Ação Integralista Brasileira: seus reflexos em Juiz de Fora, um resgate historiográfico. In: Entre tipos e recortes: histórias da imprensa integralista

June 2, 2017 | Autor: L. Pereira Gonçalves | Categoria: Fascism, Methodism, Educação, Fascismo, Integralismo, Juiz De Fora
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Leandro Pereira Gonçalves Renata Duarte Simões Organizadores

E61

Entre tipos e recortes: histórias da imprensa integralista/ organizadores: Leandro Pereira Gonçalves, Renata Duarte Simões - Guaíba: Sob Medida, 2011. 432 p.

ISBN 978-85-62846-06-9 l. Integralismo; 2. Imprensa; 3. História do Brasil. I. Gonçalves, Leandro Pereira; lI. Simões, Renata Duarte. I. Título. CDU 070.18

Cip - Catalogação na Publicação Vanessa L de Souza CRBlOl1468

SUMÁRIO Prefácio Giselda Brito Silva

19 - A imprensa da Ação Integralista Brasileira em perspectiva Rodrigo Santos de Oliveira

47 - Imprensa oficial integralista: usos e ciclo de vida do jornal A Offensiva Renata Duarte Simões

83 - O conflito ítalo-etíope (1935-1936) no jornal A Offensiva: a solidariedade fascista, o valor dos "povos de cor" e a "civilização" Jaqueline Tondato Sentinelo e João Fábio Bertonha

105 - E o mundo reage: uma análise das percepções internacionais integralistas a partir do jornal A Offensiva (1934 - 1935) Murilo Antonio Paschoaleto

133 - A imprensa Integralista e o jornal Acção: vínculos ideológicos entre a extrema direita no início no século XX Jefferson Rodrigues Barbosa

165 - Acção: a lenta agonia de um jornal integralista (1937-1938) Renato Alencar Dotta

183 - Nas páginas da imprensa feminina: uma análise da revista Brasil feminino e da participação feminina no movimento do Sigma (1932-1937) Virgínia Maria Netto Mancilha

207 - Ação Integralista Brasileira: seus reflexos em Juiz de Fora, um resgate historiográfico Leandro Pereira Gonçalves e Maurício de Castro Corrêa 241- Páginas verdes: publicações da Ação integralista (AIB) no Estado do Rio de Janeiro Pedro Ernesto Fagundes

Brasileira

257 - A paixão militante e as mensagens comoventes: Integralismo no Paraná e o jornal A Razão Rafael Athaides

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287 - O jornal A Marcha e a estruturação da AIB em Petrópolis - RJ (1934) Alexandre Luís de Oliveira e Priscila Musquim Alcântara 305 - Ampliando o alcance da propaganda integralista: fotografias e textos na imprensa carioca (Fon-fonl, Diário de Notícias e A Noite Illustrada) Tatiana da Silva Bulhões 327 - A imprensa integralista no Pós-Guerra: os jornais Reação Brasileira, Idade Nova e A Marcha Gilberto Grassi Calil 355 - Os fios da memória integralista: o semanário A Marcha e a reinvenção do passado Rogério Lustosa Victor 379 - Integralismo: caricatura de si mesmo. Apontamentos sobre um projeto de análise das caricaturas integralistas do pós-guerra (1946 -1965) Rodrigo Christofoletti 405 - "Eis que desponta outro arrebol". O caminho traçado pelo boletim Alerta e o alvorecer da chamada 4 Geração integralista Márcia Regina Carneiro 3

Ação Integralista Brasileira: seus reflexos em Juiz de Fora, um resgate hístortográflco

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Leandro Pereira Gonçalves' Mauricio de Castro Corrêa'

Apresentação Na década de 1970, se alguém chegasse a algum centro de discussão e dissesse que era um pesquisador do integralismo, sem dúvida seria visto com um ar de desconfiança, principalmente por ser um momento em que o historiador tinha uma preocupação exaustiva com a História Social e Econômica. Não havia um olhar para a História Política, além do fato de estudar um pensamento voltado para a direita que não era comum, uma vez que vivíamos uma fase ditatorial de cunho direitista no Brasil. Estudar o integralismo é algo relativamente novo, mas que possui uma origem investigativa peculiar. O integralismo não era visto como algo histórico, o que é estranho, pois em plena década de 1970, quase 40 anos após a fundação da AIB, os pesquisadores não visualizavam o tema como algo de importância para compreender o desenvolvimento político do século XX. Assim, tal função ficou a cargo das Ciências Sociais, que

1 Este artigo traduz parte substancial da pesquisa "Ação Integralista Brasileira: seus reflexos em Juiz de Fora", apresentado por Maurício de Castro Corrêa, em 1973, na Universidade Federal de Juiz de Fora, sendo atualizada através de uma versão pautada por novos componentes investigativos trazidos por Leandro Pereira Gonçalves, no estudo Tradição e Cristianismo: o nascimento do integralismo em Juiz de Fora, pesquisa publicada em SILVA, 2007. 2 Doutorando em História Social pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com estágio (Investigador Visitante Júnior) no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Professor do Curso de História do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF). 3 Autor da pesquisa realizada em 1973, "Ação Integralista Brasileira: seus reflexos em Juiz de Fora". Atualmente ocupa o cargo de Diretor de Relações Institucionais da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia). Foi jornalista da área econômica nos jornais: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil.

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até hoje são referências para qualquer pesquisador do tema. Não há pe~quisador que não tenha esbarrado em nomes como Hélgio Tnndade, José Chasin, Gilberto Vasconcellos ou Marilena Chauí. Alguns membros das ciências sociais, como Florestan Fernandes enxergavam, na década de 70, alguma importância em compreender o integralismo, não pelo movimento, mas pela relação política de de~esa pautada em um governo burguês para o Brasil, segundo o sociólogo, um Estado de direito burguês no momento do regime militar: Hoje está na moda dizer-se que se deve estudar o integralismo. Não compartilho dessa opinião. Nem mesmo devemos nos preocupar em destruÍ-lo. Os integralistas desempenharam o papel histórico de cavalheiros de triste figura no seio do pensamento conservador e dentro da burguesia. Se merecem atenção não é tanto por eles próprios, quanto pelo fato de que o pensamento conservador e a burguesia dependente da periferia do mundo capitalista tenham precisado deles (FERNANDES, 1979, p. 11).

. .Sem ~úvida, o ponto. de partida para um pesquisador do mt.egrahsmo e o estudo reahzado pelo cientista político Hélgio Tnndade nos anos de 1967 a 1971 na Université Paris 1 (PanthéonSorbonne) denominado: L 'Action intégraliste brésilienne: un mouvement de type fasciste au Brésil. Com a conclusão a tese foi traduzi da e publicada no Brasil em 1974 sob o título: Inte~ralismo: o fascismo brasileiro na década de 30. Esse estudo promoveu a entrada da temática no meio acadêmico, sendo responsável por tomar conhecido o movimento, além de ter sido alvo de novas interpretações. Após o citado trabalho, houve o desenvolvimento de novas pesquisas acerca do integralismo dentro das ciências sociais tra?alhos que tiveram como aporte a crítica à tese de Hélgi~ Tnndade. A primeira pesquisa a contrapor o trabalho de Trindade foi o clássico estudo de José Chasin que, no ano de 1977 sob a orie~tação do Professor Maurício Tragtenberg, na Es~ola de Sociologia e Política de São Paulo, defendeu a tese de doutoramento O Integralismo de Plinio Salgado: forma de regressividade no capi~alismo. hiper-tardio. Nela criaram-se novas concepções para anahsar o mtegralismo de Plínio Salgado, questão que provocou

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diversos debates entre o autor e Hélgio Trindade. A tese foi publicada no ano de 1978 com o mesmo título e é considerada um dos principais elementos da historiografia contemporânea com o intuito de analisar o pensamento de Plínio Salgado dentro de uma concepção dialética lukacsiana. Ainda em 1977, ocorreu na Universidade de São Paulo a defesa da tese de doutorado intitulada Ideologia curupira: análise do discurso integralista, escrita pelo cientista social, Gilberto Felisberto Vasconcellos. Publicada em 1979, criou, sob a orientação do Professor Doutor Gabriel Cohen, uma terceira via de análise do pensamento integralista, remetendo a questõe~ relacionadas, ~o movimento modernista, grupo a que pertenceu o líder da AIB, Plínio Salgado.

. . Fechando as pesquisas e leituras referentes ao mtegrahsmo na década de 1970, tem-se o estudo da filósofa Marilena Chauí que, para o livro Ideologia e mobilização popular, da~~do de 197~, escreveu o capítulo Apontamentos para uma critica da Açao Integralista Brasileira. No artigo, a autora .promove. a conti~uidade da criação de novos modelos interpretatlvos do integralismo e, embasada no marxismo, elabora um estudo em que faz referência às classes contidas no movimento. A discussão do integralismo no âmbito regional também foi alvo de pesquisas na década de 1970, como pode ser observado por Bertonha. Na Ciência Política, René Gertz defendeu em 1977, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a dissertação O integralismo e os teuto-brasileiros no Rio Grande do Sul, influenciada diretamente pelo até então apontado precursor dos estudos regionais integralistas, Hélgio Trindade, que foi orientador da pesquisa. . O estudo de Trindade é referenciado pelos pesqmsadores do integralismo 4 como pioneiro, mas muitos esquecem ou ?esconheceI? a interessante pesquisa realizada no ano de 1973, na cidade de Juiz de Fora, por Maurício de Castro Corrêa. Vale notar a dat~ ~e realização, 1973, antecedendo o estudo do Professor H~lglO Trindade, que foi lançado no Brasil por volta de um ano depois. O estudo do então discente Maurício Corrêa, realizado na Universidade A informação é colocada pelos membros do GEINT e expressa em:BERTONHA, João Fábio. Bibliografia orientativa sobre o integralismo. Jaboticabal: Funep, 2010, p].

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Federal de Juiz de Fora, foi apresentado no 11°Prêmio de Pesquisa promovido pelo DCE da UFJF. Intitulada Ação Integralista Brasileira: seus reflexos em Juiz de Fora, a análise sobre a AIB na cidade do interior de Minas Gerais, destaca-se, principalmente, pela precocidade em relação aos pares e ainda por se tratar de um trabalho que aborda aspectos políticos num momento em que falar de política nas universidades de História era algo delicado. Mediante a existência do estudo praticamente desconhecido, na ocasião do IV Encontro de Pesquisadores do Integralismo, realizado em Juiz de Fora, ao lado do III Simpósio do Laboratório de História e Política Social da UFJF,5 o autor, Maurício de Castro Corrêa foi convidado e homenageado pelos organizadores, mostrando a importância de trazer ao conhecimento acadêmico uma obra realizada num momento em que investigações temáticas acerca do integralismo eram escassas. O estudo de Corrêa foi motivador de diversos outros estudos regionais desenvolvidos sobre o movimento em Juiz de Fora.6 Considerando tal aspecto, enxergamos a necessidade de trazer o conhecimento de pontos existentes na obra que fazem dela uma referência para o estudo da História Política Regional, uma vez que "As primeiras leituras bibliográficas sobre o integralismo confirmaram a inexistência de um completo estudo sobre a atuação deste movimento na cidade de Juiz de Fora" (GONÇALVES, 2007,

p.81). A pesquisa em questão é trazida ao conhecimento acadêmico dentro de uma perspectiva baseada nas fontes utilizadas, pois foi realizada em uma época em que o pesquisador tinha um grande acesso aos documentos da imprensa integralista na cidade, através dos periódicos: O Sigma, O Juvenil e A Reforma, jornais esses que estavam depositados no Arquivo Particular do ex-integralista e jornalista da cidade, Dormevilly Nóbrega." Outro fator que explica a Cf VISCARDI, CHRlSTOFOLETTI,

Cláudia Maria Ribeiro; GONÇALVES, Leandro Pereira; Rodrigo (Orgs.). Anais do IV Encontro Nacional de Pesquisadores do 1ntegralismo e 111 Simpósio do LAHPS Ideias e Experiências Autoritárias no Brasil Contemporâneo. Juiz de Fora: LAHPS Publicações, 2010. 6 GONÇALVES, 2004; AMÂNCIO, 2009. 7 Faleceu em 2003, foi secretário do jornal O Juvenil e possuía um dos maiores acervos particulares da região. Devido à inexistência de um bom armazenamento, muitos documentos foram perdidos. Em 2010 o material foi adquirido pela 5

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Cont. da nota anteriodr. I d J. de Fora para revitalização e organização. Cf: . .d de Fe era e UlZ, . J" Umversl a fifb IdircomJ2010104/16Iufjf-compra-acervo-do-Jorna ísta!1

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APTOS PARA ACADEMIADE EDUCAÇÃO: 1.644 hOMens.

Relatório apreendido pelo DOPS em Juiz de Fora Efetivo real dos núcleos da 17a Região de Minas Gerais Arquivo Público Mineiro - Fundo: Departamento de Ordem Política e Social.

foi instalar o núcleo daquele florescente distrito. Três caminhões superlotados conduziram os camisas-verdes que foram recebidos pela população de Paula Lima com as mais inequívocas provas de simpatia. Falara os camisas verdes: Luiz Moreira Bartholo, Wilson de Lima Bastos, Sebastião de Oliveira Salles, Abel Rafael Pinto e Juvenal Costa. Por último falou o Dr, Severino Buettemuller, Secretário Municipal. De Educação que deu como instalado o núcleo de Paula Lima. Perto de 40 pessoas se inscreveram (CORREIO DE MINAS, 12 novo 1935, p. 2).

A outra informação que recolhemos com relação ao núcleo de Paula Lima é a seguinte: Escola 7 de outubro O núcleo distrital de Paula Lima vem encetando, de há muito, um programa de realizações notáveis: ainda agora, compreendendo que o problema educacional é um dos fundamentais do Brasil, inaugurou a sua escola de alfabetização, à qual foi dado o nome do dia do lançamento do movimento do Sigma. Está a cargo do companheiro José Prudente a direção da mesma (O SIGMA, 26 jan. 1937, p. 2).

9.2) O núcleo de Santos Dumont 9.1) O núcleo de Paula Líma'"

o núcleo de Paula Lima estava subordinado ao de Juiz de Fora. Quanto à instalação e funcionamento deste núcleo não temos muitas informações, em virtude da sempre observada carência de fontes. Contudo, o Correio de Minas publicou a seguinte nota: Domingo último (10 de novembro de 1935) seguiu para Paula Lima uma numerosa bandeira/" de integralistas, organizada pela Secretaria Municipal de Propaganda desta cidade, que ali

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m rvisao administrativa, o distrito de Paula Lima pertencia ao município de Juiz de Fora. an eiras era como se chamavam as caravanas integralistas que iam de cidade para Cidade,prinCipalmente,com fins de propaganda.

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Santos Dumont, com 600 membros (ernjaneiro de 1937), foi o mais importante núcleo da 17a Região, depois de !uiz de. Fora. A Chefia Municipal daquele núcleo estava a cargo do industrial Pedro Boecke: Cultuando a memória de Santos Dumont Por ordem do Chefe Municipal, reuniram-se a 23 deste 'dia da asa', em Santos Dumont, terra que viu nascer o Pai da A viação, os integralistas da 17a Região de Minas, que em tocante solenidade levada a efeito na noite daquele mesmo dia, no núcleo daquela cidade, comemoraram condigname~te a grande data. Representou o Chefe Nacional o companheiro deputado Jeováh Motta, tendo sido o Chefe Provin~ial representado pelo companheiro Lafayette Soares ~erelra. Como orador oficial da solenidade; falou o companheiro San Entre tipos e recortes: histórias da imprensa integralista

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pontos da doutrina integralista (O SIGMA, 8 dez. 1936, p. 2). Thiago Dantas, Secretário Nacional de Imprensa [...] A fim de tomar parte nas homenagens prestadas a Santos Dumont seguiu para a vizinha cidade, dia 23, à noite, a nossa Escola de Educação Física e Cívica, com um número aproximado de 120 homens (O SIGMA, 27 out. 1936, p. 4).

Pela ação direta do núcleo de Santos Dumont foi instalado ~ núcleo integralista na pequena localidade de Dores 'do Paraibuna situada naquele município: ' Os .camisas-verdes visitaram aquele próspero distrito, dorrungo p.p. para presenciarem a inauguração da nova sede do Núcleo local. A 'bandeira' dos integralistas de Santos Dumo~t, composta de quase 40 companheiros, chegou a ~?r~s a 1 hora da tarde, sendo festivamente recebida [...] Foi iniciada a sessão doutrinária, precedida pela inauguração do retrato do ~hefe Nacional, de acordo com o ritual integralista. Em eloq~entes o~ações falaram então ao povo os co~panhelros Hennque da Rocha Freire, Hilda da Rocha Freire e Cesário Dulce, todos Secretários Municipais de Santos Dumont. Após a palavra dos oradores integralistas teve lugar então a cerimônia de juramento dos novos companheiros (O SIGMA, 1 dez. 1936, p. 2).

. .Logo após a visita dessa caravana a Dores do Paraibuna, os mt:grahstas de Santos Dumont lançaram as bases do núcleo de São Joao da Serra: Domingo p.p. de 29 de novembro, a Secretaria Municipal de Propagan~a de. Santos Durnont, a cargo da esforçada companheira Hilda Rocha Freire, promoveu uma excelente 'bandeira' ao populoso distrito de São João da Serra. Não obst~nte quase nenhuma propaganda ter sido feita previamente, a sessão realizada na Serra teve uma numerosa assistência. Em palavras eloqüentes, falou inicialmente ao po~o .de São João da Serra o companheiro Dr. Mário de Oliveira ~~ves, di~sertando sobre o comunismo. Em seguida, a Secretana Municipal de Propaganda Hilda Rocha Freire produziu uma feliz oração, em que retratou ao vivo as misérias do regime liberal-democrático. Encerrando a reunião, .falou representante do Chefe Municipal, companheiro Cesano Dulce, que discorreu sobre diversos

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A localidade de Ewbanck da Câmara também foi objeto de propaganda fascista: Ewbanck da Câmara foi um lugar onde o Integralismo vinha lutando há mais de um ano, num indiferentismo quase desanimador. Ali, íamos todas as semanas, mostrar aqueles brasileiros o único caminho para a salvação de nossa Pátria, e somente agora é que colhemos os primeiros frutos de nosso esforço, pois conseguimos que 28 brasileiros se inscrevessem nas fileiras do Sigma. No sentido de dar maior impulso àquele Núcleo Distrital, organizamos uma 'bandeira', no dia 27 de dezembro p.p. composta de 42 integralistas e 70 plinianos; esses, comandados pelo companheiro José Gonçalves Dias, desfilaram pelas ruas de Ewbanck da Câmara com garbo e disciplina [...] Encerrando a reunião, falou o chefe municipal do Núcleo de Santos Dumont, companheiro Pedro Boecke, que em entusiásticas palavras, historiou o nosso movimento, mostrando aos brasileiros que nos ouviam o esforço heróico desse grande patrício que é o nosso Chefe, no sentido de despertar no coração dos filhos desta grande Pátria, o amor patriótico. Como de costume, foi cantado o Hino Nacional (O SIGMA, 12 jan. 1937, p. 4).

9.3) O núcleo de Mercês Também o município de Mercês estava subordinado à jurisdição da 17a Região da Ação Integralista, em Minas Gerais. Sobre este Núcleo recolhemos a nota que se segue: Posse do secretariado Em viagem de inspeção, esteve em visita à cidade de Mercês, o companheiro Severino Buettemuller, governador da 17" Região [...] No dia IOdo corrente, realizou-se na sede do núcleo, uma sessão solene, para a posse dos novos secretários municipais. Ás 20 horas, o salão do núcleo estava repleto, quando o Chefe Municipal, Amadeu Bozo, abriu a sessão, convidando para presidi-Ia o Governador da Região. Em seguida, foram lidos os decretos do Chefe Municipal, nomeando para os cargos de Secretário Municipal de Entre tipos e recortes: histórias da imprensa integralista

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Propaganda, o companheiro Orestes Barros de Almeida de Secretário Municipal de Serviços Eleitorais, o companheiro José . Carlos Motta; de Secretária Municipal de Arregimentação Feminina, a companheira RacheI Garcia de Almeida; de Secretário Municipal de Finanças, Francisco de Paula Cunha (O SIGMA, 9 novo 1936, p. 2).

10) Irracionalismo . .Como resultado do intenso trabalho de propaganda, os mtegrahstas de Juiz de Fora arregimentavam sempre novos membros para o núcleo local, fazendo com que a sede da Galeria Pio X, n. 24, sala. 1, não comportasse mais o número de membros do movimento. Assim, em junho de 1935, a Ação Integralista mudou o local de sua sede, transferindo-se para a Rua Halfed, n. 405, onde funcionava o Clube dos Planetas. Nesse ínterim, a oposição ao Integralismo fora calada com o fechamento da Aliança Nacional Libertadora. Ficava, dessa forma a Ação Integralista, inteiramente livre para desenvolver suas ideias t~talitárias. Porém, vencida a oposição da Aliança Nacional Libertadora, surgiram outros focos de oposição ao fascismo caboclo. Esses fragmentos de contrariedade davam origem a enérgicos protest?~ dos representantes integralistas, chamados, pelos seus adversanos, de galinhas-verdes: Um protesto de alguns representantes da mocidade estudantina Tendo sido distribuído, nesta cidade, um boletim anônimo, em que se procura conclamar os estudantes de Juiz de Fora para o :movimen.to liberal anti-integralista', nós mocidade estudantma de Juiz de Fora, vimos, em nome da dignidade dos . moços des.ta terra, intimar os dirigentes daquele movimento ~ assmarem o que escreveram, como nós agora o fazemos; pOIS, até agora, não os acreditamos estudantes nem homens dignos: são da escola de Assis Chateaubriand da escola dos ~ue usam da mentira, da calúnia, do anonimato, par~ encobrir os seus fins comunistas; são dos que escrevem, a pixe, no~ muros da cidade, 'morra o lntegralismo, viva P~estes; sao aqueles que figuram na Aliança Nacional Libertadora e que, por isso, perseguem o Integralismo, único

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empecilho aos seus fins bo1chevistas. Que o Diário Mercantil retire o título: Une-se a mocidade culta. Não sabemos quem se reúne, pois não assinaram. Nós, estudantes, lhes negamos a qualidade de estudantes; também lhes negamos a cultura, coisa incompatível com a imbecilidade de atitudes. O 'Diário Mercantil' veicula todas as notícias referentes a esse movimento contra o Sigma e chefia essa campanha covarde nesta cidade. Tem razão. Até hoje, o Sr. Chateaubriand não provou a procedência dos seus dinheiros. Convidamos todas as pessoas sensatas a não mais comprarem esse jornal mentiroso, órgão do comunismo (grifo nosso). E se esses pseudos estudantes o são de fato, e têm a cultura que apregoam, venham contra nós, dentro de nossas próprias escolas porque CULTURA SE PROVA! Por Deus, pela Pátria e pela Família. Juiz de Fora, 20 de junho de 1936. (ass.) Abel Rafael Pinto (Instituto Comercial Mineiro), Geraldo Barroso Rodrigues (Colégio São José), Manoel Augusto Torres (Academia de Comércio), Luiz Milazzo (Granbery), Wilson de Lima Bastos (Escola de Medicina), José Joaquim Monteiro de Castro (Escola de Engenharia), Geraldo Monteiro de Castro (Escola de Veterinária) e Ricardo Arcuri (Escola de Odontologia) (CORREIO DE MINAS, 23 jun. 1936, p. 5).

o irracionalismo no manifesto acima é mais do que patente. Afinal, chamar o Diário Mercantil de "órgão do comunismo", realmente, não é consequência de uma situação normal. O fanatismo direitista chegou a tanto que se fizeram afirmações dessa natureza, confundindo completamente as preferências ideológicas de cada segmento. Uma afirmação totalmente sem sentido, destituída de toda e qualquer veracidade. Outro manifesto que demonstra forte oposiçao aos integralistas e convoca a "mocidade" a lutar contra o movimento foi redigido por membros da União Democrática Estudantil de Juiz de Fora. O documento direciona um apelo aos estudantes "mineiros" para que defendam a democracia, a liberdade e a cultura, inadimitindo a submissão de pensamento ao Chefe.

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ESTUDANTES . A mocidade Intelectual e estudiosa do Brasíl agltase contra o extremismo verde. E' preciso que nós, estudantes de Juiz de Fõra, cerremos lIIelra é seu ludo' na defeza da democracia' . pela IIbenJadee cultura' ' na luta contra o Integlailsmo. Por maís que se esforcem seus teorícos jatqels poderão convencer, as pessoas de mediana Int;ngencla que o tntegrattsmo seja uma doutrina "nacional". ' Quem Ignora que seu 'programa foi lançado depois que Plinlo Salgado viajou pela Italla O faclsmo s . ct I li ., ela vere. ti em o ou Italiano é uma e a mesma causa: reglmen de opressão. Nós, mineiros, temos nas velas o sangue de Tlradentes. o sangue de liberdade. Não nos sujeltarlamos a calar os nossos pensamentos e sermos guiados por um unlco.chefe. O homem inteligente não tem chefe, seu gula e o seu pensamento. . Queremos um governo illréto do povo. Queremos Deus como crença, como conforto ao nosso mundo interior, mas queremo-Iatamberfl separado do Estado co lez Ruy Barbosa na Constituição de 91.E para q~e e~~~ famllla no BraslJ nunéa se tez necessano o faclsmo Entretanto, como as vezes o diabo se faz ermítão eles pretendem fazer a regeneração social em nome d -Deus, patria e lamllla-. Que pandegosl e

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~alllfest~ União Democrática Estudantil de Juiz de Fora. Ar uivo Público Mineiro - Fundo: Departamento de Ordem Política e Social,

11) Intervalo

integralistas trouxeram, mais uma vez, o Secretário Nacional de Imprensa, San Thiago Dantas, que fez nova conferência, no dia 26. Vez por outra, surgiam conflitos dos integralistas com seus adversários, dando margem ao lançamento de reptos: Repto A União Democrática Estudantil de Juiz de Fora voltou. Com a mesma ignorância e irresponsabilidade. Eu sou estudante noturno. Modesto, embora, mas representeando os machadenses (Instituto Comercial Mineiro), não pela Diretoria, mas pelos alunos. Repto, portanto, à tal União Democrática Estudantil para um encontro inteligência contra inteligência, cultura contra cultura. Ela que fala tanto em cultura, não pode deixar de aceitar este repto. Faça sua reunião, onde quiser. E eu comparecerei. Já sei, porém, de antemão, que não aceitarão. São covardes: - este é o segundo repto. Juiz de Fora, 24 de outubro de 1936. (ass.) Abel Rafuael Pinto (O SIGMA, 27 out. 1936, p. 1).

Em 20 de novembro de 1936, por ato do Chefe Provincial de Minas Gerais, Antônio Procópio Teixeira tomou posse no cargo de Chefe Municipal da Ação Integralista Brasileira de Juiz de Fora, cargo que exerceria até o fechamento do movimento, em 3 de dezembro de 1937.

12) A propaganda

no cinema

As sessões doutrinárias não se resumiam às conferências. Os meios de comunicação eram largamente empregados, utilizando-se, inclusive, o cinema. Eis como O Sigma noticiou uma sessão dessa natureza realizada em novembro de 1936:

Em 7 de julho de 1936, Carmela Salgado mulher de Plínio S~lg~dOd fez uma conferência na sede do núcleo' integralista local a or an o o aspecto da mulher inserida no Estado integralista ' Em outubro do mes P I . . Munici ~o ano, au o Japiassu, Secretário . I ~al de Imprensa, assurrnu, em caráter provisório a chefia do ~uc eo e ;U.iZde Fora. No final desse mês, nunca se de~cuidando de razer a UlZ de Fora os maiores teóricos do movimento, os

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Sigma-Film Realizou-se quarta-feira passada, no cinema São Matheus, a esperada sessão cinematográfica integralista. Foi uma empolgante demonstração de pujança dos camisas-verdes. O companheiro Fritz Rummert, confeccionador das fitas integraJistas e Chefe do Departamento Nacional de Entre tipos e recortes: histórias da imprensa integralista

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Cinematografia, proporcionou aos camisas-verdes desta cidade duas horas de intensa vibração integralista. O programa foi o seguinte: - festejos do aniversário da Província da Guanabara; - concentração de lnhomirim, Província da Guanabara; - A grande concentração em Paraíba do Sul; - visita do Chefe Nacional a Porciúncula (RJ); - visita do Chefe Nacional a Pureza, Província fluminense; - festejos do centenário de Carlos Gomes, em Campinas; - vários aspectos do movimento integralista na Bahia (O SIGMA, 24 novo 1936, p. 3).

13) Solenidades Em 27 de novembro de 1936, um ano após o levante aliancista no Rio de Janeiro, a Ação Integralista Brasileira realizou uma solenidade, na sua sede, para "relembrar o sacrificio de um punhado de bravos soldados e oficiais do Exército, em defesa da integridade da Pátria quando agredi da pelos asseclas de Moscou" (O SIGMA, 1 dez. 1936, p. 1). Naquela época, eram justificados tais disparates. Hoje, porém, sabe-se perfeitamente, depois do depoimento de Agildo Barata, que a morte da maioria dos oficiais e praças do 3° RI21 não foi ocasionada pelas lutas internas dentro do quartel e, sim, pelos pesados bombardeios empreendidos pelas forças governistas, a fim de sufocar o levante. Em agradecimento à solenidade de 27 de novembro, o Ministro da Guerra enviou o seguinte telegrama para o Chefe Municipal da AIB:

21 Referência ao 3° Regimento de Infantaria da Praia Vermelha no Rio de Janeiro que em 27 de novembro de 1935 sofreu uma rebelião militar de esquerda sob as ordens de Luís Carlos Prestes dentro do Levante Comunista. No 3° RI coube a Agildo Barata o comando do movimento. A ação, entretanto, durou apenas algumas horas e fOI facilmente dominada pelas forças fiéis ao governo. Agildo foi condenado pela Lei de Segurança Nacional a dez anos de prisão, que foram efetivamente cumpridos, e perdeu sua patente do Exército. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001. Disponível em: .http://cpdoc. fgv.br/producao/dossies/ AEra Vargas l/biografias/agildo barata. Acesso em: 02 de jan. 2011. -

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Quartel General-Rio, 224120 - Oficial Antônio Procópio Teixeira Juiz de fora Nome Exército agradeço homenagem memona camaradas tombaram dia 27 PT Cordiais Saudações PT General João Gomes (O SIGMA, 8 dez. 1936, p. 4).

Na sessão doutrinária de 5 de dezembro de 1936, o Secretário Assistente de Plínio Salgado, Loureiro Júnior (que por sinal era genro do Chefe Nacional) esteve presente. A vinda de Loureiro Júnior a Juiz de Fora se devia ao fato de que ele seria o advogado de defesa do investigador ManoeI Rios." Sobre o julgamento de Rios, O Sigma pronunciou-se da seguinte maneira: Manoel Rios foi absolvido e nem outro poderia ser o veredicto do júri; condenar-se um defensor da ordem pública que no seu honroso e quão arriscado ministério, teve a sua vida por um fio na defesa da lei, seria condenar-se todo o nosso aparelho policial, seria o desprestígio e o desacato a esses compatrícios que com todos os riscos, em troca de minguada remuneração zelam pelos nossos lares (O SIGMA, 15 dez. 1936, p. 1).

Em janeiro de 1937, os integralistas iniciaram a Campanha do Our023 para "salvar" as finanças do Brasil. Para motivar a

No dia 9 de novembro de 1935, há poucos dias da insurreição aliancista, foi assassinado em Juiz de Fora o contador Luiz Zuddio, da Aliança Nacional Libertadora, pelo investigador Manoel Ri?s. Zuddio era contador, formado pelo Instituto Comercial Mineiro. Casado com Aurea Novaes Zuddio, ao morrer, deIXOU 7 filhos. [...] Segundo declaração do Sr. Delegado João L. A. Valadão, Zuddio teria 20 entradas na política, por motivos políticos. Cf. GAZETA COMMERCIAL, 10 novo 1935, p. 3. Quanto a Manoel Rios, este, por coincidência foi defendido por ~ourelro Júnior [...] em julgamento ocorrido no início de dezembro de 1936. O veredlt.o final foi a absolvição. No Capítulo III - Oposição ao Integralismo, do estudo ongm~l de 1973, informações mais detalhadas podem ser consultadas sobre a Aliança Nacional

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Libertadora em Juiz de Fora. O objetivo da campanha era incentivar a doação de ouro e prata para auxiliar a campanha de Plínio Salgado na eleição que ocorreria em 19~8, dessa forma os militantes doavam alianças, brincos, medalhas e outros objetos de ouro que pudessem auxiliar a AlB no pleito do Chefe Nacional. Entre tipos e recortes: histórias da imprensa integralista 235

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Campanha do Ouro em Juiz de Fora, compareceu ao núcleo local o representante do Chefe Nacional, Jair Tavares. Assim se referiu O Sigma a respeito dessa campanha: Depois de discursar brilhantemente sobre angustl?sa do Brasil, Jair Tavares falou sobre financeira e lançou a Campanha do Ouro, que entusiasticamente pelos presentes, contribuindo verdes e vários simpatizantes com as suas quotas (O SIGMA, 19 jan. 1937, p. 3).

a situação a campanha foi recebida os camisasde sacrificio

14) O começo do fim O ano de 1937, último da Ação Integralista Brasileira na legal~d~de, j~ não ~oi tão fácil para o movimento. As forças da oposiçao ao íntegralismo, em Juiz de Fora, despontavam com mais clar~za. Sinal de guerra aberta ao Integralismo foi o editorial publicado na primeira página da Folha Mineira de 21 de agosto de 1937: Contra o perigo do extremismo verde A exemplo do que fez contra o comunismo, quando o perigo ve~elho ameaçava subverter a ordem pública, pondo em pengo o regime sob o qual vivemos e que mais se coaduna com a índole e o temperamento de nosso povo, é necessário que .todas as forças liberais democratas da nação se arregimentem neste momento, em combate ao Integralismo ~ue se apresenta mais violento e ameaçador por força de sua inegável organização, que o próprio comunismo. Convencido de que a luta das urnas lhe será desfavorável, o Sr. Plínio Sal~~do, dizendo-se 'emissário de Deus' está pondo os fanatIcos que o obedecem cegamente a serviço da subversão da ordem pública, seja distribuindo boletins, insultos e depredando edificios públicos, no intuito de criar confusionismo, seja agredindo na calada da noite os br.asi.leiros que não acreditavam no milagre signóide. Dlanamente, os jornais de todo o Brasil nos dão notícias das façanhas plinianas, sem que o governo da República tome as pr~vidênci.as e~érgicas que se fazem necessárias. Cumpre, pOIS, aos Iiberais-democraras, aqueles que não desejam ver a

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nossa pátria transformada numa colônia nazista, reagir energicamente contra o fanatismo dos camisas-verdes, dandolbes o corretivo que a sua insolência está a exigir. Nesse sentido, conclamamos todos os liberais-democratas de Juiz de Fora, desta ou daquela corrente partidária, para que formem um bloco homogêneo capaz de evitar que os integralistas tentem fazer em nossa cidade o que já estão fazendo na calada da noite, os fanáticos de Plínio Salgado, apesar da sua ridícula minoria, serão capazes de tudo. É necessário, portanto, no momento oportuno, reduzi-Ios a sua insignificante posição no cenário da política municipal, dando um exemplo aos outros municípios e outros estados. É necessário convencê-Ios, de qualquer forma, que são retardatários porque a época do fanatismo já passou.

15) O sonho acabou No dia 2 de dezembro de 1937, pelo decreto-lei n037, a Ação Integralista Brasileira foi dissolvida, como todos os partidos políticos. O integralismo na cidade, como pôde ser observado, não passou despercebido, ocupando uma posição de destaque no movimento nacional. No jornal integralista Acção de São Paulo é possível ver um relato do movimento em Juiz de Fora: Numa espetacular consagração: O Integralismo realiza em Juiz de Fora a sua maior parada cívica: Juiz de Fora, sede da 17" Região mineira, viveu no domingo passado, horas de profundo entusiasmo cívico. Dois mil integralistas recepcionaram, sob calorosos aplausos, a comitiva que desta capital partiu no sábado, 27, sob a orientação do dr. Miguel Reale, [...] A comitiva viajou de automóvel, sendo recebida em Juiz de Fora, com vibrantes manifestações dos camisasverdes locais [...] Impressionados com o entusiasmo invulgar dos elementos que constituíram a comitiva, quisemos ouvir o dr. Miguel Reale [...] A minha impressão sobre o Integralismo em Juiz de Fora é magnífica. Volto encantado com o alto sentido de disciplina dos camisas-verdes na 17" Região da Província de Minas Gerais (ACÇÃO, 1 dez. 1937, p. 1).

Em Juiz de Fora, a polícia, representada

pelos delegados

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João .Luiz Alves Valladão e Pedro Vieira Mendes, dando cum~nmento ao decreto-lei mencionado, fechou a sede local da AIB no d~a.posterior à edição do documento, na presença do último chefe municipal integralista, Antônio Procópio Teixeira.

Vargas, em maio de 1938, no Rio de Janeiro." Em Juiz de Fora, muitos integralistas foram presos," inclusive Raimundo Padilha, recambiado de Além Paraíba, onde havia sido preso após se esconder desde março. Chegava ao fim o sonho verde em Juiz de Fora.

Referências AMANCIO, Vanessa Aparecida Lobo. lntelectualidade e Ideologia: Gustavo Barroso e o integralismo em Juiz de Fora. Juiz de Fora: Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora - Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História), 2009.

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rlol"l.zonte, 20 Voe C1ezem'lrode 1937.

BARROSO. Gustavo. O integralismo de Norte a Sul. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1934.

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CHASIN, José. O integralismo de Plinio Salgado: forma de regressividade no capitalismo hiper-tardio. 2. ed. Belo Horizonte: Una, 1999.

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(DrluoC1ouoretzsohn)

Documento ex?edido pelo DOPS declarando o fechamento oficial do núcleo mtegralista de JUIZde Fora. Arquivo Público Mineiro - Fundo: Departamento de Ordem Política e Social.

Nov~s manifestações envolvendo integralistas em Juiz de Fora ocorrerao somente depois da tentativa de assassinato de Getúlio

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CHAUÍ, Marilena. Apontamentos para uma critica da Ação Integralista Brasileira. In: FRANCO, Maria Sylvia Carvalho. Ideologia e mobilização popular. São Paulo: Paz e Terra, 1985. p.17-149. CORRÊA, Maurício de Castro. Ação lntegralista Brasileira: seus reflexos em Juiz de Fora. Juiz de Fora: Trabalho apresentado ao 11° Prêmio de Pesquisa DCE, 1973.

24 A cidade teve certa participação no Levante Integralista de 1938 com homens e armas. Em recente estudo, o pesquisador Rogério Lustosa Victor (2005) afirma ter sido apreendida na cidade armas no dia 10 de janeiro de 1938, poucos meses antes do ataque no Palácio da Guanabara. 25 Na versão de 1973, o trabalho tentou pesquisar em arquivos da Polícia Política de Juiz de Fora, a fim de conseguir com exatidão as informações relativas à repressão que se seguiu em Juiz de Fora, ao atentado feito, no Rio de Janeiro, contra o Palácio da Guanabara, em maio de 1938. Contudo, alegando que se tratava de assunto sigiloso, o Sr. Delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) informou que não era possível a pesquisa. Tais informações foram somente liberadas ao pesquisador após o fechamento do órgão na década de 1980. Os documentos referentes ao movimento integralista em Juiz de Fora, estão à disposição do pesquisador no Arquivo Publico Mineiro em Belo Horizonte no Sistema informatizado de pesquisa do Fundo do Departamento de Ordem Política e Social.

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Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEra Vargas I/biografias/agildo _barata. Acesso em: 02 de jan. 20 li. GERTZ, René. O Integralismo e os teu to-brasileiros no Rio Grande do Sul: contribuição para a interpretação de um fenômeno político controvertido. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul- Dissertação de Mestrado (Ciência Política), 1977. GONÇAL VES, Leandro Pereira. Tradição e Cristianismo: O nascimento do integralismo em Juiz de Fora. In: SILVA, Giselda Brito (Org.). Estudos do integralismo no Brasil. Recife: Editora da UFRPE, 2007. p. 81-95. Tradição e cristianismo: o nascimento do integralismo em Juiz de Fora. Belo Horizonte: Pontificia Universidade Católica de Minas Gerais - Monografia de Especialização (História do Brasil), 2004.

___

o

SILVA, Giselda Brito. (org.). Estudos do integralismo Recife: Editora da UFRPE, 2007.

no Brasil.

TRINDADE, Hélgio. Integralismo: O fascismo brasileiro da década de 30.2. ed. Porto Alegre: Difel/UFRGS, 1979. VASCONCELLOS, Gilberto. Ideologia curupira: discurso integralista. São Paulo: Brasiliense, 1979.

análise

do

VICTOR, Rogério Lustosa. O integralismo nas águas do Lete: História, memória e esquecimento. Goiânia: UCG, 2005. VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro; GONÇALVES, Leandro Pereira; CHRISTOFOLETTI, Rodrigo (Orgs.). Anais do IV Encontro Nacional de Pesquisadores do Integralismo e 111 Simpósio do LAHPS !deias e Experiências Autoritárias no Brasil Contemporâneo. Juiz de Fora: LAHPS Publicações, 2010.

Jornais Acção/ Correio de Minas/ Folha Mineira! Gazeta Commercial! Jornal do Commércio/ O Juvenil! O Sigma 240

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