ACIDENTES SÓCIO-NATURAIS EXTREMOS EM LONDRINA, PR: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS FRENTE AO PLANEJAMENTO URBANO, NOS ANOS DE 2011 E 2012

July 9, 2017 | Autor: H. Matos da Silveira | Categoria: Urban Geography, Flood Risk Management, Urban Planning, Risk Management, Watershed Hydrology, Londrina
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I Seminário Internacional de Investigações Sobre Vulnerabilidade dos Desastres Socionaturais - SIIVDS Florianópolis – Santa Catarina, Brasil 20 a 22 de Novembro de 2013

5.8 ACIDENTES SÓCIO-NATURAIS EXTREMOS EM LONDRINA, PR: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS FRENTE AO PLANEJAMENTO URBANO, NOS ANOS DE 2011 E 2012 Nilson Cesar Fraga, Heitor Matos da Silveira e Naibi Souza Jayme – Universidade Estadual de Londrina/Universidade Federal do Paraná – Universidade Estadual de Londrina – Universidade Estadual de Londrina Proposta O presente trabalho objetiva realizar uma análise das ameaças sócio-naturais extremas geradas pelas chuvas intensas que atingiram o meio urbano de Londrina, Paraná, nos anos de 2011 e 2012. Tais eventos climáticos, caracterizados como extremos, destacaram a necessidade de um replanejamento urbano da cidade, buscando mitigar os efeitos deletérios ocasionados por desastres naturais, mesmo que estes pareçam absurdos para uma típica cidade do Norte do Paraná, planejada e projetada sobre os divisores de água ao contrário da maioria dos espaços urbanos sulistas terem sido eretos em fundos de vale. Metodologia e Abordagem De antemão, cabe também explicitar que as políticas públicas que regem a cidade de Londrina estão deficientes, pois, de acordo com dados históricos podemos verificar que a cidade, inicialmente, era planejada pra comportar uma quantidade de 70.000 habitantes e que conta com, atualmente, mais de 500.000 habitantes. Sendo assim, a partir de mapas obtidos do Atlas Urbanos de Londrina (2009), podemos verificar que essa falta de planejamento culminou com a ocupação de fundos de vale, encostas, etc. Para caracterizar a face de análise climática do trabalho, cabe explicitar a diferença entre clima e tempo. Ayoade (1996, p. 2) explica que o tempo é “o estado médio da atmosfera numa dada porção de tempo em um determinado lugar” e o clima pode ser caracterizado como “a síntese do tempo em um dado lugar durante um período de aproximadamente 30 a 35 anos”. Outra definição para essa questão é a de Tubellis (1986, p. 1) onde o autor coloca que “a climatologia, por intermédio de técnicas estatísticas, faz uso de dados meteorológicos, valores médios, frequências, variações e distribuição geográfica, buscando a compreensão dos processos atmosféricos”. O que é um evento climático extremo? Para essa questão, Marengo (2011, p. 6) coloca que os eventos extremos são “grandes desvios de um estado climático moderado”. Portanto, podemos caracterizar o evento climático de Londrina, em 2011, como sendo extremo, uma vez que houve uma mudança do quadro climático normal para uma intensa chuva e consequente dano à sociedade. Visando esclarecer o conceito de desastres naturais, Kobiyama et al. (2006, p. 7) expõem que Os desastres são normalmente súbitos e inesperados, de uma gravidade e magnitude capaz de produzir danos e prejuízos diversos, resultando em mortos e feridos. Portanto, exigem ações preventivas e restituidoras, que envolvem diversos setores governamentais e privados, visando uma recuperação que não pode ser alcançada por meio de procedimentos rotineiros. Inundação será considerada como sinônimo de enchente, quando ocorre o transbordamento de água do canal natural, além dos seus leitos maiores, periódicos ou sazonais, ou mesmo, quando atingindo o leito maior excepcional, ocupando ou não este leito. Cheia, refere-se aos maiores débitos que ocorrem durante o período de um ano, ocupando a várzea do rio e não transbordando, sem ocorrer, portanto inundação (CHRISTOFOLETTI, 1981, p. 56).

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Objetivando atingir os objetivos, utilizar-se-á a Teoria Geral dos Sistemas, que se constitui na geração de um sistema aberto cujas partes são constituídas por subsistemas que se articulam como insumidores. Juntamente com essa metodologia, serão obtidos dados meteorológicos de instituições como o Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Sistema Meteorológico do Paraná – SIMEPAR, Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, dentre outros orgãos. Resultados Os eventos climáticos extremos impactaram o meio urbano de Londrina de forma intensa. A partir dos índices pluviométricos obtidos no site do INMET, verifica-se uma disparidade pluviométrica intensa nos anos de 2011 e 2012, no qual os gráficos 1 e 2 demonstram tal diferença. Conforme o jornal O Diário (2011), as chuvas intensas ocorridas em Londrina no ano de 2011, causaram 42 alagamentos, danificaram casas e ruas, onde 14 casas foram danificadas, 29 residências foram vistoriadas, 42 alagamentos foram registrados, duas quedas de árvore, sete desabamentos de fossas, dois princípios de incêndio e dois riscos de desabamento de muro. Cerca de 25 bombeiros que estavam de folga foram chamados para trabalhar, dando apoio aos outros 50 homens que estavam de plantão. A chuva também danificou a estrutura destinada a índios na Avenida Dez de Dezembro e 61 pessoas ficaram desabrigadas. Elas foram levadasprovisoriamente para o ginásio do Moringão, onde aguardam encaminhamento (O DIARIO, 16/10/2011). Em junho de 2012, de acordo com a estação meteorológica do IAPAR, apenas no dia 19 choveu mais de 200 milímetros em Londrina (200,5 mm). O volume de chuvas em todo o mês de junho, 344,2 milímetros, foi 290% maior que a média esperada para todo o mês, de 87 milímetros. O número ultrapassou o antigo recorde registrado pela estação, que era de 161 milímetros em junho de 1997. Há o registro de nove ruas alagadas e três pontes danificadas, isso em três bairros da cidade A figura 1 ilustra as ruas da cidade tomadas pelas águas. Figura 1 - Via tomada pelas águas.

Fonte: Alex Lima, 2012. Tais dados corroboram com a avaliação de que a alta concentração de chuvas (gráficos 1 e 2), aliada a impermeabilização do espaço urbano londrinense e a dimensão das galerias pluviais que não são dimensionadas para tais índices e tamanha urbanização, são co-responsáveis pelos acidentes ambientais nos dois anos estudados.

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Gráfico 1 - Índice Pluviométrico de Londrina, 2011 2012

Fonte: INMET, 2013.

Gráfico 2 - Índice Pluviométrico de Londrina,

Fonte: INMET, 2013

Com os dados obtidos pelos órgãos públicos supracitados para o ano de 2012, gerou-se o gráfico 3, que denota os desastres socioambientais ocorridos em Londrina. Gráfico 3 - Danos causados pelas chuvas no mês de Outubro de 2012. Rompimento de Barragem Resgate Vítima Vistoria Técnica/Residência Desabamento (Risco) Desabamento de Telhado Risco Queda de Árvore Desabamento Muro Rachadura Residência Desabamento de Fossa Destelhamento Alagamentos 0

10

20

30

40

50

Fonte: Corpo de Bombeiros/Defesa Civil de Londrina, 2012. Org: Silveira, 2012. A partir das pesquisas feitas, dos dados obtidos, da análise dos gráficos, tabelas, mapas e informações adquiridas, pode-se ter uma dimensão do quanto essas chuvas foram impactantes

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no território londrinense. A partir disso, podemos refletir também o quão deficientes e ineficientes são as políticas públicas da cidade e como o planejamento urbano é frágil, uma vez que se é inconcebível a ideia de pessoas morarem em áreas de risco. Cabe denotar, também, que tais eventos só são considerados extremos por que impactam de certa forma a sociedade, uma vez que esses eventos poderiam passar por “normais” caso não tivessem atingido de forma tão forte a sociedade. Por isso, deve-se também pontuar que a relação sociedade/natureza é inseparável, pois, os impactos que são gerados pela ação antrópica, refletem na sociedade como um todo, sobretudo no sítio em que tais sociedades habitam. Os acidentes ambientais ocorridos em Londrina, nos anos de 2011 e 2012, se devem principalmente pelas características do quadro natural aliados ao processo de apropriação dos recursos naturais e a conseqüente implantação do sítio urbano, que avançou dos espigões para os fundos de vale desde o forte crescimento populacional da cidade, em quase oito décadas de efetiva ocupação. São estes os elementos formadores e a gênese dos conflitos socioambientais em relação às enchentes registradas nos últimos anos, trazendo no bojo as discussões atinentes às relações homem/meio ambiente, no contexto geográfico da construção da paisagem local e, não diferente, no nível regional também (FRAGA, 2005).

Originalidade e Valor O presente estudo analítico é fruto dos acidentes sócio-naturais ocorridos em Londrina nos últimos anos, caracterizados como extremos, tendo em vista que o perímetro urbano não registrava fenômenos de inundação com impactos socioambientais, tão contundentes, que se tenha notícia. Isso faz com que esses estudos sejam originais no âmbito da Geografia londrinense e os mesmos servem para a prevenção de novos desastres sócio-naturais, visto que a tendência é da sua repetição, pois Londrina é uma cidade nova e cujo crescimento é ininterrupto nas últimas oito décadas, mas ampliados nas últimas duas décadas. Os resultados serão disponibilizados à Defesa Civil municipal que contribuíram com dados relevantes, bem como à própria Prefeitura Municipal por meio de sua Secretaria de Desenvolvimento e Meio Ambiente, para que possam repensar o planejamento urbano futuro. Palavras-chave Acidentes Ambientais; Enchente Urbana; Londrina/PR. Tipo de Artigo Estudo de Caso Referências AYOADE, Johnson Olaniyi. Introdução a Climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia Fluvial. São Paulo: Edgard Blücher, 1981. FRAGA, N. C. Vale das águas revoltas. Sociedade, natureza e políticas públicas antienchentes no Vale do Itajaí (SC) no século XX. Indaial: Ed. da Asselvi, 2005. INMET. Instituto Nacional de Meteorologia. Estações Convencionais – Gráficos: Estação: 83766 – Londrina (2011 e 2012). 2013. Disponível em: < http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=rede_estacoes_conv_graf>. Acesso em: 20 jun. 2013. KOBIYAMA, Masato et al. Prevenção de Desastres Naturais: conceitos básicos. Curitiba: Ed. Organic Trading, 2006. MARENGO, José Antônio. Mudanças climáticas, condições meteorológicas extremas e eventos climáticos no Brasil. In: MARENGO, José Antônio; SCHAEFFER, Roberto; PINTO, Hilton Silveira; ZEE, David Man Wai. Mudanças Climáticas e Eventos Extremos no Brasil. Rio de Janeiro: FBDS, p. 5-18, 2009.

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O DIÁRIO. Chuva causa 42 alagamentos e danifica casas e ruas em Londrina. 2011. Disponível em: http://londrina.odiario.com/londrina/noticia/502024/chuva-causa-42-alagamentose-danifica-casas-e-ruas/ Acesso em: 20 julho

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