam no povo a esperança e confiança em Deus. 12 “Esforçar-nos-emos por mostrar que a relação do Mesmo com o Outro (...) é a linguagem”. In: LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito. Lisboa: Edições 70, 1981. 13 Cf. REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia – Vol. 1. 8. ed. São Paulo: Paulus, 2003, p. 50.

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(...) o primeiro, que é e portanto que não é não ser, de Persuação é o caminho (pois à verdade acompanha); o outro, que não é e portanto que é preciso não ser, este então, eu te digo, é atalho de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é (pois não é exeqüível) nem o dirias...14

Parmênides fecha a discussão: só existe uma única via, a do ser. Esse é o único discurso, a verdade: o ser é e não pode não ser; logo, o não ser não é e não pode ser de nenhum modo. Com relação ao ser, Parmênides dá a ele o sentido de ser incorruptível, uno, eterno e idêntico ao pensamento15. Toda essa argumentação, Parmênides não a faz com os sentidos, pois esses são caminhos para o erro, mas com a razão 16. “Neste ponto encerro fidedigna palavra e pensamento sobre a verdade; e opiniões mortais a partir daqui aprende, a ordem enganadora de minhas palavras ouvindo”17; com isso, linguagem, pensamento, e razão fundem-se num único e verdadeiro discurso: que o Ser é.

1.3 Platão e Aristóteles

O ateniense Platão (aproximadamente 428 – 347 a.C), faz parte da grande tríade da Filosofia Antiga: Sócrates, Platão e Aristóteles. Discípulo do primeiro, deixou em escrito o “pensamento” de seu mestre (pois muita coisa ali também tem o pensamento próprio de Platão) através das suas obras. A questão da verdade em Platão tem uma amplitude complexa, pois está ligada à Teoria da Idéias e à anamnese, que praticamente abarcam todo o pensamento metafísico do Filósofo. Claro que isso tem implicações, como em Parmênides, no discurso (como quase em todos que estão na linha da correspondência). A partir da análise proposta por Giovanni Reale, irei expor brevemente o caminho platônico até a verdade 18. Platão sustenta a tese de que há um mundo inteligível, anterior ao mundo dos sentidos, onde já vivíamos contemplando o verdadeiro conhecimento, o Sumo Bem, e que só pode ser alcançado com o uso da razão. Os sentidos podem nos enganar quanto à alcançar a

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PARMÊNIDES. In: PRÉ-SOCRÁTICOS. Fragmentos, doxografia e comentários. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 122 (Os Pensadores). 15 Cf. Idem, pp. 123-124. 16 Cf. REALE, 2003, p. 54. 17 PARMÊNIDES. In: OS PRÉ-SOCRÁTICOS, 1996, p. 124. 18 Cf. REALE, 2003, pp. 137-142.145-148.

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objetividade do conhecimento, pois o que ele contempla são “sombras” do conhecimento verdadeiro (lembrar aqui da alegoria da caverna, descrita no Livro VII de A República). Nesse mundo, os verdadeiros conceitos estão de forma pura e de modo universal, ou seja, as idéias de todas as coisas que existem no mundo sensível: “(...) Idéias dos valores estéticos, Idéias de valores morais, Idéias das diversas realidades corpóreas, Idéias dos diversos entes geométricos e matemáticos, etc. Tais Idéias não estão sujeitas a geração, sendo incorruptíveis, como o ser eleático”19. Como já vivíamos antes nesse mundo e, ao nascer no mundo sensível, deve-se recordar das coisas que já existem desde sempre no interior da alma humana. Recordação é o termo grego anamnese. Aqui está a chave para o conhecimento seguro e verdadeiro, pois o Verdadeiro é um conceito universal que está no mundo das Idéias. O ser humano deve livrarse da argumentação baseada nos sentidos para alcançar a verdade, e então poderá proferir o discurso de verdade, quando alguma coisa é. Vemos a aproximação do conceito de verdade entre Parmênides e Platão. Mas isso é só um reflexo de como o pensamento relacionado com o discurso do Ser Uno dominou toda a filosofia ocidental até o pensamento contemporâneo. Isso também implica no conceito de verdade em Tomás de Aquino que é a proposta desse trabalho. Discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles (aproximadamente 384 – 322 a.C) divergiu e criticou muitas posições a respeito de seu mestre dentro do campo da metafísica, do conhecimento, entre outras coisas. Porém, a concepção de verdade aproxima-se com Platão na medida em que o discurso de verdade corresponde ao ser, aquilo que é. Verdade em Aristóteles liga-se ao problema da essência, da substância, do ser, do universal. Não é um aspecto acidental do ser, como podemos perceber no final do Livro VI da sua obra Metafísica, onde Aristóteles deixa de lado a discussão que trata até então do problema do acidental, e preludia o Livro VII, que irá tratar do problema da substância, com uma interessante análise daquilo que é da coisa a partir da concepção de verdadeiro e falso. O verdadeiro diz respeito a quando emite-se um juízo sobre algo, dizendo que algo é. Já o falso é quando emite-se um juízo dizendo que algo não é:

(...) falsidade e verdade não se encontram nas coisas: não é que o bem seja verdadeiro ou o mau, falso em si mesmo – mas no pensamento; enquanto, no que 19

REALE, 2003, p. 138.

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tange aos conceitos simples e às essências, falsidade e verdade não existem nem sequer no pensamento; - assim sendo, devemos considerar mais tarde o que cumpre discutir com respeito ao que é ou não é neste sentido20.

Com respeito à problemática da verdade, Aristóteles ainda a irá analisar com maior profundidade no Livro IX, onde formula sua concepção de verdade: “(...) a verdade é perceber e dizer o que se percebe (e dizer não é o mesmo que afirmar) (...)”21.

1.4 Patrística e Escolástica: Agostinho de Hipona, Anselmo de Cantuária e a verdade como transcendental em Tomás de Aquino

Ainda no período antigo, temos historicamente a difusão do Cristianismo. Com isso, as questões filosóficas foram praticamente abarcadas pela religião, primeiramente com os pensadores da Patrística, que, em sua maioria, eram clérigos cristãos (Clemente de Alexandria, Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Inácio de Antioquia, João Damasceno, Tertuliano, Agostinho de Hipona, Boécio, entre outros) e depois na Escolástica (tendo como grandes nomes os de João Escoto Eriúgena, Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo, Alberto Magno, Tomás de Aquino, Boaventura de Bagnoregio, Roger Bacon, John Duns Scott, Guilherme de Ockham, Siger de Brabant, Mestre Eckhart, entre outros)22. A Filosofia passou a ser vista sob o ângulo da Teologia23. O processo de conhecimento das coisas passou a ser visto sob o ângulo de uma metafísica religiosa, com o grande projeto de conciliar fé e razão. Claro que não só os cristãos faziam parte desse projeto, pois havia também grandes nomes judeus como Moisés Maimônides e nomes árabes como Avicena, Averróis e Al-Gazali, entre outros. O problema da verdade agora tinha um referencial chamado Deus. Não era mais uma Idéia, como em Platão, ou um discurso do pensamento dizendo que o ser é, como em Aristóteles, mas o ente divino, criador das coisas, ser subsistente, que era princípio

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ARISTÓTELES. Metafísica. Porto Alegre: Globo, 1969, p. 146. ARISTÓTELES, 1969, p. 205. 22 Boécio não era clérigo, o citei por ser um grande nome da Patrística. O mesmo ocorre na Escolástica com Siger de Brabant. 23 Cabe notar que uso a palavra Teologia para falar do discurso cristão sobre Deus, mesmo que na época da Patrística o uso desse termo não tinha essa conotação. O termo theologia, visto como discurso ou síntese do pensamento cristão, foi usado primeiramente com Pedro Abelardo (1079-1142). Cf. REALE, 2003, p. 511. 21

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fundamental da religião. Mas a verdade tinha que ser abordada, argumentada, a fim de proteger a fé das heresias, das falsas doutrinas. Um exemplo desse contexto vivido na época é uma obra de Tomás de Aquino, Suma contra os gentios. Mas quero analisar aqui dois pensadores que tiveram influência na argumentação de verdade, Agostinho de Hipona e Anselmo de Cantuária. Agostinho de Hipona (354 – 430) foi o maior nome da Patrística. Seu pensamento, de clara influência platônica e também de Plotino, ficou presente por muito tempo no cristianismo. Sua concepção de verdade está ligada à doutrina do conhecimento pela iluminação, muito parecida com o que vimos em Platão com a questão da anamnese. Mas a teoria platônica, segundo Agostino, é insuficiente para explicar as verdades relativas a Deus, pois este é eterno e imutável, e os seres humanos são mortais e mutáveis. É preciso um contato direto e imediato com Deus 24, que é feito pela alma, pois esta, criada por Deus, possui uma luz incorpórea especial, que orienta para Deus. Desse modo, a luz de Deus ilumina as coisas a partir da luz especial interior encontrada no ser humano, onde este último pode formular discursos de verdade. A verdade então toma o conceito de “(...) aquilo que é em si tal como parece a um sujeito conhecedor, se este puder e quiser conhecer” 25. Esse sujeito só pode conhecer por esta luz interior colocada por Deus ao criar a alma. Claro que a definição de Agostinho como “(...) a verdade é o que é”26 traz algumas implicações, percebidas pelo próprio filósofo, mas que não convém problematiza-las aqui, já que o objetivo deste trabalho é outro. Já no período da Escolástica, uma formulação de verdade bem completa aparece com Anselmo de Cantuária27 (1033 – 1109), que dedicou uma obra ao tema, intitulada A verdade (De veritate). Anselmo trata da verdade através da multiplicidade da mesma: verdades da significação, verdade da opinião, verdade da vontade, verdade das ações, verdade dos sentidos e verdade da essência das coisas28, sendo que “a característica comum de todas essas verdades

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Cf. GILSON, Etienne e BOEHNER, Philotheus. História da Filosofia Cristã. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 163. 25 SANTO AGOSTINHO. Solilóquios. São Paulo: Escala, s/d, p. 80. 26 Ibidem, p. 81. 27 Alguns livros preferem chamar esse filósofo de Anselmo de Aosta, referência a sua cidade natal. Cantuária, ou Canterbury, na Inglaterra, é a cidade onde Anselmo foi arcebispo de 1093 a 1109. Cf. REALE, 2003, p. 495 e GILSON, 2003, pp. 254-255. 28 Cf. SANTO ANSELMO. A Verdade. São Paulo: Nova Cultural, 1973, pp. 152-160; BREHIER, 1967, pp. 499-500.

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é a conformidade a uma certa regra ou a retidão (...)”29. Retidão entre o pensar e o real sensível, a característica da realidade tal como nós a pensamos 30: (...) quem julga existir o que existe, julga o que deve e, por isso, o pensamento é reto. Por conseguinte, se um pensamento não é verdadeiro e reto senão porque julgamos ser o que é ou não ser o que não é, a sua verdade não é outra coisa senão a retidão31.

Chegamos enfim em Tomás de Aquino, onde a verdade é vista como um transcendental. Para entender a concepção dos transcendentais em Tomás de Aquino, primeiramente é preciso entender o que significa o termo transcendental. Esse termo começa a aparecer na Idade Média, por volta do século XVIII, indicando as propriedades que todos os entes têm em comum, dessa forma, transcendem as diversidades de gêneros em que os entes se distribuem. Em outras palavras, são as propriedades universais do ente, “(...) algo que se encontra no ente de maneira geral, e, no entanto, não é explicado pelo termo ente” 32. Tomás de Aquino deu uma grande contribuição para a definição dos transcendentais. Sua noção, provinda diretamente de Aristóteles, trata de três concepções transcendentais: a unidade, a verdade, e a bondade, sendo que estas três concepções se identificam no ente33. Vamos ver cada uma delas detalhadamente: 1. Unidade: O ser é uno, ou seja, ele não é intrinsecamente contraditório e também não tem divisões internas, por isso é o único em sua relação com os demais seres. A filosofia de Santo Tomás não é a filosofia da unidade, mas do ser, que, por sua vez, possui unidade. Nesse sentido, o ser é o fundamento da unidade: há a unidade de Deus, que é diferente da unidade do homem e da unidade da pedra, diferença exposta pelo grau do ser. A unidade de Deus é a unidade da simplicidade, porque o ser é total, já a do homem é a da composição (que é a essência mais o ato de ser); a unidade da pedra também é a da composição, mas em um grau inferior 34. Há dois tipos de unidade: a transcendental (na linha metafísica), que se refere a todo ente, e a numérica (na

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“Le caractère commun de toutes ces verités, c’est la conformité à une certaine règle ou la rectitude (...)”. In : BREHIER, 1967, p. 499. 30 Cf. GILSON, 2003, p. 259. 31 SANTO ANSELMO, 1973, p. 155. 32 AQUINO, Tomás de. Questões discutidas sobre a verdade. São Paulo: Nova Cultural, 2000, pp. 63-64. 33 Cf. Ibidem, p. 65. 34 Cf. REALE, 2003, p. 558; SILVA, Márcio Bolda da. Metafísica e Assombro: Curso de Ontologia. São Paulo: Paulus, 1994, pp. 106-107.

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linha matemática), que se refere aos entes quantitativos, ou entes mensuráveis (medidos) quando de posse da quantidade ou da matéria. 2. Verdade: o ser é verdadeiro, na medida em que isso é uma propriedade transcendental do mesmo, pois todo ente é racional e inteligível. Nesse ponto, partindo da concepção que o tratamento sobre a questão da verdade é recebido na Metafísica de Aristóteles (livro VI), Tomás trabalha sua concepção de verdade formulando a noção de adequação. Essa adequação (correspondência) se dá do ente ao intelecto divino (adequatio rei ad intellectum), sendo essa a verdade ontológica, e também há a verdade lógica, que se dá na adequação do nosso intelecto à coisa (adequatio intellectus nostri ad rem)35. Quanto a esse transcendental, veremos mais adiante uma análise detalhada, pois é a proposta desse trabalho. 3. Bondade: essa tese transcendental caracteriza toda a metafísica do ser de Tomás de Aquino como metafísica cristã. A bondade, que todo ente possui, é fruto e expressão da bondade suprema e livremente difundida por Deus. O bem, que está na coisa, ordena o apetite e o desejo, por isso provoca uma tendência para que o busque. Dessa forma, volta-se ao tema da ética aristotélica exposta na Ética a Nicômaco, onde o “(...) o bem é aquilo que todos os seres desejam”, ou seja, tudo o que é desejado tem o caráter de bem (noção teleológica, sendo o bem como uma finalidade possível na relação com o ente).

Tentei, nesse primeiro capítulo, tratar de importantes concepções de verdade tratadas na Antiguidade e na Idade Média. Claro que não foram só estas, visto que é um tema relativamente amplo. Como minha proposta é a verdade na visão da correspondência, me centrei nesses aspectos dos pensadores apresentados. A seguir, no próximo capítulo, entraremos mais detalhadamente em Tomás de Aquino.

35

Cf. REALE, 2003, p. 559; SILVA, 1994, pp. 107-109.

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Capítulo 2

2. Introdução à “teoria do conhecimento” e ao problema da verdade em Tomás de Aquino

A partir desse capítulo, tratarei mais especificadamente do pensamento de Tomás de Aquino. O capítulo anterior mostrou as diferentes concepções de verdade, tanto na origem do problema quanto as posições dos principais filósofos que pensaram a verdade como correspondência. Agora, chegamos a Tomás de Aquino e toda a sua argumentação acerca do processo de conhecimento. Para tal explanação, primeiramente mostrarei as principais influências recebidas pelo Aquinate; após isso, entrarei de forma mais detalhada na questão proposta.

2.1 Tomás de Aquino e a herança intelectual de Aristóteles e Alberto Magno

Percebe-se claramente, durante a leitura de qualquer obra de Tomás de Aquino, a influência de Aristóteles em seu pensamento. Tomás sempre refere-se a este como “O Filósofo”. O contexto cultural de sua época foi marcado principalmente na sua infância e juventude pelo rei alemão Frederico II, que governava Nápoles, província da qual provinha a família de Tomás de Aquino. Frederico II foi muito frutífero no sentido de promover a cultura de seu tempo, lendo e questionando os textos filosóficos, fundando universidades, entre outras atitudes36. Frederico enfrentava muito o poder oficial da Igreja, que por sua vez, condenava e demonizava textos filosóficos tais como os de Aristóteles. Tomás fez contato com as obras de Aristóteles durante seus estudos em Nápoles, na universidade fundada pelo já citado Frederico, estudos esses iniciados no ano de 1239. Podemos citar como nomes importantes os de Mestre Martino e Mestre Pedro da Irlanda, que

36

Cf. LIBERA, Alain de. Pensar na Idade Média. São Paulo: Editora 34, 1999, pp. 109.160-162.

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ensinaram, respectivamente, a Lógica e os estudos naturais 37. Segundo outras fontes38, Tomás também leu a Metafísica de Aristóteles durante seu período de cárcere efetuado por seus pais e irmãos, dado à decisão do mesmo em entrar para a Ordem dos Pregadores (conhecidos como frades dominicanos)39. Aristóteles esteve “presente” de forma muito especial na Escolástica devido a alguns nomes muito importantes na Filosofia: Boécio, Moisés Maimônides, Pedro Abelardo, Avicena, Al-Farabi, entre outros40. Foi nesse contexto, e, principalmente, com o apoio do seu grande mestre dominicano Alberto Magno, que Tomás de Aquino desenvolveu sua obra filosófica com a clara influência do “Filósofo” em seu pensamento. Alberto Magno41 foi sim grande incentivador no processo de conhecimento do jovem frade Tomás de Aquino. Foi seu mestre durante os anos de 1245 a 1248 em Paris e também em Colônia, nos anos de 1248 a 1252. Alberto foi uma espécie de “defensor” da filosofia de Aristóteles durante a Idade Média, pois:

(...) um de seus méritos mais significativos foi o de ter inserido o aristotelismo no pensamento cristão, orientando assim a atenção especulativa do seu ilustre discípulo Tomás de Aquino. Naturalmente, Alberto não foi o primeiro a conhecer e utilizar Aristóteles (...) O seu mérito consiste muito mais em ter apresentado Aristóteles como patrimônio a assimilar e não como autor a ser combatido (...)42

Claro que, apesar de estar imbuído de aspectos aristotélicos, a obra de Alberto Magno segue também uma linha neoplatônica, respeitando principalmente o pensamento de Agostinho quanto à Teologia. Mas seus esforços dentro das ciências em sua época podem considerá-lo um precursor da síntese do pensamento tomista, corrente essa que se deu após a morte de Tomás de Aquino 43. No que diz respeito ao problema do conhecimento, apresentado

37

Cf. TORRELL, 1999, pp. 7-9. Cf. STRATHERN, Paul. São Tomás de Aquino em 90 minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, pp. 1921. 39 A Ordem dos Pregadores foi fundada em 1216 pelo padre espanhol Domingos de Guzmán (1170 – 1221), com a aprovação do papa Honório III (1150 – 1227). Seu carisma consistia justamente na pregação, em vista das correntes heresias que se instauravam no seu tempo. Cf. FISCHER-WOLLPERT, Rudolf. Os Papas. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 259. 40 Cf. LIBERA, 1999, pp. 100-101. 41 Alberto Magno nasceu na Suábia em 1206. Ingressou na Ordem Dominicana em 1223. Concluiu seus estudos na cidade de Colônia, onde tornou-se mestre em Teologia. Trabalhou e lecionou em diversas cidades, escrevendo sobre diversos temas em Filosofia e Teologia. Em 1261 foi eleito bispo de Regensburgo, e renunciou no ano seguinte. Morreu no ano de 1280, em Colônia. Foi canonizado pela Igreja Católica somente em 1931, o que demonstrou uma aproximação da mesma com as ciências do nosso tempo. Cf. GILSON, 2003, p. 395; LIBERA, 1999, p. 107. 42 REALE, 2003, p. 546. 43 Cf. Ibidem, p. 547; GILSON, 2003, p. 395; BREHIER, 1967, p. 583. 38

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neste trabalho dentro de um aspecto seu, a verdade, as mentes de Aristóteles, Alberto Magno e Tomás de Aquino se aproximam muito, dado às definições de alma e intelecto, principalmente44. Veremos adiante a posição de Tomás de Aquino a respeito do processo de conhecimento, central para a compreensão do seu conceito de verdade.

2.1.1 O(s) intelecto(s)

Neste ponto irei expor a doutrina de Tomás de Aquino com relação ao problema do conhecimento, focando principalmente sua explanação acerca do conceito de intelecto. Isso é sumariamente importante, já que, ao ler a obra Questões disputadas sobre a verdade, o filósofo trata da questão acerca dos intelectos de um modo que esteja pré-compreendida pelo leitor. Tomás de Aquino toma muito do pensamento de Aristóteles com relação ao processo de conhecimento. A característica central do conhecer é a abstração. Mas, antes dessa operação, deve ser levado em conta todo um processo que inicia primeiramente nos sentidos. A partir dos comentadores Etienne Gilson e Philotheus Boeherner, tendo presente também o Livro I da Metafísica de Aristóteles, tento explanar em algumas linhas como isso se dá em Tomás de Aquino. Dentro do sistema de Tomás de Aquino, o processo de conhecimento tem início pelos sentidos, que são tidos como uma potência para o conhecimento intelectual 45. Os sentidos, por sua vez, têm graus, que vão da sensação mais baixa, que é o tato, passa pelo paladar, depois a audição e o olfato, até a sensação mais elevada, a visão. Para haver uma distinção entre os sentidos, Tomás de Aquino julga haver na alma um sentido comum, sendo os cinco citados como sentidos particulares. Para conservar o que os sentidos recebem, a alma possui a imaginação, que, por exemplo, faz reter as imagens das coisas recebidas pela visão. Após isso, o ser humano tem um grande privilégio com relação aos animais: a capacidade de memória de forma consciente. A memória, por sua vez, vem antes dos juízos formulados pelo

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Cf. GILSON, 2003, pp. 402-411. Aqui deve-se ter bem presente os conceitos de alma, ato e potência derivados de Aristóteles. Cf. ARISTÓTELES, 1969, pp. 111-140; ARISTÓTELES, Apud ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia – Volume IV. Lisboa: Editorial Presença, 1985, p. 28: “A alma é, de certo modo, todas as coisas” (De Anima). 45

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intelecto, que advém das intenções, quando julgamos de modo particular, sendo essa última faculdade relacionada com os sentidos chamada de razão particular46. No ponto relativo então ao intelecto, entra a problemática de Deus. O intelecto é visto como possibilidade, encontrando em Deus seu ato, pois Deus é Ato Puro, princípio motor de todas as coisas. Deus conhece todas as coisas, pois possui um saber infinito, o que não ocorre no ser humano. Porém, como potencialidade, o intelecto humano está aberto para o inteligível, para Deus. Os dois conhecimentos possíveis, segundo Tomás de Aquino, são, em primeiro lugar, o do anjo e, em seguida, o do ser humano 47. Esse é o chamado intelecto possível. Mas o intelecto humano não é somente passividade diante de um saber infinito. Ele tem uma potencialidade ativa também, “(...) visto que as formas das coisas naturais, que movem o intelecto, não existem à maneira de inteligíveis puros, mas estão imersas na matéria”48. Nesse ponto entramos na questão da abstração, haja vista que os conceitos universais, as essências, formulados pelo intelecto de forma ativa (intelecto agente) são abstraídos das coisas materiais e sensíveis. De modo que o pensamento de Tomás de Aquino, nessa questão, é bem centrado na realidade sensível, não sendo possível ao ser humano um conhecimento imediato das realidades espirituais, essenciais, universais. Nas Questões disputadas sobre a verdade, aparecem as noções de intelecto componente (sintetizante) e dividente (analisante). Esses “intelectos” são nada mais que funções diferentes do intelecto humano, durante o processo de abstração da coisa e formulação de juízo das essências. Agostinho fala da visão do intelecto humano, da qual não depende a verdade da coisa: há muitas coisas pois que não são conhecidas por nosso intelecto. Não há todavia nenhuma coisa que o intelecto divino não conheça em ato e o intelecto humano em potência, daí que se diga que o intelecto agente é o meio ‘de fazer todas as coisas’, enquanto o intelecto possível é o meio de ‘tornar-se todas as coisas’: daí que na definição do verdadeiro pode-se colocar a visão em ato do intelecto divino, mas do intelecto humano só a potencial, como fica claro pelo que foi dito acima49.

De modo que se concluiu, em Tomás de Aquino, que é pela abstração das partes que se conhece o todo.

46

GILSON, 2003, pp. 471-472. Compare esse processo com o do Estagirita: ARISTÓTELES, 1969, pp. 36-37. Cf. GILSON, 2003, p. 473. 48 Ibidem, p 473. 49 AQUINO, Tomás de. Verdade e conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 165. 47

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2.2 Metodologia tomista na obra Questões disputadas sobre a verdade

O pensamento muito fecundo de Tomás de Aquino se lançou sobre diversos temas dentro das áreas da Filosofia e da Teologia, tratando-os dentro um método de argumentação muito interessante. Sua forma de argumentação, presente em muitas de suas obras, é a dialética do pro e do contra50, onde se propõe uma questão, com uma tese (objeção), uma contratese (argumento em contrário), a solução da questão, e, dependendo dos argumentos apresentados na tese e na contratese, faz-se necessária uma resposta às objeções e aos argumentos em contrário, de forma a não deixar dúvidas e explanar de forma possível o problema apresentado. Além de todas as Questões que são de autoria do filósofo, nas quais estão as que foram estudadas para esse presente trabalho, a principal obra de Tomás de Aquino, a Suma Teológica, apresenta esse formato de argumentação. É claro que essa forma de argumentação não limitava-se somente à obra escrita, mas era um método de argumentação próprio das universidades medievais no período da Escolástica51, que recebia o nome de disputatio ou quaestio disputata. Veremos a seguir como esse processo foi formado dentro das escolas medievais.

2.2.1 O contexto medieval e escolástico das disputatio

A disputatio tinha seu lugar de destaque nas escolas medievais. As escolas medievais eram os locais próprios para o alcance do saber, pois eram os locais onde ensinavam-se a Filosofia e a Teologia, de forma a derivar o nome escolástica52. Dessa forma, a disputatio tornou-se uma atividade filosófica e teológica muito importante, sendo uma das três funções atribuídas ao mestre da universidade, principalmente os das áreas da Filosofia e Teologia A ordem das funções, segundo o comentador Jean-Pierre Torrell, é a seguinte53:

50

Cf. TORRELL, 1999, p. 75. Cf. LAULAND, In. AQUINO, 2002, pp. 17-18. 52 Cf. REALE, 2003, p. 478. 53 Cf. TORRELL, 1999, pp. 65-88. 51

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1. Legere, que significa literalmente ler, ou seja, era a leitura e um comentário de um texto, linha por linha, no caso bíblico, versículo por versículo; 2. Disputare, disputar, um método bem pedagógico, dentro de uma questão mais extensa de um tema, era preciso contrapor teses para expor uma solução clara; 3. Predicare, ensinar, que era a “pregação”, apresentação de um tema na universidade após os passos anteriores já terem sido efetuados sobre o mesmo; uma espécie de “sermão universitário”, e, posteriormente, uma publicação.

Como as leituras e disputas eram feitas antes da confecção da obra que continha o método da disputa de forma explícita, podemos nos perguntar de que forma eram feitas as disputas universitárias. No caso de Tomás de Aquino, como mestre em Paris (onde foi escrita a obra Questões disputadas sobre a verdade), era ele quem apresentava o tema. Em seguida, um bacharel, que, segundo os comentadores, era Guilherme de Alton, bacharel-mor que sucedeu Tomás de Aquino nos anos de 1259 a 1260, respondia às objeções que vinham dos alunos (lembrando que eram disputas “ao ar livre”). Após isso, o próprio bacharel apresentava os argumentos em contrário, enquanto um escrivão anotava todo o processo de debate. O mestre (Tomás) lia as anotações do escrivão e dava a solução do tema, considerando os argumentos das objeções e em contrário, e, dando também, dependendo dos argumentos, as respostas a eles54. A disputatio foi muito importante em sua época para o crescimento da visão de mundo e do desenvolvimento da dialética e da própria razão. Trouxe um método puramente filosófico, o do debate, para o ambiente da universidade e das escolas medievais, e permitiu um melhor desenvolvimento das posteriores escolas nominalistas que tratavam da questão da linguagem: O regime da disputatio é o elemento aglutinador de todas as atitudes filosóficas da Idade Média. Foi a “questão disputada”, organizada em seus menores detalhes pelas constituições universitárias (os estatutos), que permitiu a dupla eclosão de uma filosofia da identificação e de uma filosofia do jogo – identificação ética com os sábios da Antiguidade, em Paris, jogos analíticos da linguagem e do pensamento, em Oxford.55

54 55

Cf. WEISHEIPL, Apud LAULAND, In. AQUINO, 2002, p. 18. LIBERA, 1999, p. 147.

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2.2.2 Visão geral da obra Questões disputadas sobre a verdade

Foi dentro desse método que nasceu a obra Questões disputadas sobre a verdade. Ela está dentro de uma coleção de obras que iniciam com o nome Quaestio, que tratam de diversos temas. O tema central da obra é o da verdade. Em torno desse tema gravitam as questões relativas ao conhecimento em geral e ao conhecimento de Deus em particular. Outros assuntos também são abordados, como o livre-arbítrio, a espiritualidade e a imortalidade da alma, a virtude e ao apetite no homem56

As questões foram efetuadas entre os anos de 1256 a 1259, onde, provavelmente, eram feitos 80 artigos por ano, correspondentes aos dias de ensino 57. Usamos essa data para atestar a elaboração oral, como demonstrei anteriormente, ao discorrer sobre a forma de debate da disputatio. A data da publicação é incerta. Como escrito anteriormente, há outros temas nas Questões disputadas, elaboradas em Paris e também em Roma. Mas as que interessam para esse trabalho são as que tratam do problema da verdade, relativas à primeira questão do conjunto das Quaestio. As Questões disputadas sobre a verdade são compostas de 12 artigos, e são muito semelhantes às Questões XVI e XVII da Suma Teológica, que tratam do mesmo tema, no mesmo estilo da dialética do pro e do contra, de forma mais resumida. O problema da verdade aparece em outra obra de Tomás de Aquino, a Suma contra os gentios, diluído nas várias e longas argumentações do filósofo com relação ao conhecimento. Os temas das questões iniciam com o discorrimento do tema da verdade, passando por suas implicações, tais como se a verdade está antes nas coisas ou no intelecto, se é una ou existem várias, entre outras, até chegar ao tema da falsidade e suas implicações. A seguir, vou expor as questões apresentadas na obra e as soluções dadas por Tomás de Aquino.

56 57

HUISMAN, Denis. Dicionário de Obras Filosóficas. São Paulo: Martins Fontes, 2000, pp. 469. Cf. LAULAND, In. AQUINO, 2002, p. 15; TORRELL, 1999, p. 74.

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2.2.3 Questões e soluções

Nesta última parte do segundo capítulo, vou colocar, em modo bem simplificado, os artigos apresentadas por Tomás de Aquino na obra Questões disputadas sobre a verdade e suas respectivas questões e soluções. Não me atentarei às objeções, argumentos em contrários, respostas às objeções e respostas aos argumentos em contrário. No próximo capítulo, onde trato da verdade como correspondência em Tomás de Aquino, irei me aprofundar nas problematizações feitas pelo filósofo. De forma didática e simples, em tópicos, um pequeno resumo e esquema da obra estudada:  Artigo 1 Que é a verdade? Após argumentar entre as concepções apresentadas por vários pensadores, Tomás de Aquino opta pela fórmula de Isaac Israeli (845 – 940), filósofo judeu, que apresentou a verdade como “adequação da coisa e do intelecto” (adequatio rei et intellecto)58.  Artigo 2 Se a verdade encontra-se antes no intelecto do que nas coisas A verdade se diz primeiramente no intelecto, que possui, como vimos anteriormente no ponto 2.1.1, faculdades para abstrair e conhecer o objeto. O bem e o mal estão nas coisas, porém, as noções de verdadeiro e de falso estão no intelecto, pois só dizemos que algo é verdadeiro quando o adequamos ao intelecto59.

58 59

Cf. BREHIER, 1967, p. 555; AQUINO, 2002, p. 149. Cf. AQUINO, 2002, p. 161.

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 Artigo 3 Se a verdade é somente no intelecto componente e dividente A verdade opera por juízos formulados no intelecto, a partir da abstração da coisa. Mesmo que formulamos conceitos universais, essências, qüididades60, eles vêm depois que aprendemos se uma coisa é ou não é, operação própria do intelecto componente e dividente (síntese e análise)61.  Artigo 4 Se há somente uma verdade pela qual todas as coisas são verdadeiras Aqui Tomás de Aquino coloca seu lado cristão. Mesmo tendo derivado de Aristóteles os conceitos de universal, essencial, uno, entre outros, não podemos esquecer que nosso filósofo é um frade cristão, muito preocupado em conciliar a doutrina do Filósofo com a religião cristã. Segundo Tomás, a verdade encontra-se primeiramente no intelecto divino, depois no intelecto humano, pois este deve estar também adequado a aquele. Aqui está presente o conceito de verdade ontológica e verdade lógica, que aprofundarei no próximo capítulo 62.  Artigo 5 Se alguma verdade além da primeira é eterna Novamente aqui Tomás coloca seu lado cristão para defender sua tese. Deus conhece as coisas por um único ato de conhecimento, as coisas que foram e que serão. Claro que tanto as coisas materiais quanto o intelecto humano, que, por sua vez, não existem desde a eternidade. Deus mede (ou usando um termo de Tomás, mensura) as coisas pela eternidade, fora do tempo, do criacional, do corruptível 63.

60

Qüididade é o termo latino para falar das essências. Deriva da afirmação latina “quod quid era esse”, que significa literalmente, “aquilo que era é”, ou seja, um conceito universal. 61 Cf. AQUINO, 2002, p. 167-169. 62 Cf. Ibidem, pp. 181-183. 63 Cf. Ibidem, pp. 201-205.

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 Artigo 6 Se a verdade criada é imutável A verdade das coisas criadas é mutável, de forma que, como visto anteriormente, verdadeiro e ente são convertíveis. Mesmo mudanças externas, a coisa permanece ente, permanece verdadeira, mas muda-se a verdade no sentido daquilo que for adquirido: “(...) uma vez feita a mutação do branco ao negro, permanece a cor segundo a noção comum de cor, mas não a mesma espécie de cor”64.  Artigo 7 Se em Deus a verdade diz-se essencialmente ou pessoalmente Tomás de Aquino já havia esboçado essa temática no Artigo 5, num determinado raciocínio onde falava da Trindade, argumentando que aquilo que é próprio das pessoas divinas (Pai, Filho e Espírito Santo) parte de uma única verdade, “(...) porque ambos são pela Essência divina” 65. Em Deus, a verdade se diz de dois modos, propriamente, onde o intelecto de Deus entende e adequa a realidade a sua própria Essência, e metaforicamente (semelhança), partindo das coisas criadas que contém em si a verdade em imitar seu princípio criador, e Tomás compara isso ao Filho que imita seu princípio, por isso a verdade se diz também pessoalmente 66.  Artigo 8 Se toda a verdade depende da verdade primeira Nesse artigo Tomás de Aquino mostra realmente a função do conceito de adequação. A verdade como discurso de correspondência muitas vezes pode não ser de cunho ético (o adultério, por exemplo), mas os fatos e as coisas, sejam elas boas ou más, podem ser compreendidos normalmente e “(...) provém de Deus tanto a própria forma da coisa pela qual se dá a adequação quanto a própria verdade ou bem do intelecto (...)”67.

64

AQUINO, 2002, pp. 224-225. Ibidem, p. 217. 66 Cf. Ibidem, pp. 233-235. 67 Ibidem, p. 245. 65

28

 Artigo 9 Se a verdade é nos sentidos A verdade é nos sentidos e no intelecto, mas de modos diferentes. No intelecto, enquanto ato de conhecimento das coisas e juízos de verdade, “(...) na medida em que o intelecto reflete sobre seu próprio ato (...)”68; nos sentidos, onde resulta dos atos deles (a ação resultante do ato de ver, por exemplo). Aqui deve-se ter bem presente a argumentação que expus no ponto 2.1.1, que falam dos atos dos sentidos como potencialidade para chegar até o intelecto69.  Artigo 10 Se alguma coisa é falsa Como visto no Artigo 1, a verdade é a adequação da coisa e do intelecto. Logo, a falsidade é a inadequação. Mas para o intelecto divino nenhuma coisa pode ser falsa, pois Deus conhece as essências, onde a verdade reside. O problema acontece com o intelecto humano, que ocorre de modo acidental com relação às coisas. Os acidentes podem enganar, pois simulam aquilo que as coisas realmente são 70. O problema da falsidade será abordado de forma mais detalhada no próximo capítulo.  Artigo 11 Se há falsidade nos sentidos Tomás responde a esse problema iniciando tratando de forma breve a questão do conhecimento, que tem início nos sentidos, conforme abordei no ponto 2.1.1 deste trabalho. O intelecto julga as coisas do modo que elas foram recebidas pelos sentidos, mas às vezes pode ocorrer, como visto acima, que as coisas podem enganar. O sentido apreende a coisa como ela é, mesmo ela simulando. Ela pode ser verdadeira enquanto o intelecto julga aquilo que ela é, mas essencialmente, pode haver falsidade. Tomás valoriza as faculdades sensitivas nesse ponto, onde diz que os sentidos podem apreender algo de modo errado somente se houver um impedimento no órgão sensorial (uma doença que afeta o olfato, por exemplo) 71.

68

Idem, p. 251. Cf. AQUINO, 2002, p. 251-253. 70 Cf. Idem, pp. 259-261. 71 Cf. Idem, pp. 271-277. 69

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 Artigo 12 Se há falsidade no intelecto No intelecto pode haver a falsidade quando atribuímos definições de uma coisa a outra (ex: jumento é um animal racional mortal), e quando junta partes de definições contraditórias (ex: animal irracional imortal). Isso é com relação aos acidentais, pois não pode haver falsidade quando são formulados os juízos essenciais, as qüididades, aquilo que a coisa é72.

Com essa exposição das questões e suas respectivas soluções, encerro este capítulo. A análise anterior, efetuada como um resumo, pode parecer pobre demais com relação ao conteúdo da obra, mas é uma forma de situar o problema e mostrar como Tomás de Aquino dá conta de um tema tão amplo. Creio que o próximo capítulo será de maior grandeza quanto à abordagem do problema da verdade.

72

Cf. AQUINO, 2002, pp. 279-281.

30

Capítulo 3

O terceiro e último capítulo deste trabalho propõe discutir e aprofundar os conceitos de verdade e falsidade, bem como as implicações que a noção de correspondência, estudada mais a fundo no primeiro capítulo, tem na abordagem da verdade efetuada por Tomás de Aquino. Mais ao final também, proponho situar a problemática dentro da contemporaneidade, onde a noção de correspondência é fortemente criticada. De certo modo, a justificativa para esse trabalho centra-se nesta questão, que é justamente analisar essa temática que é tão criticada na filosofia atual.

3. O que é a verdade? Tomás de Aquino responde!

Tomás de Aquino parte, no De Veritate, de duas teses opostas para responder a pergunta “o que é a verdade”: a primeira, que o verdadeiro significa o mesmo que ente; a segunda, que os dois possuem significados distintos. Para chegar à definição de verdade como adequatio rei et intelecto, o filósofo teve de primeiro esclarecer a relação entre verdade e ente. Na solução, Tomás traça um caminho interessante73, que exponho a seguir. Com base em argumentações de Avicena e de Aristóteles, é colocado o ente como primeiro princípio concebido pelo intelecto, sendo o princípio mais evidente dentre todas as coisas74. Todos os conceitos obtidos pelo intelecto são acrescentados ao ente, porém, não deve ser acrescentado nele algo de estranho. Mas há conceitos acrescentados ao ente que exprimem modos do mesmo, mas que não tem a denominação “ente”. E segundo Tomás, isso se dá de dois modos: 1º) “(...) quando o modo expresso é um modo especial do ente (...)”75, por exemplo, a substância, o ente em si; 2º) “(...) quando o modo expresso é um modo geral aplicável a todo ente (...)”76, ou seja, universalizável, onde pode ser aplicado a si ou nas

73

Cf. AQUINO, 2002, pp. 145-151. Com relação ao conceito de ente, como a significação que o intelecto dá às coisas que se mostram, é interessante consultar a Metafísica de Aristóteles e também o opúsculo O ente e a essência, de Tomás de Aquino (ver bibliografia). 75 AQUINO, 2002, p. 145. 76 Idem, p. 147. 74

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referências de um ente a outro. Quando se aplica a si, isso se dá de forma afirmativa (expressa pelo termo res, coisa em latim) ou de forma negativa, a indivisão (expressa pelo termo unum, uno ou único, em latim). Quando é considerado o ente referido a outro ente, há mais dois casos: 1º) a alteridade, expressa pelo termo aliquid, literalmente “outro alguém”; 2º) a ação de ajustar-se, de conveniência, onde deve haver disposição de encontro de algo com relação a todos os entes. Tomás afirma nesse ponto que é a alma que está apta a ir ao encontro de todos os entes, citando uma afirmação de Aristóteles no De anima. Essa conveniência é expressa pelo termo “verdadeiro”, confirmando que “(...) todo conhecimento realiza-se pela assimilação do cognoscente à coisa conhecida, de modo que a assimilação diz-se causa do conhecimento: por exemplo, a vista, capacitada para a cor, conhece a cor”77. Chegamos então à concepção de verdade proposta por Tomás de Aquino. Dentro do que já foi visto no capítulo anterior, a respeito do processo de conhecimento e da argumentação acima, as coisas são assimiladas ao intelecto pelo ajuste, pela conveniência, pela adequação: A primeira consideração quanto a ente e intelecto é pois que o ente concorda com o intelecto: esta concordância diz-se adequação do intelecto e da coisa, e nela formalmente realiza-se a noção de verdadeiro. Isto é pois aquilo que o verdadeiro acrescenta ao ente, a saber, a conformidade ou adequação da coisa e do intelecto, a cuja conformidade, como se disse, segue-se o conhecimento da coisa: assim pois a entidade da coisa precede a noção de verdade, contudo o conhecimento é um certo efeito da verdade78.

Percebemos, diante do que já foi exposto, que a verdade refere-se ao ser das coisas como reflexão, em vista de todo o processo efetuado pelo intelecto, desembocando que nos juízos de verdade (semântica), nos enunciados verdadeiros. A verdade é primeiramente reflexão e, posteriormente, juízo 79. Assim, Tomás de Aquino chega a três definições de verdade: 1. Fundamento da verdade como propriedade universal do ente (transcendental, como vimos no primeiro capítulo)80; 2. Segundo Isaac Israeli, a verdade como adequação da coisa e do intelecto, indo além daquilo que Anselmo dizia da verdade como retidão (ver primeiro

77

AQUINO, 2002, p. 149. Idem, p. 147: o grifo é meu. 79 Cf. GILSON, 2003, p. 475. 80 Cf. AQUINO, 2002, p. 149. 78

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capítulo deste trabalho), onde a mencionada retidão deve ser dita segundo a adequação81; 3. Conseqüentemente a tudo isso, a verdade é vista como manifestação do ser, e aqui são usados argumentos de Hilário e de Agostinho para fundamentar esse argumento82. Nesse último argumento, o que é manifestado do ser, para ser aprendido pelo intelecto são as definições das coisas, a essência, a qüididade, visto que o processo descrito acima é puramente intelectual, donde naturalmente o intelecto concebe as definições das coisas, que são o seu objeto próprio 83: “(...) ao deparar-se com um carvalho, o homem formará, de maneira imediata e natural, um conceito de árvore”84. Essa definição mostra que, para adequar-se, são necessárias realidades distintas, e são elas o intelecto e o objeto conhecido 85. E a verdade estaria em qual dessas duas realidades? No intelecto? Ou nas coisas? A afirmação de Tomás é que a verdade existe principalmente “(...) no intelecto e secundariamente nas coisas, enquanto estas dependem do intelecto (...)”86, pois as coisas são ditas verdadeiras quando adequadas ao intelecto87. Aqui entram os conceitos de verdade ontológica e verdade lógica. O primeiro conceito à adequação das coisas ao intelecto divino, sendo que este mede (mensura) as coisas mas não é medido: é a adequatio rei ad intellectum (adequação da coisa ao intelecto)

88

.

Interessante notar aqui a partícula ad, ao, que denota uma relação da coisa até o intelecto, e não o contrário. Com relação ao intelecto divino, as coisas se dizem verdadeiras quando cumprem o fim proposto por Deus89. O segundo conceito, o de verdade lógica, é da adequação com relação ao intelecto humano. Aqui as coisas são ditas verdadeiras quando elas se mostram reais no discurso: ou

81

Cf. SANTO ANSELMO, 1973, p. 155; AQUINO, 2002, p. 149. Cabe ressaltar que Tomás não nega a definição da verdade como retidão proposta por Anselmo, mas problematiza a discussão do processo de conhecimento e como essa retidão se dá. Logo, chega à conclusão que é pela adequação, ficando a retidão como um juízo de verdade. 82 Cf. AQUINO, 2002, p. 151. 83 Cf. GILSON, 2003, p. 475. 84 Idem, ibidem. 85 Cf. GILSON, Ettiéne. Le Thomisme: Introduction a la philosophie de saint Thomas D’Aquin. 6. ed. Paris: Librarie Philosophie J. Vrin, 1997, p. 290. 86 AQUINO, 2000, p. 247. 87 Cf. AQUINO, 2002, p. 161. 88 Cf. Idem, 2002, pp. 163. 181; SILVA, 1994, pp. 107-108; REALE, 2003, p. 559. 89 Visão teleológica, onde novamente cabe consultar os conceitos de Aristóteles com relação a isso, principalmente na área da ética (em sua obra Ética a Nicômaco).

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elas são ou elas não são. O termo latino usado aqui é adequatio intellectus nostri ad rem (adequação do nosso intelecto à coisa) 90. Desse modo Tomás de Aquino consegue responder a pergunta “o que é verdade” e muitas outras que posteriormente ele irá fazendo ao longo da obra. Como ele está dentro do pensamento cristão, cabe ressaltar que a verdade ontológica, é a verdade Primeira, imutável, onde todas as coisas são ditas e julgadas verdadeiras sempre com relação à ela 91. A verdade com relação ao intelecto humano são as das coisas criadas, o que pode ter conotação com a falsidade. No intelecto divino não há falsidade, mas as coisas criadas, por não serem Deus e sempre devem tender a imitar o exemplo d’Ele 92, possuem o aspecto de deficiência 93, e é aí que entra o problema da falsidade.

3.1 O que é a falsidade? Tomás de Aquino também responde!

Aqui a argumentação de Tomás de Aquino torna-se bem simples. Com relação ao intelecto divino, nenhuma coisa pode ser falsa, “(...) porque Deus conhece todas estas coisas, mesmo que não as cause”94. Qualquer coisa é verdadeira quando adequada ao intelecto divino, mesmo tendo privações e defeitos. Deus conhece a essência da coisa de modo direto, por um único ato de conhecimento95. Porém, com relação ao intelecto humano, onde as coisas são conhecidas não imediatamente de modo essencial, mas acidentalmente, pois o intelecto humano parte das coisas sensíveis96, aí sim as coisas podem ser ditas falsas, quando mostram uma natureza que não lhe corresponde, como a simulação, por exemplo: “(...) uma coisa não se diz falsa por proporcionar uma falsa apreensão de si, mas por ser constituída de modo a proporcioná-la por suas aparências”97. A falsidade não é um dado essencial, visto que conhecer a essência, por exemplo, é ato do intelecto divino de conhecer a verdade. A falsidade está no sentido da ação,

90

Cf. AQUINO, 2002, pp. 163. 181; SILVA, 1994, pp. 107-108; REALE, 2003, p. 559. Cf. AQUINO, 2002, p. 185. 92 Cf. Idem, p. 175. 93 Cf. Idem, p. 187. 94 Idem, 2002, p. 259. 95 Cf. Idem, pp. 203. 217. 96 Cf. Idem, pp. 181-187; GILSON, 2003, pp. 474-475. 97 AQUINO, 2002, p. 261. 91

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quando induz a um certo defeito. Isso os sentidos podem ou não fazer. Pois eles podem proporcionar um conhecimento reto da coisa (já que, segundo a teoria do conhecimento aristotélico-tomista, vista no capítulo anterior, que o conhecimento tem início nos sentidos) ou levar o intelecto a se enganar, emitindo juízos falsos. Só assim pode haver falsidade no intelecto, nunca, porém, quando o intelecto alcança o interior da coisa (interessante notar que nesse ponto da argumentação Tomás de Aquino usa o significado literal do termo intelecto, intus legere, ou seja, “ler dentro” para ilustrar essa questão)98.

3.2 Adequatio rei et intelecto: as implicações da correspondência como meio para alcançar a objetividade da verdade lógica e ontológica

“A adequação da coisa e do intelecto é uma das fórmulas filosóficas mais conhecidas (...)”99. Essa afirmação denota quão foi e ainda é notória a formulação de verdade proposta por Isaac Israeli e trabalhada por Tomás de Aquino no De veritate. Porém, alcançar a verdade por meio da adequação, onde a coisa deve ter correspondência lógica no intelecto (tanto no divino quanto no humano), nos leva a perguntar: enfim, tudo pode ser conhecido? Se o ente é adequado com o intelecto, formulando juízos de verdade, onde então nota-se a correspondência daquilo que se mostra com o intelecto, onde ficam as coisas que não se manifestam? Tomás de Aquino, na Suma Teológica já alertava isso com relação ao não-ser, dizendo que não tem por onde ele seja conhecido, conceito tido somente pela razão. A verdade funda-se então e somente no ser100. Mas a verdade é garantida aqui no pensamento de Tomás de Aquino justamente pelo seu pensamento cristão. Diz Heidegger acerca dessa questão:

A veritas enquanto adequatio rei (creandae) ad intellectum (divinum) garante a veritas enquanto adequatio intellectus (humani) ad rem (creatam). Veritas significa por toda parte e essencialmente a convenientia e a concordância dos entes entre si

98

Cf.AQUINO, 2002, pp. 271-281. GILSON, 1997, p. 290: “L’adequatio rei et intellectus est une des formules philosophiques les plus connues (...)”. 100 Cf. AQUINO, 2000, p. 251. 99

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que, por sua vez, se fundam sobre a concordância das criaturas com o criador, ‘harmonia’ determinada pela ordem da criação101.

Note bem: harmonia determinada pela ordem da criação. A verdade, bem como o sujeito que dela se pronuncia através dos juízos formulados pelo seu intelecto, está vinculada por um poder que vem do alto, exterior, transcendental, uma estrutura que pode ser pensada fora do ser humano. As coisas só podem ter sua correspondência no intelecto humano, e posteriormente dita verdadeira, enquanto este é naturalmente adequado a uma superestrutura natural que sempre o lembra da verdade única, primeira, imutável. Não quero aqui entrar em detalhes quanto a essa problemática, mas ressaltar como a noção de correspondência dentro do conceito de verdade em Tomás de Aquino não pode ser entendida de forma solta, desprendida, ou poder-se-ia cair num racionalismo desenfreado ou ir somente para o campo teológico. Tomás de Aquino soube captar bem o projeto de sua proposta e ponderar, de forma aristotélica, o conceito que pretendia defender. Se formos dialogar esse tema com a contemporaneidade, superando, com o devido cuidado, toda a Modernidade e chegando a Kant, passando por Heidegger, pela hermenêutica, e, bem próximo ao nosso tempo, Foucault, percebemos uma crítica muito grande a essa concepção de verdade como adequação da coisa e do intelecto. A concepção existencialista, por exemplo, ponderou não mais a verdade como parâmetro para a vida, mas o contrário: “O sujeito e a verdade não estão vinculados aqui, como no cristianismo, pelo exterior e como que por um poder que vem de cima, mas por uma escolha irredutível de existência” 102, que é a liberdade103. Assim, termino o presente trabalho. Poderia me estender mais sobre o tema, mas creio ter atingido o objetivo que propus quando apresentei o projeto deste trabalho de conclusão de curso. Tomás de Aquino é um autor fecundo, e, à semelhança do seu “mestre” intelectual Aristóteles, sintetizou os problemas de seu tempo de forma a existir a dificuldade de tentar superá-lo neste sentido.

101

HEIDEGGER, 1979, p. 134. GROS, Fréderic, In: FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 618. 103 Cf. HEIDEGGER, 1979, p. 140. 102

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Considerações finais

Mais do que apenas um conceito ontológico e argumentado de forma lógica, a verdade passou a ser, principalmente, um valor. Por ela muitos morreram, outros promoveram guerras, outros tentaram criar sistemas morais, e assim por diante. Não somente se fala de verdade, mas vive-se pela verdade! Talvez alguns possam objetar que a verdade é relativa, subjetiva, outros possam contra argumentar que ela é universal e fora do âmbito material, mas de qualquer forma o viver pela verdade tornou-se algo próprio da existência humana. Ao finalizar este trabalho, percebo a grande contribuição do pensamento de Tomás de Aquino na formação de nossos conceitos com relação não só acerca da questão da verdade, mas de todo o intelectualismo presente em sua filosofia. O modo de pensar a verdade no senso comum está imbuído da formulação de verdade como adequação. Mesmo com as críticas contemporâneas que percebemos, a verdade como adequação torna-se presente no pensamento das pessoas que professam eticamente algum valor ou um discurso que configura em si algo do tipo: “eu sei que é verdade o que você fez”. Temos pesquisas recentes que falam da propensão do ser humano em mentir. Mentira, falsidade estão em contraposição com verdade. Pois bem, se mentir é natural do ser humano, a verdade é anterior a isso, pois o próprio ser humano usa da mentira para contrariar a sua visão de verdade, já proposta e formulada pelo mesmo. Creio que não há mais palavras que possam expressar toda a amplitude desse tema. Tomás de Aquino continua atualizado até pelas críticas feitas a seu pensamento. Contrario aqui, com o devido cuidado, uma afirmação de Russel, sim, o famoso e aclamado Bertrand Russel, que dizia: Há pouco do verdadeiro espírito filosófico em Aquino. Não se dispõe a seguir, como o Sócrates platônico, para onde quer que seu argumento o possa levar. Não está empenhado numa pesquisa cujo resultado não possa ser conhecido de antemão. Antes de começar a filosofar, ele já conhece a verdade; está declarada na fé católica. Se, aparentemente, consegue encontrar argumentos racionais para algumas partes da fé, tanto melhor; se não, basta-lhe voltar de novo à revelação. A descoberta de argumentos para uma conclusão dada de antemão não é filosofia, mas uma alegação especial. Não posso, portanto, admitir que mereça ser colocado no mesmo nível que os melhores filósofos da Grécia ou dos tempos modernos104.

104

RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental: tomo II. Brasília: Companhia Editora Nacional, 1982, p. 174.

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Ao contrário, creio que não há especulação nem interpretação neutra. É próprio do ser humano querer alcançar objetivos diante do que ele professa. Tomás admitia sim sua fé e, usando de argumentos lógicos, conseguiu em sua época fazer a conciliação entre fé e razão. Acredito ter alcançado os objetivos propostos na introdução deste trabalho, expondo as concepções de verdade como correspondência na Antiguidade e na Idade Moderna até Tomás de Aquino, introduzindo seu pensamento quanto a esse tema e analisando de modo mais detalhado a problemática proposta. A dificuldade encontrada para tal intento foi não ter um conhecimento total do latim para estudar o filósofo em sua língua original105. Um conhecimento mais apurado do francês, que não possuo em plenitude, também teria sido útil, já que muitos comentadores tomistas escrevem nessa língua, como, por exemplo, Etienne Gilson. O Aquinate teve seu valor dentro de seu contexto e até posteriormente; claro que, depois como método filosófico, toda a Escolástica foi criticada e em partes superada. Mas, sabendo que em toda a superação vemos presente a afirmação e a negação, creio que Tomás de Aquino ainda caminha conosco. E com seu hábito dominicano.

105

A edição de 2002 é bilíngue.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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