A vida no relógio: ciclo de vida e juventude como objeto de pesquisa da historia social do trabalho

July 23, 2017 | Autor: R. Piñeros Lizarazo | Categoria: Historia Social, Sociología Del Trabajo, Juventude
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A vida no relógio: ciclo de vida e juventude como objeto de pesquisa da historia social do trabalho1 Robinzon Piñeros Lizarazo2 Introdução Esse trabalho realiza a partir da obra de E.P Thompson e dos aportes do campo da historia social do trabalho, uma analise do surgimento do ciclo de vida como uma forma de controle do tempo e a interiorização da disciplina no capitalismo industrial. A primeira parte baseia-se na revisão de iconografias produzidas no século XVI nas quais se representa a juventude dentro do ciclo de vida e suas etapas, interpretadas como uma forma da moral burguesa, afastando o tempo do ciclo divino para tornar a vida como um tema intramundano. Com o desenvolvimento industrial no século XVIII essa moral vai se impuser à classe operária com o escopo da exploração nas fábricas.

Nesse intuito a juventude

operária ficou ancorada como um estádio intermédio entre a infância e o período adulto, seu tempo de extensão vai variar historicamente segundo as representações morais e as instituições de socialização. O trânsito entre a dependência da criança e a autonomia do adulto vai passar da esfera do trabalho coletivo com a família, ou a aprendizagem na oficina do mestre como aprendiz, para o espaço-tempo da fábrica. Na segunda parte se analisa a dominação de classe voltada para interiorizar a disciplina do trabalho na infância e a juventude, como parte da transição para o capitalismo industrial. Nesse sentido, a escolarização das “massas” vai significar o aperfeiçoamento da dominação de classe, conduzida para o uso do tempo como meio para a exploração laboral. Diante desse escopo comparecia como um meio a escola, uma instituição antiga e não industrial, que poderia “ser usada para inculcar o ‘uso económico-do-tempo’” (THOMPSON, 1991, p. 292, grifo nosso). Na última parte se apresentam algumas reflexões teóricas e metodológicas que surgiram da elaboração desse trabalho, e que são projetadas como um aporte para a elaboração da revisão bibliográfica e analise de dados de minha tese de doutorado.

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Trabalho final da disciplina Historia Social do Trabalho no Brasil, ministrada pelo professor Ricardo de Paula Pires. UNESP, Presidente Prudente, 2014. 2 Doutorando em Geografia. UNESP, Presidente Prudente.

O tempo do relógio e o tempo de vida: a estruturação do ciclo de vida laico O tempo como uma construção social, antes do relógio era medido pelas formas temporais da natureza ou por atos humanos sequenciados, de caráter heterogéneo3. Depois do século XIII, a invenção e uso do relógio pautará a organização da vida quotidiana, além disso, passará a determinar a natureza humana, seus ciclos ou etapas e as trilhas vitais pelas que percorrera o homem e a mulher. Desse modo o tempo a partir do século XVI vai ficar determinado pela medição, influenciada diretamente pela moral burguesa. Neste ponto cabe sinalar que para Thompson não foi de seu interesse aprofundar na pesquisa do tempo e suas origens na “disciplina puritana e a exatidão burguesa” (THOMPSON, 1991, p. 268). Porém para este artigo aprofundaremos um pouco nessas origens, entanto que proverão de argumentos para compreender as práticas da juventude da classe trabalhadora na modernidade capitalista. O autor escreve que a representação social do tempo tinha cambiado desde o século XIII, porém no século XIV vai ter uma mudança mais ampla com o uso estendido do relógio. Nessa afirmação ele vai coincidir com Lewis Mumford, para quem o relógio vai permitir medir quantitativamente o tempo em horas e minutos organizando e sincronizando as ações humanas, nesse sentido, vai constituir um tempo secular. Com respeito ao isso Mumford escreveu: […] la ordenada vida puntual que primeramente tomó forma en los monasterios no es connatural a la humanidad, aunque hoy los pueblos occidentales están tan completamente reglamentados por el reloj que constituye una ‘segunda naturaleza’, considerando su observancia como un hecho natural” (MUMFORD, 1992, p. 33)

Essa segunda natureza junta o tempo mecânico -da máquina- e o orgânico em um só, consequentemente a partir desse momento a vida vai ser organizada pelo tempo mecânico, sequenciando a duração e os momentos da vida humana. A interpretação moderna desse tempo vital é produto da cultura burguesa, que vai fragmenta-lo em estádios, surgindo com essa organização a ideia de uma idade para a juventude.

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Thompson oferece exemplos de esse tipo de medicoes baseadas em atos humanos vinculados as tarefas familiares, ciclos de trabalho, ou rituais como o exemplo da medicao de um terremoto em Chile em “credos”. A esse tipo de medicao do tempo ele denominuo “tempo cultural”.

É importe mergulhar nas representações produzidas e difundidas por meios impressos, os quais foram parte da difusão entre os países protestantes do norte da Europa e fora deles. Nesse intuito poderíamos nos apoiar na noção de capitalismo impresso de Benedict Anderson (1993), segundo ele as publicações populares baratas a partir do século XVI tornassem massivas pelo uso da imprensa de Gutemberg.

Essa realidade vai

configurar um capitalismo que se sustenta nos grupos de leitores “leigos” motivados por fins políticos e religiosos, constituindo as comunidades imaginadas entre as quais estão a nação e a classe burguesa. Nesse processo histórico ao final do século XV e XVI, as ideias sobre o curso de vida (life course) foram representadas na Europa do norte por meio de um tipo de iconografia que tenta dar conta dos estádios etários dos homens e as mulheres. A vida se torna uma carreira, um drama espiritual, uma sequencia de etapas que organizam os percursos vitais sequenciados pelo tempo social.

Essa iconografia vai mostrar as

diferencias no curso da vida como fases e funções colocadas em escadarias, Deus, os santos, o individuo, a família e os papéis sociais são representados como uma continuidade, uma vida típica ideal. Segundo Cole (1992) nessa iconografia o relógio de areia comparece como um símbolo da importância atribuída ao tempo individual, e conclui que no “início da era moderna 'o ciclo de vida’, curso de vida, ou vida útil, foi definido pela cultura burguesa, essa definição baseia-se no envelhecimento; o que ao longo prazo fará parte da estrutura do moderno curso de vida" (COLE, 1992, p. 5, tradução nossa). Para Cole (1992) as iconografias reproduzem o modo de vida burguês focado aos conflitos vivenciados com mais intensidade pelas classes medias urbanas, os quais procuravam um: [...] sentido de se aproximar ao destino, à luta por achar uma conduta adequada, dos tempos do ser fora do comum. Isso foi resolvido através da criação de um mapa cognitivo do curso de vida, incluindo as virtudes e vícios de cada uma das faixas etárias. Essa ideia do curso de vida, o novo horário da vida, como uma carreira encontrou sua representação iconográfica nas grades em subida e baixada (ou uma pirâmide de grades)- essa imagem converteu-se na imagem burguesa do tempo de vida para os próximos 350 anos. (COLE, 1992, p. 18-19, tradução nossa)

Ilustração 1. Iconografia dos ciclos da vida desde o século XVI até o XX

A juventude nessas iconografias vai ter uma representação dual e contraditória: a liberdade relativa de construir seu destino, e o compromisso de reprodução social. O ciclo de vida é fragmentado por uma frequência que vai de dez em dez anos, e a juventude vai se enquadrar depois dos vinte anos, demostrando a superação da fase da brincadeira de criança

e de dependência familiar, adentrando na contradição que se torna em um dilema: se mantiver como individuo sozinho ou empreender a vida de família. Mas, a autonomia individual vai resolver o dilema, fundamentado na ética puritana do aproveitamento do tempo como fonte de riqueza, que vai prover as condições materiais para se emancipar como individuo fora da esfera familiar. Além disso, a autonomia vai exigir a função de reprodução social e biológica burguesa, por tanto a juventude produtiva ao mesmo tempo começa a experimentar a vida amorosa, precedente da família heterossexual com filhos. Acompanhando esses papeis sócias, o individuo jovem vai se formar, seja nas artes, profissões ou como militar; essa última é mais representativa do século XIX quando o estado-nação e o nacionalismo se espalham pelo Ocidente. O tempo nas sociedades capitalistas de acordo com Thompson, vai se interiorizar pela via dos sistemas externos de organização e controle do trabalho operário, e pela disciplina do individuo ancorada à moral. O resultado é a determinação das condutas individuais, e com isso, a organização do ciclo de vida e o trabalho, ora na vida do dia a dia: na casa, na usina ou oficina, no boteco; ora na vida toda: desde o nascimento até a morte como parte da ascese intramundana que propor Weber. A partir da racionalização do tempo as sociedades ocidentais vão se tornar mais produtivas na materialidade do processo do trabalho com o uso de máquinas e a organização dentro da fábrica, essa ordem vai ser garantida pela vigilância da voz interna da moral puritana. Entretanto, esse processo da disciplina externa e interna do trabalho não vai ser lineal, e nem vai se espalhar pelo ocidente de maneira homogênea, nessa tensão cabe retomar a pergunta orientadora do Thompson: “até que ponto, e de que maneira, essa mudança no senso de tempo afetou a disciplina de trabalho, e até que ponto influenciou a percepção interna do tempo dos trabalhadores?” (THOMPSON, 1991, p. 269). Até aqui temos apresentado algumas das mudanças no senso de tempo feito ciclo de vida, e também como dentro desse ciclo vai comparecer a juventude burguesa e suas funções sociais. Agora precisamos complementar o argumento com as propostas sobre a análise da cultura da classe trabalhadora, enfiando para as lutas e resistências. Neste ponto comparece a cultura, mais é importante ressaltar que é um termo que esconde e agrupa muitas questões que precisam ser distinguidas, portanto “[s]erá necessário desfazer o feixe

e examinar com mais cuidado os seus componentes: ritos, modos simbólicos, os atributos culturais da hegemonia, a transmissão do costume sob formas específicas das relações sociais e de trabalho (THOMPSON, 1991, p. 22) A cultura não e uma só, vai se diferenciar dialeticamente pelo antagonismo das classes sócias, emergindo desse foco cultural apontado no marxismo a diferencia entre a cultura popular, da classe trabalhadora, e a cultura burguesa, culta ou de elite. Nesse antagonismo se produz um intercambio continuo no âmbito das relações sociais inter ou intra classe, portanto é importante o uso do conceito gramsciano de hegemonia, que habilita o estudo das resistências. Esse é o patamar da compreensão relacional das classes como relação social. Nesse intuito a tradição agirá como uma forma de reprodução das condutas e pensamentos contrários à hegemonia da classe dominante; no caso da cultura popular vai resultar que sua matriz está ancorada no tradicional, na historia oral, na religiosidade. Nessas qualidades do passado vivo, Thompson vai encontrar as formas das lutas, resistências e relações de classe. É assim que o popular vai representar a tradição e a rebeldia: A cultura conservadora da plebe quase sempre resiste em nome do costume, às racionalizações e inovações da economia (tais como Os cercamentos, a disciplina de trabalho. os "livres" mercados de cereais) que os governantes, os comerciantes ou os empregadores querem impor. A inovação é mais evidente na camada superior da sociedade, mas como ela não é um processo tecnológico/social neutro e sem normas (modernização, racionalização), mas sim a inovação do processo capitalista, é quase sempre experimentada pela plebe como uma exploração, a expropriação de direitos de uso costumeiros, ou a destruição violenta de padrões valorizados de trabalho e lazer. (THOMPSON, 1991, p. 19)

Essa proposta vai salientar outros estudos amplificando a compreensão das práticas da classe, desvendando sua diversidade ao redor do gênero, a etnia, a raça, as diferencias entre o campo e a cidade, e no caso deste artigo, a juventude. Desse modo, nosso objetivo se ajusta a esse marco analisando as às formas da resistência à implantação da representação da juventude burguesa que apresentamos aqui.

Juventude operária: A captura do tempo para dirigi-lo ao trabalho A juventude operária na modernidade ficou ancorada como um estádio intermédio entre a infância e o período adulto, seu tempo de extensão vai variar historicamente segundo as representações morais e as instituições de socialização, tudo isso em grande relação com a exploração no mundo do trabalho. O trânsito entre a dependência da criança e a autonomia do adulto vai passar da esfera do trabalho coletivo com a família, ou a aprendizagem na oficina do mestre como aprendiz, para o espaço-tempo da fábrica. Marx (2011) oferecia no manifesto do partido comunista uma critica a esse processo destrutivo: O palavrório burguês acerca da família, da educação e da relação intima de pais e filhos se torna tanto mais enojante quanto mais a grande indústria esgarça todos os laços familiares dos proletários e transforma seus filhos em artigos de comércio e instrumentos de trabalho (MARX, 2011) Produto desse devir histórico no século XVIII surge a juventude como ciclo de vida, mais como uma imposição à classe trabalhadora como fins de explora-la como mãode-obra barata. Essa imposição foi perfeiçoada através das instituições educativas, em primeiro lugar, mudando sua função de cuidado para a formação, tirando os filhos das famílias pobres para interna-los em casas donde trabalhariam e receberiam alfabetização. Segundo Fernández (1989) ao final do século XVIII na Inglaterra Sir Josiah Child no Novo Discurso sobre o Comercio propunha o que a maioria de autores da época pensava da infância e a juventude marginal: [...] Que produzam lucros ou não, é algo que não importa muito; o grande problema da nação é, em primeiro lugar, afastar o pobre da mendicidade e da inanição e assegurar-se de que todos os que sejam capazes de trabalhar possam ser, no futuro, membros úteis para o reino (FURNISS4, 1965 apud FERNÁNDEZ, 1989, p. 109).

O utilitarismo voltado para interiorizar a disciplina do trabalho na infância e a juventude, faz parte da transição para o capitalismo industrial que estuda Thompson. A escolarização das “massas” vai significar o aperfeiçoamento da dominação de classe, conduzida para o uso do tempo como meio para a exploração laboral. Diante desse escopo 4

FURNISS. E.S. The position of the laborer in a system of nationalism: A study in the labor theories of the later English Mercantilists, Augustus M. Kelly, Nueva York, 1965.

comparecia como um meio a escola, uma instituição antiga e não industrial, que poderia “ser usada para inculcar o ‘uso económico-do-tempo’” (THOMPSON, 1991, p. 292, grifo nosso). Esses câmbios remetem às tecnologias sociais para organizar a força de trabalho, as quais não foram neutrais e inevitáveis, mas a cultura popular tinha estabelecido de algum modo formas de resistência. Com o decorrer da industrialização a luta foi mais aguda, pois a burguesia tornou-se interessada na educação massiva e na perseguição dos “delinquentes” que afetavam a ordem social industrial. A partir desse momento até hoje vamos ter na escola a instituição hegemónica da inculcação da disciplina do trabalho nas gerações mais novas. Entretanto a organização do trabalho industrial e a urbanização da população avançavam no século XVIII e XIX a questão da disciplina do trabalhador foi continuamente discutida, o tempo todo, incluso o lazer e ócio, teriam que ficar presos da organização para o capital. A escola tinha sido encarregada dessa inculcação, só que na segunda parte do século XIX vai mudar o conteúdo da formação, pois o operário teria que ir além da piedade e a resignação da moral religiosa, aceitando trabalhar para outro nas condições impostas. O acento deslocou-se então da educação religiosa e, em geral, do doutrinamento ideológico, para a disciplina material, para a organização da experiência escolar de forma que gerasse nos jovens os hábitos, as formas de comportamento, as disposições e os traços de caráter mais adequados para a indústria (FERNÁNDEZ ENGUITA, 1989, p. 114).

A vigilância e repressão das condutas da classe trabalhadora em geral, e dos jovens em particular, incentivou a criação de mecanismos de controle fora da fábrica, ampliando a abrangência da dominação. Desse modo entre o século XVIII e XIX “foram entabuladas ações de controle que iam desde a melhoria da eficiência da atuação judicial/policial à criação de ‘organizações humanitárias’, normalmente de cunho religioso, destinadas a “amenizar” as diferenças” (DE MELO, 2010, p. 13). Nesse cenário comparece o jovem delinquente, aquele que vai se mover pelos tempos e espaços opacos das instituições capitalistas. As etiquetagens para este tipo de jovem não poucas vezes terá relação direta com a representação da anomia própria da classe operária, atrelada a questões de gênero, etnia e raça.

O controle da juventude e todo o ciclo de vida vai se aperfeiçoar com a abrangência do Estado-Nação nos últimos três séculos. A partir do século XIX a organização da vida passara a ser legislada e atendida por algumas instituições públicas ou organizações filantrópicas. Além da escola e sua disciplina espalhadas pelas cidades e campos, a ciência fornecerá as funções educativas e de saúde do Estado, aprofundando a dominação através das teorias da higiene e da criminalidade baseadas na biologia e fisiologia, entanto que a legislação se tornará mais rígida contra os vagabundos e pobres. Neste ponto é importante enfatizar de novo o domínio do tempo do relógio na lógica da exploração e territorialização do capitalismo industrial; esse processo acontecerá não só nas cidades que acolheram as fábricas, também terá reflexos no campo e nas terras ultramarinas, na medida em que o capitalismo se torna global entre o século XIX e XX. Porém, as pesquisas de Thompson clarejam a dialética desse processo, onde a classe operária vai reagir e lutar tentando manter seus costumes, conformados por jogos, rituais, lazer e ócio que foram criminalizados, satanizados, higienizados ou reprimidos. Por conseguinte, podermos afirmar que também os jovens da classe operária resistiram à dominação de classe agenciada através do Estado, a fábrica, a escola, e o hospital. Ainda assim, muitos dos jovens outsiders ou fora da lei5, reproduziam práticas de resistência que além de se resistir aos marcos temporal e disciplinar das instituições capitalistas, também manifestavam um tipo de ruptura com a cultura dos adultos. Essas resistências da cultura popular jovem terão maior expressão no século XX, associados aos processos de individualização no capitalismo, as guerras mundiais, os meios de massas, o Estado de Bem estar, lazer, tempo de ócio, entre outros. Essa realidade e a renovação heterodoxa da teoria marxista salientarão os estudos culturais nos anos 60, campo de estudos desenvolvido na Escola de Birmingham sediada no Centre for Contemporany Cultural Studies, do qual Thompson foi um dos fundadores6. Ao invés, para os estudos de historia social do trabalho revisados (BATALHA, 2006, DE MELO, 2010), o estudo do tempo e as resistências estabelecem uma relação entre o espaço de trabalho (oficina, fábrica, usina, fazenda) e espaço de lazer, ócio e lar, 5

Na Inglaterra aparecerá ao final do século XIX o grupo de jovens delinquentes denominados até hoje Hooligans. 6 Os outros fundadores foram: Richard Hoggart, Raymond Williams, Stuart Hall, e Paul Willis, entre outros.

juntando o tempo produtivo com o tempo reprodutivo. Essa conjunção no caso do estudo de crianças e jovens não vai ter a mesma capacidade analítica, ainda mais no final do século XIX e todo o século XX, devido ao avanço quantitativo da escola primaria e secundaria no contexto dos sistemas educativos dos estados nação. A escolarização da população terá uma progressividade que inserirá uma parte dos filhos dos marginados, ainda mais com o estabelecimento da meritocracia baseada na formação e o diploma, tirando-os temporalmente do mercado do trabalho. No entanto a escola como temos visto é o espaço de qualificação para a produção, portanto é homologa da fábrica, por isso podermos entendê-la como tempo produtivo. É importante esclarecer que a aceitação da escola pela classe operária teve resistências, os fatos contrariam a ideia da escola de massas como conquista desta classe. Sem embargo compreendermos que não foi um processo passivo, e existem práticas de resistência das quais podemos apresentar duas formas: a primeira demérita a formação oferecida pela escola porque apanha ou desvia á o jovem do trabalho doméstico ou da oficina. Essa foi a principal resposta das famílias ao intento de captura do tempo e da renda que representavam os filhos, afetando o crescimento da escolarização, ainda mais nas camadas camponesas. A outra resistência foram os movimentos de auto-instrução operária prévios à escola de massas capitalista, composta por uma rede de experiências educativas na qual interagiam operários, artesãos e camponeses. A esta rede e formal e informal de capacitação profissional e formação técnica e científica devem-se acrescentar as escolas de iniciativa popular, as sociedades operárias, os ateneus, as casas do povo e toda urna gama de atividades similares que compunham um considerável movimento de auto-instrução. Boa parte do movimento operário colocou nessa rede suas esperanças de acompanhar o ritmo do progresso e melhorar sua posição social e política frente às classes dominantes, quando não de subverter radicalmente a ordem social existente. (FERNÁNDEZ ENGUITA, 1989, p. 121)

A pesar disso, a resistência educativa foi afastada pelo avanço dos sistemas educativos nacionais e as derrotas dos movimentos operários no século XIX. Muitos desses sistemas alternativos pereceram, no entanto no século XX a chamada educação popular vai reviver alguns deles e espalhar alternativas de educação, resistindo à desqualificação e captura do tempo pela escola capitalista.

Considerações finais Temos visto que o processo de regulação do ciclo de vida baseado na exploração do trabalho vai se consolidar com o avanço do capitalismo industrial. Apresentamos aqui a transição da representação burguesa da vida desde o século XVI até a fragmentação institucional feita pelo Estado de Bem-estar social. A estruturação foi dividida em três níveis: Infância/Juventude-Adulto-Velhice, os quais determinavam as idades de educação, trabalho e aposentadoria.

Mas, ainda estamos numa fase de transição onde a estrutura

lineal foi colapsada pela acumulação flexível, e os períodos de vida estruturados até os anos 70 do século XX foram fragmentados, mas, com aponta Thomaz Júnior (2007) a centralidade do trabalho na organização da sociedade e a contradição Capital X Trabalho ainda não foi superada. O devir histórico apresentado permitiu trazer a juventude operária como um ator importante nas pesquisas do mundo o trabalho, e especificamente da historia social. Ainda que não fossem apresentados casos da América Latina, foi mostrada a tendência da dominação de classe que no processo de globalização do capital vai se espalhar, ora pela fábrica, ora pela escola. Também deixa aberta a questão das formas das lutas e resistências, que apenas foram enunciadas, pero que no processo de trabalho de campo e leitura para a tese terá que ser aprofundado. Outro vazio que ao enunciar-se poderá ser aprofundado no futuro. Se entendermos que a juventude urbana tem sido mais pesquisada, mais quando a minha tese focaliza na juventude rural (CASTRO, MARTINS, et al., 2009), precisamos de um levantamento bibliográfico focado. Queda sim admitido que a juventude não pode ser compreendida de forma estática, seja como uma faixa etária rígida, e menos com um estádio biológico, pois está determinada pelas condições históricas atreladas à classe.

Se bem temos alguns

apontamentos para a pesquisa histórica da juventude da classe operária, temos que distender o conceito para ampliar sua capacidade analítica. Isso nos leva para mergulhar aos outros jovens que não fazem parte do operariado clássico, no mesmo sentido do que aconteceu no Brasil na historia social do trabalho. Nesse campo de pesquisa no decorrer do século XX ao operariado urbano e industrial, se juntaram os escravos e indígenas que outrora compartilharam processos de dominação classe (BATALHA, 2006).

Bibliografia ANDERSON, B. Comunidades imaginadas. 1. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1993. BATALHA, C. Os desafios atuais da na historia do trabalho. Anos 90, Porto Alegre, v. 13, n. 23-24, p. 87-104, Janeiro Dezembro 2006. CASTRO, E. G. et al. Os jovens estão indo embora? Juventude rural e a construcao de um ator político. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. COLE, T. R. The journey of life: a cultural history of aging in America. Cambridge : Cambridge university press, 1992. DE MELO, V. Lazer, modernidade, capitalismo: um olhar a partir da obra de Edward Palmer Thompson. Estudios Históricos, Rio de Janeiro, v. 23, n. 45, p. 5-26, Janeiro Junio 2010. FERNÁNDEZ ENGUITA, M. A face oculta da escola. educação e trabalho no capitalismo. Proto Alegre: Artes medicas, 1989. MARX, K. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Penguim Classics Companhia das Letras, 2011. MUMFORD, L. Técnica y Civilización. Madrid: Alianza, 1992. THOMAZ JUNIOR, A. Se Camponês, se Operário!Limites e Desafios para a Compreensão da Classe Trabalhadora no Brasil. In: THOMAZ JUNIOR, A. (. ). Geografía e trabalho no século XXI. Presidente Prudente: Centelha, v. II, 2006. THOMAZ JUNIOR, A. Territórios em disputa e movimento territorial do trabalho e da classe trabalhadora. Pegada, v. 14, n. 2, p. 1-24, 2013. THOMPSON, E. P. Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das letras, 1991.

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