AGROFLORESTAÇÃO NOS SERTÕES DOS TOCÓS: sistemas silviagrícolas e quintais agroflorestais adaptados ao semiárido baiano

August 5, 2017 | Autor: Alexandre Miranda | Categoria: Agroecology, Agroecologia, Sistemas Agroflorestais, Sistemas Agroforestales, Agroforestry Systems
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AGROFLORESTAÇÃO NOS SERTÕES DOS TOCÓS: sistemas silviagrícolas e quintais agroflorestais adaptados ao semiárido baiano Autores: Alexandre A C Miranda Ana Paula de S B Souza Mauricio Moreau Orientador: Dan Érico Lobão

RESUMO Nesse trabalho, através da participação e diálogo com agricultores do assentamento rural, Distrito de Irrigação, localizado na cidade de Tucano, semiárido baiano, buscou-se agregar, de forma participativa, o uso de novas tecnologias sociais adequadas à realidade local, bem como à construção de novas estratégias de desenvolvimento, a partir da implantação de sistemas silviagrícolas e quintais, baseado em modelos de sistemas agroflorestais, que sejam capazes de melhorar e potencializar a produtividade dos agroecossistemas locais ao mesmo tempo em que concilia conservação ambiental com alta produtividade. Finalmente, alicerçados nas experiencias conjuntas, a construção participativa do trabalho vem gerando uma série de trocas de saberes entre os agricultores da comunidade. PALAVRAS-CHAVE: SAF, Sistemas agrossilvicuturais. Pesquisa-ação. Conservação produtiva.

INTRODUÇÂO Desde os primórdios de sua ocupação, o semiárido brasileiro vem perdendo sua vegetação nativa, a caatinga, para a expansão das atividades agropecuárias, suas áreas de solos mais produtivos foram convertidos em pastagens e culturas agrícolas. Essa situação se torna ainda mais grave quando se soma as ameaças diretas do risco de desertificação devido ao alto grau de degradação florestal e sobreexploração das terras agricultáveis. A busca de sistemas de produção apropriados em termos socioambientais e viáveis economicamente é um elemento central nas estratégias voltadas para o desenvolvimento rural sustentável dessa região. Nesse sentido, os sistemas agroflorestais se mostram como uma boa alternativa de transformação dos sistemas produtivos no semiárido brasileiro, pois é notório sua capacidade de adaptação aos mais variados climas e panoramas socioculturais. Segundo Duque (1973), “a ecologia do nordeste é formadora de árvores”. De acordo com sua interpretação, a associação de alta radiação solar, altas temperaturas médias, a intermitência das chuvas e solos com baixa capacidade de retenção hídrica torna o bioma mais adequado para árvores e outros vegetais perenes em 1- Biologo, discente na Universidade Estadual de Santa Cruz, e-mail: [email protected] 2- Eng. Agronoma, discente da Universidade Estadual de Santa Cruz, e-mail: [email protected] 3- Docente na Universidade Estadual de Santa Cruz 4- Engenheiro Florestal, docente na Universidade Estadual de Santa Cruz

detrimento de espécies anuais herbáceas. Altiere (2012), também destaca que nas regiões semiáridas do mundo, o emprego de árvores de uso múltiplo em conjunto com culturas de ciclo curto e como parte de sistemas pastoris são práticas dominantes. De acordo com Silva (2013), a Agroecologia propõe uma prática educativa baseada em metodologias participativas que permitam a reconstrução histórica das trajetórias de vida e dos modos de produção, de resistência e de reprodução, assim como o desvendamento das relações das comunidades com o seu meio ambiente. Dessa forma, a extensão rural agroecológica, depende de uma atuação efetiva dos extensionistas na compreensão e domínio de cada ferramenta “participativa” que virá compor a intervenção planejada para a criação de estratégias de desenvolvimento rural sustentável. Guiado pelo exposto, como lente em um óculos comunicativo, a pesquisa-ação aqui desenvolvida está sendo realizada em um assentamento rural, Distrito de Irrigação, localizado na cidade de Tucano no Estado da Bahia que está dentro do polígono das secas no semiárido baiano. Posta em prática em conjunto com 15 famílias envolvidas, onde estamos demarcando o uso da terra das respectivas propriedades e elaborando desenhos de sistemas silviagrícolas e quintais, baseado em modelos de sistemas agroflorestais (SAFs), que sejam capazes de melhorar e potencializar a produtividade dos agroecossistemas locais ao mesmo tempo em que concilia conservação ambiental com alta produtividade. DESENVOLVIMENTO Os produtores que estão participando da pesquisa-ação (Thiolente, 1992) foram escolhidos pela associação local, são 15 famílias envolvidas diretamente na elaboração e execução do projeto de implantação dos sistemas e quintais agroflorestais. Até o momento foram realizadas 3 etapas: a 1° consistiu em uma autoapresentação dos partícipes (técnicos e agricultores), para a construção de laços de confiança, peça fundamental em trabalhos de extensão alicerçados no dialogo e na troca de saberes, ao modo de Freire (2011), na oportunidade unidades produtivas familiares foram visitadas. A 2° etapa, programada a partir das demandas levantadas da

primeira interação, teve como cerne o reconhecimento da área onde o trabalho será realizado. Para tal, adotou-se a metodologia de mapeamento participativo que, a partir do conhecimento e reconhecimento dos produtores do ambiente local, foram elaborados mapas temáticos. Um mapa geral, onde, a partir de uma planta base da comunidade, foram levantados aspectos como: direção das principais correntes de vento, precipitação, tipos de solo e localização das áreas que cada família irá destinar para a implantação dos sistemas modelos. Outro mais especifico, onde, cada produtor participante, desenhou o estado atual de sua área: disposição dos elementos produtivos existentes, plantas e divisões que já existem em cada unidade familiar. Já na 3° etapa, foram feitas visitas de campo onde livros com fotografias de espécies nativas foram usados para orientar as conversas em busca de informação, das necessidades e intenções de cada família, com relação a implantação dos quintais. Aspectos como: tipo de espécies a serem implantadas, vocação produtiva, instrumento de trabalhos e mão de obra disponíveis de cada grupo familiar foram abordados ao longo da interação. Além disso, foi realizado o georreferenciamento de cada área destinada a implantação dos quintais para o planejamento ambiental com uso de ferramentas SIG (sistemas de informação geográfica). A harmonização das atividades produtivas com os contextos socioambientais locais é o principio fundador da agroecologia. Ressalta-se também que o funcionamento dos agroecossistemas comporta complexa teia de interações entre os sistemas técnico, ecológico e socioeconômico. Em consonância com essas afirmativas, na primeira etapa, observou-se todo o perímetro do distrito, as culturas trabalhadas pelos agricultores, as condições de solo, tipos de culturas. Foi possível perceber agricultores com realidades bem distintas. No processo de planejamento e implantação do SAFs deve-se levar em consideração o clima da região e as diferenças microclimáticas, pois dentro de uma mesma sub-bacia existem diferentes microambientes devido a fatores que se corelacionam tais como: topografia, tipos de solo, retenção de umidade, disponibilidade de nutrientes e de matéria orgânica. Muitas espécies são adaptadas a determinados microclimas,

pois

desenvolvem

características

fisiológicas,

sinecológicas que desenvolvimento diferenciado conforme o ambiente.

biológicas

e

Com a intenção de acessar essas informações geoclimáticas, na segunda etapa, reunidos, discutiu-se, coletivamente, as propostas de trabalho afim de sintonizá-las com a realidade local, segundo as recomendações de Freire (2011): “... através da problematização do homem-mundo ou do homem em suas relações com o mundo e com os homens, possibilitar que estes aprofundem sua tomada de consciência da realidade na qual e com a qual estão.” Ao longo do diálogo com o grupo a respeito das técnicas de manejo e das características de solos observou-se a desenvoltura técnica de 3 agricultores na descrição dos solos, visto que estes afirmaram e marcaram na carta topográfica de declividade da comunidade, as classes de solos existentes, sua localização, a existência de processos erosivos e as dificuldades em relação ao manejo do solo. Também foram identificados os lotes de produção e as áreas residenciais de cada participante. Na oportunidade, os agricultores desenharam seus lotes e/ou quintais como se encontram atualmente. Para finalizar discutiu-se em grupo o resultado dos desenhos, destacando-se as principais dificuldades para deixar seus quintais no estado em que eles desejavam. As mais comentadas foram em relação ao acesso ao credito rural, e suas excessivas exigências burocráticas, e, com relação a mão de obra, insuficiente para realizar todas as tarefas cotidianas, durante o dialogo tornouse evidente a falta de assistência técnica, sobretudo a de forma continuada. Na terceira etapa, foram realizadas visitas individuais às famílias que estão participando do projeto, como resultado dos diálogos percebe-se que a maioria usa exclusivamente a força de trabalho familiar. Todas possuem as ferramentas básicas para o trabalho cotidiano e já produzem parte do alimento necessário à subsistência. Com relação ao trabalho coletivo, todos os produtores participantes estão predispostos ao trabalhar em mutirão. Durante a conversa, foram disponibilizados livros com fotos de espécies nativas para que fossem apontadas as plantas que conhecidas e as espécies existentes na região. A partir daí foi iniciada a escolha de espécies nativas que irão compor os sistemas e quintais agroflorestais. Em cada visita, também foi feito o georreferenciamento das áreas onde serão

implantados os SAFs, a média de tamanho é de 0,2 hectares(h) para os sistemas silviagrícolas, já os quintais serão implantados em áreas de mais ou menos 0,16h. Cada sistema tem aspectos e qualidades agronômicas, como solo, cobertura vegetal e uso, bem diversos. O que sugere intervenções bem particulares para cada ambiente. A partir desses dados, iniciou-se o planejamento ambiental participativo, com o uso das tecnologias SIG, a o planejamento do uso da terra nas áreas de implantação dos quintais agroflorestais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados parciais são satisfatórios, as metodologias participativas estão tendo, até o momento, boa aceitação por parte das famílias envolvidas. Os partícipes estão bem motivados com o andamento do projeto. Os dados registrados e analisados estão contribuindo para as tomadas de decisão e adequação dos métodos e metodologias já consagrados na literatura para trabalho em comunidades rurais. Finalmente, alicerçados nas experiencias conjuntas, o método participativo esta gerando uma serie de trocas de saberes entre os membros da comunidade, como uma espécie de eco de produtor a produtor. REFERÊNCIAS: ALTIERI, MIGUEL. Agroecologia: bases científicas para a agricultura sustentável. 3ª ed. Ver. Ampl. São Paulo, Rio de Janeiro: Expressão Popular, AS-PTA 2012. 400p. DUQUE, José G. O Nordeste e as lavouras xerófilas. Fortaleza, Banco do Nordeste. 1973, 330p. FREIRE, PAULO. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 15°ed. 2011. SILVA, HAROLDO W,. A extensão rural agroecológica sob o desenvolvimento sustentável. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), v.3, n.1, p.25-29, Julho, 2013. SILVEIRA, LUCIANO; PETERSEN, PAULO; SABOURIN, ERIC. Agricultura familiar e agroecologia no Semiárido: avanços a partir do Agreste da Paraíba. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2002. 356p THIOLLENT, MICHEL. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1992. 136p AGRADECIMENTOS: À toda comunidade do Distrito de Irrigação de Tucano pela acolhida, ao apoio da UESC (Universidade Estadual santa Cruz), da EBDA (Empresa Brasileira de Desenvolvimento Agrário), do CRAD (Centro de Recuperação de Áreas Degradadas), da UNEB (Universidade Estadual da Bahia) Juazeiro, da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Semiárido.

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