Afirmacao de Octaviano como Augusto CF

May 29, 2017 | Autor: Cláudio Fonseca | Categoria: Republican Rome
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Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Ano Letivo 2015/2016 Política e Sociedade Romanas – Professor Rodrigo Furtado Cláudio Fonseca nº 50350

Octaviano nasce e morre como um priuatus. Ou será que não? É esta pergunta que se procurará responder neste trabalho. Caio Júlio César é assassinado e Octaviano passa a ser o seu sucessor. É curioso de como aquele que virá a ser Augusto na cunhagem de moedas mantém a ideia de ser César e não se afasta do nome daquele que fora assassinado por tanto ambicionar, no fundo destruir a República, é legítimo pensarmos que sem Júlio César, Octávio não teria sido o que foi, pois apesar de as ambições serem muito semelhantes o primeiro deixou-se dominar pela sua ambição enquanto que Octávio dominara a sua. “[…] A história parecia repetir-se. Octávio, António e Lépido, para lutar contra os republicanos, também tinham formado um triunvirato […]” 1 é curioso de reparar o que Augusto diz sobre o papel de ser triúnviro: “[…] para organizar a República. […]”2, voltaram a dividir as áreas de influência pelos três, e isto é importante, Lépido fica com África, o Oriente para Marco António e o resto fica para Octávio, mas vamos agora analisar tudo isto, Octávio vai ficar na Itália, o que é importante, Marco António ficará com o Egipto, vejamos o seguinte: “[…] Toda a Itália me prestou juramento espontaneamente e me pediu que fosse seu chefe na guerra que venci junto de Áccio. […] Adicionei o Egipto ao império do Povo Romano. […]”3, o que nós precisamos de perceber é o porque de a Itália querer que Octávio vá ao Egipto quando está lá um triúnviro, o problema de António foi o de estar casado com Cleópatra coisa que é abominável na cultura romana 4, uma das vítimas de Octávio é Cesarião que morre após a invasão do Egipto, mas como se este ainda não fosse grave, acresce a ideia de António ter apetências a tornar-se algo político característico do Oriente mas tenebroso em Roma: Rei, no fundo vai contra o mos maiorum, coisa que Octávio recusa ir contra: “[…] não aceitei

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Vide, GRIMAL, Pierre, A Civilização Romana, Edições 70, Lisboa, 2009, p.53. Vide, Res Gestae Diui Augusti (Os Feitos de Divino Augusto), p. 109. 3 Vide, idem, ibidem, p.118. 44 Vide, VERGÍLIO, Eneida, 4ª edição, Bertrand Editora, Lisboa, 2013, p.222, Vergílio diz mesmo: “- sacrilégio! – uma esposa egípcia.”. 2

uma magistratura que me era conferida em contradição com os costumes ancestrais. […]” 5, portanto aqui vemos que Octávio tem missão de restaurar a República, mas, mantém ainda assim os seus valores, mantém algum importante: mos maiorum. Vemos aqui o suposto respeito que aquele que será Augusto nutre pelas instituições, mas sabemos que ele controla bem os seus homens de armas mas também da política. Mas Octávio não é apenas um homem, ele forja uma marca, a sua marca, Octávio consegue montar uma fantástica máquina que o publicita fazendo ele também por isso uma delas é a base deste trabalho, mas é curioso como ele forja mas consegue manter a sua marca. São várias onde a sua cara aparece e ele é reconhecido, mas também existem moedas onde ele está embora não seja a sua cara, falamos de símbolos, por exemplo Capricórnio, mas porquê este símbolo? A cornucópia é símbolo de abundância e é isso que Octávio quer marcar, ora vejamos a coerência: “[…] Paguei à plebe romana 300 sestércios por pessoa, […] dei-lhes, do meu património, 400 sestércios por pessoa […] distribuí-lhes doze vezes trigo adquirido particularmente […] Estas minhas distribuições de dinheiro nunca atingiram menos de 250000 pessoas. […]”6, mais números existem, mas o que se fica em mente é o altruísmo de Octávio, o de dar aos outros, o de servir o Povo Romano e não se servir dele, pois ele dedica também um capítulo a dizer que ajudou o Tesouro 7, não podemos obviamente esquecer que herdou uma grande fortuna de Caio Júlio César. Ele também irá restaurar os edifícios e como diz não irá colocar lá o seu nome, todavia não podemos deixar de perceber de que ele ao dizer que não colocou lá o nome diz que foi ele que fez as obras, é outra maneira de lá colocar o seu nome, todavia como a população era analfabeta e não sabia ler este tipo de coisas ele irá fazer estátuas suas e coloca-las em monumentos como a Ara Pacis. Mas a marca de Augusto não é apenas a de ter dinheiro porque já nos anteriores triunviratos existiram pessoas endinheiradas, mas cujas páginas da História pouca importância dão, a marca dele fica também impressa e que sobrevive aos séculos, se há algo que é tão importante como o mos maiorum é a dignitas, quando se vota não se vota as promessas eleitorais do candidato mas sim a dignidade do candidato, haverá romano melhor que alguém que defende o Povo Romano e que não aspira a mais do que a tarefas que lhe são conferidas? Ou haverá ainda melhor romano que aquele cuja família provém de uma figura divina e de alguém que lança a Fundação da Urbe? Isto é também a imagem de Octávio, repare-se que ele é logo eleito a seguir a derrotar Marco António e de restaurar a República assim como a acabar com a guerra civil, no fundo é o que está na sua couraça: 5

Vide, Res Gestae Diui Augusti (Os Feitos de Divino Augusto), p.111. Vide, idem, ibidem, p.114. 7 Vide, idem, ibidem, p.115. 6

restabeleceu a ordem natural das coisas, no seu está o deus do sol, do céu e a deusa da lua, na base está a Terra e no meio está a vitória do Ocidente (Roma) sobre o Oriente (Partos), ou seja, através desta couraça conseguimos perceber qual era a concepção do mundo segundo Augusto, era a velha concepção, a superioridade romana e isso está também bem empregue na , Res Gestae Diui Augusti, sobretudo porque ele acaba com algo que afligia o cidadão de Roma, o abastecimento de cereais, ele refere que acabou com a pirataria8 e que capturou o escravos que tinham levantado armas contra a República9, o fenómeno de Espártaco era um problema para a República também e que ele solucionou, em suma é o Restaurar a República, mas também de restaurar a Ordem e os velhos costumes. Vimos que a dignidade é importante, mas há também outra coisa importante, apoios e influência. Se inicialmente Augusto se aproximou de Cícero não tardará a cortar-lhe a língua. O culminar do poder e reformas de Augusto será quando for censor em 28 a.C. e ele irá colocar apenas no Senado aqueles que lhe são fiéis. Entre 27 e 23 a.C. vemos sucessivas eleições para o consulado juntas com o poder proconsular e também o título de Princeps Senatus, o que permitia que fosse o primeiro a exprimir a sua opinião bem como o primeiro a votar, o que faz com que ele aí faça sentir o seu poder de influência e domínio. Mas respondendo então à pergunta que desencadeou este trabalho, em 23 a.C. ele fica doente e deixa de ocupar cargos, mas é lhe dado um poder, poder e cargo não é a mesma coisa, é lhe dado o Imperium Proconsulare Maius, ou seja, ele tem poder sobre todas as legiões e consequentemente onde estas estivessem, ou seja tinha centralizado o seu poder, não os cargos, mas o poder era maior do que alguma conseguira na República, mas algo mudou a nível de cargos na República? Não. As instituições continuam a funcionar, eleições e campanhas ocorrem, mas o poder de influência esse está centralizado. A ideia de Eder está correcta quando diz que era possível dar a interpretação de que o prínceps já não era necessário, pois o “[…] Príncipe soube dar a impressão de que não impunha um sistema político, de que era a própria Roma que descobria as soluções necessárias. […]” 10, Augusto foi certamente muito mais “[…] prudente que César, instruído pela lição dos idos de Março, começou por ganhar tempo. Afinal, ainda nem tinha 32 anos. Pacientemente, fingindo não pretender nada mais além de voltar a ser simples cidadão, uma vez restabelecida a ordem no Estado, reuniu à sua volta o que restava do partido senatorial e, quando se tornou necessário definir a sua própria posição, 8

Vide, idem, ibidem, p.118. Vide, idem, ibidem, p.118. 10 Vide, GRIMAL, Pierre, op.cit. p.54. 9

aceitou apenas o título de Augustus, e não o de rei, que partidários insensatos (ou pérfidos) lhe propunham abertamente. […]”11. Augusto percebeu bem como funcionava o sistema republicano romano, não o mudou apenas foi ganhando importância eu percebeu os erros cometidos pelo seu pai Caio Júlio César. Octávio nasceu privado e Octaviano, mas morreu Augusto e Princeps e com Imperium Proconsulare Maius.

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Vide, idem, ibidem, p.53.

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