Administrar a preservação: um desafio para alcancar a conservação de acervos bibliográficos

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Descrição do Produto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO) CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (CCH) DEPARTAMENTO DE ESTUDOS PROCESSOS BIBLIOTECONÔMICOS (DEPB) ESCOLA DE BIBLIOTECONOMIA (EB)

ANDRÉIA NASCIMENTO DA CONCEIÇÃO

ADMINISTRAR A PRESERVAÇÃO: UM DESAFIO PARA ALCANÇAR A CONSERVAÇÃO DE ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS

Rio de Janeiro 2013

ANDRÉIA NASCIMENTO DA CONCEIÇÃO

ADMINISTRAR A PRESERVAÇÃO: UM DESAFIO PARA ALCANÇAR A CONSERVAÇÃO DE ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Profa. MSc. Marília Amaral Mendes Alves

Rio de Janeiro 2013

C744a CONCEIÇÃO, Andréia Nascimento da. Administrar a preservação: um desafio para alcançar a conservação de acervos bibliográficos / Andréia Nascimento da Conceição. – Rio de Janeiro : [s.n], 2013. 88 f. : il. color. ; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado – Biblioteconomia)– Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Humanas e Sociais. Orientadora: Marília Amaral Mendes Alves, MSc. 1. Política de preservação. 2. Administração da preservação. 3. Acervo bibliográfico. 4. Gestão de acervo. 5. Acesso à informação. I. Alves, Marília Amaral Mendes. II. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Bacharelado em Biblioteconomia. III. Título. CDD 025.84

ANDRÉIA NASCIMENTO DA CONCEIÇÃO

ADMINISTRAR A APRESERVAÇÃO: UM DESAFIO PARA ALCANÇAR A CONSERVAÇÃO DE ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia.

Aprovada em: 15 de agosto de 2013.

_________________________________________________ Profa.: MSc. Marília Amaral Mendes Alves (Orientadora) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

_________________________________________________ Profa.: DSc. Suzete Moeda Mattos Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

_________________________________________________ Prof.: MSc. Fabiano Cataldo de Azevedo Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro 2013

Dedico este trabalho de conclusão do curso

de

graduação

ao

meu

Deus

soberano criador do céu, da terra e meu Senhor. Que me direcionou, sustentou, protegeu e me manteve em pé em meio às dificuldades vivenciadas durante todo o percurso da minha formação, sem a Sua ajuda eu não teria concluído a minha graduação. Obrigada Deus pelo Seu amor e cuidado dispensado sobre minha vida.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, pois sem Ele não seria possível realizar meu grande sonho: a formação superior. Sou eternamente grata a Ti Senhor por essa oportunidade. Ao meu marido Paulo que vivenciou comigo todas as dificuldades e conquistas durante todo o meu processo de formação. A minha querida orientadora Professora Msc. Marília Amaral, que em meio a tantos alunos para tender me ajudou na execução deste trabalho final. Obrigada professora Marília por toda sua ajuda, apoio e compreensão, sua ajuda foi muito importante para mim. Faço um agradecimento especial a todos meus professores do curso de graduação da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro pelos valiosos ensinamentos durante todo o meu percurso de formação. Eu os admiro e respeito. Em particular agradeço a professora MSc. Ana Virginia Teixeira da Paz Pinheiro e ao Prof. Msc. Fabiano de Azevedo Cataldo por indicação de bibliografias. Professor Fabiano suas aulas foi uma verdadeira inspiração para execução do meu trabalho. A todas as pessoas que me ajudaram, direta ou indiretamente, na execução deste trabalho em especial agradeço: É com muito carinho e consideração que agradeço a professora Drnd. Marianna Zattar Barra Ribeiro pela revisão e correção da formatação do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Agradeço enormemente a gentileza da Bárbara Mello Guimarães, funcionária da Biblioteca Central da UNIRIO, pela revisão e correção de todo o texto do meu Trabalho de Conclusão de Curso. A Elizabeth Supeleto pelo carinho e disposição em fazer a tradução do resumo. À equipe de conservação da Biblioteca Rodolfo Garcia da Academia Brasileira de Letras, os bibliotecários Julio e Renato Ramos, as técnicas de restauração Luíza e Mary obrigada por me receberem tão carinhosamente e disponibilizarem tempo para me atender.

À equipe de conservação da Biblioteca de Ciências Biomédicas do ICICT FIOCRUZ, em especial a gentileza da bibliotecária chefe Marilene Fragas e do bibliotecário restaurador Marcelo Lima que abriram as portas dos laboratórios e dos armazéns para me atender e mostrar os processos de conservação e restauração. À equipe de conservação do Museu de Astronomia e Ciências Afins, em particular à Ozana Hannesch, que em meio aos seus compromissos me recebeu e me concedeu uma parte do seu tempo para me atender tão carinhosamente. Muito obrigada pela valiosa contribuição que vocês me deram para a realização do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Por último e não menos importante agradeço aos meus familiares, parentes, amigas e amigos pela torcida, apoio e incentivo nos meus momentos mais difíceis. Agora temos mais um motivo para comemorar. Agradeço a Deus pela vida de cada um. Amo vocês.

“‘Todas

as

decisões

tomadas

pelo

administrador da coleção, a partir da aquisição de uma obra, fazem parte do processo de deterioração física daquela obra’. Assim sendo, em cada estágio do processo de incorporação: tratamento técnico, depósito, liberação para consulta, manutenção

e eventual exclusão do

acervo, todo o pessoal da biblioteca, e em especial, aqueles diretamente envolvidos no planejamento e administração da coleção,

devem

ter

em

mente

as

implicações que suas decisões e seus atos podem acarretar para a preservação das obras.” (OGDEN, 2001, p. 18).

RESUMO

Instituições como bibliotecas, arquivos e museus possuem em seus acervos materiais bibliográficos cuja constituição é orgânica. Os maiores objetivos destas instituições é preservar e dar acesso aos itens do acervo. A preservação é feita por meio da conservação, restauração e reformatação. A preservação é um conjunto de medidas necessárias para a manutenção de documentos bibliográficos ou objetos, englobando a gestão financeira e de pessoal, gestão de armazenamento, desenvolvimento de políticas, técnicas e métodos de preservação para itens bibliográficos. A escolha do tema se deu pela importância que representa no gerenciamento e preservação de acervos bibliográficos. O objetivo do estudo é apresentar as etapas do planejamento de uma política de preservação, ponderar sobre o processo da administração da preservação e sua importância e identificar as ações globais do cotidiano por meio de entrevistas e visitas a bibliotecas especializadas. Verificou-se que para atingir conservação de acervos bibliográficos e dar acesso livre aos mesmos é necessário administrar a preservação de forma eficiente e eficaz, tanto dos recursos financeiros quanto humanos e os procedimentos de conservação, restauração e reformatação.

Palavras-chave: Política de preservação. Administração da preservação. Acervo bibliográfico. Gestão de acervo. Acesso à informação.

ABSTRACT

Institutions such as libraries, public records and museums have in their collections bibliographic materials whose constitution is organic. The major objectives of these institutions are to preserve and provide access to items of the total access. The preservation is made through the conservation, restoration and reformatting. The preservation is a set of necessary measures for the maintenance of bibliographical documents or objects, encompassing the financial and personnel management, storage management, policy development, techniques and methods of preservation for bibliographic items. The choice of the theme was done because of the importance that it represents in the management and preservation of library collections. The objective of this study is to present the steps of the planning of a preserving policy, to ponder over the administration process of preservation and its importance and identify the global actions of daily life by means of interviews and visits to specialized libraries. It was found that to achieve conservation of bibliographic collections and give access it is necessary to manage the preservation efficiently and effectively, both of human and financial resources as the procedures for the conservation, restoration and reformatting.

Keywords: Conservation policy. Administration of preservation. Bibliographic collection. Total access management. Access to information.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Guarda-chuva protetor.............................................................................. 40 Figura 2 O processo de planejamento..................................................................... 43 Figura 3 Mesa/estante para livros acorrentados......................................................53 Figura 4 Códices e incunábulos acorrentados.........................................................54

LISTA DE TABELAS

Tabela 1

A conservação por meio da adequação de edifícios............................... 45

Tabela 2

A conservação por meio do controle do ambiente.................................. 46

Tabela 3

A conservação por meio do gerenciamento de coleções........................ 47

Tabela 4

Observações nos edifícios nas bibliotecas visitadas................................59

Tabela 5

Observações nos ambientes nas bibliotecas visitadas............................62

Tabela 6

Observações sobre o gerenciamento de coleções nas bibliotecas visitadas..................................................................................................... 64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABL

Academia Brasileira de Letras

ABNT

Associação Brasileira de Normas Técnicas

BCB

Biblioteca de Ciências Biomédicas

BRG

Biblioteca Rodolfo Garcia

COP

Coordenadoria de Preservação

FBN

Fundação Biblioteca Nacional

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz Lacopd

Laboratório de Conservação Preventiva de Documentos

MAST

Museu de Astronomia e Ciências Afins

MCTI

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO................................................................................................14

2

O ACERVO BIBLIOGRÁFICO.......................................................................15

2.1

O livro e a biblioteca.....................................................................................15

2.2

O papel...........................................................................................................17

3

PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO.............................19

3.1

Conceitos básicos........................................................................................19

3.1.1

Preservação....................................................................................................19

3.1.2

Conservação...................................................................................................21

3.1.3

Restauração....................................................................................................22

3.2

Histórico da preservação.............................................................................24

3.3

Conservar: O quê? Por quê? Como?..........................................................27

3.3.1

O que conservar.............................................................................................27

3.3.2

Por que conservar...........................................................................................28

3.3.3

Como conservar..............................................................................................29

4

POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO: PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO.........................................................................................31

4.1

Planejamento para preservação..................................................................35

4.2

Administração da preservação....................................................................44

5

A IMPORTÂNCIA DAS PRÁTICAS PRESERVACIONAISTAS....................50

6

ESTUDOS DE CASO.....................................................................................56

6.1

Biblioteca Rodolfo Garcia............................................................................56

6.2

Biblioteca de Ciências Biomédicas.............................................................57

6.3

Biblioteca do Museu de Astronomia e Ciências Afins..............................57

7

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS...................................58

7.1

Quanto aos edifícios.....................................................................................58

7.2

Quanto ao meio ambiente............................................................................60

7.3

Quanto ao acervo..........................................................................................63

8

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................66 REFERÊNCIAS..............................................................................................67 GLOSSÁRIO..................................................................................................74 ANEXO A – FORMULÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE AMOSTRA........77

ANEXO B – FICHA: DIAGNÓSTICO DE CONSERVAÇÃO..........................78 ANEXO C – FICHA: DIAGNÓSTICOS DO ACERVO E ESPAÇO FÍSICO...80 ANEXO D – FICHA: DIAGNÓSTICO DO ACERVO FOTOGRÁFICO...........82 ANEXO E – QUADRO COM LIMITES DE PROTEÇÃO DO EDIFÍFIO.........84 ANEXO F – FLUXO DE TRABALHO DA BRG.............................................85 ANEXO G – QUESTIONÁRIO.......................................................................86 ANEXO H – DICAS DE PRESERVAÇÃO: REGISTROS EM PAPEL..........87

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1 INTRODUÇÃO

Bibliotecas, arquivos, museus e centros de documentação são instituições que têm como principal missão adquirir, processar, salvaguardar, dar acesso e preservar a produção intelectual, seja de uma instituição, uma nação ou de um cidadão. Mas desde o século passado documentos têm sido perdidos, muitos em sua totalidade, por falta de uma política de preservação. Às vezes não se executa a preservação por falta de recursos financeiros, mas de acordo com alguns especialistas, na maioria das vezes é por falta da capacitação técnica do responsável pelo acervo e do pessoal que trabalha diretamente com ele, visto que algumas medidas de preservação não precisam de muitos recursos financeiros. Por ser um tema muito complexo, muitos preferem nem entrar nesse mérito, concebendo a ideia de que não conseguirão alcançar tal feito. A importância de que deve ser dada à política de preservação é devido à falta de perenidade existente nos itens que formam os acervos bibliográficos. O que faz necessário ter maior atenção nas

condições

ambientais

de

armazenamento,

na

gestão

do

acervo

e

manuseamento dos itens. O objetivo geral deste trabalho é identificar o planejamento e a administração da preservação de acervos bibliográficos, observando-se a Biblioteca Rodolfo Garcia, Biblioteca de Ciências Biomédicas e a Biblioteca do MAST. Os objetivos específicos são apresentar as etapas do planejamento de uma política de preservação, ponderar sobre o processo sua administração e a importância de sua prática em acervos bibliográficos, além de identificar as ações globais do cotidiano e as intervenções direcionadas a determinados aspectos de conservação nas instituições visitadas. Inicialmente apresenta-se um breve histórico do papel, do livro e da biblioteca e os conceitos de preservação, conservação, restauração e reformatação. Para levantamento do referencial teórico, foram realizadas pesquisas a partir dos textos da coleção Conservação Preventivas em Bibliotecas e Arquivos, além disso, a presquisa foi complementada com buscas em bases de dados online e leitura de livros. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário online ou entrevistas e visitas técnicas.

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2 O ACERVO BIBLIOGRÁFICO

O acervo bibliográfico se constitui pela “totalidade dos documentos conservados [...] de uma biblioteca, arquivo ou centro de documentação” (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 10). Faria e Pericão (2008, p. 30) designam acervo bibliográfico como o “conjunto de livros, folhetos, etc. que uma biblioteca possui para uso dos leitores”. As características físicas e químicas do acervo bibliográfico o tornam peculiar quanto a sua durabilidade. A fragilidade existente neste tipo de suporte o deixa vulnerável, o que limita a vida útil quando não são acondicionados de forma adequada.

2.1 O livro e a biblioteca

A necessidade de comunicação foi alavanca principal para a origem da escrita. “Uma escrita é feita de signos. Ela é também uma inscrição: é uma marca deixada num suporte que se pode conservar” (HAGÈGE, 1985 apud GOMES, 2000, p. 11). Com origem nas paredes das cavernas, os símbolos de comunicação e os suportes foram evoluindo ao longo dos séculos, com evolução específica em cada civilização.

Através dos vários tipos de suportes para a escrita como rochas, ossos, placas de bronze, tabuletas de argila ou cera, peças de linho, seda, couro, folhas de árvores, madeira, papiro, papel, [...] e outros, o homem tem registrado sua vida, seus costumes e deixado sua herança cultural (GOMES, 2000, p. 13).

De acordo com Caldeira (2002), o livro existe aproximadamente há seis mil anos.

Os sumérios guardavam suas informações em tijolo de barro. Os indianos faziam seus livros em folhas de palmeiras. Os maias e os astecas, antes do descobrimento das Américas, escreviam os livros em um material macio existente entre a casca das árvores e a madeira. Os romanos escreviam em tábuas de madeira cobertas com cera. Os egípcios desenvolveram a tecnologia do papiro, uma planta encontrada às margens do rio Nilo, suas fibras unidas em tiras

16 serviam como superfície resistente para a escrita hieróglifa (CALDEIRA, 2002).

Em busca do material apropriado para escrever aliado com demanda da sociedade, o papel “assumiu preponderância absoluta a partir de Gutenberg” (OLIVEIRA, 1989, p. 188) atendendo ao grande consumo de papel para a fabricação de livros. A manufatura inicial do papel era feito com trapos de tecido e posteriormente passou a utilizar-se de poupa de madeira, visando à produção em larga escala. A grande produção de livros acarretou ao aumento considerado de bibliotecas em todas as sociedades. A palavra biblioteca é sinônima de “coleção pública ou privada de livros ou documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta” (FERREIRA, 1989, p. 253), além de ser um local de guarda e organização dos suportes informacionais, a biblioteca tem um cunho preservacionista dos suportes para garantir basicamente a perpetuação das idéias, costumes, da cultura e do conhecimento. Antigamente as “obras mais valiosas [...] eram [colocadas] em bibliotecas” (CASTRO, 2008, p. 15) para preservá-las. As bibliotecas dessa época eram caixas. Com origem grega, biblioteca significa “biblión (livros) + teke (caixa, cofre, armazém ou depósito), denotando, consequentemente, a custódia do material” (CASTRO, 2008, p. 15). Atualmente “compreende-se biblioteca, [...] em seu sentido mais amplo, como instituição voltada à reunião (real ou ciberespacial), organização e disseminação do conhecimento registrado” (MEY; SILVEIRA, 2009, p.1, grifo do autor). Entretanto

as bibliotecas são anteriores aos livros e até aos manuscritos [...] as bibliotecas medievais são, na realidade, simples prolongamento das bibliotecas antigas, tanto na composição, quanto na organização, na natureza, no funcionamento [...]. mais diferença existe, materialmente, na própria Antiguidade, entre as bibliotecas ‘minerais’, compostas de tabletas de argila, e as bibliotecas ‘vegetais’ e ‘animais’, construídas de rolos de papiro ou de pergaminho do que entre estas últimas e os grandes depósitos de volumen na idade média (MARTINS, 1996, p. 71, grifo do autor).

17 Assim, o que caracteriza as bibliotecas da Antiguidade é a sua constituição com tabletas de argila ou posteriormente, com rolos de papiro e pergaminho: o manuscrito se mantém até ao ano 300, mais ou menos aparecendo o codex por volta do século IV. A partir de 1470, isto é, já no século XV, começam a aparecer o que chamaríamos de formatos modernos, isto é, livros modernos, com a folha dobrada, da mesma forma por que aparecem as primeiras margens (MARTINS, 1996, p. 80, grifo do autor).

2.2 O papel

De acordo com Rickman e Ball (2005), o papel foi inventado na China no século II D.C., “mas foi preciso esperar o século XII para que a confecção de papel chegasse à Europa, [...]. Em meados do século XV, a invenção da imprensa alimentou uma nova e enorme demanda” (p. 103) de produção de papel. Já Motta e Salgado (1971, p. 20), corroboram que “o primeiro papel conhecido data de 105 D.C., sendo provável a sua existência em período anterior”, pois há referências de Ts’ai Lun produzindo papel no século primeiro. Apesar da resistência inicial, o papel consegue entrar e se estabelecer “no mundo inteligente” (MOTTA; SALGADO, 1971, p. 23).

O desejo do Homem em expressar o poder da palavra sob a forma de texto, levou-o a descobrir vários tipos de materiais de escrita, de modo a alcançar o seu objectivo (sic). Quase todos os processos e materiais relativos à escrita como a impressão, o fabrico de papel, o velino, o pergaminho, a caneta e a tinta, bem como a arte da encadernação, tiveram origem nos países da Ásia e do Norte de África (TEIJGELER, 2007, p. 71).

O papel como suporte da escrita é de soberana importância para o desenvolvimento e sobrevivência da humanidade e para a transmissão da produção intelectual às gerações atuais e futuras. Independentemente do seu uso, seja para fins nobres ou humildes, o papel está presente em quase todas as ações da vida cotidiana, e diferentes faixas etárias e classes sociais o utilizam diariamente. Desde o seu surgimento até os dias atuais somam-se quase dois mil anos (SPINELLI JÚNIOR, 1997). Sua origem de processamento dá-se “a partir da maceração de restos de tecidos de algodão utilizados para diversos fins, até que ficassem reduzidos a uma massa de fibras, misturada à água e em seguida despejada sobre uma malha feita de bambu” (SPINELLI JÚNIOR, 1997, p. 13).

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A malha era feita para obter a drenagem da água, e após as fibras dos tecidos repousava sobre a malha de forma entrelaçadas formando uma fina camada de papel. Mesmo com toda tecnologia que existe para a fabricação de papel “este processo básico [...] permanece intacto até os dias de hoje” (SPINELLI JÚNIOR, 1997, p. 13). Os papéis mais fortes e duráveis são obtidos a partir das fibras longas de linho, algodão ou cânhamo (RICKMAN; BALL, 2005, p. 103). Entretanto a vida útil do papel é limitada, e por causa desta característica inerente ao suporte do papel, tem-se dado grande importância aos processos de preservação. Devido à falta de perenidade do papel, que o define como uma matéria orgânica e o caracteriza com uma vida útil restringida, faz-se necessário utilizar os recursos da conservação para preservar a forma física e o conteúdo intelectual que se encontra nos documentos que o utilizam o papel como suporte. Em 2007 Teijgeler (p. 27) afirma que “só há cerca de 30 anos é que o mundo da conservação do papel e do livro ganhou visibilidade”.

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3 PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO

Preservar, conservar ou restaurar? Quais são as diferenças e semelhanças fundamentais na visão dos principais teóricos da área? A seguir, são apresentados alguns conceitos de cada termo para melhor entendimento da função da preservação, da conservação e da restauração.

3.1 Conceitos básicos

De acordo com Hannesch (2011, p. 5), a preservação, a conservação e a restauração estão inseridas em “uma ciência que ainda está em formação” e estes “termos preservação, conservação e restauração em língua anglófona ou francófona, bem como a latina, ainda têm divergências no uso, o que muitas vezes corrobora para a dificuldade de entendimento”. Para esclarecimentos destes conceitos, são apresentados abaixo algumas definições, pois “[...] na linguagem de especialistas [...] estes termos têm usos próprios e seus significados vêm sendo ampliados, reduzidos e reinterpretados à medida que se dá o desenvolvimento da disciplina conservação” (HANNESCH, 2011, p. 3).

Hoje, preservação é uma palavra que envolve inúmeras políticas e opções de ação, incluindo tratamento de conservação. Preservação é a aquisição, organização e distribuição de recursos, a fim de impedir posterior deterioração ou renovar a possibilidade de utilização de um seleto grupo de materiais (CONWAY, 1996, p. 6 apud SILVA, 1998).

3.1.1 Preservação

Em sua explanação inicial na Conferência de 1884, Boito (2008), faz uma chamada aos presentes para que reflitam sobre pessoas que, no passado, contribuíram com grandes construções e belas obras de artes. E por causa de todo legado deixado por grandes nomes, Boito destaca a importância da preservação dos bens culturais para a posteridade.

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Preservação é a “função de providenciar cuidados adequados à proteção e manutenção do acervo bibliográfico e documental de qualquer espécie, com vista a manter sua forma original” (FARIA; PERICÃO, 2008, p. 594), ou seja, é um conjunto de medidas necessárias para a manutenção de documentos bibliográficos ou objetos. A preservação tem o objetivo de manter a integridade física e o conteúdo intelectual inserido no suporte de papel. As ações para preservação são,

Todas as considerações gerenciais, financeiras e técnicas aplicadas a retardar a deterioração, que previnem danos e prolongam a vida útil de materiais e objetos de acervos, para assegurar sua contínua disponibilidade. Essas considerações incluem monitoramento e controle apropriado de condições ambientais; provisão adequada de armazenamento e proteção física; estabelecimento de políticas para exposições e empréstimos e procedimentos adequados de manuseio; provisão de tratamento de conservação, planos de emergência e produção e uso de reproduções (RESOURCE, [2004], p. 40-41).

Preservar é “conservar, resguardar, defender” (FARIA; PERICÃO, 2008, p. 594). Para Hannesch (2011, p. 3), preservar “é um termo genérico usado para designar um conjunto de ações necessárias para salvaguardar [...] as informações do documento ou acervo”. O ato de preservar engloba o planejamento de todas as ações necessárias para executar a conservação, ou seja, existem diferentes formas e meios de realizar a preservação, seja pela conservação, pela restauração ou pela reformatação. O principal objetivo da preservação é conservar o item para não precisar restaurar, mas às vezes nem sempre é possível. A preservação pode ser fundamentada por diferentes meios, através da “legislação; seleção e aquisição; identificação, organização e documentação; conservação; contextualização e pesquisa; disseminação acesso e uso; reprodução ou reformatação;” e “exposição” (HANNESCH, 2011, p. 3).

A preservação pode ser entendida como o agrupamento de três tipos principais de atividade. O primeiro tipo concentra-se nos ambientes de biblioteca e nas maneiras de torná-los mais apropriados a seus conteúdos. O segundo incorpora esforços para estender a vida física de documentos através de métodos como desacidificação, restauração e encadernação. O terceiro tipo envolve a transferência e de conteúdo intelectual ou informativo de um formato ou matriz para outro (HAZEN, 2001, p. 8).

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A preservação

abrange todas as áreas de gestão e financeira, incluindo aprovisionamento e armazenamento, recursos humanos, políticas técnicas e métodos envolvidos na preservação de materiais de bibliotecas e arquivos e a informação neles contidos (IFLA, 2004, p. 14).

E também,

Engloba todos os aspectos financeiros e de gestão incluindo a armazenagem em todos os seus aspectos, questão de pessoal, política, técnicas e métodos envolvidos na preservação de espécies bibliográficas e a informação que elas contenham (DUREAU; CLEMENTS, 1992, p. 2).

É nesse contexto de significado que o trabalho de transcorrerá.

3.1.2 Conservação

Boito (KÜHL, 2008, p. 22-23) insistiu “que a conservação é, muitas vezes, a única coisa a se fazer, além de ser obrigação de todos, da sociedade e do governo, tomar as providências necessárias à sobrevivência do bem”. Para realizar a conservação é preciso ser um profissional capacitado, pois utiliza-se “técnicas de intervenção aplicadas aos aspectos físicos de objetos de museus, arquivos e bibliotecas com o intuito de se obter estabilidade química e física, de maneira a prolongar sua vida útil e assegurar sua disponibilidade contínua” (RESOURCE, [2004], p. 37). Segundo Faria e Pericão (2008, p. 192), esse conjunto de técnicas tem como finalidade preservar o objeto através de materiais de boa qualidade. Os materiais e produtos utilizados para realizar a conservação, normalmente, são produtos caros, e somente um profissional qualificado saberá aplicá-los de forma correta e sem provocar desperdícios na realização da preservação de um determinado acervo, evitando que o procedimento de conservação seja ainda mais oneroso para a instituição ou danoso para o item.

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Conservar pode ser “uma ação direta ou indireta aplicada sobre um documento ou acervo com o objetivo de minimizar e retardar a deterioração do suporte e, consequentemente, de sua informação” (HANNESCH, 2011, p. 3). A ação de conservação indireta trabalha com o controle e monitoramento do ambiente que o acervo está inserido, fazendo as modificações necessárias para a boa conservação do acervo como um todo. A ação direta é a conservação de um item do acervo, isto é, uma intervenção feita no suporte, seja a limpeza com trincha, a colagem de uma parte faltante de um documento até sua restauração física e estética. A conservação engloba a “guarda e exposição apropriadas; prevenção dos danos de utilização; prevenção dos sinistros ou catástrofes; monitoramento e controle do estado de conservação do documento ou acervo;” e “intervenção direta no documento” (HANNESCH, 2011, p. 3). Conservação é a reunião de

práticas específicas implementadas para reduzir a velocidade de deterioração e prolongar a vida útil de um objeto intervindo diretamente na sua constituição física ou química. Alguns exemplos poderiam ser a reparação de encadernações danificadas ou a desacidificação do papel (IFLA, 2004, p. 12).

A conservação preventiva tem o foco principal na coleção como um todo e é a aplicação de um “conjunto de medidas que visam o bom estado das coleções bibliográficas e documentais” (FARIA; PERICÃO, 2008, p. 192).

3.1.3 Restauração

O momento em que a restauração começou a se estabelecer como ciência foi a partir do Renascimento, quando floresceu um grande interesse pelas construções antigas. Kühl (2006, p. 10) afirma que “as noções ligadas ao restauro foram definindo-se e esse movimento acentuou-se com grandes transformações que ocorrem na Europa no século XVII”. Para Viollet-le-Duc, o ato de restaurar é o reestabelecimento “em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento” (2006, p. 29), ou seja, não existe restauração exata de como era antes, mas uma reconstrução, uma

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reprodução ou renovação do que era antes com materiais, recursos e tecnologias atuais. Castro (2008, p. 17, grifo do autor) diz que

há registros de reparos em livros de pergaminho no período medieval que denotam uma atividade “restauradora”. Devido ao elevado custo, eram freqüentes (sic) as atividades de religamentos, costuras em pergaminhos frágeis e enxertos em zonas perdidas. Muitas vezes, tais atividades eram realizadas nos scriptorium, locais em que os copistas e iluminadores criavam os códices manuscritos.

A noção de restauro como ciência “amadureceu gradualmente no período que se estendeu dos séculos XV ao XVIII” (KÜHL, 2008, p. 15), estabelecendo as teorias sobre restauração como,

o respeito pela matéria original, à ideia de reversibilidade e distinguibilidade, a importância da documentação e de uma metodologia científica, o interesse por aspectos conservativos e de mínima intervenção, a noção de ruptura entre o passado e presente (KÜHL, 2008, p. 15-16).

Fundamentando-se como ações culturais, outros acontecimento hitóricos estão inseridos neste processo de mudança cultural, outros acontecimentos históricos como “o Iluminismo, as reações às destruições maciças posteriores à Revolução Francesa, as profundas e aceleradas transformações geradas pela Revolução Industrial na Grã-Bretanha” (KÜHL, 2008, p. 16). Todos esses movimentos culminaram na ruptura com o passado e se inicia-se uma nova forma de discutir a conservação e a restauração. Todo esse processo foi consolidado no século XIX pelos trabalhos dos principais teóricos e restauradores da época, como Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc, Jonh Ruskin, Willian Morris, Raffaele Stern, Guiseppe Valadier (KÜHL, 2008). Eles formularam teorias e compartilharam suas experiências de intervenções, e a partir daí criaram-se várias vertentes, dando grande contribuição para a conservação preventiva. No século XIX, Camilo Boito se destaca como um grande restaurador e teórico. Ele se posicionava de forma “moderada e intermediária entre Viollet-le-Duc, cujos preceitos seguiu durante certo tempo, e Ruskin, sintetizando e elaborando

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princípios que se encontraram na base da teoria contemporânea de restauração” (KÜHL, 2008, p. 9). Como teórico Boito contribuiu significativamente para a construção de uma linguagem artística da época através da “análise de seus princípios de composição para alcançar a verdade em relação a formas, materiais e função, lançando fundamentos para uma nova arquitetura” (KÜHL, 2008, p. 12-13). Como restaurador Boito (KÜHL, 2008, p. 13) “fundamentou seu trabalho em análises profundas da obra”, fazendo uso de desenhos e fotografias. Ele examinava todos os detalhes de uma construção, inclusive os detalhes da parte ornamental, e a partir da análise ele definia o projeto com as intervenções que iriam ser executadas. O principal objetivo da restauração é devolver a capacidade funcional, por meio de restituição da integridade física ou estética de um objeto ou documento. É por meio de “tratamentos químicos; consolidação física;” e “recomposição estética” (HANNECH, 2011, p. 4) que realiza-se a restauração. Restauros são “procedimentos que visam à recuperação de um estado conhecido ou presumido de materiais ou objetos, normalmente com a adição de material não-original” (RESOURCE, [2004], p. 41). Restauro “diz respeito às técnicas e critérios utilizados pelo pessoal técnico envolvido no processo de tratamento de espécies bibliográficas, deterioradas pelo tempo, uso ou outros factores (sic)” (DUREAU; CLEMENTS, 1992, p. 2).

3.2 Histórico da preservação

De acordo com alguns teóricos da preservação, Paul Otlet foi o primeiro a trabalhar com o conceito de preservação e acesso (BECK, 2006). Mas “somente com o advento da Sociedade da Informação este conceito é consolidado associado ao acesso” (BECK, 2006, p. 1) por meio do documento da UNESCO, onde destaca que “o acesso permanente é o objetivo da preservação” (MEMÓRIA DO MUNDO, 2002, p. 21). Cabral (2002, p. 15, grifo do autor) complementa essa ideia quando afirma que

25 a preservação é, de certa forma, uma matéria nova no amplo leque das disciplinas que constituem o corpus da biblioteconomia e da arquivística. Sempre houve a percepção de que era indispensável zelar pelas coleções de documentos, mas uma intervenção sistemática e estruturada constitui uma atitude bastante recente.

Nassif (1992, p. 17-18) destaca que em 1897 problemas relacionados com a conservação

eram apontados e discutidos pela Library of Congress. Entretanto, preservação de documentos era ainda um assunto bastante incipiente nos Estados Unidos e assim permaneceu durante mais alguns anos. [...] Dois eventos ocorridos nos Estados Unidos em 1956, foram fundamentais para o desenvolvimento do moderno campo da preservação, colocando-o em evidência e tornando-o merecedor de sérias atenções por parte de profissionais. O primeiro foi a publicação, em janeiro daquele ano, de um número da revista “Library Trends” intitulado “Conservation of Library MateriaIs”. Na introdução dessa publicação, [...] ressalta a necessidade de não se restringirem a preservação e a conservação à proteção de coleções de pesquisa e de materiais raros, observando que elas representam áreas de interesse imediato para bibliotecários que trabalham nos mais diversos tipos de bibliotecas e que lidam com diferentes categorias de documentos. O segundo acontecimento importante foi o estabelecimento do Council of Library Resources (CLR), constituído pela Fundação Ford [...]. O CLR desde o começo reconheceu a preservação como um problema urgente e promoveu investigações básicas necessárias para seu desenvolvimento, desencadeando uma série de estudos mais aprofundados sobre o tema.

De acordo com Ogden (2001), o marco onde se estabeleceu a preocupação da conservação do papel e a busca por medidas de prevenção se deu nos Estados Unidos, especificamente nos depósitos das bibliotecas de pesquisa, onde constatou o “crescente volume de papel acidificado em deterioração” (OGDEN, 2001, p. 20). A partir dessa constatação, tonou-se necessário desenvolver soluções focadas para o resgate desses materiais deteriorados e a pesquisa sobre como combater os danos da deterioração foi intensificada. Tanto os Estados Unidos quanto Inglaterra investiram esforços para solucionar os problemas inerentes à deterioração dos acervos bibliográficos (OGDEN, 2001), e essas ações foram impulsionadas em outras sociedades quando aconteceu a catástrofe na cidade de Florença em 1966.

26 Essa região sofreu uma enorme inundação, causando a perda de milhões de documentos, fato que chamou a atenção, a nível, internacional, da gravidade do problema de degradação de documentos devido à falta de planejamento e negligência no tocante à preservação de acervos raros e extremamente importantes (NASSIF, 1992, p. 20).

“É inevitável que a lembrança mais forte seja do dano ao patrimônio artístico: milhares de volumes, incluindo manuscritos preciosos e raros impressos, foram cobertos com lama dentro da Biblioteca Nacional Central” (ABOUT..., 2013). A inundação de Florença provocou uma profunda reflexão sobre as práticas preservacionistas, tanto que após essa catástrofe, várias pesquisas sobre conservação preventiva foram realizadas em vários países, envolvendo várias instituições, com o intuito de subsidiá-las com recursos informacionais sobre a conservação preventiva de acervo bibliográfico em caso de desastres.

Realmente foi um desastre o responsável pelo nascimento da moderna preservação de bibliotecas. Depois que o Rio de Arno inundou Florença em 1966, reconheceu-se que, embora a inundação provavelmente não pudesse ter sido prevenida, poderia ter sido evitado um dano considerável se tivessem sido empregadas medidas preventivas apropriadas. A inundação de Florença também demonstrou a vontade da comunidade internacional de conservação para responder às necessidades de um país. Conservadores vieram do mundo inteiro para Florença, para ajudar no processo de recuperação. Esta colaboração também resultou no desenvolvimento de novos tratamentos de conservação. (LYALL, 2000, p.1 apud BECK, 2006, p. 37-38).

A trajetória brasileira no campo das ações preservacionistas é explicada por Fonseca (2005, Apud SPINELLI JÚNIOR, 2009, p. 47-48) através de um quadro cronológico, o qual é apontado em três momentos

considerados marcantes no desenvolvimento e na evolução dessa política: o primeiro dito heróico – que se inicia nos anos 1930 com o anteprojeto da criação do Sphan e vai até 1967, com o término da gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade; o segundo – chamado intermediário, que se estende de 1967 a 1979, período em que o Sphan luta por adaptar-se às novas demandas políticas nacionais e internacionais, interagindo com instituições federais que já atuavam no campo da preservação; e, o terceiro momento – dito moderno, que se refere ao período da gestão de Aloísio Magalhães (19791982).

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Defendida em 2008 a dissertação de Aloísio Arnaldo Nunes de Castro, aborda mais profundamente a questão do desenvolvimento da preservação no âmbito nacional. Tanto historicamente quanto atualmente a ação de preservar é destacada por profissionais de diversas áreas como uma importante ação na conservação dos bens culturais.

3.3 Conservar: o quê? Por quê? Como?

É de responsabilidade do gestor da preservação estabelecer diretrizes para prolongar a vida útil do acervo como um todo, e também “esta prioridade se impõe no sentido de proteger os investimentos da instituição naquele material” (OGDEN, 2001, p. 11). O gestor precisa saber “o método mais eficiente, relativo aos custos, de aumentar a longevidade: o de prevenir, na maior medida possível, sua deterioração” (OGDEN, 2001, p. 11). A preservação não é um método isolado, pois ela permeia todos os processos cotidianos de uma biblioteca. Como exemplo de interatividade, a preservação está ligada com a seleção, aquisição, processamento técnico, circulação, reprodução, pequenos reparos, entre outros. Trabalhar com a preservação em todas essas áreas, é necessário uma retomada de consciências e da responsabilidade de cada pessoa que trabalha diretamente com o acervo (OGDEN, 2001). “Assim, um programa de preservação não deve ser visto como um elemento novo, mas antes como um componente integral das operações e responsabilidades cotidianas da instituição” (OGDEN, 2001, p. 12).

3.3.1 O que conservar

Quando se trata de preservação de acervo, especialmente os bibliográficos, arquivos, bibliotecas e museus precisam analisar a necessidade de conservação do acervo para estabelecer o que será preservado. É a partir desta análise que podem estabelecer as prioridades, visto que “nem todos os materiais da biblioteca exigirão uma atenção especial no sentido de precisarem de ser guardados em caixas ou

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necessitarem de condições ambiente específicas” (IFLA, 2004, p. 26). Esse ponto de vista não exclui a coleção como um todo, pelo contrário, aplica-se à conservação da coleção de forma completa, focando no controle ambiental do acervo e do edifício e conforme as necessidades pontua-se os itens que precisam de atenção especial. O critério de prioridade estabelecido pela política de preservação irá definir o tipo de intervenção que será feito no acervo, seja de coleções gerais ou obras raras (CASSARES, 2000). Outra condição para que saiba o que será conservado, é o conhecimento profundo da coleção e da missão da instituição e “aprende-se a conhecer as coleções convivendo com elas; aprende-se a conhecer os autores, os livros, as temáticas, lidando diretamente com eles” (CABRAL, 2005, p. 12). E esse conhecimento do acervo não se dá “de noite para o dia” ou “em um estalar de dedos”, conhecer o acervo dá condições ao bibliotecário, afim de que faça novas aquisições, atenda a necessidade informacional dos usuários e da instituição, permita identificar os serviços que estão sendo feitos e aprimorá-los caso haja necessidade, e lhe dê condições para viabilizar e concretizar os serviços de conservação (CABRAL, 2005). A consciência da missão da instituição dará subsídios ao bibliotecário que priorize o que é mais importante para a memória da instituição.

3.3.2 Por que conservar

Uma gestão de simples acumulação de patrimônio prejudica tanto o patrimônio, quanto a instituição e os recursos, os utilizadores e os profissionais (CABRAL, 2005). Cabral (2005, p. 9) afirma que “uma autêntica preocupação pela preservação e conservação deverá pôr ponto final a essa atitude passiva”. Para esta autora, os problemas de conservação, encontrados nas instituições, são observados principalmente “pelos profissionais que neles trabalham”. Por que conservar um patrimônio de uma instituição? Como um documento ou objeto se ligou a determinada instituição? A resposta a essas perguntas parece óbvia. Mas geralmente não é. Definir que um documento ou objeto é patrimônio, estabelecer a sua ligação histórica com a instituição e buscar a contribuição deste item para o futuro da instituição, são questões básicas que precisam ser

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circunscritas para a tomada de decisão para conservação. “Porque patrimônio é tudo: o novo, o velho ou o antigo. Os livros, os álbuns com selos, os discos de vinil, os DVD’s, os cartazes, os autocolantes ou revistas” (CABRAL, 2005, p. 13). Se um determinado item é identificado como patrimônio da instituição, será necessário salvaguardá-lo por causa da vulnerabilidade que os itens têm em sua constituição, que normalmente são orgânicos. Fonseca (1997 apud HOLLÓS, 2006, p. [27]) complementa o significado de patrimônio afirmando que é o “resultado de uma prática característica de Estados Modernos, que, através de determinados agentes e com base em instrumentos jurídicos próprios, delimitam um conjunto de bens de caráter público”. A valorização do acervo nos âmbitos institucional, histórico, intrínseco e associativo norteia todas as ações para preservação, além de fundamentar a existência do acervo (LINO; HANESCH; AZEVEDO, 2007). A preservação é feita para garantir o acesso aos documentos pela geração atual e futura, e também por vezes o fim da vida útil de um item, não pode ser substituído por outro, quando a verba é pouca e seria inviável financeiramente a substituição de cada item degradado, e existem obras que não podem ser adquiridas por não estarem mais disponíveis no mercado (IFLA, 2004).

3.3.3 Como conservar

A preservação é uma atividade complexa e onerosa, tanto para estabelecer uma política quanto à correta execução por parte do pessoal ligado diretamente ao acervo e muitas vezes quanto à falta do recurso financeiro. A preservação integra todo o funcionamento de uma biblioteca ou uma instituição, “o estabelecimento de políticas é tão essencial quanto à prática das tarefas relacionadas a tais atividades” (NASSIF, 1992, p. 42). A conservação se concretizará por meio do cumprimento da política estabelecida na instituição, a qual deverá conter as prioridades e a forma de execução. Todos os colaboradores de uma biblioteca são responsáveis pela conservação do acervo (IFLA, 2004). O bibliotecário responsável pela preservação delega, treina e capacita o pessoal para que saiba como aplicar as medidas de conservação.

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Ao estancar os agentes de deterioração, as diretrizes atingem suas partes intrínsecas e extrínsecas. Os fatores intrínsecos “estão ligados diretamente aos elementos de composição do papel tais como, tipo de fibras, tipos de encolagem, resíduos químicos não eliminados e partículas metálicas” (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995, p. 18). E os fatores extrínsecos “estão ligados diretamente a agentes físicos e biológicos tais como radiação ultravioleta, temperatura, umidade, poluentes atmosféricos, microorganismos, insetos e roedores” (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995, p. 18).

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4 POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO: PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO

A política de preservação é o instrumento mais importante para a conservação do acervo bibliográfico, pois ela abrange quase todas as ações de funcionamento da biblioteca. A elaboração da política de preservação é feita mediante o planejamento prévio, que envolve o diagnóstico do acervo, do ambiente e dos usos. Inserida no contexto gerencial, a política de preservação abrange o “processo decisório, na formulação de políticas, associadas aos processos de produção, aquisição e retenção, objetivando o acesso continuado” (BECK, 2006, p. 8). Dentre os significados de política, destaca-se: “sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos” (AURÉLIO, 1986, p. 1358). Na esfera biblioteconômica, a política de preservação interfere e se insere nas demais políticas da biblioteca, como na de seleção e aquisição, de processamento técnico, de acondicionamento, de desbaste e descarte, de uso e circulação, de segurança, de controle do ambiente, entre outras.

A política de coleção baseia-se nos estatutos institucionais que mencionam os objetivos que as coleções têm que atingir. As prioridades de aquisição estabelecidas pela política de coleção ajudam a direcionar o trabalho de conservação nas partes mais importantes das coleções (OGDEN, 2001, p. 17).

Para Castro (2008, p. 27), as primeiras medidas de sistematização de normas em conservação de acervos bibliográficos e documentais foram impulsionadas pelas comunidades religiosas e pelas universidades objetivando, assim, preservar suas coleções dos roubos e das degradações.

A política de seleção é elaborada para a aquisição de novos itens, por meio de compras, permutas e doações. Ela definirá qual material será incluso no acervo, e no contexto da preservação, e deverá atender à missão da instituição e às necessidades dos usuários, evitando o desperdício com gastos de verbas, tempo de processamento dos itens pelos profissionais e a ocupação nas prateleiras. As políticas de seleção e de aquisição estão diretamente ligadas com a formação e desenvolvimento do acervo, por isso deve-se aplicar a devida atenção a essas

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políticas

para

que ocorra

uma

boa formação

do

acervo

e

seu futuro

desenvolvimento. Antes do processamento das doações é preciso examinar

‘os dentes dos cavalos dados’, perguntando como a coleção foi armazenada e checando as suas condições atuais. Um administrador de acervos sábio examina previamente qualquer coleção com cuidado, buscando sinais de esfarelamento, capas soltas ou danos físicos, encadernações deterioradas, mofo e infestações por insetos. Termos de doação devem deixar claro que a biblioteca poderá optar por excluir obras do acervo, não só porque estão fora de sua área de interesse ou são duplicatas de obras já existentes, mas também porque os custos para sua restauração podem superar seu valor intelectual para a instituição (OGDEN, 2001, p. 17).

O processamento técnico é a ação de analisar e descrever o conteúdo intelectual de um item de forma reduzida. O objetivo principal é facilitar a recuperação da informação, promovendo rapidez na busca, a disseminação e a preservação da informação e do item catalogado. A forma de acondicionamento contribuirá para a conservação ou deterioração da estrutura física do item. A adequação dos espaços entre as prateleiras permite o armazenamento correto do item, evitando danos na lombada, nos cortes e nas capas. A política de desbaste e descarte especificada pela instituição contribuirá para a otimização dos espaços do acervo, evitando o acúmulo de materiais desnecessários armazenados, sendo desbastados ou descartados os itens que não são mais usados pelos consulentes e também os que não dizem respeito à memória da instituição. O uso correto e o monitoramento da circulação dos itens contribuem de forma decisiva em sua conservação. As políticas de circulação “podem servir tanto para maximizar o uso de materiais de grande demanda quanto para proteger volumes frágeis do desgaste desnecessário” (HAZEN, 2001, p. 8). Uma estatística de uso corrente de uma biblioteca definirá a necessidade de um eventual reparo ou encadernação de itens muito utilizados. A política de segurança é as medidas estabelecidas para a proteção da vida humana (funcionários e usuários), do acervo (todos os itens que formam o acervo e os mobiliários) e do edifício. “O maior problema para a elaboração de um programa

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de segurança está na forma de se analisar a sua abrangência, pois esse trabalho envolve áreas distintas que têm que se unir em torno de um único objetivo” (ROCHA, 2007, p. 99). Esta política evita desastres naturais e os provocados pelo homem. O controle do ambiente contribui diretamente para a preservação de todo o acervo. O ambiente controlado proporciona a preservação em várias esferas, como o biológico, a temperatura, umidade, poluição, luminosidade, fogo, água.

Falando de modo coloquial, é como se os estatutos lhe dissessem para onde você está indo; a política de coleção lhe desse os detalhes de como chegar lá; e a política de preservação lhe assegurasse que pelo menos as partes mais valiosas da bagagem não cairão aos pedaços pela estrada (OGDEN, 2001, p. 17).

Normalmente a adequação de um ambiente favorável à conservação torna-se oneroso, limitando às coleções especiais. Porém há “medidas e precauções rudimentares que podem melhorar as condições ambiente de uma biblioteca e proteger as coleções” (IFLA, 2004, p. 68). Eis alguns exemplos apresentado pelo autor: • Utilizar sistemas de calafetagem de portas e janelas para que o edifício fique bem protegido; • Assegurar-se de que as portas e janelas estão bem ajustadas; • Assegurar uma boa circulação de ar através de uso apropriado de ventiladores e janelas; • Utilizar desumidificadores e humidificadores, para reduzir ou aumentar a umidade relativa; • Utilizar sistemas de isolamento para corrigir os níveis de ganho ou a perda de calor; • Utilizar filtros de radiação ultravioleta nas janelas e iluminação flurescente; • Utilizar filtros, persianas, portadas (de preferência na parte exterior das janelas, porque reduzem o aumento de calor solar) e cortinas opacas, para evitar a luz solar directa (sic); • Providenciar para que as instalações de armazenagem sejam escuras;

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• Garantir a limpeza do edifício para evitar a umidade durante as estações chuvosas. Se bem planejadas e abrangentes, as políticas de acervo fornecem um ponto de referência vital para a tomada de decisões sobre preservação (OGDEN, 2001, p. 18). A política de preservação de acervos bibliográficos “aponta para o desenvolvimento e implantação de planos, programas e projetos para a elaboração de normas de amplo espectro” (HANNESCH, 2011, p. 8). E também: “Ao se conceber e implementar uma política de preservação, não se pode perder de vista o maior objetivo da Biblioteca que é informar e socializar o saber e, portanto, o seu acervo existe para ser utilizado” (LINO; HANESCH; AZEVEDO, 2007, p. 66). É oportuno destacar que cada instituição precisa desenvolver uma política de preservação de acordo com a realidade, necessidade e as possibilidades vigentes, tanto de recursos financeiros quanto de recursos humanos devidamente capacitados. Na impossibilidade de uma instituição gerir um sistema de preservação, pode buscar convênios com outras instituições para a realização das tarefas de preservação cooperada do acervo. Zúñiga, (2002, p. 77) resume que um programa, projeto ou política de preservação é importante para a instituição, pois: • Atua de forma globalizante envolvendo todo o corpo institucional, que passa a agir de forma mais consciente graças ao conhecimento adquirido; • Atribuir responsabilidades na medida em que as decisões passam a ser tomadas coletivamente; • Possibilita que as prioridades sejam decididas em conjunto baseadas no entendimento de toda a problemática institucional; • Possibilita continuidade, mesmo que haja mudança de responsável pelo programa; • Racionaliza custos otimizando o orçamento.

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4.1 Planejamento para preservação

O planejamento da preservação é o “processo pelo qual a instituição determina suas necessidades de preservação; revê ações em curso; identifica recursos para implementação e desenvolve programa específico para ação em preservação” (ZÚÑIGA, 2012). Logo o planejamento é o elemento mais importante na organização de um programa de manutenção de acervos [...]. Embora o planejamento tome tempo e energia (GARLICK, 2001, p. 22). Ao planejar um programa ou uma política de preservação é preciso ter ciência de que “trata-se da distribuição dos recursos disponíveis entre as atividades e funções mais importantes, de acordo com a ordem de prioridade na missão de uma instituição” (GARLICK, 2001, p. 22). Pensar a metodologia da preservação como administração do acervo e do ambiente, desmitifica a ideia de que o processo é misterioso e de que necessita de uma formação na área da química para colocá-lo em prática (GARLICK, 2001). Pode-se aplicar uma metodologia padrão para planejar a preservação de um acervo bibliográfico. A padronização é feita por uma equipe para estabelecer as prioridades que precisam ser feitas, e para isso pode-se usar de alguns instrumentos especializados, como manuais ou softwares, que oferecem subsídios ao administrador da preservação e sua equipe para avaliar em que

medida os acervos se encontram em situação de risco, por conta de vários fatores; que partes dos acervos têm maior valor permanente; a disponibilidade de recursos, em termos de tempo dos funcionários, da perícia técnica e recursos financeiros; e a viabilidade política de certas ações (GARLICK, 2001, p. 7).

Essas avaliações evidenciam a dimensão dos danos que estão presentes nos acervos, identificam os agentes causadores da deterioração, as condições do ambiente em que o acervo está abrigado, e de acordo com a missão da instituição, saber o real valor do acervo. Na etapa de avaliação, é preciso atentar para o que os teóricos falam sobre a individualidade de cada instituição e a presença de fatores deteriorantes específicos que podem degradar o acervo bibliográfico, e sempre variam de uma instituição para outra.

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Vários tipos de estudos precisam ser feitos para obter um planejamento padronizado, com o intuito de aplicar as recomendações para a preservação. Todos os diagnósticos do acervo ou da coleção, do ambiente, do edifício e dos riscos geram relatórios extensos, porém a política de preservação precisa ser global e abrangente (IFLA, 2004). Global, porque envolve todas as áreas da biblioteca e abrangente, porque deverá ser de fácil leitura durante as consultas. “A linguagem é glamurosa (sic), mas o trabalho duro de mobilizar toda a instituição em torno do esforço para a preservação, não o é” (MERRILL-OLDHAM; REED-SCOTT, 2001, p. 13). Reunir as informações, formular políticas e procedimentos de manutenção e a organização de projetos são as três fases do planejamento. Envolvendo a “acumulação de conhecimentos e planejamento durante os estágios iniciais e um planejamento mais específico que é empreendido durante o desenvolvimento dos dados projetos” (GARLICK, 2001, p. 22). A consolidação de um grupo de trabalho em favor da preservação pode ser efetivada mediante a aceitação deste desafio.

A fundamentação racional para se realizar um processo de planejamento ordenado e minucioso se baseia na premissa de que os participantes virão a reconhecer a gravidade da situação, irão adquirir novos conhecimentos e técnicas, e levar para seu trabalho diário e para seus colegas uma maior consciência e a dedicação necessárias para a implementação de um plano de ação. O processo estabelece um ambiente de investigação para se acolherem as questões de preservação e se elaborarem as respostas apropriadas (MERRILL-OLDHAM; REED-SCOTT, 2001, p. 14).

Para Garlick (2001, p. 22) “planos bem concebidos permitem a uma instituição desenvolver projetos de modo coerente e sistemático, utilizar recursos limitados de maneira eficiente e alcançar resultados positivos através de um programa bem sucedido”. Nassif (1992, p. 23-24) apresenta a distinção de Boomgarden, que mostra as variáveis que influenciam diretamente na perenidade dos materiais, e são elas “a estrutura físico-química dos materiais das coleções; o ambiente físico em que os materiais estão armazenados; o manuseio e tratamento a que cada documento é submetido”. Ter a ciência destas variáveis possibilita o profissional da preservação a “planejar e administrar um programa de preservação” (NASSIF, 1992, p. 24).

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Essas características evidenciam a vulnerabilidade ou a perenidade dos tipos de papéis produzidos nos dias atuais, e através de um controle adequado, é possível interromper o processo de deterioração de um acervo. De acordo com Nassif (1992, p. 44), as políticas, em seu sentido geral, expressam “a intenção da organização em relação às questões nelas colocadas e devem ser guias para tomadas de decisão e ação”, esta é uma importante questão para subsidiar a administração da preservação. Para estabelecer uma política de preservação em uma biblioteca, anteriormente é preciso fazer um levantamento das políticas existentes, seja formal ou informal (NASSIF, 1992, p. 44). Analisar todos os documentos e as ações executadas possibilitará obter um diagnóstico da atual situação do acervo e estabelecer as prioridades do mesmo. O ponto chave do êxito da descrição das etapas da preservação, é a realização de um diagnóstico completo da instituição e da coleção, assim apontam os teóricos. O diagnóstico é um levantamento minucioso das condições de todos os ambientes da biblioteca, como o do local de armazenagem, estrutura do edifício, instalações, mobiliários, manuseio e circulação do acervo etc., no qual todas as condições precisam estar escritas de forma clara e concisa. Para a realização do diagnóstico, deve-se utilizar um roteiro prévio que irá auxiliar “na compreensão da organização como um todo [...], verificar as áreas de riscos e as prioridades em relação ao edifício e às coleções” (FRONER; SOUZA, 2008, p. 4). O diagnóstico elenca vários fatores que afetam a conservação do acervo, evidencia os pontos fortes e fracos da instituição e através da análise indica o tipo de intervenção que precisa ser executado.

As diretrizes para a realização de um diagnóstico de conservação das coleções e do edifício [...] refletem uma visão ampla do meio ambiente e abrangem a análise de questões administrativas e técnicas. O objetivo dessa abordagem é o desenvolvimento de soluções apropriadas e sustentáveis para problemas criados pelo meio ambiente que afetam as coleções. A sustentabilidade das soluções propostas para a melhoria das condições ambientais das coleções dependerá em grande parte da adoção de boas práticas de administração que levem em consideração as coleções, o edifício, as políticas organizacionais e as atividades (FRONER; SOUZA, 2008, p. 5).

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Froner e Souza (2008) apresentam quatro fases importantes para a equipe realizar um diagnóstico de conservação, são elas: preparação; coleta de informações durante o diagnóstico (observações e entrevistas no local); a análise conjunta e estratégias; e por fim a elaboração do relatório do diagnóstico. A fase da preparação envolve a coleta de “informações em várias áreas a fim de fornecer aos avaliadores das coleções e da arquitetura dados suficientes sobre a missão da instituição, além do edifício, coleções, funcionários e atividades” (FRONER; SOUZA, 2008, p. 10). Nesta fase, é o momento de estabelecer as metas que o diagnóstico pretende cumprir, incluindo “os problemas específicos que [...] está procurando resolver, as prioridades institucionais e o destino que será dado às informações resultantes do diagnóstico” (FRONER; SOUZA, 2008, p. 10). Na segunda fase do diagnóstico, apresentam-se observações na condição em que encontram “as coleções, e fazendo uma revisão da documentação relevante sobre o edifício [...], suas coleções e meio ambiente, juntamente com entrevistas realizadas com os funcionários” (FRONER; SOUZA, 2008, p. 10). Na terceira fase é a etapa em que toda a equipe se reúne e apresenta o resultado da pesquisa para diagnosticar as causas prováveis das áreas problemáticas atuais ou potenciais, determinar os possíveis inter-relacionamentos entre os problemas que afetam as coleções, o edifício [...] e propor estratégias adequadas para a instituição (FRONER; SOUZA, 2008, p. 11).

E para finalizar o diagnóstico, elabora-se o relatório final e unificado, que deverá conter “(1) dados e análises; (2) estratégias recomendadas; (3) fases sugeridas para a implementação” (FRONER; SOUZA, 2008, p. 12).

A obtenção de dados confiáveis sobre a condição das coleções da biblioteca é um componente indispensável no planejamento de preservação. Por causa da ampla gama de fatores tais como a idade dos itens; os métodos e os materiais usados na sua fabricação; as técnicas de processamento, o ambiente de armazenamento e ao uso a que os itens estiveram sujeitos; a maioria das coleções vai conter materiais em todas as condições, variando do intocado ao completamente desintegrado (MERRILL-OLDHAM; REED-SCOTT, 2001, p. 71).

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Todos esses levantamentos das

condições [do acervo] oferecem informações mais detalhadas sobre a condição física de uma coleção [...]. Além de questões gerais [...], os levantamentos de condições podem responder a questões específicas que ajudam a projetar as necessidades operacionais de um programa de preservação [...]. Algumas bibliotecas de pesquisa realizaram levantamentos de condições junto com esforços de planejamento de preservação (MERRILL-OLDHAM; REED-SCOTT, 2001, p. 74).

Como ferramenta para orientar o levantamento, Merrill-Oldham e Reed-Scott (2001, p. 85) disponibilizam um formulário utilizado pela Biblioteca da Universidade de Harvard, para elaborar um relatório de amostragem, que se encontra anexo ao trabalho. Assim como Spinelli Júnior (1997) da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) também divulga em sua publicação formulários para diagnósticos, avaliações e propostas de tratamentos de itens, do acervo, do espaço físico e para fotografias, todos esses formulários de apoio estão anexos ao trabalho. Durante o planejamento da preservação, todas essas ações é uma contribuição para toda a equipe identificar as prioridades de conservação do acervo e balizar as ações estratégicas de intervenção necessárias no acervo e no edifício. A preservação ocupa-se com o controle ambiental, com o controle de segurança do acervo e do edifício e o controle do acervo em si. O controle ambiental engloba a

criação e manutenção de ambiente propício à preservação, compreendendo controle da temperatura, da umidade relativa do ar, da luminosidade, bem como preservação da infestação biológica, procedimentos de manutenção, segurança e proteção contra fogo e danos por água (ARQUIVO NACIONAL, 2004, p. 47 apud CUNHA, 2008, p. 106).

Para Cabral (2005, p. 20), “ao proporcionar as melhores condições ambientais possíveis, está a dar-se o passo mais importante no sentido da preservação da nossa herança cultural”. Ou seja, para a proteção do edifício é preciso “definir limites físicos, identificar, delimitar e sinalizar as áreas, avaliá-las quanto aos diferentes níveis de proteção, estabelecer limites de proteção e aplicar medidas de defesa” (MUSEU DE ASTRONOMIA E CIÊNCIAS AFINS; MUSEU VILLA-LOBOS, 2006, p.

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25). Neste documento é apresentado um quadro para verificar os limites e níveis níve de proteção do edifício, que se encontra anexo ao trabalho. O controle do acervo se dá pelos controles de documentação do acervo, em reserva técnica, em exposição, em empréstimo ou em trânsito, em que acervo que se encontra em sala de consulta, em circulação circulação interna, pela conservação do acervo e consulta de documentos, documentos pelo controle de reprodução de documentos (MUSEU ( DE ASTRONOMIA

E

CIÊNCIAS

AFINS;

MUSEU

VILLA LOBOS, VILLA-LOBOS,

2006 2006).

O

estabelecimento destes parâmetros parâmetros precisa ser acompanhado da conscientização doss funcionários, avaliação periódica dessas ações e por um relatório, que precisa ser gerado para posteriormente ser consultado e usado como base para treinamentos. A preservação é ilustrada ilustrad por Lisa Fox como um grande guarda-chuva. guarda Zúñiga (2012) e Hollós (2007) 2007) representam a imagem da seguinte forma:

Figura 1: Guarda-chuva protetor

Fonte: Zúñiga (2012 2012).

Essa imagem apresenta a abrangência da preservação e a especificidade da conservação, da restauração e da reformatação. Esta preservação tem aspecto de uma “atividade de forte cunho gerencial e administrativo destinada a minimizar a deterioração química ou física dos documentos e evitar a perda de conteúdo informacional” (ZÚÑIGA, 2012).

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A conservação e a restauração são aplicações das “práticas específicas destinadas a diminuir o ritmo de deterioração e a prolongar a expectativa de vida de um objeto, através da intervenção direta na sua estrutura física e química” (ZÚÑIGA, 2012). A reformatação é o processo de transferência do conteúdo intelectual para outro suporte, físico ou digital, por meio da cópia, fotografia, microfilmagem e digitalização. A preservação é responsável pelas atividades preventivas e interventivas “que se propõem a retardar a deterioração dos acervos e possibilitar o pleno acesso do público” (ZÚNIGA, 2002, p. 75). O guarda-chuva protetor visa garantir a proteção da coleção de forma sistemática, por meio da conservação, da restauração e da reformatação. É no momento do planejamento que o administrador da preservação precisa buscar o apoio dos superiores, que

deve ser continuamente alimentado por relatórios periódicos sobre o progresso do planejamento e por consultas freqüentes (sic) sobre a aprovação das recomendações emergentes. Também é importante assegurar, de maneira contínua, a disponibilidade, ao menos de alguns dos recursos necessários, quer seja no sentido de tempo dos funcionários ou no sentido de poder redirecionar certas linhas orçamentárias ou, até mesmo, destinar dinheiro novo. É possível que isto signifique manter envolvidos e interessados no processo os níveis mais altos da administração ou da instituição matriz (OGDEN, 2001, p. 11).

Com relação aos conflitos que poderão surgir durante a elaboração da política de preservação, deverá ser estabelecido o foco principal da política, visto que a opinião pessoal não prevalecerá, mas sim “a importância de melhorar as condições do edifício e de suas instalações, fazendo as reformas necessárias para a sobrevivência das coleções” (OGDEN, 2001, p. 11). É grande o número de decisões para estabelecer um programa de preservação, “as decisões frequentemente não são fáceis de serem tomadas, e pode ser necessário procurar a assistência profissional de um consultor” (OGDEN, p. 13). Decidir o tratamento de conservação que será aplicado e quem o fará, são deliberações que o administrador da preservação precisará assumir, e para isso, ele deverá “ser suficientemente informado, tanto sobre a natureza da deterioração a ser

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remediada como sobre as características do material a ser tratado, e [...] ter conhecimento suficiente para escolher a opção mais adequada para o tratamento” (OGDEN, p. 13). Além disso, deverá escolhar, o profissional mais capacitado e qualificado para realizar a intervenção. Um planejamento para a preservação é um processo que evidencia as necessidades gerais e específicas do acervo, determina e estabelece as prioridades e também identifica os recursos para a implementação e execução da política. Como objetivo principal define o curso de ação para a preservação, tendo em vista que as pesquisas são o embasamento do planejamento da preservação (OGDEN, 2001).

O maior obstáculo para o desenvolvimento e a administração dos programas de preservação é a carência, não de dinheiro, mas de conhecimento. As restrições financeiras são sérias e ainda se tornarão maiores; mas, até que a batalha da preservação chegue ao ponto no qual a maioria saiba o que conviria ser feito, e como deveria ser feito, a carência de recursos para a realização dos programas, em uma escala apropriada às necessidades, não chega a ser terrivelmente significante (DARLING, apud CONWAY, apud SILVA, 1998).

Benefícios do planejamento apresentado por Davies (2001, p. 18): • Ajuda a assegurar no longo prazo a salvaguarda do acervo. • Todos [...] enxergam mais claramente o que se está querendo realizar. • Todos que aí trabalham sabem como se encaixam nas metas e objetivos do museu. • Conduz ao uso mais eficaz dos recursos. • Integra todos os aspectos do funcionamento do museu em um mesmo processo de administração. • Oferece uma estrutura básica dentro da qual podem ser tomadas decisões estratégicas. • Produz um plano que atua como ponto de referência para todos os interessados.

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Essas considerações ajudam no “processo de reflexão propriamente dito, sobre o que [a instituição] está tentando realizar e como está procurando fazê-lo” (DAVIES, 2001, p. 18). Uma síntese norteadora do planejamento é apresentada por Davies (2001, p. 25), através de um diagrama englobando todas as áreas importantes no processo de planejamento, cujas setas indicam a ordem em que deve ser considerada.

Figura 2 – O processo de planejamento

Fonte: Davies (2001, p. 25).

Ter a clareza da missão da instituição possibilitará transcorrer de forma mais clara o planejamento, e todas as pessoas que estão envolvidas neste processo, precisam estar cientes da importância da missão da instituição. Já na fase do

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diagnóstico é a fase de investigação pormenorizada da situação da instituição. Citados anteriormente Souza e Froner (2008) apresentam um roteiro prático para elaboração do diagnóstico da instituição. As metas e estratégias são elaboradas logo após a realização do diagnóstico, com o objetivo de suprir as necessidades conservação da instituição e do acervo. Com isso são elaborados os objetivos, plano ou política de preservação que a instituição deverá usar para conservar os itens do acervo. Posteriormente implanta e monitora a sua execução, sempre documentando para possíveis modificações e aprimoramento da política de preservação.

4.2 Administração da preservação

Para conseguir executar um bom programa de preservação “os objetivos e as prioridades [...] devem estar firmemente enfatizados no documento que afirma a missão institucional” (OGDEN, 2001, p. 7). Portanto a política de preservação ajuda a delinear as ideias fundamentais sobre a conservação. A elaboração e a implantação de uma política de preservação devem estar sob a autoridade e coordenação de bibliotecários, no papel de administradores, o bom exercício dessa atividade requer uma combinação de práticas administrativas e conhecimentos técnicos, exercidos dentro de uma estrutura organizacional flexível (NASSIF, 1992). O “administrador da preservação” deve ter acesso à informação precisa para o desenvolvimento dos programas de preservação, além de necessitar de tempo disponível para ordenar e analisar essa informação (NASSIF, 1992, p. 47). Essa característica do profissional da preservação possibilitará atingir os objetivos da política de preservação. Para realizar a conservação, é preciso estabelecer os padrões de preservação que serão realizados em determinado acervo. Isto é, delimitar e determinar as ações de conservação que precisam ser feitas para alcançar a preservação. De acordo com a literatura adotada, foram elaboradas tabelas para evidenciar algumas ações de controles e verificações, afim de que mantenham as ações para preservação de acervos bibliográficos.

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Tabela 1 – A conservação por meio da adequação de edifícios Políticas

Gerenciamento de Riscos

Edifício

Áreas

Contra incêndio

Instalações

Verificações Bloqueio de propagação de fumaça Sistema de alarme Proteção contra incêndio Elétricas Hidráulicas

Inundações Pluviometria Vendavais Vegetação Indústrias Centro urbano Treinamento

Funcionários Usuários

Vandalismo Fonte: A autora.

O gerenciamento ambiental para preservação do patrimônio da instituição precisa preencher alguns requisitos como: • Comprometimento institucional em todos os níveis, em particular da Presidência e dos responsáveis pelos diferentes setores da instituição; • Atitude proativa de todos os funcionários para que se desenvolva uma “cultura de gerenciamento de riscos” na instituição; • Constituição formal de uma equipe interna multidisciplinar para a implantação do gerenciamento de riscos na instituição; • Disponibilização de recursos financeiros para a implementação de medidas de tratamento de riscos, conforme os graus de urgência e de prioridade determinados pela avaliação dos riscos; • Monitoramento, documentação e revisão contínuos da aplicação do Plano, cuja atualização sistemática deve ser feita conforme a necessidade ou com a periodicidade preestabelecida (por exemplo, a cada seis meses); • Comunicação e consulta contínuas com todas as partes envolvidas e interessadas, assegurando ampla inclusão e participação ativa no processo e maximizando o uso da informação e conhecimento disponíveis (SPINELLI JUNIOR; PEDERSOLI JUNIOR, c2010, p. 15).

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Tabela 2 – A conservação por meio do controle do ambiente Áreas

Políticas

Verificações

Ambiente

Controle ambiental

Temperatura Umidade relativa Iluminação natural Iluminação artificial Poluição ambiental Limpeza do ambiente Higienização do acervo

Periódica Constante Periódica Constante

Biodeterioração: insetos (baratas, brocas, cupins), roedores (ratos e ratazanas), pássaros, morcegos e animais (cobra). Biodeterioração: microorganismos, fungos (esporos), mofo e ácaros de livro. Ventilação

Mecânica Natural Vertical Horizontal

Filtração do ar Fonte: A autora.

A correta adequação do ambiente de guarda de acervo bibliográfico é uma ação importantíssima que proporciona boas condições para preservação do acervo, visto que

o ambiente é um dos principais agentes de deterioração dos acervos documentais. Os efeitos produzidos pela luz, temperatura, umidade e poluentes atmosféricos, isoladamente ou conjugados, determinam processos de deterioração dos materiais. Altos índices de temperatura e umidade propiciam o desenvolvimento de microorganismos e insetos e aceleram os processos químicos de degradação (BOJANOSKI, 1999, p. 53).

Por esses motivos é preciso dispensar maior atenção em todo o ambiente de guarda dos acervos.

47

Tabela 3 – A conservação por meio do gerenciamento de coleções Políticas

Verificações Inventário Controle

De acesso ao acervo De empréstimos

Sistema de detecção contra furto

Controle do acervo Reformatação

Controle para exposição Vistoria do acervo

Cópia

Gestão da Coleção

Coleção

Segurança do acervo

Áreas

Interna Externa Diária Periódica

Controle de reprodução pelos usuários Diagnóstico

Do acervo Obra a obra

Monitoramento Armazenamento

Corrente Em depósitos Para suporte físico Para suporte digital

Microfilmagem

Políticas

De seleção De aquisição De processamento técnico De circulação De uso

Fonte: A autora.

A coleção varia de uma instituição para outra, nesta tabela apresenta-se algumas ações de controle que podem ser aplicados a diversos tipos de acervos, com o objetivo de estancar ou desacelerar os agentes de degradação do acervo. No âmbito gerencial será preciso fazer um levantamento dos gastos e dos recursos financeiros disponíveis para aplicar a política de preservação, assim como a mão de obra qualificada e especializada disponível para trabalhar diretamente no acervo, após estabelecer os procedimentos de preservação necessários. O gestor deve identificar em sua instituição ou contratar profissionais com capacitação para trabalhar com as especificidades dos acervos presentes, pois

48 preservar informação relevante requer atualmente o envolvimento de equipes multidisciplinares na seleção de preservação, no estabelecimento de prioridades com base no valor informacional, na demanda de uso e na vulnerabilidade do meio (BECK, 2006, p. 4).

O termo administração da preservação se dá pelo fato de que a

postura gerencial, governamental ou institucional [ ... ] é delineada a partir de uma decisão de nível hierárquico superior, , isto é, aquela que define objetivos, limites, diretrizes e procedimentos para atingir um ou mais resultados de preservação (HANNESCH, 2011, p. 7).

Planejamento, organização, liderança, execução e controle são as principais ações da administração (MAXIMIANO, 2011). Essas “funções administrativas ou funções gerenciais” (MAXIMIANO, p. 13) são as mesmas usadas para gerir a preservação de acervos bibliográficos como um todo, pois “a administração é, na atualidade, objeto de estudo sistemático, que produz um corpo de conhecimentos organizados” (MAXIMIANO, p. 14). Como já foi definido anteriormente, preservação

abrange todas as áreas de gestão e financeira, incluindo aprovisionamento e armazenamento, recursos humanos, políticas técnicas e métodos envolvidos na preservação de matérias de bibliotecas e arquivos e a informação neles contidos (IFLA, 2004, p. 14).

No âmbito da gestão, o profissional da preservação desenvolverá funções administrativas como distribuição de recursos, determinação das funções e priorização, visando aplicar os procedimentos de conservação no acervo para alcançar a preservação. Um profissional com habilidade em comunicação, com bom relacionamento interpessoal aliado à capacitação técnica, conseguirá gerenciar todos os processos de preservação.

Investimentos eficazes em processos de preservação não podem ser adotados sem um compromisso com a obtenção de resultados ideais. O gerenciamento de preservação compreende todas as políticas, procedimentos e processos que, juntos, evitam a deterioração ulterior do material de que são compostos os objetos, prorrogam a informação que contêm e intensificam sua importância funcional. A distinção entre a importância do conteúdo e a importância do artefato está no centro vital de um processo de

49 tomada de decisão que, por si só, é fundamental para um gerenciamento eficaz. Gerenciamento de preservação envolve um progressivo processo reiterativo de planejamento e implementação de atividades de prevenção [...] e renovação de atividades [...]. (CONWAY, 1996, p. 6 apud SILVA, 1998).

É possível desenvolver e implantar um programa de preservação eficaz, mesmo quando a biblioteca é pequena e possui poucos recursos financeiros (CALIFORNIA…, 2013). Visto que o princípio básico de diagnosticar a condição do acervo, apontar as prioridades e ações que precisam ser executadas requer tempo, esforços e paciência. Sensibilizar e conscientizar funcionários, estagiários e usuários sobre a importância da preservação e capacitá-los com as ações básicas para preservar é um passo importante para o estabelecimento e implantação do programa de preservação e vale ressaltar que este é um trabalho que demanda tempo e é permanente. Não é preciso reinventar a roda, basta usar o que já está publicado e adaptar de acordo com a especificidade da biblioteca. E a partir deste ponto pode-se aprimorar o programa inicial (CALIFORNIA…, 2013). Ogden (2001, p. 10) apresenta algumas ações que podem ser feitas e implementadas sem aumento do orçamento ou ter que fazer uma redistribuição do pessoal. Além do “treinamento de funcionários e usuários no cuidado e manuseio dos acervos”, é preciso atentar para

a revisão dos contratos de encadernação vigentes [...], a realização de manutenção sistemática nos acervos e nas estantes, a preparação de um plano para desastres, a observação dos critérios de preservação ao comprar móveis e suprimentos para armazenamento, o trabalho com os engenheiros no sentido de se estabilizar a temperatura e a umidade, e a incorporação dos imperativos da preservação a todas as políticas e a todos os procedimentos da instituição.

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5 A IMPORTÂNCIA DAS PRÁTICAS PRESERVACIONISTAS

Bibliotecas, centros de documentação, arquivos e museus, são responsáveis por salvaguardar, prolongar a vida útil e dar acesso aos itens do acervo, e para que isso ocorra, os profissionais das instituições podem utilizar as técnicas de conservação, que estabilizam o processo de deterioração do acervo bibliográfico, permitindo maior tempo possível de acesso aos itens, principalmente, mantendo a integridade física e intelectual do documento. “A arte da preservação é tão antiga como a própria civilização humana. De certo modo, pode dizer-se que provém do instinto de auto-preservação presente em todos os seres vivos” (KATHPALIA, 1973 apud TEIJGELER, 2007, p. 45). Inserir as práticas de conservação como rotina na instituição inteira, não é fácil, porém é a melhor forma de atingir a preservação do acervo em sua totalidade, sem negligenciar nenhuma parte, sendo que, para atingir esse alvo, demanda tempo. Investigados os principais fatores de deterioração do acervo ajudará a estabelecer

a

forma

como

o

acervo

será

trabalhado

e

manuseado.

Independentemente se o guia para preservação é uma política, ou um programa, seja formal ou informal, o importante é ter objetivo, cronograma, disseminação “e compreender que só a sua execução continuada e sistemática poderá introduzir as alterações ambiciosas, isto é, estancar a tão temida deterioração” (CABRAL, 2005, p. 21). O foco principal da conservação é evitar que o item precise de restauração, visto que o ideal é conservar para não restaurar. E neste contexto Guichen, (1995, p. 2 apud BECK, 2006, p. 2) afirma é preciso ter uma nova mentalidade para assegurar a sobrevida das coleções, pois

a conservação preventiva é um velho conceito no mundo dos museus, mas só nos últimos 10 anos que ela começou a se tornar reconhecida e organizada. Ela requer uma mudança profunda de mentalidade. Onde ontem se viam objetos, hoje devem ser vistas coleções. Onde se viam depósitos devem ser vistos edifícios. Onde se pensava em dias, agora se deve pensar em anos. Onde se via uma pessoa, devem ser vistas equipes. Onde se via uma despesa de curto prazo, se deve ver um investimento de longo prazo. Onde se mostram ações cotidianas, devem ser vistos programas e prioridades.

51

Evidenciando as várias formas de trabalhar com a preservação, em que será preciso trabalhar com a interdisciplinaridade de profissionais, pois são necessários vários profissionais para conduzir de forma eficiente à preservação de um acervo. Como exemplo, a interação de trabalho entre meteorologista, biólogo, químico, bibliotecário, arquivista, administrador, engenheiro, arquiteto, restaurador são alguns dos profissionais importantes que precisam interagir com a equipe da instituição para estabelecer parâmetros de ações preventivas. A interdisciplinaridade deve ser intermediada pelo administrador da preservação, assim como o diálogo entre os profissionais das áreas envolvidas.

A salvaguarda do patrimônio pressupõe uma intervenção global, sempre interdisciplinar obrigando a uma gestão racional dos recursos existentes na instituição, colocando os departamentos responsáveis pela conservação no coração da instituição (CABRAL, 2005, p. 7).

De acordo com Ogden (2001), são duas as categorias que dividem a preservação do acervo. A primeira é a preservação preventiva e a segunda, são as medidas preventivas de conservação. A preservação preventiva “enfoca a deterioração dos acervos e sua integridade” (p. 7), além de constituir “um processo de trabalho intenso” (p. 7). Esta conservação preventiva é um ciclo de trabalho que não tem fim, como por exemplo, ao finalizar a higienização de um acervo, volta ao início do acervo onde foi começada a higienização e reinicia o ciclo de higienização sem interrupções. Cada instituição terá um ciclo de trabalho personalizado, pois as necessidades e possibilidades se diferem de instituição para instituição, e como exemplo do ciclo de trabalho em um setor de preservação está disponível em anexo o fluxo de trabalho da Biblioteca Rodolfo Garcia. Outro exemplo de conservação preventiva é o monitoramento diário do ambiente onde o acervo está armazenado, incluindo o monitoramento da temperatura, da umidade, da luminosidade, dos particulados de poluição etc. Para

Ogden

(2001),

as

medidas

preventivas

de

preservação

são

“empregadas para remediar a deterioração física ou química” (p. 7). Neste caso, são os processos de intervenção diretamente no ambiente de armazenagem ou no item que está sofrendo degradação por algum tipo de agente ou bibliófago, o controle de temperatura e umidade ou a constatação da presença de fungos, ácaros dos livros

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ou insetos, onde um profissional especializado irá realizar alguns procedimentos para a retirada do agente que está causando o dano no item.

Seja através da restauração, seja através de qualquer outra ação de intervenção direta ou indireta sobre o documento, a missão da preservação é garantir que o documento tenha sua materialidade e funcionalidade resguardadas pelo maior tempo possível (HOLLÓS, 2006. P. [35]).

As práticas preservacionistas são exercidas desde o mundo antigo, em que “o [...] papiro era confeccionado [...], a partir da planta substância orgânica constituída, predominantemente, de celulose, alimento por excelência aos insetos destruidores” (CASTRO, 2008, p. 13). De acordo com Castro (2008) uma das práticas de conservação executadas nos países do Oriente Médio era o uso de produtos repelentes nos suportes de informação, como o óleo de cedro nos papiros. A questão do armazenamento também era uma preocupação, porque os documentos eram guardados “em caixas em madeira de conhecida propriedade repelente e ativamente inseticida, impregnadas com alguma substância de conservação” (CASTRO, 2008, p. 14). Já os gregos e os romanos, objetivando a conservação, confeccionavam capas de pele de animais ou de tecidos para envolver o livro (CASTRO, 2008). As igrejas medievais, preocupadas com os furtos, acorrentavam as bíblias em mobiliário específico para consulta dos fiéis.

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Figura 3: 3 Mesa/estante para livros acorrentados

Fonte: Oliveira (apud apud Castro, 2008, p. 18). 18

A imagem acima é um modelo de mesa/estante mesa/estante para acorrentar acorrenta os livros em suas prateleiras,, evitando o furto. furto Esse mobiliário pertence ertence à Biblioteca de Cesano, Cesano que conserva em seu prédio mobiliário mo e livros de origem. Como omo prática habitual nas bibliotecas antigas, a imagem abaixo, abaixo mais uma vez, exemplifica os livros acorrentados, acorrentados esses são códices e incunábulos da Biblioteca do Convento de Mafra.

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Figura 4: Códices ices e incunábulos acorrentados

Fonte: Sousa (2012 2012).

Dentre outras ações antigas para conservação, sabe-se se também que os pergaminhos eram guardados em jarros, e a colocação de livros em um “nicho escavado em forma de escrivaninha na parede” (CASTRO, 2008, p. 18), protegendo do furto e dando acesso o aos usuários e havia também a guarda de livros em cofres, a mudança de fechadura das salas de guarda etc. Castro (2008) ilustra a guarda em vasos com uma passagem bíblica, nas palavras do profeta Jeremias, que diz: Assim diz o senhor dos Exércitos, o Deus Deus de Israel: Toma esta escritura, esta escritura de compra, tanto a selada como a aberta, mete mete-as num vaso de barro, para que se possam ossam conservar por muitos dias (BÍBLIA, 1997, p. 1106).

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Em nota de rodapé, o editor da Bíblia explica que o uso de vaso de barro, para a guarda de documentos, era uma proteção contra umidade. Era uma forma de acondicionamento que criava um microclima favorável à preservação protegendo o documento da umidade, da luminosidade e de agentes biológicos de deterioração. O editor informa também que muitos arqueólogos têm desenterrados jarros de barros com tais contratos. A preocupação com a conservação permanece ao longo dos séculos, chamando a atenção para reflexão, análise e consolidação desta importante ação nos acervos bibliográficos e afins. A conservação é realizada devido a vários fatores que ameaçam a integridade física dos documentos como: • A natureza dos próprios materiais; • Desastres naturais e provocados pelo homem; • O ambiente onde os materiais são mantidos; • O modo como os materiais são manuseados (IFLA, 2004, p. 19). Esses são os principais tipos de degradação que afetam os itens de um acervo e precisam ser estancados.

É ao considerar as relações sugeridas entre política, tecnologia e conhecimento, que os arquivistas, bibliotecários e conservadores encontram respaldo científico para planejar e propor projetos de preservação para seus acervos. Entende-se que a falta de conhecimento, mais que a escassez de recursos financeiros, é que leva à deterioração dos acervos. Assim, hoje, a preservação deve ser entendida como uma escolha tecnológica, científica e política, em que identificar e conhecer o que deve ser feito, e como deve ser feito, torna-se o mais importante. Resolvendo essas questões agora, inúmeras soluções poderão ser encontradas com vistas ao futuro (SILVA, 1998).

A mudança desse quadro apresentado por Silva pode ser modificado à medida que os gestores de acervos a da preservação invistam tempo para divulgação da importância e da necessidade de preservar o patrimônio institucional. Pois a preservação é uma ação de trabalho que envolve questões complexas que não pode ser realizada por uma só pessoa.

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6 OS ESTUDOS DE CASO Foram visitadas algumas instituições especializadas e que trabalham diretamente com a questão da preservação de acervos bibliográficos. As visitas foram feitas com a intenção de pesquisar sobre os métodos preservacionistas utilizados para a conservação de acervos bibliográficos. O acondicionamento, a climatização e a higienização foram os pontos básicos pesquisados. Os locais visitados foram bibliotecas especializadas da cidade do Rio de Janeiro: Biblioteca Rodolfo Garcia (BRG) da Academia Brasileira de Letras (ABL), Biblioteca de Ciências Biomédicas do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (FIOCRUZ) e a Biblioteca do Museu de Ciências Afins (MAST). As visitas foram direcionadas por um questionário semi-estruturado, com questões abertas ou entrevistas, visto que as práticas preservacionistas são de cunhos individualizados nas instituições, e ocorreram na primeira quinzena do mês de maio de 2013,

6.1 Biblioteca Rodolfo Garcia

A BRG é uma biblioteca especializada em Letras, e seu acervo tem como principal foco de assunto a “filosofia, filologia, 56linguística, literatura, história e ciências humanas” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2013). A formação do acervo se constitui pelas coleções “geral, de referência, de obras raras dos séculos XIX e XX [...] e por coleções particulares” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2013). Dentre as obras raras destacam-se a Brasiliana e a Camiliana. As coleções particulares são constituídas pelos acervos de “Agliberto Xavier, Alzira Vargas do Amaral Peixoto, Arthur Vautier, Ary de Andrade, Carlos Magalhães de Azeredo, Celso Vieira, Fernando Nery, Franklin de Oliveira, Frédéric Mauro, Marcos Carneiro de Mendonça e Silvio Neves” (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2013).

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6.2 Biblioteca de Ciências Biomédicas

Inaugurado em 1995, para abrigar o acervo de obras correntes, possui aproximadamente um milhão e meio de itens entre livros, folhetos, periódicos e vídeos. O prédio da Biblioteca de Ciências Biomédicas (BCB) possui uma área para conservação preventiva de documentos, denominado Laboratório de Conservação Preventiva de Documentos (Lacopd) (REDE..., 2013).

A [BCB] desenvolve novos métodos, processos e produtos, com o objetivo de ampliar e universalizar o acesso à informação científica na área biomédica. Além de atender aos profissionais de saúde, a biblioteca é destinada a alunos de pós-graduação, professores e pesquisadores da Fiocruz, da Rede Pública e Privada de Saúde e à sociedade em geral (REDE..., 2013). Localizada no Rio de Janeiro, a BCB possui agravantes de deterioração do seu acervo, devido à temperatura e umidade relativa que oscilam muito. Além disso, a concentração de arbustos, a proximidade com o mar e a emissão de poluentes através da Avenida Brasil tornam o controle desses índices muito difíceis, o que é altamente prejudicial para o papel (REDE..., 2013).

O principal objetivo da BCB é dar “acesso à informação científica e tecnológica em saúde” (REDE..., 2013) aos pesquisadores.

6.3 Biblioteca do Museu de Astronomia e Ciências Afins

O Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) é “uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)” (MUSEU..., 2013), que “tem como missão ampliar o acesso da sociedade ao conhecimento científico e tecnológico por meio da pesquisa, preservação de acervos, divulgação e história da ciência e da tecnologia no Brasil” (MUSEU..., 2013), e a Biblioteca do MAST está inserida neste contexto apoiando pesquisadores e ajudando no surgimento de outros novos.

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7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Após a coleta dos dados apresentam-se as observações sobre cada instituição. Para isso foram elaboradas três tabelas organizadas por três grandes áreas que são importantes para a preservação. A tabela 1 observa as condições físicas e localização dos edifícios, a tabela 2 observa o meio ambiente de armazenamento do acervo e a tabela 3 apresenta condições específicas quanto ao gerenciamento e tratamento do acervo.

7.1 Quanto aos edifícios

Os edifícios das instituições que armazenam acervos orgânicos, como os bibliográficos, por exemplo, precisam atender algumas especificações a fim de proteger e conservar seus itens. Suas adequações são medidas importantes para a preservação do acervo. Com as intempéries e as ações do homem, os edifícios tendem a degradar com o tempo, comprometendo a estrutura física, estética e funcional. A verificação das condições do edifício, do local onde está construído e a forma de uso possibilitam a correta manutenção. A ação básica para a preservação do acervo é a orientação aos usuários quanto à forma correta de manuseamento dos itens. “De facto (sic), o primeiro princípio que assegura uma boa preservação e um armazenamento em condições, não tendo em conta o local ou o clima, é um manuseamento cuidadoso dos materiais” (EZENNIA et al., 1995, apud TEIJGELER, 2007, p. 112). As tabelas a seguir foram elaboradas para apresentar, em resumo, as ações básicas para a preservação.

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Tabela 4 – Observações nos edifícios nas bibliotecas visitadas

Gerenciamento de Riscos

Políticas

Edifício

Áreas

Verificações Bloqueio de propagação de fumaça Contra incêndio Sistema de alarme Proteção contra incêndio Elétricas Instalações Hidráulicas Inundações Pluviometria Vendavais Vegetação Indústrias Centro urbano Funcionários Usuários Treinamento

Vandalismo Fonte: A autora.

BRG -

BCB -

Bib MAST -

Possui Possui sistema de gás

Possui Possui brigadistas

Possui

Não há riscos Não há riscos Não há riscos Não há proximidade Não há proximidade Está no centro urbano Possui Não possui (mas existe observação aos usuários quanto ao uso do acervo) Não há riscos

Não há riscos Não há riscos Não há riscos Há proximidade Há proximidade Há proximidade Possui Possui

Não há riscos Não há riscos Há riscos Há proximidade Há proximidade Há proximidade Possui Possui

Há riscos

Há riscos

60

Apesar da proximidade geográfica das instituições cada uma tem ataques de agentes de deterioração distintos, o que pode deixar o acervo vulnerável se medidas de proteção não forem implantadas. A presença de umidade, a alta temperatura e a presença de substâncias poluentes “afetam negativamente as coleções e outros elementos patrimoniais por meio de reações químicas ou formação de depósitos, causando corrosão, enfraquecimento, alterações estéticas, etc.” (SPINELLI JÚNIOR; PEDERSOLI JÚNIOR, 2010, p. 27).

Administradores de bibliotecas e arquivos e profissionais da preservação enfrentam o grande desafio de reduzir os inevitáveis processos intrínsecos e extrínsecos de degradação verificados nos acervos documentais modernos. No Brasil a situação desses acervos é particularmente grave. Além dos fatores inerentes de degradação dos materiais, as instituições enfrentam outras questões que intensificam esse processo. O clima tropical-úmido com altos índices de umidade e temperatura que aceleram os processos de deterioração dos materiais (BOJANOSKI, 1999, p. 36).

Para Teijgeler (2007, p. 79) “os edifícios constituem a primeira linha de defesa contra climas rigorosos e contra diversos tipos de desastres, sendo considerados como um meio fundamental para a preservação das colecções (sic)”. E por isso o cuidado com os edifícios não pode ser negligenciado quando o objetivo é a preservação de acervos. Para gerenciar um edifício e o ambiente onde o acervo está armazenado são necessárias várias medidas de verificação para reparos e adequações. O gerenciamento desses espaços requer atenção aos perigos iminentes como o risco de vendáveis, inundações, riscos de incêndios, proximidade a indústrias, estruturas resistentes a cargas, instalações hidráulicas, ambientes confinados, entre outros (BECK, 2011).

7.2 Quanto ao meio ambiente

O cuidado com o meio ambiente visando a preservação transcorre pelas observações nas paredes, janelas, coberturas (telhados ou lajes), clima, localização, tipologia do acervo, tipo de mobiliário etc. “Todos os elementos da construção de um edifício são responsáveis na obtenção de um ambiente adequado à preservação –

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as paredes, as portas, o telhado, os pavimentos e as janelas” (TEIJGELER, 2007, p. 102). A realidade brasileira, quanto ao clima, faz com que as instituições precisem fazer investimentos altos para armazenar seus acervos em boas, e

infelizmente, acontece diversas vezes não haver dinheiro disponível suficiente para conversões adequadas, que deveriam solucionar problemas relativos ao meio ambiente inadequado, à poluição atmosférica e à segurança (THOMAS, 1988 apud TEIJGELER, 2007, p. 100).

Hazen (1997, p. 3-10 apud BOJANOSKI, 1999, p. 45)

analisando as relações existentes entre preservação, gerenciamento e desenvolvimento de coleções de bibliotecas, afirma que a preservação pode ser entendida como o agrupamento de três tipos principais de atividades: o primeiro tipo concentra-se nos ambientes de biblioteca e nas maneiras de torná-los mais apropriados a seus conteúdos; o segundo incorpora esforços para estender a vida física de documentos através de métodos como a desacidificação, restauração e encadernação; o terceiro tipo envolve a transferência de conteúdo intelectual ou informativo de um formato matriz para outro. Cada uma dessas três categorias de preservação encerra numerosas atividades específicas, ao mesmo tempo em que elas se sobrepõem inúmeras outras atividades e funções da instituição. Hazen conclui que existe uma interligação significativa entre a preservação e funções como manutenção do edifício, gerenciamento e desenvolvimento de coleções.

São inúmeros os autores que afirmam que a preservação envolve ações interdisciplinares e que o cuidado com o meio ambiente é um fator importante para resguardar a coleção de forma global.

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Tabela 5 – Observações nos ambientes nas bibliotecas visitadas Áreas

Políticas

Verificações Temperatura Umidade relativa Iluminação natural Iluminação artificial

Controle ambiental

Ambiente

Poluição ambiental Limpeza do ambiente Higienização do acervo Biodeterioração: insetos (baratas, brocas, cupins), roedores (ratos e ratazanas), pássaros, morcegos e animais (cobra). Biodeterioração: microorganismos, fungos (esporos), mofo e ácaros de livro. Ventilação Filtração do ar Fonte: A autora.

Periódica Constante Periódica Constante

Mecânica Natural Vertical Horizontal

BRG Controle e monitoramento Controle e monitoramento Controle e monitoramento Controle e monitoramento Controle Possui Possui Possui Possui Possui controle e monitoramento

BCB Controle e monitoramento Controle e monitoramento Controle e monitoramento Controle e monitoramento Controle Possui Possui Possui Possui Possui controle e monitoramento

Bib MAST Monitoramento

Controle e monitoramento Controle e monitoramento Controle Possui Possui Possui Não possui Possui controle e monitoramento

Possui controle e monitoramento

Possui controle e monitoramento

Possui controle e monitoramento

Possui Não possui Não possui Possui Possui

Possui Não possui Não possui Possui Possui

Não possui Possui Não possui Possui Não possui

Monitoramento

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A preservação para atingir a conservação de determinado acervo é um trabalho contínuo, ou seja, nunca terá fim. Isso significa que não é só adequar o meio ambiente de guarda, treinamento de usuários e funcionários, padronização de tratamento e manuseio, entre outras ações; é preciso ter controle, monitoramento e documentação de todos os índices observados, ações aplicadas e modificações realizadas. Essa ação permite criar uma documentação específica que identifica o estado do acervo e as intervenções realizadas por longos períodos. A documentação gera um banco de dados com as condições de trabalho e de preservação dos acervos além de arrolar todos os profissionais envolvidos nessas ações. Essa ferramenta possibilita a continuidade do trabalho de preservação.

7.3 Quanto ao acervo

Os Acervos bibliográficos de uma comunidade geralmente patrimônios públicos, encontram-se sob a custódia de instituições governamentais e todas as atividades no sentido de mantê-los conservados não devem ser tratadas com fatores isolados (SPINELLI JÚNIOR, 1997, p. 11).

Com o objetivo específico de conservar os acervos bibliográficos é necessário aplicar vários métodos específicos de conservação. É preciso diagnosticar a condição de degradação e preservação do acervo, avaliar as medidas emergenciais identificando as prioridades e estabelecer as necessidades de intervenções, atribuindo responsabilidades e prazos para execuções.

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Tabela 6 – Observações sobre o gerenciamento de coleções nas bibliotecas visitadas Reformataçã Segurança do Controle do acervo o acervo

Políticas

Gestão da Coleção

Coleção

Áreas

Fonte: A autora.

Verificações Inventário Controle

De acesso ao acervo De empréstimos

Sistema de detecção contra furto Controle para exposição Vistoria do acervo

Interna Externa Diária Periódica

Controle de reprodução pelos usuários Diagnóstico

Do acervo Obra a obra

Monitoramento Armazenamento Cópia

Corrente Em depósitos Para suporte físico Para suporte digital

Microfilmagem

Políticas

Seleção Aquisição Processamento técnico Circulação Uso Preservação

BRG Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Não Possui

BCB Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Não Possui

Bib MAST Possui Possui Possui Possui Possui Possui Não possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui Possui -

Possui Possui Possui Possui Possui Possui

Possui Possui Possui Possui Possui Em implantação

Possui Possui Possui Possui Possui Em formulação

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O ponto em comum entre as instituições é dar acesso aos utentes focando a preservação do acervo. Os tratamentos dados aos acervos são diferenciados em cada instituição, mas algumas práticas são similares quando é aplicada de forma global, sempre observando a tipologia física do material que constituem os acervos, ─ que podem ser documentos manuscritos, datilografados ou impressos, como livros, periódicos, obras raras, fotografias, obras de arte, mapas e plantas, cartazes, além de diapositivos, filmes positivos, filmes negativos, vídeos, fitas magnéticas, microfilmes, discos de vinil, DVD’s, CD’s, HD’s, entre outros.

Embora bibliotecas e arquivos difiram bastante no que diz respeito a materiais e metodologias, suas metas de programas, preocupações com preservação e questões gerenciais são semelhantes. Ambas existem para preservar e permitir acesso à informação (WARD, 2000 apud ZÚÑIGA, 2002, p. 72).

É preciso atentar também para a verdadeira realidade da instituição quanto aos recursos humanos e financeiros, para adequar e desenvolver um trabalho de preservação.

66

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que não é possível estabelecer uma única política de preservação universal para atender todas as instituições. É preciso ter ciência dos múltiplos fatores que interferem na preservação, como o clima onde a instituição está inserida, as condições físicas do edifício, a tipologia física material do acervo, as políticas que regem a administração da instituição, a missão da instituição, o estado de degradação ou conservação do acervo, os recursos financeiros disponíveis, os recursos humanos qualificados para executar os procedimentos de conservação, as necessidades informacionais dos usuários entre outros fatores que existem e são peculiares em cada local. A ciência da preservação está se consolidando cada vez mais por meio de pesquisas e aplicações de métodos pelos especialistas da área. Essa consolidação foi mais intensa após a tragédia de Florença em 1966, quando na manhã de 4 de novembro de 1966 a Biblioteca Nacional Central da Itália foi inundada, tornando-se um marco na sociedade, que se uniu e se organizou de forma emergencial na tentativa de salvar parte do patrimônio que estava coberto pela lama. O planejamento e diagnóstico são ferramentas básicas para a formulação de uma política de preservação. Proteger e salvaguardar um acervo bibliográfico envolve processos de amplo alcance, assim sendo, é muito difícil descrevê-los em um único trabalho de forma exaustiva, delimitando todas as ações inerentes aos processos de conservação de acervos bibliográficos. Assim como diz a quinta lei de Ranganathan, que uma biblioteca é um organismo em crescimento, os processos e procedimentos inerentes ao bom funcionamento da biblioteca e conservação do seu acervo também são organismos vivos, não são estáticos, eles estão em constante movimento. Portanto, o trabalho de avaliação e modificação mais adequado é constante.

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74

GLOSSÁRIO

Ácaro dos livros

Pequeno inseto cinzento, branco ou translúcido, mais ou menos do tamanho da cabeça de um alfinete. Encontra-se em grande número em zonas úmidas e escuras e nos livros; aparece geralmente no outono e causa mais estragos do que pelo seu tamanho poderia supor-se; come grude, goma e fungos; pode exterminar-se através da congelação, mas a melhor solução é procurar criar um ambiente mais seco (FARIA; PERICÃO, 2008, p. 29).

Acervo bibliográfico

Conjunto de documentos de um arquivo, biblioteca ou centro de documentação (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 10).

Acesso livre

Biblioteca com estantes de acesso livre aos usuários. (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 11).

Administração

Define-se como o processo de coordenar os recursos de uma organização para conseguir todos os objetivos por ela fixados por meio de um conjunto de funções inter-relacionadas como o planejamento, a organização, a contratação, o controle e a orientação do pessoal (FARIA; PERICÃO, p. 36).

Bibliófago

Diz-se de insetos ou outros animais que atacam e devoram livros e demais documentos feitos de papel e outras matériasprimas. (CUNHA, 2008, p. 46).

Códices

Códex (pl. códices), na definição de Rouveyre, ‘é o nome dado aos manuscritos cujas folhas eram reunidas entre si pelo dorso e recoberta de uma capa semelhante à das encadernações modernas. É, em suma, o livro quadrado e chato, tal como ainda hoje o possuímos’. A diferença é que o livro moderno apresenta-se em tamanhos reduzidos, graças ao corte das

75

folhas de impressão, ao passo que o pergaminho não era dobrado nem cortado em folhas pequenas, o que significa que os códices são livros grandes (MARTINS, 1996, p. 68).

Desacidificação

Redução da acidez do suporte de modo a elevar seu potencial hidrogeniônico a um ponto próximo do neutro (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 80).

Desumidificação

Redução

da

umidade

relativa

do

ar

em

áreas

de

armazenamento, por meios mecânicos ou químicos (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 81).

Fumigação

Em conservação, é a utilização de agentes químicos para a destruição de insetos e microorganismos que causam danos aos documentos (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 108).

Gestão de

Parte da biblioteconomia que diz respeito ao estabelecimento,

bibliotecas

organização

e

administração

racional

das

bibliotecas,

operações que são orientadas para a consecução de objetivos previamente definidos (FARIA; PERICÃO, 2008, p. 360).

Higienização

Retirada

da

poeira

e

outros

resíduos

estranhos

aos

documentos por meio de técnicas apropriadas, com vistas à sua preservação (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 114).

Incunábulo

Livros impressos antes da Páscoa de 1500, isto é, anteriores de 19 de abril de 1501 do calendário gregoriano. É bom frisar que o termo alcança estampas e livros trabalhados pelo processo da xilografia (os chamados incunábulos xilográficos) e os livros publicados pelos tipógrafos, desde Gutenberg até a data supra (são os incunábulos tipográficos) (OLIVEIRA, 1989, p. 98-99).

76

Informação

Conceito genérico de tudo que possa representar notícias, conhecimento ou comunicação [...]. Todo e qualquer elemento referencial contido num documento (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 128).

Inventário

Levantamento dos itens existentes num acervo, tomando por base o catálogo topográfico (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 135).

Reformatação

É o “estabelecimento de um novo formato. Ação ou resultado de reformatar, de formatar outra vez um meio magnético” (IDICIONÁRIO AULETE, 2013).

Umidificação

Procedimento

de

conservação

em

que

documentos

ressecados e quebradiços são colocados numa atmosfera úmida, para readquirirem flexibilidade pela absorção gradual de vapor d’água (SANTOS; RIBEIRO, 2003, p. 242).

77

ANEXO A – FORMULÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE AMOSTRA

Fonte: MERRILL-OLDHAM; OLDHAM; REED-SCOTT REED (2001).

78

ANEXO B – FICHA: DIAGNÓSTICO DE CONSERVAÇÃO

79

Fonte: SPINELLI JÚNIOR (1997).

80

ANEXO C – FICHA: DIAGNÓSTICOS DO ACERVO E ESPAÇO FÍSICO

81

Fonte: SPINELLI JÚNIOR (1997).

82

ANEXO D – FICHA: DIAGNÓSTICO DO ACERVO FOTOGRÁFICO

83

Fonte: SPINELLI JÚNIOR (1997).

84

ANEXO E – QUADRO COM LIMITES DE PROTEÇÃO DO EDIFÍFIO

Fonte: Museu de Astronomia e Ciências Afins; Museu Villa-Lobos (2006).

85

ANEXO F – FLUXO DE TRABALHO DA BRG

Fonte: Academia Brasileira de letras (2013).

86

ANEXO G – QUESTIONÁRIO

Quais são os padrões utilizados para realizar a preservação do acervo?

Quais são as estratégias utilizadas para realizar a preservação do acervo?

Quais são as etapas essenciais e completares para realizar a conservação preventiva e a preservação de um acervo?

Quais são as ações necessárias para alcançar uma conservação e preservação de forma eficaz e eficiente?

Quais são os esforços necessários para realizar a preservação e conservação de forma eficaz e eficiente à longo prazo?

Qual é o maior desafio no quesito preservação com difusão do acervo e/ou circulação dos itens do acervo?

Qual é o agente que mais causa deterioração do acervo?

Os usuários causam algum tipo de deterioração nos itens do acervo? Quais?

Existe uma cooperação sobre conservação e preservação com outras instituições?

Quais são os procedimentos que são realizados no âmbito da cooperação?

A biblioteca oferece ou recebe os serviços de preservação e conservação?

Existe uma política de preservação escrita para estabelecer os parâmetros e atender a preservação e conservação do acervo da instituição?

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ANEXO H – DICAS DE PRESERVAÇÃO: REGISTROS EM PAPEL

1 - Ao retirar a publicação da estante não a puxe pela borda superior da lombada, o ideal é segurá-la com firmeza pelo meio. A maneira correta é manter os volumes nas estantes com folga entre eles, ou seja, não superlotar as estantes para que não emboquem e fique mais fácil a retirada e a circulação de ar entre as obras. 2 - Mantenha as obras nas estantes na posição vertical. Publicações guardadas inclinadas ou apoiadas no corte da frente podem fragilizar a lombada e os cadernos podem vir a desprender - se. 3 - Evite fazer anotações em livros e documentos. Caso seja necessário, use lápis sem fazer pressão no papel, nunca utilize caneta. 4 - Nunca faça ou permita que façam “orelhas” para marcar as páginas de um livro, revista ou qualquer tipo de publicação. Esta dobra provoca o rompimento das fibras do papel que, com o tempo, pode se tornar uma ruptura. 5 - Prendedores metálicos e fitas adesivas nunca devem ser usados para marcar ou consertar páginas. Eles deixam manchas irreversíveis nos documentos. 6 - Manuseie as páginas com cuidado, sempre folheando pela parte superior da folha. 7 - Não apóie os cotovelos sobre os livros. A pressão feita nas folhas irá danificá-las. 8 - As amarras, quando necessário, deverão ser feitas utilizando cadarços de algodão cru de 1,5 cm de espessura e nunca deveremos utilizar elásticos ou barbantes. 9 - Não devemos permitir que as páginas sejam folheadas com os dedos umedecidos com saliva. Além de atrair insetos para o documento, a pessoa estará ingerindo os agentes nocivos que estejam presentes no documento. 10 - Em salas de leituras ou acervo, nunca se alimente ou guarde em gavetas balas, biscoitos, chocolates etc. Um invisível resto de alimento pode atrair insetos e até roedores nocivos ao papel, que podem causar danos irreparáveis aos documentos. Os recipientes de lixo com restos de alimentos devem ser recolhidos todos os dias. 11- Nos ambientes de bibliotecas não devemos utilizar vassouras e nem produtos de limpeza que inalam odor, para que não fragilizem as fibras do papel. O piso deverá ser limpo com pano semi-úmido.

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12 - Ambientes com acervos, como bibliotecas, arquivos e museus, devem ser climatizados e os aparelhos de ar condicionado precisam estar ligados ininterruptamente, durante 24 horas. A oscilação de temperatura e da umidade relativa do ar não só permitem a proliferação de microorganismos, como provocam a contração e o alongamento das fibras, deixando-as mais fragilizadas. 13 - É fundamental o controle da temperatura e da umidade relativa em locais que abrigam acervos. O monitoramento ambiental deve ser feito diariamente através da utilização de aparelhos termohigrômetros. A temperatura propícia para abrigar acervos em papel é de 18 a 22ºC e umidade relativa de 50 a 55%. A variação desses índices favorece e acelera o aparecimento de agentes nocivos aos documentos. 14 - Estantes devem estar afastadas no mínimo 0,30 cm da parede e 0,80 cm de espaço entre as fileiras. Para dificultar que um possível ataque de cupim de solo possa atingir de imediato a coleção e também garantir melhor ventilação para o acervo e evitar o contato com infiltrações. 15 - Utilize persianas nas janelas. Não permita que o acervo seja exposto à luz natural direta ou luz artificial excessiva. Isso ocasionará o envelhecimento precoce das obras. 16 - Instalações hidráulicas (canos de água, gás, esgoto etc), não devem ficar próximas ou acima de acervos. Elas podem expor as obras a riscos de vazamentos. Caso seja necessário, o layout da biblioteca deve ser modificado para evitar acidentes. 17 - Não fumar nas áreas de acervo. A fumaça entra em reação com o papel acelerando o processo de envelhecimento. 18 - Mapas plantas ou documentos de grande tamanho não devem ser guardados dobrados ou em pequenas gavetas. Fonte: Biblioteca de Ciências Biomédicas (2013).

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