Alfenim: Da Madeira para o mundo

June 15, 2017 | Autor: Alberto Vieira | Categoria: Island Studies, History of Madeira Islands
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ALFENIM DA MADEIRA PARA O MUNDO

Cadernos de divulgação do CEHA. N.º 8 VIEIRA, Alberto, Alfenim da Madeira para o mundo Funchal. Dezembro de 2015.

Alfenim da Madeira para o mundo

ALFENIM DA MADEIRA PARA O MUNDO ALBERTO VIEIRA* CEHA-SRETC-MADEIRA

* Títulos Académicos e Situação Profissional: 2013. Diretor de Serviços do CEHA; 2008- Presidente do CEHA, 1999 - Investigador Coordenador do CEHA; 1991-Doutor em História (área de História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa), na Universidade dos Açores; 1980. Licenciatura em História pela Universidade de Lisboa. ATIVIDADE CIENTIFICA. Pertence a várias academias da especialidade e intervém com consultor científico em publicações periódicas especializadas. É Investigador-convidado do CLEPUL-Lisboa. PUBLICAÇÕES. Tem publicado diversos estudos, em livros e artigos de revistas e atas de colóquios, sobre a História da Madeira e dos espaços insulares atlânticos. Destes apenas se referenciam alguns dos mais importantes e que foram publicados em livro: 2014.O Deve e o Haver das Finanças da Madeira. Finanças públicas e fiscalidade na Madeira nos séculos XV a XXI. Funchal, CEHA. ISBN:978-9728263-75-1, vols:2 [em Formato digital com folheto]; (Coordenação): Debates Parlamentares. 1821-2010. Funchal, CEHA. ISBN:978-972-8263-81-2, vols:1 [Formato digital com folheto]; Livro Das Citações do Deve & Haver das Finanças da Madeira. Funchal, CEHA. ISBN: 978972-8263-82-9, vols:1 [Formato digital com folheto]; Dicionário de Impostos. Contribuições, Direitos, impostos, rendas e Tributos. Funchal, CEHA. ISBN: 978972-8263-83-6, vols:1 [Formato digital com folheto]; Dicionário de Finanças Públicas. Conceitos, Instituições, Funcionários. Funchal, CEHA. ISBN: 978-9728263-84-3, vols: 1, [Formato digital com folheto]; Cronologia. A História das Instituições, Finanças e Impostos. Funchal, CEHA. ISBN: 978-972-8263-85-0, vols:1 [Formato digital com folheto]. (organização); 2005- A freguesia de S. Martinho, 213pp; 2005-A Vinha e o Vinho na História da Madeira. Séculos XV-XX, Funchal,CEHA, 585pp, 2001: História da Madeira [coordenação de manual de apoio ao ensino], 399pp. 2001: Autonomia da Madeira. História e Documentos [cdrom]; 1999: Do Éden à Arca de Noé – o Madeirense e o quadro natural, Funchal, 330pp; 1998: Las Islas Portuguesas, compilação de livros e introdução, Madrid, Fundación Historica Tavera, 1998: O Vinho da Madeira (com Constantino Palma), Lisboa, 143pp, 1998: O Açúcar, Expo 98. Pavilhão da Madeira, 64pp, 1998: O Vinho, Expo 98. Pavilhão da Madeira, 64pp, 1998: Público e o Privado na História da Madeira. II. As cartas particulares de João de Saldanha, Funchal. CEHA, 224pp, 1997: S. Vicente Um Século de Vida Municipal (1868-1974), Funchal. 167Pp; 1996: A Rota do Açúcar na Madeira, de Colaboração com Francisco Clode, Funchal, 220pp, 1995: Guia para a História e Investigação das ilhas Atlânticas, Funchal, 414pp, 1993: História do Vinho de Madeira. Textos e documentos, Funchal, 431pp, 1992: Portugal y Las Islas del Atlântico, Madrid, 316 pp, 1991: Os Escravos no Arquipélago da Madeira. Séculos XV-XVII, Funchal, 544pp, 1989-1990: Breviário da Vinha e do Vinho na Madeira, Ponta Delgada, 79pp +115pp, 1987: O Arquipélago da Madeira no século XV, Funchal (de colaboração com o Prof. Dr. Luís de Albuquerque). 73Pp, 1987: O Comércio Inter-Insular (Madeira, Açores e Canárias). Séculos XVXVII, Funchal, 228 pp.

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..., a doçaria é uma arte típica e variável de região para região, cujas diferenças são impostas pela história e pela geografia. É a invasão estrangeira, e é o convívio social, levando ao cruzamento de culturas; mas é também a diversidade de produtos naturais, permitindo diferentes experiências e combinações, que conduzem à descoberta de novas receitas. VILHENA (2000)

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O doce faz parte da nossa vida e quotidiano. Está presente à mesa, de forma especial em momentos festivos. Herdamos dos árabes as palavras que o definem, como as tradicionais técnicas de fabrico e alguns hábitos inerentes ao seu uso. Por isso, o madeirense sempre tem um doce para oferecer a quem recebe em sua casa. Oferecer o doce é gesto e sinal de empatia que se perpetuou no tempo. São várias as formas de fabrico e de apresentação do doce. Em Portugal, sempre tivemos uma verdadeira arte da doçaria, que se divulgou no mundo. De todos, o mais afamado e reconhecido historicamente é o ALFENIM, uma massa de açúcar branco apresentado em figurinhas, que, no passado, era oferecido em bandejas de prata e substituía muitos dos chamados doces e rebuçados que continuam a fazer, hoje como ontem, o apetite e a gulodice de novos e graúdos. O alfenim foi conhecido em Portugal desde a medievalidade e ganhou importância no quotidiano

da sociedade portuguesa, a partir da divulgação do açúcar desde meados do século XV, com as elevadas produções da Madeira. A ilha como espaço de produção de açúcar especializou-se na arte da doçaria, transpondo o seu perímetro e chegando aos Açores, Canárias e Brasil. No Atlântico, o primeiro alfenim foi produzido na Madeira e depois chegou a todo o lado, afirmando-se como o doce mais nobre, servido na casa das famílias importantes, e usado como dádiva nas festas do divino. Na Madeira, a sua presença fica praticamente pelo registo da documentação, mas em algumas ilhas dos Açores e em alguns Estados do Brasil continua vivo, alimentado pela persistência das festas em honra do Divino Espírito Santo. São duas marcas emblemáticas da tradição e cultura portuguesa que têm na Madeira e, depois nos Açores, um momento emblemático que não pode ser ignorado. AV. novembro de 2015 CADERNOS CEHA

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O AÇÚCAR, O MUNDO ATLÂNTICO E A MADEIRA. A Europa sempre se prontificou a apelidar as ilhas, de acordo com a oferta de produtos ao seu mercado. Deste modo, sucedem-se as designações de ilhas do pastel, do açúcar e do vinho. O açúcar ficou como epíteto da Madeira e de algumas ilhas das Canárias, onde a cultura foi a varinha de condão que transformou a economia e a vivência das populações. Também do outro lado do oceano, elas se identificam com o açúcar, uma vez que serviram de ponte à passagem do Mediterrâneo para o Atlântico. É daqui que resulta a relevância que assume o estudo do caso particular destas ilhas, quando se pretende fazer a reconstituição da rota do açúcar. A Madeira é o ponto de partida, por dois tipos de razões. Primeiro, porque foi pioneira na exploração da cultura e, depois, porque desempenhou um papel fundamental na expansão ao espaço exterior próximo ou longínquo, incluídas as Canárias. A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem, na Madeira, a principal escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras da sua elevada qualidade e rentabilidade. Deste modo, quem se abalança a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que passar pela ilha. Foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil. A cana-de-açúcar iniciou a diáspora atlântica na Madeira. Aqui surgiram os primeiros contornos sociais (a escravatura), técnicos (engenho de

água) e político-económicos (trilogia rural) que materializaram a civilização do açúcar. Por esta razão, torna-se imprescindível uma análise da situação madeirense, caso estejamos interessados em definir, exaustivamente, a civilização do açúcar no mundo atlântico. A história do açúcar na Madeira confunde-se com a conjuntura de expansão europeia e dos seus momentos de fulgor do arquipélago. A sua presença é multissecular e deixou rastros evidentes na sociedade madeirense. Dos séculos XV e XVI ficaram imponentes monumentos, a pintura e a ourivesaria que os embelezou e que hoje permanecem quase toda no Museu de Arte Sacra. Do século XIX e do primeiro quartel da nossa centúria, perduram ainda a maioria dos engenhos da nova vaga de cultura dos canaviais. Aqui, a cana diversificou-se no uso industrial, sendo geradora do álcool, aguardente e, raras vezes, de açúcar. Por outro lado, o açúcar é, de todos os produtos que acompanharam a diáspora europeia, aquele que moldou, com maior relevo, a mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos, se afirmaram como resultado dele. A cana sacarina, pelas especificidades do cultivo, especialização e morosidade do processo de transformação em açúcar, implicou uma vivência particular, assente num específico complexo sociocultural da vida e convivência humana. Em 1971, Gilberto Freyre1 foi o primeiro a chamar a atenção 1 “Contribuição Brasileira para uma Sociologia do Açúcar”, in Sociologia do Açúcar, Recife, 1971, pp. 9-12.

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dos estudiosos para esta realidade, quando definiu as bases daquilo que designou como Sociologia do Açúcar. A publicação de “Casa-Grande & Senzala”, em 1933, foi o prelúdio de nova preocupação e domínio temático para a Sociologia e a História. De todas as plantas domesticadas pelo Homem, a cana-de açúcar é a que mais implicações teve na História da Humanidade. Até hoje, são evidentes as transformações operadas na agricultura, técnica, química e siderurgia, por força da cultura da cana sacarina, beterraba e da produção de açúcar, mel, aguardente, álcool e rum2. O percurso multissecular, desde a descoberta remota na Papua (Nova Guiné) há 12.000 anos, evidencia esta realidade. A sua chegada ao Atlântico, no século XV, provocou o maior fenómeno migratório, que foi a escravatura de milhões de africanos, e teve repercussões evidentes na cultura literária, musical e lúdica. Foi também no Atlântico que a cultura atingiu a 2

Existe um conjunto variado de textos que valoriza o papel da cana como motor do progresso em vários sectores: Luiz del Castilho, A Fabricação do Assucar de Canna. Notas e formulas…, Rio de Janeiro, 1893, p. 5; P. Horsin-Déon, Le Sucre et L’Industrie sucrière, Paris, 1894, p.5 ; D. Sidersky, Manuel du Chimiste de Sucrerie, Paris, 1909 ; IDEM, Aide-Mémoire de Sucrerie, Paris, 1936, pp.3 ; F. A. Lopez Ferrer, Fabricación de Azúcar de Caña Mieles y Siropes Invertidos com su Control Técnico-Quimico, Habana, 1948, p.V; IDEM, Maquinaria y aparatos en los Ingenios de Azucar de Caña, La Habana, 1949 ; A. C. Barnes, Agriculture of the Sugar-Cane, Londres, 1954, p. IX ; Andrew Van Hook, Sugar its Production, Technology and uses, N. York, 1969, p.III.

plena afirmação económica, assumindo uma posição dominante no sistema de trocas. Fernand Braudel define, de modo claro, a forma de intervenção do açúcar no capitalismo: “Devastadora do antigo equilíbrio, a cana é tanto mais perigosa quanto é apoiada por um capitalismo poderoso, que, no século XVI, Provem tanto de Itália, como de Lisboa ou de Antuérpia, e ao qual ninguém consegue resistir”. 3 A isto Vitorino Magalhães Godinho acrescenta que “a génese do mundo atlântico está pois, em grande parte, ligada àquilo a que Fernand Braudel chama muito apropriadamente dinâmica do açúcar.”4 A implantação de canaviais não deriva apenas da disponibilidade de uma reserva florestal e de água abundante para o regadio e laboração dos engenhos, pois deverão juntar-se-lhe as condições oferecidas pelo clima e orografia. As ilhas da América Central e do Golfo da Guiné ofereciam melhores condições que a Madeira ou as Canárias. Deste modo, em ambos os arquipélagos, a orografia estabeleceu um travão à afirmação da cultura extensiva dos canaviais. De acordo com estas condições, a produção madeirense dos séculos XV e XVI nunca ultrapassou as 1584,7 toneladas, atingidas em 1510. Apenas no século XX, com a expansão dos canaviais, de novo a toda 3 4

O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico, Lisboa, 1983 [1ª edição em 1966], p. 178. Mito e Mercadoria Utopia e Prática de Navegar. Séculos XIII-XVIII, Lisboa, 1990, p. 478.

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a ilha, se conseguiu suplantar este valor, tendose atingido, em 1916, as 4943,6 toneladas. Este incremento da produção açucareira foi travado nos anos imediatos, pelos decretos de 1934-1935 e 1937 regulamentadores da área de produção. A Madeira afirmou-se no processo da expansão europeia pela singularidade do seu protagonismo. Vários são os fatores que o propiciaram e que fizeram com que ela fosse, no século XV, uma das peçaschave para a afirmação da hegemonia portuguesa no Novo Mundo. Além disso, é considerada a primeira pedra do projeto, lançando Portugal para os anais da História do oceano que abraça o seu litoral abrupto. O Funchal foi uma encruzilhada de opções e meios que iam ao encontro da Europa em expansão. À função de porta-estandarte do Atlântico, a Madeira associou outras, como “farol” Atlântico, o guia orientador e de apoio para as longas incursões oceânicas. Por isso, nos séculos que nos antecederam, ela foi um espaço privilegiado de comunicações, tendo a seu favor as vias traçadas no oceano que a circunda e as condições económicas internas, propiciadas pelas culturas da cana sacarina e vinha. Uma e outra contribuíram para que o isolamento definido pelo oceano fosse quebrado e se mantivesse um permanente contacto com o velho continente europeu e o Novo Mundo, tendo a Madeira firmado uma posição de relevo nas navegações e descobrimentos no Atlântico. O mais significativo da situação do novo mercado produtor de açúcar é que o madeirense lhe está indissociavelmente ligado. Na verdade, a Madeira foi

o ponto de partida do açúcar para o Novo Mundo. O solo madeirense confirmou as possibilidades de rentabilização da cultura, através de uma exploração intensiva e de abertura de novo mercado para o açúcar. É a partir da Madeira que se produz açúcar em larga escala, vindo a condicionar os preços de venda, de forma evidente nos finais do século XV. O íncola foi capaz de agarrar esta opção, tornandose no obreiro da difusão no mundo Atlântico. A tradição anota que foi a partir da Madeira que o açúcar chegou aos mais diversos recantos do espaço atlântico e que os técnicos madeirenses foram responsáveis pela implantação. O primeiro exemplo está documentado com Rui Gonçalves da Câmara, quando, em 1472, comprou a capitania da ilha de S. Miguel. Na expedição de tomada posse da capitania, fez-se acompanhar de socas de cana da Lombada, que, entretanto, vendera a João Esmeraldo, e dos operários para a tornar produtiva. Seguiram-se depois outros que corporizaram diversas tentativas frustradas para fazer vingar a cana-de-açúcar nas ilhas de S. Miguel, Santa Maria e Terceira5. Em sentido contrário avançou o açúcar em 1483, quando o Governador D. Pedro de Vera quis tornar produtiva a terra conquistada nas Canárias. De novo, a Madeira surge a disponibilizar as socas de cana para que aí surgissem os canaviais. Todavia, o mais significativo estará na forte presença portuguesa no processo de conquista e adequação do novo espaço à 5

Gaspar FRUTUOSO, Livro Quarto das Saudades da Terra, Vol. II, pp. 59, 209-212; F. Carreiro da COSTA, “A cultura da cana-de-açúcar nos Açores. Algumas notas para a sua História” in Boletim da Comissão Reguladora do Comércio de cereais dos Açores, nº 10, 1949, 15-31.

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economia de mercado. Os portugueses, em especial os Madeirenses, surgem com frequência nas ilhas ligando-se ao processo de arroteamento das terras, como colonos que recebem datas de terras, na condição de trabalhadores especializados a soldada, ou de operários especializados que constroem os engenhos e os colocam em movimento. No caso de La Palma, refere-se um Leonel Rodrigues, mestre de engenho, que ganhou o estatuto em 12 anos de trabalho na Madeira6. É de referir também idêntico papel para as ilhas Canárias na projeção da cultura às colónias castelhanas do novo mundo. Assim, em 1519, Carlos V recomendou ao Governador Lope de Sousa que facilitasse a ida de mestres e oficiais de engenho para as Índias7 . O avanço do açúcar para sul, ao encontro do habitat que veio gerar o boom da produção, deu-se nos anos imediatos ao descobrimento das ilhas de Cabo Verde e S. Tomé. Todavia, só na última, pela disponibilidade de água e madeiras, os canaviais encontraram condições para a sua expansão. Deste modo, em 1485, a coroa recomendava a João de 6 Cf. Conquista de la Isla de Gran Canaria, La Laguna, 1933, p. 40;José PÉREZ VIDAL, Los Portugueses en Canarias. Portuguesismos, Las Palmas, 1991; Pedro MARTINEZ GALINDO, Protocolos de Rodrigo Fernandez (1520-1526). Pimera parte, La Laguna, 1982, pp. 67, 8490; Guilhermo CAMACHO Y PÉREZ GALDOS, “El cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) in Anuario de Estudios Atlanticos, nº 7, 1961, 35-38; Maria LUISA FABRELLAS, “La producción de azúcar en Tenerife” in Revista de História, nº 100, 1952, 454/475; Gloria DIAZ PADILLA, e José Miguel RODRIGUEZ YANES, El Señorio en Las Canarias Occidentales......, Santa Cruz de Tenerife, 1990, p. 316. 7 CF. José PEREZ VIDAL, “Canárias, el azúcar, los dulces y las conservas”, in II Jornadas de Estudios Canarios-America, Santa Cruz de Tenerife, 1981, p. 176-179.

Paiva que procedesse à plantação de cana do açúcar. Para o fabrico do açúcar, refere-se a presença de “muitos mestres da ilha da Madeira”8 . É, alias, aqui que se pode definir o prelúdio da estrutura açucareira que terá expressão do outro lado do Atlântico.

AÇÚCAR, DOÇARIA E QUOTIDIANO. Na Cristandade Ocidental, o açúcar demorou a tornarse o manjar de todos. Durante muito tempo, foi uma raridade usada quase sempre como um medicamento. O açúcar tornou-se num elemento inquestionável na farmacopeia ocidental, como o provam textos desde Galeno a Hipócrates. Os textos de Garcia da Horta e Tomé Pires assim o denunciam. A aplicação farmacológica do açúcar no século XVI está documentada nas receitas e despesas dos hospitais das misericórdias e esmolas da coroa em açúcar aos hospitais - Todos os Santos em Lisboa (1506), Misericórdias do Funchal (1512) e Ponta Delgada (1515) – e conventos – Guadalupe (1485), Évora (1497), Beja (1500), Aveiro (1502), Coimbra (1510), Vila do Conde (1519). A tradição árabe da dádiva do açúcar e doces conquistou a coroa portuguesa, que não se fez rogada em dádivas, usando, para isso, parte significativa do açúcar arrecadado na ilha9. Só no século XIX começou a 8 ARM, CMF, Vereações 1527, fl. 23vº, 26 de Março. cf. ainda Isabel Castro Henriques, O Ciclo do açúcar em S. Tomé nos séculos XV e XVI, in Albuquerque, Luís de (dir.), Portugal no Mundo, Lisboa, sd, vol. I, pp.264-2847. 9 PEREIRA, Fernando Jasmins. O açúcar Madeirense de 1500 a 1537.

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generalizar-se o seu consumo. Mesmo assim continua a estar associado às farmácias e boticas. Proudhon refere que “o açúcar é toda a farmácia do pobre”. Na verdade, o açúcar era um suplemento capaz de suprir a insuficiência calórica. E se tivermos em conta que o principal problema de sociedade do antigo regime era a desnutrição das populações, resultante da pobreza calórica de dieta alimentar, teremos a explicação para os efeitos benéficos do seu consumo. A alimentação era pouco variada e quase só assente no consumo de pão. A ingestão diária de calorias era inferior a 2000, quando hoje os padrões médios oscilam entre as 3000 a 4000. A isto liga-se a frequência das crises de subsistência que contribuíram para agravar a situação. A falta de pão não é só sinónimo de fome, mas também de doença e instabilidade social. A maior parte dos moribundos acolhidos pelos hospitais apresenta os mesmos sintomas, daí que o açúcar, pelo elevado valor calórico, era uma mezinha indispensável. Um dos muitos indícios da fé que os nossos antepassados depositavam no poder fortificante destes produtos está na ração obrigatória estabelecida para a dieta de bordo das caravelas. Ambas supriam as deficiências calóricas e reforçavam a fraca capacidade imunológica. Sem dúvida que o maior consumo do açúcar não se situou nos fármacos, mas sim nos manjares nobres, sob a forma de doce - alfenim, alféola-, conservas e casca de fruta. Em qualquer dos casos Produção e preços. Lisboa: Instituto Superior de Ciências sociais e Politica Ultramarina, [1970?]. Sep. de Estudos políticos e Sociais, Vol. VII, nº’ 1, 2 e 3, 1969. BRAGA, Paulo Drumond, “O açúcar da ilha da Madeira e o mosteiro de Guadalupe”, in Islenha, 9, 1991, 4349. SALGADO, Anastacia M. e Abílio José, O Açúcar da Madeira e algumas instituições de assistência na Península e Norte de Africa, durante a 1ª metade do século XV, Lisboa, 1986.

a Madeira ficou célebre. A doçaria conventual fez as delícias dos manjares reais, dos ingleses, franceses e flamengos. A tradição do fabrico do alfenim, que hoje se perdeu, fez dos madeirenses exímios escultores do doce. O princípio fundamental que regeu o movimento de circulação do açúcar foi a necessidade de suprir as carências dos mercados europeus, em substituição do oriental, cada vez mais de difícil acesso. Foi a conjuntura que impôs a cultura no novo espaço atlântico e ditou as regras. A premência do consumo interno de açúcar é uma exigência tardia, gerada por novos hábitos alimentares ou das contingências do mercado do produto. No último caso, assume importância o dispêndio de açúcar na indústria de conservas e casca como resultado da solicitação dos veleiros que demandavam o Funchal. Acresce ainda que a vulgarização do açúcar no quotidiano madeirense derivou da conjuntura do mercado do açúcar, em finais do século XV. O aparecimento de novos mercados produtores, como a Madeira, fez baixar o preço, generalizando o consumo. A importância do açúcar na economia madeirense mede-se pelo facto de ter assumido a função de medida e moeda de troca e pagamento dos mais diversos serviços. Para isso contribuiu, não só a afirmação no quotidiano, mas também, a falta crónica de moeda, na ilha. As indústrias da casquinha, conservas de fruta e confeitos mantiveram-se durante muito tempo como uma atividade da economia familiar, não acompanhando a queda da produção de açúcar

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madeirense, pois à falta dele alimentou-se do importado do Brasil. No decurso do século XVII, a casquinha concorreu com o vinho nas exportações, situandose, em 1698, em segundo lugar. Entretanto, a elevada valorização do vinho conduziu-a para segundo plano e à sua quase extinção. Em 1779, o Governador refere que a manufatura da casquinha, a principal de todas, estava quase extinta. A crise, que começara na década de setenta, motivou a atenção das autoridades que procuravam reavivar as exportações. Neste contexto, surgiu, em 1782, uma proposta de Francisco Xavier Veríssimo e José Rodrigues Pereira, comerciantes do Funchal, pedindo o exclusivo do fabrico da casquinha10. O doce, nas suas múltiplas formas, está relacionado com uma atitude de gratidão ou mesmo de empatia. É uma tradição muçulmana que os portugueses bem assimilaram. Vasco da Gama ofereceu ao Samarim de Calecute, alfenim madeirense. As freiras do convento de Santa Clara presenteavam os visitantes com alfenim e outros doces. A diário, o madeirense recebe qualquer pessoa em casa, com a oferta de doces e do bolo de mel, que se guarda o ano inteiro para estes momentos.

10 AHU, Madeira e Porto Santo, nº.518.

O ALFENIM. do árabe fanid, mas com origem no persa panid e quer dizer branco. No latim, aparece como alphanicum, alfenid, alpenid, alfanix, no italiano penito, no espanhol alfeñique (sendo no México alfenique), em francês penides, épénide, penidon, penoin e, popularmente como “peningue”. A primeira vez que temos fixado o termo na Madeira é em 146911, com a grafia alfinij. No século XVI, aparece referido no continente português em Gil Vicente, Jorge Ferreira de Vasconcelos. Naidea Nunes (2003) refere que, na Madeira, o alfenim aparece na documentação com as seguintes designações: alfinij (1469), alffiny (1488), alfenjm (1490, 1517), alfenj (1498), alfeny (1517), alfynjm (1523), alfenij (1579) e remata que é “um termo muito antigo, do árabe fânid, que em catalão teria a forma affenic, adquirindo, em castelhano, a forma alfenique, que surge nas Canárias com a grafia alfinique (1540).”(NUNES, 2003:159). Este tem forte expressão no México com as caveiras do “día de los muertos”. Segundo Naideia Nunes (2010: 56) , “No Brasil, o termo alfenim apenas existe no Nordeste, onde foi conservado, provavelmente por se tratar da primeira região açucareira brasileira. Nos restantes estados do Brasil, como podemos ver, apenas encontrámos as denominações rapadura mole, puxa e puxa-puxa ou rapadura puxa-puxa, para denominar 11 .«...os lavradores vendem muito bem suas novidades e frutos, lemos no dito documento, e também mulheres de boas pessoas e muitos pobres lavam açúcares baixos em tantas maneiras de conservas e alfenim e confeitos de que hão grandes proveitos que dão remédio a suas vidas e dão grande nome há terra nas partes onde vão e dizem bento seja o que a povoou, em que tais coisas se dão e fazem, (25 de Agosto de 1469, ARM, Registo da Câmara do Funchal, Tomo I, Pág. 2, vº)

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o mesmo conceito”. Mas o que é o alfenim? Vejamos os que nos dizem alguns dicionários e obras clássicas. Massa de açúcar seca, muito alva, vendida em forma de flores, animais, sapatos, cachimbos, peixes, etc. Do árabe al-fenie valendo alvo, branco. (…) Sinônimo de delicado, melindroso, grã-fino, afeminado. (CASCUDO, 1998.) Um dos produtos derivados da cana-de-açúcar, feito com o mel bem grosso, o qual é puxado até ficar branco.(...) (COSTA, 2011.) O alfenim está documentado em Portugal nos séculos XV e XVI e sabemos da sua presença em festas e romarias populares. Está presente na mesa da coroa e das casas nobres, e era, no século XVI, servido à nobreza, em salvas de prata nas festas do divino, tradição que teve continuidade na Madeira, nos Açores e chegou ao Brasil, sendo, ainda hoje, feito em algumas localidades daquele país. O Nordeste, primeiro, e um das mais importantes regiões açucareiras, foi por muito tempo terra de alfenim, tendo perdido a importância do

passado. Esta arte do alfenim espalhou-se por todo o Brasil, mas hoje persiste em nos estados da Paraíba, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco, Goiás, Natal e Rio Grande do Norte. Ainda podemos encontrar esta tradição em Pirenópolis, associada às festas do divino e na cidade de Montas/RN, nas festas dos Reis e noutras localidades, como a cidade de Goiás, onde as doceiras continuam a realizar esculturas em forma de flores, pássaros, peixes e chapéus. Gilberto Freyre12 documenta a presença do alfenim no Nordeste do Brasil, como uma marca identitária da doçaria portuguesa de origem árabe. Mas, infelizmente, na sua época, era uma tradição em vias de desaparecer, sendo hoje rara13. Na atualidade, não temos qualquer referência do fabrico de alfenim, na Madeira. Mas, ainda há quem se lembre das pombas do divino nas festas do Espírito Santo. O mesmo que acontece em algumas ilhas dos Açores. Na Sicília, também se conserva a tradição dos doces de alfenim e maçapão, principalmente no dia de Todos os Santos, em que as crianças recebem, como presente dos antepassados, várias figuras de açúcar. Esta tradição encontra-se no México, com o 12 Gilberto Freyre (1997), Açúcar. Uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil, S. Paulo, Companhia das Letras, pp. 77 e 80. 13 FREYRE, 1997:514

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culto dos mortos, com a elaboração de caveiras para o dia 1 de novembro. Nesta tradição, misturam-se conhecimentos indígenas com tradições europeias. Os nahuatlacos faziam figuras, normalmente caveiras, para oferenda aos seus mortos. Com a chegada dos espanhóis, surgiram as figuras de caveiras em alfenique. As freiras juntam a esta figuração de caveiras as cenas relacionadas com a época natalícia. Temos, assim, o alfenim/alfeñique modelado em caveiras, anjos e miniaturas de animais ou de fruta, além de outras figuras pequenas como cruzes, ataúdes, calaveras, pratos com comida, canastras com flores. Esta tradição persiste no México, em cidade do México e no distrito federal, Puebla, Oaxaca. O alfeñinque está também documentado na Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru e Equador. Na cidade de Toluca no México, celebra-se incluso a 2 de novembro o festival do alfeñique. ALGUNS DADOS PARA A HISTÓRIA DO ALFENIM. Há uma longa tradição histórica desta arte da doçaria que acompanha o processo de expansão da canade-açúcar do Mediterrâneo para o Atlântico, tendo a ilha da Madeira como um espaço chave da sua divulgação, para as Ilhas atlânticas e América Central e do Sul. São vários os testamentos denunciadores da mestria das madeirenses no fabrico destes doces. Já em 1455, Cadamosto14 refere a feitura de “muitos doces brancos perfeitíssimos”, certamente se referindo ao alfenim. 14 António Aragão, A Madeira Vista por Estrangeiros, Funchal, 1981, p. 37.

A primeira referência documental que temos a esta arte da doçaria data de 146915, quando se refere que esta atividade era indústria importante para a sobrevivência de muitas famílias, uma vez que ocupava “molheres de boas pesoas e muytos pobres que lavraram os açuquares bayxos em tamtas maneyras de conservas e alfeni e confeitos de que am grandes proveytos que dam remedio a suas vidas e dam grande nome a terra nas partes onde vam...”. Esta atividade estava, ainda, vedada aos estrangeiros e mestres de açúcar, uma vez que apenas os “vizinhos e naturaes da ilha” podiam fazer conservas, alfenim e confeitos16. Em 1494 e 1495, a Casa Real portuguesa recebeu 71 arrobas de confeitos, sendo 29 arráteis de alfenim (GODINHO, 1985: 80). A crónica de Damião de Góis apresenta D. Manuel como grande apreciador da doçaria madeirense: “Nas vesporas do Natal consoava publicamente em sala, com todo o Estado de porteiros de maçareis darmas trombetas, atabales, charamellas, e em quanto consoava davam de consoar a todolos senhores, fidalgos e cavalleiros, e escudeiros que estavam na salla, na qual se ajuntavam naquelle dia todos os que andavam na Corte por saberem o gosto que el-Rei levava em fazer este banquete, que todo era de frutas verdes e dasucar, e de conservas, que lhe traziam da ilha da madeira, depois desta consoada (…)”17. Esta era fundamentalmente uma indústria feminina e de fabrico caseiro: “molheres de boas pesoas e muytos pobres que lavraram os açuquares 15 AHM, vol. XV (1972), nº 18, pp. 47-49. 16 AHM, vol. XVI, 1973, pp.198-199, 241. 17 Chronica d’El-Rei D. Manuel, Vol. X, Lisboa, Escriptorio, 1911, p. 92.

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bayxos em tamtas maneyras de conservas e alfeni e confeitos de que am grandes proveytos que dam remedio a suyas vidas e dam grande nome a terra nas partes onde vam.”18 Mas os homens também exercem o ofício de doceiro ou confeiteiro, pois a sua atividade estava regulamentada nos Regimentos dos oficiais mecânicos da cidade de Lisboa. Durante os séculos XV e XVI, esta foi uma atividade que ocupou muitos madeirenses e uma importante fonte de receita das famílias. De acordo com documento de 9 de março de 1490, “...em toda essa ylha nom posa fazer nemguem conservas, alfenim, comfeytos nem outra nenhuüa fruyta daçucaar soomente os vizinhos e naturais da dyta ylha”19. Desde o século XVI, com a chegada dos Jesuítas, que aparecem referências ao fabrico de alfenim (aruheitou em japonês) e outras doçarias, como confeitos (Komfeiton). A primeira referência ao alfenim é de 1569 e, no decurso das centúrias seguintes, temos notícias do seu consumo, situação que ainda hoje persiste. Era e continua a ser um dos doces “nanbam”, de oferta em momentos especiais. Tenha-se em conta que ficou célebre o alfenim madeirense que Vasco da Gama levou para oferecer ao Samorim de Moçambique. Pela mesma via da 18 AHM, Vol. XV, doc. nº 18, p. 48. 19 AHM, vol. XVI, p. 241.

rota da Índia deverá ter chegado ao Japão a arte da confeitaria madeirense, onde ainda hoje persiste. Os estudos de M. Arao (1995, 2001) reforçam a ideia desta influência portuguesa, estabelecendo uma ponte com a Madeira. E não nos espanta que o mesmo tenha sido levado através da ilha da Madeira. A fama alcançada pela arte da doçaria madeirense está testemunhada na embaixada enviada por Simão Gonçalves da Câmara ao Papa. O facto mais memorável é referido pelos cronistas. Jerónimo Dias Leite refere que “(... ) leuou muitos mimos e brincos da ilha, de conseruas, e ho sacro palacio todo feito de asucar e hos Cardeaes hião todos feitos de alfenij (... ) ho que foi tudo metido em caixas embrulhados com algodão, que forão mui seguros e sem quebrar(... ).”20 Escreve Gaspar Frutuoso:21 “E tão generoso foi, que, tendo seu filho Manuel de Noronha, Bispo que foi de Lamego, em Roma, que servia de secretário do Papa Leão, despachou da ilha um criado seu, por nome João de Leiria, homem muito honrado, prudente, e gentil-homem, o qual mandou a Roma visitar o Papa com um grande serviço, que, além de um cavalo pérsio, que lhe mandou de muito preço, que levava de cabresto um mourisco muito gentil, 20 J. Dias Leite (19 47), Descobrimento da ilha da Madeira e discurso do vida e feitos das capitães da dita ilha (Tratado composto em 1579), Coimbra, Universidade de Coimbra, p. 57. 21 Livro Segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada, ICPD, 1979, pp. 248-250.

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homem e alto de corpo, vestido em uma marlota de girões de seda; levou mais muitos mimos e brincos da ilha de conservas, e o sacro palácio, todo feito de açúcar, e os cardeais iam todos feitos de alfenim, dourados a partes, que lhe davam muita graça, e feitos de estatura de um homem, o que foi tudo metido em caixas emborulhados (sic) com algodão, com que foram mui seguros e sem quebrar até, dentro, a Roma, coisa que, por ser a primeira desta sorte que se viu em Roma, estimou-a muito o Papa, e cada uma peça por si por si, foi vista pelos cardeais e senhores de Roma, sendo presente o Papa, que louvava muito o artifício, por ser feito de açúcar, e muito mais louvava o Capitão que lhe tal mandava, largando muitas palavras perante todos em louvor deste ilustre Capitão. E recebeu com muita benignidade o embaixador João de Leiria, que foi muito acompanhado com muitos criados, vestidos de veludo preto, à portuguesa, em companhia do qual ia um cónego da Sé do Funchal, chamado Vicente Martins, natural do Algarve, que ia por acessor o secretário da embaixada, para fazer a fala ao Papa em latim. Era este cónego a

melhor voz de contrabaixo que até seu tempo houve em Portugal, e mui destro no canto, além de ser bom latino; e diante do Papa mostrou sua habilidade na capela, com que foi muito louvado e estimado de todos, e lhe faziam em Roma bom partido por sua fala; contudo, o Papa, por ser do Capitão, lhe fez muitas mercês e lhe deu uma conezia, além da que tinha na cidade de Coimbra, e dois benefícios, outros símplices, que comia em portátiles (sic). E a João de Leiria fez muita honra e mercê, louvando muito as grandezas do Capitão e prometendo-lhe satisfazer as lembranças desta embaixada, que parecia mais de rei que de· vassalo seu. E o papa escreveu uma carta, por João de Leiria, ao Capitão, a substância da qual era: Que se devia de ter por bem-aventurado, pois lhe deu Deus dera um filho tão virtuoso e de tantas partes, quais tinha Manuel de Noronha de Câmara, ao qual, se Deus lhe desse vida, ele faria grande na Igreja de Deus, por ser disso merecedor. E, sem falta, assim fora, se Deus não ordenara outra coisa com levar o Papa para o regno dos Céus em tempo que Manuel de Noronha veio a Portugal, onde o pudera fazer grande na Igreja, como CADERNOS CEHA

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a dita embaixada madeirense nunca existiu e os testemunhos de Jerónimo Dias Leite e Gaspar Frutuoso pura invenção? Em 1550, D. Isabel Mendonça, mulher do capitão-donatário, tinha a seu cargo o abastecimento da casa real, tendo enviado no ano imediato 105 arrobas de conserva, 24 arrobas de fruta seca e 8 arrobas de alfenim22. tinha escrito. Com esta carta veio “mui satisfeito João de Leiria, e muito majs com as honras e mercês que o Papa lhe fez, e, fazendo volta por Génova, daí se passou a Espanha, donde veio ter à ilha; e foi bem recebido do Capitão Simão Gonçalves, que sabia mui bem pagar semelhantes trabalhos e disso se prezava, e ficava tão contente de dar quanto tinha, como se possuira quanto hã no mundo, que isto têm os liberais, viverem sempre na vontade ricos e contentes, porque ainda que dêem quanto têm, fica-lhe o que mais vale, que é o contentamento de o ter dado“. Mas desta embaixada, porém, segundo Luciana Stegagno Picchio (1990), não consta qualquer documento na Cúria Romana, ao contrário de outras que se realizaram. Terá sido uma invenção dos cronistas para exaltar a figura do capitão do Funchal? Atente-se, ainda, na situação, a ter acontecido. Seriam 72 cardeais feitos em alfenim e tamanho natural, o que poderia significar mais de 5000 quilos de açúcar. Por outro lado, teremos ainda de ter em conta o processo de fabrico das figuras e o transporte intacto até Roma. Será que podemos afirmar que

Em 1567, Pompeo Arditi23 dá conta da “conserva de açúcar” que se fazia no Funchal “de óptima qualidade e muita abundância”. Em finais do século XVI, Gaspar Frutuoso24 afirmava “(... ) ricos e esquisitos manjares de toda sorte, como os sabem muito bem fazer as delicadas mulheres da ilha da Madeira, que (além de serem comumente bem assombradas, muito formosas, discretas e virtuosas) são estremadas na perfeição deles e em todolos invenções de ricas coisas, que fazem, não tão somente em pano com polidos lavores, mas também em açúcar com delicadas frutas”. Esta tradição perpetuou-se na ilha para além do fulgor da produção açucareira local, pois segundo Hans Sloane,25 em 1687, o madeirense produzia “açúcar indispensável aos gastos caseiros e ao fabrico de doces, indo ainda comprá-lo ao Brasil”. Outro testemunho a atestar a abundância deste doce na Madeira é o facto de, a 29 de julho de 1593, o fogo do céu, que queimou parte da cidade do 22 ANTT, Corpo Cronológico, p. 1, 85-12 e 85-43. 23 ARAGÃO, 1981: 130. 24 Gaspar Frutuoso (1979), Livro segundo das Saudades da Terra, cap. XXXVI, Ponta Delgada, p. 264. 25 ARAGÃO, 1981: 158.

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os benfeitores. Das suas mãos saíram bolos de mel, talhadas, batatada, coscorões, arroz-doce e queijadas. Cada doce tinha a sua época: a batatada pelo Natal, os coscorões no Entrudo, as talhadas na Páscoa e no dia de Nossa Senhora da Encarnação.

Funchal, dando origem às atuais ruas da Queimada de Cima e de Baixo, ter queimado 5000 pães de açúcar de alfenim. No fabrico das conservas e doces variados, merecem atenção as freiras do Convento de Santa Clara, da Encarnação e Mercês26. Aliás, em 1687, Hans Sloane27 referia-se, de forma elogiosa, aos doces e compotas que havia comido no Convento de Santa Clara, referindo que “nunca vi coisas tão boas”. Segundo Emanuel Ribeiro, os conventos femininos foram os “sacrários da doçaria”28. Na memória de todos, persistem as receitas conventuais, pois que as demais se perderam. Nos conventos de Santa Clara, Mercês e da Encarnação, a doçaria é uma arte que ocupa de forma dedicada as freiras29. Os doces faziam-se em momentos festivos para consumo interno ou para retribuir 26 27 28 29

RIBEIRO, 1928:17, 34, 59. ARAGÃO, 1981: 158 O RIBEIRO, 1928: 34, 59. Cabral do Nascimento, As Freiras e os Doces do Convento da Incarnação, in Arquivo Historico da Madeira, vol. V, Funchal, 1937; Eduarda Maria de Sousa Gomes, O Convento da Encarnação do Funchal, Funchal, 1995, pp.138-142; Cousas & Lousas das Cozinhas Madeirenses, Funchal, 1988.

No século XIX, a doçaria teve divulgação através das pastelarias. Um das mais famosas foi a Pastelaria Felisberta criada em 1837, na Rua da Carreira. Também ficou célebre a doçaria da panificação Blandy, na rua do Hospital Velho. Uns anos mais tarde, Isabella de França30 continuava deslumbrada com as sobremesas doces da cozinha: “Contudo a especialidade da Madeira está na secção dos doces. É imensa a sua variedade; fazem-nos de formas imaginosas e dão-lhes nomes extraordinários. Chama-se ovos moles um género opulento de leitecreme. Ovos reais, quando eles ficam, com a aletria, em fios, e servem para decorar outros doces. Vi um leão britânico feito de pão-de-ló, tão grande como um gato, coroado de prata e com muitas estrelas pelo corpo; a juba e a extremidade da cauda eram de ovos reais. No outro lado da mesa estava a águia americana confeiçoada com os mesmos ingredientes. A uns bolinhos precioso dão o nome de beijos de frade. Certa massa em forma de sincelos denominase lágrimas. Mas de todos os nomes o mais estranho é o toucinho-do-céu aplicado em geral a umas fatias, que também podem tomar o aspecto de perna de porco ou até cordeiro. ” Nos anos vinte, a cidade estava servida de onze confeitarias. Hoje, o único testemunho que resta dessa importante indústria do 30 Jornal de uma visita à Madeira e a Portugal (1853-1854), Funchal, 1970, p.174

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doce madeirense é o bolo de mel. Nas ilhas dos Açores, o alfenim manteve-se na tradição dos ex-votos das festas do Espírito Santo na ilha Terceira, Graciosa e S. Jorge, onde ainda hoje persiste a tradição de fazer este doce. Nos Açores, a indicação mais antiga que temos ao alfenim surge em 1532, no inventário do testamento de Antão Martins na Terceira31. Aí refere-se uma pedra de fazer alfenim. Depois, no século XIX é referido na Horta, onde, até 1870, “ as freiras do convento da Glória mandavam no dia de S. Marcos, aos membros da collegiada da igreja matriz, antes da hora das ladainhas maiores que se celebram em tal dia, uma bandeja com uma coroa formada por pequenos cornos de alfenim, tendo no centro flores artificiaes e um com o maior destinado ao Vigario.”32 Depois, temos em 1832, de novo as freiras da Horta a oferecerem a D. Pedro Duque de Bragança lavores doces de alfenim: “Devemos aqui mencionar que na vespera do regresso de S. M. as freiras do Mosteiro da Gloria, fizeram- lhe um avultado presente de doces para a viagem, incluindo no mesmo outros tantos corações de alfenim, como o numero de religiosas, de tamanho natural e tendo cada um em letras doiradas as iniciaes do nome da diferente.”33 Pérez Vidal34 destaca a importância da indústria 31 GIL, Maria Olimpia da, O Arquipélago dos Açores no século XVII. Aspectos Sócio-Economicos (1575-1675), Castelo Branco, ed. Autor, 1979, 60. 32 CHAVES, F. A., AS FESTAS DE S. MARCOS NALGUMAS ILHAS DOS AÇORES E A SUA O RIGEM PROVAVEL, in Arquivo dos Açores, XIII, 1983, p.195. 33 O SENHOR D. PE DRO ·IV (1832), in Arquivo dos Açores, VIII, 1982, p.36. 34 J. Pérez Vidal (1967), «Las conservas almibradas de las Azares y las

confeiteira dos Açores, dando conta de intercâmbio de doces e conservas terceirenses com as Canárias. Mais destaca o intercâmbio de mestres açucareiros nos três arquipélagos atlânticos. Nas Canárias, o termo alcorças (1540), surge a designar uma massa branca de açúcar com que se fazem figuras, o que poderá estabelecer uma ligação com o alfenim. Não sabemos quando se iniciou a feitura do alfenim na ilha Terceira e a sua ligação às festas do Divino. Mas as notícias e referências surgem soltas a atestar este doce como uma das formas de bem receber dos terceirenses e uma presença constante no quotidiano. No século XVII, o Convento da Glória da ilha do Faial notabilizou-se na confeção de doces artísticos. Ernesto Rebelo registou a memória da ostentação alimentar conventual desencadeada, em 1803, pela visita à ilha do Faial do Bispo da diocese açoriana, D. José Pegado d’Azevedo, referindo: “Pois trabalhos de alfenim! …nisso então eram grandes, houveram do mesmo arvores brancas como neve, carregadas de bolas doces e vermelhas imitando damascos, bonecas doiradas, n’um chão de fio d’ovos, pombinhas de azas abertas e olhos vermelhos, muitos corações de tamanho quasi natural, com iniciaes em oiro, das offerentes, e centos de cestinhos arrendados, com difficeis trabalhos de papel picado e contendo Canarias», Separata do vol. XIV do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, Tipografia Andrade, pp. 2-3.

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que vemos expostas, especialmente as famosas pombinhas e os preciosos cestos com flores, tudo feito de alfenim”. delicados confeitos”.35 D. Pedro recebeu das freiras do Mosteiro da Glória um presente doces: “….corações de alfenim, como o número de religiosas, de tamanho natural e tendo cada um em letras doiradas as iniciais do nome da Offerente”.36 No século XX, sabemos que era muito popular a atestar por duas referências. José Pereira da Costa37, no seu testemunho de vida, refere a importância do alfenim na sua infância, passada no Pico e Terceira. No seu casamento a 6 de setembro de 1847, com Maria Clara Pereira da Costa, refere “ o lindo bolo, com três colunas que sustentavam um segundo bolo encimado com um cesto, de alfenim, imitando os vimes, cheio de pequenas rosas, tão perfeitas que pareciam naturais(....) uma maravilha de verdadeira arte da doçaria da Terceira”. Explica, depois, que “o bolo... foi preparado por amigas da mãe da Clara que tinham muito jeito e experiência na arte de doçaria. Quando regressámos a Coimbra, levámos o bolo que estava sobre as colunas e o cesto com as rosas que foi muito admirado e partilhado com os nossos amigos, com champanhe e não faltaram elogios e admiração pela obra de verdadeira arte de doçaria.” Em 1960, Carreiro da Costa38 afirmava numa crónica sobre a cidade de Angra do Heroísmo que “… ao longo das ruas de Angra, é a antiga doçaria, revelada através de algumas curiosas espécies 35 Rebelo (1982): 464-465. 36 Arquivo dos Açores, 8 (1982): 36. Lima (1943): 342. 37 José Pereira da Costa(Entrevistado por Francisco Manuel Gomes), José Pereira da Costa. Um Homem das ilhas, Funchal, DRAC, 2008, pp.46 e 201.. 38 Etnologia dos Açores, vol. 2, Lagoa, Câmara Municipal de Lagoa, 1991, 762-763.

Em 1962, aquando da visita presidencial do Almirante Américo Thomaz os seus netos foram presenteados com alfenim. Diz o Conde de Funchal39 que, após o almoço na Praia da Vitória, o edil local ofereceu “aos netos do Senhor Almirante Américo Thomaz, um gracioso cesto de flores do típico «Alfenim», doce de açúcar, esculpido artisticamente,...” Uma visita à Terceira, no período de 17 a 22 de novembro, levou-nos à Pastelaria Athanásio, na rua da Sé, em Angra do Heroísmo e em busca da doceira que ainda prepara o alfenim que aí se vende. A 21 de novembro fomos ao encontro de Maria Manuela Cardoso, uma das poucas mulheres que nos Açores conhece a arte de fazer alfenim. É herdeira de uma tradição familiar de fabrico do alfenim e pretende perpetuá-la, acedendo à sua divulgação e a diversas ações de formação. E é hoje o rosto mais visível da continuidade desta tradição, à qual se pretende dar continuidade através de formação específica e divulgação promovida pelo CRAA (Centro Regional de Apoio ao Artesanato). Há outras mulheres na Ribeirinha, como em S. Jorge e Graciosa, que fazem o alfenim para uso caseiro e ofertas, mas Maria M. Cardoso é a única que na atualidade faz alfenim para venda ao público nas pastelarias Athanásio e Central, em Angra do Heroísmo. Recorde-se que, no passado, foi uma fonte importante de rendimento para muitas famílias destas ilhas. Daí o segredo inerente a esta arte, que hoje se perdeu. Maria Manuela Cardoso fala da sua arte com 39 Cruzeiro Atlântico, Lisboa, 1962, p. 104.

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Alfenim da Madeira para o mundo prazer e explica-nos todos os aspetos inerentes ao processo de fabrico. A sua experiência permite-lhe dar conselhos na escolha do melhor açúcar para este trabalho. Nos Açores, temos o açúcar local de beterraba e o importado do continente, mas a sua preferência vai para o local, quando há, em que se gasta menos vinagre. No outro açúcar, o gasto é superior no dobro. O processo de fabrico do alfenim, que dura cerca de 25 minutos, inicia-se com a mistura da água e do açúcar com o vinagre em proporções adequadas. Quando a massa de açúcar atinge uma cor pérola inicia-se o processo de trabalhar a mesma, processo que no Brasil se chama de “puxa-puxa”, até ficar branco. Nesta altura, inicia-se o processo de modelagem das peças. Primeiro, as pombas do divino e, depois, uma variedade de peças, de acordo com a solicitação dos clientes ou maior procura na pastelaria. O fabrico das peças não acontece apenas no momento das festas do Espírito Santo, isto é, no sétimo e no oitavo domingos a seguir à Páscoa, quando se assinalam os bodos. Este é, sem dúvida, o momento mais importante. Aliás, todo o ano, a pastelaria Athanásio ostenta as peças de alfenim na sua montra, o que significa procura40. À tradicional pomba do divino, junta-se a cabaça a rosquilha, também associadas ao ritual, como a coroa do divino. Mas poderá ainda fazer-se cisnes, ursinhos e outro tipo de figurinhas. Maria M. Cardoso recorda que, pelo Santo Amaro, a 15 de janeiro, há a tradição de agradecer a cura com figuras evocativas da parte do corpo que terá sido alvo da intercessão do santo na cura, como pernas, braços, gargantas, pulmões e mesmo figuras humanas. A moldagem do alfenim segue a imaginação da artesã ou de quem a demanda. Fazem-se presépios, pequenas peças para brinde, em momentos especiais, como casamentos. Maria M. Cardoso recorda-nos uma demanda de 500 peças de brinde para um casamento nos Estados Unidos da América. Na sua página do Facebook, podemos ver outras peças como: a tourada à corda, o sol das Sanjoaninas de 2009, cesta de flores de jarro, bolo -”Viva S. João”, “casalinho de braço dado”, órgão 40 Também tem divulgação e venda na Internet. Desde 2009 tem uma página o Facebook onde divulga a sua arte: ttps://www.facebook. com/Alfenim-Pomba-Branca-Doce-191284587365/. Visualização a 22.11.2015). Possui ainda uma site de divulgação em: http://alfenim. no.comunidades.net/ . Visualização em 22.11.2015.

de tubos, máscaras e adornos do entrudo, “cabeça oriental”. Muitas destas peças são pintadas à mão, com corante alimentar. Saliente-se que, por testemunhos de algumas pessoas na ilha da Madeira, refere-se que, também na ilha, se fazia as pombinhas do divino, aquando das festas do Espírito Santo. Aqui está uma oportunidade para reavivarmos esta tradição pela maestria desta doceira terceirense. Esta ligação às festas do Espirito Santo não acontecia apenas nos Açores, pois segundo Brandão (2001. p.13): Como em algumas festas mais tradicionais do Divino, preserva-se o costume herdado da Idade Média portuguesa de uma distribuição farta e generosa de comida a todos os presentes, completa-se o ciclo dos gestos e de sorte que uma festa popular é a mistura, ao mesmo tempo espontânea e ordenada, de momentos de rezar, cantar, dançar, desfilar, ver, torcer, cantar. Enfim, de “festar”. Outro autor, Borges (2007), reforça a ideia ao afirmar que: O culto do Espírito Santo tem um grande incremento a partir do século XII-XIII a quando do “Milagre das Rosas” da Rainha Santa Isabel e a Coroação dos Pobres na Vila de Alenquer iniciandose a Devoção ao Divino do Espírito Santo - Terceira Pessoa da Santíssima Trindade simbolizado pela Pomba Branca. Mais tarde, o “alfenim” ou “al-fenid” devido á sua brancura, que é subentendida como pureza e purificação, foi assimilado e introduzido no culto religioso cristão. Desde então, o doce “alfenim” foi transformado em peças de arte gastronômicas tais como a Pomba Branca representando o Espírito Santo, e todos os outros símbolos utilizados no ritual de celebração da Festa do Espírito Santo ou dos Santos Padroeiros como a coroa, a rosquilha de pão, os animais e outros motivos decorativos que eram doados à Irmandade do Espírito Santo ou outras e, mais tarde, leiloados revertendo a venda para a organização da festa. No caso de graça obtida, a pessoa encomenda à doceira que confeccione uma peça com a simbologia ou outras formas, em “alfenim”, indicando o peso da peça que pretende, a parte do corpo que beneficiou de uma graça do Divino Espírito Santo: um braço, uma perna, um pé, etc..O “alfenim” surge assim, associado às Festas do Espírito Santo e dos Santos Padroeiros, ofertado em retribuição das graças obtidas. Das mesas do reino, o alfenim passou às das ilhas CADERNOS CEHA

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Alfenim da Madeira para o mundo e daqui ao Brasil. Foi companheiro da cana-de-açúcar. Há uma tradição portuguesa da doçaria conventual e caseira que se expandiu e que certamente tem um toque madeirense, no sentido de que a divulgação da cultura, do processo de fabrico do açúcar e da doçaria parte para as outras ilhas e, depois ao Brasil a partir da Madeira. Desta forma, será difícil credibilizar algumas ideias-feitas de que a ligação deste doce com as festas do divino pertence aos Açores. A divulgação do açúcar e da arte da doçaria teve uma ação muito forte de madeirenses, que os levaram aos Açores e também ao Brasil. A continuidade nos Açores e no Brasil deve-se à vivência atual de tradições populares.

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CADERNOS CEHA Centro Estudos de História do Atlântico (CEHA) Rua das Mercês, nº 8, Funchal Tel: 291 214 970 • Fax: 291 223 002 email: [email protected] página web: http://ceha.gov-madeira.pt/ blogue: http://memoriadasgentes.blogspot.com

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