Al-Madan: 25 anos de Arqueologia em revista

July 1, 2017 | Autor: Jorge Raposo | Categoria: Editing of Journals, Arqueologia, Patrimonio Cultural
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ARQUEOLOGIA

| PATRIMÓNIO

| HISTÓRIA LOCAL

1982-2007

A ARQUEOLOGIA PORTUGUESA EM REVISTA

Teatro Romano de Lisboa: os caminhos da descoberta

ISSN

0871-066X

IIª Série|n.º 15 Dezembro 2007 12 euros

O Ritual da Cremação através da análise dos restos ósseos

Arqueologia Empresarial e produção do conhecimento C E N T R O

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A R Q U E O L O G I A

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A L M A D A

1982-2007

Conjunto de textos que contextualiza o período de edição de Al-Madan (1982-2007) no processo de transformação da Arqueologia portuguesa e, em geral, dos mecanismos de produção e difusão de conhecimento científico e de sociabilidade em que esta se insere, nos planos nacional e internacional. Através de diversas experiências pessoais e profissionais, valoriza-se a componente reflexiva de quem viveu as mudanças do último quarto de século, enquanto protagonista de processos que estão na base da situação actual da Arqueologia portuguesa e cuja compreensão contribuirá para perspectivar a sua evolução futura.

A Arqueologia Portuguesa em Revista

Al-Madan: 25 anos de Arqueologia em revista | Jorge Raposo, pp. 84-90 (Re)organizar a Arqueologia: breve balanço, nos 25 anos da Al-Madan | Luiz Oosterbeek, pp. 91-93

Al-Madan: uma testemunha independente do “processo em curso” da Arqueologia portuguesa | António Carlos Silva, pp. 94-96 A Prática Arqueológica Enquanto Gestão Patrimonial: os últimos 25 anos | Rui Parreira, pp. 98-100 A Arqueologia Para os Arqueólogos: reflexões sobre a organização sócio-profissional dos arqueólogos | Maria José de Almeida, pp. 101-103 O Estado da Arqueologia em Portugal: uma reflexão interna |

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Set of texts which put into context Al-Madan’s publication history (1982-2007) within the process of transformation of Portuguese archaeology as regards its scientific knowledge production and dissemination process and its sociability mechanisms − both nationally and internationally. Different personal and professional experiences lead us on a reflection about the last twenty-five years through the eyes of those who experienced, first hand, the changes that have led to the present situation in Portuguese archaeology and whose understanding will contribute to predict future development.

Manuela de Deus et al., pp. 104-105

Memórias do Tempo Recente... para registo futuro? | Francisco Sande Lemos, pp. 106-109

25 Anos de Miudança na Arqueologia Portuguesa: O Contributo do Radiocarbono | António M. Monge Soares, pp. 110-112 Antropologia Biológica em Portugal: uma retrospectiva dos últimos 25 anos | Eugénia Cunha, pp. 113-115 Pré-História Antiga | Luís Raposo, pp. 116-119 Arte Rupestre em Portugal: os últimos 25 Anos |

k e y w o r d s: Archaeology.

Mário Varela Gomes, pp. 120-124 s

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Ensemble de textes qui contextualise la période d’édition de Al-Madan (1982-2007) dans le processus de transformation de l’Archéologie portugaise et, en général, des mécanismes de production et de diffusion du savoir scientifique et de la sociabilité dans laquelle elle s’inscrit, aux plans national et international. A travers diverses expériences personnelles et professionnelles, on valorise la composante réflexive de qui a vécu les changements du dernier quart de siècles, en tant que protagoniste de processus qui sont à la base de la situation actuelle de l’Archéologie portugaise et dont la compréhension contribuera à mettre en perspective son évolution future. m o t s c l é s: Archéologie.

A Pré-História Holocénica: 1982-2007 | Carlos Tavares da Silva, pp. 125-132

O Ocidente Hispânico no Período Romano | Amílcar Guerra, pp. 133-136

Arqueologia Medieval e Pós-Medieval: o caminho da afirmação | Isabel Cristina Ferreira Fernandes, pp. 137-139

Museologia e Arqueologia | António J. C. Maia Nabais, p. 140 25 Anos de Arqueologia Industrial em Portugal | Paulo Oliveira Ramos, pp. 141-142

Cronologia: 1982-2007 | Jorge Raposo et al., pp. 84-142

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25 ANOS DE ARQUEOLOGIA EM REVISTA Cronologia

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1982 Novembro: programa comemorativo do 10º aniversário do Centro de Arqueologia de Almada, que incluiu a apresentação do N.º 0 da revista Al-Madan, no âmbito de um vasto leque de iniciativas organizadas pela associação: exposições, ciclo de cinema arqueológico, ciclo de conferências, visitas de estudo, programa de apoio pedagógico a estabelecimentos de ensino, etc. Entre outros temas, o n.º 0 de Al-Madan incluiu o primeiro artigo em língua portuguesa sobre a aplicação da metodologia de Harris à interpretação de contextos arqueológicos. O autor, Amílcar Guerra, aprofundaria o tema no n.º 2 desta mesma revista (1983). Ainda no n.º 0, mereceu destaque a publicação de Pré-História da Área de Sines, de Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares (1981, Lisboa: Gabinete da Área de Sines), que retratou a actividade do Grupo de Trabalhos de Arqueologia do Gabinete da Área de Sines, a primeira grande experiência de Arqueologia preventiva e de salvamento do nosso país. Publicação de Introdução ao Estudo da História e do Património Local, de Jorge de Alarcão (Coimbra: Institutos de Arqueologia e de História da Arte da Univ. de Coimbra). Publicação póstuma de três dos volumes de Etnografia Portuguesa, de José Leite de Vasconcellos (Lisboa: IN-CM), o último grande projecto deste investigador (1858-1941), com edição iniciada em 1933 mas só concluída em 1988. Publicação do n.º 5 da revista Arqueologia, de periodicidade semestral, dirigida por Vítor Oliveira Jorge desde 1980 (Porto: GEAP - Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto). Fundada em 1976, esta associação publicaria 26 volumes (o último data de 2001) de um periódico que marcou uma época no panorama da edição científica portuguesa na área da Arqueologia. Destaquem-se, no n.º 4 (Dez. 1981), um especial “Métodos”, com os resultados da mesa-redonda sobre “Contributos das Ciências Naturais e Exactas à Pré-História e à Arqueologia” (Porto, 17 Nov. 1979), e, no n.º 8 (1984), artigo de VOJ sobre “O Papel da Arqueologia no Contexto Cultural Português”. Publicação de Informação Arqueológica n.º 2 (Lisboa: IPPC), relativa ao ano de 1979. O primeiro número desta publicação periódica data de 1979 (abrangendo os anos de 1977-1978), ainda sob a responsabilidade da Unidade de Arqueologia da Univ. do Minho (que absorvera o Campo Arqueológico de Braga, criado em 1976, no primeiro grande projecto de Arqueologia urbana no nosso país). Já em edição do IPPC / IPPAR, a irregularidade manter-se-ia até 1988 (n.º 8, relativo a 1986), para terminar definitivamente em 1994 (n.º 9, com trabalhos de 1987!). Publicação do n.º 21 da revista Conimbriga (Coimbra: Instituto de Arqueologia da Univ. de Coimbra), dirigida por Jorge de Alarcão. A pri86 meira edição deste título remonta a

25 anos de Arqueologia em revista por Jorge Raposo Centro de Arqueologia de Almada

Como tudo começou mbora o editorial do n.º 0 de Al-Madan, em 1982, formulasse o desejo de que este desse início a “uma caminhada […] bem longa”, dificilmente se anteciparia então que um projecto com estas características, enquadramento institucional e condições de produção e distribuição estaria activo 25 anos depois! Pelo menos, estava longe de o imaginar quando respondi ao convite para o concretizar pelo então Grupo Coordenador do Centro de Arqueologia de Almada. Para quem estava a iniciar o seu contacto com a Arqueologia, vindo de uma área de formação completamente diferente, numa fase de inflexão profunda no percurso pessoal e profissional, o processo surgiu como um desafio, onde o entusiasmo da juventude contribuiu decisivamente para que parecessem superáveis as enormes dificuldades a enfrentar, entre as quais avultavam a total inexperiência editorial, a evidente falta de meios financeiros, técnicos e humanos, a previsível resistência ao envolvimento de um meio científico pequeno e claramente muito dividido e a incerteza quanto ao sucesso deste tipo de oferta. Houve, portanto, que “começar do zero”, no sentido pleno da expressão. Num contexto de vida e actividade associativas desde sempre viradas para uma intervenção patrimonial alargada, a única ideia preexistente era a de produzir algo que ajudasse a romper o reduzidíssimo campo da Arqueologia portuguesa e a promover a sua inserção social. À época, o modelo onde procurámos uma primeira inspiração foi o da revista Arqueologia, da responsabilidade do Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto (GEAP) e dirigida por Vítor Oliveira Jorge, a quem o panorama editorial da Arqueologia portuguesa muito deve.

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Os primeiros esboços da Al-Madan seguiam de perto a estrutura e, até, o formato físico da Arqueologia, embora o modelo global não correspondesse exactamente ao que pretendíamos. À falta de outros exemplos nacionais, e sem as facilidades de pesquisa que a Internet hoje proporciona, virámo-nos então para as publicações estrangeiras que chegavam às nossas bibliotecas. Nesse plano, a influência mais decisiva veio de uma revista mensal francesa que o CAA assinava, a Archéologia, que era complementada com números especiais de maior periodicidade, Les Dossiers d’Archéologie 1. Aos poucos, foi-se assim “construindo” o modelo desejado: uma publicação que não se limitasse a divulgar secos (e frequentemente herméticos) artigos científicos, mas explorasse também a dinâmica da notícia, da entrevista, da reportagem e dos textos metodológicos e de opinião; uma revista virada para públicos-alvo que extravasassem o meio arqueológico, através de conteúdos com preocupações pedagógicas e formativas; um periódico que se folheasse com prazer, valorando o grafismo e o cuidado de tratamento dos originais na fase de pré-impressão. No essencial, estava definida a base de trabalho depois desenvolvida e aperfeiçoada, a ponto do modelo editorial subjacente à Al-Madan poder ser sintetizado como, por exemplo, se escreveu no editorial do número 7 da IIª Série (1998) − “um espaço de debate e divulgação direccionado para três objectivos fundamentais: incentivar uma maior dinâmica da comunidade arqueológica portuguesa, nos planos da produção e difusão da informação, da reflexão e do salutar confronto de opiniões e pontos de vista; estabelecer pontos de contacto entre a Arqueologia e outras áreas disciplinares,

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numa perspectiva que, longe de se confinar um segundo e intenso esforço autodidacta, Mas, voltando às origens, para além dos às ciências sociais e humanas, abrangesse desta feita para utilização adequada do softprocedimentos técnicos, houve que ultramúltiplos desenvolvimentos epistemológi- ware, quer de tratamento de texto e de imapassar outros problemas. cos e teórico-metodológicos aplicáveis ao gens, quer de ilustração e paginação. Um deles passou pela criação de condiestudo da variabilidade do comportamento Não foi fácil, se atendermos a que só ções de produção no seio do CAA e, tamhumano; por fim, criar um veículo de co- nessa época se começavam a generalizar os bém, de atracção de colaborações externas municação entre essa comunidade científi- computadores pessoais e era muito limitae conteúdos ajustados ao modelo editorial ca e uma sociedade onde é escassa e nem da a “literacia informática”. delineado. Para além das competências dos sempre qualificada a informação relacioTambém aqui, Al-Madan constitui sócios mais preparados, exploraram-se sem nada com a Arqueologia, o Património, a exemplo claro de uma estratégia de aprenreserva todos os contactos dos que eram ou História local e a investigação científica der fazendo. tinham sido recentemente estudantes uniem geral”. versitários, dos que já tiEsboçado o enquadranham alguma experiência mento conceptual do proem meio profissional ou jecto, faltava descobrir coem contextos de voluntarimo fazê-lo, num processo ado, dos que conheciam alde constante aprendizaguém com responsabilidaA R Q U E O L O G I A • PA T R I M Ó N I O • H I S T Ó R I A L O C A L gem, por observação de des na área, etc. Nem isso outras soluções e contacto evitou, contudo, tentativas com profissionais de artes gráficas − o forimediatas (e vãs, como o futuro comprova“Aos poucos, foi-se assim mato evoluiu para o A-4 de sempre, para ria) de conotar a Al-Madan com este ou ‘construindo’ o modelo desejado: benefício dos conteúdos e melhor aproveiaquele grupo, mesmo sem qualquer razão tamento do papel; o modelo gráfico estabiobjectiva para tal. uma publicação que não se lizou-se 2; o título foi escolhido a partir de Outra questão era, necessariamente, a limitasse a divulgar secos [...] uma das possíveis raízes etimológicas do do financiamento. Numa associação pequetopónimo Almada (Al-Madan, “a mina”, artigos científicos, mas explorasse na e, na altura, sem fontes de receita próprovavelmente devido à intensa exploração pria, houve que apelar ao envolvimento de das areias auríferas do Tejo durante a prevárias instituições, a começar pelas autartambém a dinâmica da notícia, sença islâmica) e o respectivo logótipo foi quias do concelho de Almada, dado que o da entrevista, da reportagem e criado e desenhado por inspiração no alfaprojecto tinha de início um forte pendor rebeto árabe. Em paralelo, começámos a comgional. Ainda que com valores sempre redos textos metodológicos e de preender que cuidados editoriais dedicar duzidos, na Iª Série, os apoios fundamentais opinião; uma revista virada para aos materiais recebidos dos autores (tratavieram da Câmara Municipal de Almada e mento de texto e de imagens, revisão…) e da Direcção-Geral da Acção Cultural, um públicos-alvo que extravasassem tomámos contacto com as técnicas disponídos organismos então dependentes do Mio meio arqueológico, através de veis para melhor os rentabilizar. nistério da Cultura. Na IIª Série, foi possíA propósito, deve recordar-se que toda vel estabelecer um protocolo mais conconteúdos com preocupações a Iª Série de Al-Madan (1982-1986) foi sistente com as câmaras municipais de Alproduzida em era “pré-informática”, com a mada e do Seixal, e, entre outras participapedagógicas e formativas; paginação assente em rolos de texto fotoções menores, assegurar subsídios anuais um periódico que se folheasse composto a partir de originais dactilografada Fundação Calouste Gulbenkian 3 e da Junta Nacional de Investigação Científica e dos ou manuscritos; essa fotocomposição com prazer, valorando o grafismo Tecnológica / Fundação para a Ciência e obedecia a colunas de largura pré-definida, e o cuidado no tratamento Tecnologia. Nesta fase, o equilíbrio finanque depois se recortavam à medida das neceiro assentou também em receitas de pucessidades para colar nas folhas da maquedos originais na fase de blicidade, mesmo que relativamente peta, assinalando os espaços para as imagens pré-impressão”. quenas e inconstantes. e definindo as respectivas escalas de ampliação ou redução. Quando não se gostava do resultado, era preciso descolar tudo e voltar a dispor, correndo sempre o risco de 1 Os títulos ainda se publicam: ISSN 0570-6270 e 1141-7137 perder ou desordenar algum pedaço de tex(ver http://www.faton.fr/magazines-archeologie.asp). to. Ainda assim, o resultado final só se po2 Na Iª Série, a responsabilidade pelo grafismo foi do autor dia avaliar numa fase posterior, já com redestas linhas e de Jorge Machado Dias. Na IIª Série, duzida margem de manobra para alteracontinuando a paginação a meu cargo, Paulo Buchinho ções, quando as imagens fotografadas eram colaborou na definição do modelo gráfico dos n.ºs 1 a 6, montadas no fotolito. enquanto Vera Almeida o fez para a reformulação usada desde A IIª Série, iniciada em 1992, já pôde o n.º 7, já com o miolo impresso a duas cores. 3 Infelizmente terminados em 2006, quando a Fundação decidiu tirar partido das possibilidades de edição electrónica, ainda que isso tenha obrigado a alterar a sua política de apoios à área da Arqueologia.

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25 ANOS DE ARQUEOLOGIA EM REVISTA Cronologia 1982 (continuação) 84 1959 e o volume mais recente é de 2006 (n.º 50), agora sob a direcção de Raquel Vilaça. Está disponível na Internet um motor de busca dos materiais publicados até ao n.º 49, de 2001 (http://sirius.bookmarc.pt/conimbriga/sirius.exe). O mesmo instituto universitário inicia a publicação de Ficheiro Epigráfico, suplemento da revista Conimbriga. Os primeiros 66 números foram reeditados em 2000, em formato PDF e suporte CD-Rom. Publicação do n.º 24 da série Trabalhos de Antropologia e Etnologia (Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia). O último volume (n.º 45) data de 2005 e os índices das edições mais recentes podem ser consultados em http://spae.no.sapo.pt/IndicesTae.htm. Publicação do n.º 6 da IIª Série da revista Mínia (Braga: Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural). Entre 1993 e 1997 sairiam cinco volumes de uma terceira série. Publicação do n.º 3 da revista Munda, editada desde 1981 pelo Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, com sede em Coimbra (fundado em 1978). A edição mais recente é de 2006 (n.º 50). Publicação do n.º 92 da Revista de Guimarães, da responsabilidade da Sociedade Martins Sarmento, que mantém desde 1884 (com breve interrupção entre 1914-1920) aquele que é o periódico português com noticiário arqueológico há mais tempo em actividade. Informação genérica e índices podem ser consultados em http://www. csarmento.uminho.pt/ndat_61.asp. A última edição é um volume duplo relativo aos anos de 2003-2004 (n.º 113-114). Publicação do n.º 2 da Iª Série dos Cadernos de Arqueologia (Braga: Unidade de Arqueologia da Univ. do Minho / Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa), cuja publicação se iniciara no ano anterior. Depois de um curto interregno, o título conheceria uma IIª Série a partir de 1984 (índices e conteúdos em http://www.uaum. uminho.pt/edicoes/revistas.htm). Realização da primeira grande campanha de investigação arqueológica subaquática no nosso país (Boca do Rio, Vila do Bispo, Algarve, sob direcção de Francisco Alves, então director do Museu Nacional de Arqueologia), tendo por objecto o navio francês l’Ocean, afundado em 1759. 19 Mai., Setúbal: Seminário “Tróia e a Romanização do Estuário do Sado”, organizado pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. Sobre tema similar, o mesmo Museu realizou em 1995 (13 Mai.) o seminário “Miróbriga e a Romanização do Alentejo Litoral”. 20-25 Set., Amora (Seixal): realização do “Primeiro Campo de Arqueologia Industrial”, com escavação parcial das ruínas da antiga Fábrica de Vidros da Amora, uma das mais importantes do país no período de 1888 a 1930. O projecto teve continuidade no ano seguinte e foi promovido pela Associação de Arqueologia Industrial da Região de Lisboa (AAIRL), com o apoio da autar88 quia local.

Ainda assim, desde sempre, Al-Madan só vem sendo possível com a incorporação de um enorme volume de trabalho voluntário, a custo zero ou muito reduzido. Mesmo hoje, quando o CAA já dispõe de um pequeno quadro permanente que assegura algumas funções administrativas e de gestão, o essencial da direcção e produção técnica continua a ser executado por quem tem, em paralelo, outras ocupações e responsabilidades profissionais. Principalmente a partir de 2004, quando à edição impressa se acrescentou a gestão da página na Internet, é um esforço continuado e exigente, que culmina em cerca de três meses muito intensos, para finalização de cada volume. Finalmente, outra das grandes dificuldades residia na distribuição − não adianta conceber um bom “produto” e definir correctamente o seu público-alvo, se depois não se consegue chegar até ele! Acontece que o mercado da distribuição comercial no nosso país não estava (e não está ainda) receptivo à incorporação de edições como a Al-Madan. Para algumas empresas, é associada ao grupo das revistas, que nem todos os postos de venda aceitam comercializar, e a periodicidade anual não se ajusta aos circuitos de distribuição habitual deste tipo de edições; para outras, é tratada como um anuário, que já se adapta melhor ao mercado livreiro, mas a tiragem é pequena demais para as suas rotinas; para quase todas, a margem de comercialização cobrada é de tal forma elevada que faz pensar se vale a pena. Por isso, nos primeiros tempos íamos para a rua com a mochila cheia de revistas, e hoje continua a ser a associação a gerir a distribuição, com entregas directas onde é viável e endossos postais no resto do país e fora de fronteiras. O certo é que, em 1982, num contexto difícil para a Arqueologia portuguesa, com alguma irreverência juvenil e sem qualquer tipo de estatuto a defender, contornámos os obstáculos como pudemos e controlámos o medo da exposição, da crítica e do erro. Como se escreveu no editorial desse n.º 0, “cometeremos erros mas, a nosso ver, estes corrigem-se através da opinião crítica e é isso que esperamos de quem nos lê − Al-Madan será fundamentalmente aquilo que os seus leitores e colaboradores quiserem que seja”. E assim vem sendo.

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Um percurso de 25 anos Numa reflexão breve sobre o percurso da Al-Madan, deve reconhecer-se a importância que a experiência da Iª Série teve na estruturação e concretização da IIª, em 1992, quando se vivia a “ressaca” da extinção dos Serviços Regionais de Arqueologia do IPPC, na transição para o IPPAR, justificando o que então se escreveu em editorial − “Al-Madan regressa com a esperança de que seja hoje mais evidente que antes a utilidade de um projecto com estas características, num momento particularmente conturbado da Arqueologia portuguesa”. Na ocasião, toda a conjuntura reforçava a nossa convicção nas virtualidades do projecto, na sua necessidade e na existência de condições para o concretizar. Felizmente, houve quem partilhasse connosco essa análise, e foi possível, desde o primeiro momento, associar à equipa do CAA um Conselho Científico com a composição que ainda se mantém − Amílcar Ribeiro Guerra, António Nabais, Luís Raposo, Carlos Marques da Silva e Carlos Tavares da Silva −, e se revelou decisivo no apoio à orientação editorial e, principalmente, à selecção e preparação dos temas a tratar nos dossiês especiais das várias edições. É da mais elementar justiça recordar também que alguns desses cadernos beneficiaram ainda de apoios de coordenação muito significativos. Recordo, por exemplo, o envolvimento de João Carlos Caninas no dossiê sobre Arqueologia e impactes ambientais (n.º 4), de Jean-Yves Blot no dedicado à Arqueologia em meio náutico e subaquático (n.º 7), de António Manuel Silva no que tratou a investigação arqueológica na região do Porto (n.º 9), de António Carlos Silva no da Arqueologia do Alqueva (n.º 11), ou de uma equipa do GEOTA no que incidiu sobre o ordenamento do território e os Planos Directores Municipais (n.º 12). Num modelo que assenta essencialmente nas participações externas, podiam-se destacar vários artigos e textos de opinião marcantes, de entre as mais de mil colaborações recebidas ao longo destes 25 anos. A sua diversidade, contudo, dificulta um exercício que dependerá muito do interesse e dos objectivos de quem o executa. Por isso, numa avaliação pessoal e autocrítica apenas ao que de mais relevante entendo resultar da produção interna e da orientação editorial da revista, creio que a maior originalidade da Iª Série de Al-

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-Madan residirá no cruzamento de temáticas arqueológicas com outras áreas de interesse e no espaço desde logo concedido à entrevista e à reportagem, com um ponto alto no dossiê sobre os Descobrimentos e a “Outra Banda” (n.º 2, 1983), ainda hoje essencial para a compreensão do papel desempenhado pela margem Sul do estuário do Tejo no apoio à expansão portuguesa. Rudimentar pelos padrões actuais mas significativo para os meios da época, o esforço de paginação e interligação mais apelativa de textos e ilustrações, constitui outra das singularidades do trabalho desenvolvido nessa primeira metade da década de 1980. O cuidado editorial com o tratamento de textos e imagens em fase de pré-impressão e com as soluções gráficas de paginação tornou-se uma das “imagens de marca” do “segundo fôlego” da Al-Madan, quando a revista conquistou gradualmente verdadeira difusão nacional. Para isso muito contribuiu a crescente diversificação dos autores que nela confiaram a divulgação do seu trabalho, mas também o já mencionado investimento em dossiês de reflexão sobre temáticas de interesse geral e, principalmente, a sua orientação para a recolha e tratamento de informação primária e não disponível noutras fontes. São disso exemplo o primeiro inquérito aos museus portugueses com colecções de Arqueologia (N.º 2, 1993) ou a primeira e extensa avaliação documental à componente patrimonial nos Estudos de Impacte Ambiental (N.º 4, 1995), talvez o mais complicado e exigente trabalho em que até agora nos envolvemos. Foram também relevantes o levantamento nacional de cerca de 300 sítios arqueológicos visitáveis (n.º 10, 2001, o de maior sucesso junto dos leitores), e, mais recentemente, a investigação sobre o enquadramento do Património, arqueológico ou outro, nos instrumentos políticos e estratégicos de ordenamento do território, nomeadamente nos Planos Directores Municipais denominados de “1ª geração” (n.º 12, 2003). Também merecem destaque as primeiras tentativas de sistematização de um directório de empresas e profissionais de Arqueologia e Património (n.º 13, 2005), e o acompanhamento das transformações no ensino da Arqueologia e áreas afins em resultado da aplicação da “Declaração de Bolonha” (n.º 14, 2006). As grandes sínteses regionais foram outros pontos fortes destes dossiês − Lis-

boa (N.º 3, 1995); Porto (N.º 9, 2000); Alqueva (n.º 11, 2002) −, tal como o foram aqueles que trataram temáticas transversais − a Arqueologia e as outras ciências (N.º 5, 1996) − ou menos conhecidas − a Arqueologia em meio náutico e subaquático (N.º 7, 1998). No plano das reportagens, a mais significativa e ilustrativa das diferentes “sensibilidades” do meio arqueológico da época terá sido a realizada aquando da criação do Instituto Português de Arqueologia (N.º 6, 1997), com muitas das posições então assumidas a ganharem nova actualidade uma década mais tarde, quando o mesmo Instituto é extinto para dar lugar ao IGESPAR. Mas Al-Madan, no contexto da acção do CAA, procurou sempre ser um projecto de intervenção mais vasto e ambicioso que uma simples revista, com gestão criativa e judiciosa dos recursos internos e exploração, quando possível, dos que as circunstâncias colocavam ao seu alcance. O exemplo mais evidente será a produção dos CD-Rom distribuídos com os números 10 (2001) e 11 (2002). O primeiro, intitulado “A Quem Pertence o Património?”, enquadrou-se no aceso debate da proposta de Lei de Bases do Património (que depois deu origem à Lei 107/2001, em vigor), reunindo em Almada alguns dos principais protagonistas: João Zilhão (pelo IPA), José Morais Arnaud (em representação simultânea do IPPAR e da Associação dos Arqueólogos Portugueses), Virgílio Hipólito Correia (Associação Profissional de Arqueólogos), Luís Raposo (Museu Nacional de Arqueologia), Fernando António Baptista Pereira (Museu de Setúbal) e João Martins Claro (jurista). O CD-Rom reproduziria a gravação em vídeo dos principais momentos do debate, com um elaborado e original trabalho de edição a permitir o seu acompanhamento sequencial, mas também a comparação directa das diferentes opiniões sobre as principais questões. Para além disso, fruto de uma parceria estabelecida entre o CAA e a empresa Priberam Informática Ldª, o mesmo disco reunia pela primeira vez em suporte digital uma colectânea da legislação portuguesa e internacional aplicável ao Património, ainda hoje ferramenta muito útil para os profissionais da área. O segundo CD-Rom, “Arqueologia do Alqueva”, só foi possível com o suporte da EDIA e da sua equipa de acompanhamento do plano de minimização de impactos no Património, consistindo essencialmente nu-

“Mas Al-Madan, no contexto da acção do CAA, procurou sempre ser um projecto de intervenção mais vasto e ambicioso que uma simples revista, com gestão criativa e judiciosa dos recursos internos e exploração, quando possível, dos que as circunstâncias colocavam ao seu alcance”.

ma carta arqueológica dinâmica das principais ocorrências e projectos desenvolvidos até à entrada em funcionamento da barragem do Alqueva. Deste modo se acompanharam as constantes transformações nas tecnologias da informação e comunicação, não só em benefício da melhoria da edição impressa, mas também pela sua complementaridade com os novos suportes e meios de difusão. A crescente implantação da Internet foi outra das áreas que mereceu atenção, inicialmente através da rubrica “Escavando Online”, onde, desde o n.º 6 (1997), Mila Simões de Abreu dá aos leitores sugestões das páginas que considera mais interessantes, mas principalmente com a criação e alimentação, desde Abril de 2004, da página da própria Al-Madan (http://www.alma dan.publ.pt) 4. Com mais de 36 mil acessos até à data em que se escrevem estas linhas, este site inclui não só informação estática sobre o modelo, os objectivos, as condições de produção e as normas de colaboração da revista, mas também as formas de encomenda directa e de assinatura, os postos de venda, a tabela de publicidade, os índices completos e informação detalhada de todos os

4 Esta nova valência do projecto Al-Madan foi também concretizada exclusivamente com recursos internos do CAA, mais uma vez num esforço autodidacta de aprendizagem em contexto de utilização do software disponível para a produção de páginas na Internet.

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Publicação do n.º 1 (Iª Série) de Al-Madan. “XVIIª Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura” do Conselho da Europa, instalada em vários núcleos na cidade de Lisboa, entre os quais a Casa dos Bicos, após recuperação do imóvel e realização de uma das primeiras intervenções de Arqueologia urbana na capital, sob a direcção de José Luís de Matos e Clementino Amaro. Terceira edição, revista, de Portugal Romano, de Jorge de Alarcão (Editorial Verbo). As duas anteriores tinham ocorrido em 1973 e 1974. Uma quarta edição viria a suceder em 1987. Publicação do primeiro volume da Série IV de O Arqueólogo Português (Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia), revista fundada por José Leite de Vasconcellos, em 1895. Embora com períodos de irregularidade, a série mantém-se activa, com uma nova orientação editorial desde o n.º 21 (2004) e o volume mais recente (n.º 25) apresentado em 2007. A pesquisa aos índices está acessível na página do MNA (http://www.mnarqueologia-ipmuseus.pt/?a=6&x=3&cc_ tipo=47). Publicação do primeiro volume da IIª Série da revista Arquivo de Beja, que recuperaria o título fundado por Abel Viana em 1944. Editada com regularidade até 1995, a revista conheceu uma IIIª Série entre 1996-1998, para só reaparecer em 2007, quando a Câmara M. de Beja apresentou o primeiro volume da IVª Série, no contexto do “IIº Encontro de Arqueologia de Beja” (12-13 Abr.). A mesma autarquia já organizara em 2000 (16-18 Nov.) as “IIIªs Jornadas / Congresso da Revista Arquivo de Beja”.

1984 Publicação do n.º 2 (Iª Série) de Al-Madan, com extensa reportagem sobre a exposição promovida pelo Conselho da Europa no nosso país (1983) e um primeiro dossiê especial, “Os Descobrimentos e a Outra Banda”, ainda hoje essencial para a compreensão do papel desempenhado pela margem Sul do estuário do Tejo no apoio à expansão portuguesa. Publicação de Inscrições Romanas do Conventus Pacencis: subsídios para o estudo da romanização, de José d’Encarnação (Coimbra: Instituto de Arqueologia da Univ. de Coimbra). Publicação de Bibliografia Arqueológica Portuguesa (1935-1969), de Eduardo Pires de Oliveira (Lisboa: IPPC). No ano seguinte, o mesmo autor publicaria o volume dedicado aos anos 1970-1979 e em 1993, já em edição do IPPAR, o que abrange o período entre o século XVI e 1934. Publicação do n.º 1 da série Trabalhos de Ar90 queologia (Lisboa: IPPC / IPPAR / IPA).

volumes editados, com resumo dos principais artigos. A maior utilidade residirá, contudo, nas secções dinâmicas de Fórum e, principalmente, de agenda de eventos actualizada quase diariamente, com tudo o que chega ao nosso conhecimento sobre reuniões científicas, acções de formação, novidades editoriais, exposições ou iniciativas de turismo cultural. E novas funcionalidades se acrescentarão, quando justificado e desde que reunidas condições para tal. Por exemplo, a apresentação pública deste volume será acompanhada da entrada em funcionamento de um blogue, aberto ao comentário público e alimentado por um grupo de arqueólogos convidados. A popularização e generalização do acesso à Internet vem fazendo com que esta se assuma cada vez mais como eficaz via alternativa à disponibilização de conteúdos, com custos de edição e distribuição muito mais reduzidos e sem as limitações de espaço dos volumes impressos. Por isso, desde 2005 (n.º 13), a Al-Madan é editada simultaneamente em papel e em suporte electrónico, com a Al-Madan Online - Adenda Electrónica a satisfazer as necessidades do número cada vez maior de autores que nos procura. Deste modo, podemos colocar os seus artigos, em formato PDF mas com o mesmo cuidado editorial e gráfico da revista original (mais 62 páginas, tanto no n.º 13, como no 14), à disposição de públicos muito mais diversificados do que os alcançados pelo mercado livreiro e pelas vias de distribuição tradicional.

O indispensável balanço Os méritos Se alguns méritos podem encontrar-se no projecto Al-Madan, serão certamente os da consistência e persistência: o modelo foi aperfeiçoado em coerência com a experiência adquirida e houve capacidade de resistir ao desgaste do tempo. Neste tipo de projectos que se pretendem de grande duração, o difícil nem sempre está no começo; o que custa verdadeiramente é mantê-los. O sintético historial acima traçado prova também tratar-se de um projecto não acomodado, com capacidade de autocrítica, aprendizagem e organização no sentido da transformação positiva e do acompanhamento das novas condições de produção e

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distribuição alargada de conteúdos de natureza científica. Para além disso, parece consensual que boa parte do êxito editorial se deve a um posicionamento de independência face a instituições e “grupos” que ainda detêm maior ou menor influência no meio arqueológico português, e à forma isenta e equilibrada como se tem procurado gerir a sua linha editorial, sem fugir aos assuntos mais polémicas mas no respeito pelas posições dos vários protagonistas. Esse posicionamento tem permitido que se concretize uma das principais características do modelo subjacente à Al-Madan, com a constante abertura à expressão de correntes de opinião e ao seu debate a completar a estrita divulgação de artigos ou noticiário de natureza científica. Ainda assim, este é um campo difícil de trilhar no meio arqueológico nacional, desde logo porque são subjectivas as fronteiras da análise crítica construtiva e, principalmente, porque nem todos estão à vontade para esse exercício, tanto no plano dos que criticam, como no dos que são alvo de crítica ou comentário. Facilmente se resvala das questões centrais para processos de intenção ou ataques pessoais, ou depressa se invocam esses argumentos para não responder aos comentários mais incómodos. Apesar do cuidado com que se têm procurado tratar estas questões, talvez nem sempre se tenham encontrado as melhores soluções. Ainda assim, as páginas da Al-Madan e o seu site retratam um salutar processo de aprendizagem colectiva da conciliação entre os direitos à livre expressão de opinião e à defesa da imagem pessoal e profissional, com bons exemplos de debate franco e aberto, sem fugas nem concessões, como o que encerrou a discussão em torno da arte rupestre do Guadiana (N.º 12, de 2003). Por outro lado, no seu todo, Al-Madan espelha, de modo cada vez mais abrangente, a comunidade arqueológica portuguesa e a sua transformação no tempo, com a integração do trabalho e do pensamento de jovens e menos jovens investigadores 5, sem outros constrangimentos que não os padrões de qualidade e a adequação ao modelo editorial.

5 Com o presente número, são 461 os colaboradores que já viram trabalhos seus publicados na Al-Madan, num total de 1051 colaborações assinadas (edição impressa + adenda electrónica).

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CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE ALMADA

ANOS al-madan

ISSN 0871-066X | IIª Série (15) | Dezembro 2007

Podemos, por isso, dizer que é hoje um periódico com verdadeira representatividade nacional, ao cobrir actividades em praticamente todo o país, reconhecido como o principal repertório anual da Arqueologia portuguesa, onde se substitui a projectos editoriais que entidades com outras responsabilidades não conseguiram manter, como o da Informação Arqueológica, por exemplo. Tem também promovido com alguma eficácia a abertura a outras áreas disciplinares e a integração com diferentes áreas do saber e com outras perspectivas de abordagem patrimonial. Em suma, através da Al-Madan e explorando as melhores virtualidades do modelo associativo, o CAA tem cumprido neste campo uma verdadeira missão de serviço público, não só pelo estímulo à investigação e produção de conteúdos, mas principalmente pela abertura inovadora a novos campos de interacção, que hoje, felizmente, outros percorrem. Olhando para trás, podemos dizer que parte do que as suas páginas fixaram seria público mais tarde ou mais cedo, em melhores ou piores condições; mas também constatamos com alguma satisfação que muitas matérias, hoje fundamentais para contextualizar a investigação arqueológica portuguesa dos últimos 25 anos, só foram escritas, só as podemos ler e deixar para memória futura, porque a Al-Madan existe. As insuficiências e constrangimentos Naturalmente, o percurso da Al-Madan é marcado também por várias insuficiências e constrangimentos, a mais relevante das quais será a dificuldade de cumprir um dos objectivos originais, ao não conseguir uma difusão tão ampla como o desejado junto de públicos menos especializados. De facto, à excepção do número dedicado aos sítios arqueológicos visitáveis (n.º 10, 2001), onde uma tiragem de 2500 exemplares quase esgotou em muito pouco tempo, as vendas de outros números, ainda que muito superiores a publicações nacionais congéneres, são algo irregulares e, nalguns casos, apenas se aproximam do milhar. Uma das razões para que tal suceda será a deficiente distribuição, problema já aflorado acima. De facto, o CAA não tem estrutura nem vocação para assegurar esta função, fazendo-o apenas, o melhor que pode e sabe, pela falta de alternativas credíveis. Esta é, aliás, uma dificuldade comum

“Em suma, através da Al-Madan e explorando as melhores virtualidades do modelo associativo, o CAA tem cumprido neste campo uma verdadeira missão de serviço público, não só pelo estímulo à investigação e produção de conteúdos, mas principalmente pela abertura inovadora a novos campos de interacção, que hoje, felizmente, outros percorrem. Olhando para trás, podemos dizer que parte do que as suas páginas fixaram seria público mais tarde ou mais cedo, em melhores ou piores condições; mas também constatamos com alguma satisfação que muitas matérias, hoje fundamentais para contextualizar a investigação arqueológica portuguesa dos últimos 25 anos, só foram escritas, só as podemos ler e deixar para memória futura, porque a Al-Madan existe”.

às publicações de natureza arqueológica, que vão sendo frequentes mas normalmente limitadas à circulação por permuta ou em meios locais e pouco acessíveis. O sistema de encomenda à distância ou a venda online servem os mais atentos ou ligados à área, mas não são determinantes na conquista de novos públicos. É fundamental que as empresas distribuidoras apostem também neste sector de mercado, dando maior visibilidade às novidades editoriais na área da Arqueologia.

Também não ajuda à conquista e fidelização de novos públicos um sistema de periodicidade tão alargada como o da Al-Madan, com apenas um número por ano. Esse é, contudo, um problema difícil de ultrapassar, quer pelas actuais condições de produção do CAA, onde, como vimos, ninguém se dedica em tempo exclusivo a este projecto, quer pelo volume de produção externa que nos chega. Mas a razão mais profunda para os constrangimentos à divulgação da Al-Madan terá necessariamente de procurar-se nas insuficiências de um modelo editorial que se impôs no meio arqueológico, em franjas de outras áreas que com este se relacionam, mas não muito mais que isso. Provavelmente, ao pretender dirigir-se tanto a investigadores e profissionais como a outros leitores menos especializados, tentou-se uma solução que não é ainda a mais adequada à divulgação científica alargada das temáticas que nos ocupam. Tentar manter a Al-Madan na via da divulgação científica tem sido, aliás, uma experiência por vezes difícil de gerir, quando alguns autores escrevem para esta revista como escreveriam para O Arqueólogo Português ou para a Revista Portuguesa de Arqueologia, só para mencionar dois dos principais periódicos especializados na edição arqueológica em Portugal − é útil e pedagógico que todos os temas, problemáticas, conceitos e terminologias surjam tanto nas publicações especializadas como nas de divulgação; não poderão é ser abordados da mesma maneira, sem atender ao público a que preferencialmente se destinam. E a Al-Madan não é feita para ser lida apenas por especialistas, e muito menos por especialistas de áreas muito particulares. Por fim, manter este projecto editorial no contexto de uma associação privada sem fins lucrativos e com recursos limitados é razão para fundadas e naturais preocupações de equilíbrio financeiro. Não se trata de nenhum organismo da administração pública com orçamento para o desempenho dessa missão e expectativa de retorno em circuito de permutas, nem de uma empresa privada que assuma os custos no âmbito de uma estratégia de promoção dos seus serviços. No caso do CAA, a Al-Madan tem de se suportar a si própria, com despesas compensadas pela soma dos apoios a título de subsídio, das receitas de publicidade e das vendas. Infelizmente, a tendência crescente para subida de despesas não é acompanha-

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25 ANOS DE ARQUEOLOGIA EM REVISTA Cronologia 1984 (continuação) 88 Após um curto interregno, a edição é retomada em 1992 (n.º 6), para atingir o n.º 50 em 2007. É possível o acesso integral aos conteúdos dos números 10 a 50 através da página do antigo IPA (http://www.ipa. min-cultura.pt/, Publicações). Publicação do n.º 1 do Boletim de Ligação do Centro de Arqueologia de Almada, periódico quadrimestral que mantém essa regularidade até ao presente (n.º 49 Out. 2007). Faro: “Seminário Sobre a Investigação e a Defesa do Património Arqueológico”, promovido pela Unidade de Arqueologia da Univ. do Algarve, que marcou uma etapa da internacionalização da Arqueologia portuguesa, ao promover um debate com a presença dos arqueólogos Lewis Binford e Ian Hodder. Este último voltaria ao nosso país em 1988, para participar em “Seminário de Arqueologia Espacial” organizado pela Univ. Lusíada (Lisboa, Mar. 1988). 25 Fev., Setúbal: Seminário “Arqueologia da Arrábida”, organizado pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. Anos depois, o MAEDS, com o apoio da Fundação Oriente, organizaria no Convento da Arrábida duas edições do “Encontro de Arqueologia da Arrábida”, a primeira em 1998 (6-7 Nov.) e a segunda em 2007 (16-17 Nov.). Os dois principais impulsionadores destes eventos, Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, publicaram em 1986 a obra Arqueologia da Arrábida (Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza). 2 Mai.-2 Jun., Setúbal: Seminário “Cerâmicas Árabes, Medievais e Modernas”, também organizado pelo MAEDS. O mesmo Museu realizou posteriormente seminários temáticos sobre “Cerâmicas Romanas” (14-15 Abr. 1993), “Contextos Arqueológicos e Cerâmicas Muçulmanas” (10-11 Mar. 1995), “Cerâmicas de Engobe Negro (Áticas e Campanienses)” (7-8 Abr. 1998) e “Porcelanas Chinesas” (21 Out. 2005).

1985 Publicação do n.º 3 (Iª Série) de Al-Madan, com um dossiê especial sobre o movimento associativo do concelho de Almada. Reabertura do Museu Monográfico de Conimbriga, após profunda reformulação e projecto de musealização parcial das ruínas, que incluiu a cobertura da “Casa dos Repuchos”. Um dos mais visitados museus portugueses, abrira as suas portas ao público pela primeira vez em 1962. “Iª Exposição de Arqueologia Industrial: um mundo a descobrir, um mundo a defender” (Central Tejo, Lisboa). Publicação de Introdução ao Estudo da Casa Romana, de Jorge de Alarcão (Coimbra: Instituto de Arqueologia da Univ. de Coimbra). Publicação de Cerâmica Comum de Necrópoles do Alto Alentejo, de Jeannette Nolen (Lis92 boa: Fundação da Casa de Bragança).

da do lado das receitas, onde só aumentos nos volumes de publicidade e de vendas poderão colmatar recentes quebras de subsídios.

Perspectivas de futuro Para além da retrospectiva do percurso trilhado, o simbolismo associado aos 25 anos da Al-Madan é também propício à reflexão sobre o seu futuro. Se o levantamento dos aspectos mais positivos e a actual conjuntura da Arqueologia portuguesa nos fazem continuar a acreditar nas virtualidades e na necessidade de meios de divulgação alargada no seio da comunidade arqueológica, que estimulem a sua interligação com outras disciplinas científicas e áreas de intervenção patrimonial, museológica, de gestão e fruição do território…, e, principalmente, que promovam a sociabilização da sua actividade, também não é menos verdade que se detectam sinais de aparente esgotamento no actual modelo da Al-Madan. Torna-se por isso necessário redefinir estratégias a curto e médio prazo, adequando os modos de intervenção aos objectivos iniciais, mas também às novas realidades e necessidades, em função da experiência adquirida, conscientes, como afirmámos no Editorial do n.º 7, de que “um projecto com estas características sobreviverá se, e só se, souber dosear o empenhamento e voluntarismo que continuam a estar na sua génese com um distanciamento crítico que lhe permita auto-avaliar-se e, consequentemente, transformar-se para crescer”. Nesse processo se empenharão a equipa da Al-Madan e o próprio CAA, disponíveis para incorporar outros esforços individuais e parcerias institucionais, de modo a encontrar as respostas que melhor sirvam a afirmação da Arqueologia portuguesa e a identificação, estudo e promoção do Património que desejamos conhecer, preservar e partilhar, enquanto elemento activo da permanente reconstrução das memórias sociais e das identidades individuais e de grupo.

“Se o levantamento dos aspectos mais positivos e a actual conjuntura da Arqueologia portuguesa nos fazem continuar a acreditar nas virtualidades e na necessidade de meios de divulgação alargada no seio da comunidade arqueológica, que estimulem a sua interligação com outras disciplinas científicas [...] e, principalmente, que promovam a sociabilização da sua actividade, também não é menos verdade que se detectam sinais de aparente esgotamento no actual modelo da Al-Madan. Torna-se por isso necessário redefinir estratégias a curto e médio prazo [...]. Nesse processo se empenharão a equipa da Al-Madan e o próprio CAA [...], de modo a encontrar as respostas que melhor sirvam a afirmação da Arqueologia portuguesa e a identificação, estudo e promoção do Património”.

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