Agência de notícias Toque da Ciência: estudos da informação científica breve, acessível e dinâmica

July 15, 2017 | Autor: Juliano Carvalho | Categoria: Comunicação, Website Development, Jornalismo
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Agência de Notícias Toque da Ciência: estudos da informação científica breve, acessível e dinâmica Carolina Bortoleto Firmino¹ Mateus Yuri Passos² Juliano Maurício de Carvalho³ RESUMO O Jornalismo Científico é um gênero jornalístico conhecido por tratar de assuntos sobre Ciência e Tecnologia. Sua função, além de informa acerca do assunto, é despertar a consciência crítica sobre os temas divulgados. A Agência de Notícias Toque da Ciência também é um veículo que busca tratar sobre assuntos que envolvam Ciência e Tecnologia e integra o projeto de divulgação científica Toque da Ciência, do Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã (LECOTEC) da UNESP. Com início em 2009, é desenvolvida por estudantes graduandos em Jornalismo e trata-se de uma Agência de Notícias que funciona por meio de plantão, realizando-se buscas por sites científicos e noticiosos, de modo a reproduzir por ângulos diferenciados as informações quentes do momento. Para conferir credibilidade à informação, a notícia, apesar de curta, é checada com fontes especializadas, como pesquisadores. Os textos abrangem áreas de ciências naturais, novas tecnologias, humanidades, artes, implicações políticas e econômicas de ciência e tecnologia, entre outras. O presente artigo tem por objetivo apresentar os conceitos do _____________________________________ ¹Coordenadora-adjunta da Agência de Notícias Toque da Ciência. Estudante do 4° semestre do curso de Comunicação Social – Jornalismo, na UNESP Bauru. Bolsista PROEX. Correio eletrônico: [email protected]. ²Mestrando em Ciência, Tecnologia e Sociedade na UFSCar, com bolsa FAPESP. Jornalista graduado na PUCCampinas. Especialista em Jornalismo Literário pela ABJL/Cesblu e em Jornalismo Científico pela Unicamp. Graduando em Estudos Literários na Unicamp. Membro do grupo de pesquisa LECOTEC da UNESP. Correio eletrônico: [email protected]. ³Orientador do trabalho. Professor do curso de Comunicação Social da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação de Bauru (FAAC), da UNESP Bauru. Líder do grupo de pesquisa LECOTEC (Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã). Jornalista graduado pela PUCCampinas, mestre em Ciência Política pela Unicamp e doutor em Comunicação Social pela UNESP. Correio eletrônico: [email protected].

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Jornalismo Científico, sua história, a relação dele com a divulgação científica, além de apresentar a Agência de Noticias Toque da Ciência e o modo como as informações são divulgadas e como a linguagem contida nela pode vir a ser inovadora, dependendo da maneira como for utilizada. Palavras-chave: Comunicação. Jornalismo Científico. Informação. Website. Agência de notícias. Ciência Pública. Jornalismo Científico e a proposta da Agência de Notícias Toque da Ciência Jornalismo é a atividade profissional que consiste na divulgação de notícias, fatos e divulgação de informações. O profissional desta área pode atuar nos veículos de imprensa como rádio, televisão, revistas, assessoria e, atualmente, na Internet. O jornalismo é uma área que possui diversas ramificações, já que trata de todos os acontecimentos do mundo. Ele pode ser dividido em várias editorias ou tipos de jornalismo e selecionar as notícias específicas para cada uma delas. Entre esses tipos de jornalismo, estão o Jornalismo Político, Cultural, Econômico, Esportivo e o recente Jornalismo Científico. Recente porque no início de sua história no mundo e no Brasil, estava ligada à divulgação científica, bem diferente do JC. Várias são as definições para Jornalismo Científico, para a relação entre jornalismo e ciência e para a diferença entre o gênero e a divulgação científica: O casamento maior da ciência e do jornalismo se realiza quando a primeira, que busca conhecer a realidade por meio do entendimento da natureza das coisas, encontra no segundo fiel tradutor, isto é, jornalismo que usa a informação científica para interpretar o conhecimento da realidade. (Oliveira, 2005, pg 43) Divulgação científica contém o jornalismo científico. Ela é mais ampla e é feita através de livros, de conferências, de aulas, de artigos, etc, além de ser produzida pelos próprios cientistas e pesquisadores. Por sua vez, o jornalismo científico trata-se de uma forma de divulgação científica que obedece a padrão de produção jornalística, que possui características peculiares, tais como: periodicidade, difusão, universalidade, atualidade, linguagens e gêneros. (Maia & Gomes, 2006, pg 6-7)

As primeiras coberturas científicas no mundo começaram a partir de 1850, na Europa e a partir do final do século XIX no Brasil. Entretanto o Jornalismo Científico se consolidou como gênero apenas a partir de 1970 nos países em desenvolvimento. No Brasil, jornalistas como Wilson da Costa Bueno, Luisa Massarani e Sônia Aguiar estão entre os precursores do gênero. Atualmente, muitos veículos de informação estão voltados ao público leigo e à divulgação científica, mas poucos carregam as características do Jornalismo Científico, tendo com principal, o despertar da consciência crítica acerca de temas relacionados à Ciência e Tecnologia. O conhecimento científico pode ser encontrado tanto nas bancas, quanto na Internet, em revistas e sites como Ciência Hoje, Mundo Estranho, Galileu, Superinteressante, Jornal da Ciência, Pesquisa Fapesp, Scientific American Brasil etc. A Agência de Notícias Toque da Ciência (http://www2.faac.unesp.br/pesquisa/lecotec/projetos/agencia/index.php) segue a mesma linha. A proposta é tratar de assuntos relacionados às 73

diversas áreas científicas de maneira acessível e por meio de uma linguagem direta, a fim de dar visibilidade à produção científica da universidade, aproximando o público da realidade presente nela e permitindo a compreensão do que é pesquisado. Entre seus objetivos está o estímulo ao interesse sobre o que é produzido em Ciência e Tecnologia no país e colocar essas informações a serviço da coletividade. Enquanto a publicação científica tem circulação restrita e possui uma linguagem repleta de termos técnicos e especificidades, a imprensa pode oferecer uma forma mais enxuta do conteúdo e mais compreensível à maioria dos receptores em potencial. É possível ainda debater o desenvolvimento, o método e o impacto das pesquisas desenvolvidas, além dos eventos científicos e as inovações tecnológicas, despertando no público a consciência acerca dos temas apresentados. O presente artigo tem por objetivo revisar conceitos sobre Jornalismo Científico, discutindo suas funções, origens e atividade no Brasil, além de apresentar a relação – diferenças e semelhanças – entre o JC e a divulgação científica, e avaliar os textos produzidos para a Agência e a estrutura de notícia presente neles. Origens do Jornalismo Científico e atividade científica no Brasil De acordo com Moreira e Massarani (2002, pg 44), entre as primeiras iniciativas de divulgar ciência no Brasil está a criação da Academia Científica do Rio de Janeiro pelo marquês de Lavradio, em 1772, que pretendia dedicar-se à física, química, medicina, farmácia, agricultura etc. Não deu certo. A Academia fechou as portas e, mais tarde, voltaria a funcionar com outro nome. Entretanto, manifestações mais consistentes passaram a ocorrer no país com a chegada da Corte portuguesa, visto que surgiram as primeiras instituições de ensino superior, ligadas à ciência. A criação da Imprensa Régia, em 1810, também contribuiu para a educação científica no país, com a produção de textos, ainda que em número reduzido. Eles passaram a ser publicados no Brasil e, nesse mesmo período, os primeiros jornais (A Gazeta do Rio de Janeiro, O Patriota, Correio Braziliense) também surgiram. Ainda segundo Moreira e Massarani (2002, pg 44), foi na segunda metade do século XIX que as produções científicas se consolidaram no país e, com elas, o Jornalismo Científico. As atividades de divulgação se intensificaram, devido o impacto da segunda revolução industrial na Europa. Em 1857, foi criada a Revista Brazileira – Jornal de Sciencias, Letras e Artes, que contava com vários intelectuais na redação. Quase 20 anos depois, com a ligação telegráfica entre Brasil e Europa, o interesse em divulgar notícias atualizadas sobre descobertas científicas aumentou. A partir de então, vários foram os periódicos relacionados à ciência divulgados no Brasil: Revista do Rio de Janeiro (1876), Ciência para o Povo (1881), Revista do Observatório (18861891) e outras. Entretanto, a atividade científica de maior significado na história brasileira, durou quase 20 anos, as Conferências Populares da Glória, que parecem ter tido grande participação em meio à elite intelectual carioca. As conferências tratavam de assuntos que variavam entre clima, origem da Terra, ginástica, responsabilidade médica, educação etc. Com esses periódicos, surgiu o conceito de vulgarização da ciência, já que era preciso uma linguagem mais fácil e acessível para atingir o público, bem diferente dos termos técnicos e complexos utilizados pelos cientistas. É importante destacar que o conceito de divulgação científica, relacionado à vulgarização da ciência, é bem diferente de Jornalismo Científico. 74

A divulgação científica não está dentro do âmbito jornalístico, apenas faz o papel de tradutor de uma linguagem complexa, para a linguagem que chega até o cidadão comum. Ainda que esteja inserido na comunicação pública da ciência, o Jornalismo Científico é um caso particular: apesar de estar endereçado ao público leigo, obedece a um padrão de produção. Dentre os exemplos de divulgação científica, podemos citar as enciclopédias, palestras com o fim de popularizar a ciência, livros didáticos etc. É importante destacar que, um grande difusor dessa divulgação de conhecimento no Brasil, foi o rádio, em particular com a criação da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 1922 e, mais tarde, com a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (1923). De acordo com Moreira e Massarani (2002, pg 52), a rádio foi criada por um conjunto de cientistas, professores e intelectuais, com a participação de membros da ABC, que se organizaram para implantar um novo veículo de comunicação, que tinha como principal objetivo a difusão de idéias, informações e temas educacionais, culturais e científicos. Semelhante à atuação da Internet atualmente, na época, a rádio também trouxe expectativas sobre a sua capacidade. Roquette-Pinto estava entre um dos maiores defensores da radiodifusão, e participou intensamente de atividades que promoviam a prática, liderando programas e publicações que se dedicavam à divulgação científica no Brasil – divulgação essa, que mais tarde, daria origem ao Jornalismo Científico e seu caráter crítico. Comparando então, o panorama geral da divulgação científica no início de seu desenvolvimento e a proporção que tomou nos anos seguintes, a divulgação científica passou a ter papel significativo sobre a difusão de idéias relacionadas à ciência, seus precursores e protagonistas: (...) a divulgação científica passou a ter papel significativo na difusão das idéias de seus protagonistas sobre a ciência e sua importância para o país. O objetivo era sensibilizar direta ou indiretamente o poder público, o que propiciaria a criação e a manutenção de instituições ligadas à ciência, além de maior valorização social da atividade de pesquisa. No entanto, o caráter da divulgação científica realizada era ainda fragmentado e lacunar, reflexo direto da situação ainda muito frágil do meio científico de então. (Moreira, Massarani, 2002, p. 56)

Nos anos seguintes, a difusão científica no Brasil evoluiu de forma lenta. Entretanto, atualmente, com a facilidade e a enorme dimensão informativa proporcionada pela Internet, o acesso à Ciência e Tecnologia aumentou. Segundo Macedo-Rouet (2007), todo pesquisador sabe que a Internet causou uma verdadeira revolução no acesso á informação científica: Consulta a bases de dados internacionais, comunicação com cientistas, boletins eletrônicos de editoras e sociedades científicas, pesquisa bibliográfica online. Mais do que nunca, temos a impressão de poder consultar um grande número de fontes de informação, utilizando para isso simplesmente um computador pessoal e uma linha telefônica. Nem sempre, no entanto, a experiência é bem-sucedida e, muitos usuários não encontram o que procuram na web. Seria realmente o caso de estarmos diante de mais e melhores fontes? (Macedo-Rouet, 2007)

De acordo com Macedo-Rouet, apesar da grande disponibilidade e rapidez de informações via Internet, a dúvida sobre a seriedade e certeza delas é constante. A dificuldade é tanto dos jorna75

listas, quanto do próprio público em avaliar as informações encontradas na web, já que além de ser grande o número de fontes, qualquer indivíduo pode publicar dados, textos e teorias na rede. Ainda assim, o Jornalismo Científico on-line não deixa de ter seu espaço entre o público. Segundo Porto (2007, pg 11), o JC on-line é uma forma, também, de viabilizar o contato mais estreito entre o leitor, jornalista e cientistas. Ele propicia ao leitor compreender a realidade, captando e expressando a dimensão da realidade observada. Porto cita como exemplo desse contato a revista ComCiência, e afirma que suas ações podem servir como uma forma de incentivar o crescimento e a discussão da ciência, em especial na Internet. Jornalismo Científico: conceitos, conflitos e tendências Tecnologia, informática, astronomia, arqueologia, meio ambiente, essas são atividades de pesquisa constantemente divulgadas pelo Jornalismo Científico. Afinal, no que se constitui esse gênero jornalístico? Quem conhece a relação de jornalismo e ciência apenas por meio das notícias sobre Ciência e Tecnologia, não sabe sobre o conflito presente aí. Segundo Chaparro (2004), de um lado, o jornalismo capta as indagações do mundo e no mundo observa acontecimentos, com o dever de oferecer à sociedade, além de relatos, respostas e explicações. De outro lado, a ciência perde sentido se não puder socializar o conhecimento que produz. Portanto, o conflito entre ambos não deveria existir, mas não é o que acontece: os cientistas, normalmente, se incomodam com a maneira da mídia divulgar a ciência estudada por eles. É na esfera discursiva e na linguagem que se dá o desencontro entre ciência e jornalismo. A divergência discursiva gera atritos e dificulta o diálogo entre jornalistas e cientistas. Jornalistas afirmam que o vocabulário utilizado para divulgar a ciência produzida nos laboratórios e carregado de termos técnicos e de difícil entendimento. Por outro lado, cientistas acusam a mídia de vulgarizar o saber, ou seja, ao invés de divulgá-lo de maneira coerente, utiliza uma linguagem que, muitas vezes, é capaz de confundir o público. Opiniões à parte, ambos se completam atualmente e possibilitam o acesso da sociedade à informação científica. Entretanto, como já dissemos anteriormente, o JC tem suas origens ligadas à divulgação científica, apesar de terem características diferentes. Ele está entre os gêneros que mais buscam a especialização e o aprimoramento, visto que é de grande influência diante do público que recebe a informação. O Jornalismo Científico consiste, de forma generalizada, em abordar ciência e tecnologia pelos meios de comunicação de massa, respeitados os critérios de produção jornalística. Vale lembrar, portanto, que nem tudo o que está na mídia e fala sobre o tema é Jornalismo Científico; materiais publicitários, por exemplo, não estão incluídos no gênero. Catálogos, enciclopédias, fascículos sobre história da ciência também não podem ser considerados JC, por não possuírem um atributo essencial: a capacidade de despertar a consciência crítica. Em primeiro lugar, o Jornalismo Científico deve conter especificidades como periodicidade, atualidade e difusão coletivas, presentes em qualquer gênero jornalísticos. De acordo com Chaparro (2004), ao JC também têm sido atribuídas características essenciais, similares à conduta que se espera dos cientistas: certeza quanto à informação, absoluta correção na linguagem e consciência de que está produzindo para a sociedade. Essas características não são as únicas que devem conter o Jornalismo Científico. Burkett 76

(1990) cita os critérios de noticiabilidade importantíssimos a qualquer gênero jornalístico, mas ainda mais no JC, já que a difusão do conhecimento científico implica em fatores de grande amplitude no público que recebe a notícia. Os critérios são: 1- Impacto: uma notícia que afeta o maior número de leitores, como pesquisas sobre câncer, que chamam atenção; 2- Significado: o que o tema significa para o público ou para a ciência, como, por exemplo, pesquisas na área de genética; 3- Pioneirismo: o pioneirismo traz em si a novidade, critério de suma importância no jornalismo em geral; 4- Interesse humano: perfis de cientistas ou de pessoas envolvidas no meio científico podem render matérias de qualidade; 5- Conflito: o conflito chama a atenção do indivíduo, como, por exemplo, a famosa disputa entre um pesquisador francês e um americano sobre a descoberta do vírus da AIDS; 6- Necessidades de sobrevivência: normalmente, o público tem grande interesse sobre aspectos que tratam da sobrevivência, como impactos sobre o meio ambiente, desenvolvimento sustentável etc; 7- Necessidades de conhecimento: o ser humano é extremamente curioso, e essa curiosidade pode ligar-se, de alguma forma, à ciência e tecnologia; Por outro lado, Burkett (1990) afirma que, mesmo com a utilização desses critérios estabelecidos a informação científica veiculada pelo jornalismo, pode conter distorções de cunho científico. Segundo ele, em algum momento do processo de redação, cientista e jornalista tomam caminhos diferentes. Desse fato, surgem críticas sobre vulgarização da ciência. Para Sant’Anna (2008), essas distorções – caminhos diferentes tomados por jornalistas e cientistas – podem acontecer por diversas razões. A ciência, como afirmamos no início deste trabalho, trabalha em etapas, às vezes muito pequenas, baseando-se na experimentação, no empirismo, com resultados que podem diferir de pesquisador para pesquisador, a partir de métodos diversos. Uma outra possibilidade de ocorrência de distorção é a fragmentação, quando a matéria aborda eventos científicos ou trata a ciência como notícias rápidas. (...) Também a divulgação de experimentações científicas não-ortodoxas podem levar a distorções. (...) Também pode ocorrer a distorção por omissão, como não colocar na matéria uma informação importante, por falta de tempo, espaço ou desconhecimento do tema. (Sant’ Anna, 2008, p. 15-16)

Ainda de acordo com Sant’Anna (2008), o jornalista científico deve também tomar cuidados com informações falsas e até mesmo fraudes, ainda que sejam raras. A atividade jornalística na área de Ciência e Tecnologia, em vista de todos os cuidados que devem ser tomados e aspectos citados acima, não é uma atividade fácil. Entretanto, cada vez mais, a fusão entre jornalismo e ciência, e jornalistas e cientistas vai se tornar constante, tendo em vista as tendências do futuro: o interesse da sociedade em se informar sobre o que acontece ao seu redor. Análise de estrutura dos textos da Agência de Notícias Toque da Ciência

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Esta seção tem por objetivo analisar os textos produzidos na Agência de Notícias Toque da Ciência, quanto aos critérios de noticiabilidade e o tipo de informação priorizada, além da linguagem escolhida. A primeira reportagem a ser analisada utilizou como gancho uma pesquisa divulgada no Portal Toque da Ciência, canal de divulgação científica na Internet ao qual a agência de notícias aqui estudada possui vínculo. O texto original foi produzido pela aluna Aline Naoe, do 8º termo de jornalismo na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”;trata-se da divulgação de um estudo sobre o comportamento sexual para a prevenção das DST/ Aids. Análise 1 O texto produzido pela aluna Aline Naoe e divulgado também em Podcast tem por objetivo traduzir para linguagem acessível a pesquisa da professora Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr, do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará. O texto faz parte de um projeto de divulgação científica e por isso utiliza termos do léxico cotidiano, ao invés de uma linguagem técnica. As informações não são contextualizadas ou relacionadas com fatos da atualidade ou situações semelhantes, já que o propósito é informar o público para que ele tenha conhecimento do que está sendo pesquisado. Para compará-lo à reportagem produzida por Carolina Firmino para a Agência de Notícias Toque da Ciência, apresentamos fragmentos do texto, a começar pelo título que determina a importância noticiosa do assunto. Nele é possível identificar um dos critérios de noticiabilidade definidos por Burkett (1990), o impacto, já que é um tema que chama a atenção do leitor: “Práticas sexuais de risco aumentam em cidades brasileiras” O título chama atenção para o pensamento crítico e dá destaque para o perigo dessas práticas sexuais de risco nas cidades brasileiras. O seguinte trecho apresenta o problema e o foco da pesquisa, reforçando o perigo do comportamento de risco: Estudo do comportamento sexual realizado em dez cidades brasileiras aponta para o alto índice do não uso de preservativo entre homossexuais. De acordo com a pesquisa, que avaliou cidades de todas as regiões do país, os índices mais preocupantes estão no Nordeste, em que 45% da população HSH (homens que fazem sexo com homens) tem comportamento de alto risco, ou seja, não fazem o uso da camisinha.

No decorrer da notícia são apresentados os dados do estudo, como o período em que ele foi realizado, número e o tipo de pessoas entrevistadas, além comparar o resultados obtidos com dados apresentados pelo Ministério da Saúde nos últimos anos. A matéria dá destaque ainda à avaliação da pesquisa pela própria pesquisadora, que aponta sua importância. Por último, o texto coloca uma segunda opinião, de psicóloga especialista sobre assunto, para que o leitor possa ter embasamento para avaliar de maneira crítica e aprofundada, os dados apresentados no decorrer da matéria: Para a psicóloga especialista em sexualidade e professora da Universidade Federal do Ceará, Zenilce Vieira Bruno, mesmo que homossexuais e heterossexu-

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ais sejam bem informados, não usam preservativos sempre que têm relação. Os principais motivos são dois: o medo de perder o parceiro ou a falta de preocupação em comprar o preservativo.

O trecho tenta apresentar, ainda, respostas para o aumento dessas práticas sexuais de risco. Análise 2 A segunda matéria a ser analisada foi produzida pela aluna Patrícia Bellini, que cursa o 8º termo de jornalismo na mesma instituição e é repórter do projeto Agência de Notícias Toque da Ciência. Esta análise será feita quanto à estrutura noticiosa. O texto começa com um gancho, dando destaque sobre o assunto de que vai tratar: A revista eletrônica ‘Genética na Escola’ completou sua sétima edição auxiliando professores a ensinar conteúdos de genética. Com uma publicação a cada semestre, a tentativa é facilitar a compreensão e a didática de temas complicados que dificultam a rotina do professor e do aluno.

A matéria segue apresentando a descrição da revista eletrônica – quando foi fundada, em que contexto, os objetivos, os resultados obtidos, a resposta do público etc. Depois, o texto oferece uma segunda descrição da revista, dando características de seus artigos, quais temas abordam etc: Os artigos têm, no máximo, quatro páginas. A proposta é escrever com poucos termos técnicos, em uma linguagem acessível para alunos e professores do Ensino Médio. Os temas abordados geralmente são: Genética Humana e Médica, Genética do Desenvolvimento, Genética Vegetal, Genética Animal, Genética Evolutiva, Genética de Microorganismos, Mutagênese e Ensino de Genética.

Seguindo com o texto, a repórter apresenta um convite da editora da revista e divulga o site para que o público possa acessá-lo, chamando-o também à colaboração. Aqui também é possível observar outro critério de noticiabilidade de Burkett (1990), a necessidade de conhecimento, oferecendo o site da revista para o leitor e estimulando-o a conhecê-lo: A editora da revista lembra ainda que geneticistas de qualquer parte do país podem colaborar com artigos. “Todos serão bem vindos desde que estejam dentro da proposta e do formato da revista”, diz Catarina. Para acessar aos conteúdos já publicados, ou entrar em contato para publicar um artigo o endereço eletrônico é www.geneticanaescola.com.br.

Análise 3 A presente análise busca identificar na matéria do repórter Daniel Gonçalves da Fonseca e Souza, além dos critérios de noticiabilidade, a relevância do assunto – reforçada pelo número de fontes – e a tentativa de despertar a consciência crítica no leitor, função do Jornalismo Científico. O despertar desse pensamento crítico começa com o próprio título da matéria, que tenta chamar a atenção do leitor para que se conheçam os riscos da poluição sonora à saúde. Nesta notícia é possível identificar um dos critérios de noticiabilidade de Burkett (1990), a necessidade de sobre79

vivência, ou seja, a motivação do interesse por algo que está relacionado ao dia-a-dia do leitor: “Poluição sonora: o grito da cidade. Níveis de ruído acima do recomendado em São Paulo; conheça os riscos à saúde” O primeiro parágrafo dá a dimensão do impacto da poluição sonora, comparando-a com os outros tipos de poluição, além de informar sobre as suas conseqüências e em que lugares é mais comum. Apresentando os dados dessa forma, o leitor tende a se interessar pela matéria, já que pode conhecer sobre um problema urbano que atinge diretamente suas vidas: A poluição sonora é considerada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) a terceira maior em impacto à saúde humana, atrás da poluição do ar e da água. Além da perda gradual da audição, as pessoas que se expõem a sons altos por muito tempo podem desenvolver outras alterações no organismo, tais como insônia, dor de cabeça, aumento da pressão sanguínea e irritabilidade. O problema é comum nas cidades, vindo de fontes de ruído como veículos, aparelhos de som e canteiros de obras.

No segundo parágrafo o texto apresenta o gancho da notícia informando o leitor sobre uma pesquisa divulgada no mês de setembro. Ela segue apresentando informações importantes para entender o perigo da poluição sonora à saúde, dando os números determinados por lei para os limites sonoros. São apresentadas ainda duas fontes que falam sobre o mesmo tema, acrescentando credibilidade às matérias. A primeira delas é a audióloga Márcia Soalheiro de Almeida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que explica a importância sobre a resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) para a educação, o que vem a despertar a preocupação/ pensamento crítico de pais e filhos: A audióloga Márcia Soalheiro de Almeida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica o papel da resolução do CONAMA na educação. ‘Ela propõe um trabalho transversal que envolva todas as disciplinas escolares, para prevenir a poluição sonora’, diz. Márcia completa: “a garotada anda com tocadores de música cada vez mais potentes, e constantemente com fones de ouvido. Isso prejudica a saúde auditiva a longo prazo”.

A segunda fonte é o pesquisador da Universidade Católica de Brasília, Sérgio Luiz Garavelli, que atenta para a falta de políticas públicas que tratem da poluição sonora, o que incentiva o leitor a pensar na relação de seus governantes com o problema. Conclusões É certo que, juntos, mídia e cientistas formam a imagem da ciência no mundo, entretanto, nem sempre concordam sobre a maneira como ela dever ser disseminada. Além da divulgação científica, o Jornalismo Científico surgiu para tentar unir a linguagem do jornalista, a do cientista, para tornar a ciência feita no mundo mais acessível ao grande público. O jornalismo voltado para a ciência surgiu por volta do século XIV, mas bem diferente de 80

como é feito hoje. Sua origem tem relação com a censura da Igreja e do Estado sobre os temas científicos discutidos no mundo, o que motivou encontros às escuras, alternativa encontrada. Intelectuais, nobres, cientistas e músicos da época passaram a se reunir para discutir esses temas, o que mais tarde levaria às publicações científicas. (Moreira e Massarani, 2002) Apesar de o Jornalismo Científico ser um novo campo da comunicação, que evoluiu no século XX, o progresso vem despertando na população maior interesse sobre Ciência e Tecnologia, e estimulando o conhecimento sobre novidades e desenvolvimento na área. A Agência de Notícias Toque da Ciência, que integra o projeto Toque da Ciência e faz parte do Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã (LECOTEC), surgiu como um veículo de comunicação de JC que busca oferecer aos leitores uma visão aprofundada e crítica das pesquisas desenvolvidas no país e no mundo. Utilizando-se de critério jornalísticos, a agência de notícias publica matérias semanais sobre as informações quentes divulgadas pela mídia científica. Com a análise dos textos produzidos pela agência, foi possível identificar aspectos essenciais para a produção de Jornalismo Científico, que os diferencia da divulgação científica. Além dos critérios de noticiabilidade definidos por Burkett, estavam presentes o caráter crítico, a necessidade de conhecimento e o impacto, contribuindo para atrair a atenção do leitor. Diferentemente da divulgação científica, o JC busca incentivar esses aspectos a fim de despertar o pensamento crítico em seu público e inserir o indivíduo na sociedade, tornando os caminhos da notícia acessíveis a quem a recebe.

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