Além da EaD: Aprendizagem móvel e o desafio da educação para todos

Share Embed


Descrição do Produto

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

Além da EaD: Aprendizagem móvel e o desafio da educação para todos. ********** **********

Resumo – A educação é fator essencial para o desenvolvimento da sociedade. No Brasil, os índices relativos à educação apresentam-se inferiores aos desejados. A Educação à Distância surge como resposta a esses desafios educacionais, e ganha cada vez mais espaço. Além disso, a evolução tecnológica vem permitindo incremento nas práticas educacionais. A disseminação dos dispositivos móveis pessoais, como smartphones e tablets, estabeleceu uma mudança de paradigma nas formas de comunicação. Neste sentido, surge o conceito de Aprendizagem Móvel, na qual esses dispositivos suportam o compartilhamento de conteúdos, contribuindo para um aprendizado mais efetivo e personalizado. Embora a aprendizagem móvel apresente, ainda, iniciativas pontuais, as discussões vem avançando no meio acadêmico, o que pode ser observado pela crescente quantidade de publicações acerca da temática. O presente artigo questiona quais são os fatores necessários para desencadear a aprendizagem móvel como modelo de educação formal, buscando, por meio de um estudo exploratório documental, vislumbrar as perspectivas de aprimoramento desta nova prática educacional. A análise permitiu compreender elementos que constituem o desafio da consolidação da aprendizagem móvel – discutindo o papel da sociedade, do poder público e do segundo e terceiro setores da economia nas ações e na formulação de políticas públicas voltadas à educação móvel. Palavras-chave: Aprendizagem Móvel, Educação à Distância, Dispositivos Móveis, Políticas Públicas.

Introdução A educação é parte fundamental da construção e desenvolvimento de uma sociedade sólida e eficaz, e é uma ferramenta de impulso a melhores condições de vida. Em comparação a outros países, a educação no Brasil se apresenta com índices qualitativos e quantitativos significativamente inferiores aos desejados. Conforme já observado em outras locais, as fragilidades educacionais, se corrigidas ou minimizadas, podem refletir positivamente em outras áreas de interesse coletivo. Os processos educacionais devem responder e adaptar-se às demandas sociais de maior eficácia e rapidez, à dinâmica de uma sociedade ativa, 1

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

constantemente transformada e conectada. À medida em que a Educação à Distância – EaD - ganha espaço e incremento nas práticas educacionais, surge a necessidade de um alcance cada vez maior, em especial daqueles que, por alguma razão, tem um acesso dificultado à educação. A exposição à informação, que advém das mais diferentes fontes e nas mais diversas formas, vem exigindo uma “sofisticação” do aprendizado. A relação docente-discente, bem como destes com os conteúdos deve ser aprimorada para acompanhar este novo modelo social. É importante que o formato tradicional da sala de aula possa ampliar-se para outros âmbitos e superar limites, no sentido de aproximar-se cada vez mais do aluno, diversificando a compreensão do conteúdo e tornando a experiência do aprendizado mais constante e eficaz. Uma das formas de responder de maneira eficaz a este desafio educacional pode ser a utilização de dispositivos móveis – smartphones e tablets – como agentes de complementação da educação tradicional. Este processo constitui a aprendizagem móvel, também citada por diversos autores como Mobile Learning ou simplesmente M-Learning. Este sistema pode ocorrer a partir do compartilhamento de conteúdos significativos que contribuam para uma aprendizagem mais efetiva e mais personalizada. A disseminação destas ferramentas na sociedade estabeleceu uma mudança de paradigma nas formas de comunicação, e, além de permitir novas ações, também criou novas demandas – antes inexistentes. A utilização global de dispositivos móveis cresceu consideravelmente nos últimos anos. De acordo com a CISCO (2015), em 2014 o número foi de 7,4 bilhões de aparelhos e conexões, enquanto que em 2013 o valor era de 6,9 bilhões. A perspectiva para os próximos 4 anos é de 8,2 bilhões de dispositivos móveis em todo o mundo. No Brasil também ocorreu este incremento. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD (IBGE, 2013), o número de brasileiros que utiliza telefone celular aumentou consideravelmente nos últimos anos. Enquanto em 2005 este índice era de 56.258.000 pessoas, em 2013 passou a ser 130.176.000 pessoas, o que corresponde a 75,2% da população com mais de 10 anos de idade. O acréscimo corresponde a 131, 4% do valor inicial. As regiões Norte e Nordeste apresentam o menor número de pessoas que possuem estes aparelhos em relação às demais regiões. No entanto, destacam-se por apresentarem os maiores índices de crescimento neste intervalo de tempo: 22,8% e 24,9% respectivamente. O percentual de domicílios brasileiros com acesso à internet via dispositivos móveis – smartphones e tablets – já superou os 50% nas 5 regiões. Destaca-se, novamente, a região Norte, onde este valor é de 76,8%, superando, inclusive, o acesso via computador pessoal, que é de 64,8%.

2

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

Estes dados mostram que os dispositivos móveis possuem uma presença significativa na sociedade. Por natureza, a principal utilização destes aparelhos, entre muitas funcionalidades possíveis - é a comunicação entre pessoas – via ligação, mensagens de texto e voz e contatos em redes sociais. Faz-se necessário aproveitar o potencial desta tecnologia para que a utilização supere estes limites, e possa, também auxiliar no contexto de uma vida mais corrida, dinâmica e inteligente. Este é o desafio dos novos e emergentes moldes educacionais: promover o ensino e aprendizagem no formato “móvel”. Esta discussão é tema de documento da UNESCO, de 2014, sobre aprendizagem móvel, que traça um cenário e estabelece diretrizes para o desenvolvimento desta modalidade educacional. O documento, intitulado “O Futuro da aprendizagem móvel: implicações para planejadores e gestores de políticas”, faz parte de uma série de 14 publicações sobre o assunto, divididos por categorias de discussão e regiões geográficas. De acordo com Melo & Boll (2014),o número crescente de aplicativos voltados para a área educacional exigirá, nos próximos anos, que sejam criados repositórios didáticos para incrementar, organizar e administrar o material nestas plataformas. Isso pode representar, de acordo com as autoras, uma revolução nos moldes de acesso móvel e cultura digital, podendo contribuir, inclusive, para manter a frequência dos alunos. Como exemplo, pode-se citar uma das mais recentes possibilidades da EaD, os MOOCs – Massive Open Online Courses. Os MOOCs são plataformas que promovem uma participação interativa em larga escala, por meio de cursos online que são, muitas vezes, gratuitos (SERGEEVNA, 2015). No entanto, de acordo com Barros e Spilker (2013), há um índice elevado de evasão nas formas atuais de oferta de MOOCs, problema que pode ser explicado, provavelmente, pelo pouco reconhecimento, ainda existente, deste modelo de aprendizagem. Neste sentido, a adaptação para plataformas móveis pode contribuir para uma maior e melhor consolidação deste tipo de ferramenta educacional. A mudança de paradigma dessa nova modalidade de apropriação tecnológica gera a necessidade de aprofundar os atuais debates, questionando, além de “como” implentar a aprendizagem móvel, também “por que não” implementá-la? (FULLER; JOYNES, 2015). Assim, este artigo questiona quais são os fatores necessários para desencadear, efetivamente, a aprendizagem móvel como modelo de educação formal. O objetivo é, portanto, compreender quais são as perspectivas de aprimoramento desta nova prática educacional, em complementação à educação tradicional e presencial. Busca-se discutir, ainda, as diretrizes necessárias para proporcionar um aprendizado móvel personalizado, segundo expectativas sociais e necessidades individuais, no qual também seja possível a geração de atratividade. Para esta discussão, foi necessária a realização de um estudo exploratório 3

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

documental, elaborado a partir de documentos oficiais da UNESCO relativos à aprendizagem móvel (dos anos de 2014 e 2015), e complementando com outras referências. Para compreender como é possível efetivar a aprendizagem móvel e quais são as perspectivas desta modalidade educacional, este artigo levanta três questões distintas: inicialmente, um levantamento conceitual e da aprendizagem móvel. Em segundo lugar, as demandas necessárias para a implementação e consolidação desta nova prática na educação. Esta discussão servirá de base para, no terceiro tópico, discutir as responsabilidades dos atores envolvidos no processo. Por fim, faz-se uma análise destas questões em conjunto.

Aprendizagem móvel como prática educacional O conceito de aprendizagem móvel parte do pressuposto de aprendizado em qualquer lugar e momento, por meio da utilização de dispositivos tais como telefones móveis e tablets (UNESCO, 2013; GEORGIEV et al., 2004). Para Melo e Boll (2014), o conceito de aprendizagem móvel está relacionado às novas possibilidades de comunicação, como consequência da ampliação da capacidade de conexão e da criação de novas territorialidades. Este é um molde que permite novas práticas de trocas bilaterais entre professores e alunos (GEORGIEV et al., 2004). De acordo com Sharples et al. (2009), a aprendizagem móvel pode ser caracterizada como o processo de conhecimento que se dá na exploração de um meio interativo, onde estão presentes diversos contextos e tecnologias. Neste sentido, a aprendizagem móvel não confronta os moldes mais formais de educação, pois ambas as práticas possuem elementos fundamentais comuns: O contexto: Na aprendizagem móvel, o contexto é simultaneamente uma construção e um desafio. É uma construção pois é uma criação constante na interação entre pessoas. E é um desafio pois a sala de aula tradicional é fundamentada sobre um contexto estabilizado - um local fixo. Quando este modelo é transformado, como no caso da aprendizagem móvel, o desafio é criar a estabilidade temporária, retomando a idéia das práticas tradicionais de educação. A conversação: Funciona como uma “ponte” para estabelecer o aprendizado no contexto. Para os autores, o uso da tecnologia móvel não deve ser o alvo, mas o meio. Assim, o processo de aprendizagem deve ser misto, uma experiência combinada – ora auxiliado por estas tecnologias, ora não - e adequado conforme as necessidades. Este processo, segundo eles, deve ser entendido como parte de um novo estilo de vida que é cada vez mais móvel. Ao desconstruir a idéia da “vida móvel” 4

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

para melhor entender a aplicabilidade da aprendizagem móvel, alguns elementos são destacados: a) a possibilidade de mobilidade no espaço físico – com as pessoas em constante movimento; b) a mobilidade permitida pela tecnologia – com a evolução que permite múltiplas funções num único e leve dispositivo; c) a mobilidade num espaço “conceitual” – onde a atenção de cada indivíduo se molda de acordo com os múltiplos interesses pessoais; d) a mobilidade no espaço pessoal – em que há a participação de vários grupos sociais: entre os alunos, destes com as famílias, em locais de trabalho e outros. Em resumo, as possibilidades da aprendizagem móvel estão relacionadas à expansão do alcance, à otimização do tempo, à facilidade e agilidade de transmissão de dados, ao custo benefício, podendo também servir como fomento a metas mais abrangentes de educação, tais como a administração escolar e a relação escola-comunidade. (UNESCO, 2013). Embora as possibilidades educacionais e benefícios das plataformas móveis sejam muitas, a aplicação ainda é pontual e com poucos resultados - ou com resultados difíceis de mensurar. Isso se deve, em parte, à dificuldade normalmente gerada pela tecnologia – em termos operacionais e financeiros. Estes são, no entanto, fatores que podem ser contornados gradativamente por meio de planejamento e ações estratégicas, como será discutido mais adiante. Outra dificuldade comum é o relativo desconhecimento das possibilidades que os dispositivos móveis podem oferecer para a educação. No meio acadêmico essa é uma discussão que já avançou, pois surgiu em meio ao novo advento tecnológico e aos debates referentes à EaD. Uma busca simples na base de periódicos da CAPES apresenta que o termo “aprendizagem móvel” aparece em 105 publicações, sendo 17 delas nos últimos dois anos. Este pode ser o primeiro passo para que a temática seja mais conhecida na sociedade, e é papel dos pesquisadores ajudar a desmistificar e aprimorar o conceito.

AGENTES PROMOTORES DA APRENDIZAGEM MÓVEL A análise bibliográfica permite compreender que os desafios da consolidação da aprendizagem móvel podem ser resumidos em três áreas: o acesso, a apropriação da tecnologia e a formação/capacitação dos envolvidos. Estas questões devem ser consideradas em seus âmbitos quantitativo e qualitativo. Além disto, estas três áreas devem ser norteadoras da ação da sociedade e da formulação de políticas públicas voltadas à educação móvel.

5

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

Acesso O ponto de partida para a implementação e formalização da aprendizagem móvel é a infra-estrutura de acesso. Em primeiro lugar, pólos de apoio em que seja possível a instalação e bom funcionamento de equipamentos e de rede. Além disso, é preciso que seja possível ampliar e superar os limites da sala de aula tradicional – em plenitude, com a possibilidade de acesso a conteúdos e de diálogos com professores e outros alunos – para outros ambientes, como locais de trabalho, de trânsito e de residência. Faz-se necessária a elaboração de políticas públicas que promovam, em todas as esferas de poder, condições homogêneas e sustentáveis de conectividade e acessibilidade digital nos espaços públicos e privados. A UNESCO (2014), estabelece o termo “sustentabilidade de acesso” para a aprendizagem móvel. Ou seja, as mesmas características presentes no conceito de sustentabilidade - equidade, resposta às demandas sociais, custo-benefício, resiliência – devem ser consideradas no acesso aos dispositivos móveis. Assim, é preciso que haja um planejamento de equilíbrio entre a evolução tecnológica e a capacidade de absorção que cada comunidade tem de determinada tecnologia, considerando funcionalidades, preços, prazos de validade e necessidades específicas. O acesso aos dispositivos, além das questões técnicas já mencionadas, também está relacionado aos tipos de conteúdo veiculados entre alunos e professores. Primeiramente, é de absoluta importância que o conceito de responsabilidade social, que deve estar presente em toda relação docente-discente, seja também visível nas ações e funções disponibilizadas nas plataformas móveis. Neste sentido, é importante que haja instrumentos de controle e orientação ética para alunos e professores - criados nas próprias iniciativas educacionais e também pelo poder público. Além disso, é importante também que a aprendizagem seja personalizada, ou seja, que exista um processo de identificação das necessidades individuais dos alunos. Quando, em uma sala de aula tradicional, o professor tem condições que permite uma atenção individualizada a cada aluno, o processo de aprender torna-se mais eficiente e atrativo. E este sistema pode também ser utilizado em plataformas móveis, sendo enriquecido, ainda, pela diversas capacidades tecnológicas que podem auxiliar nesta função. Uma das possibilidades, por exemplo, é a disseminação de conteúdo em formatos diversos - vídeo-aulas, textos, infográficos, debates em hangout, skype, entre outros – que permitam ao aluno escolher o que melhor funciona para seu estilo de estudo. Este ambiente que permite uma variedade de modos de interação faz parte de um sistema denominado aprendizagem sensível ao contexto. Para Oliveira (2013, p.51), um sistema sensível ao contexto é aquele em que, de forma inteligente, extrapola-se o simples trabalho com as informações fornecidas pelo usuário, levando em conta também as informações “armazenadas em bases de conhecimento contextuais, as inferidas por meio de raciocínio e, ainda, aquelas percebidas a partir 6

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

do monitoramento do ambiente.” A aprendizagem sensível ao contexto - ao extrapolar a utilização de informações e aprofundando-as - aproxima-se do conceito de conhecimento ontológico e epistemológico de Nonaka e Takeuchi (1997). Para os autores, a informação é um fluxo de mensagens, e o conhecimento é gerado neste fluxo – Ou seja, a informação é um meio que permite que o conhecimento seja construído. Assim, o conhecimento está diretamente relacionado à ação, orientada por crenças e compromissos, é específico e relacional. Ao considerar a relevância das características de acesso aqui discutidas – infra-estrutura, responsabilidade, personalização – a tecnologia utilizada passa a ser naturalmente melhor compreendida, e assim, ainda mais facilmente disseminada na sociedade, como será abordado na sequência.

Apropriação da tecnologia Quando se propõe um paralelismo entre pessoas e tecnologias, cria-se uma tensão referente ao papel – privilegiado - do conhecimento, e qual o local legítimo da tecnologia (SHARPLES et al., 2009). A tecnologia possui um caráter naturalmente atrativo, pois pode auxiliar na resolução de problemas, otimizar o trabalho e oferecer novas possibilidades para as mais diversas necessidades. Na educação, é importante que este potencial natural seja aproveitado para a geração de interesse. O uso de dispositivos móveis pode, além de trazer novidades para o processo de aprendizagem, contribuir para uma maior participação, engajamento e frequência do aluno. A mudança de conceito da aprendizagem móvel – tecnologias essencialmente utilizadas para comunicação sendo usadas na educação – deve ser gradativa e constantemente revisitada. Essa alteração de paradigma é o que Cuban (1988) chama de mudança de segunda ordem. O autor caracteriza as mudanças que ocorrem no âmbito educacional em dois grupos: as de primeira ordem, mais superficiais, quando há necessidade de uma simples readequação ou correção, e as de segunda ordem, mais profundas, intervenções que alteram e reestruturam as condições da instituição, os papéis de cada um e as rotinas. As mudanças de segunda ordem trazem soluções inovadoras, muitas vezes trasngressoras, e exigem questionamento, planejamento e formação dos atores envolvidos. Assim, um elemento fundamental para o sucesso deste processo é a apropriação da tecnologia pela sociedade que fará uso dela. Conforme a teoria da Construção Social das Tecnologias - SCOT, os artefatos são construídos culturalmente e socialmente, e a eles a sociedade atribui 7

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

significados. Ou seja, as pessoas, constituintes de grupos sociais – na comunidade, no mercado, no poder público, etc - determinam qual é a demanda e por quê ela existe, e qual a tecnologia que responderá a essa demanda (PINCH, BIJKER, 1984). Em muitos casos, usar o dispositivo móvel como complemento educacional pode apresentar-se como um fator de dificuldade para a comunidade, seja pelo nãoconhecimento, pela falta de hábito ou pela interface. Para que o dispositivo seja observado como propulsor do crescimento e do desenvolvimento, e não com medo do novo, deve-se planejar o sistema de modo a simplificar ao máximo o acesso. Além do manejo da tecnologia, deve-se atentar para a questão do formato da mensagem a ser transmitida. O conteúdo veiculado em dispositivo móvel exige um modelo didático diferenciado daquele utilizado em uma sala de aula tradicional. A adaptação deve considerar, por um lado, a apresentação do conteúdo em linguagem adequada à tecnologia. Por outro lado, deve-se evitar que neste processo crie-se superficialidade, sendo necessário levar em conta a responsabilidade e a relevância do conteúdo em termos formais. A consideração destes pontos leva a uma naturalização gradativa do objeto tecnológico, fazendo com que ele seja paulatinamente visto como a ampliação da sala de aula tradicional.

Formação Paulo Freire, afirma que deve ser combatida a visão “bancária” da educação, na qual o modelo é fixo: educador é o que sabe, portanto,educa, e educandos são os que não sabem, portanto, educados. Para Freire (1987, p.11): “o educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis.” Assim, o processo de busca pelo conhecimento é negado. Deve-se pensar sempre em uma realidade em que os dois lados – docente e discente – são aliados e são sujeitos da ação. Esta idéia leva a crer que a educação deve ter sempre um olhar visionário, o que justifica, novamente, a opção pela diversificação do ensino por meio de plataformas móveis. No entanto, a simples adoção da tecnologia no meio acadêmico não garante o incremento do ensino. Ela é a ferramenta, e o sucesso ou o fracasso das iniciativas depende, priordialmente, do processo didático. A tecnologia exige, portanto, total e constante adaptação de ambientes e profissionais, no intuito de acompanhar a evolução das práticas pedagógicas. Um dos temores relacionados à aprendizagem móvel é o da aparente substituição do professor, ou até mesmo da sua desnecessidade frente à tecnologia. É importante considerar que não há uma substituição, mas uma alteração de papéis. Neste ambiente, de acordo com Santana et al. (2014), a atividade do professor é ampliada, pois além de transmitir informações e orientar, também deve-se dar o 8

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

incentivo a novas experiências. comprometimento pedagógico.

Isto

requer

planejamento,

pesquisa

e

Nessa nova configuração os professores, bem como os alunos, são “produmidores” na aprendizagem (UNESCO, 2013). Ou seja, ao mesmo tempo em que consomem o conteúdo, produzem-no, numa relação bilateral de trocas. Para que isto ocorra de maneira acertiva, é necessária que haja planejamento e preparação dos envolvidos. A implementação e consolidação da aprendizagem móvel depende, como terceiro fator-chave, da formação docente. A consolidação da educação permeada por tecnologias deve ser, de acordo com Laurillard et al. (2009), sistêmica. É importante que os professores estejam envolvidos com o conceito de ensino permeado por tecnologias, de forma a montar uma rede docente colaborativa. Deve-se entender o contexto profissional, quais são as práticas a ser aprimoradas. Além disso, é importância que haja conformidade entre a inovação e os valores docentes, bem como tempo hábil para analisar a estrutura pedagógica. A nível institucional, é importante que sejam assumidos os benefícios da aprendizagem móvel: para o aluno, por meio de sua experiência, e para a instituição, com os repositórios criados. O desafio da aprendizagem móvel está, especialmente, em ir além de “como” utilizar os dispositivos, pois a emergente quantidade de aplicativos e funcionalidades pode gerar uma saturação no usuário. A responsabilidade está em fomentar o uso de maneira profissional e voltada para o aprendizado, propriamente, tanto individual quanto institucional (FULLER; JOYNES, 2015).

AGENTES SOCIAIS DA APRENDIZAGEM MÓVEL A consolidação da aprendizagem móvel enquanto complementação da educação tradicional depende de açoes provenientes do Estado, da sociedade e dos setores econômicos – especialmente segundo e terceiro (figura 01). Estes três agentes tem papel fundamental na valorização desta modalidade, e possuem em comum a responsabilidade de fazer o sistema funcionar com o máximo de aproveitamento educacional e minimizando os riscos. No âmbito educacional, o Estado tem papel impulsionador e fiscalizador. As políticas públicas devem fomentar a inovação na educação, reconhecendo, em primeiro lugar, a aprendizagem móvel como modelo educacional válido e eficaz. Em segundo lugar, deve-se formalizá-la como possibilidade e estratégia de incremento do ensino, admitindo os benefícios da prática. Por fim, as ações pontuais devem ser convergentes aos interesses coletivos, de modo a contemplar os três elementos aqui discutidos: a acessibilidade, em termos de condições infra-estruturais e de responsabilidade social; a apropriação das tecnologias, como reconhecimento da prática educacional móvel; e a formação constante dos profissionais envolvidos. 9

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

À sociedade, por sua vez, compete o papel de comprometimento com estes novos moldes educacionais. Deve-se assumir as vantagens e os riscos do modelo, aproveitando-o plenamente e construindo um sistema sólido e valorizado de educação inovadora. Neste sentido, é relevante também a observação dos erros e acertos, a fim de que as instituições e o poder público sejam cobrados no intuito de constante aprimoramento. Aos setores econômicos, por fim, cabe o papel de propriciar condições estruturais e técnicas de fomento à aprendizagem móvel. No âmbito desta temática, ressalta-se especialmente a participação do segundo setor – enquanto desenvolvedor da tecnologia – e do terceiro setor – enquanto provedor de serviços técnicos e estruturais para o bom funcionamento da mesma. Neste sentido, os setores são responsáveis por oferecer à sociedade e ao poder público possibilidades e ferramentas para que os dispositivos tenham largo alcance, atratividade e múltiplas funcionalidades. Isso pode ocorrer simultaneamente por meio do desenvolvimento tecnológico propriamente dito, com apoio financeiro, em incentivo à criação de novas interfaces e em parcerias com a academia. Figura 1 – Tripé Estado-Sociedade-Setor Econômico e o papel na consolidação da aprendizagem móvel como prática educacional recorrente.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

10

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

CONSIDERAÇÕES FINAIS A apredizagem móvel emerge como modelo inovador e potencialmente capaz de responder ao desafio educacional brasileiro. Embora os dispositivos móveis sejam cada vez mais práticos e funcionais, a utilização dos mesmos como ferramentas de ensino ainda é incipiente, informal e pouco valorizada na sociedade. Conforme discutido neste artigo, a elaboração e implementação de políticas públicas são parte fundamental do processo de consolidação da aprendizagem móvel. O poder público possui as ferramentas para formalizá-la, reconhecendo-a como modelo de educação ativo não apenas no ensino superior, mas também em outras fases da vida escolar. A aprendizagem móvel poderá atender às expectativas sociais a partir de uma relação integrada e mutuamente benéfica de duas ações fundamentais: de um lado, o incentivo top-down, ou seja: o apoio proveniente do poder público - por meio de políticas específicas - auxiliando as instituições em termos legais, e estas, por consequência, criando condições de formação responsável e capacitação do corpo docente para o trabalho com as novas tecnologias. De outro lado, a participação bottom-up da sociedade discente, bem informada e capaz de utilizar esta tecnologia, gerando conhecimento a ser disseminado em rede e atendendo às demandas individuais. Estas relações se complementam e se retroalimentam, num processo que não apenas utiliza a tecnologia como suporte, como também a vislumbra como finalidade, impulsionando o desenvolvimento de novas funcionalidades a partir das demandas como maior rapidez e melhor retorno. Entende-se que neste processo de adaptação às novas práticas educacionais, o sucesso está diretamente atrelado à disposição dos atores envolvidos, no sentido do constante aprimoramento das práticas pedagógicas.

Referências BARROS, D. M. V..; SPILKER, M. J. Ambientes de Aprendizagem Online: contributo pedagógico para as tendências de aprendizagem informal. Revista CeT Contemporaneidade Educação e Tecnologia, v. 1, n. 3, p.28-39, 2013. Disponível em: < http://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2812/3/Barros_Daniela_artigo_20 13.pdf> Acesso em jun.2015. CISCO. Cisco Visual Networking Index: Global Mobile Data Traffic Forecast Update, 2014–2019. Cisco VNI Forecast, 2015. 11

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

CUBAN, L. The managerial imperative and the practice ofleadership in school. Albany: State University of New York Press, 1988. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FULLER, R.; JOYNES, V.. Should mobile learning be compulsory for preparing students for learning in the workplace? British Journal of Educational Technology, v. 46, n. 01, p. 153-158, 2015. GEORGIEV, T.; GEORGIEVA, E.; SMRIKAROV, A. M-Learning - a New Stage of ЕLearning. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTER SYSTEMS AND TECHNOLOGIES - COMPSYSTECH’, 2014, Rousse. Proceedings.... Disponível em: Acesso em: jun. 2015. IBGE - Coordenação de Trabalho e Rendimento. PNAD: Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2013. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. LAURILLARD, D.; OLIVER, M.; WASSON, B.; HOPPE, U. Implementing TechnologyEnhanced Learning. In: BALACHEFF, N.; LUDVIGSEN, S.; DE JONG, T.; LAZONDER, A.; BARNES, S. (Eds.). Technology enhanced learning: Principles and products. Heidelberg: Springer, 2009. p. 233- 249. MELO, R. da S.; BOLL, C. I. Cultura Digital e Educação: desafios contemporâneos para a aprendizagem escolar em tempos de dispositivos móveis. In: CICLO DE PALESTRAS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO, 23, 2014, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: UFRGS – Cinted, 2014. NONAKA, I. TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues e Priscilla Martins Celeste. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. OLIVEIRA, E. A. I-collaboration 3.0: um framework de apoio ao desenvolvimento de Ambientes Distribuídos de Aprendizagem Sensíveis ao Contexto. 2013. Tese (Doutorado em Ciência da Computação), Universidade Federal de Pernambuco,

12

XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

Recife, 2013. PINCH, T. J.; BIJKER, W. E. The Social Construction of Facts and Artefacts: Or How the Sociology of Science and the Sociology of Technology Might Benefit Each Other. Social Studies of Science, v. 14, n. 3, p. 399-441, 1984. SANTANA, C. M. H.; PINTO, A. de C.; COSTA, C. J. de S. A. A ubiquidade das tdic no cenário contemporâneo e as demandas de novos letramentos e competências na EaD. In: Congresso Brasileiro de Ensino Superior à distância – ESUD, 11, 2014, Florianópolis. Anais... Florianópolis, 2014. p. 1805-1819. SERGEEVNA, K. D. Some advantages and disadvantages of MOOCs in education. Young Scientist, v.4, n.84, p.573-574, 2015. SHARPLES, M.; MILRAD, M.; ARNEDILLO-SÁNCHEZ, I.; VAVOULA, G. Mobile learning: Small devices, big issues. In BALACHEFF, N.; LUDVIGSEN, S.; DE JONG, T.; LAZONDER, A.; BARNES, S. (Eds.). Technology enhanced learning: Principles and products. Heidelberg: Springer, 2009. p. 233- 249. UNESCO. Diretrizes de políticas para a aprendizagem móvel. UNESCO, Brasília, 2013. UNESCO. O Futuro da aprendizagem móvel: implicações para planejadores e gestores de políticas. Brasília: UNESCO, 2014.

13

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.