Acervo CDMC: situação atual e desafios

May 26, 2017 | Autor: T. Moraes Taffarello | Categoria: Music, Colections
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Acervo CDMC: situação atual e desafios Tadeu Moraes Taffarello

Unicamp, [email protected]

Fabiana Benine

Unicamp, [email protected]

Resumo: O presente artigo descreve a atual situação de conteúdo e armazenamento dos fundos e coleções constituintes do acervo CDMC, traça os seus principais desafios atuais e reflete sobre diretrizes de ações futuras que fomentem a sua manutenção e pesquisas. Palavras-chave: Acervo musical. CDMC-Brasil. Coleções. Fundos.

Collection CDMC: current situation and challenges Abstract: This article describes the current status of content and storage from the CDMC funds and collections, draws theirs main current challenges and reflects on guidelines for future actions to promote their maintenance and research. Keywords: Music Collection. CDMC-Brazil. Collections. Funds.

Introdução Desde o início de sua formação, em 1989, o acervo da Coordenadoria1 de Documentação de Música Contemporânea (CDMC) vem sendo enriquecido por meio de convênios com entidades estrangeiras e novas aquisições por compra ou doação, constituindo-se hoje um acervo especializado na música erudita dos séculos XX e XXI com partituras, livros, periódicos, gravações em vários suportes, recortes de jornais e outros materiais.

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Em sua consituição inicial, a sigla CMDC designava Centro de Documentação de Música Contemporânea. Desde 2009, entretanto, com a vinculação administrativa ao Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (CIDDIC), a sigla passou a ser utilizada para designar a Coordenação de Documentação de Música Contemporânea.

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No acervo há coleções e fundos2. Aquelas são formadas por partituras reunidas intencionalmente. Já estes são constituídos por materiais diversos, de autorias diversificadas, dentre os quais se destacam partituras e gravações, reunidos por uma pessoa física - compositor, instrumentista ou pesquisador acumulados em razão de suas funções ou atividades. O presente artigo tem por objetivos principais descrever a atual situação de conteúdo e armazenamento dos fundos e coleções do acervo CDMC, traçar os seus principais desafios e refletir sobre diretrizes de ações futuras que fomentem a sua manutenção e pesquisas. 1 Coleção CDMC A formação da coleção CDMC confunde-se com a própria história da instituição CDMC-Brasil. Inaugurado em 1º de setembro de 1989 na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a sua criação ocorreu no âmbito do “Projeto Brasil-França” por meio de um convênio firmado entre a Unicamp e o Centre de documentation de la musique contemporaine. O primeiro coordenador e idealizador do CDMC-Brasil foi o Prof. Dr. José Augusto Mannis. A pesquisadora Dra. Denise Garcia, atual diretora do CIDDIC3, órgão ao qual a

CDMC-Brasil

é

atualmente

vinculada

administrativamente,

analisando

documentos institucionais oficiais, relata que, pelos termos do convênio, [...] a sede francesa tinha o compromisso de mandar ao CDMCBrasil partituras adquiridas pela Associação Francesa de Ação Artística, documentos sonoros postos à disposição pela Radio France e documentação gráfica e informática.4

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Por coleção, entende-se um “conjunto de documentos com características comuns, reunidos intencionalmente” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 52). Já o fundo é um “conjunto de peças de qualquer natureza que qualquer entidade administrativa, qualquer pessoa física ou jurídica reuniu automática e organicamente em razão de suas funções ou de suas atividades” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 177). 3 Vide nota de rodapé 1. 4 Garcia, “O acervo de música contemporânea da Unicamp: histórico, composição, desenvolvimento e perspectivas.”, 195.

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Dessa maneira, criou-se um acervo de gravações em Cds e fitas cassete e mais de 4.600 partituras, em sua maioria manuscritas, editadas ou não por casas editorias europeias, com o conteúdo sobretudo de música de concerto escritas na segunda metade do século XX. Estão presentes nessa coleção, por exemplo, partituras de compositores franceses tais como Pascal Dusapin (56 obras), Claude Ballif (53), Betsy Jolas (53), Jacques Lenot (52), Olivier Messiaen (50), Gilbert Amy (42), Michael Levinas (41), François-Bernard Mâche (34), Pierre Boulez (29), Tristan Murail (28), , Michèle Reverdy (22), Philippe Manoury (20), Gérard Grisey (15); europeus como Iannis Xenakis (92 obras), Giacinto Scelsi (65), Georges Aperghis (48), Costin Miereanu (44), Franco Donatoni (16), Luciano Berio (12), Emmanuel Nunes (11); asiáticos como Yoshihisa Taira (47 obras), Nguyen-Thien Dao (38), Tôn Thât Tiet (27), Toru Takemitsu (24), Qigang Chen (12); e africanos com Ahmed Essyad (10 obras), dentre outros. A grande maioria das partituras da coleção CDMC encontra-se armazenadas em pastas verticais suspensas (Figura 1). As partituras de tamanho e/ou formato diferenciado, grande, encontram-se armazenadas em posição horizontal em estantes (Figura 2) ou mapotecas.

Fig. 1. À frente na foto, área de trabalho de usuários; à esquerda, partituras da coleção CDMC armazenadas em pastas verticais suspensas; ao fundo, em marrom, armário de armazenamento da coleção de áudio; e ao fundo à direita, armário de armazenamento de periódicos.5

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Universidade Estadual de Campinas. Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural. “CDMC”. (2016). http://www.ciddic.unicamp.br/cdmc_fotos.php?alb=1 (acesso em Jul 07, 2016) Crédito da imagem: Marília Vasconcellos.

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Fig. 2. Partituras de tamanho diferenciado armazenadas horizontalmente.6

Na coleção, há um número significativo de peças de compositores não muito difundidos no Brasil, o que cria um panorama da produção de música de concerto europeia do pós-1950 e torna a coleção um corpus disponível para a compreensão das práticas composicionais do período e local. Dessa forma, o grande desafio desta coleção é a divulgação acadêmica, científica e artística de seu conteúdo. A difusão artística7 das obras da coleção CDMC enfrenta ao menos dois desafios. O primeiro é a existência de grades orquestrais ou para grupos grandes de câmara cujas partes cavadas não estão disponíveis, dificultando uma possível execução. Entretanto, no acervo há também um grande número de partituras para instrumento solo ou grupos de câmara pequenos que possibilitariam a execução com a leitura direta da grade instrumental. O segundo desafio é o fato de várias peças utilizarem algum tipo de dispositivo eletrônico e listarem instruções para a sua recriação. Nesse caso, a dificuldade é o fato de a maioria dessas tecnologias descritas e empregadas nas peças estarem em desuso. 6

Universidade Estadual de Campinas. Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural. “CDMC”. (2016). http://www.ciddic.unicamp.br/cdmc_fotos.php?alb=1 (acesso em Jul 07, 2016) Crédito da imagem: Marília Vasconcellos. 7 Cabe aqui lembrar que toda divulgação artística de uma obra musical deve obedecer a Lei Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais no Brasil.

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2 Fundo José Augusto Mannis O Fundo José Augusto Mannis8 (JAM) é composto por aproximadamente 300 partituras de compositores europeus ou brasileiros em sua maioria originais editadas por casas editoriais europeias ou brasileiras. Tal como a coleção CDMC, várias das partituras, mesmo que editadas, são manuscritas e, no caso das partituras de autores estrangeiros, constituem um panorama da música europeia de concerto do pós-1950. Há ainda algumas partituras em cópias e/ou manuscritas sem edição. As partituras que compreendem o Fundo JAM são partituras muitas vezes raras ou com poucas tiragens. Destacam-se, por exemplo, as partituras de compositores brasileiros distribuídos a partir do Serviço de Difusão de Partituras da Universidade de São Paulo (USP) nos anos 1980. Dentre eles, encontram-se peças de Marcos Câmara, Nestor de Hollanda Cavalcanti, Willy Correa de Oliveira, Maria Helena da Costa, Rodolfo Coelho de Souza, Gilberto Mendes, Ernst Mahle, Keiler Garrido Rego e Lina Pires de Campos. O fundo encontra-se acondicionado adequadamente em pastas suspensas de estantes deslizantes. Um desafio para o Fundo JAM talvez seja a edição9 de algumas de suas obras raras, sobretudo brasileiras, para uma maior difusão acadêmica, científica e artística, proporcionando maiores oportunidades de pesquisa e interpretação.

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As partituras de autoria de José Augusto Mannis não fazem parte do fundo que leva o seu nome, estando elas contidas na Coleção Brasileira (CBRAS). 9 Percebe-se que há, no estado atual da arte em musicologia, uma discussão sobre a validade e os métodos empregados para a edição de partituras manuscritas. Sobre esse assunto, Paulo Castagna difere a edição acadêmica da prática, sendo aquela destinada “a um maior conhecimento da obra”, dando-se destaque “à situação das fontes manuscritas, à refutação das versões transmitidas em forma impressa, quando é o caso, e à explicitação dos critérios e interferências editoriais”, enquanto esta é “essencialmente destinada à execução da obra e que incorpora indicações e instruções de natureza interpretativa” (CASTAGNA, 2008, p. 10). Talvez uma boa solução a ser adotada seja a compreensão e abordagem dos objetivos das duas áreas interessadas, a performance instrumental e a musicologia, em edições que dêem transparência aos métodos e abordagens utilizados, contemplando também questões relativas à interpretação.

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3 Coleção Brasileira (CBRAS) A partir do ano de 1996, o acervo CDMC passou a ser enriquecido também com partituras nacionais, constituindo-se hoje de aproximadamente 1650 obras de compositores de todo o país. 3.1 Coleção Almeida Prado A Coleção Almeida Prado talvez seja, junto à coleção CDMC, as duas coleções mais famosas do acervo CDMC, quer seja pela contínua divulgação de seu conteúdo, quer seja pelo reconhecimento composicional atingido pelos compositores presentes nas coleções. A coleção foi criada a partir de uma doação realizada pelo próprio compositor ainda em vida. Em termos quantitativos, é constituída por 394 entradas catalográficas, sendo a grande maioria de partitura de autoria do compositor. Em uma mesma entrada catalográfica podem estar vários títulos de partituras agrupadas em livros ou coleções, tais como as seis primeiras Cartas Celestes para piano solo, ou uma grade orquestral de determinado título e suas respectivas partes cavadas, por exemplo. Ou ainda, em entradas catalográficas distintas, haver cópias de um mesmo título de partitura. Dessa forma, o número exato de partituras não corresponde ao de entradas catalográficas registradas. As partituras são originais editadas pela Tonos Darmstadt ou pela Funarte, cópias de partituras editadas, cópias de manuscritos e cópias de partituras editoradas em softwares de edição musical. Mesmo as partes editadas por uma casa editorial reconhecida, muitas delas, foram produzidas a partir dos originais manuscritos. Muitas das partituras têm uma capa em papelão, provavelmente feitas pelo próprio compositor, com uma arte ex-líbris, em colagem ou pintura. Além das partituras, há um número relativamente menor de cópias de currículos; projetos de ação composicional; folhas pautadas em branco; esboços manuscritos

originais;

anotações;

originais

de

programas

de

concerto;

correspondências originais e cópias, algumas com fotos; revistas e recortes. A grande maioria dos itens componentes da coleção encontra-se adequadamente armazenada em pastas verticais suspensas de armários 486

deslizantes, envoltas em envelopes de papel não ácido. Para as partituras cujos tamanhos e/ou formatos não são padrão, foram criados envelopes sob medida, também em papel não ácido (Figura 3).

Fig. 3. Coleção Almeida Prado do CDMC-Brasil. Foram criados envelopes sob medida em papel não ácido para os itens em tamanho fora do padrão.10

A coleção tem sido frequentemente procurada por pesquisadores e intérpretes interessados na obra do compositor, o que a torna uma coleção de grande valia para o acervo CDMC. Muitas das obras de Almeida Prado foram disponibilizadas anteriormente ao público por meio de edições oficiais, porém há uma parte da coleção que encontra-se ainda apenas em manuscrito. Dessa maneira, um desafio que se impõe para o aprofundamento do conhecimento científico, acadêmico e artístico sobre a obra do compositor pode ser edição crítica e divulgação de obras que sejam de difícil acesso ao público em geral.11 3.2 Coleção Dinorá de Carvalho A coleção Dinorá de Carvalho começou a ser formada com a pesquisa de mestrado de Flávio de Carvalho realizada na Unicamp intitulada “Canções de Dinorá de Carvalho: uma análise interpretativa”, finalizada em 1996. Inicialmente, 10

Universidade Estadual de Campinas. Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural. “CDMC”. (2016). http://www.ciddic.unicamp.br/cdmc_fotos.php?alb=1 (acesso em Jul 07, 2016) Crédito da imagem: Marília Vasconcellos. 11 É louvável, nesse aspecto, o esforço da Academia Brasileira de Música que editou várias das obras do compositor, tornando-as acessível por meio de seu “Banco de Partituras”.

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fez parte dos acervos especiais da Biblioteca do Instituto de Artes da Unicamp. Pela colaboração de artistas que tiveram alguma ligação com composições de Dinorá de Carvalho, foi sendo enriquecida. Posteriormente, foi transferida para o acervo CDMC. É constituída por aproximadamente 250 itens, partituras e rascunhos em variadas formações vocais e/ou instrumentais, camerísticas ou orquestrais de autoria da própria compositora. As partituras da coleção são, em sua grande maioria, os originais manuscritos das obras. Em alguns casos, há mais de uma versão para a mesma obra, com alterações ligeiras ou significativas entre as versões. Há também vários rascunhos e anotações de cunho da própria compositora. Muitas das obras encontram-se em sua versão integral, completa, e, muitas vezes, com as partes instrumentais cavadas. Há casos, porém, de manuscritos incompletos, com páginas ou instrumentos faltantes, e de manuscritos cujos nomes ou identificações não puderam ser reconhecidos. É possível, inclusive, que trechos incompletos e não identificados, catalogados com entradas distintas, possam formar a continuação de trechos identificados e incompletos. Na coleção, há também algumas poucas cópias e originais de partituras publicadas por casa editoriais brasileiras ou francesas, tais como I. Chiarato & Cia., Ricordi Brasileira, Casa Wagner, José França Editor e L. G. Miranda. Infelizmente, muitas dessas editoras cessaram as suas atuações no mercado editorial musical, o que dificulta a difusão de tais partes. Contém ainda arranjos e instrumentações de peças de Beethoven e Schubert, dentre outros, e dobrados para bandas sinfônicas. A coleção encontra-se higienizada, armazenada em pastas suspensas de armários deslizantes e catalogada. Possíveis desafios da coleção que possam vir a fomentar pesquisas encontram-se sobretudo em duas frentes: de um lado, percebe-se que seja possível unificar manuscritos incompletos não reconhecidos a manuscritos incompletos reconhecidos para que formem um todo maior ou completo; por outro lado, faz-se míster a realização de uma política de editoração e divulgação das partituras manuscritas e das partituras cujas edições saíram de catálogo, fomentando assim também a divulgação artística da obra da compositora por intérpretes interessados em executá-la. 488

3.3 Fundo Coro Infantil A criação do Fundo Coro Infantil foi fruto da pesquisa em mestrado desenvolvida pela pesquisadora Dra. Lilia de Oliveira Rosa intitulada “Música Brasileira para Coros Infantis (1960-2003): Catálogo on line com obras a cappella” finalizada no ano de 2005 na Unicamp. O fundo está acomodado em duas pastas horizontais e é constituído por aproximadamente 220 partituras, com a grande maioria sendo de música brasileira para coro infantil a cappella ou inserido em formações maiores, manuscritas ou editoradas em softwares de edição de partituras. Há, por exemplo, originais e cópias da coleção “Música Brasileira para Coro Infantil” editada pela Funarte na década de 1980; livros das autoras Elvira Drummond, Carmen Mettig Rocha e Thelma Chan; e partituras de compositores estrangeiros. Possíveis desafios para o fundo ocorrem em duas frentes de atuação. A edição de partituras não publicadas poderá auxiliar o fomento a grupos vocais interessados em tocar as peças disponíveis e a divulgação científica de seu conteúdo. Esta, por sua vez, talvez possa se dar também pela pesquisa a respeito das estratégias composicionais utilizadas pelos compositores na escrita para coro infantil, formação consolidada, mas ainda pouco estudada. 3.4 Fundo Beatriz Balzi O Fundo Beatriz Balzi foi doado por sua irmã, Vélia Balzi. Tem uma relação direta com a carreira da pianista, sendo constituído por aproximadamente 930 partituras compostas no século XX para piano solo ou em câmera. Há partituras originais, cópias de originais, manuscritos e cópias de manuscritos, algumas com anotações a mão. As nacionalidades dos compositores abrangidos no fundo é bastante diversificada, indo desde as vanguardas europeias pós-1950, até compositores brasileiros e latino-americanos. Acredita-se que a grande riqueza e particularidade deste fundo seja, em verdade, esta última parcela, pois trata-se de uma produção pouquíssimo difundida nos meios acadêmicos, científicos e artísticos do Brasil. São compositores e edições da Argentina, país de nascimento 489

de Balzi, Venezuela, Peru, Costa Rica, México, Uruguai, Panamá, Colômbia, Chile e Cuba, dentre outros. Por ser o primeiro fundo ou coleção do acervo CDMC a receber a revisão da classificação local de seu conteúdo, está sendo reorganizado e armazenado adequadamente em pastas suspensas de armários deslizantes. Acredita-se que o grande desafio para este fundo seja a divulgação acadêmica, científica e artítistica da obra brasileira e latino-americana para piano do século XX constituinte do fundo, por se tratar de uma produção pouquíssimo difundida no Brasil, sobretudo em relação aos compositores latino-americanos. A edição de manuscritos também pode vir a serem contemplada, apesar de boa parte do fundo ser constituído por partituras já editadas por casas editorias brasileiras e estrangeiras. 3.5 Coleção Emilio Terraza A Coleção Emilio Terraza é formada por cerca de 36 títulos de partituras de autoria do compositor. No catálogo da coleção, entretanto, há um número maior de entradas, pois há duplicatas ou partes cavadas de um único título musical contando como uma nova entrada catalográfica. A coleção é formada por partituras editadas, cópias de partituras editadas e cópias de manuscritos para as mais variadas formações vocais e/ou instrumentais. Os originais editados da coleção são: Prelúdio e Fuga em Dó (UnB, 1981), Peça Coral n.1 (MEC/Funarte, 1981) e Metáfora n. 3 (MusiMed, 1982). Acredita-se que o grande desafio atual da coleção seja a divulgação acadêmica, científica e artística da obra do compositor que poderá ser auxiliada pela edição e publicação das partes manuscritas e pela pesquisa musicológica de seus itens. 3.6 Coleção Estércio Marquez Cunha A coleção Estércio Marquez Cunha foi criada por meio de uma doação realizada pelo próprio compositor. É constituída por cópias de partituras manuscritas ou editoradas em software de edição de partituras, sendo que a 490

grande maioria é para música de câmara, com ou sem voz, e uma quatidade menor de partes orquestrais. São aproximadamente 125 entradas catalográficas, porém o número de partituras é superior a isto, pois há casos de livros ou cadernos contendo uma compilação de peças para uma formação específica, tais como Música para piano ou o livro Música de câmera para flauta (UFG, 2007) que contêm várias peças para os instrumentos, correspondendo a uma única entrada catalográfica. Um grande desafio desta coleção é o seu enriquecimento e atualização, pois, apesar de cobrir uma boa parte da produção do compositor, não contém as peças escritas após a realização da doação. Além disso, a grande maioria das partes da coleção não foram editadas, possibilitando um trabalho de edição musical, que, por sua vez, ampliaria o acesso e a divulgação acadêmica, científica e artística da obra do compositor. 3.7 Coleção Kilza Setti A coleção Kilza Setti é constituída por aproximadamente 25 partituras para formações vocais e/ou instrumentais diversas da compositora. São partituras originais editadas lançadas pela Nova Metas e cópias de manuscritos, às vezes com informações complementares sobre estreias e gravações. Em relação à acomodação da coleção, nem todas as obras da autora encontram-se unidas em um único lugar. Acredita-se que um desafio atual da coleção seja a edição de partituras manuscritas da compositora para que haja uma maior divulgação de sua obra entre acadêmicos, pesquisadores, intérpretes e interessados. Um enriquecimento do acervo poderá ser realizado por meio do contato com a compositora para a complementação da coleção, visto que ela ainda não cobre todo o seu catálogo de obras. Em relação à distribuição das obras da coleção em espaços diversos do acervo, acredita-se que com a nova classificação local que está sendo implementada, deverão elas ser reagrupadas.

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3.8 Coleção Aldo e Edino Krieger A coleção Aldo e Edino Krieger é consituída por aproximadamente 28 títulos de partituras vocais e/ou instrumentais em formações diversas escritas pelos compositores. São cópias de partituras editoradas sobretudo pela LK Produções Artísticas do Rio de Janeiro ou de manuscritos. Acredita-se que o desafio inicial da coleção seja a sua complementação pois boa parte da obra de Edino Krieger encontra-se hoje disponível em versão original pela Academia Brasileira de Música. 4 Novas aquisições em doações Os fundos e coleções que se seguem foram adquiridos em doação recentemente pelo CDMC, estando ainda em estágios iniciais de trabalhos de incorporação. Isso significa que não estão disponíveis ao público. Falta ainda serem realizados a listagem descritiva, a higienização inicial, a catalogação e o tombamento, não sendo possível, dessa maneira, quantificar e qualificar precisamente seus itens constituintes. Estes fundos e coleções apresentam como desafio a disponibilização ao público interessado pela efetiva incorporação ao acervo, com um armazenamento adequado para as suas preservações a longo prazo. O Fundo Conrado Silva é constituído por livros, partituras, gravações, folhetos, projetos acústico-arquitetônicos, contratos, fotos e outros documentos de autoria do próprio compositor ou de outrens. Talvez seja um dos fundos com o maior número de itens do acervo CDMC. Apesar de o fundo estar ainda em uma etapa inicial de incorporação ao acervo, foram inciadas já a listagem descritiva e a higienização. Foi doado pela família logo após a sua morte. O Fundo Ignácio de Campos é composto por gravações e partituras nas mais variadas formações vocais e/ou instrumentais de autoria do próprio compositor ou de outrens. A doação do fundo contou com a colaboração da pesquisadora e percussionista Glória Pereira da Cunha.

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O Fundo Anna Stella Schic é composto de livros, partituras, gravações, cartazes de divulgação e outros materiais frutos de sua atividade como pianista. O fundo foi doado por sua filha, Sandra Rochwerger Lechartre. A Coleção Luiz Carlos Csëko é formada por cópias de partituras instrumentais e/ou vocais nas mais variadas formações, muitas vezes envolvendo detalhamentos cênicos e/ou de iluminação. Foi doada pelo próprio compositor. As coleções Eduardo A. Escalante e Maria Helena Rosas Fernandes são constituídas por cópias de partituras manuscritas, instrumentais e/ou vocais nas mais variadas formações de autoria própria. Foram doadas pelos próprios compositores. A coleção Maria Helena Rosas Fernandes, em particular, contou com a colaboração da pesquisa em mestrado “Maria Helena Rosas Fernandes: Catálogo comentado da obra completa e fases composicionais” por Juliana Delborgo Abra Olivato, finalizada no ano de 2016 na Unicamp. 14 Áudios e recortes de jornais Além de partituras, o acervo CDMC é formado também por diversos arquivos de áudios e por recortes de jornais. 14.1 Arquivos de áudio Os arquivo de áudios do acervo CDMC estão em formatos diversos, dentre os quais se destacam CDs, discos de vinil, fitas cassete, DAT e de rolo. No relatório elaborado por Denise Garcia (2013, p. 197) a partir do inventário realizado em 2010, percebe-se que, naquele ano, havia no acervo 1496 fitas cassete, 1238 CDs, 272 discos de vinil e 101 fitas DAT. Grande parte das fitas cassete (Figura 4) e DAT do acervo e parte dos CDs são gravações de interpretações de música de concerto europeia do período pós1950. Há ainda, em fitas, parte da série de programas de rádio intitulada “Projeto Brasil-França” criada para a Rádio Cultura de São Paulo pelo Prof. Dr. José Auguto Mannis no período inicial do CDMC-Brasil. Infelizmente, as duas outras séries de programas de rádio produzidas por ele, “Sonora”, também pela Rádio Cultura, e “Paisagem”, pela Rádio USP, não se encontram no acervo. 493

Fig. 4. À direita, parte do acervo de fitas cassete armazenado em ármario deslizante.12

Os CDs e os discos do acervo são compostos majoritariamente por gravações de música nacional. Há, entre os discos, várias obras de autoria de Almeida Prado, o que indica que, provavelmente, foram doados pelo compositor junto à sua coleção de partituras. Mais recentemente, com a aquisição em doação do Fundo Conrado Silva, o acervo foi enriquecido com gravações em formato de CDs, discos de vinil, fitas cassete, de rolo e DAT. O Fundo Anna Stella Schic trouxe para o acervo discos de vinil e outras mídias com gravações da pianista. O Fundo Ignácio de Campos, por sua vez, enriqueceu o acervo sobretudo com gravações em CDs. Como vieram para o acervo após o levantamento feito em 2010, esses itens não estão contabilizados no demonstrativo feito pela Profa. Dra. Denise Garcia anteriormente citado. Acredita-se que os grandes desafios dos arquivos de áudio do acervo CDMC sejam: 1.

a realização da listagem descritiva e catalogação dos arquivos de

áudio componentes das aquisições mais recentes, tais como os Fundos Conrado Silva, Anna Stella Schic e Ignácio de Campos; 2.

a digitalização dos arquivos, com a prioridade àqueles cujos suportes

estão em risco de extinção ou de deteriorização devido à proximidade do tempo de validade das mídias, como as fitas cassete, de rolo e DAT;

12

Universidade Estadual de Campinas. Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural. “CDMC”. (2016). http://www.ciddic.unicamp.br/cdmc_fotos.php?alb=1 (acesso em Jul 07, 2016) Crédito da imagem: Marília Vasconcellos.

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3.

o resgate da totalidade dos áudios das séries de programas de rádio

que tinham por base o acervo CDMC feitos pelo Prof. Dr. José Augusto Mannis. 14.2 Hemeroteca No convênio firmado com o CDMC francês, a filial brasileira era obrigada a prestar contas de suas atividades e uma das maneiras utilizadas foi a seleção, junção e envio de notícias de jornais, mantendo-se uma cópia ou até mesmo os originais em arquivo. Com isso, foi criada uma hemeroteca que cobre as diversas ações de difusão da música contemporânea em solo nacional às quais o CDMC brasileiro se empenhou em seus anos iniciais de funcionamento. Essa coleção encontra-se armazenada em armário próprio, porém sem ainda uma classificação, separação por algum critério mais específico ou catalogação. Dessa forma, o grande desafio atual da hemeroteca do CDMC é a sua efetiva criação, com a higienização, inventário e catalogação de seus itens, o que possibilitará resgatar uma parte da memória do CDMC em seu momento de criação por meio das ações culturais e artísticas desenvolvidas entre 1989 e 2006. Conclusões A CDMC/Unicamp tem como um de seus objetivos principais a promoção de pesquisas interdisciplinares na área da música contemporânea. Para tanto, desenvolve e mantem acervos de documentação e bases de dados na área de especialidade. Ao longo de seus 27 anos de história, formou um acervo significativo de partituras e arquivos de áudios de música brasileira, europeia e latinoamericana, além de recortes de jornais referentes à produção artística de seus anos de formação. Entretanto, para uma efetiva consolidação de sua missão como centro promotor de pesquisas, deve enfrentar alguns desafios atuais. Aquele que se faz míster com maior urgência é o processo de digitalização dos arquivos de áudio em formatos frágeis ou em eminência de extinção, tais como os vários formatos de fitas existentes no acervo, sob risco de, em um futuro bem próximo, não haver mais a possibilidade de aceso a seus conteúdos. 495

Em relação à infraestrutura, percebe-se que será necessária a aquisição de novos mobiliários para uma ampliação contínua e duradoura do acervo, pois os existentes atualmente não são suficientes para a completa acomodação adequada das novas coleções e fundos adquiridos em doação. Ampliação que, por sua vez, é também de suma importância e poderá ser abordada por meio de ações tais como o contato com compositores presentes no acervo CDMC ou ausentes do mesmo para a ampliação das coleções existentes ou a criação de novas coleções e fundos. Ou ainda, a efetiva criação da hemeroteca a partir dos recortes de jornais do período inicial do CDMC-Brasil presentes no acervo e até o momento não organizados e não acessíveis ao público em geral. Um projeto de longa duração que se apresenta também de suma importância é a criação de um selo editorial, ou algo que se lhe assemelhe, para a publicação de partituras manuscritas. Essa estratégia visa disseminar de maneira mais ampla o conteúdo presente no acervo e deve levar em consideração as demandas exigidas tanto por intérpretes quanto por musicólogos em edições que comportem, sempre que possível, descrições das decisões de editoração e indicações sobre performance das peças. Alguns trabalhos de biblioteconomia, documentação e arquivo já em fase de desenvolvimento serão em breve completados, tais como a nova classificação local do acervo, que irá reagrupar as coleções e fundos existentes, e a disponibilização das novas aquisições em doação. Essa avaliação inicial do conteúdo, estado e desafios do acervo CDMC visa gerar subsídios para as ações a curto, médio e longo prazo do centro para que, dessa maneira, o mesmo possa cumprir de maneira ainda mais efetiva a sua missão de promoção e realização de pesquisas acadêmicas, científicas e artísticas sobre música contemporânea. Referências

Arquivo Nacional. 2005. Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. (Publicações técnicas, nº 51). Rio de Janeiro : Arquivo Nacional. Castagna, Paulo. “Dualidades nas propostas editoriais de música antiga brasileira.” Per Musi, 18 (2008): 7-16 496

Cunha, Murilo Bastos; Cavalcanti, Cordélia Robalinho de Oliveira. 2008. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília : Briquet de Lemos. Garcia, Denise. 2013. “O acervo de música contemporânea da Unicamp: histórico, composição, desenvolvimento e perspectivas.” In: Patrimônio musical na atualidade: tradição, memória, discurso e poder, org. Volpe, Maria Alice. Série Simpósio Internacional de Musicologia da UFRJ. Rio de Janeiro: UFRJ. Universidade Estadual de Campinas. Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural. “CDMC”. (2016). http://www.ciddic.unicamp.br/cdmc_fotos.php?alb=1 (acesso em Jul 07, 2016)

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