Acepções de Gosto na Obra Teórica de Francesco Geminiani (1687-1762)

May 30, 2017 | Autor: Marcus Held | Categoria: Musicology, Music Aesthetics, Taste, Francesco Geminiani
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Anais do SEFiM, Porto Alegre, V.02 - n.2, 2016.

Acepções de Gosto na obra teórica de Francesco Geminiani (1687-1762) Meanings of Taste in Francesco Geminiani’s (1687-1762) theoretical work Palavras-chave: Gosto; Música; Francesco Geminiani; Século XVIII. Keywords: Taste; Music; Francesco Geminiani; 18th Century.

Marcus Held Universidade de São Paulo [email protected] O Gosto é tópica constante nos inúmeros tratados e preceptivas elaboradas ao longo do século XVIII. Para Montesquieu (2009, p. 11), um dos filósofos mais representativos desse tempo, os diferentes prazeres da alma, como o belo, o bom, o agradável, o ingênuo, o delicado, o terno, o gracioso, o majestoso e tantos outros formam os atributos abordados pelo Gosto. Além dele, muitos foram os pensadores que elaboraram teorias acerca dos efeitos causados no espectador pela obra de arte, como Locke, Hume, Batteux, Kames e Rousseau. Não apenas sobre as sensações enunciadas acima, mas as diversas maneiras de como obter êxito em provocar no apreciador da arte tais afetos. Em música, diversos tratados trabalharam a questão do Gosto, ou melhor, do Bom Gosto, seja em textos com esta única especificidade, seja em métodos de instrumentos que continham capítulos especiais para abordar esta questão tão importante para aquele século. Entre os diversos tratadistas, destacam-se Zedler (1708), Mattheson (1739), Geminiani (1748, 1749 e 1751), Quantz (1752), Leopold Mozart (1756), C. P. E. Bach (1762), Kirnberger (1771), Türk (1789) e Koch (1802) por dissertarem sobre a questão, configurando-se em referências primárias importantes para a compreensão da arte do século XVIII e, no caso da música especificamente, para a interpretação historicamente guiada das obras compostas. Fato é que o Gosto era, sim, um conceito estabelecido culturalmente, e discutia-se tanto a respeito, que, nas preceptivas setecentistas, dificilmente encontram-se definições claras ou explicações diretas sobre o que era, de fato, denominado Bom Gosto. Dessa maneira, tendo em vista o longo alcance desse preceito, escolheremos a música para nos esclarecer melhor a ideia do Gosto no século XVIII. Para tanto, devemos ter em mente que as definições da época para o termo empregado nessa arte referem-se, fundamentalmente, às maneiras de compor próprias de um país, grupo e auctoritas (PAOLIELLO, 2011, p. 13), ou seja, os estilos italiano e francês, representados pelos compositores Arcangelo Corelli e Jean-Baptiste Lully, respectivamente. Estes artistas representaram o som da música em seus países e foram referências para além do século XIX. Foram inúmeros seus discípulos, seguidores e defensores. Corelli foi o responsável pela escola de violino desenvolvida por ele, perpetuada por seus alunos, até culminar em Paganini, o auge do virtuosismo instrumental. Já Lully, embora

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natural da Itália, imigrou para a corte de Luis XIV e criou a linguagem musical francesa: o compositor elevou a dança, gênero primordial da cultura secular da terra do Rei Sol, ao mais alto grau de sofisticação; na música vocal, estabeleceu regras consistentes para a declamação poética em língua francesa. O que ambos possuem em comum, todavia, além de ambos terem sido violinistas virtuoses, é terem consolidado a formação instrumental atualmente conhecida como orquestra. Para este estudo, serão abordadas as preceptivas do tratadista Francesco Geminiani. Nascido em Lucca, Itália, tornou-se discípulo em Roma de Alessandro Scarlatti e de Arcangelo Corelli. Em 1714, radicou-se em Londres e, assim, guiou a formação do gosto musical inglês na primeira metade dos setecentos. Violinista virtuose, compositor inovador e professor dedicado, destinou os últimos anos de sua vida à escrita de seis tratados musicais: Rules for Playing in a TrueTaste (1748), A Treatise of Good Taste in the Art of Musick (1749), The Art of Playing on theViolin (1751), Guida Armonica (1752), The Art of Accompaniament (1754) e The Art of Playing the Guitar or Cittra (1760). A forte relação que o autor possui com o chamado Bom Gosto em música é notável após a leitura de todos os seus textos. Tal questão é trabalhada em sua obra completa, mas uma importância maior é dada ao longo de seus dois primeiros livros. Nestes, o compositor utiliza-se do material cultural inglês para dissertar sobre questões de ornamentação, indicando os melhores lugares e situações para empregá-la.Para compreender o posicionamento de Geminiani sobre Gosto, será, a priori, recuperada a acepção setecentista desse conceito, sua origem e seus significados, a fim de proporcionar a base teórica para dar cabo ao que se sucede. Portanto, em seguida, será observado o tratamento este compositor confere ao preceito do Bom Gosto em música em seus tratados, com ênfase no Rules for Playing in a True Taste, no A Treatise of Good Taste in the Art of Music e no The Art of Playing on the Violin, sendo paradigmas para o estudo da música do século XVIII. Referências BATTEUX, Charles. As belas-artes reduzidas a um mesmo princípio. São Paulo: Humanitas, 2009. COELHO, Teixeira. Esboços do Prazer. São Paulo: Iluminuras, 2009. DOLMETSCH, Arnold. The Interpretation of the Music of the 17th and 18th Centuries (London, 1915). London e New York: Dover Publications, 2005. GEMINIANI, Francesco. Rules for playing in a true Taste. London, 1748. ______. A Treatise of Good Taste in the Art of Music. London, 1749. ______. The Art of Playing on the Violin. London, 1751. MONTESQUIEU. O Gosto (1753). São Paulo: Iluminuras, 2009. PAOLLIELO, Noara. Os Concert-overtures de Georg Phillip Telemann: um estudo dos gostos reunidos segundo as preceptivas setentistas de estilo e gosto. Dissertação (Mestrado em Música) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 2011. TARLING, Judy. The Weapons of Rethorique, a guide for musicians and audiences. Hertfordshire: Corda Music Publications, 2004. USSHER, James. Clio: or, A discourse on taste (1772 – 3. ed.) (fac-simile). Disponível em: http:// books.google.com/. Acessado em: 07 mar. 2016. ZEDLER, Johann Heinrich. Universal Lexikon (1708). Disponível em: http://www.zedler-lexikon. de/index.html. Acessado em: 07 mar. 2016.

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