A voz e o fenômeno - Derrida

Share Embed


Descrição do Produto

        La voix et le phenomène    PUF, 1998   Derrida                                                        

Segundo  Derrida,  Husserl  foi   um  dos primeiros  a denunciar a confunsão do termo ‘signo’ dentro  do  cotidiano;  e  por  vezes  na  linguagem filosófica recobre conceitos heterogêneos: uma noção de  expressão  (​ Ausdruck)  que,  seguidamente,  é  tomado  como  sinônimo  de  signo;  e  outra  de  índice  (​ Anzeichen​ ).  Assim,  de  acordo  com  Husserl,  o  signo,  em  si,  não  significa  nada,  pois  ele  não  transporta  nada  que  possamos   chamar  de  ​ Bedeutung  ​ (significado)  ou  de  ​ Sinn  ​ (sentido).  Entretanto, Derrida  diz que isso não representa que um signo não apresenta sentido, mas que esse  sentido  vai  depender  de   suas  primeiras  ‘distinções  essenciais’  produzidas  no  interior  da   linguagem.  Nesse  sentido,  Husserl  compreende  que  todo  signo  comporta  uma  capacidade  expressiva,  um  lugar  irredutível  dentro  das  possibilidades  do  discurso  falado.  A  expressão  é um  signo  puramente  linguístico  e  isso  que  distingue,   em  primeira  análise,  do  índice.  E  como  o  discurso  torna­se  uma  estrutura  tão  complexa,  comportando  sempre,  uma camada indicativa que  com  grande  esforço  contém  seus  limites.  Husserl  reserva  a  exclusividade   do   sentido  a  expressividade  e, portanto,  a lógica pura.  E que para entendermos a noção de signo, dentro dessa  problemática,   devemos  distinguir  entre  sua  essência,  sua  função  e  sua  estrutura  essencial,  consequentemente,  percebermos  o  signo  em  sua  dimensão  indicial  e  o  signo  em  sua  dimensão  expressiva.  Assim,  Derrida  realiza  uma  tradução  do  termo  ​ bedeutung  ​ (significado)  pela  expressão  querer­dizer  que  se  constitui  naquilo  que  um  sujeito  falante  queira  dizer  para  assegurar  o  conteúdo discursivo ou o sentido do discurso.   Derrida  compreende  que  todo  signo  discursivo  é  enredado  por  um  sistema  indicativo,   isto  é,  contaminado  pela  pureza  expressiva  e  lógica  do  ​ Bedeutung  que  Husserl  aponta  como  possibilidade  do  Logos.  E  que  para  Husserl,  a  comunicação  torna­se  uma  camada  exterior  a da  expressão,  mesmo  que  uma  expressão  comporte  um  valor  de  comunicação,  esse  valor  não  se  apoia em si mesmo, mas é apenas um valor associado à expressão. 

 

Derrida  aponta   que  assim  toda  expressão  acaba  por  se  tornar  um  processo  indicativo,  isto  é,  tentar  compreender  um  signo  expressivo  em  uma  espécie  de  índice,  pois   todo  signo  não  sugere  nada  em  si,  mas  reenvia  para  um  outro  lugar,  uma espécie de estar no lugar de, uma estrutura de  substituição  que se torna inteligível, uma heterogeneidade entre o espaço  indicativo  e expressivo.  Assim,  o  objeto  de  análise  de   Huserl  torna­se  a  logicidade  da  significação.  Derrida  compreende  que  o  ​ Bedeutung  ​ torna­se  uma  questão  linguística  que  pressupõe  a  possibilidade  de  verdade  tendo  como  premissa  a  unidade  do  signo.  Assim,  os   estudos   husserlianos  se  desenvolvem numa  trajetória  de  constituição  dos  sentidos  através  dos  signos  sobre  o  terreno  da  vida,  ou  seja,  confirmando a presença de uma ontologia clássica dentro da fenomenologia.     Capítulo 2   A Redução do índice     

 

O  pertencimento  do  índice  se  revela  sem  dúvida  no  tema  que  revelaremos:  a  exterioridade  do  índice  à  sua  expressão.  Husserl  dedica  três  parágrafos  a  essência  do  índice  e  um  capítulo para a  expressão.  A  expressão,  na  lógica  de  Husserl,  apresenta­se  na  originalidade  do  querer­dizer  e  como  relação  ao  objeto  ideal,  e  o  tratamento  dado  ao  índice  deve  ser  breve,  preliminar  e  ‘redutor’.  De   acordo  com  Husserl,  o  índice  deve  ser  concebido  como  um  fenômeno  externo  e  empírico  que  unido à  expressão. Entretanto, Derrida discorda da posição de Husserl em relação à  subordinação  do  índice  e   acredita  que  o  índice  não  se  adere  simplesmente  à  expressão,  mas  habita na intimidade de seu movimento.   Mas  o  que  se  considera  um  signo  indicativo?  Pode  ser algo natural como os canais de Marte que  podem  indicar  a  presença  e  seres  inteligentes,  mas  também  podem  ser  artificiais  como  a  marca  de  im  giz  ou  outros  instrumentos  de  designação  convencional.  A  oposição  entre  natureza  e  instituição  não  tem pertinência e não divide a unidade da função indicativa.  Qual é essa unidade?  Husserl  descreve  como  uma  certa  motivação  que  dá  movimento  a  alguma  coisa  como  um  ‘ser  pensante’  para  passar  pelo  pensamento  de  uma  coisa  a  outra.  Essa  passagem  pode  ser  por  convicção ou presunção e ele sempre liga um conhecimento atual a um conhecimento não atual. 

Husserl  usa  três  conceitos  para  recobrir  o  ser,  a  estrutura  dos  objetos  ideais,  e   a  existência  empírica  (Sein,  bestehen,  Bestand),  conceitos  fundamentais  para  compreensão  da  obra  de  Husserl que não se reduzem  ao Desein, existieren e Realität.  Entretanto,  destacamos  que  Husserl  acredita  numa  existência   de  uma  camada  pré­expressiva  e  pré­linguística  do  sentido,  e  que  não  há  expressão  ou  querer­dizer  sem  discurso,  e  que  a  totalidade do discurso é tomoda dentro de uma trama indicativa.     Capitulo 3  O querer­dizer como solilóquio     De  acordo  com  Husserl,  a  expressão  é uma exteriorização, ela imprime um certo sentido externo  que  se  encontra   de  início  numa  interioridade.  Esse  externo  não  corresponde  a  natureza,  nem  ao  mundo  exterior  em  relação  à  consciência.  Esse  sentido  visa  a  uma  exterioridade  que  é  o  objeto  ideal.  A  expressão  como  signo  do  querer­dizer  é,  portanto,  uma  dupla  saída   do   sentido.  A  expressão  é  uma  exteriorização  voluntária,  decidida,  consciente  de  parte  a parte, intencional. Na  expressão,  a  intenção  é  expressa  porque  ela  anima  uma  voz  que  pode ficar no interior e exprime   uma exterioridade, isto é, uma idealidade não existente no mundo.  Assim,  tudo  que  constitue  a  efetividade  da  pronúncia, a incarnação física  do  Bedeutung, o corpo  da  fala,  aquilo  que  pertence  a  uma língua empiricamente determinada, a intenção sem a qual não  haveria  discurso.  Toda  a camada efetivamente empírica , isto é, a totalidade factual do discurso é  indicativo  não  apenas  no  mundo.  O  ​ Bedeutung  se  opõe  ao  Geist​ ,  isso  explica  tudo  que  escapa a  pura  intenção  espiritual,  por  exemplo,  o  jogo  de  fisionomia,  o  gesto,  a  totalidade do corpo e sua  inscrição mundana, uma palavra para a totalidade do visível e do espacial como tais.  

Nesse  sentido,  Husserl  compreende  que  não é suficiente reconhecer apenas o discurso oral como  meio  de  expressividade,  uma  vez  que  excluímos  todos  os  signos  não­discursivos  exteriores  a  palavra  (gesto,  jogo  de  fisionomia,  etc.),  isto  é,  é  necessário  entrar  no  interior  da  palavra  e  reconhecer  a  sua amplitude considerável (o signo sensível, o complexo fônico articulado, o signo  escrito  sobre  o  papel)  .  A  simples  distinção  entre  o signo físico e os vivenciados que conferem o  sentido não é suficiente, sobretudo se desejamos compreender os fins lógicos.  Assim,  segundo  Derrida,  tudo  que  é  presente  em  meu  discurso  é  destinado  a  manifestar   uma  experiência  vivida  a  outro,  deve  passar  pelo  mediação  física.  Essa  mediação  irredutível  engaja  uma  operação  indicativa.  Aqui,  nos  aproximamos  das  raízes  da indicação, ou seja, uma intenção  animadora,  a  espiritualidade  viva  de  querer­dizer. A compreensão recíproca requer precisamente  uma certa correlação de atos físicos que se empregam dos dois lados.    Capítulo 4  O querer­dizer e a representação   Neste  capítulo,  Derrida  enfatiza  os  problemas  conceituais  sobre  a  ideia  de  representação  e  do  índice  no  discurso  interior,   pois  o  índice  é  imediatamente  presente  ao  sujeito  no  instante  presente.  Devemos  compreender  a  representação  em  suas  duas  dimensões  básicas:  uma  como  sinônimo  de  Vorstellung  (ideia  ou  noção)  e  outra  de  re­presentação,   isto  é,  estar  no  lugar  de  outro em sua duplicidade, como uma repetição ou  reprodução da presentação.    Portanto,  no  monólogo  não  comunicamos  ou  falamos  algo,  apenas  representamos  nós  mesmos  como  seres  comunicantes   e  falantes  no  mesmo  instante  de  fala,  supondo  o  signo como estrutura  de  repetição  cujo  evento  possa  oferecer  uma  unidade  empírica  irreversível  e  insubstituível.  O  signo  pode  ser  repetido  independente  das  deformações  que  o  evento  possa   necessariamente  desenvolver.   

Assim, de  acordo  com  Husserl,  a diferença entre realidade e representação, entre verdade  e imaginário, entre a presença simples e a repetição começou desde sempre a se apagar. A  manutenção entre a diferença na história da metafísica e ainda em Husserl, não foi apenas  um  desejo  obstinado  de  salvar  a  presença  e  reduzir  o  signo.  Com  a  diferença  entre  a  presença  real  a  a  presença  na  representação  como em Vorstellung ,  na  linguagem, é  um  sistema que está encadeado na mesma desconstrução entre: significado e significante.  Assim,  Husserl  compreende  a  imaginação  e  a  imagem  como  a  reprodução  de  uma  presença,  mesmo  que  o  produto  seja  um  objeto  puramente  fictício.  A  imaginação  não  apenas  como  uma  simples  modificação  de  neutralidade,  mas  com  um  efeito  neutralizante,  uma  operação  que  visa  modificar a re­presentação como aquela da lembrança.    

 

 

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.