Ainda sobre as criptomoedas: considerações em face do Sistema Financeiro Nacional

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Ainda  sobre  as  criptomoedas:  considerações  em  face  do  Sistema   Financeiro  Nacional     No   texto   da   semana   passada   fizemos   considerações   iniciais   sobre   o   Bitcoin,   delineando   aspectos   do   seu   funcionamento   e,   ainda,   indicando   que   sua   aquisição,   utilização   ou   “mineração”,   não   se   subsumem   a   tipos   previstos   no   Código  Penal.  Apesar  disso,  as  dúvidas  sobre  sua  legalidade  persistem,  motivo   pelo   qual,   neste   texto,   apresentamos   alguns   comentários   sob   a   perspectiva   do   Sistema  Financeiro  Nacional.         O   Sistema   Financeiro   Nacional   (SFN)   é   um   conjunto   de   instituições   e   órgãos   responsáveis   pelo   controle,   fiscalização   e   regulamentação   da   circulação   de   moeda   e   do   crédito   no   país   e,   nos   termos   do   art.   192   da   Constituição   é   “estruturado   de   forma   a   promover   o   desenvolvimento   equilibrado   do   País   e   a   servir   aos   interesses   da   coletividade,   em   todas   as   partes   que   o   compõem,   abrangendo  as  cooperativas  de  crédito,  será  regulado  por  leis  complementares   que   disporão,   inclusive,   sobre   a   participação   do   capital   estrangeiro   nas   instituições  que  o  integram.”     O   SFN   pode   ser   observado   sob   duas   ópticas:   a)   do   subsistema   de   supervisão   (responsável   por   fazer   regras   para   definir   parâmetros   para   transferência   de   recursos   entre   uma   parte   e   outra,   além   de   supervisionar   o   funcionamento   de   instituições  que  façam  intermediação  monetária),  que  é  formado  pelo  Conselho   Monetário   Nacional   (CMN),   Conselho   de   Recursos   do   Sistema   Financeiro   Nacional,   Banco   Central   do   Brasil   (BACEN),   Comissão   de   Valores   Mobiliários   (CVM),   Conselho   Nacional   de   Seguros   Privados,   Superintendência   de   Seguros   Privados,   Brasil   Resseguros   (IRB),   Conselho   de   Gestão   da   Previdência   Complementar  e  Secretaria  de  Previdência  Complementar;  e  b)  do  subsistema   operativo  (aquele  que  torna  possível  que  as  regras  de  transferência  de  recursos   sejam   possíveis),  que  é  formado  por  Instituições  Financeiras  Bancarias,  Sistema   Brasileiro   de   Poupança   e   Empréstimo,   Sistema   de   Pagamentos,   Instituições   Financeiras  Não  Bancárias,  Agentes  Especiais,  Sistema  de  Distribuição  de  TVM.  

  Além   disso,   o   SFN   também   é   composto   pelas   Autoridades   Monetárias   (responsáveis   por   normatizar   e   executar   as   operações   de   produção   de   moeda   como  o  Banco  Central  e  o  Conselho  Monetário)  e  pelas  Autoridades  de  Apoio   (auxiliam   as   autoridades   monetárias   na   prática   da   política   monetária,   como   o   Banco  do  Brasil  ou  a  Comissão  de  Valores  Mobiliários).       Tendo   isso   em   consideração,   resumidamente   interessa   mencionar   que   o   BACEN   é   a   autoridade   que   supervisiona   todas   as   demais,   além   de   emitir   dinheiro  e  executar  a  política  monetária,  cabendo  ao  CMN  a  criação  da  política   de  moeda  e  do  crédito  de  acordo  com  os  interesses  nacionais  e,  à  CVM  a  função   de   possibilitar   a   alta   movimentação   das   bolsas   de   valores   e   do   mercado   acionário.       Visto  isso,  importa  ressaltar  que  o  BACEN  emitiu,  em  19  de  fevereiro  de  2014  o   Comunicado   nº   25.306   com   esclarecimentos   “sobre   os   riscos   decorrentes   da   aquisição   das   chamadas   moedas   virtuais   ou   moedas   criptografadas   e   da   realização  de  transações  com  elas.”       No  Comunicado  o  BACEN:       a) Diferenciou   as   criptomoedas   das   moedas   eletrônicas,   esclarecendo   que   estas   últimas   “são   recursos   armazenados   em   dispositivo   ou   sistema   eletrônico   que   permitem   ao   usuário   final   efetuar   transação   de   pagamento   denominada   em   moeda   nacional”   (e   reguladas   pela   lei   nº   12.865/13)   ou   passo   que   as   criptomoedas   “possuem   forma   própria   de   denominação,   ou   seja,   são   denominadas   em   unidade   de   conta   distinta   das   moedas   emitidas   por   governos   soberanos,   e   não   se   caracterizam   dispositivo  ou  sistema  eletrônico  para  armazenamento  em  reais”;       b) Alertou   para   o   fato   de   que   as   criptomoedas   não   são   emitidas   nem   garantidas   por   uma   autoridade   monetária,   não   têm   garantia   de  

conversão  para  a  moeda  oficial,  tampouco  são  garantidos  por  ativo  real   de  qualquer  espécie;         c) Informou   que   não   há   mecanismo   governamental   que   garanta   o   valor   em   moeda  oficial;       d) Alertou   que   pode   haver   grande   variação   dos   preços   das   criptomoedas,   até  mesmo  a  perda  total  do  seu  valor;       e) Informou   que   seu   uso   em   atividades   ilícitas   pode   ensejar   investigações   pelas   autoridades   públicas,   as   quais   poderá   envolver   o   usuário   destas,   ainda  que  imbuídos  de  boa-­‐fé;     f) Alertou  que  o  armazenamento  das  criptomoedas  pode  representar  risco   de  perda  porque  as  carteiras  digitais  não  estão  imunes  vulnerabilidades   tecnológicas  e  respectivos  ataques;     g) Informou   que   o   uso   das   criptomoedas   no   país   ainda   não   se   mostra   suficientemente   perigoso   para   oferecer   riscos   ao   Sistema   Financeiro   Nacional,   particularmente   quanto   às   transações   de   pagamentos   de   varejo  (art.  6º,  §  4º,  da  Lei  nº  12.685/2013);     h) Esclareceu,   ao   final,   que   o   BACEN   tem   acompanhado   a   evolução   da   utilização   das   criptomoedas   para   fins   de   adoção   de   eventuais   medidas   no  âmbito  de  sua  competência  legal,  se  for  o  caso.       Em   apertado   resumo,   verifica-­‐se   que   as   autoridades   monetárias   ainda   não   vislumbram   que   o   uso   das   criptomoedas   represente   risco   ao   SFN,   o   que   nos   obriga   a   concluir   que   sua   aquisição,   utilização   ou   “mineração”,   de   per   si,   não   representa  ilícitos,  sejam  eles  civis  ou  penais,  estes  previstos  na  lei  nº  7.492/86,   que   define   os   crimes   contra   o   Sistema   Financeiro   Nacional   e   dá   outras   providências.    

Resta-­‐nos,   portanto,   aguardar   o   incremento   do   uso   das   criptomoedas   e   a   análise  que  as  autoridades  monetárias  farão  a  partir  disso  para,  eventualmente,   atuarem  no  âmbito  das  suas  respectivas  competências.       Concluindo,  não  havendo  imediata  ou  reflexa  utilização  das  criptomoedas  para   a  prática  de  atividades  intrinsecamente  ilícitas  (como  a  prática  de  crimes  como   a   sonegação   tributária,   tráfico   de   drogas,   estelionato,   etc.),   por   hora   sua   existência  e  uso  são  perfeitamente  lícitos.      

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