Alemão para universitários: formas híbridas

June 14, 2017 | Autor: Paulo Oliveira | Categoria: E-learning, Teaching of Foreign Languages, Teaching German As a Foreign Language
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In: Caderno de Letras 24. Língua Estrangeira em Sala de Aula: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: UFRJ. 2008, pp.59-84. (ISSN 1413-0238)

Alemão para universitários: formas híbridas Paulo Oliveira, Norma Wucherpfennig e Anisha Vetter (Universidade Estadual de Campinas) Resumo: Discutimos aqui duas plataformas eletrônicas usadas para o ensino de alemão, em combinação com materiais didáticos em suporte convencional (livro e CD). O projeto dá continuidade a uma longa tradição de pesquisa por soluções que atendam adequadamente as necessidades específicas de um público universitário, em contexto de aprendizagem de língua estrangeira (e não de segunda língua). A análise concreta remete a dois cursos intensivos oferecidos em fevereiro de 2008, com continuidade prevista até o final de 2009. Averiguamos os prós e contras de cada abordagem, como hipóteses de trabalho a serem confirmadas ao longo do processo em curso. Abstract: We here discuss the use of two different electronic platforms for teaching German, in combination with didactic materials on conventional support (book and CD). The project is in a line of continuity with a long research tradition that quests for suitable solutions for the specific needs of an academic public in the context of foreign language acquisition (as opposed to second language). The concrete analysis is based on two intensive courses that took place in February 2008 and shall bee continued until the end of 2009. We raise the pros and cons of each approach as working hypotheses to be confirmed as the process goes along.

1. Introdução: histórico e contextualização Desde a criação do Centro de Ensino de Línguas (CEL) da Unicamp, há pouco mais de 20 anos, uma das principais preocupações de sua área de alemão tem sido a busca por formas adequadas para atender as demandas específicas do público universitário, em consonância com os recursos disponíveis e a discussão especializada na área. Alguns pontos cardinais no percurso percorrido até o momento foram a introdução de disciplinas de alemão instrumental (voltadas para a habilidade de leitura) em 1989, o projeto de ensino a distância Alemão como língua de cultura e ciência, de 1993 a 1995, e a criação de disciplinas de alemão semipresencial (blended learning) em 2000. Característica comum dessas iniciativas é seu caráter marcadamente híbrido, em diversos sentidos. O alemão instrumental rompia com o paradigma comunicativo já hegemônico nos anos 80 em pelo menos dois aspectos. Por um lado, retirava o foco de interesse da comunicação oral do dia-a-dia, deslocando-o para a leitura de textos de interesse acadêmicocientífico e, com isso, passando de um registro coloquial para outro mais elaborado, marcado por tipos de texto e estratégias discursivas condizentes com as diferentes áreas de atuação. Isso só foi possível com o abandono parcial do monolinguismo estrito, abrindo espaço para discussões mais elaboradas, com o uso da língua materna dos aprendizes como metalinguagem. Aqui já se coloca uma importante distinção entre o que é possível, ou desejável, num contexto de aprendizagem de segunda língua (L2) ou de língua estrangeira (LE). Trata-se de explorar plenamente a capacidade cognitiva dos aprendizes, articulada em sua língua materna, para chegar à compreensão de discursos elaborados na língua-alvo. Se ainda não há hibridismo stricto sensu, pelo menos já convivem de modo explícito universos lingüísticos, culturais e discursivos distintos – com toda a tensão que essa mescla possa trazer à tona. O projeto de alemão a distância levado a cabo em colaboração com a FernUniversität Hagen nos anos 90 dava continuidade ao uso do português como metalinguagem e à utilização de um registro mais elaborado, porém resgatava o ensino das quatro habilidades lingüísticas, ainda que mantendo o foco principal na leitura. Além disso, trazia como novidade uma

proposta de trabalho mais autônomo dos aprendizes, praticamente em regime de auto-estudo (num período pré-internet, tendo como forma de comunicação sobretudo o correio e a comunicação telefônica). Levando em conta as características específicas do público brasileiro, o projeto da Unicamp introduziu um número maior de fases de presença, já prenunciando uma tendência que se consolidaria mais tarde em cursos a distância baseados na internet, i.e. a necessidade de se mesclar o ensino presencial com o trabalho a distância, forma hoje largamente conhecida por blended learning. A criação de disciplinas semipresenciais na virada do milênio consolida essa tendência, formalizando-a dentro de um formato específico. Ponto de partida foi a proposta de se utilizar um livro didático com fortes características de estudo autônomo (Die Suche) como roteiro geral de aprendizagem, complementando-o com formas de trabalho baseadas na internet. A plataforma eletrônica utilizada foi o TelEduc, software livre desenvolvido na própria Unicamp e adotado por um grande número de instituições no Brasil e no exterior. O advento da internet tornou factível aquilo que era viável somente a duras penas nas fases anteriores do ensino a distância (por correspondência e via rádio/TV): uma interação mais constante e confiável entre professor e alunos, condensando o espaço/tempo e dando outro dinamismo à comunicação. Em 2003, o método Die Suche foi substituído, em caráter experimental, por edições internacionais de Blaue Blume (com explicações em inglês ou espanhol), retomando a utilização de uma metalinguagem mais acessível aos aprendizes, como no alemão instrumental e no projeto conjunto com Hagen. A experiência foi bem sucedida e levou à elaboração de uma versão brasileira de Blaue Blume, produzida pela Editora da Unicamp, que hoje é utilizada não apenas nas disciplinas semipresenciais, como também naquelas que são oficialmente apenas presenciais – mas que já incorporam, em muitos casos, fortes elementos de ensino a distância. Paralelamente à oferta das disciplinas destinadas especificamente ao público interno da universidade, foram criadas instâncias de apoio a aprendizes em regime de auto-estudo, usando para isso uma vez mais a plataforma TelEduc. Com o passar do tempo e a necessidade de se ganhar em escala, introduzindo exercícios fechados, com auto-correção pelo sistema e em formatos variados, o TelEduc deixou de ser a plataforma ideal, pois tem apenas um leque limitado de recursos com essas características. Por esse motivo, em 2007 migrou-se para a plataforma Moodle, também um software aberto, com o diferencial de ter uma grande comunidade de usuários e desenvolvedores em vários países, além de agregar as mais recentes tendências da comunidade virtual e possibilitar uma integração mais orgânica com outros programas e recursos eletrônicos de ampla utilização. Nesse meio tempo, os materiais adicionais originalmente produzidos para uso com o TelEduc foram importados para o Moodle e complementados com outros, num processo de trabalho contínuo, ainda em curso e sem previsão de cessar. Como resultado do itinerário sintetizado acima,1 temos hoje um plano de trabalho destinado a estudantes universitários que combina um método com fortes componentes de autoestudo e metalinguagem em português (versão brasileira de Blaue Blume), aliado a uma oferta de materiais e formas de trabalho complementares no ambiente virtual Moodle, possibilitando dessa forma diferentes gradações na combinação de estudo a distância com presencial. Ainda que o suporte principal continue a ser o livro didático (e o CD de áudio), o ambiente virtual possibilita desde o complemento eventual das aulas presenciais (através de links e comunicação eletrônica, por exemplo), até o trabalho em situações de auto-estudo, preparando o aprendiz para operar de forma cada vez mais autônoma no espaço virtual, levando, no caso ideal, a uma gradativa superação da distinção LE vs. L2, na medida em que ele poderá estar imerso 1

Para maior aprofundamento e uma visão dos contextos que marcaram o percurso, vide FISCHER ET AL. (1993), SARTINGEN (1992), SARTINGEN ET AL (1996) e OLIVEIRA (2000, 2001, 2003a, 2003b, 2007a, 2007b), dentre outros.

no espaço cultural da língua-alvo mesmo estando fisicamente no espaço cultural de sua língua materna. Tal imersão, no entanto, é um alvo a ser atingido, e não um pressuposto metodológico. No itinerário, a língua materna do aprendiz continua a ser uma ferramenta de valor inestimável, que só perderá sua utilidade (ainda que parcialmente) no momento em que ele estiver numa imersão de fato (e não apenas virtual) – por exemplo, ao fazer um estágio ou complementar seus estudos num país de língua alemã. A possibilidade de uma tal situação de fato manteve a Unicamp, apesar de já ter uma proposta de trabalho bem delineada e com resultados práticos muito favoráveis na modalidade do blended learning, aberta a outras abordagens com objetivos semelhantes. Foi nesse espírito que se testou, em 2006, o curso uni-deutsch, baseado na plataforma DUO da Universidade de Munique. O interesse por uni-deutsch se justifica também pelo fato de ser um curso destinado a estudantes universitários que já tenham conhecimentos básicos em alemão (nível B1 do Quadro Comum Europeu para o Ensino de Línguas), ao passo que Blaue Blume e os materiais complementares no Moodle destinam-se exatamente a alcançar esse nível. Seria então um itinerário natural: trabalha-se primeiramente com Blaue Blume e Moodle num contexto de LE, usando uma metodologia condizente com esse contexto, mas já se vislumbra uma possível inserção acadêmica ou profissional num contexto de L2, onde certamente haverá necessidade de aprimoramento lingüístico para além do nível B1. Na seqüência, trabalha-se com unideutsch, eventualmente ainda no Brasil, preparando-se para uma estadia na Alemanha, ou outro país de língua alemã. Mais recentemente, surgiu a oportunidade de testar outros materiais destinados ao ensino a distância, em condições extremamente favoráveis, com suporte decisivo do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), que já tinha colaborado na execução do projeto conjunto com Hagen nos anos 90.2 Trata-se aqui do curso basis-deutsch, também da Universidade de Munique e na plataforma DUO, porém voltado para aprendizes iniciantes (níveis A1 e A2 do Quadro Comum Europeu). Pré-requisitos formais para obtenção do apoio do DAAD eram: a existência de um leitorado seu vinculado à universidade parceira, e de algum convênio dessa com instituição universitária alemã; a não-cobrança de taxas dos alunos e a formação de turmas voltadas para uma área específica do conhecimento (preferencialmente onde houvesse convênio); a sessão da infra-estrutura física necessária para os cursos. Não havia orientação específica quanto ao material e à metodologia a serem usados. De nossa parte, pesou na escolha de basis-deutsch a perspectiva de familiarização com a plataforma DUO, preparando os alunos dessa forma a darem continuidade com o curso uni-deutsch, em nível intermediário, e com os módulos de área específicos também disponíveis na mesma plataforma, em nível mais avançado. Outro aspecto levado em conta foi a possibilidade de testar novas formas de trabalho com esse material, para eventualmente incorporar algumas dessas práticas à metodologia usada na combinação de Blaue Blume com o Moodle. Dentro desse quadro geral, foram oferecidas no CEL/Unicamp, em fevereiro de 2008, duas turmas intensivas, com 20 alunos cada, para estudantes da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (FEEC), com apoio organizacional de seu Centro Acadêmico (Cabs). Como suporte para as aulas presenciais, que correspondem a cerca de 80% do programa nos níveis iniciais, foi adotado o método Schritte international 1, da editora Max Hueber de Munique (que também detém os direitos autorais de Blaue Blume, nas edições internacionais).3 2

O CEL/Unicamp conta com leitores do DAAD desde 1992. O projeto ora em pauta teria sido impossível sem o grande empenho do leitor atual, nosso colega Dr. Thomas Johnen, que coordenou toda a tramitação junto ao DAAD e aos outros parceiros dentro da própria Unicamp. 3 Destaque-se também que o DAAD deu apoio financeiro tanto à produção da edição brasileira de Blaue Blume como ao desenvolvimento da plataforma DUO, com seus diversos cursos: uni-deutsch, basis-deutsch e módulos específicos por área. Nesse sentido, há uma convergência de parcerias, com presença dos mesmos atores (DAAD, Unicamp, editora Max Hueber) nos diferentes cenários. No uso da plataforma DUO, tem-se a Universidade de Munique como parceiro adicional.

As considerações apresentadas mais abaixo refletem essa primeira experiência com o curso intensivo de verão, em condições, portanto, levemente atípicas. Haverá oportunidade de comprovar ou retificar as hipóteses aventadas nesse primeiro momento, tendo em vista a continuidade dessas duas turmas, já garantida para o 1º semestre de 2008 e projetada para mais quatro níveis (cursos extensivos durante os semestres letivos 2008/2, 2009/1 e 2009/2, e curso de verão no início de 2009). Complementarmente às duas turmas com basis-deutsch + Schritte international, está sendo oferecida uma turma de controle dentro do mesmo programa (DAAD / Cabs / FEEC), porém usando a combinação Blaue Blume + Moodle. A expectativa é de que o trabalho quase paralelo usando as duas abordagens, com o mesmo tipo de público e em condições semelhantes, ajude a delinear os pontos fortes e fracos de cada uma delas, contribuindo para futuros aprimoramentos e, em alguns casos, para definir a opção mais adequada em contextos específicos. Do ponto de vista institucional, e numa perspectiva de médio a longo prazo, trata-se de desenvolver alternativas que atendam adequadamente as necessidades do público universitário brasileiro, levando em conta não somente as habilidades e os conhecimentos necessários nas diferentes áreas do conhecimento, como também as possibilidades abertas pelas novas mídias, na devida combinação com formas de trabalho já consolidadas na nossa tradição de ensino/aprendizagem: formas híbridas no ensino de alemão para universitários brasileiros. Antes de passar à discussão mais específica, retomemos brevemente algumas questões mais amplas, envolvendo as características da produção e utilização de abordagens de ensino e materiais didáticos em contextos tão diversos como L2 e LE. Tendo refletido, ainda que de forma extremamente abreviada, sobre essas condições gerais, certamente será mais fácil perceber os pontos fortes e as limitações de cada abordagem, evitando assim o estabelecimento de parâmetros tidos como absolutos – mas que na verdade só fazem sentido diante do pano de fundo do contexto em que foram elaborados. As questões em pauta são de natureza diversa, e dizem respeito a aspectos tanto pragmáticos como metodológicos, sem hierarquizações. Em primeiro lugar, tome-se a diferença entre o contexto de L2 ou LE na pesquisa e reflexão sobre o método. No caso do alemão, o número de pesquisadores e instituições envolvidas com L2, tanto no plano conceitual como no da aplicação, é infinitamente maior do que sua contrapartida como LE no Brasil, o mesmo ocorrendo com o número de aprendizes. A escala é completamente diferente, e reflete-se também na possibilidade de testar novos materiais, na redução de custos ao se trabalhar com tiragens maiores etc., o que coloca a pesquisa em LE numa enorme desvantagem inicial. Além disso, os recursos disponíveis também são infinitamente maiores no contexto de L2. Do lado da aplicação, as condições de trabalho dos professores de alemão no Brasil também não são necessariamente comparáveis àquelas do contexto de L2 (carga horária não raro excessiva, infra-estrutura precária, acesso mais difícil a materiais autênticos etc.). Com tal quadro de desequilíbrio, não surpreende que a abordagem e os materiais didáticos predominantemente adotados no país sejam aqueles não só produzidos num contexto de L2, mas também voltados para esse contexto (embora comercializados em escala internacional). O Brasil consome abordagens e materiais produzidos nos países de língua alemã – até porque não consegue produzir em escala competitiva, ainda que isso seja feito em escala menor. Essa relação de produtor/consumidor, por outro lado, traz em si uma armadilha, do ponto de vista conceitual. Nos paradigmas atuais, o pressuposto da interculturalidade é um dos preceitos básicos, não se restringindo aos conteúdos a serem tratados, mas também à forma como se tratam tais conteúdos. Em tese, busca-se apresentar a língua e a cultura alvo para um público nelas interessado, sem colocá-las num patamar diferente daquelas desse público, i.e. reconhecendo a língua e a cultura do aprendiz (sua língua materna, suas tradições de ensino/aprendizagem etc.). O problema é que esse reconhecimento é, no limite, fictício, pois

diz respeito a uma abstração, um amálgama entre todas as culturas dos potenciais aprendizes – no caso, de tudo aquilo que não seja o alemão. Aqui se inverte a posição de vantagem, pois o contexto de aprendizagem é justamente aquilo que o professor ou pesquisador conhecem bem numa situação de LE: a língua materna do aprendiz, suas eventuais dificuldades, seus objetivos específicos etc. Adicionalmente, o objeto de estudos também está claramente definido, e pode-se recorrer, do ponto de vista dos objetivos gerais, a grande parte da pesquisa feita no contexto de L2. Nesse sentido, seria desejável aproveitar, sim, o conhecimento e os materiais produzidos no contexto de L2, agregando-lhes a perspectiva de uso em contexto de LE, e complementando-os com aquilo que a perspectiva de L2 não é capaz de fornecer. De certo modo, o mesmo tipo de questão conceitual aplica-se à opção por softwares proprietários ou livres, na escolha do ambiente eletrônico. A plataforma DUO está toda em alemão, de modo condizente com o contexto de L2 e sua condição de software proprietário. Em tese, seria desejável que ela fosse traduzida para os idiomas dos aprendizes, sobretudo quando utilizada em nível básico. Mas como fazê-lo para um número muito grande de línguas, se o público-alvo é a comunidade internacional? Além disso, há também questões de gerenciamento (local vs. central), como será exposto mais adiante. Já a perspectiva do software livre subjacente ao uso da plataforma Moodle é completamente outra. Por ter uma comunidade internacional de desenvolvedores, o Moodle fornece a seus usuários a possibilidade de trabalhar com interface em diferentes idiomas, dentre eles o alemão e o português. Até mesmo os termos da interface podem ser editados, caso o professor utilizador não esteja satisfeito com as soluções disponíveis. De resto, tanto os conteúdos como o próprio formato do curso na plataforma Moodle, tal como concebido na Unicamp para uso com Blaue Blume, são customizáveis. Isso, certamente, pressupõe um professor capaz de e disposto a assumir tal prerrogativa – o que nem sempre é dado, devido a fatores como os aludidos acima. Apesar dessa dificuldade, a condição de professor como co-autor dos materiais didáticos é certamente algo desejável e deveria ser incentivada nos projetos institucionais.4 Temos, assim, um certo paralelismo da relação software proprietário vs. software livre com aquela de L2 vs. LE. No primeiro lado da equação, tem-se a infra-estrutura institucional e a disponibilidade de recursos, aliada a uma relação de produtor/consumidor. No segundo lado, tem-se o caráter voluntário dos colaboradores, com pouca disponibilidade de recursos, mobilizando a filosofia de rede de trabalho colaborativo: o que se produz é socializado com a comunidade, por definição. Algumas das vantagens e desvantagens dessas alternativas serão ilustradas a seguir, com base em exemplos concretos. Por fim, há também algumas implicações de caráter financeiro. Se viável apenas com o suporte via internet na plataforma DUO, o curso basis-deutsch teria custos razoavelmente acessíveis, embora não necessariamente baixos.5 A necessidade de se usar um material didático complementar, sobretudo se importado, como Schritte international, traz consigo custos adicionais não desprezíveis. No caso de Blaue Blume, a redução dos custos foi um dos fatores que levaram à produção de uma edição brasileira, e a utilização do Moodle é livre. Por si só, esse fator não deveria ser decisivo na decisão por uma alternativa ou outra, mas ele certamente terá algum peso na equação geral, a ser montada caso a caso. Passamos a seguir à apresentação das duas plataformas e à comparação das possibilidades que elas oferecem. No que diz respeito ao Moodle, podemos recorrer a uma experiência de aproximadamente um ano em cursos de vários níveis (além dos vários anos de experiência 4

No tocante à técnica propriamente dita, também o Moodle demanda gerenciamento. Mas isso não precisa ser feito necessariamente de modo central, podendo-se instalar o programa na instituição usuária, recorrer a provedores alternativos ou mesmo do próprio professor – desde que ele tenha os conhecimentos técnicos para tanto. 5 No caso da Unicamp, a taxa de utilização por usuário, para cada um dos níveis (A1, A2), foi de € 45,00. Os custos variam de acordo com o número de licenças compradas pela instituição.

anterior com o TelEduc), ao passo que a análise de basis-deutsch + Schritte international remete apenas à experiência inicial nos cursos de verão oferecidos em fevereiro de 2008 no CEL/Unicamp. O aprofundamento dessas questões será feito à medida em que o projeto avançar.6

2. Deutsch-Uni Online Deutsch-Uni Online – DUO – é um portal interativo de aprendizagem de alemão para estrangeiros com apoio de tutores, desenvolvido pelo Laboratório Multimídia da LudwigMaximilians-Universität de Munique e do Instituto TestDaF de Hagen. O portal visa preparar estudantes para uma estadia na Alemanha ou em uma universidade alemã. Os diferentes cursos oferecidos dirigem-se a um público-alvo dos estudantes, pesquisadores ou aprendizes de alemão que buscam um acesso específico à língua. Os cursos existentes contemplam níveis e focos diversos: basis-deutsch (apresenta conhecimentos básicos da língua, do cotidiano e da cultura alemães (níveis A1 e A2), uni-deutsch (prepara estudantes para uma estadia na Alemanha; níveis B1 e B2), fach-deutsch (trabalha a linguagem técnico-científica em várias áreas; níveis C1 e C2), profi-deutsch (visa o uso da linguagem em contexto empresarial e econômico) e reading-german (enfatiza competências de leitura). Existem três modos de aprendizagem distintos com os cursos da plataforma DUO: (1) o auto-estudo, em que a pessoa estuda sozinha e sem apoio de monitores; (2) o estudo a distância, no qual há apoio e correções de tarefas orais e escritas por monitores a distância; e (3) o blended learning, numa combinação entre aula presencial e estudo a distância. Paralelamente, o Laboratório Multimídia oferece cursos com duração de um dia, destinados a preparar o professor para atuar como “tutor online”.7 Os cursos em questão contemplam os seguintes itens: a plena apresentação de todos os módulos e seus objetivos, o acesso como monitor e o manuseio de todas as vias de comunicação entre monitor e alunos, sendo elas Chat, Fórum e E-Mail. Outro ponto abordado pelo curso são as correções da produção oral e escrita dos alunos. Aprende-se como enviar feedback e corrigir textos, ouvir gravações de voz de alunos distantes e mandar mensagens em áudio. O curso basis-deutsch apresenta os fundamentos da língua (níveis A1 e A2) norteando-se pelo livro Schritte international, do qual segue a progressão temática e gramatical. Sendo assim, encontram-se no curso A1/1 as sete lições do livro: Guten Tag (Bom dia), Familie und Freunde (Família e amigos), Essen und Trinken (Comidas e bebidas), Meine Wohnung (Minha casa), Mein Tag (Meu dia), Freizeit (Lazer) e Lernen (Aprender). Ao entrar na página eletrônica de basis-deutsch A1/1, aparece um índice do curso (Inhaltsverzeichnis) na parte central, onde se definem os objetivos de aprendizagem (Lernziele), a gramática e o vocabulário de cada lição. Diferentemente de uni-deutsch (níveis B1 e B2), onde os módulos correspondem às diferentes habilidades, em basis-deutsch a barra de módulos (Bausteinleiste) à esquerda contém os nomes das lições (vide tela no Anexo 1).8 O acesso a um capítulo pode ser feito tanto pela barra de módulos quanto pelo índice do meio. A barra de constantes (Konstantenleiste), na parte de cima, possibilita um acesso aos itens Inhalt (Conteúdo), que mostra o índice do curso e permite o acesso pelo índice ou pela 6

No tocante ao material didático usado em combinação com essas plataformas, vide informações no site da editora Max Hueber (cf. referências bibliográficas). Sobre a edição brasileira de Blaue Blume e seu uso na Unicamp, vide OLIVEIRA (2007b) e OLIVEIRA ET AL. (2007). O papel da consciência lingüística, com implicações para a distinção L2 vs. LE no ensino de línguas, é discutido também em OLIVEIRA (1991, 2004). 7 Uma das docentes responsáveis pelo projeto na Unicamp participou desses seminários preparatórios in loco na Universidade de Munique e repassou os conhecimentos lá adquiridos ao resto da equipe. 8 Outras telas da plataforma DUO podem ser visualizadas em FEIST (2007). Há também um site em inglês com informações gerais sobre o projeto (http://www.deutsch-uni.com/duo_webshop/en/index.jsp).

barra de módulos, Lexik (Léxico), que possibilita o acesso ao glossário dos cursos e a dicionários monolíngües, Tipps (Dicas), que apresenta dicas e estratégias de aprendizagem monolíngües, Links, que lista Links informativos, Chat, Fórum, E-mail e Hilfe (Ajuda), que proporciona ajuda técnica, manual, descrições, explicações e FAQs (perguntas mais freqüentes), assim como Admin (Administração), que possibilita administrar correções e dados pessoais. Ao abrir um capítulo (pela barra de módulos ou pelo índice no meio), aparecem vários exercícios. Eles geralmente são ligados a sites alemães, trechos de gravações da televisão alemã (p.ex. noticiários) ou pequenas gravações em áudio, que fornecem as informações necessárias para executar os exercícios. Existem aproximadamente 15 tipos diferentes de exercícios, a maioria deles fechados: Completar Lacunas (Einsetzübungen), Múltipla Escolha (Multiple Choice), Múltipla Escolha com Registro (Multiple Choice mit Eingabe), Drag & Drop (Ziehübungen), Drag & Drop com Vários Elementos (Ziehübungen mit verschiedenen Elementen), Drag & Drop com Tabela (Ziehübungen mit Tabelle), Exercícios de Associação (Zuordnungsübungen), Exercícios de Grifar (Markierübungen), Grifar com Cores Diferentes (Mehrfarbig markieren), Exercícios de Lacunas com Drop Down (Lückentext mit drop down), Palavras Cruzadas (Kreuzworträtsel), Jogo da Memória (Memory) e Adivinhação de Palavras (Wörter raten). Além disso, no primeiro nível há também exercícios abertos, como texto livre com correção do monitor (Freie Texteingabe mit Korrektur durch Tutor). A comunicação entre os alunos e professores ocorre por várias vias, tais como Chat, Fórum e E-Mail. Existem Chats e Fóruns para todos os usuários de DUO e outros cujo acesso é restrito a estudantes e monitores de cursos fechados. As principais vantagens de DUO e basis-deutsch residem no acesso a material autêntico, pré-selecionado segundo os tópicos tratados, e na grande variedade de tipos de exercícios. Tanto os sites alemães da internet quanto as gravações em áudio e de programas de TV alemães são originais. Outros pontos fortes são seu caráter multimídia (texto, vídeo e áudio) e as explicações de gramática, apresentadas através de pequenas animações (com a possibilidade de repeti-las), o que facilita a compreensão e memorização. O vocabulário freqüentemente recebe apoio visual de fotos e ilustrações, e os exercícios para o Fórum contam com recursos de língua – o que, sobretudo no começo, diminui um possível bloqueio inicial nas atividades escritas. Há simulações que explicam o tipo de exercício a ser executado; no mais, o aprendiz pode refazer os exercícios quantas vezes quiser, sem quaisquer limitações. Para que o curso seja explorado em seu potencial máximo, é preciso, entretanto, levar em consideração que todo o site está em alemão – o que, para o nível básico, tem se mostrado difícil. Por outro lado, esse mesmo fator poderia constituir-se em ponto positivo, ao fazer com que o aluno esteja totalmente exposto à metalinguagem em língua-alvo.9 Logout, por sua vez, termo em inglês freqüentemente usado em programas brasileiros ou mesmo alemães, também está em alemão na plataforma DUO (“Abmelden”). Existem também problemas com a inserção de caracteres especiais do alemão nos exercícios, como letra “ß“ e algumas vogais com trema. Por ser baseado em Schritte international, é difícil combinar o material disponibilizado no ambiente virtual com outros livros, dado que esses costumam apresentar uma progressão temática ou gramatical em ordem diversa. Há dois acessos diferentes para o curso basisdeutsch, sendo o primeiro www.uni-deutsch.de, para os monitores, e o segundo www.deutsch-uni.com, para os alunos, o que pode confundir os usuários, caso eles não sejam devidamente informados ou já estejam familiarizados com seu uso. Há também de se levar em conta a necessidade de ter alguns programas de suporte instalados no computador local (p.ex. Java e QuickTime). Nesse sentido, o uso efetivo da plataforma exige um bom equipamento 9

Tal avaliação positiva da “imersão lingüística” na plataforma de ensino/aprendizagem corresponde, evidentemente, à perspectiva L2. O risco de enfatizá-la por demais é apagar a diferença real com o contexto LE, no qual uma tradução da metalinguagem revela-se não só aconselhável (notadamente no nível básico), como também factível, dada a homogeneidade do grupo-alvo.

por parte dos alunos, por conter páginas pesadas, em termos de informática, o que pode tornar o processo demorado. A exemplo de outras plataformas da internet, sobretudo de pesquisa acadêmica em periódicos e proceedings, a plataforma DUO exige, para alguns exercícios, a abertura de até quatro janelas diferentes ao mesmo tempo. Isso, de certa forma, “polui” um pouco o ambiente visual, sobrecarregando o usuário com informações a serem consultadas. Do mesmo modo, em alguns momentos, vários links devem ser consultados para que apenas um exercício seja respondido.10 A falta de atualização dos links para sites autênticos pode causar certo transtorno ao aprendiz.11 Outro incômodo é que, em caso de dificuldades técnicas, é preciso entrar em contato com a administração em Munique, na Alemanha, o que pode vir a retardar a solução imediata (como, por exemplo, nos problemas de acesso individual à plataforma). No tocante à avaliação, as respostas do aluno são salvas apenas até que se clique no botão Neustart (reiniciar). O programa não fornece porcentagens em termos de número de tentativas e notas. Para verificar os resultados do aluno, é preciso clicar em cada exercício, o que consome muito tempo e, dependendo do computador e da velocidade de conexão, pode causar atrasos no acesso à página do exercício individual de cada aluno. 3. Moodle12 O ambiente Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) é um software aberto e gratuito (Open Source), não restrito apenas ao ensino-aprendizagem de línguas, e dotado de ferramentas para uso nos mais variados contextos temáticos, tanto em cursos a distância quanto como complemento de cursos presenciais. A estrutura do ambiente é flexível, podendo ser adaptada pelo professor responsável às necessidades e prioridades de seu curso. Basicamente, a plataforma compõe-se de três partes, tendo a estrutura do curso na parte central, cujo visual é definido pelo professor-editor. As colunas mais estreitas da direita e da esquerda podem ser organizadas individualmente com diferentes blocos (opcionais), na ordem que o professor julgar melhor, dando-lhe uma certa autonomia de estruturação visual do próprio ambiente eletrônico. O leque de opções contempla um calendário para visualizar os prazos e eventos do curso, uma lista dos cursos em que o respectivo usuário está inscrito, ferramentas de administração (com itens visíveis apenas para professores, salvo Notas), registro dos usuários online, últimas notícias, um sumário com as atividades recentes desde o último acesso etc. O Moodle oferece diversos tipos de atividades, tais como Tarefas (Questionários), Chats, Pesquisas de Opinião, Wikis ou Fóruns. Existem diferentes tipos de Fóruns, como o Fórum padrão reservado aos professores, com registro adicional no bloco “Últimas notícias”, além de Fóruns configuráveis para uso geral ou Grupos de Trabalho (GTs) etc. Os possíveis tipos de tarefas fechadas contemplam: Questionários de múltipla escolha com resposta única ou respostas múltiplas; Questões de resposta breve (palavras ou frases); Questões VerdadeiroFalso; Questões de associação; Questões aleatórias; Questões numéricas (com escalas permissíveis); Questões com resposta embutida (estilo fechado), para preenchimento de lacunas – p.ex. dentro de passagens do texto (close test); Texto e gráficos descritivos embutidos. Podese trabalhar com base em um banco de dados que possibilita o embaralhamento das questões e das respostas de um exercício, reduzindo assim o efeito de automatismo quando se refaz uma 10

A Unidade 5 é um exemplo de onde isso ocorre. No período do curso de verão, isso ocorria p.ex. com a ligação de Freizeit com o site do Deutscher Wetterdienst, na Unidade 6. 12 Note-se que as observações feitas neste tópico não dizem respeito a uma aplicação direta nos cursos de verão citados acima, mas sim ao uso concomitante da plataforma em outros projetos. 11

tarefa várias vezes. Os resultados são armazenados pelo sistema, que pode calcular a nota por diferentes métodos, p.ex. com ou sem limite de tentativas, com base no primeiro, no último ou na média dos resultados etc. Uma outra característica de grande potencial no ambiente é sua capacidade de integrar tarefas elaboradas com programas externos, tais como o Hot Potatoes, um software de ampla utilização no ensino de línguas, inclusive do alemão, e que é disponibilizado gratuitamente para professores de instituições públicas, ou para qualquer outro usuário, desde que as tarefas nele elaboradas tenham acesso aberto. Tanto nos módulos internos como no Hot Potatoes, os exercícios podem ser programadas como seqüência, i.e. ao terminar uma tarefa, o aluno não precisa voltar para o menu principal, sendo encaminhado automaticamente para a próxima. Há também várias ferramentas de trabalho colaborativo dentro do Moodle, das quais destacamos aqui o Wiki, que pode ser configurado para redação em pequenos grupos (GTs) ou por todos os participantes do curso.13 Os membros do curso ou do GT escrevem textos sobre um determinado tema, de livre escolha ou seguindo orientação do professor, com revisão mútua por parte dos alunos. Ao contrário das tarefas fechadas, que são corrigidas automaticamente pelo sistema, os Wikis demandam uma correção final por parte do professor responsável. Não está prevista no ambiente a atribuição de notas para os trabalhos feitos no Wiki, mas isso pode ser feito através de uma outra ferramenta, a Tarefa Offline (que serve também para registrar qualquer outro tipo de trabalho feito fora do ambiente e integrá-lo no sistema de cálculo automático das notas). Na condição de software aberto, o Moodle pode ser copiado, utilizado e desenvolvido, desde que a licença original não seja mudada. O seu uso e a edição em si não requerem conhecimentos especializados de informática (como p.ex. html). A administração ocorre de maneira direta, i.e. o próprio professor responsável coordena a inscrição dos usuários, resolve problemas de acesso, adiciona novos recursos, corrige erros de programação nos exercícios, atualiza as atividades, pode tornar visível ou esconder elementos e exercícios conforme achar conveniente do ponto de vista didático etc. Ícones ajudam a se orientar e modificar o ambiente. Antes de acessar a plataforma, cada usuário pode escolher o idioma do menu (português, alemão, inglês etc.), o que, especialmente para os alunos de nível básico, facilita a navegação. À medida em que avançam na aprendizagem da língua e ganham mais familiaridade com o ambiente, os alunos podem passar a usar também a língua-alvo na interface – mas isso também pode ser definido como obrigatório pelo professor, através das Configurações do ambiente. Uma vez inscritos no Moodle, os alunos podem ser registrados manualmente (pelo Professor ou Administrador) em qualquer outro curso, não havendo necessidade de novo cadastro. Todos os usuários acessam o Moodle pelo mesmo endereço, mas há diferentes níveis de privilégios de acesso, sendo a edição restrita a usuários com privilégios de Administrador, Professor ou outras categorias semelhantes, que podem ser criadas pelo Administrador local. A opção “Mudar função para...” permite aos professores assumir papeis diferentes, ferramenta que possibilita p.ex. ver o ambiente da perspectiva do aluno, para verificar se o curso aparece e funciona da forma desejada. Quem está inscrito em mais de um curso no Moodle não precisa fazer o logoff para mudar de um curso para o outro, havendo acesso rápido via Menu principal ou bloco Meus Cursos (opcional). A comunicação entre os participantes é facilitada através dos Fóruns e da possibilidade de enviar mensagens individuais ou coletivas (se um participante não está online, a mensagem será encaminhada automaticamente para a 13

O princípio é o mesmo que subjaz à redação da enciclopédia online Wikipedia, na qual qualquer pessoa com acesso à internet pode escrever sobre os mais variados assuntos, num grande número de línguas (cf. http://pt.wikipedia.org). A correção é feita pela comunidade de usuários, havendo alguns com privilégios adicionais, responsáveis pela manutenção da qualidade dos verbetes. Vide número temático da revista eletrônica Zeitschrift für den interkulturellen Unterricht 13/1 (http://zif.spz.tu-darmstadt.de), sobretudo PLATEN (2008).

sua caixa de e-mail). O Professor ou Coordenador do curso tem a autonomia de estruturar seu(s) curso(s) segundo o respectivo currículo, considerando as necessidades específicas de seus alunos. Ele mesmo é responsável pela elaboração e a atualização dos exercícios, ele determina o período em que uma tarefa fica disponível, a quantidade de tentativas possíveis e os critérios de avaliação. O sistema grava todos os dados de acesso e os resultados de todas as tentativas dos exercícios, e possui vários modos de visualização (acessos por usuário em diagrama ou em lista de todos os logs, acesso/tentativas por exercício; performance dos alunos por exercício ou por aluno). A partir da versão 1.9, a ferramenta Notas do Moodle permite inclusive a visualização das notas médias por tarefa, e dá ao aluno a possibilidade de comparar seu desempenho com a média da turma. Graças a esse conjunto de características, o Moodle, diferentemente de basis-deutsch (i.e. da plataforma DUO), revela-se como instrumento de avaliação valioso e diferenciado. Como já aludido acima, o Professor-Coordenador pode definir o número de tentativas possíveis para os exercícios ou permitir tentativas ilimitadas, tem como decidir a nota que entra na avaliação, p.ex. a média de todas as tentativas, a nota mais alta ou a nota da última tentativa etc. A atribuição de pontos por exercício é feita pelo professor e pode ser adequada ao foco do curso. Uma vez definidos os elementos relevantes para a avaliação, bem como o peso de cada exercício, o sistema calcula as notas automaticamente. Na eventualidade de erros ou inadequações na elaboração das tarefas, também é possível revisar os critérios de avaliação a posteriori. Como o sistema grava tudo, os ajustes nas notas são feitos de acordo com as atualizações, sem alterar os dados brutos. Os próprios alunos podem contribuir a melhorar a qualidade das atividades, através de feed back sobre o (não-)funcionamento de certos elementos, sejam eles erros de programação das respostas, questões e soluções técnicas ou até sugestões de atividades, possibilitando assim o constante aperfeiçoamento do ambiente. Levando em conta que muitos dos nossos alunos na Unicamp fazem computação ou cursos afins, abrem-se caminhos para um processo de aprendizagem bilateral, estudando a forma por um lado e o conteúdo por outro. Um dos princípios basilares da pedagogia de línguas contemporânea é o respeito às características individuais dos aprendizes, com seus vários estilos cognitivos e interesses específicos. Para dar conta disso, o curso pode ter componentes centrais e outros acessórios. Dentro do Moodle, a parte acessória pode ser feita através do diálogo com recursos externos, de modo ainda mais flexível do que a integração de tarefas do Hot Potatoes citada acima. Uma maneira muito efetiva de fazer isso são links para páginas na internet ou materiais complementares acessíveis em repositórios externos ao ambiente. No uso combinado com Blaue Blume, essa possibilidade foi utilizada para disponibilizar flashcards de vocabulário através do site WordChamp. Essas fichas, destinadas sobretudo para repassar o vocabulário de cada unidade do livro, servem também como base para a ferramenta de leitura online WebReader, que funciona como um dicionário com definições em janelas de popup. Aqui também, o princípio é o trabalho colaborativo subjacente ao software livre: os usuários cadastrados podem editar suas próprias fichas, inclusive através da ferramenta de leitura online. Com isso, tudo aquilo que é feito por um aprendiz pode ser usado pelos outros. Nesse sentido, o Moodle possibilita uma passagem direta para aplicações do dia-a-dia, induzindo o aprendiz a explorar o universo da internet, de uma maneira aberta, sem o fechamento monolítico de outras plataformas.14 É certo que os pontos positivos mencionados acima também têm seus custos. O Moodle fornece as ferramentas para o curso online, mas é uma tabula rasa no que diz respeito ao conteúdo. Cabe ao professor usar os instrumentos disponíveis para preencher esse “vazio” – desde o desenvolvimento da estrutura básica do curso até a elaboração dos exercícios e a defi14

O endereço do WordChamp consta das referências bibliográficas e de lista online com outros recursos disponíveis no Moodle através de links (http://www.unicamp.br/~paulocel/mat-apoio.htm).

nição dos critérios de avaliação etc. A navegação é fácil e intuitiva, porém trabalhosa no tocante à inclusão de novos materiais, porque tudo acontece em passos separados. Conseqüentemente, gasta-se muito tempo na edição dos cursos, sobretudo quando se tem vários em andamento, ou quando se criam novos. Como toda administração é feita pelo professor, este precisa investir muito tempo e paciência na criação da estrutura, na elaboração dos exercícios e na atualização do ambiente. Quem está começando a trabalhar com o Moodle precisa também acostumar-se ele. Nesse processo de aprendizagem, descobrem-se cada vez mais funções e gradativamente aumenta-se a compreensão de seu funcionamento. É assim que o trabalho, pouco a pouco, tornar-se-á mais eficiente. Com uma certa experiência, a complexidade e a qualidade dos exercícios, o sistema de avaliação etc. passam a ser cada vez mais elaborados. A integração de recursos adicionais, como links para outros sites, fotos, vídeos e áudios etc., depende da capacidade técnica do professor, da sua experiência de trabalho com a plataforma ou plataformas parecidas. Se o progresso e o desenvolvimento de um curso dependerem de um único professor, ele terá que cuidar sozinho de todo o trabalho administrativo e de conteúdo, o que pode ser extremamente trabalhoso. Por isso, recomenda-se o trabalho de vários professores em conjunto para originar mais idéias, para criar exercícios melhores, mais complexos e ao mesmo tempo reduzir erros, enfim, para garantir a qualidade do curso. No caso do uso combinado do ambiente Moodle com o método Blaue Blume na Unicamp, grande parte do trabalho de produção de materiais para o ambiente virtual já foi feita, o que por certo facilitará enormemente o trabalho de outros professores interessados em adotar essa abordagem no Brasil. Trata-se agora de revisar e complementar o que já existe, dentro do espírito de trabalho coletivo aludido acima. Até o final do projeto de utilização paralela de basis-deutsch + Schritte international e Moodle + Blaue Blume, dentro da colaboração CEL / DAAD / FEEC, previsto para o final de 2009, certamente já haverá material testado e retestado para todas as unidades de Blaue Blume, levando do nível inicial (A1) ao patamar do intermediário (B1).15

4. Conclusões preliminares Respondendo às exigências dos processos de ensino-aprendizagem do século XXI, temos que dar atenção a novas formas de trabalho, aproveitando os recursos multimídia e pensando em formatos para além dos já existentes e aprovados. Criam-se cada vez mais cursos a distância, sejam eles de aperfeiçoamento profissional ou até mesmo cursos superiores completos, e aumenta-se constantemente o número de participantes e interessados nesses cursos. O paradigma de buscar o aluno onde ele está é um dos mais citados na didática contemporânea. Mas onde estão os nossos alunos? Quais são seus pré-requisitos e suas necessidades específicas? E como podemos atendê-los com os recursos disponíveis? De fato, a grande maioria dos nossos alunos passa muito tempo à frente do computador, seja para estudar e trabalhar, seja para se divertir. Por quê, então, não partir desses hábitos e realmente buscá-los onde eles estão – sentados frente à máquina? Por quê não aproveitar o interesse e as competências que eles têm no manuseio do equipamento de informática e da internet? Por quê não acostumá-los com formas de trabalho que serão adotados também em sua vida profissional e assim cumprir o objetivo de não somente ensinar a matéria pura, senão também as tão citadas competênciaschave? Apresentaram-se aqui duas plataformas eletrônicas que contribuem para satisfazer essas necessidades, cada uma com suas características específicas, mas ambas em uso combi15

Sobre os recursos do Moodle e sua aplicação no ensino de línguas, vide também o já citado trabalho de OLI(2007b: vídeo online com palestra e discussão [1 h 27 min]). Pré-requisitos técnicos são computador com multimídia, software RealPlayer (10.5 ou superior) e conexão rápida com a internet. VEIRA

nado com material didático em suportes convencionais. Para o curso basis-deutsch, o Laboratório Multimídia da Universidade de Munique propõe uma parcela de 80% em aulas presenciais e 20% no modo online – na plataforma DUO. Nesse primeiro momento, tendo em vista que os cursos foram intensivos, decidimos ministrá-los em aula 100% presencial, servindo a parte online como complemento em forma de lição de casa. Essa decisão foi tomada porque havia muita matéria a cumprir em pouco tempo (Schritte international 1; sete unidades em 13 dias de aula, quatro aulas diárias). O fato de toda a metalinguagem da plataforma e do livro estarem em alemão fez com que o processo de aprendizagem se retardasse um pouco em comparação com o uso de Blaue Blume e Moodle – no contexto das disciplinas regulares da Unicamp. Outra dificuldade inicial foi a falta de Java, software essencial para basis-deutsch, em parte dos computadores do Laboratório de Informática. Uma vez sanadas as dificuldades técnicas, o curso passou a fluir mais facilmente.16 No tocante à distinção entre abordagens calcadas na aquisição de LE ou L2, ficaram evidentes as diferenças na concepção das duas plataformas. Nossa própria experiência com o Moodle já está muito mais consolidada do que aquela com a plataforma DUO. Portanto, o momento não se mostra oportuno para arriscar quaisquer conclusões, servindo antes para levantar perguntas de trabalho que servirão de base para a continuação do projeto. O que se mostrou mais difícil no uso de DUO foi o fato de o ambiente estar completamente em alemão. Como nossos alunos têm muito pouco contato com a língua alemã (praticamente só no próprio curso), isso significa um esforço enorme para orientar-se sozinho num ambiente exclusivamente na língua-alvo. Levando em conta, ainda, que os estudantes de engenharia da Unicamp dispõem de muito pouco tempo para atividades extra fora de seus cursos, frustrações estão quase pré-programadas: mesmo liberando um espaço para trabalhar com a plataforma, em muitos casos não houve nem a satisfação de uma aprendizagem bem-sucedida, muito menos enxergou-se no contato com a metalinguagem em alemão um desafio. Uma alternativa para evitar tal desmotivação poderia ser a tradução da plataforma DUO para o português. Porém é preciso contemplar o projeto de uma perspectiva mais ampla: como mencionado mais acima, os cursos basis-deutsch estão diretamente ligados ao livro didático Schritte international. Nos cursos ministrados até o momento, ficou evidente que esse método não é o mais apropriado para o nosso contexto. O livro trata de situações comunicativas básicas por meio de diálogos-modelo, dentro do paradigma comunicativo clássico – o quê, como já discutido no início deste trabalho, não é mais adequado para uma clientela universitária, que inclusive não se prepara para uma estadia imediata na Alemanha. Raramente encontram-se textos ou assuntos mais complexos, que permitam um diálogo autêntico ou reflexões mais aprofundadas sobre aspectos culturais. Tanto o livro quanto a plataforma refletem uma forte ligação com a teoria de aquisição de L2, e seria difícil que isso fosse diferente, dado o contexto da elaboração dos materiais, voltados para uso internacional – sem nuançar as diferenças entre nações subjacentes a esse conceito. Tais constatações tornam questionável a própria proposta de traduzir a plataforma DUO para o português, a não ser que seja testada a sua compatibilidade com um material para ensino presencial mais adequado e – se possível – voltado especificamente para o ensino de LE. Isso por sua vez, traz em seu bojo a dificuldade, mencionada mais acima, de coordenar a progressão temática, gramatical, de vocabulário etc., entre o ambiente virtual e o material didático em suporte tradicional. A essa luz, a combinação Moodle + Blaue Blume (na edição brasileira) pode eventualmente revelar-se mais praticável no nosso contexto, por ser mais flexível no tocante ao conteúdo, e por estar clara e deliberadamente formatada para vir ao encon16

De todo modo, permanece a questão de que os pré-requisitos básicos não são necessariamente baixos, exigindo da instituição um bom grau de padronização nos seus equipamentos, o que se aplica também ao usuário individual, qualquer que seja seu contexto de acesso ao curso – da residência ou da empresa em que trabalha, por exemplo.

tro das necessidades específicas do público-alvo. Por outro lado, também não são pequenas as dificuldades de elaboração de material nessa última perspectiva, ainda que muito trabalho já tenha sido feito e os resultados sejam promissores. De todo modo, estamos apenas no início de um projeto que permitirá um cotejo mais fino entre os prós e contras das duas alternativas colocadas em pauta. As vantagens e desvantagens de cada uma, do ponto de vista conceitual, já foram caracterizadas no início do presente texto. Até que ponto aquilo que se revela ponto forte ou fraco, em termos conceituais, também o será na execução prática, é o que um levantamento de dados ao longo do processo poderá registrar. Esperamos poder traçar um quadro mais claro no futuro, mas estamos certos de que, quaisquer que sejam as conclusões finais, teremos avançado bastante na busca por alternativas adequadas para o público universitário que deseja aprender alemão no Brasil – com formas híbridas que preservam as vantagens da tradição e nos preparam para dar conta do futuro.

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PLATTEN, Eva. Gemeinsames Schreiben im Wiki-Web - Aktivitäten in einer untutorierten Schreibwerkstatt für fortgeschrittene Deutschlernende. Zeitschrift für den Interkulturellen Unterricht v.13 n.1. (http://zif.spz.tu-darmstadt.de; acesso em 13/04/2008). SARTINGEN, Kathrin. O alemão como língua de cultura e ciência. Um curso a distância para a América Latina. Projekt (São Paulo) n.9, 1992. SARTINGEN, Kathrin, OLIVEIRA, Paulo, DEGELO, Ana Luiza Zink. Fernkurs Deutsch als Fremdsprache in Brasilien. Zielsprache Deutsch v.27 n.2, p.92-97. 1996.

Plataformas e outros recursos online       

DUO: www.deutsch-uni.com Hot Potatoes: http://hotpot.uvic.ca Moodle: http://docs.moodle.org/pt/Sobre_o_Moodle (em português) Moodle: http://moodle.org ou http://docs.moodle.org (em inglês) Moodle CCUEC: http://woodstock.unicamp.br/moodle183/course/index.php TelEduc: http://www.teleduc.org.br Wordchamp: http://www.wordchamp.com/lingua2/Home.do

Sobre o material didático em suporte convencional  

Blaue Blume: http://www.hueber.de/blaue-blume Schritte international: http://www.hueber.de/sixcms/list.php?page=pg_index_sit

Anexo 1: Página inicial da plataforma DUO

Anexo 2: Página inicial do Moodle (modo edição, visão do professor)

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