Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais de pescadores artesanais do município de São João de Pirabas, nordeste paraense

June 2, 2017 | Autor: R. Chagas | Categoria: Pesca, Pescadores Artesanais, ENGENHARIA DE PESCA, Acidentes De Trabalho, Pesca Artesanal
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ISSN 1678­0701

Número 56, Ano XV. Junho­Agosto/2016.

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 Relatos de Experiências 04/06/2016

ACIDENTES DE TRABALHOS E DOENÇAS OCUPACIONAIS DE PESCADORES ARTESANAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE PIRABAS, NORDESTE PARAENSE   Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2341  Like Be the first of your friends to like this.

ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS EM PESCADORES ARTESANAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE PIRABAS, NORDESTE PARAENSE   1 Rafael Anaisce das Chagas ; Mara Rúbia Ferreira Barros2; Wagner Cesar Rosa dos Santos3; Ana Virgília Pereira do Vale4; Carlos Romildo Santos de Sousa5   1Engenheiro de Pesca – UFRA, email: [email protected]

2Graduanda em Engenharia de Pesca – UFRA, [email protected] 3Engenheiro de Pesca – UFRA, email: [email protected]

4Graduanda em Engenharia de Pesca – UFRA, email: [email protected] 5Graduando em Engenharia de Pesca – UFRA, email: [email protected]

  Resumo: As condições precárias de trabalho, o não uso dos equipamentos de  segurança,  o  difícil  acesso  às  políticas  públicas  e  a  baixa  renda  dos pescadores  tornam  esta  profissão  uma  das  mais  perigosas  e  menos reconhecidas  profissionalmente  pela  sociedade.  Este  trabalho  justifica­se devido à escassez de dados voltados aos acidentes de trabalho na atividade pesqueira  e  das  doenças  ocupacionais  ocorridas  com  esses  pescadores. A metodologia  utilizada  foi  a  aplicação  de  questionários  semiestruturados  aos pescadores  artesanais  alocados  no  município  de  São  João  de  Pirabas, nordeste  paraense.  Notou­se  que  os  pescadores  estão  submetidos  às condições precárias de trabalho, excesso de esforço físico, com poucos, ou até  mesmo,  a  não  existência  de  equipamentos  de  segurança,  sendo  que muitos  não  afastam­se  da  atividade  após  acidentes,  nem  procuram atendimento  médicos.  Essa  realidade  é  encontrada  em  outras  regiões  pelo Brasil,  porém  quando  trata­se  da  região  norte  e  nordeste,  a  precariedade desses dados relevantes sobre a atividade pesqueira agrava a situação. Palavras–chave: Pescador. Saúde do trabalhador. Condições de trabalho.  

Introdução   A  extrema  precariedade  apresentada  na  atividade  deixa  os pescadores  sujeitos  a  riscos  de  acidentes  e  doenças,  devido  ao  grande esforço  físico,  variações  climáticas  e  contato  com  agentes  patológicos  num ambiente  sem  saneamento  (RAMALHO  &  ARROCHELLAS,  2004).  Rosa  e Mattos  (2010)  veem  a  importância  dos  estudos  na  área  de  segurança  do trabalho  dos  pescadores,  pois  os  resultados  refletem  benefícios  aos trabalhadores, auxiliando no planejamento de políticas voltadas para o setor da pesca artesanal. Segundo  Santos,  Lianza  e  Silva  (2013)  a  situação  da  saúde ocupacional  dos  pescadores  é  preocupante,  pois  eles  não  têm  o  hábito  de fazer  exames  médicos  periódicos  e  os  acidentes  de  trabalho  acabam ocorrendo,  geralmente,  pelo  não  uso  dos  Equipamentos  de  Proteção Individual (EPIs). Segundo a Organização Pan­Americana da Saúde (OPAS), a  pesca  artesanal  expõe  os  pescadores  a  riscos  de  acidentes  variados, dentre os principais: problemas de postura, lesões nos membros inferiores e superiores, contato com secreções venenosas ou de substâncias químicas e entre outros (DOIMO et al., 2012). Observa­se,  na  literatura  nacional  e  internacional,  que  há  poucos estudos  sobre  o  trabalho  da  pesca  artesanal,  sendo  que  a  carência  de artigos publicados é mais evidente quando se buscam discussões referentes à saúde e segurança dos pescadores artesanais (GOIABEIRA, 2012). Esse  estudo  busca  apontar  os  acidentes  de  trabalho  e  os  possíveis riscos  ocupacionais  aos  quais  estão  expostos  os  pescadores  artesanais  do município de São João de Pirabas, bem como identificar possíveis medidas que podem mitigar aos riscos e acidentes na atividade pesqueira.   Material e Métodos   O estudo foi realizado em junho de 2014 no município de São João de Pirabas  (00°46’29”  S;  47°10’38”  W),  situado  no  nordeste  paraense,  distante 190  km  da  capital  Belém,  abrange  uma  área  de  709,4  km2  possuindo aproximadamente 20 mil habitantes. Aplicou­se  um  questionário  semiestruturado  com  perguntas  diretas  e objetivas  dentre  as  quais,  se  o  pescador  considera  a  atividade  pesqueira perigosa, e o porquê; se utilizam equipamentos de proteção individuais (EPI), e quais; sobre a frequência e a quantidade de horas trabalhadas por dia; se já  sofreu  algum  acidente,  quais  e  qual  a  região  do  corpo  mais  afetada;  se houve  afastamento  por  causa  do  acidente;  se  houve  uma  procura  ou  uma consulta médica; e em relação a doenças ocupacionais ocorridas durante o trabalho. A  análise  das  informações  obtidas  foi  estritamente  qualitativa, efetuada por meio da interpretação do discurso dos entrevistados, buscando, sempre  que  possível,  justapor  o  os  resultados  encontrados  com  outros resultados semelhantes encontrados em outros trabalhos.   Resultados e Discussão   Todos  os  pescadores  consideram  a  pesca  como  uma  atividade perigosa,  devido  principalmente  aos  acidentes  durante  a  manipulação  do pescado  (peixes,  crustáceos  e  moluscos),  condições  climáticas  e  acidentes com  a  embarcação  e/ou  a  pirataria.  Sobre  as  condições  climáticas  Frajo  et   al.  (2007)  posicionam­se  quanto  à  necessidade  de  prevenção  primária  dos

trabalhadores  contra  os  efeitos  dos  raios  ultravioletas,  especialmente naqueles trabalhadores de pele menos pigmentada. Quando perguntados sobre a jornada de hora trabalhada por dia, 40% comentam uma carga horaria de 4 a 6h/dia e o restante (60%) uma jornada de  mais  de  10h/dia.  Alguns  comentam  que  a  jornada  de  trabalho  varia dependendo do tipo de embarcação e do apetrecho utilizado na pesca. Para Bezerra  (2002)  as  condições  de  trabalho  oferecidas  pela  atividade  faz  com que ocorram mais problemas psiquiátricos e de consumo de álcool e tabaco pelos  pescadores,  que  relacionam  isto  à  falta  de  opção  de  lazer  e  à  baixa remuneração. Para  evitar  ou  minimizar  riscos  durante  um  trabalho  existem  os equipamentos  de  proteção  individual  (EPIs)  que  é  definido  como  todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado a  proteção  contra  riscos  capazes  de  ameaçar  a  sua  segurança  e  a  sua saúde  (NR6  –  Segurança  e  Medicina  do  Trabalho­  10ª  Edição  –  2012). Dentre  os  pescadores  entrevistados,  75%  utilizam  algum  equipamento  de proteção  individual  (EPI),  sendo  que  a  bota  (75%)  foi  descrita  como  a  mais utilizada,  seguidos  pelo  colete  (50%)  e  a  luva  (40%).  Dos  25%  que  não utilizam EPI, 70% afirmam que a empresa não fornece e 10% desconheciam o EPI. Os pescadores estão submetidos às condições precárias de trabalho, excesso de esforço físico, com poucos, ou até mesmo, a não existência de equipamentos  de  segurança,  sendo  que  em  relação  a  acidentes  ocorridos durante a atividade pesqueira, 90% dos pescadores afirmaram já ter sofrido algum tipo de acidente durante a pesca, dentre eles o escorregão (80%) foi o mais  citado,  seguidos  pela  lesão  por  equipamento  (70%)  e  lesão  durante  o manuseio do pescado (50%). Os membros mais afetados nesses acidentes foram  os  membros  inferiores  (80%)  e  os  superiores  (60%),  sendo  que apenas 10% dos pescadores se afastaram após o acidente e o restante não se  afastou  por  não  considerar  grave  o  acidente,  mesmo  após  consultas médicas. Em relação aos acidentes, nenhum dos pescadores deram entrada no CAT pois desconhecerem esta ação. Em  relação  as  doenças  ocupacionais  na  atividade  pesqueira  70% afirmam  sentirem  dores  de  cabeça,  50%  comentam  dores  na  coluna,  45% dores nos braços. Estudo de coorte realizado Rios, Rego e Pena (2011), com pescadores  da  Espanha,  relatou  que  as  maiores  queixas  envolveram  o sistema  musculoesquelético,  doenças  respiratórias,  doenças  do  sistema digestivo e olhos, além de problemas auditivos. A precariedade da legislação trabalhista  e  a  realização  de  pesca  ainda  de  modo  artesanal  são  citadas como  alguns  dos  problemas  que  podem  interferir  na  condição  de  vida  e  de saúde  dos  trabalhadores,  especificamente  com  relação  aos  pescadores  do Brasil (ROSA & MATTOS, 2010). Segundo  Rosa  e  Mattos  (2010),  existe  uma  precariedade  da legislação  trabalhista  específica  para  o  setor  pesqueiro,  a  despeito  de  o Brasil ser signatário de convenções da Organização Mundial para o Trabalho (OMT) que recomenda essa regulamentação, inclusive sobre a participação de  trabalho  infantil.  Aqui,  a  profissão  de  pescador  foi  regulamentada  pelo Decreto­Lei N° 221/1967, que dispõe sobre a proteção e estímulos à pesca; em  2009,  foi  aprovada  a  Lei  N°  11.959,  que,  além  do  aspecto  regulador  da profissão, instituiu uma nova opção de contratação de pescadores, mediante acordos  especiais,  além  da  possibilidade  de  que  o  processo  se  desse segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).   Conclusão

  O crescimento na produção da atividade pesqueira traz consigo um aumento da  exposição  dos  trabalhadores  a  diversos  riscos  no  ambiente  de  trabalho. Tais  riscos  ainda  não  estão  bem  esclarecidos,  especialmente  na  atividade desenvolvida de forma artesanal, por isso faz­se de vital importância estudos relacionados  a  essas  análises  e  descrições  levando  em  conta  os  acidentes de trabalhos e riscos ocupacionais.   Referências   BEZERRA,  B.  Distúrbios  psiquiátricos  em  pescadores  da Amazônia.  Jornal da Paulista, v. 168, p. 1­2, 2002.   DOIMO,  R.  A.,  et  al.  Equipamentos  e  doenças  laborais  dos  pescadores artesanais  da  estação  ecológica  Juréia­Itatins  (SP).  UNISANTA  Law  and Social Science, v. 1, n. 1, p. 7­11, 2012.   FRAJO,  V.  P.,  et  al.  Occupational  skin  diseases  caused  by  solar  radiation. Coll Antropol., supl. (1), p. 87­90, 2007.   GOIABEIRA, F. D. S. L. Riscos  ocupacionais  e  medidas  de  proteção  na pesca  artesanal:  Características  da  atividade  de  mariscagem.  2012. 120p.  Dissertação  (Mestrado  em  Saúde,  Ambiente  e  Trabalho)  ­ Universidade Federal da Bahia, Salvador ­ BA, 2012.   RAMALHO, J. P. & ARROCHELLAS, M. H. Desenvolvimento, subsistência e trabalho informal no Brasil. São Paulo: Cortez, 2004.   RIOS, A. O.; REGO, R. D. C. F. & PENA, P. G. L. Doenças em Trabalhadores da Pesca. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 35, n. 1, p. 175­188, 2011.   ROSA, M. F. M. & MATTOS, U. A. O. A saúde e os riscos dos pescadores e catadores  de  caranguejo  da  Baía  de  Guanabara.  Ciências  e  Saúde Coletiva, v. 15 (Sup 1.1), p. 1543­1552, 2010.   SANTOS,  H.  G.;  LIANZA,  S.  &  SILVA,  V.  B.  A  situação  da  saúde ocupacional dos pescadores artesanais. Seminário PAPESCA ­ SOLTEC UFRJ, 5p, 2013.

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