Agentes de inovação, renovação e de reconfiguração para o jornalismo em tempos de convergência

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    #067 – 2012 DOI: 00000000000000000 ISSN 0000-0000 pp. 00 - 00

Agentes de inovação, renovação e de reconfiguração para o jornalismo em tempos de convergência    

 

Suzana Barbosa, Professora no Departamento de Comunicação e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação (Facom/UFBA). Investigadora e coordenadora no Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (GJOL). Coordenadora do Projeto Laboratório de Jornalismo Convergente (PPP 0060/2011, FAPESB/CNPq).    

   

Resumen: En este texto se presenta una reflexión sobre la dinamicidad como una de las características clave de los productos periodísticos y sus formatos, marcando también la producción, circulación y consumo de la información en el contexto de la convergencia periodística. Llevando en cuenta los dispositivos móviles, las bases de datos y la distribución multiplataforma como agentes de innovación, renovación y reconfiguración del periodismo en el actual proceso, abordamos el tema desde algunas perspectivas, tendencias y desafíos para las organizaciones periodísticas. Palabras clave: Periodismo; Periodismo en base de datos; Convergencia periodística; Dispositivos móviles; Dinamicidad. Abstract: In this text, we make a reflexion on the dynamics as one of the key characteristics to mark the journalistic products, its formats, as well as production, circulation and consumption of information in the context of journalistic convergence. Taking into account the mobile devices and the multiplatform distribution as means of innovation, renewal and reconfiguration for journalism in this current process, we approach the subject from some perspectives, trends and challenges that appear for the journalistic organizations. Keywords: Journalism; Database journalism; Convergence journalism; Mobile devices; Dynamics

  1. Introdução

Um produto jornalístico digital dinâmico, tal como definimos em trabalhos anteriores (2007, 2008, 2009), é aquele cujo conteúdo é continuamente renovado, inter-relacionado, contextualizado, trabalhado segundo distintos formatos multimídia e com parâmetros novos para a sua apresentação de modo a propiciar maior envolvimento na maneira como os usuários vão consumir e interagir com ele e a partir dele. Os sistemas de recomendação de notícias (SRN) ou estatísticas dinâmicas que exibem as informações mais lidas, mais enviadas, mais comentadas, conferem igualmente dinamicidade, pois nos permitem visualizar o que é mais popular na cobertura informativa de um site jornalístico ou cibermeio no real time em que acessamos, a exemplo do que exibem o “Zeitgeist” do Guardian1 ou “La nube de noticias”, do La Nación2. Para além desses traços, existem os aspectos técnicos, já que o princípio básico de construção não é a página em si, mas consiste em unidades ou frações de conteúdo textos, fotos, clipes de vídeo, áudio, infografias interativas, etc. -, que são alterados de acordo com um gabarito para criar uma página.

Ao voltar a focalizar esse elemento distintivo dos produtos digitais, nosso objetivo é colocar em relevo outros agentes que potencializam a dinamicidade nos sites jornalísticos, ao tempo em que reforçam a utilização de outras características como a hipertextualidade, a atualização contínua, a multimidialidade, a interatividade, a personalização e a memória (PALACIOS, 2003).

                                                                                                                1 2

 

Em: . Acesso em: 02/11/2012. Em: . Acesso em: 02/11/2012.

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  Tais agentes são os dispositivos móveis (celulares/smartphones, e-readers, tablets…), configurando a produção, a publicação, a distribuição e o consumo de conteúdos jornalísticos em multiplataformas, bem como as bases de dados e suas variadas possibilidades de emprego no jornalismo, conformando o paradigma que denominamos como Jornalismo Digital em Base de Dados (BARBOSA, 20007, 2008, 2009b; BARBOSA, TORRES, 2012).

Nossa hipótese é que esses são agentes de inovação, renovação e de reconfiguração para o jornalismo no atual contexto da convergência jornalística (LÓPEZ GARCÍA e PEREIRA FARINA, 2010; MORENO, 2009; SALAVERRÍA e NEGREDO, 2008; LAWSON-BORDERS, 2006; QUINN, 2005). Principalmente, quando tanto se discute sobre o jornalismo de qualidade e a cobrança pelo acesso aos conteúdos como condição para tal, de modo a garantir que o jornalismo contribua para o fortalecimento da democracia e a sua prática (FELTON, 2010). No Brasil, representantes das maiores organizações jornalísticas do país afimaram durante o 8º Seminário Nacional de Circulação da Associação Nacional de Jornais, realizado em agosto de 2011, que já era o momento de se passar a cobrar por conteúdos digitais considerados de alto valor jornalístico3. Menos de um ano depois deste anúncio, Folha de S. Paulo foi o primeiro a divulgar o seu sistema de paywall, em junho de 20124. Para o diretor-superintendente do Grupo Folha, publisher do jornal Folha, Antônio Manuel T. Mendes, "o jornal não é o suporte onde ele está [papel]”. Por isso, antevê um “futuro brilhante” para os jornais nos meios digitais, especialmente pelo potencial das plataformas digitais em atrair o público jovem. Em O Globo, a previsão era de que os testes com um modelo de pagamento começassem em 2012, porém, até novembro, o conteúdo do site de O Globo seguia aberto, exceto a edição em flip page do impresso e os conteúdos da edição para o aplicativo O Globo a Mais, vespertino exclusivo para a plataforma tablet (iPad), lançado em janeiro de 2012. Conteúdos de alto valor jornalístico são aqueles capazes de exercer influência a favor do interesse público, ou seja, um jornalismo de qualidade, como denomina Philip Meyer (2010). Segundo ele, para que o jornalismo de qualidade possa sobreviver neste novo ambiente convergente e multiplataforma, é preciso resolver três problemas: “Pagar por su creación; distribuir los resultados al público; captar la atención del público y conseguir que éste se movilice trás recibir información (2010, p. 41). A análise de Meyer é voltada para as organizações jornalísticas tradicionais, as quais, conforme acredita, poderão conseguir novas formas para o financiamento do jornalismo de qualidade por meio de entidades sem fins lucrativos, combinado ao investimento de empresas comerciais, além de parcela advinda da publicidade.

      2. Jornalismo dinâmico e inovação A relação entre conteúdo dinâmico e jornalismo no meio digital é explorada em muitos trabalhos. Mas, certamente, o de John V. Pavlik (2001) é um dos mais referenciados quando se aborda o assunto. Em seu livro Journalism in new media, conteúdo dinâmico é o quarto aspecto para o que ele denomina jornalismo contextualizado5. Conforme explica o professor da Rutgers University (EUA), o “dinâmico” quer dizer conteúdo noticioso mais fluido, que permite melhor representação dos eventos e processos na vida real (PAVLIK, 2001, p. 22), empregando, inclusive, o vídeo em 360º para permitir a experiência da imersão aos usuários (recurso já bastante utilizado por sites noticiosos). Os jornalistas, por sua vez, deveriam prover notícias continuamente atualizadas – e hipertextualmente formatadas – para uma audiência que cada vez mais passaria a consumi-las online. Quando Pavlik publicou seu livro, os sites jornalísticos ainda eram muito limitados para o que se veria implementar de dinamicidade no decorrer desses 17 anos de jornalismo digital. Sobretudo, considerando-se a melhoria da infraestrutura técnica, ampliação do acesso à rede via conexões banda larga, wi-fi, 3G e 4G; proliferação de plataformas móveis; desenvolvimento de sistemas de gestão de conteúdos jornalísticos mais complexos; equipes mais especializadas; uso expandido de bases de dados; algoritmos; linguagens de programação, melhor compreensão quanto ao uso de recursos multimídia e interativos e maior habilidade para aplicação da hipertextualidade nas narrativas jornalísticas, dentre outros. As mudanças foram ocorrendo pouco a pouco, sendo mais rapidamente incorporadas em produtos considerados ponteiros, ou seja, de referência, por sua capacidade de inovação, como o NYTimes.com, Washingtonpost.com, BBC.co.uk, Guardian.co.uk, ElPaís.com, ElMundo.es, LaNación.com.ar, Clarín.com, ElTiempo.com, Folha.com, OGlobo.com.br, Estadão.com.br, além daqueles originalmente criados para a web, a exemplo do MSNBC.com e, no Brasil, UOL.com.br e G1.com.br.

                                                                                                                3

Ver em: “Jornais brasileiros debatem cobrança de informações on-line”. In: Folha.com. [online]. 30/08/2011. Disponível em: . Acesso em: 02/11/2012. 4

Sobre o sistema implantado, ler em: . Acesso em: 02/11/2012. 5   Para   Pavlik,   seria   uma   nova   forma   de   notícias,   configurada   a   partir   de   cinco   aspectos:   o   alcance   das   modalidades  comunicacionais;  a  hipermídia;  a  interatividade;  o  conteúdo  dinâmico  e  a  personalização.    

 

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  O processo de inovação, portanto, vem ocorrendo de modo contínuo. Também em função da intensificação das estratégias de inovação colocadas em prática pelas organizações jornalísticas, as quais, evidentemente, passaram a considerar a internet, a web e os dispositivos móveis como fundamentais para a ampliação do alcance para seus produtos e para as suas marcas. De acordo com Machado (2010), o discurso da inovação como uma ferramenta indispensável para a sobrevivência das organizações jornalísticas nas sociedades contemporâneas, foi incorporado de maneira mais intensa a partir da segunda metade da década de 90, embora fizesse parte dos seus planos estratégicos desde os anos 70 do século passado. Tais programas, segundo ele, partem do pressuposto que o “jornalismo de inovação” é essencial para o progresso e a mudança social. Segundo define, inovação no jornalismo é:

todo cambio en las técnicas, tecnologías, procesos, lenguajes, formatos, equipos, dispositivos y aplicaciones, valores o modelos de negocios destinados a dinamizar y potenciar la producción y consumo de las informaciones periodísticas. La innovación en el periodismo es un fenómeno que se vuelve para el periodismo como una industria y que se centra en la búsqueda de soluciones conceptuales o tecnológicas capaces de, al mismo tiempo, maximizar la producción y atender a las demandas sociales por información de calidad y instantánea, al menor costo posible, en consonancia con el rigor de las mejores conductas profesionales y accesible por todos los medios disponibles. (MACHADO, 2010, p. 67) Entre as inovações recentes incorporadas pelo jornalismo nos últimos anos estão: blogs, redes sociais (Twitter, Facebook, Menéame, Eskup…), dispositivos móveis (celulares/smartphones, e-readers, tablets…), bases de dados – enquanto estruturantes para a informação e para os produtos jornalísticos digitais dinâmicos, e como agentes para assegurar contextualização e profundidade, além de padrões estéticos novos para a visualização das informações. Somam-se a eles, paralelamente, as possibilidades para a produção, circulação e consumo da informação jornalística em diversas plataformas: impresso; web, com os sites e edições digitalizadas das edições impressas; as operações mobile e as redes sociais, além das novas versões para e-readers como o Kindle (Amazon) e Nano (Barnes & Noble), bem como os aplicativos (sejam os que adaptam conteúdo para esta plataforma, sejam os chamados nativos/originais/autóctones) para tablets, principalmente para iPad.

O cenário de inovação atual tem como norma a convergência jornalística (GONZALEZ CABRERA, 2010; MORENO, 2009; LAWSON-BORDERS, 2006; QUINN, 2005) e suas principais áreas de abrangência: tecnológica, empresarial, editorial/conteúdos, profissional, caracterizadas pela integração de redações, gestão editorial multiplataforma, polivalência midiática, audiência ativa e a multimidialidade dos conteúdos (LÓPEZ GARCÍA e PEREIRA FARIÑA, 2010; SALAVERRÍA e NEGREDO, 2008; BARBOSA, 2009a). Nesse contexto, a dinamicidade também passa a ser uma característica igualmente desafiadora para as organizações jornalísticas, envoltas em nova crise, e enfrentando as complexidades que a internet, a convergência jornalística, os novos dispositivos móveis e a comunicação móvel colocam nesse momento. Para Anthony Smith (2010), esta é uma fase de transição complexa.

En este momento de transición, a los directores les resulta difícil saber dónde han de invertir, en qué tecnologías, en qué habilidades y en qué orden. El empresario se enfrenta a un medio que es sumamente flexible e interactivo, con contenidos infinitamente extensos y actualizables, que no trabaja con plazos fijos, pero que es muy competitivo dentro del marco del tiempo. Se necesitan habilidades e instintos diferentes que estén dispuestos a competir con rivales distintos y con profesiones desconocidas. (SMITH, 2010, 13)

Esta etapa, no seu entendimento, poderá ampliar-se bastante, principalmente por conta dos e-readers e dos tablets: Los portátiles tablets habrán de promoverse y necesitarán inversiones nuevas, si queremos que se conviertan en la nueva plataforma de los periódicos. El hecho de que sean fáciles de transportar y se pueda leer comodamente es un atractivo para los viajeros de los trenes de cercanías y, además, para los lectores que quieran tener diarios como The Nation o Spectator, entre una edición y la siguiente. Los tablets se encontrarán con rivales nuevos: los periódicos gratuitos de actualidad de cada gran ciudad europea. Pero si todo el mundo llevara su tablet, quizá pararía la impresión de periódicos gratuitos, de los que se distribuirían copias electrónicas. El estante de los periódicos saldría perdiendo, a no ser que encuentre la manera de convertirse en proveedor y ofrecer otras opciones al transeúnte. El periódico permanecerá todavía entre nosotros un largo tiempo, quizá más escueto, quizá ligado a su página web y los periodistas se verán en el aprieto de dividir sus derechos de autor entre el blog y la imprenta. Los periódicos no van por el mismo camino que los tablets más recientes. (SMITH, 2010, p. 13-14)

 

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  Em complementação ao pensamento de Smith, Javier Díaz-Noci (2011, p. 565-566) nota que, com os tablets – idealizados como tal na década de 90 por Roger Fidler, quando este era diretor de Novas Mídias do grupo Knight-Ridder (FIDLER, 1997; MANSFIELD, 2010), poderemos estar próximos de um novo salto qualitativo na maneira como nos relacionamos com a informação digital. No entanto, para o autor, ainda não está claro até que ponto as edições para tablet darão voz aos leitores como tem sido fomentado pelas versões web. Ou, ainda, se os leitores terão um produto mais multimídia, apesar do design do impresso ter preponderado como tendência. O futuro desses novos tablets, prevê Díaz-Noci, possui um desafio: “El desarrollo de la hipertextualidad, la multimedialidad – no meramente yuxtapuesta, sino integrada – y la interactividad”.

3. Dispositivos móveis como novo “novo meio” Da perspectiva do estudo dos meios (media studies), os dispositivos móveis podem ser considerados como um “novo” novo meio (SCOLARI et al, 2009, p.53) que possui sua própria gramática, práticas de produção, dinâmicas de consumo e modelos de negócio específicos. E muitos pesquisadores, especificamente do jornalismo, já começaram a examiná-los para apontar os traços específicos, impactos, formatos de produtos e conteúdos, aplicações, formas de uso, distribuição e consumo dos dispositivos móveis. Juan Manuel Aguado e Andreu Castellet (2010, p. 128-129), por exemplo, apontam os traços que distinguem a plataforma móvel (em especial os smartphones) de outras plataformas de difusão de conteúdos. O primeiro deles é o fato do celular/smartphone ser um dispositivo que mais fortemente se vincula à identidade do usuário, dentre os muitos que povoam o ecossistema digital contemporâneo; em segundo, como plataforma de acesso a conteúdos (informativos, de entretenimento, etc), o celular/smartphone é o único dispositivo de consumo cultural ao qual estamos expostos de forma permanente; e, o terceiro, o celular/smartphone é o primeiro que desvincula a comunicação do lugar e, por isso, a tecnologia móvel incide de forma decisiva no movimento. A conectividade já não depende do lugar, e sim da pessoa. Daí, a importância dos dispositivos móveis como dispositivos pessoais, como um complemento insubstituível do sujeito social. Entre as oportunidades que esses aparatos abrem para o jornalismo estão: a integração de informações de serviço, com outros conteúdos locais (e hiperlocais) que possam tirar partido da localização física das pessoas, bem como da sua própria participação para enviar e agregar informações. Isso potencializaria o jornalismo e a modalidade do jornalismo móvel, especificamente, além da própria interação com sites de redes sociais, que constituem importantes fontes de valor (ibidem). Além disso, acrescentamos, tanto celulares/smartphones, como e-readers e os tablets podem ser os canais para os quais as organizações jornalísticas criem aplicativos (apps) que permitam ao público visualizar dados úteis (contidos em bases de dados públicas e naquelas criadas pelos jornais, sobretudo os locais) em formatos tão distintos como inovadores para engajá-lo e, deste modo, propiciar uma democracia mais digital (HADFIELD, 2011). Atualmente, é crescente o número de iniciativas em direção ao chamado open-data. E essa tendência se verifica tanto no campo do jornalismo, como na disponibilização de informações públicas, geradas por governos de países, estados, municípios e também organizações independentes. Entre os projetos de open-data de governos destacam-se: o “Data.gov.uk”, o “London Datastore6”, o “OpenCongress.org” dos Estados Unidos e o brasileiro “Dados.gov.br7”. Tal cenário está em conformidade com o que se classifica como fenômeno do “big data” ou “a revolução industrial do dado”, segundo indicam Bradshaw e Rohumaa (2011, p.48). Essa nova dinâmica para ampliação de disponibilização e acesso às informações reforça o que denominamos Paradigma Jornalismo Digital em Base de Dados (BARBOSA, 2007, 2008, 2009b; BARBOSA, TORRES, 2012), no qual inserimos o que muitos consideram como jornalismo de dados ou data journalism. Ou seja: a existência de informações públicas de países, governos, entidades de diversos perfis tornadas cada vez mais acessíveis e diversificadas, ao tempo em que permitem seu uso, exploração e publicação a partir de formatos diversos e ferramentas de visualização específicas utilizadas para sua apresentação. Exemplos dessa tendência no jornalismo são as chamadas seções “Data” e/ou “Dados”. O Guardian é um dos que mais têm trabalhado com o jornalismo de dados e, desde 2010, possui a seção “Data”, na qual é disponibilizada uma variedade de dados e de formas para visualizá-los, também permitindo que outros possam criar aplicações a partir desses dados por meio das chamadas APIs (Application Program Interface). The New York Times, BBC, entre outros, já compartilham dados através das APIs de modo gratuito. Entre os cibermeios brasileiros, a seção “Dados” foi incorporada primeiro pelo site da Gazeta do Povo8 (Paraná), no segundo semestre de 2011. Em seguida, a Folha de S.Paulo anunciou o seu projeto nessa área: o blog “Afinal de Contas”9, de Marcelo Soares, que trabalha o jornalismo de dados e, desde maio de 2012, o Estado de S. Paulo criou núcleo específico para produzir o

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. Acesso em: 02/11/2012. . Acesso em: 02/11/2012. 8 < http://www.gazetadopovo.com.br/dados/>. Acesso em: 02/11/2012. 9 . Acesso em: 02/11/2012. 7

 

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  “Estadão Dados”10. Esse núcleo é composto por jornalistas, programadores e designers, que, sob a liderança de José Roberto de Toledo, “captura e trata informações usando técnicas estatísticas, algoritmos e formas visuais de apresentação, além de organizar os dados”. Essa mesma equipe produz infográficos para o jornal impresso. Já o cibermeio Zero Hora (Rio Grande do Sul), estreou a sua seção “ZH Dados”11 em setembro, antes das eleições municipais no Brasil. A oferta de informação pública cada vez maior contribui para que a democracia seja possível, como afirma Schudson (2010), para quem as bases de dados conduzem a novas fundações para a narrativa, uma vez que: “Databases have become part of the lives of anyone who searches for information online. Our own transactions online make us part of databases ourselves; databases ‘r’ us. We even write the narratives of our own lives through databases” (ibidem: 107). Em seu artigo, o autor destaca que, embora o jornalismo sofisticado dependa, crescentemente, da qualidade downlodeável e pesquisável das bases de dados, para ele, bases de dados não é jornalismo. A despeito disso, observamos justamente a expansão do jornalismo em base de dados na contemporaneidade, e acreditamos que esse paradigma se consolidará no contexto da convergência jornalística, também em razão das potencialidades abertas pelos dispositivos móveis.

4. Conteúdos em evolução Em estudo com os resultados do monitoramento feito em produtos para celulares/smartphones de dez cibermeios de vários países12, Canavilhas e Cavallari de Santana (2011) reportam que as plataformas móveis atuais possuem características técnicas ainda pouco exploradas em relação às possibilidades para a criação de novos tipos de produtos informativos. Quanto aos conteúdos para móveis, afirmam que houve um impulso inicial forte, porém, nos últimos dois anos, “registrou-se uma evolução mais lenta e não condizente com a atual velocidade do progresso tecnológico”. Entre as características, a hipertextualidade é a que possui os piores indicadores, reforçando assim a necessidade para ser mais desenvolvida no jornalismo móvel (como também aponta Díaz-Noci, 2010). Quanto à multimidialidade, os pesquisadores explicam que, no contexto móvel, o ideal é um modelo acumulativo, com o mesmo conteúdo em diferentes formatos, adaptáveis a cada momento da recepção. Confiantes de que o jornalismo em plataformas móveis ocupará um espaço cada vez maior na sociedade atual, eles afirmam:

Com os smartphones e tablets cada vez mais presentes no cotidiano de bilhões de pessoas, a comunicação está se tornando realmente pessoal, portátil, onipresente, imediata e multimídia, possibilitando ainda que o usuário seja receptor e emissor. A partir destas vantagens exclusivas, surgem os primeiros movimentos de uma ampla reformulação da prática jornalística, que tenderá a ser muito mais compartilhada e integrada socialmente em rede. (ibidem: 17).

Quanto aos conteúdos para tablets, ainda estamos assistindo a uma preponderância de um modelo transpositivo, tal qual ocorreu com as primeiras versões de sites jornalísticos para a web. O que predomina é a emulação das edições impressas de jornais e também de revistas, agregando conteúdos multimídia dos respectivos sites para os novos dispositivos tablets como iPad, Xoom ou aqueles que rodam o sistema Android da Google, entre outros. Se olharmos para o cenário nacional, a constatação é que as estratégias em direção aos tablets são conduzidas com muita cautela e de modo parcimonioso. Mas, apesar disso, as grandes organizações jornalísticas (tanto nacionais, como regionais) já possuem versões para tablets, em sua maioria para o Apple iPad. Alguns casos ilustrativos são: Estadão, Folha de S. Paulo, Valor Econômico Correio Braziliense, Zero Hora/Rio Grande do Sul, Gazeta do Povo/Paraná, Diário de Pernambuco, O Povo/Ceará, Veja, Época, Istoé, Placar, Info, entre outros. O jornal Zero Hora também tem aplicativo para o sistema Android da Google e para o Kindle, assim como o Diário Catarinense. Entre os portais, G1, Terra e UOL marcam presença com aplicações para iPad. Quanto aos aplicativos chamados nativos/originais/autóctones, que são realizados por equipes exclusivas produzindo apenas para a edição em tablet, tem-se “O Globo a Mais” (O Globo), pensado como vespertino (novo conteúdo é publicado sempre às 18h, de segunda a sexta) e, assim, tirando partido da característica lean-beack dos tablets. Há, ainda, o jornal criado unicamente para o iPad, o Brasil 24713, da Editora247. O Estadão, além da versão adaptada/convergente para tablet, possui o “Estadão

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. Acesso em: 02/11/2012. 11 . Acesso em: 02/11/2012. 12   O   universo   de   análise   estudado   entre   2008   e   2011   contemplou   sites   móveis   e   aplicativos   dos   seguintes   cibermeios:  Associated  Press  e  USA  Today  (Estados  Unidos);  G1/Globo  (Brasil)  e  El  Mercurio  (Chile)  na  América   do   Sul;   BBC   (Reino   Unido)   e   Le   Monde   (França);   The   Times   (África   do   Sul);   Al   Jazeera   (Catar);   China   Daily   (China);  e  News  (Austrália).   13

 

. Acesso em: 02/11/2012.

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  Noite”, aplicativo lançado em abril de 2012, formatado especialmente para essa plataforma e disponibilizado sempre às 20h (de segunda a sexta), com uma seleção das reportagens publicadas pelo jornal Estado de S.Paulo, e com destacado conteúdo fotojornalístico. A Folha, por sua vez, disponibilizou em junho a revista “F10”, a qual circula aos domingos junto ao aplicativo em HTML5 da Folha para tablets com a seleção de dez notícias de destaque durante a semana.

Os sites móveis, bem como aplicativos direcionados para celulares/smartphones, estão disponíveis há mais tempo, contando em alguns casos com equipes de jornalistas específicas para alimentá-los. Os grandes jornais nacionais trabalham seus conteúdos para essas plataformas. Entre os regionais, temos: o “Mobi” do jornal A Tarde/Salvador-Ba, lançado em 200914, e que tem como força a informação de serviço, oferecida em 22 canais de conteúdo. Outra iniciativa é o portal “Mob NE 10”15, do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, de Pernambuco. Ele está constituído por seis mobile sites e dois aplicativos (Rádio Jornal e CBN).

5. A modo de conclusão Chamados de a “quarta tela”, os dispositivos móveis encontram-se em estágio ascendente de adoção, seja por parte das organizações jornalísticas, bem como de outros produtores de conteúdo, seja por parte do público, que, a cada dia, consome mais informação, entretenimento e constrói suas relações sociais por meio desses aparatos com presença cada vez mais expandida, sobretudo nas grandes cidades. Por isso mesmo, ganha relevo a comunicação móvel (CASTELLS et al, 2007; LEMOS e JOSGRILBERG, 2009; PELLANDA, 2009; SCOLARI et al, 2009), sendo os celulares/smartphones, e-readers e tablets os objetos principais da mobilidade. Como vetores de mudança, afetam sobremaneira os conteúdos informativos, as formas de produção, distribuição e consumo (FIDALGO e CANAVILHAS, 2009; CANAVILHAS, 2009; AGUADO e CASTELLET, 2010; CANAVILHAS e CAVALLARI DE SANTANA, 2011; FIRMINO DA SILVA, 2011). Diante desse cenário, cabe às organizações jornalísticas adiantarem-se na criação de conteúdos multiplataformas tão interessantes e envolventes quanto úteis, empregando a hipertextualidade, a multimídia, recursos de geolocalização, informações que tirem partido do poder dos dados, além de ações para promover a criação de comunidades em torno dos seus produtos. Certamente, tais conteúdos estarão marcados por alto nível de dinamicidade, delineando-se, assim, novo ciclo de inovação.

6. Referências bibliográficas: AGUADO, J.M.; CASTELLET, A. (2010). “Contenidos informativos en la plataforma móvil: horizontes y desafios”. In: GONZÁLEZ, Maria Angeles C. (Coord.). Evolución tecnológica y cibermedios. Sevilla: Comunicación Social ediciones y publicacione. (Colección Periodística). pp. 126-143. BARBOSA, S.; TORRES, V. (2012). “Extensões do Paradigma JDBD no Jornalismo Contemporâneo: modos de narrar, formatos e visualização para conteúdos”. In: Anais XXI Encontro Compós. N. 21, v. 1. Juiz de Fora, MG: UFJF, 2012.

BARBOSA, S.(2009a). “Convergência jornalística em curso: as iniciativas para integração de redações no Brasil”. In: RODRIGUES, C. (ORG.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Editora Sulina, 2009. pp. 35-55. BARBOSA, S. (2009b). “Modelo JDBD e o ciberjornalismo de quarta geração”. In: FLORES VIVAR, J.M.; RAMÍREZ, F.E. (Eds.). Periodismo Web 2.0. Madrid: Editorial Fragua (Colección Biblioteca de Ciencias de la Comunicación). pp.271-283. ______. (2008). “Modelo Jornalismo Digital em Base de Dados (JDBD) em interação com a convergência jornalística”. In: Textual & Visual Media. Revista de la Sociedad Española de Periodística. v.1. Madrid, 2008. pp. 87-106. ______. (2007). Jornalismo Digital em Base de Dados (JDBD). Um paradigma para produtos jornalísticos digitais dinâmicos. (Tese de Doutorado). PósCOM/UFBA, Salvador.

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