Alguns elementos da epistemologia

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Conceito, Benoit Hardy-Vallée
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Descrição do Produto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração
Turma: Mestrado Acadêmico 2015
Professor: Mauricio C. Serafim
Discente: Gisiela Hasse Klein
Aula: Alguns elementos da epistemologia
Obra estudada: HARDY-VALLÉE, Benoit. O que é um conceito?. São Paulo: Parábola, 2013.


Sobre o que é o livro?
Benoit Hardy-Vallée apresenta, de forma bastante didática e esquematizada, as diferentes concepções de conceito em função dos campos de saber, das teorias e do discurso.

O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito?
Com uma linguagem clara e objetiva, Hardy-Vallée trata de temas densos. Na introdução, o escritor busca na literatura um exemplo do que seria um homem incapaz de apreender conceitos. O conto Funes, el memorioso, de Jorge Luis Borges, traz um personagem que consegue memorizar tudo – sonhos, cotidiano, palavras... – mas não tem o dom da abstração e, portanto, não consegue formular conceitos sobre nada. Cada cão que lhe aparece é um novo cão. Ele não tem a capacidade de categorizar o cão como um cão, animal, mamífero, com quatro patas. O personagem apreende cada objeto no mundo como único e, portanto, não é capaz de chegar ao conhecimento. A partir desse exemplo, o autor nos leva para as teorias sobre o que é um conceito, como se forma um conceito e para que serve um conceito.
Em seis curtos capítulos, ele expõe todos os aspectos do conceito: invariante, critério, aquisição e formato, organização e função, além de situar os principais filósofos que trataram do assunto e apontar as diferentes correntes teóricas. Antes, porém, resume com bastante fidelidade o que é um conceito: "Os conceitos são universais abstratos, organizados sistematicamente, que aplicam a representação de propriedades invariantes de uma categoria a objetos particulares em função de um critério. O conceito serve diferentes funções epistemológicas e metafísicas".
O primeiro capítulo trata do invariante. É a capacidade que nós humanos temos de reconhecer os objetos no mundo por meio de propriedades similares. Esse reconhecimento se dá pela percepção (conhecimento pelos sentidos) e/ou pela concepção (conhecimento pela razão). Para Aristóteles, o conhecimento passa pela percepção, pela imaginação e pela concepção. Para Kant, percepção e concepção são distintas, mas unidas. A primeira fornece dados perceptivos, enquanto a segunda formata essa matéria-prima. A percepção é cega sem o conceito, enquanto o conceito é vazio sem a percepção.
O autor nos apresenta três correntes teóricas para o invariante: psicológica, metafísica e linguística. A concepção psicológica considera que o que não varia é representado no espírito de forma racional (Aristóteles), relacional ou procedimental (Kant). A concepção metafísica considera o universal e o geral substâncias, essências ou pensamentos autônomos que têm sua própria existência. Na metafísica, destacamos Ferge que estabeleceu uma função (no sentido matemático) para argumentos e valores. Os argumentos seriam os objetos e os valores, seriam as referências dos enunciados. Por fim, na concepção linguística, o invariante é linguístico. Os teóricos dessa corrente são os filósofos analíticos como Wittgenstein, Quine e Putnam.
No segundo capítulo, Hardy-Vallée trata do critério. "Quando é apreendido, esse invariante pode ser utilizado para reconhecer uma coisa como membro de uma categoria. Para efetuar essa categorização, é preciso uma regra, um critério". Duas concepções são trabalhadas aqui: fregiana e analógica. Na fregiana, temos os descritivistas, que defendem que as condições necessárias para um invariante ser categorizado estão no indivíduo. Já os não-descritivistas defendem que as condições necessárias estão parcialmente no indivíduo e parcialmente no coletivo. Já a concepção analógica faz uso do conceito de semelhança para atribuir critérios aos invariantes.
No capítulo que trata da aquisição e o formato, são apresentadas quatro posições teóricas: empiristas, racionalistas, pluralistas e analítico-linguistas. Todos concordam que o conceito deve ser minimamente abstrato, mas as divergências estão em como se dá o aporte do conceito. Essas quatro correntes são, na verdade, variantes das ideias de percepção (conhecimento pelos sentidos) e concepção (conhecimento pela razão).
Ao tratar da organização dos conceitos, o autor nos apresenta o holismo, molecularismo e atomismo. No primeiro, o conteúdo de um conceito é constituído da soma das relações que ele mantem com todos os outros conceitos. No molecularismo, o conteúdo é a soma das relações que ele mantém com alguns conceitos. E no atomismo, o conteúdo de um conceito se dá na relação entre o espírito e o mundo.
Por fim, temos a função do conceito. Ele pode ter função epistemológica ou metafísica. A epistemologia tenta descrever corretamente a utilização de um conceito num contexto, seja essa utilização correta ou não (gnosiologia, inferência, linguística). Já a metafísica tenta definir a natureza das coisas, independentemente da nossa maneira de conhecê-la (taxonomia normativa e modalidade).

O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele?
O livro é inteiramente verdadeiro, até mesmo no posfácio, quando a etimologia é resgatada como um método essencial à investigação científica. Mas não e etimologia como arqueologia do léxico, mas sim um empreendimento investigativo da língua. Algo que se aproxima do Begriffsgeschichte de Reinhart Koselleck.
Além da contribuição verdadeira no posfácio, o livro é coerente e coeso. A referência à obra de Borges, retomada a cada capítulo, é uma técnica eficaz de encadeamento do texto, além de didática, pois faz analogia ao personagem do conto, nos trazendo um exemplo de "aplicação" prática da teoria.

E então? Qual a importância do livro para mim?
O livro foi fundamental para o entendimento do que é um conceito e serviu de suporte aos outros dois textos sugeridos pela disciplina. Chamou-me a atenção a formação e atuação profissional do autor. Não se trata de um erudito acadêmico, mas sim um consultor executivo na área de administração de negócios. Talvez o contato com um público leigo, fora da academia, tenha contribuído para o estilo de texto mais direto e esquematizado, diferente dos textos acadêmicos.

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