A voluptuosidade do nada (capa e apresentação do Gustavo Bernardo)

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Gustavo Bernardo

Vitor Cei, doutor em Estudos Literários pela UFMG, com PDSE na Freie Universität Berlin, é líder do grupo de pesquisa Ética, Estética e Filosofia da Literatura (UNIR/ CNPq) e professor do Departamento de Línguas Vernáculas da Universidade Federal de Rondônia.

Vitor Cei Historicamente, a obra de Machado de Assis tem sido classificada como pessimista e niilista, embora raramente sejam examinadas as premissas que orientam essa classificação. Este livro oferece uma interpretação divergente e original, defendendo que o niilismo é um motivo condutor dos romances machadianos, de Memórias póstumas de Brás Cubas a Memorial de Aires, aparecendo como perspectiva a ser galhofada. Apoiando-se em leituras de Blaise Pascal, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e outros filósofos, Vitor Cei busca demonstrar o quanto, na realidade, a ficção machadiana se distancia das concepções tradicionais de pessimismo e niilismo, na medida em que as aborda com a pena da galhofa. Desse modo, revela noções conceituais como “arquitetura de ruínas”, “ascetismo gamenho”, “condição casmurra”, “modernidade capenga”, “modernidade de caranguejo”, “viúva de Deus” e “voluptuosidade do nada”.

A VOLUPTUOSIDADE DO NADA

liza para estabelecer essa conjugação é a ironia socrática. Ao dizer “só sei que nada sei”, Sócrates ao mesmo tempo formula uma contradição e a desfaz. Com isso, funda nada menos do que a ironia superior, também conhecida como “filosofia”. Quando Machado se apropria dessa ironia a ponto de alimentar não menos do que todas as suas frases com ela, ele funda a literatura brasileira (não, não foi José de Alencar o responsável por essa efeméride) e refunda a literatura ocidental. Tal ironia, Vitor parece carregá-la no próprio sobrenome: (sei...). Brincadeira à parte (não muito), Vitor Cei escreve um livro que é desde já referência obrigatória nos estudos machadianos, tanto nas faculdades de Letras quanto nas faculdades de Filosofia. Cabe ao leitor e à leitora não bobearem, lendo-o o quanto antes.

Vitor Cei

A VOLUPTUOSIDADE DO NADA Niilismo e galhofa em Machado de Assis

O

livro de Vitor Cei faz três reivindicações: que a obra de Machado de Assis conjuga filosofia e literatura de maneira indissociável; que o niilismo domina a cena cultural ocidental no século XIX; que Machado de Assis demonstra consciência aguda da complexa presença do niilismo no seu tempo. Ao desdobrá-las, Vitor não apenas esculpe uma pedra preciosa da fortuna crítica machadiana, como ainda formula questões centrais para o nosso tempo, ou seja, para o desastrado começo do século XXI. Em relação à obra de Machado de Assis, Vitor supera com rara inteligência o equívoco recorrente que atribui a condição de “realista” ao autor que afirmou, textualmente, que “a realidade é boa, o realismo é que não presta para nada”. O realismo, de fato, supõe o controle do que não se pode controlar e o saber do que não se pode saber. Nesse sentido, o realismo mostra-se uma espécie de disfarce do próprio niilismo. Machado entende muito bem que, para combater o niilismo, é preciso combater o realismo, bem como vice-versa. Para fazer esse duplo combate, o nosso escritor maior recorre exatamente à conjugação de filosofia e literatura observada por Vitor Cei. O recurso de estilo, ou melhor, a ferramenta do pensamento que Machado uti-

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