A voz de Aalto 2006

June 4, 2017 | Autor: Emília Ferreira | Categoria: Design
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A voz de Aalto 2006 Emília Ferreira1

“Algo que usamos todos os dias deve adequar-se ao humano em todos os sentidos.” Alvar Aalto, 1967

Parecendo que não, já lá vão 70 anos desde que o arquitecto e designer finlandês Alvar Aalto criou as célebres jarras cujas formas onduladas evocavam os lagos do seu país natal. Quem nunca cobiçou essas jarras que ponha o dedo no ar. Já sabendo que seriam mais os que sonham com elas do que os outros, a Iittala resolveu lançar um repto a designers de todo o mundo para que se inspirassem nas famosas formas ondulantes e dessem largas à imaginação. Eis algumas das propostas que daí resultaram. E algumas novidades mais.

O projecto Alvar Aalto tinha um conceito englobante da arquitectura, como um modo de viver. Por isso, para além de desenhar edifícios, mobilou-os, iluminou-os e equipou-os nos mais ínfimos detalhes. Entre a sua vasta produção como designer destacam-se as jarras Aalto. Criadas em 1936 e apresentadas no ano seguinte na Feira Internacional de Paris, as suas formas fluídas, orgânicas, encantaram pela versatilidade de uso, pelo inesperado. Pôr flores numa jarra nunca mais foi o mesmo. Como uma maré, o acaso passou a conduzir a posição das flores, até das pétalas caídas. Esse conceito de design, humanizado, fez o sucesso desta peça cuja produção se mantém até hoje, com a garantia de 1

Texto publicado na Revista MID, 2006.

qualidade do vidro manual, um experto uso da tecnologia, e a novidade das propostas celebratórias, que a Iittala quis criar no septuagésimo aniversário de um dos mais emblemáticos, icónicos, produtos de design do século XX. Na verdade, o desafio da Iittala parte também de uma homenagem ao génio do arquitecto. Em 1939, Aalto tivera a ideia de criar um jornal semanal (“O Lado Humano”). Teria distribuição mundial, e nele especialistas internacionais discutiriam temas tão prementes como a construção do humanismo, nesses tempos conturbados. A II Guerra impediria a sua concretização, mas a ideia ficou. Em 2006, a pretexto dos 70 anos da famosa jarra, a Iittala repegou na ideia e sugeriu que o debate fosse formal e criativo, em torno das suas formas ondulantes. Alvar Aalto Hugo Alvar Henrik Aalto nasce a 3 de Fevereiro de 1898, em Kuortane. Formado arquitecto em 1921 pelo Instituto Tecnológico de Helsínquia, em 1923 estabelece-se em Jyväskylä, trabalhando logo a partir de 1924 com Aino Marsio, sua mulher e parceira. Em 1927, muda-se para Turku, onde ficará até 1933, ano em que regressa a Helsínquia. Em 1935 cria a Artek, a firma que se tornaria célebre pela produção de mobiliário e peças de design. Cedo reconhecido, a fama não isenta Aalto de alguns amargos de boca, que o farão reconhecer que “ninguém é profeta na própria terra”. Presidente da Associação de Arquitectos Finlandeses entre 1943-1958 (sendo seu membro honorário desde então), passa dois anos como docente nos EUA (1946-1948, Massachusetts Institute of Technology). Viúvo em 1949, volta a casar em 1952 com Elissa Mäkiniemi. Membro e depois presidente (1963-68) da Academia Finlandesa, desde 1955, morre a 11 de Maio de 1976, deixando um corpus notável, tanto na arquitectura como no design.

A colecção Assim, a jarra Aalto torna-se de novo o centro das atenções ao assumir o seu papel inspirador para outros tantos objectos. Em homenagem a uma forma que permanece tão fresca como quando foi criada, a Iittala recriou-a. Agora podemos encontrá-la em vidro de várias cores, em loiça exteriormente branca com o interior ricamente colorido em plurais propostas cromáticas. Quanto à forma, vêmo-la alta, baixa, mais esguia ou mais larga, transformando-se em tabuleiro ou em travessa, e até em forma, ou ainda em couvette humanizadora dos tradicionais cubos de gelo. Uma simples linha ondulante que se pode modelar de diversas maneiras e que já resulta num fascínio de décadas é agora revisitado. As cores são festivas (verdes, turquesas, amarelos, vermelhos ígneos) ou contidas (cinzas) ou nulas (transparência absoluta do vidro, como puro gelo). As formas permitem, como sempre, um arranjo personalizado das flores, mas também de muitas outras coisas, desde velas, a bolos, até à própria água, gelada. Como permitem, ainda, na transparência e na opacidade dos materiais, fruir o puro fascínio dessas linhas tão puramente desenhadas e ainda hoje feitas em moldes de madeira, usando os saberes tradicionais. Esse traçado orgânico e depurado que permitiu dar asas à imaginação do utilizador, continua, ainda hoje, a tentar-nos, para darmos novos usos às mesmas singelas ondas. Interpretações Porém, para além das suas produções, a Iittala lançou um desafio internacional. E assim saídos da imaginação de vários designers de diferentes nacionalidades surgiram peças tão supreendentes como as botas concebidas pela criadora de moda finlandesa Hanna Sarén, um biombo da autoria da designer e interiorista japonesa Tomoko Azumi, e muitos outros que estão em processo neste mesmo

momento. As ondas misteriosas da jarra também conhecida por Savoy (por ter sido num hotel desta cadeia que foi usada pela primeira vez) inundam firmemente objectos até aqui insuspeitos. O biombo, que a sua criadora refere como um separador de divisões, concebido em papel, cuja flutuação acentua as linhas recortadas na superfície, resulta num feliz diálogo entre Ocidente e Oriente, ao remeter para as divisões das casas tradicionais nipónicas, feitas em papel de arroz. Quanto às botas, a sua designer afirma ter-se inspirado na filosofia de Aalto e na sua famosa frase “a natureza é o símbolo da liberdade”. Retirando da standardização infinitas possibilidades de variação, ela reinterpretou as ondas da jarra, adaptando-as ao calçado. “Como designer de moda é natural que tenha visto a forma da jarra como a abertura das botas”, conta Hanna Sarén. Calendário As comemorações com o nome genérico de “A voz de Alvar Aalto” têm tido eco em todo o mundo. Um enorme “coro” de eventos canta o seu fascínio pelo famoso finlandês, organizando ou recebendo exposições sobre a sua obra. Assim, iniciadas em Janeiro último e prolongando-se até Julho, sucedem-se as homenagens. Na Finlândia está em cena uma peça de teatro sobre Aalto. O Museu Alvar Aalto pôs a circular por vários países a exposição “Casas de Alvar Aalto — Expressões intemporais”, na qual são mostrados 16 projectos de habitações unifamiliares, desenhadas entre 1920 e 1970, revelando o modo como as suas propostas arquitectónicas evoluíram, mantendo contudo um cunho pessoal. Esta mostra que já começou no Museu Nacional de Jacarta e seguiu para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, passará ainda pelo Instituto Coreano para a Promoção do Design, e terminará na cidade de Penedo, Brasil. Siga o calendário em: http://www.aaltosvoice.com/av/aaltos_voice.php. Em Itália, o Museu Regional de Messina organiza uma exposição de design finlandês, enquanto o Museu do Design de Helsínquia relembra em “Pérolas de Vidro” os 125 anos da Iittala. Em Julho é a vez de o 10º Simpósio Internacional

Alvar Aalto, que terá lugar em Jyväskylä, Finlândia, debater a questão “Mais e Menos, Expandindo o racional em arquitectura”. Contando com arquitectos e artistas, o encontro promete. Saiba mais em http://www.alvaraalto.fi/symposium/2006/ e não deixe de juntar a estas a sua voz.

Take part Que mais resta dizer? Que o desafio continua em aberto. A Iittala convida. Se está na onda, não deixe de participar. Deixe a sua imaginação fluir. Quem sabe se não criará também um novo clássico?

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