A Visita do Papa Francisco a Sarajevo

July 17, 2017 | Autor: J. de Barros Dias | Categoria: Igreja Católica, Sarajevo, Vaticano, Papa Francisco, Viagem Apostólica, Bósnia e Herzegovina
Share Embed


Descrição do Produto

CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil http://www.jornal.ceiri.com.br

A viagem do Papa Francisco a Sarajevo Author : J. M. de Barros Dias - Colaborador Voluntário Sênior Categories : EUROPA, NOTAS ANALÍTICAS, POLÍTICA INTERNACIONAL Date : 15 de junho de 2015

O Papa Francisco realizou, no dia 6 de junho, uma viagem apostólica a Sarajevo, capital da Federação da Bósnia e Herzegovina, país que procura a unidade para enfrentar as elevadas taxas de desemprego, a corrupção e a polarização política. A visita papal coincidiu com o 20.º aniversário da assinatura do Acordo de Paz de Dayton[1], que pôs termo à Guerra Civil nos Balcãs. A viagem àquele país do sudeste da Europa teve como objetivo, nas palavras do próprio Papa, “encorajar a convivência pacífica”[2] entre os bósnios. Fundada pelos Otomanos em 1461, Sarajevo era, em finais do século XVII, a cidade mais importante dos Balcãs. Ocupada pelo Império Austro-Húngaro, em 1878, Sarajevo assistiu, algumas décadas mais tarde, em 28 de junho de 1914, ao assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando e de sua mulher, a Duquesa de Hohenberg, Sofia Chotek, acontecimento que constituiu o pretexto para o início da I Guerra Mundial. No século XX, Sarajevo foi um dos 1/5

CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil

centros http://www.jornal.ceiri.com.br industriais da antiga Iugoslávia e sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, em 1984. A cidade mergulhou no nacionalismo extremo que envolveu os Balcãs, na sequência do colapso dos regimes políticos marxistas-leninistas na Europa, quando foi cercada pelos sérvios da Bósnia, em 6 de abril de 1992, num conflito que se arrastou por mais de três anos e causou mais de 100 mil mortos. Hoje, dos 800 mil fiéis católicos do período anterior à Guerra Civil, restam 400 mil, com uma tendência contínua para o decréscimo[3]. Sábado, em sua visita de um dia a Sarajevo, o Papa Francisco teve a oportunidade de se reunir com o Presidente de turno, Mladen Ivani?, com membros do Corpo Diplomático e, também, com os sacerdotes, religiosas, religiosos e seminaristas, na Catedral, mantendo um encontro ecumênico e inter-religioso no Centro Internacional Franciscano de Sarajevo. A viagem a este país predominantemente islâmico, que assistiu a violentos motins antigovernamentais no mês de fevereiro do ano passado[4], foi a primeira efetuada pelo Papa após a viagem à Jordânia, aos Territórios Palestinos e a Israel[5] e desde que, no Oriente Médio, tiveram início as perseguições maciças aos cristãos[6]. Por outro lado, a ida do Sumo Pontífice a Sarajevo também marcou o regresso de um máximo representante da Igreja Católica à capital da Bósnia e Herzegovina, desde que, em 1997, João Paulo II, ignorando as ameaças de assassinato, urgiu um maior diálogo entre os bósnios muçulmanos, os católicos croatas e os sérvios ortodoxos[7]. Na homilia proferida no Estádio Koševo, de Sarajevo, na presença de 65 mil pessoas, o Papa Francisco exortou os bósnios, mas também o mundo ao desenvolvimento de um esforço coletivo pela paz: “A guerra significa crianças, mulheres e idosos nos campos de refugiados; significa deslocamentos forçados; significa casas, estradas, fábricas destruídas; significa sobretudo tantas vidas destroçadas”[8]. Prosseguindo, Francisco apelou aos habitantes de Sarajevo: “Bem o sabeis vós, que experimentastes isto mesmo precisamente aqui: quanto sofrimento, quanta destruição, quanta tribulação! Hoje, amados irmãos e irmãs, desta cidade ergue-se mais uma vez o grito do povo de Deus e de todos os homens e mulheres de boa vontade: Nunca mais a guerra!”[9]. Apesar de ter tido um caráter religioso, a visita papal levantou um conjunto de questões políticas. As fortes relações do Vaticano com a Igreja Católica bósnia têm suscitado discussões em torno da posição da Santa Sé acerca da criação de uma terceira entidade política, que represente a minoria de croatas-bósnios[10] na Bósnia e Herzegovina[11]. Por outro lado, o anúncio do estatuto das polêmicas aparições marianas de Medjugorje[12], que estava previsto para finais de 2014, ainda não foi publicamente divulgado[13]. O Vaticano comunicou que a investigação havia sido concluída, estando os resultados em mãos do Papa desde janeiro de 2014[14]. Em entrevista coletiva concedida aos jornalistas que acompanhavam o Papa Francisco no voo de regresso a Roma, após a visita a Sarajevo, o Sumo Pontífice teve a oportunidade de esclarecer: “nós estamos no momento de tomar decisões... e então elas serão anunciadas... mas apenas algumas diretrizes serão dadas aos Bispos acerca das decisões que eles irão tomar”[15]. Para lá das questões políticas e religiosas, a visita do Papa Francisco a Sarajevo teve alto significado, contribuindo para reafirmar as ligações do Vaticano com a região. Analistas da Igreja 2/5

CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil

na Bósnia tiveram o ensejo de enfatizar que a presença do Papa foi socialmente relevante Católica http://www.jornal.ceiri.com.br no âmbito do cuidado e preocupação para com os socialmente mais desfavorecidos. A presença de Francisco na cidade-mártir de Sarajevo constituiu, portanto, um clamor contra a apatia social e, também, um “olhar para o futuro com esperança”[16]. ----------------------------------------------------------------------------------------------Imagem “O Papa Francisco durante a missa no estádio Koševo, de Sarajevo” (Fonte): http://static2.businessinsider.com/image/5572d275eab8eab11259c283/pope-francis-says-he-senses-anatmosphere-of-war-in-the-world.jpg ----------------------------------------------------------------------------------------------Fontes Consultadas: [1] Ver: http://www.ohr.int/dpa/default.asp?content_id=380 [2] Ver: http://w2.vatican.va/content/francesco/it/messages/pont-messages/2015/documents/papafrancesco_20150602_videomessaggio-sarajevo.html [3] Em 2013, o Bispo Auxiliar de Sarajevo, Dom Pero Sudar, “apelou aos católicos americanos para pedirem ao Governo dos Estados Unidos para repensar o formato imposto em 1995 pelos Acordos de Dayton. Com efeito, o entendimento de Dayton sancionou a divisão da Bósnia em duas entidades separadas: a República Srpska, dominada pelos ortodoxos sérvios, e a Federação da Bósnia e Herzegovina, agora sob controle dos muçulmanos bósnios. Studar afirma que a mensagem básica de Dayton é a de que ‘há espaço no país unicamente para dois povos, não para três’ – excluindo os católicos. O impacto foi dramático. Em 1992, existia quase 1 milhão de católicos na Bósnia e Herzegovina [...]. Hoje, Dom Pedro Sudar afirma que sobram unicamente 460 mil, o que significa que a presença católica foi cortada pela metade, na qual a maioria que ficou considera estratégias de saída”. Ver: http://ncronline.org/blogs/ncr-today/bosnian-bishop-says-us-policy-fueling-catholic-exodus [4] Ver: http://www.theguardian.com/world/2014/feb/07/bosnia-herzegovina-wave-violent-protests [5] Ver: http://www.jornal.ceiri.com.br/o-papa-na-terra-santa-visita-pastoral-com-significado-politico/ [6] Ver: http://www.reuters.com/article/2015/02/01/us-pope-bosnia-idUSKBN0L51HD20150201 [7] Ver:

3/5

CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil

http://www.reuters.com/article/2015/02/01/us-pope-bosnia-idUSKBN0L51HD20150201 http://www.jornal.ceiri.com.br [8] Ver: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150606_omeliasarajevo.html [9] Ver: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150606_omeliasarajevo.html [10] “O movimento nacionalista croata emergiu na Bósnia em agosto de 1990, com a formação da União Democrata Croata da Bósnia e Herzegovina (Hrvatska Demokratska Zajednica Bosne i Hercegovine, HDZBiH). Na Croácia, um partido com o mesmo nome foi criado em junho de 1989, tendo ganho as primeiras eleições multipartidárias de abril-maio de 1990; seu líder, Franjo Tudjman, se tornou o primeiro Presidente da Croácia. As ligações entre os dois partidos eram fortes e Zagreb desempenhou, frequentemente, um papel proativo na política interna do HDZ bósnio”. Ver: http://pesd.princeton.edu/?q=node/241 [11] A República Croata da Herzeg-Bósnia foi uma entidade não-reconhecida na República da Bósnia e Herzegovina, que existiu entre 1991 e 1994, durante a Guerra Civil da Bósnia. Ela foi proclamada em 18 de novembro de 1991 com o nome Comunidade Croata de Herzeg-Bósnia, alegando ser distinta “política, cultural, econômica e territorialmente” do território da Bósnia e Herzegovina. A Herzeg-Bósnia deixou de existir em 1994, quando foi remetida para a Federação da Bósnia e Herzegovina, após a assinatura do Acordo de Washington pelas autoridades da Croácia e da Bósnia e Herzegovina. (Cf. AAVV, Judgement of Julgamento de Mladen Naletilic, aka “TUTA”, And Vinko Martinovic, aka “ŠTELA”, s. l., United Nations – International Tribunal for the Prosecution of Persons Responsible for Serious Violations of International Humanitarian Law Commited in the Territory Former Yugoslavia Since 1991, 31.03.2003): http://www.icty.org/x/cases/naletilic_martinovic/tjug/en/nal-tj030331-e.pdf Ver, também, INA VUKIC, “Towards A Croatian Entity In Bosnia And Herzegovina”, Croatia, The War, And The Future. Disponível online: http://inavukic.com/2014/07/13/towards-a-croatian-entity-in-bosnia-and-herzegovina/ [12] Ver: http://medjugorje.ie/files/DECLARATION-OF-THE-EX.pdf [13] Ver: http://www.balkanalysis.com/bosnia/2015/02/09/bosnians-await-pope-francis-june-2015-visit/ [14] Ver: http://www.news.va/en/news/commission-to-submit-study-on-medjugorje [15] Ver: 4/5

CEIRI NEWSPAPER O Principal Portal de Relações Internacionais do Brasil

http://www.catholicnewsagency.com/news/pope-talks-medjugorje-coming-encyclical-on-return-fromhttp://www.jornal.ceiri.com.br bosnia-36240/ [16] Ver: http://www.osservatoreromano.va/pt/news/do-confronto-ao-encontro

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

5/5

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.