Afinal, por que estudar é tão chato?

June 4, 2017 | Autor: V. Fialho Capellini | Categoria: Estudos, Motivação E Aprendizagem Escolar
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JORNAL DA CIDADE – Bauru 24/02/2008

Afinal, por que estudar é tão chato? Formato das aulas é apontado como um dos possíveis vilões da falta de interesse em aula por alunos e professores Adilson Camargo As crianças e adolescentes de hoje vivem em um mundo repleto de tecnologias e brinquedos, que encantam e fascinam a todos. Mas esses atrativos não são oferecidos pela escola, na maioria das vezes, o que gera uma certa desmotivação pelos estudos. Afinal, para um aluno, brincar pode ser muito mais interessante do que estudar. E embora as pessoas saibam da importância da educação para o desenvolvimento do ser humano, fazer com que meninos e meninas compreendam isso é um grande desafio. Esta é a introdução de uma pesquisa feita pela professora de pedagogia Vera Lúcia Capellini, 41 anos, do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, que, no fundo, procura responder à pergunta-chave desta matéria. Por que, afinal, estudar é tão chato para muito alunos? Por que os estudantes se aborrecem tanto quando precisam ir à escola? A professora lembra em seu trabalho que pesquisas mostram que as crianças estão chegando às escolas cada vez mais desmotivadas, o que resulta em repetência e evasão escolar. “Não existe uma receita mágica para fazer as aulas serem foco de atenção das crianças.” No entanto, com um pouco de sensibilidade e energia, é possível superar esse desafio e mostrar aos alunos que estudar pode ser divertido”, afirma. Para a pesquisadora, a escola é chata porque o formato das aulas continua o mesmo do tempo dos jesuítas. O professor, que detém o conhecimento, fica lá na frente falando de uma forma unilateral aos alunos que estão sentados em fileira. “Não dá mais para continuar copiando no caderno o que está escrito na lousa”, diz ela, referindo-se a uma fórmula já ultrapassada. Para o pedagogo mineiro Rubem Alves, não é de hoje que a escola é chata. Na opinião dele, isso acontece porque as coisas são impostas às crianças. “A escola é chata porque as matérias não ajudam as crianças a entenderem o mundo pequeno em que elas vivem”, afirma. Ele acredita que primeiro os alunos precisam entender o ambiente em que vivem dentro de casa, para depois entender a rua, o bairro, a cidade e o mundo. “As crianças são curiosas por natureza. Elas querem aprender, mas sobre aquilo que está ao redor delas, das coisas que fazem parte da vida delas. Este é um princípio fundamental, o interesse começa por aquilo que está ao nosso redor”, comenta. Para Rubem Alves, que também é escritor (lançou mais de 50 livros), na escola, muito pouco daquilo que se ensina às crianças tem a ver com a vida cotidiana delas. “Eu já propus que o currículo das escolas seja todo baseado na casa onde a criança vive. Nela você pode estudar física, geometria, mecânica, ecologia”, justifica. “Pergunta para as crianças se elas sabem o que acontece com o cocô que elas fazem. Elas vão se divertir e aprender ao mesmo tempo. Elas vão saber que grande parte do cocô vai para o rio ou para o mar. Dá para ensinar matemática. Quantas pessoas moram na cidade? Levando em consideração que cada uma faz, em média, 250 gramas de cocô por dia, quanto de cocô a cidade dela produz, também o Estado, o País e o mundo? Ou quanto produz no dia, na semana, no mês ou no ano. As crianças morrem de rir e, ao mesmo tempo, estão aprendendo”, argumenta o pedagogo. “Eu acho que nós temos de repensar, do princípio ao fim, como deve ser a educação”, opina. A professora Vera Lúcia também concorda que é preciso repensar o papel da escola. E isso, na opinião dela, passa, necessariamente, pelo resgate da identidade do professor e pelo resgate também do lúdico dentro da sala de aula. Segundo ela, a escola não pode se eximir do seu papel de propiciar acesso ao conhecimento. “Se as pesquisas mostram que a educação não vai bem no País, é obrigação das escolas fazer alguma coisa para mudar isso”, observa ela. “Tem de haver motivação, porque ela é o primeiro ingrediente para a aprendizagem tanto do professor quanto do aluno”, enfatiza.

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