Adaptação de Propriedade para o Turismo no Meio Rural: Estudo de Caso Sobre o Recanto Daneliv no Município de Irati – PR

June 15, 2017 | Autor: Leandro Baptista | Categoria: Rural Development, Rural Tourism, Turismo rural comunitario, Tourism and rural communities
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doi: 10.7213/CAD.Est.Pes.Tur.04.004.AO03

Adaptação de Propriedade para o Turismo no Meio Rural: Estudo de Caso Sobre o Recanto Daneliv no Município de Irati – PR Property adaptation for Tourism in Rural Areas: A Case Study About Recanto Daneliv in the city of Irati - PR

João Henrique de Almeida Cezário Turismólogo de formação na Unicentro [email protected] Elieti F. Goveia Mestre, Economista Professora de economia no curso de Turismo/Campus de Irati/Unicentro [email protected] Leandro Baptista Doutorando em Geografia, Mestre em Geografia, Turismólogo Professor Colaborador no Curso de Turismo/ Campus de Irati/Unicentro [email protected] Resumo Este artigo é resultado de um estudo de caso desenvolvido no Recanto Daneliv, o qual foi adaptado para atuar com trabalhos voltados ao segmento de Turismo no Meio Rural em 2013. Para tanto, teve-se como objetivo geral compreender as mudanças que ocorreram na propriedade, e especificamente, foram identificadas as atividades oferecidas no local, sua infraestrutura e quais serviços são prestados. Para alcançar os objetivos propostos, a investigação teve um enfoque qualitativo-exploratório, somada à pesquisa bibliográfica, documental, análise em campo com entrevistas estruturadas e posterior análise dos dados. Os resultados sugerem que, mesmo tendo sua adaptação ocorrida há poucos anos, benefícios econômicos e sociais já são observados pelos seus proprietários, valorizando o espaço local e gerando expectativas de renda complementar com o turismo. Palavras-chave: Turismo no Meio Rural; Adaptação de Atividade; Irati – PR. Abstract This paper is the result of a case study developed in Recanto Daneliv, which was adapted to work with activities related to the Tourism in Rural Areas since 2013. Therefore, it had as main objective to understand the changes that occurred on the property, and specifically, to identify the activities offered for visitors, Daneliv’s infrastructure and which services are CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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rendered to tourists. To achieve the proposed objectives, the research had a qualitative approach, combined with the bibliographical research, field analysis with structured interviews and subsequent analysis of the data. The results suggest that, even though their adaptation occurred a few years ago, their economics and social benefits are already observed by their owners, valuing the local space and generating additional income expectations with tourism. Keywords: Tourism in Rural Areas; Activity’s Adaptation; Irati – PR. 1. Introdução

Nota-se que existem poucas publicações sobre o Turismo no Meio Rural, visando compreender esta segmentação e seus desdobramentos, sobretudo sobre casos específicos do Estado do Paraná. Assim, consegue-se obter informações gerais sobre o processo de planejamento e políticas públicas referentes ao Turismo Rural com maior facilidade a partir de documentos oficiais do Ministério do Turismo (MTur), Secretaria do Esporte e do Turismo do Paraná (SETU), Ministério do Desenvolvimento Agrário e ainda pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Assim, a intenção desse trabalho foi desenvolver um estudo deste segmento tendo como estudo de caso a propriedade Recanto Daneliv, situado no município de Irati – PR, na comunidade do Cerro da Ponte Alta, cuja distância é de aproximadamente 28 km do centro da cidade. Este empreendimento possui caráter familiar, sendo administrado por dois irmãos, que trabalham no local com interesse de aproveitar a disposição de 50 alqueires, divididos entre área de reflorestamento, agropecuária, e a partir de 2013, adaptado para desenvolver atividades voltadas ao turismo, lazer e recreação. Deste modo, a problemática central deste estudo teve como questão conferir se a atividade do Turismo está sendo benéfica ou não aos empreendedores. A partir desta dúvida, foi estabelecido como objetivo geral: analisar as atividades que ocorrem na propriedade Recanto Daneliv e como específicos: identificar se a propriedade volta suas atenções ao Turismo Rural ou ao Turismo no Meio Rural, inventariar sua infraestrutura e evidenciar quais serviços são oferecidos para os visitantes. Para responder à problemática e alcançar os objetivos propostos, foi necessário recorrer a metodologia concernente a pesquisa exploratória em caráter qualitativo, que segundo Creswell (2010), congrega a utilização de textos, imagens, análise de dados, em diferentes estratégias de investigação. Foram também levantados dados primários CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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correspondente a pesquisa de campo e secundários em relação a fundamentação teórica, baseada em conceitos de Turismo Rural e Turismo no Meio Rural disponíveis por meio de livros, artigos científicos e revistas indexadas. Em seguida, foram aplicadas entrevistas estruturadas aos dois proprietários do Recanto Daneliv, com o total de 11 questões (Anexo 1), composta por perguntas abertas. Para a análise e reflexão dos dados, foram utilizadas citações indiretas das respostas obtidas, visando preservar a privacidade dos dados. Acredita-se ainda, que este estudo teve como meta compreender o local investigado e contribuir cientificamente com a gestão do empreendimento através de um conjunto de informações sobre o Turismo no Meio Rural para promover possibilidades de melhorias na propriedade, sob a ótica da Pesquisa Participante (DEMO, 1985). Por fim, cabe destacar que esta análise soma-se à outras questões pertinentes no quesito de divulgar atividades do Turismo no Meio Rural no interior do município de Irati, assim como estimular outros ambientes a agregarem o turismo ao amálgama de suas rotinas cotidianas, aproveitando os recursos já disponíveis em suas propriedades. Desta maneira, no próximo tópico serão abordados os conceitos de Turismo Rural e de Turismo no Meio Rural, visando esclarecer suas características e implicações.

2. Características e conceitos acerca do segmento: Rural ou no Meio Rural?

O panorama que tenta diferenciar uma área rural de um espaço urbanizado é objeto de controvérsias e poucas corroborações desde, conforme pode ser visto em “Redefinição do Conceito Urbano e Rural” publicado há mais de três décadas pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES (1983). Não se procura neste estudo apontar um critério de segregação, mas para fins acadêmicos, dimensionar o entendimento sobre o meio rural enquanto com diferentes atividades agrícolas (soja, feijão, milho, etc.) e pecuária (bovinocultura, suinocultura, etc.) incompatíveis de serem executas em ambientes considerados urbanos, devido suas limitações espaciais. Da mesma forma, para adentrar na contextualização dos conceitos, cabe destacar que o conceito de Turismo Rural possui diferentes conotações ao redor do globo. Neste aspecto, Araújo (2000) aponta que não existe uma conceituação única de Turismo Rural e que cada país pode atribuir-lhe um significado ligeiramente diferente, pois existem diferentes CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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realidades para o que se considera como rural. Tal afirmação torna-se válida especialmente se analisarmos locais com pouco espaço territorial como o Japão, por exemplo. No caso brasileiro, o Ministério de Turismo (2010) conceitua o Turismo Rural através de aspectos territoriais, economicamente fundando pela produção campestre, somado aos recursos naturais e culturais da comunidade local, ao esclarecer que o segmento refere-se ao “Conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade” (MTUR, 2010, p. 18). Neste contexto, os moradores de áreas rurais podem aproveitar e ampliar o leque de atividades disponíveis em sua propriedade através do Turismo Rural, agregando economia aos fatores produtivos já existentes, assim como também aproveitar o ambiente junto à potencialidade gastronômica, cultural, paisagísticas, entre outros, para o desenvolvimento do turismo. Para Schneider e Fialho (2000, p. 31-32) destaca a importância da participação dos produtores rurais dentro do trade turístico, ao destacar que, “o turismo rural sendo planejado, organizado e administrado, com coerência e responsabilidade, tem condições de ser um instrumento valioso para promover o desenvolvimento de regiões que estão as margens do crescimento econômico”. Neste entendimento, o Turismo Rural mesmo apresentando potencialidade inerente ao espaço que está alocado, necessita de planejamento e organização para que seu produto seja destacado no mercado e receba de fato elementos que corroborem com o seu diferencial. Desta forma, o Ministério de Turismo (s/d, p.6) esclarece que: O Turismo Rural propicia o contato direto do consumidor com o produtor que consegue vender, além dos serviços de hospedagem, alimentação e entretenimento, produtos in natura (frutas, ovos, verduras) ou beneficiados (compotas, queijos, artesanato). Assim, obtém-se melhores preços e qualidade para o turista e maior renda para o produtor.

Cabe destacar que o Turismo pode contribuir para alavancar uma região, ou seja, pode impulsionar a melhoria quanto a infraestrutura, como também valorizar a população local a partir de atividades que permitam a participação de base comunitária. A partir do respeito a estes preceitos, aliado à sustentabilidade é que esta atividade deve contribuir com seus diversos impactos positivos, como corrobora Silva (2012, p. 17) ao mencionar que o “Turismo CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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Rural surge como uma nova e forte opção de lazer para os turistas e, por outro lado, como uma boa oportunidade de renda, para o empreendedor rural”. Roque e Vivian (1999 apud SILVA; FILHO; LIMA, 2010) apontam algumas propostas quanto ao crescimento deste setor, que resulta no surgimento de um novo perfil de empreendedores, principalmente das pequenas propriedades, com uma visão mais moderna, no que diz respeito à abertura de novas atividades a exercer, bem como a valorização de sua própria cultura, enriquecendo a atividade, e não apenas como um mero meio de realizar serviços e produção. Ainda nesta reflexão, há uma valorização da mulher do campo e sobre as tradições ensinadas de geração em geração, preservando assim, o patrimônio local. Compreende-se, portanto, que o Turismo Rural pode ser considerado como um o conjunto de atividades realizadas por visitantes ou turistas no espaço rural, direcionado com afazeres relacionados à rotina cotidiana da vida no campo, como produção agropecuária, acrescentando valor por meio da experimentação. E afinal, o que é o Turismo em Meio Rural? O turismo no meio rural pode ser entendido como qualquer forma de atividade turística no ambiente rural, a qual abrange várias modalidades como, por exemplo, a pesca, o camping, passeios a cavalo, entre outras, utilizando o deslocamento do turista para integrar estas atividades ao meio espaço rural. Assim, para compreender este fenômeno é indispensável à compreensão do meio de inserção da atividade, definindo suas características, como: paisagem, cultura local, gastronomia, formas de produção, natureza, modo de vida, entre outros (TULIK, 2003). O Ministério do Turismo (2010), diferencia os segmentos pelo critério de que o Turismo Rural deve ser aliado as atividades-fim desenvolvidas no ambiente rural, voltadas a questões de produção agropecuária e a serviços que venham promover a valorização do patrimônio cultural, natural da comunidade local, por exemplo. Quanto a um dos conceitos do Turismo no Meio Rural, pode ser aqui mencionado por Silva e Campanhola (1999) como atividades direcionadas a lazer em algumas modalidades vinculadas ao turismo rural, turismo ecológico, turismo jovem, turismo social, turismo de saúde e turismo esportivo. Neste aspecto, evidencia-se através dos exemplos que os segmentos diferem-se, ainda que utilizem um território comum. Nesta questão, o Ministério do Turismo – MTur (2010), acrescenta que as atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, complementada com a produção agropecuária, trazem CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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de volta elementos do patrimônio cultural e natural, podendo ser aliadas aos serviços apresentados aos turistas que procuram por este segmento. Diante deste panorama, Locatel (2004), corrobora ao esclarecer que a ruralidade tem a função de integração econômica, a produção agrícola, o turismo e lazer, funções ambientais de preservação de recursos naturais e proteção da biodiversidade e funções sócio culturais como a preservação da cultura das comunidades locais. Portanto, entende-se que atividade do Turismo no Meio Rural pode ser utilizada pelas famílias de agricultores como forma alternativa de renda, trabalho e motivação para que permaneçam no campo e não saiam em busca da sociedade em centros urbanos, sendo assim capaz de preservar a cultura rural, organização espacial, gastronomia, preservação ambiental e valorização da identidade, oportunizando o contato cultural de visitantes oriundos de diferentes regiões. Salienta-se ainda que existem dificuldades inerentes ao pequeno agricultor em subsistir no campo, associado principalmente à falta de políticas públicas eficazes no país. Elesbão (2000) cita que a política agrícola no Brasil não favoreceu os pequenos produtores, chegando até mesmo a impor barreiras como a restrição de créditos, juros elevados e aumento nos preços de insumos. Assim, para Cesário (2014), o meio rural entrou em uma crise social e econômica nas últimas décadas. Para tentar reverter esta situação, algumas propriedades começaram então a investir em alternativas de renda de forma não agrícola, ligadas à moradia e prestação de serviços, culminando no desenvolvimento da atividade do turismo. Visando melhor compreender a respeito destas atividades produzidas no meio rural, o próximo tópico abordará alguns conceitos relacionados à esta prática.

2.1 Atividades do Turismo no Meio Rural

Cesário (2014) aborda a questão das atividades do Turismo no Meio Rural fundamentado pelos autores Moletta e Goidanich (1999), quanto aos cinco itens relacionados aos atrativos da paisagem no Brasil: possuir clima tropical, conta com exuberante fauna e flora, diferentes tipos de relevos e quatro estações bem determinadas. Para Cesário (2014) a maioria destas características estão na maioria das vezes disponíveis e são suficientes para que os turistas busquem atividades no meio rural. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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Outro item diz respeito a questão da cultural local, destacando grupos folclóricos, danças, festas e vestimentas típicas e história entendendo que estes elementos são importantes para que o visitante possa compreender a cultura local (CESÁRIO, 2014). Demais atividades recreativas que podem ou não ser relacionadas com o campo, como pescaria, passeios a cavalo, charrete, trilhas, observação de pássaros, entre outros, também constituem oportunidades interessantes para entreter os adeptos do segmento. Também se faz fundamental destacar a gastronomia típica: esta representa um importante atrativo, histórico e cultural, pois em muitas famílias residentes em propriedades rurais existem receitas “herdadas” que exigem formas especificas de manipulação e cocção, demandando tempo para seu preparo, visando garantir a qualidade. O ambiente onde o alimento é preparado também imprime diferencial, como um fogão à lenha, panelas de barro ou ferro e churrasco em fogo de chão. Entende-se que estas atividades somadas a uma boa infraestrutura básica e de apoio, como acomodações, estradas, saneamento, atendimento de qualidade, podem ser consideradas como principais características para que os visitantes se interessem e busquem o meio rural para seu descanso e lazer.

3 Resultados e Discussões

Visando caracterizar o espaço físico do Recanto Daneliv, a partir da pesquisa de campo foram coletadas imagens da antiga estufa de fumo, hoje, adaptada para oferecer hospedagem aos turistas que pernoitam no local. Na Figura 1, fotos 1 e 2, observa-se como a propriedade estava antes de se dar início ao Turismo no Meio Rural, enquanto as fotos 3 e 4, demonstram o atual estado da paisagem local.

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Figura 01: Mosaico de fotos do Recanto Daneliv.

Fonte: CESÁRIO (2014)

Conforme observado na Figura 1, o ambiente contempla um espaço verde arborizado, com a estufa originalmente utilizada para secagem de fumo, antiga atuação da família. Esta estufa foi reaproveitada, e passou a servir como sistema de hospedagem, adequada para atender os turistas, sejam eles jovens, famílias, grupo de amigos e/ou pessoas portadoras de necessidades especiais. Ainda é possível visualizar a partir da foto 4 o tanque de peixes, pedalinhos, parte da piscina e uma trilha ecológica. A adaptação constituiu, segundo os proprietários, na transformação da produção de fumo para atividades voltadas ao turismo. Outras culturas como a criação de animais como: vacas, porcos e cabritos se mantém até hoje. Assim, o início da atividade do Turismo em Meio Rural no Recanto Daneliv ocorreu no mês de novembro de 2013, em decorrência da passagem de uma das rotas do Evento Cicloturismo Irati, organizada pelo Coordenador do Turismo Municipal de Irati, para contemplar a propriedade. De acordo com a pesquisa de campo, pode-se entender as razões que levaram aos proprietários a acreditar e investir no turismo com objetivo de aproveitar a potencialidade local. Segundo os entrevistados, primeiramente a ideia nasceu pelo gosto da família em CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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sempre estar comemorando e organizando festas familiares onde hoje localiza-se o empreendimento. Em seguida, visualizou-se oportunidades em investir em um novo negócio, fundamentado pelas experiências adquiridas em diversas viagens realizadas pelo Brasil. Nesse aspecto, os irmãos informaram que os locais visitados durante as suas viagens oportunizaram investir no Recanto, pois eles consideram que o espaço apresenta características de grande potencial quanto aos recursos naturais, belezas cênicas, ar puro, gastronomia típica, prazer e encanto da família em receber as pessoas. Assim, chegaram à conclusão que o espaço onde vivem e administram apresenta melhores condições físicas em relação aos locais previamente visitados por eles. Desta forma bastante informal nasceu o empreendimento. Entende-se, portanto, que os proprietários aproveitaram o nicho de mercado e acreditam no que estão investindo e melhorando, conforme observa-se na Figura 02.

Figura 02: Salão de jogos e piscina

Fonte: CESÁRIO (2014)

A Figura 02 ilustra a área construída destinada à recreação, onde conta com uma piscina para adultos, uma piscina para crianças, um salão de jogos, uma churrasqueira, um banheiro e uma casinha para crianças brincarem. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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Além das edificações, destaca-se a paisagem natural, com ampla área para camping, que assegura a ocupação extra hoteleira no Recanto. De acordo com os proprietários, a quantidade de unidades habitacionais na atualidade é de somente nove quartos. Esse espaço ainda não é suficiente para atender grupos e, os sócios afirmam que a opção do camping é recorrente para aproveitar o local. Em fase de conclusão, também está sendo construído uma mesa específica e original para que os turistas possam tomar o café da manhã. Este item remete ao meio de transporte na qual a família utilizava para o serviços no campo, conhecido como carroça. A disposição da mesa deverá ficar em frente a um lago, fornecendo ao cliente uma vista privilegiada na primeira refeição do dia. Atualmente a refeição da manhã é servida na antiga estufa de fumo, conforme, representada pela Figura 03, que também é considerado um local adaptado para atender os visitantes. Figura 03: local onde hoje é feita a refeição da manhã.

Fonte: CESÁRIO (2014).

A Figura 04 retrata o local que é servido o café da manhã e ilustra os alimentos servidos em uma das manhã no Recanto Daneliv. Este café é preparado utilizando matéria prima do próprio local, sendo comprados apenas itens que exigem industrialização, como o CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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açúcar, o trigo, o café, o chá, o azeite e o fermento. A elaboração dos pães, bolos, entre outros, são todos produzidos no local. Já na Figura 05, observa-se o buffet servido para um almoço, bem como um dos proprietários também responsável por assar carnes. O cardápio é composto por dez itens, são eles: saladas, arroz, maionese, farofa, macarrão caseiro e churrasco de carne de carneiro. Os produtos são de origem da propriedade, cabendo a compra de apenas produtos industrializados na comunidade, como no caso do café da manhã.

Figura 05: Almoço que pode ser servido aos clientes caso solicitado

Fonte: CESÁRIO (2014).

O Quadro 01, por sua vez, representa as atividades que os proprietários criaram para atender ao Turismo no Meio Rural. Quadro 01: Atividades anteriores, posteriores e serviços.

Atividades anterior ao

Atividades destinadas ao

turismo rural

turismo no meio rural

Serviços

Agricultura

Tanques para pesca

Café da manhã

Agropecuária

Campo de futebol suíço

Almoço

Reflorestamento

Quadra de areia

Festas locais

Salão de dança

Pescaria

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Trilha Pedalinhos Salão de jogos Piscina Playground para as crianças (cama elástica) Passeio de Jeep Fonte: CESÁRIO (2014)

Ao observar o Quadro 01, nota-se que hoje, há uma considerável oferta de atividades destinadas ao visitante. Esse quadro remete às considerações de Irving (2002), que coloca que as atividades no meio rural são permeadas pelos elementos que constituem esse meio. Os irmãos passaram a adaptar o local para as atividades do turismo no meio rural, devido à crença na potencialidade do espaço, como exemplo o manancial de água, o verde natural e o carisma familiar em receber as pessoas. No Quadro 02 são apresentadas questões quanto à ocupação da família que conduz o empreendimento:

Quadro 02: Atividades de renda

Ocupação anterior

Ocupação atual

Professor de ensino médio

Professor de ensino médio

Criação de animais

Criação de animais

Reflorestamento

Reflorestamento

Plantação de fumo

Turismo no meio rural

Fonte: CESÁRIO (2014)

Assim, como se visualiza no Quadro 02 a ocupação de plantação de fumo foi trocada pela administração e atuação na atividade de turismo. Os investimentos alocados, segundo os proprietários, encontram-se até o momento em torno de 170 mil reais. De acordo com as entrevistas, desde a implantação do Recanto Daneliv em 2013, a procura de grupos pelo local aumenta gradativamente, chegando a 400 pessoas por temporada.

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Quanto a origem da demanda, os proprietários afirmaram que os mesmos deslocam-se a partir de municípios próximos da região, como Ponta Grossa, Irati, Curitiba, Castro e Guarapuava. Em relação ao público-alvo que desejam formar são grupos, de 10 a 40 pessoas, oriundos de empresas, colégios, universidades, e prefeituras, mas não descartam grupos de outras origens, da melhor idade e religiosos. O retorno sentimental desse empreendimento, sob o ponto de vista dos proprietários, é o reconhecimento do Recanto por parte dos visitantes e a valorização do meio rural. Também pode ser destacado aqui que os mesmos procuram usar de suas criatividades e experiências da própria profissão e vivências das viagens já realizadas pelo Brasil, para transformar e atender melhor os clientes que procuram seus serviços. Ressalta-se ainda, que a renda dos proprietários não provém somente do turismo implantado na propriedade, conforme já explanado em referências anteriores. O Quadro 03 ilustra a disponibilidade de infraestrutura do Recanto: Quadro 03: Infraestrutura

Infraestrutura Chalé dividido em dois ambientes Suíte para 4 pax Cozinha, área com churrasqueira com barzinho Banheiros Lugar para acampar Área de lazer para dança Salão de jogos Piscina Campo de futebol suíço Lagos Quadra de areia Local para café da manhã

Quantidade 1 1 1 6 Amplo espaço verde 1 1 2 1 10 1 1

Fonte: CESÁRIO (2014)

O chalé que está dividido em duas unidades de alojamento foi construído com matéria prima local (pinnus), a suíte foi adaptada na antiga estufa de fumo assim como outras cinco UH’s – Unidades Habitacionais na mesma estrutura da antiga estufa, assim como uma cozinha que contém fogão a lenha, pia, geladeira, louça e iluminação. A churrasqueira conta com bar, espaço para circulação e descanso com redes, e nesse mesmo espaço, está disponível uma TV a cabo e outros banheiros para atender os clientes. CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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Na Figura 06 são representados em mosaico, exemplos alguns dos itens descritos no Quadro 03: Figura 06: Infraestrutura

Fonte: CESÁRIO(2014)

Cabe também destacar a existência de uma atração cultural típica da região, que ocorre nos meses de junho e julho. Junto com a fogueira, o Recanto também organiza decoração e comida característica da época e a fogueira de São João. Assim, o Recanto Deneliv oferece estrutura e lazer para aquelas pessoas que buscam um lugar tranquilo, provido de conforto e comodidade. Um local retirado, longe da agitação da cidade e que possibilita o contato com a natureza e os costumes do campo.

Considerações Finais

A partir deste estudo, entende-se que Turismo no Meio Rural, apresenta-se como uma oportunidade de negócio para as famílias de agricultores desenvolverem atividades ligadas ao turismo, com intuito de complementar a renda, como também proporcionar oportunidade para a aqueles que desejam desfrutar de atividades dispostas no ambiente rural, a partir da CAD. Est. Pes. Tur. Curitiba, v.4, nº 4, p. 39-55, jan/jun. 2015.

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gastronomia, do desfrute da cultura local, entre outros, permitindo aos turistas conhecer a realidade de quem vive fora da cansativa rotina diária em centro urbanos. Assim, observa-se que os pequenos empreendimentos surgem e começam a tomar forma, atraindo cada vez mais adeptos deste segmento, tornando-se assim, opções viáveis no momento de escolha do destino para famílias ou grupos de amigos. Foi constatado que as atividades descritas estão voltadas para o Turismo no Meio Rural e as mudanças na propriedade deram-se motivo da busca por um produto não prejudicial à saúde dos produtores, que vendo potencialidade do local em receber visitantes, adaptaram e passaram a investir no turismo. Conclui-se que as adequações estão sendo benéficas aos proprietários quanto à valorização do local e no empreender nova atividade na propriedade. Contudo, na questão financeira, ainda não há um retorno do que foi investido, devido a necessidade da realização de novas adequações e edificações que também requerem capital para dar continuidade ao projeto. Entende-se que estes investimentos são justificáveis, devido a procura por grupos de pessoas que buscam a propriedade para desfrutarem dos serviços ali oferecidos.

Referências

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4) ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA PROPRIEDADE ANTES DO TURISMO. 5) A PARTIR DE QUE ANO SE DEU INÍCIO AS ATIVIDADES DE TURISMO RURAL. 6) ATIVIDADES DESENVOLVIDAS APÓS A IMPLANTAÇÃO DO TURISMO NO MEIO RURAL. 7) A ADEQUAÇÃO DO ESPAÇO ESTÁ TENDO RETORNO. 8) INFRAESTRUTURA DO LOCAL. 9) SERVIÇOS OFERECIDOS NO RECANTO. 10) ATIVIDADES DE RENDA DA FAMILIA 11) QUAIS AS RAZÕES PARA INVESTIR E ADAPTAR O LOCAL PARA O TURISMO NO MEIO RURAL. Recebido: 08/09/2015 Received: 08/09/2015 Aprovado: 17/10/2015 Approved: 17/10/2015

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