A vida no laboratório\': processos de Aprendizagem Organizacional e Inovação em uma empresa na área de biotecnologias

July 4, 2017 | Autor: J. Silva de Oliveira | Categoria: Aprendizagem Organizacional, Biotecnologia, Inovação Aberta
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‘A vida no laboratório’: processos de Aprendizagem Organizacional e Inovação em uma empresa na área de biotecnologias Autoria: Josiane Silva de Oliveira, Nadia Brunetta, Claudia Simone Antonello, Vitor Koki da Costa Nogami

Resumo Objetivamos neste estudo analisar como se configuram os processos de aprendizagem organizacional e inovação na área de biotecnologias. Discute-se a aprendizagem organizacional em uma abordagem cultural e inovação como um processo. Para a coleta de dados foi realizada pesquisa documental, entrevistas semiestruturadas e observações participantes em uma empresa na área de biotecnologias. Como resultados destaca-se a dificuldade de inserção das inovações em biotecnologias no mercado, devido à aspectos institucionais e relacionais. Apesar do reconhecimento das contribuições socioeconômicas oriundas das biotecnologias na área cientifica ainda não se estabeleceu esta mesma percepção para outros públicos, evidenciando a centralidade da técnica neste contexto.

Introdução Diferentes prismas analíticos de estudos da aprendizagem organizacional têm sido estabelecidos, no intuito de compreender como as interações entre os indivíduos nas organizações interferem nas construções de suas práticas, proporcionando olhares teóricos e metodológicos diferentes na dinâmica organizacional. As propostas de Antonello e Godoy (2010), Guerardi (2009), Souza (2004), Loiola e Bastos (2003), Harding (2002), Prange (2001), Cook e Yanow (2001) apresentam diferentes abordagens de como essas discussões podem ser apreendidas. Não obstante, a abordagem processual de entendimento da aprendizagem organizacional, com base na abordagem cultural, permite compreender como a aprendizagem é construída coletivamente. O conceito de aprendizagem organizacional adotado nesse estudo refere-se à capacidade de uma organização para aprender a fazer o que faz, não sendo o que ela aprende posse de seus membros individuais, mas de seu conjunto (COOK; YANOW, 2001). Considerando como foco de análise os processos de aprendizagem organizacional nas interações dos atores sociais, é possível evidenciar como os processos de inovação nas organizações são articulados através dessa dinâmica. O conceito de inovação, nesse estudo, refere-se às proposições de Rogers (2003), que a entende como ideia, prática e objetos percebidos como novos no contexto social no qual ocorre este processo. Em outras palavras, a inovação não se resume a projetos, produtos e desenvolvimentos de alta tecnologia (high tech), mas também considera o contexto social no qual a inovação está inserida, mesmo dentro de um laboratório de biotecnologia. Uma possibilidade de contexto social em que a inovação pode ser compreendida a partir de uma abordagem processual é o segmento de mercado em biotecnologias. A formação dos segmentos de atuação em biotecnologias fomentou a constituição de um campo interdisciplinar de pesquisas, por vezes conflituoso em termos institucionais, como no caso do marco regulatório (PECI; VIEIRA, 2009). Valle (2005) corrobora estas discussões, ao afirmar as ampliações dos segmentos de atuação das biotecnologias em relação 1

a pesquisas; modificações e comercializações dos processos; serviços e bens resultantes das operações destas tecnologias; políticas públicas; barreiras sanitárias para entradas de produtos em diversos países; bem como formações de parcerias internacionais para o desenvolvimento dos diversos setores econômicos. A partir do entendimento de aprendizagem organizacional e inovação como processos imbricados na dinâmica social, o questionamento que instiga esse estudo é: como os processos de aprendizagem organizacional configuram-se em empresas de biotecnologias, a partir de suas articulações com os processos de inovação? A pesquisa foi realizada na divisão de biotecnologias de uma empresa brasileira que atua há, aproximadamente, 40 anos nesse setor, com realização de pesquisas e exames nas áreas humana, animal e vegetal. O estudo, de natureza qualitativa, foi realizado no ano de 2011, com os profissionais responsáveis pelo desenvolvimento de novas biotecnologias deste grupo empresarial. Além desta introdução, o artigo está estruturado em mais quatro seções. Primeiro, articulam-se discussões teóricas em relação aos processos de aprendizagem organizacional, enfatizando contribuições da abordagem cultural. A seguir, focam-se os debates discorridos sobre processos de inovação nas organizações, tendo em vista os debates propostos por Rogers (2003), no que tange ao reconhecimento social desta dinâmica. Posteriormente, são apresentados os procedimentos metodológicos da pesquisa. Na terceira seção, articulam-se os resultados da pesquisa de campo. Ao final, apresentam-se implicações do estudo sobre processos de aprendizagem organizacional e inovação e as proposições resultantes destas discussões. Processos de aprendizagem organizacional A discussão sobre aprendizagem organizacional (AO) remonta a mais de 40 anos, ela, porém, não decorre de forma linear ou simplesmente acumulativa, pois, ao longo dos anos, inúmeras abordagens têm emergido e, periodicamente, algumas delas obtêm maior espaço na discussão. Os estudos iniciais, nesta área, enfocavam predominantemente os aspectos cognitivos da aprendizagem e, atualmente, continuam sendo as principais referências para trabalhos publicados no Brasil (ANTONELLO; GODOY, 2010). No início dos anos 90, contudo, a partir especialmente dos trabalhos acerca da aprendizagem situada, das comunidades de prática e da inclusão da ideia de cultura na discussão de aprendizagem, surgem estudos de AO nos quais são abordadas novas formas de conceber o conhecimento – processual, histórico, social,culturalmente situado e imbricado em várias formas e meios - e a aprendizagem, como um fenômeno principalmente social e cultural. Neste período, devido, particularmente, aos trabalhos de Lave e Wenger (1991) e Brown e Duguid (1991), sobre aprendizagem situada e comunidades de prática, e aos de Cook e Yanow (1993), que introduzem a noção de cultura para a discussão de aprendizagem, iniciam-se as publicações de estudos sobre AO, que se distanciam dos trabalhos existentes até então, em particular por conceberem o conhecimento como processual, histórico, social e culturalmente situado e imbricado em várias formas e meios, e a aprendizagem como um fenômeno principalmente social e cultural (NICOLINI; GHERARDI; YANOW, 2003). As abordagens de estudos de aprendizagem organizacional são analiticamente distintas e, muitas vezes, fragmentadas (ANTONELLO; GODOY, 2010). Observam-se nelas a existência de diferenças epistemológicas de entendimento da aprendizagem. Sendo assim, pontuam-se aspectos essenciais dessas diferenciações, no intuito de apresentar as bases norteadoras do entendimento de aprendizagem organizacional que sustentam este trabalho. Para tanto, discutem-se três contribuições da abordagem processual na aprendizagem organizacional, a partir da abordagem cultural, sendo elas de natureza epistemológica (o que é 2

organização?); ontológica (onde está a aprendizagem nas organizações?); metodológica (como apreender os processos de aprendizagem organizacional?). Weick e Westley (2004) argumentam que a aprendizagem organizacional é um processo, pois articula a linguagem, os artefatos e as rotinas de ação. A filosofia do processo de Whitehead (BAKKEN, 2006) auxilia a compreensão destas discussões, especialmente no que tange aos mecanismos utilizados pelos indivíduos para interpretação do contexto organizacional em que está inserido e pela caracterização de descobertas e produção do processo de aprendizagem. Intrínseca à filosofia de Whitehead está uma reconceitualização da relação das estruturas e da ação dos indivíduos, conceitos apenas analiticamente distintos. A dinâmica da relação entre estrutura e ação estabelece a abordagem processual de entendimento das organizações. Weick e Westley (2004) propõem-se a discutir a aprendizagem organizacional a partir de três pontos: a) a necessidade de conexão teórica a experimental; b) a dificuldade de separação de aprendizagem individual e organizacional; c) a aprendizagem organizacional como oximoro. Weick e Westley (2004) afirmam que o referencial experimental para a aprendizagem organizacional é ilusório. Isso decorre de três motivos: referencial impreciso do que é organização (esta é fruto de experiência e as pessoas, em geral, reificam a organização); interpretações errôneas do verbo aprender (não é um estado e sim um processo); debates acerca da aprendizagem como individual ou organizacional (conhecimento deve estar inserido nas organizações). As organizações são entendidas como processos em constantes mudanças, por isso qualquer tentativa de compreendê-la de forma estática torna-se ilusória. Os autores, para tencionar esses aspectos, colocam em questão o próprio termo ‘aprendizagem organizacional’ e o que este poderia, de fato, acrescentar à compreensão sobre as organizações, ao invés de ser apenas “uma mudança organizacional requentada” (op. cit., p. 361). Discutem o relativo antagonismo entre organizar e aprender - “aprender é desorganizar e aumentar a variedade” e “organizar é esquecer e reduzir a variedade” (op. cit., p. 361), buscando superar este impasse pela visão de organizações como culturas e pelo emprego da perspectiva de “buscar teorias de aprendizagem que ofereçam uma alternativa positiva aos modelos de escolha racional” (op. cit., p. 361). Por isso não só um processo tecnológico e linear é necessário para aprendizagem organizacional, mas também o contexto social que este processo pertence (ROGERS, 2003). A dificuldade de separação da aprendizagem individual e organizacional está no nível de análise, pois “quando os pesquisadores focam as organizações como culturas, focam menos o conhecimento e o que ocorre nas mentes dos indivíduos e mais o que acontece nas práticas grupais. [...] faz grande diferença se o conhecimento está inserido nas estruturas, nos papéis e nos procedimentos dos grupos de trabalho ou nos trabalhadores individuais” (WEICK; WESTLEY, 2004, p. 364). Para Yakhlef (2010), na abordagem cultural de estudos da aprendizagem organizacional, os indivíduos são constituídos na atividade e no relacionamento em um contexto social, em nenhum sentido um elemento ou uma consciência dada (como afirma Descartes), mas socialmente criados. Esta transformação das pessoas só pode ter lugar num contexto social que é constitutivo do ser. Indivíduos e contexto são ligados através da cumplicidade. O conhecimento é continuamente reproduzido e negociado e, portanto, sempre dinâmico e provisório. Na verdade, o processo de legitimação, institucionalização e circulação do conhecimento tende a desincorporar o conhecimento de seu contexto local de origem, para, em seguida, incorporá-lo, novamente, a novos contextos. Essas interações, então, repetem-se, alterando tanto o contexto local como o conhecimento. Assim, ontologicamente, indivíduos e sociedade são constituídos em suas articulações e o conhecimento é um fenômeno 3

sociocultural. Esta visão permite a exploração de aspectos do conhecimento menos intencionais, menos instrumentais e mais reflexivos, à medida que a abordagem cultural situa o social em uma posição conectada com as estruturas de conhecimento simbólicas e cognitivas (RECKWITZ, 2002). Weick e Westley (2004) discorrem sobre a aprendizagem como ato de evidenciar a experiência contínua. Isso ocorre por meio de três subsistemas culturais: a linguagem (comunicação inter e intrapessoal, que permite a interação social); os artefatos (atributos e identidade das organizações); as rotinas de ação (momentos situacionais e de justaposição). O saber é relacional e intermediado por artefatos. Isto é, expressa não somente a dimensão social e cultural do conhecimento (TSOUKAS, 2003), mas também a centralidade dos símbolos, as tecnologias e as relações que o apoiam. Estes instrumentos de intermediação - sobretudo a linguagem - são socialmente construídos, trata-se de ações sociais, incluindo as realizadas individualmente. Isto reflete a dimensão de sociomaterialidade do conhecimento (ORLIKOWSKI, 2007). Os indivíduos produzem o sentido das coisas, de suas atividades, de seus trabalhos, enfim do contexto no qual estão inseridos, tendo por base um mundo onde está instituído o que eles acreditam. Em termos metodológicos, os processos de aprendizagem organizacional, na abordagem cultural, possibilitam ampliar o escopo de métodos e ‘objetos’ de pesquisa. As narrativas, artefatos, rotinas e processos de inovação também podem ser articulados de modo a desvelar elementos de sua cultura organizacional, sendo necessários outros prismas de análise para essa dinâmica, incluindo aspectos de relações de poder e autoridade. A abordagem cultural possibilita explorar o significado da aprendizagem organizacional para os atores sociais, pois, em tal abordagem, os padrões das atividades desenvolvidas por estes indivíduos são entendidos como únicos para cada organização. Para Cook e Yanow (2001), grande parte da aprendizagem organizacional é tácita, ocasionada pelas experiências das dinâmicas culturais da organização, que fazem parte de seu trabalho diário. A questão de como uma organização se constitui e se reconstitui é, portanto, a partir da abordagem social e cultural, a chave para a aprendizagem organizacional, bem como para o entendimento do que as pessoas sabem e/ou dos processos pelos quais elas aprendem coletivamente e de forma interativa (YANOW, 2000, p. 12). Processos de inovação nas organizações A inovação é comumente considerada como uma fonte de vantagem competitiva e de crescimento econômico. Devido a isso, deve ser estudada sob o prisma das condições de mudanças tecnológicas e de situações de mercado, da contínua demanda de clientes por produtos e serviços modernos, e, sobretudo, com qualidade. Na academia e nas comunidades praticantes, é comum perceber que as organizações devem inovar para serem legitimadas enquanto instituições (PRAJOGO; AHMED, 2006; DAMANPOUR; SCHNEIDER, 2006). As fontes de inovação encontram-se, por vezes, na intersecção entre universidades, laboratórios de pesquisa, fornecedores, clientes e as próprias organizações. A inovação é abordada por diferentes perspectivas, como criação, difusão ou adoção de novas ideias. No nível organizacional, a inovação pode ser compreendida como a adoção de um novo produto, serviço, processo, tecnologia, política, estrutura ou sistema administrativo (ELFRING; HULSINK, 2007). De acordo com Hernandez et al. (2008), duas linhas gerais de estudos sobre a inovação podem ser consideradas. A primeira relacionada à determinação da aceitação individual de novas tecnologias, na qual o controle do comportamento dos indivíduos é compreendido como determinante de adoção, essa perspectiva está baseada na Teoria da Ação Racional e na 4

Teoria do Comportamento Planejado. A segunda linha de estudos da adoção de tecnologias está relacionada à perspectiva da Teoria da Difusão de Inovação proposta por Rogers (2003), na qual os determinantes de adoção estão relacionados às características da inovação tecnológica. Segundo Rogers (2003), uma inovação é uma ideia, prática ou objeto que é percebido como novo por indivíduos ou outras unidades sociais que a adotam. Desse modo, para o autor, a difusão da inovação torna-se um processo difícil e demorado, por poder implicar mudanças sociais nas quais a estrutura do contexto onde ocorrem é alterado por consequência da adoção ou não da inovação. Pode-se aproximar essa conceituação de inovação de Rogers (2003) aos estudos de aprendizagem organizacional de Cook e Yanow (2001) e Weick e Westley (2004), no sentido da abordagem processual que os referidos autores apresentam. Weick e Westley (2004) propõem que a ordem justaposta à desordem facilita a aprendizagem organizacional e, nesta circunstância, as pessoas conseguem captar algo que pode ser considerado imperceptível no dia a dia. Para os autores, os momentos de aprendizagem acontecem em contextos diferentes, não óbvios, os quais não devem ser confundidos com simples atividades formais destinadas à aprendizagem. Essa aproximação também ocorre na abordagem social. Nesse sentido, para Granovetter (2005), a inovação, em termos gerais, é a quebra de rotinas estabelecidas, podendo causar então certo receio às pessoas envolvidas. Nesta mesma direção Schumpeter (1984) aponta a destruição criativa, como fator determinante para inovação no mercado, quando uma organização desestrutura o status quo e insere no mercado um novo produto, processo, serviço ou tecnologia. Retomando as discussões de Weick e Westley (2004), ao se considerar a inovação nas organizações sob a perspectiva processual, é possível apreendê-la com base nas experiências dos atores sociais, pois o conceito de inovação deixa de ser um estado e passa a ser um processo. Como discorrem Rogers (2003) e Granovetter (2005), os contextos socioculturais influenciam as percepções dos conceitos de inovação e, por isso, a necessidade do reconhecimento social para que esse processo seja legitimado como inovador. Julien (2010) também aponta o meio como determinante para criação, desenvolvimento e implantação de novas ideias. Não só as organizações, não só os indivíduos, não só as tecnologias, mas o contexto social, cultural, humano, político e legal contribuem para o sucesso ou fracasso das inovações. Aprendizagem organizacional e inovação são, portanto, processos constituídos por constantes mudanças, tornando-se ilusória sua compreensão de forma estática e de controle. Há abordagens que compreendem o resultado da inovação a partir do construcionismo social, que defende que para algo ser inovador, deve-se levar em consideração o significado de novidade, ou seja, o que significa algo novo ou não novo; quão inovador essa novidade é; e principalmente para quem este algo é considerado novo e inovador (SLAPPENDEL, 1996; MOREIRA;QUEIROS, 2007). Ainda nesta vertente que trata a inovação como reflexo de inúmeras ações, Andrade (2005) apresenta o conceito de Tripla Hélice, uma interação entre universidade, empresas e o governo. No que se referem as pesquisas em laboratórios de biotecnologia, é fundamental que exista entrosamento entre esses três agentes para se atingir a inovação. De acordo com Maciel (2001), inovação em seu sentido mais amplo aborda aspectos tecnológicos e sociais em seu significado. No mesmo sentido de abranger o significado de inovação, a autora aponta os fatores econômicos e o ambiente macroeconômico, envolvendo o desenvolvimento de inovação. Indo mais além, analisando dados de países mais avançados, é possível observar a capacidade inovadora de uma empresa não puramente do viés econômico, de investir em tecnologia e desenvolver estratégias, mas também com um cunho social, 5

cultural e político, para ampliar a produtividade e aproveitar socialmente os recursos materiais e não materiais disponíveis (WOLFE, 1994). De acordo com Tidd et al. (2008), deve-se considerar como a inovação é percebida em relação à mudança que ela promove, seja no ambiente organizacional, seja na sociedade como um todo. Nesse sentido, o referido autor apresenta um modelo de análise das dimensões da inovação, com base em diferentes graus de percepções de inovações e suas relações com a sociedade, que pode ser visualizado na Figura 1: Nível de sistema Nível de componentes

Novas versões de máquinas, motores e aparelhos

Novas versões de serviços, como MP3, download.

Melhorias em componentes

Componentes para sistemas

Incremental (para a empresa)

Tecnologias da comunicação e Biotecnologias Matérias para o aprimoramento dos componentes Radical (para a sociedade)

Figura 1 – Dimensões da inovação Fonte: Adaptado de Tidd et al. (2008)

Como apontam Rogers (2003) e Granovetter (2005), é o contexto sociocultural que fomenta as bases dos processos de inovação. Cook e Yanow (2001) apontam essa mesma dinâmica no que se refere aos processos de aprendizagem. Para articular essas considerações, elegeu-se, como campo de análise, a biotecnologia, pois, como discorrem Tidd et al. (2008), as inovações nesse setor impactam a sociedade de forma radical. A próxima seção apresenta debates acerca do campo da biotecnologia, enfatizando como o Brasil tem atuado nessa dinâmica, no intuito de subsidiar as discussões da pesquisa de campo realizada para este estudo. Notas analíticas sobre as organizações e o campo de biotecnologias Quando se fala em Biotecnologia, deve se considerar a exploração da variabilidade genética existente na biodiversidade, utilizando ferramentas avançadas, em uma ótica de agregação de valor, permitindo a apropriação de conhecimentos, processos e produtos. Esta visão permite a geração de alternativas viáveis para o desenvolvimento e a disponibilização de inovações tecnológicas, que tragam benefícios a diferentes segmentos do setor produtivo. No atual contexto, a utilização da biotecnologia representa fator essencial para competitividade, sustentabilidade ambiental, segurança alimentar, saúde, inclusão social, soberania nacional (EMBRAPA, 2010). O setor da biotecnologia atua com base em um conjunto de tecnologias habilitadoras que se utilizam de moléculas e células biológicas nas aplicações de produção de processos, bens e serviços nas áreas humana, animal e vegetal, incluindo-se, nestas últimas, as atividades em agricultura e meio ambiente. A maioria das tecnologias destas atividades envolve mudanças controladas de DNAs (deoxyribonucleic acid). A partir de 1980, o sequenciamento automático de genes por meio do PCR (Polymerase Chain Reaction), bem como outras tecnologias, proporcionou a ampliação das atividades de aplicações envolvendo DNAs. Por sua ampla variedade de aplicações, é incongruente tratar a biotecnologia como uma indústria homogênea ou específica. Nesse sentido, Judice e Baêta (2005) apresentam as variações da biotecnologia a partir de cadeias produtivas, agrupando-as nos segmentos evidenciados no Quadro 1. Segmentos Saúde humana Saúde animal

Atividades Diagnósticos, medicamentos, vacinas, utilização de biodiversidade Veterinária, vacinas, probióticos, nutrição animal, aquacultura.

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Genética de plantas, transgênicos, bioinseticidas; biofertilizantes; inoculantes. Agrobusiness Biorremediação, tratamento de resíduos, análises. Meio ambiente Instrumental complementar Internet, bioinformática, e-commerce, P&D, consultorias. Química fina, enzimas, alimentos. Insumos industriais Biomateriais, biomedicina, nanobiotecnologia. Em sinergia Equipamentos; insumos e matérias primas Fornecedores Quadro 1 – Segmentos de mercado em biotecnologias Fonte: Judice e Baêta (2005)

Powell, Koput e Smith-Doerr (1999) assumem uma perspectiva de análise dessa temática, ao enfatizarem que as organizações atuantes no campo da biotecnologia apresentam estrutura de atuação diferenciada, como uma ‘arquitetura aberta’, pois suas funções essenciais são providas externamente, centradas em relacionamentos com outras organizações, seja para troca de informações, seja para pesquisa em conjunto. Essa perspectiva é apresentada a partir das considerações da ‘economia do conhecimento’ (NEVES, 2009). A formação destes segmentos de atuação em biotecnologias fomentou, entretanto, a formação de um campo interdisciplinar de pesquisas, até mesmo conflituoso em termos institucionais, como no caso do marco regulatório (PECI; VIEIRA, 2009). Nesse sentido, os questionamentos postos referem-se ao destino social, com que as biotecnologias têm sido empregadas, bem como à formação de cadeias (JUDICE; BAÊTA, 2005) ou blocos de atuação, nesse contexto. Valle (2005) corrobora estas discussões, ao afirmar que as ampliações dos segmentos de atuação das biotecnologias têm se refletido no estabelecimento de marco regulatório e institucional de atuação em relação às pesquisas, nas modificações e nas comercializações dos processos, nos serviços e bens resultantes das operações destas tecnologias. De acordo com o autor, observa-se essa situação em relação às políticas públicas de fomento à biotecnologia; às barreiras sanitárias para entradas de produtos em diversos países; através das formações de parcerias internacionais para o desenvolvimento dos diversos setores imbricados nessa dinâmica. Peci e Vieira (2009) corroboram estes debates, ao discutirem a formação do campo institucional da biotecnologia. Em uma perspectiva analítica de superação das distinções objetivo/subjetivo, e tendo por base estudiosos como Foucault, Latour e Rorty, os referidos autores, ao analisarem tal construção, a partir do contexto dos Estados Unidos, uma vez que o campo da biotecnologia começa a se estruturar nesse país, consideram três formações discursivas deste campo, imersas em relações de poder: a organizacional (de fronteiras e novas organizações – agricultura, transgênicos e ecologia); a informacional (ciberciências); a rede (circularidade e demarcação do campo das biotecnologias). Quando se discute o processo de inovação nesse contexto, observa-se que, além das questões de conhecimento e aprendizagem em relação a essas tecnologias, é preciso avaliar as questões socioculturais nas quais elas estão imersas. Esse ambiente que reveste o campo da biotecnologia atua diretamente em relação às estruturas de seu contorno, em especial na distinção entre um produto novo e uma inovação, como salientado por Rogers (2003). Procedimentos metodológicos Quanto aos aspectos metodológicos, o presente estudo é uma pesquisa qualitativa interpretativa (DENZIN; LINCOLN, 1994). A pesquisa foi desenvolvida na divisão de biotecnologia de uma empresa localizada no Estado do Paraná, que atua em dez estados brasileiros e trinta e quatro países no mundo. O objetivo principal foi compreender como os processos de aprendizagem organizacional configuram-se em empresas de biotecnologias, desde suas articulações com os processos de inovação, desdobrando-se nos seguintes 7

objetivos específicos: (1) descrever como se configuram as relações entre os atores sociais presentes nas empresas de biotecnologias; (2) compreender processos de aprendizagem dos atores sociais nas empresas de biotecnologias; (3) identificar as percepções dos atores sociais envolvidos sobre como se caracterizam os processos de inovação. Para a coleta de dados, foi realizada pesquisa em documentos disponibilizados pela empresa e optou-se por um roteiro de entrevista semiestruturado, pela possibilidade que oferece ao informante de discorrer sobre o tema proposto (FONTANA; FREY, 1994). Mesmo com a formulação de um conjunto de questões previamente definidas, as entrevistas foram conduzidas em um contexto semelhante ao de uma conversa informal. As entrevistas foram realizadas durante os meses de janeiro e fevereiro de 2011, tendo sido previamente agendadas com os participantes do estudo. Partiu-se das discussões de Garud, Dunbar e Bartel (2010), pelas quais os estudos dos processos de aprendizagem organizacional podem ser discutidos desde a construção das narrativas do trabalho. Foram entrevistados pesquisadores e técnicos envolvidos nos processos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novas biotecnologias, totalizando onze profissionais: dois sócios gerentes da empresa (biólogos); a gerente de qualidade (bióloga); a geneticista; a gerente técnica (bióloga); a responsável pelo PCR; duas biomédicas e três biólogas, sendo duas responsáveis pelas extrações de DNAs (deoxyribonucleic acid) e RNAs (ribonucleic acid) e outra responsável pela área de biossegurança do laboratório. O roteiro das entrevistas foi estabelecido tendo por base três aspectos principais e foi desenvolvido para que os entrevistados pudessem (1) descrever o cotidiano de trabalho em um laboratório; (2) discorrer sobre como o conhecimento que possuem é articulado na dinâmica de trabalho (aprendizagem); (3) apresentar como estes profissionais avaliam os impactos sociais e econômicos de suas atividades (inovação). Para análise dos dados coletados, recorreu-se à técnica de análise de conteúdo que “visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema” (VERGARA, 2005, p. 15). Para tanto, com auxílio do software NVIVO foram construídas duas categorias temáticas de análise (Aprendizagem organizacional e Inovação) e nove subcategorias vinculadas aos temas de estudo (Relações de gênero, Técnicas de trabalho, Dinâmica institucional, Imaginário social de ciência e biotecnologias, Técnicas de trabalho, Experiência temporal, Impacto social, Relações com o mercado, Reconhecimento social). Durante a coleta de dados para a pesquisa, uma das pesquisadoras deste estudo também realizou observações participantes na empresa. De acordo com Denzin e Lincoln (1994), a observação participante, em conjunto com a realização das entrevistas, possibilita chegar a uma compreensão profunda do objeto de estudo apresentado, revelando assim sua subjetividade e singularidade em meio à amplitude de fenômenos sociais desse contexto. A pesquisadora acompanhou, com autorização oficial e paramentada de acordo com as normas da vigilância sanitária, o cotidiano de trabalho na empresa em estudo, desde o planejamento da pesquisa até sua execução, passando pelos processos de extrações do DNA e RNA e pela a submissão aos métodos tecnológicos, no contexto em análise o PCR. O principal propósito do acompanhamento e desenvolvimento das atividades de trabalho, nesse processo de coleta de dados in loco, foi observar e compreender todo o fluxo de trabalho no setor da biotecnologia para que se pudesse identificar não somente os aspectos de gestão, mas também de execução das atividades realizadas no laboratório. Com relação aos aspectos éticos da pesquisa, os participantes foram previamente esclarecidos sobre os objetivos e sobre a formatação do estudo, tendo sido explicitados os modos de utilização de suas informações e contribuições para a pesquisa. O nome da empresa e dos entrevistados aqui utilizados são fictícios, buscando garantir sua não identificação. 8

Caracterizando o cotidiano e processos de aprendizagem no trabalho com biotecnologias Dentre as especificidades de trabalho identificadas, destaca-se que, dos quinze funcionários do laboratório, doze são mulheres (dez biólogas e duas biomédicas), nove atuando diretamente nas atividades de pesquisas. É importante enfatizar que, em alguns exames, como a identificação de sexo de crianças ainda em gestação, os homens não podem atuar em nenhuma fase, pois sua presença pode ocasionar contaminação da amostra pelo cromossomo Y, comprometendo assim os resultados finais dos exames. Todas as vezes que este procedimento de identificação era executado, fixavam-se cartazes em todas as portas do laboratório, com a seguinte observação: ‘sexagem fetal’. Feita esta indicação, os homens sabiam que não podiam circular pela empresa e ficavam recolhidos em suas respectivas salas de trabalho. Na primeira vez em que o exame foi realizado, durante este estudo, uma das biólogas comentou: Vamos colocar este cartaz na porta porque agora vamos fazer sexagem humana e não pode ter presença de homens, senão contamina tudo. O doutor (um dos sócios do laboratório que também é biólogo) não gosta muito disso porque ele fica meio sem graça da gente ter que pedir para ele sair. Aí a gente procura juntar e fazer tudo no mesmo horário (Liana, bióloga, sócia da empresa e gerente técnica, 28 anos).

Após a realização do exame, a rotina retornava ao laboratório. Retomam-se aqui as discussões de Yakhlef (2010) sobre os processos de aprendizagem organizacional na abordagem cultural. A rotina estabelecida para a realização do exame no qual não pode haver presença de homens desvela elementos da cultura organizacional da empresa e sua relação com a dinâmica social. A rotinização de agrupar os exames para sua realização em único horário e a percepção do ‘não gostar’ destacada pelo colega de trabalho revelam como os padrões científicos são adaptados no contexto organizacional. A aprendizagem ocasionada através das experiências das dinâmicas culturais da organização desvela, que além das questões técnicas de trabalho, as relações hierárquicas e de gênero também influenciam os processos de aprendizagem. Para Weick e Westley (2004), os processos de aprendizagem envolvem linguagem, artefatos e rotinas de ação, sendo as técnicas um dos mecanismos de construção deste contexto. Os entrevistados afirmaram que as técnicas em biotecnologias alteram-se rapidamente, pois além de não responderem mais à identificação dos problemas, o custo de extração e manipulação dos DNAs e RNAs são fortemente considerados pelas empresas que buscam aprimorá-las. Além do controle formal dos padrões científicos, questões de mercado também são salientadas. Nesse sentido, o foco de desenvolvimento de novas técnicas de trabalho não está somente em questões cognitivas dos indivíduos, como afirma a responsável pelo controle de qualidade da empresa que “muitos processos que foram substituídos por programas. Mas eu acho isso complicado, porque ao invés de se criar métodos e se testar por um tempo os dois para adaptar, se substitui tudo de uma vez, para ter retorno rápido” (Melissa, bióloga, gerente de controle da qualidade, 35 anos). Além das questões das técnicas de trabalho, as relações com o mercado também atuam na aprendizagem do significado do trabalho como pesquisadora. A geneticista do laboratório, que é bolsista de uma instituição brasileira de fomento a pesquisa afirma que “várias vezes as pessoas já me disseram: Onde você trabalha? E eu digo que é na empresa. Aí, eles dizem: mas você faz o quê? Aí eu digo: faço pesquisa. E muitas vezes eu ouço: mas, você trabalha?” (Letícia, biomédica, pesquisadora, 23 anos). Essa percepção de que pesquisa e trabalho não são consonantes evidencia como construções sociais podem ser desarticuladas nessas organizações e quais as resistências do mercado frente a este tipo de trabalho. 9

De acordo com as entrevistas, o conflito existente refere-se à percepção da pesquisa tecnológica como algo caro (e muitas vezes o é, efetivamente), e ao fato de as pesquisas serem predominantemente realizadas por universidades públicas e de conhecimento de base obtido, sobretudo, por acadêmicos. A rotinização das empresas e a interpelação do mercado podem levar o senso de investigação do pesquisador a ser acometido pela pressão monetária e pela busca de resultados rápidos, seguindo a dinâmica do consumo de tecnologias. Nesse jogo construído em meio a visões dicotômicas e a relações de poder, como bem discute Bourdieu (2000), se estabelecem as organizações que atuam na área de biotecnologias. Por isso é fundamental a interação entre universidades, empresas e o governo (Tripla Hélice) para fomento e desenvolvimento da inovação (MACIEL, 2001). Retoma-se, portanto, as discussões de Valle (2005) sobre questões institucionais da biotecnologia, pois estas interferem no processo de aprendizagem organizacional. Para o referido autor, as pressões sobre as empresas que atuam nesse segmento não advêm somente da institucionalização de marco regulatório, mas também das relações que se estabelecem entre os atores envolvidos nessa área. Em relação à constituição destes jogos no campo científico, observou-se o papel de mediação realizado pelos profissionais na empresa estudada. A geneticista do laboratório atualmente desenvolve um projeto sobre cromossomos em doenças como a leucemia. Para validação desta pesquisa, ela necessita de amostras de sangue de pacientes que estão em fase de suspeita da referida doença. Ela atua, portanto, em conjunto com médicos e hospitais para o recebimento destas amostras. Em determinado momento, ela relata como realizou o papel de mediadora entre pacientes, médicos e organizações na área da saúde: Uma vez um médico pediu para eu intermediar a realização de um exame de um paciente que precisava ir para São Paulo. O laboratório que faz esse exame que eu estou tentando fazer, mas ele precisava do resultado rápido e eu conhecia um lugar que ele podia fazer mais rápido. Aí, não tem jeito, a gente se envolve mesmo. Eu gosto de ser gente. O que eu lido são amostras, mas são amostras de gente (Sofia, geneticista, pesquisadora, 32 anos).

A responsável pelo controle de qualidade da empresa, corroborando estas discussões, afirma que, nesse contexto, o nome, a história, a confiança da sociedade em relação a estas novas tecnologias entram em jogo. O papel do governo, por meio de políticas de fomento a estas organizações também foi evidenciado durante a realização deste estudo. Para um dos sócios da empresa, as instituições de fomento à pesquisa ainda contam com recursos financeiros escassos, centralizados na formação dos profissionais e pouco voltados ao financiamento de equipamentos para o desenvolvimento das pesquisas. Observa-se, assim, como o cotidiano do trabalho, nas organizações que atuam no setor de biotecnologias, possui como pano de fundo elementos da dinâmica social. Os impactos sociais da atuação das organizações que operam no setor de biotecnologias atuam sobre as representações construídas socialmente em relação a esta atividade. Essas considerações podem ser feitas em relação às formações discursivas do campo da biotecnologia (PECI; VIEIRA, 2009); à linguagem e às narrativas ou discursos (GARUD; DUNBAR; BARTEL, 2010); às rotinas e aos processos de inovação nas organizações (STURDY et al, 2009); ao imaginário social do ‘jaleco branco’. Pereira Neto (1997) afirma que a construção do imaginário social do cientista é remetida ao uso do jaleco branco, bem como à desvinculação de questões políticas. Por isso, o ‘tornar-se’ cientista suscita o imaginário social em questões de ‘pureza’ técnicas e sociais. A síndrome do jaleco branco, que as pessoas associam ao medo dos profissionais da saúde, aparece nas discussões sobre as organizações que atuam com biotecnologias em relação ao sangue. Pode-se associar a ênfase de que quem faz ciência deve estar em um laboratório e que nesse imaginário 10

coletivo os exames laboratoriais devem ser realizados por meio da coleta de sangue. Nesse sentido, a responsável pelo controle de qualidade da empresa afirma: A nossa principal dificuldade de colocar o nosso serviço no mercado é que as pessoas acham que fazer exame no laboratório tem que ser com sangue. Aí quando a gente fala: “olha, isso dá para fazer com saliva, cabelo ou outra coisa” as pessoas não acreditam. Elas falam: “como você pode ver isso aí se é tão pequeno? E elas resistem a acreditar que dá para fazer e pode ser mais confiável. E outra coisa que acontece também é a novela. Quer ver quando passa na novela que o exame de paternidade foi trocado, aí as pessoas ficam mais desconfiadas mesmo. No outro laboratório que eu trabalhava a gente colocou na sala de espera uns quadros bem coloridos e com imagens grandes para as pessoas verem. Aí, enquanto elas esperavam elas ficavam olhando aquilo ali, que eram informações para esclarecer os clientes que dá para fazer. E as vezes a gente tem resistência até com os médicos para eles pedirem os exames, porque eles também desconfiam que uma coisa tão pequena pode ter tanta informação (Vanessa, bióloga, gerente de controle da qualidade, 34 anos).

Como salientam Pereira Neto (1997) sobre imaginário social e Garud, Dunbar e Bartel (2010) sobre as narrativas nos processos de aprendizagem, observa-se que, muitas vezes, as relações estabelecidas nessas dinâmicas são consideradas a partir de formas hierárquicas. A atuação técnica é vista como fator preponderante na adoção e difusão de novas tecnologias. A mesma percepção sobre essas atividades é encontrada no contexto sociocultural em que este processo ocorre. As formas de comunicação e interações sociais devem, portanto, ser consideradas por estas organizações, além da especificidade de sua atuação. A aprendizagem não ocorre apenas em processos formais e técnicos, mas também em informais, pois é um fenômeno intrínseco à dinâmica social, na qual, os mecanismos, as tecnologias e demais instrumentos que fazem parte desse processo não podem ser abordados por um caráter centralizado em práticas formais. Para que as tecnologias sejam consideradas como inovações é preciso considerar seu impacto social, levando em conta tanto a esfera das instituições públicas como sua inserção e percepção na sociedade. Caracterizando processos de inovação no trabalho com biotecnologias Para que a biotecnologia torne-se uma dinâmica perceptível como de impacto socioeconômico, deve-se considerar diversas articulações presentes na construção dessa rede e não somente o ponto de vista de quem está dentro de um laboratório, supostamente isento de discussões e disputas políticas. Explicitadas estas proposições, retomam-se as discussões de Rogers (2003) e Granovetter (2005) sobre os processos de inovações nas organizações. De acordo com os referidos autores, para que um produto/serviço seja considerado uma inovação ele deve ser reconhecido socialmente como tal. Esse é uma das articulações que podem ser realizadas com os processos de aprendizagem organizacional, pois, como afirmam Yakhlef (2010), Weick e Westley (2004) e Cook e Yanow (2001), essa dinâmica não ocorre tão somente pelas técnicas, mas também pelas relações socioculturais das organizações, seja em seu cotidiano de trabalho seja por outros atores sociais. Nas entrevistas realizadas com os profissionais que atuam na empresa de biotecnologias em estudo, questionamentos realizados sobre inovações foram apresentados. Quando questionada sobre o que é inovação, Fabiana (bióloga, 22 anos) afirma: “É algo novo. Pode ser uma forma, um equipamento e uma pessoa quanto ela entra aqui e traz uma forma diferente de trabalhar. Aí ela permite um jeito diferente de trabalhar” (Fabiana, bióloga, 22 anos), A gerente técnica assim se manifesta sobre o mesmo tema: Acho que tudo aquilo que traz uma coisa nova e que facilite pelo menos um pouco a vida das pessoas. E as tecnologias quando elas são implantadas e elas trazem coisas práticas, para o dia a dia, ela é uma inovação. Acho que tem muita relação com o

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tempo também porque se ela conseguir diminuir o tempo, e no caso das empresas trazer um retorno financeiro rápido é isso aí. E essa questão do tempo é diferente aqui e da universidade. Lá eu posso fazer uma pesquisa de alguma coisa e esperar para acontecer porque você é a matéria. No mercado não, é tudo imediato (Ana, bióloga, gerente técnica, 30 anos).

Retomam-se aqui as discussões de Elfring e Hulsink (2007) sobre as diferentes perspectivas de definição da inovação, as quais podem ser relacionadas a produtos, serviços, tecnologias, políticas, estruturas. Nesse sentido, Prajogo e Ahmed (2006) e Damapur e Schneider (2006) assinalam que a inovação é comumente considerada como uma fonte de vantagem competitiva e crescimento econômico, pois ela não pode ser considerada univocamente por sua dimensão microssocial ou das técnicas, mas sob as condições socioeconômicas. Rogers (2003), com base nessa perspectiva, afirma a compreensão dos processos de inovação através das interações sociais, pois tanto sua construção como sua percepção relacionam-se ao contexto em que estão imersas. As falas das entrevistadas corroboram estas discussões ao apresentarem a inovação como um processo não linear, ou seja, ela não é resultante de uma iniciativa pontual ou de uma única pessoa. Por isso as pessoas ‘trazem uma forma diferente de trabalhar’, como bem assinalam Weick e Westley (2004), quando instigam não só a pensar sobre ‘organizações’ per se, pois ao vê-las como estáticas e controláveis a tendência é se iludir e imaginar que elas são algo estável, mas também considerar que as pessoas atuam como ‘carring’. Esse processo de ‘carregar’ não implica a não existência de rupturas, mas “para revelar o caráter aproximado da aprendizagem inicial, os sistemas que se autodesenvolvem aplicam lições do passado e, simultaneamente, questionam sua relevância” (WEICK; WESTLEY, 2004, p.367), é interessante perceber que tais questionamentos ocorrem em relação aos quadros de referências atuais, ou seja, o passado é sempre contextualizado no presente, caracterizando a abordagem processual. O entendimento das organizações como culturas que não se caracterizam como estruturas estáticas pode ser articulado com os processos de inovações, no que se refere à produção de novas tecnologias, a partir da experiência cotidiana nas organizações, em que, além da produção e do desenvolvimento de novas técnicas de trabalho, as formas de comunicação social devem ser consideradas, por exemplo, nos exames nos quais não é necessária a coleta de sangue. A articulação de linguagem, artefatos e rotinas também pode ser considerada de modo a desvelar elementos da cultura organizacional, apesar de serem necessários outros ‘olhares’ para essa dinâmica, incluindo aspectos de relações de poder e autoridade, como discute Bourdieu (2000). O sentido de ‘algo novo’ para a inovação está na justaposição entre técnica e social, por meio da experiência temporal. Essa dinâmica permite contextualizar os processos de aprendizagem e inovação, pois, como as questões sociais estão imbricadas nestas considerações, não é possível observar essa dinâmica a partir de algo fragmentado. Por isso, a experiência efêmera do tempo no mercado é identificada na organização em estudo, quando desenvolvem suas biotecnologias. Do mesmo modo, a inovação nas pesquisas em universidades são experimentadas sob a ótica do impacto social. Essa aparente descontinuidade na realidade apresenta o social como pano de fundo. Tais considerações podem ser percebidas no seguinte relato: Eu vim para cá [empresa] para desenvolver uma pesquisa sobre leucemia e validar uma metodologia de um exame que só faz na capital, e que se as pessoas fizerem aqui eles podem ganhar dois ou três dias para começar o tratamento, e quando a gente fala de câncer isso é uma eternidade. Aí fui pedir para os médicos oncologistas ou hematologistas para me mandarem amostras para poder validar e chegamos no hospital do câncer. Aí a gente começou a perceber que as pessoas que descobrem

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que tem a doença nem ficam aqui, já vão buscar outros centros para se tratarem. Depois que a gente foi perceber a questão social que estava por trás do que a gente queria desenvolver porque se as pessoas nem se tratam aqui de repente esse exame elas vão querer fazer aqui. Aí nos questionamos: será que isso vai ter mercado aqui? Muitas vezes as empresas que atuam com biotecnologias não conseguem ver isso: que essa tecnologia é coisa pra gente! (Sofia, geneticista, pesquisadora, 32 anos).

Com essa fala reavivam-se as diversas discussões sobre os processos de aprendizagem e de inovação que conduziram até aqui. Muito embora as técnicas sejam fundamentais para as organizações que atuam com base em biotecnologias, é essencial reconhecer a dimensão social destas atividades. A visão de atuação destas organizações, por meio de práticas específicas, pode centralizar os debates em instâncias ditas empíricas e características somente dos laboratórios, confinando os processos existentes em uma percepção fragmentada da dimensão social, na utilização de dualismos (como objetivo e subjetivo ou técnica e social), na salvaguarda de questionamentos institucionais dos processos de aprendizagem e inovação. Essa ‘miopia científica’ da ‘vida no laboratório’ reforça as discussões de Pereira (1997) sobre a construção do imaginário social do cientista pelo uso do jaleco branco, das tecnologias centradas em técnicas mecânicas, de sua desvinculação de questões políticas e culturais. Por isso, o ‘tornar-se’ pesquisador em uma dinâmica de mercado, na qual contextualizam-se as experiências temporais, implica desvelar, no imaginário social, questões de ‘pureza’ técnicas e sociais, pois como afirma uma das entrevistadas, “essa tecnologia é coisa pra gente”. Considerações finais Ao considerarmos as articulações existentes entre processos de aprendizagem organizacional e inovação, é possível articular três interconexões de atividades que caracterizam o estudo: teórica, analítica, metodológica. Essas articulações modulam abordagens processuais no sentido de considerá-las imbricadas e não equacionadas. A operacionalização destas articulações, no campo das biotecnologias, proporcionou ampliar os debates em torno de como as organizações se articulam em relação à dinâmica social. A formação e as contradições que circunscrevem a estrutura social são mobilizadas e reproduzidas nas organizações, como observou-se na construção das rotinas dos horários de exames, nas técnicas relacionada às biotecnologias, nas relações hierárquicas e de gênero. Ao considerarem as organizações como conjuntos de pessoas, práticas, técnicas, rotinas, artefatos, o que elas aprendem não é de posse de seus membros individuais, mas de seu conjunto. A abordagem cultural dos processos de aprendizagem organizacional permite compreender essa dinâmica através da constituição de suas articulações e não por uma categoria de análise unívoca ou reificada, como nas abordagens centradas em indivíduos. No que concerne aos processos de inovação, discutiu-se esta categoria de análise em suas articulações como as representações simbólicas do ‘fazer ciência’ e as relações de poder que as constituem. O sentido de ‘algo novo’ para a inovação foi apresentado na justaposição entre técnica e social, por meio da experiência temporal. Por isso, o que é ‘algo novo’ para a biotecnologia pode não ser percebido como tal pela sociedade, bem como pode haver resistências em relação à sua implantação. O sentido de inovação é interpelado pela dinâmica de mercado, pois a necessidade de posicionamento mercadológico das empresas requer a formação de discursos articulado com uma perceptível necessidade social. Retoma-se, então, o questionamento inicial deste estudo: como os processos de aprendizagem organizacional se configuram em empresas de biotecnologias a partir de suas articulações com os processos de inovação? 13

Pelas discussões apresentadas, estabeleceu-se a seguinte proposição de análise: os processos de aprendizagem organizacional e inovação são modulados a partir da estrutura da sociedade e a contextualização das questões sociais está imbricada na constituição dessa dinâmica, não sendo possível observá-las a partir de algo fragmentado. As linhas de articulações entre aprendizagem e inovação podem ser consideradas como processuais, ao desvelarem a coexistência e a interpelação também das relações de mercado, que constituem as narrativas em torno da bios (vida) e das tecnologias. No jogo entre o ‘dentro’ (técnicas dos laboratórios) e o ‘fora’ (instituições e relações sociais), essa dinâmica pode ser considerada como mecanismo de análises dos processos de constituição dos discursos científicos e das necessidades do mercado, em que aprendizagem e inovações se articulam processualmente. Outro aspecto a ser considerado é a dificuldade de inserção das inovações em biotecnologias no mercado, devido às relações institucionais (fomento do governo) e relacionais (médicos e consumidores) desta área. Apesar de os profissionais deste campo de estudos perceberem as contribuições socioeconômicas das biotecnologias, ainda não se estabeleceu esta mesma percepção para outros públicos, o que evidencia a centralidade da técnica e a rotinização deste contexto analítico. Durante a pesquisa, foi possível identificar um gap entre o que os profissionais do laboratório pesquisado entendem por inovação e o que o mercado legitima como tal. Ao considerar o referencial teórico utilizado neste estudo, fica evidente que novos produtos são desenvolvidos constantemente, mas só são considerados efetivamente ‘novos’ quando reconhecidos e aceitos socialmente. Todavia, inúmeras vezes, esta aceitação não acontece, pois a ‘vida de laboratório’ tem diferenças em relação à ‘vida no mercado’. Há, pois, necessidade de consolidar um discurso científico sobre os novos produtos, que devem estar articulados com ‘as necessidades’ do mercado para que ocorra efetivamente a chamada ‘inovação’. Os processos de aprendizagem organizacional, no ambiente de trabalho, podem estar deslocados das questões institucionais, como o discurso científico e de mercado, que legitima esse aprendizado como ‘útil’ ou não; O desafio é compreender a natureza dos contextos organizacionais específicos e identificar as oportunidades de aprendizagem que o circundam. A partir do presente estudo, pretende-se abrir uma agenda de pesquisas acerca das possíveis articulações entre os processos de aprendizagem nas organizações e os de inovação, utilizando as lentes da abordagem cultural de AO, fenômeno que, até então, vem sendo investigado, predominantemente, numa perspectiva mais funcionalista e técnica. A abordagem cultural de AO compartilha a convicção de que os fenômenos da organização não têm univocidade. Eles são constituídos e perpassados por múltiplas interpretações construídas pelos atores das organizações, não ignorando que emoções, cognições, ações, contexto estão interligados nos modos de existência da ambiguidade, seja individual seja coletivamente. A existência destas interpretações policromáticas constitui-se, com efeito, em verdadeiro problema científico. Os processos de aprendizagem e de inovação nas organizações não ocorrem de maneira apolítica, no vácuo das relações de poder e de forma exclusivamente racional. ‘Como e por que aprendizagem e inovação são um processo social e relacional, específico e estruturado na e pela ambiguidade? A possibilidade de ‘colocar luz’ sobre aspectos da inovação e da aprendizagem nas organizações, até agora ‘deixados na sombra’, surge como um desafio e uma nova agenda de estudos neste campo de conhecimento. Referências ANDRADE, T. Inovação e Ciências Sociais. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 20, n. 58, 2005. 14

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