Algumas lições das mobilizações de junho pelo Brasil: um novo começo (jul/2013)

July 25, 2017 | Autor: Pedro Cazes | Categoria: Junho 2013
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Algumas lições das mobilizações de junho pelo Brasil: um novo começo 1. A ordem do mundo, pois que contraditória, volta e meia é sacudida e revirada bruscamente, fazendo com que o “impensável” de ontem seja o “urgente” imediato de hoje. Mas nenhuma conjuntura política em ebulição pode eliminar as consequências de um processo de longo prazo. A reviravolta política vivida no Brasil nas últimas semanas tem como primeiro efeito imediato a avassaladora necessidade de outra leitura do país. Afinal, a primeira impressão de todos, inclusive dos renomados cientistas sociais de gabinete, foi um retumbante ponto de interrogação: “o que está acontecendo?”. Sejamos diretos: se até anteontem precisávamos pedir licença para criticar o governo PT, agora podemos afirmar abertamente que desabou o mito do “lulismo”. Ou seja, perdeu o chão aquela impressão generalizada – que comandava a leitura da realidade da grande mídia, de propagandas governamentais e de intelectuais de “esquerda” – de que, afinal de contas, o país está melhorando, crescendo e distribuindo renda, cuidando dos pobres, “erradicando a miséria” e etc. O velho mito da conciliação de classes, que parecia enfim realizado no “milagre” do lulismo, tendo imobilizado boa parte das forças sociais e da “intelligentsia” do país, fascinadas com essa alucinação em que saíam felizes tanto o capital financeiro e o agronegócio, quanto os “pobres” e a “nova classe média”, desabou. A ideia de que o “progresso” do nosso crescimento econômico iria beneficiar todas as classes expôs agora o seu fundamento real. Ora, o que poderia ter levado ao desabamento essa panaceia sustentada tão enfaticamente por nossos governistas de plantão? Curiosamente, o que ficou nas sombras durante os anos de entusiasmo petista foram as próprias condições de vida da classe trabalhadora no Brasil, impedidas de mostrar as caras pela propaganda oficial de um “país para todos”, que só precisaram mesmo de mais um aumento nas passagens de ônibus para fazerem explodir a panela de pressão das seculares desigualdades brasileiras. Enquanto a mídia se perguntava “tudo isso por 20 centavos?”, pensávamos: “20 centavos... E precisava mais?”. Só mesmo dos gabinetes do Planalto não se enxerga a situação do trabalhador brasileiro espremido entre a alta da inflação (puxada pelos alimentos, pelo valor dos alugueis, entre outros itens fundamentais da reprodução da força de trabalho); o endividamento das famílias (cujo crescimento galopante já atinge 60% das famílias brasileiras); a absoluta calamidade dos serviços públicos (dentre os quais coloquemos a situação do sistema de transporte coletivo das grandes cidades); a alta rotatividade e a baixa remuneração dos empregos criados nos últimos anos (95% dos novos postos de trabalho criados têm remuneração de até 1,5 salários mínimos); o crescente desemprego ou subemprego, atingindo inclusive trabalhadores com nível mais alto de escolarização; o comprometimento da renda da classe média (entre escolas e faculdades particulares, planos de saúde, inúmeros financiamentos e etc.); a violência do avanço da fronteira agrícola do agronegócio e os conflitos sociais no campo; isso tudo

sem falar na realidade básica e incontornável da exploração do trabalho, traduzida na alta da produtividade do trabalho, nos níveis de saúde do trabalhador e etc. Resumindo, talvez não tenha sido por acaso que a revolta tenha se iniciado com o aumento do valor das passagens de ônibus, já que o ritual cotidiano de sofrimento nas condições desumanas em que funciona o transporte coletivo no país constitui esse “excesso” da exploração difícil de engolir: além de todas as pressões diárias, os trabalhadores são forçados a enfrentar duas, três horas de aperto, de humilhação, em condições péssimas, enquanto as passagens vão sempre aumentando, chegando a comprometer entre 10% e 40% da renda do trabalhador das grandes cidades. O clima de festa dos megaeventos só expõe mais a contradição, com o aumento da “exposição” das cidades – pra gringo ver, é claro –, na medida em que o trabalhador vê rios de dinheiro público sendo gasto nas obras de estádios que ele mesmo costumava frequentar, mas, que agora, com jeito e preço “modernos” de arena europeia, não poderá mais botar os pés. Pois bem, essas contradições não tinham por onde encontrar uma válvula de escape que articulasse a insatisfação generalizada das classes trabalhadoras – dado, por um lado, que boa parte das nossas organizações de “esquerda” se empenharam zelosamente em desarticular e impedir que as lutas sociais desabrochassem ou pelo menos que ganhassem alguma voz em meio à anestesia do entusiasmo lulista e, por outro lado, dado que a maior parte da classe trabalhadora não está organizada politicamente – explodiram com a escalada das manifestações contra o aumento das passagens. Escalada que dependeu inclusive da mobilização transbordar os pequenos círculos da militância organizada de esquerda, cujo raio de penetração real nas classes trabalhadoras hoje é, infelizmente, muito reduzido, para não dizer insignificante. Muito do chamado poder das “redes sociais” e da falta de clareza das pautas de reivindicações tem a ver com essa situação histórica de menor organização política das classes trabalhadoras no Brasil. 2. Assim, o segundo mito que cai é o de que não veríamos nunca grandes mobilizações populares no Brasil. Do dia pra noite uma nova geração se reeduca, vai pras ruas pela primeira vez. Isso já é importante, traduzindo um momento em que o avanço da consciência política é muito mais rápido, forçado pelas circunstâncias. Além da pauta dos transportes unificar insatisfações de quase todas as classes, a repressão brutal da polícia também agregou manifestantes indignados com o tratamento dado a quem protestava nas ruas, gerando uma escalada das manifestações. Essa solidariedade com os primeiros a sofrer a violenta repressão policial nas manifestações, inclusive com aqueles que ficaram na linha de frente, resistindo aos ataques da polícia e protegendo as massas de manifestantes que fugiam ou eram encurralados pela polícia nas vielas das cidades, ajudou a unificar as vozes e as indignações. Dado o massacre e o estado policial instaurado pelo país – com direito a todo tipo de prisão arbitrária, balas de borracha ou de fuzil, perseguição política e etc. – ficou muito mais fácil discutir com quem estivesse indo às ruas o significado real da

"democracia" em que vivemos. Termo que, há dois meses, se alguém questionasse era visto como esquerdista maluco. A reeducação das ruas é particularmente importante porque viemos de anos de letargia, quando a esquerda “oficial” ficou vendendo o peixe de que o principal era eleger Lula, Dilma, ou Freixo, ou Haddad, ou o da vez. A experiência de que só a luta popular pode pressionar os governos, trazer conquistas aos trabalhadores, e abrir os horizontes de transformação social é o primeiro passo para o recomeço que se anuncia. Recomeço necessário porque, se as pessoas estão se “reeducando” a partir das lutas nas ruas, é porque foram durante anos "deseducadas" por uma ideologia reformista/legalista que menospreza suas reivindicações concretas em nome de ganhos eleitorais, da “presença” do Estado na economia, da “representação” por cima e etc. Ou seja, uma “esquerda” organizada para “gerir o capitalismo”, que abriu mão completamente de mostrar para as pessoas que os problemas de nossas vidas estão ligados ao sistema em que tudo gira em torno da acumulação de capital. Essa esquerda da “ética”, da contenção emergencial da “pobreza” - que como o próprio Lula falou: “é muito barata” - desarmou a classe trabalhadora na luta de classes, maquiando a realidade do capitalismo como quem tenta perfumar merda, como diz um slogan pichado nos muros das cidades brasileiras. O mais problemático é que quando o povo vai para as ruas com reivindicações justas – primeiro a redução das tarifas e melhor condições do transporte coletivo, depois se alargando contra os gastos na Copa, por mais investimentos em saúde e educação, e etc. –, mas enxergando as coisas a partir daquela ideologia dominante de que o problema do Brasil é a corrupção, os políticos, a “má gestão” do Estado, essa “esquerda oficial” abre mão do real trabalho político de disputar e discutir, fazendo a consciência política do maior número de pessoas se transformar nesse momento. Recapitulando: quando as manifestações foram crescendo, unindo uma massa de indignados e revoltosos aos núcleos mais tradicionais de militantes, as grandes mídias precisaram mudar o discurso – antes marcado pelo tom “policial” em que se referia aos “vândalos” que depredavam o “patrimônio público” e “atrapalhavam a cidade” – e passaram a tentar “pautar” o movimento. Inventaram que os protestos eram contra a “corrupção” e a “PEC-37”, para que o caráter popular e anticapitalista dos protestos pudesse ser agenciado pelas classes dominantes. Pois bem, não deveria haver nenhuma surpresa com esse esforço da rede Globo, e das outras redes do oligopólio das comunicações em construir a oposição entre os manifestantes “pacíficos e ordeiros”, engajados por um “Brasil melhor”, e os “vândalos” e “bandidos”. Sabemos muito bem a quem elas servem. Mas o que também sabemos é que a suposta “oposição” da rede Globo ao governo PT só serve para que esse possa continuar a manter a sua máscara de “esquerda” enquanto faz os anos de ouro dos lucros dos banqueiros, agronegócio e etc. Ou seja, só serve à própria classe dominante, que agradecerá infinitamente ao PT por fazer as políticas do Banco Mundial, FMI e etc. parecerem de “esquerda”

para a opinião pública brasileira. Assim, depois de abrir mão de organizar as lutas populares em um sentido anticapitalista, a nossa “esquerda oficial” se assusta ao ver o povo nas ruas com uma mistura heterogênea e contraditória de sentimentos nacionalistas, apartidários e antipartidários, que na maioria das vezes não era fruto de uma mal denominada convicção fascista organizada, mas de um senso-comum insatisfeito com o conjunto de partidos políticos – incluindo PT, PCdoB e etc. – que não reconhecem como comprometidos com suas lutas diárias por uma vida digna. É claro que não podemos menosprezar o papel da ideologia dominante que criminaliza os movimentos sociais, as lutas populares das ocupações, das favelas, dos sem-terra, e sabemos bem o quão repugnante, reacionária e inaceitável foram as hostilizações e agressões sofridas por grande parte dos militantes, principalmente no momento em que as manifestações passaram a contar com um contingente mais heterogêneo, muitos realmente tomados pela pauta da “corrupção”, da “roubalheira” e etc. Ora, uma das lições deixadas pelo século XX é que o crescimento do fascismo não se combate com palavras bonitas e abstrações como “democracia”. Se combate mostrando que somente as lutas populares podem construir o caminho de uma sociedade justa, que não é a nação forte, mas o povo organizado enquanto classe dominante. Além disso, é equivocado generalizar uma posição de direita fascista para toda a massa que foi às ruas pintada de verde e amarelo cobrando mais saúde, educação e transporte. Aliás, não foi o próprio PT e suas crias que transformaram a bandeira da “ética”, da moralidade na política, contra a corrupção, como carro-chefe de suas campanhas eleitorais das últimas décadas? Não foram eles que durante anos entoaram “Fora FHC”, “Fora Lula” e etc.? Agora que essas palavras de ordem aparecem nas manifestações eles se assustam? Esquisito seria acreditar que por passe de mágica seriam revertidas três décadas de recuo de uma posição revolucionária de esquerda e que de repente todos se identificariam com as bandeiras vermelhas. O momento decisivo da conjuntura em ebulição do mês de junho foi o dia 20, quando mais de dois milhões de pessoas saíram às ruas do país. A heterogeneidade dessa massa ainda foi reforçada pelo anúncio, no dia anterior, da queda do valor das passagens do transporte coletivo no Rio e em São Paulo. A partir das experiências desse dia, em que ninguém conseguia entender muito bem qual era o tom dos protestos - dado que as manifestações mobilizadas pelas redes sociais não conseguiam construir um sentido político claro - ficou evidente que os rumos do processo dependeriam da capacidade de se articular uma pauta política concreta que unificasse as lutas populares e pressionasse os governos em torno de ações imediatas e específicas – como foi a própria questão da redução do preço das passagens. Infelizmente não foi esse o rumo que o processo tomou. A maior parte da “esquerda”, assustada com o poder da ideologia dominante enraizada nas contradições em que vive o povo brasileiro, e incapaz de compreender a brusca mudança de conjuntura, preferiu alertar para o perigo do “golpe da direita” ou do “fascismo” e

defender a legalidade institucional, o governo Dilma, ou o próprio “direito de levantar bandeiras”, aparentemente como um fim em si mesmo. Caíram direitinho na armadilha da rede Globo. Assim, em um momento em que o processo poderia crescer e construir uma pauta concreta de reivindicações, se radicalizando positivamente, fomos levados a dar um passo atrás. A camada média apelidada de “coxinha” em São Paulo acabou ganhando maior visibilidade e o PT também fez sua parte, botando todas suas fichas na pauta desmobilizante da “reforma política”, afinal, essa esquerda liberal além de capitalista também é institucionalista. Porém, o dado mais importante é que com o crescimento dos protestos muito para além da capacidade de mobilização de qualquer grupo ou partido organizado, eles chegaram às periferias de todo o país. Na terça-feira 18/06 a periferia de São Paulo amanheceu parada por diversas passeatas, fechando estradas, ocupando prefeituras e etc. Naquela mesma semana os subúrbios do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense foram tomados por diversas passeatas e manifestações, organizadas a partir da própria comunidade e de suas reivindicações concretas, na maior parte das vezes no “boca-a-boca”, e sem que houvesse qualquer grupo de esquerda organizando. Na terçafeira, 25/06, as comunidades das favelas da Rocinha e do Vidigal desceram para o Leblon (bairro carioca com um dos valores de metro quadrado mais caro do mundo) cobrando saneamento básico, creches e postos de saúde, criticando as obras de fachada e o projeto de um teleférico. Essas manifestações que se espalharam por todas as cidades do país pouco foram televisionadas, não ganharam repercussão na televisão e pouco foram discutidas pelas próprias assembleias e plenárias dos movimentos sociais e da esquerda. Nesse momento já ficava claro que esse levante popular nas cidades avançava com pautas concretas de reivindicações e indignação atropelando os próprios partidos de esquerda que ficaram preocupados com o fantasma da “ameaça golpista” criado por eles mesmos (afinal, qual setor das classes dominantes está insatisfeito com o governo?) e voltados para defender as suas próprias bandeiras – mesmo que o povo não se reconheça nelas e que sua presença muitas vezes afaste pessoas bem intencionadas. Nesse momento em que o movimento deveria unificar uma pauta concreta que avançasse a luta popular, novamente voltaram-se para si mesmos. No Rio de Janeiro, a plenária do dia 25/06 deixou isso bem claro, esvaziando a empolgação de três mil presentes com um show de descompromisso, oportunismo e “rodo” dos grupos que compunham a mesa. Preferindo usar aquele espaço para propagandear suas entidades, e brigando entre si pelo comando da mesa, desmobilizaram os presentes ao não definir uma pauta política concreta, não definir uma estratégia de mobilização e organização de panfletagens, não se articular com os movimentos populares de ocupação, de favelas e outros, que também não tinham voz naquela plenária. A esquerda que tem “medo das massas” voltou-se mais uma vez para si mesma, para seu próprio umbigo, a fim de continuar a cultivar a sua autoimagem de líderes revolucionários, enquanto a população estava disposta a ir pras ruas protestar e não se

reconhecia naqueles que se proclamam sua vanguarda. A partir desse ponto, com uma desarticulação intencional por parte de vários grupos organizados, foi muito difícil evitar certo esmaecimento dos protestos e manifestações. 3. O que queremos com nosso texto é encarar aquelas que nos parecem ser as lições mais importantes dessas “jornadas de junho”. As grandes “entidades de esquerda”, direta ou indiretamente ligadas ao petismo não vão querer enxergá-las porque estão preocupados em tentar capitalizar esse momento de agitação para as próximas eleições ou para dar mais visibilidade ao seu grupelho isolado. Não as enxergarão porque o que se anuncia é o seu próprio fim. Ao invés de cairmos na ladainha de que a "esquerda precisa se unir" contra a direita ou qualquer outra coisa do tipo, precisamos ressaltar: a lição que vem das ruas é muito mais profunda e radical. O que está em jogo é a "refundação" da própria ideia mais geral do que significa ser de "esquerda", ou seja, do que deve ser uma organização política, quais seus objetivos e suas formas de operar. Por quê? Porque vimos um ascenso de massas que se deu A DESPEITO dos “partidos de esquerda” existentes. Com isso não queremos menosprezar o trabalho de todos os movimentos que estiveram presentes em todos os momentos dessa luta, que se organizam cotidianamente para travar as lutas, muito pelo contrário. Aliás, pequenos grupos e pequenos coletivos ligados aos movimentos sociais tem tido muitas vezes uma influência muito mais decisiva e positiva do que os grandes “partidos de esquerda” – a própria situação do MPL de São Paulo de certa forma expressa isso. A questão é que a população que foi às ruas protestar por bandeiras justas como saúde, educação e transporte na maior parte das vezes não se identifica com os partidos de esquerda atualmente existentes, e não teria ido se tivesse sido convocada por um desses partidos (aí o ponto positivo das redes sociais). Essa não identificação varia desde a antipatia leve até o antipartidarismo agressivo. Vale lembrar que nas últimas duas ou três décadas crescemos com uma esquerda que reduziu o socialismo a um imperativo ético, algo para refletir no travesseiro, enquanto se passasse o dia a gerir o capitalismo brasileiro. É perfeitamente compreensível a descrença que “novos partidos da ética” não farão nada diferente. Já as pessoas que se envolveram diretamente na construção coletiva dos atos e manifestações viram que esses partidos não só não estão mobilizando a população, como, pior ainda, trabalham para desmobilizar o movimento, e para mantê-lo no círculo da esquerda autorreferente (como uma minoria que defende o “direito de usar uma sigla como bandeira”). Como não tem o compromisso de construir o movimento de massas e as lutas populares, fica evidente o oportunismo, o “peleguismo” e o legalismo de PSOL, PSTU, PT, PCdoB e etc. Por outro lado, as mobilizações que varreram os bairros mais populares da cidade, os subúrbios e as periferias, NÃO foram organizadas tampouco por essa esquerda “oficial”. Pior, novamente eles viraram as costas, e nem procuraram se articular organicamente com as lutas e as

pautas concretas desse levante. Isso significa que ao invés de algum clamor pela "unidade da esquerda", da "frente" ou qualquer coisa, esse seria o momento para ler mais claramente os sinais, que mostram que infelizmente os partidos que se auto intitulam vanguarda da classe trabalhadora estão apartados das massas. Ao invés de nos aprisionarmos na “coluna vermelha”, separada da população que olha com desconfiança ou desprezo, deveríamos lutar e construir pela base as lutas populares, fortalecendo a construção coletiva e os movimentos populares, nos articulando e buscando atingir um número cada vez maior de pessoas que estão indignadas, estão se revoltando, mas sem um horizonte de esquerda na cabeça. Porém, erra quem interpretar este texto como uma apologia das novas formas de organização, da “multidão” e etc. Diante de um Estado Policial, de uma ideologia dominante organizada seja na rede Globo, seja no PT – e todos os agrupamentos que gravitam ao seu redor –, as classes populares deverão mostrar-se desorganizadas? Deverão se limitar a uma rede social que pode ser desligada ou hackeada (basta ver o recente escândalo dos casos de espionagem dos EUA) a qualquer momento como aconteceu em outros países? O grande problema do apartidarismo não é a descrença nas nossas “maravilhosas” instituições democráticas. É a crença de que poderá haver ganhos sociais sem muita mobilização e organização política. Quem saiu para as ruas quer melhorias agora, e não promessas. O que urge é demarcar nitidamente a fronteira de quem está a fim de sistematizar as reivindicações cada vez mais concretas e levá-las às últimas consequências, e quem se curva diante das dificuldades criadas pelas classes dominantes e suas organizações. 4. Por fim, devemos enxergar que se abre uma nova perspectiva, uma nova conjuntura - que tende a durar, pois a Copa do Mundo é só ano que vem -, a visibilidade do país e a gastança do dinheiro em projetos bilionários continuam. Devemos trabalhar para avançar na consciência de que os nossos problemas não se devem somente aos gastos com a Copa ou aos desvios de verba de políticos corruptos. Devemos mostrar como o Estado trabalha todo dia e coloca todas as suas forças – dos recursos econômicos até a repressão jurídico-policial – para garantir o lucro dos empresários. Devemos denunciar os bilhões dos pacotes de desoneração de impostos concedidos pelo governo federal (bolsa-capital) e que não se limitam somente às empresas de transporte coletivo, mas beneficiam o capital financeiro, os industriais, o agronegócio, e etc. Devemos denunciar que metade dos recursos da União vai todo ano para pagamento e amortizações de juros bilionários da dívida pública, dê-se a ela o nome de interna ou externa. Devemos denunciar a mercantilização da educação e da saúde que segue a largos passos, abrindo bolsões de acumulação para o capital financeiro. Ou seja, precisamos retomar a perspectiva de construção das lutas populares em um sentido anticapitalista que possa reverter o recuo em que a classe trabalhadora foi colocada pela hegemonia do petismo na esquerda brasileira que, como as ruas não nos deixam mentir, já está caindo de podre há muito e muito tempo.

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