Alguns elementos da epistemologia

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Weltanschauung, Mário Ferreira Dos Santos, Cosmovisão
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração
Turma: Mestrado Acadêmico 2015
Professor: Mauricio C. Serafim
Discente: Gisiela Hasse Klein
Aula: Alguns elementos da epistemologia
Obra estudada: SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia e Cosmovisão. São Paulo: É Realizações, 2015. (Caps. 1 a 4).


Sobre o que é o livro?
O livro esmiúça o conceito de Filosofia a partir do Weltanschauung, ou cosmovisão. Trata-se de uma via de pensamento que valoriza a chamada "teoria da visão do mundo", que se refere ao quadro de ideias e crenças pelas quais um indivíduo interpreta o mundo e interage com ele. Filosofia e Cosmovisão foi publicado pela primeira vez em 1952 e inaugurou a Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais, projeto desenvolvido por Mário Ferreira dos Santos. A Enciclopédia reúne, ao todo, 80 volumes escritos pelo pensador paulista, que faleceu em 1968. Neste estudo, analisamos apenas a primeira parte do livro, que trata da Filosofia. Na segunda parte, o autor trabalha com mais precisão os conceitos da cosmovisão.

O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito?
Santos nos mostra o que é filosofia filosofando. O autor explica, logo de início, que ao interrogarmos já estamos fazendo filosofia e nos apresenta 11 pontos pelos quais passa a filosofia. Ele chama esses pontos de "notas". São elas: o homem (todo questionamento parte do homem); uma provocação, uma incitação (um questionamento parte de um desconforto, de uma ânsia por resposta); um pensar, um desejo; uma necessidade de saber, de responder; uma insatisfação ou uma satisfação; a busca por um limite; a filosofia como atividade dinâmica; com alto nível de dificuldade, como um quebra-cabeça; exige um pensamento direcionado; busca a superação e, por fim, exige concentração.
A formação histórica do conceito de filosofia também é tratada por Santos desde a etimologia da palavra (phileô/amar e sophia/sabedoria) até um resgate dos principais filósofos e os temas sobre os quais cada um se debruçou. Entre as grandes questões está o meio para acessar a verdade: o racional ou o intuitivo.
Na parte intitulada "Reflexão filosófica", Santos nos apresenta algumas definições fundamentais para o estudo da filosofia. Primeiramente, a filosofia exige um vocabulário preciso e um cuidado com as acepções dos termos. Além disso, é necessário o entendimento das estruturas eidéticas (ideias como operações mentais para conhecer o mundo real) e das realidades fáticas (fatos que são mutáveis no espaço e no tempo). Para dar conta desse real fático, a razão humana opera com o "conceito", que ordena os fatos abstratamente.
Sobre essa capacidade de conceituar, que é o universo da filosofia, o autor resgata as noções de conceito (produção da operação mental), palavra (um enunciado, um sinal verbal), fato (existência no tempo e no espaço), identidade e semelhança (filosoficamente, o idêntico é impossível, pois duas coisas não podem ser duas se não apresentam diferenças – Leibniz), antinomia (conflito entre ideias e base para a tese e antítese), espaço x extensão, tempo x duração e sujeito x objeto.
A noção de identidade e semelhança é fundamental para entender como o homem apreende um objeto e, por meio da razão, é capaz de conceitua-lo. Ao observar o real, o homem percebe as semelhanças a partir de graus de diferença. Trata-se de um imperativo vital a função cognitiva de simplificar a experiência, reunir os semelhantes e excluir os diferentes. Só assim, nosso intelecto é capaz de categorizar os objetos, hierarquiza-los, relacioná-los a outros e fazer inferências a partir desse processo. É assim que se constroem os conceitos. É claro que essa é uma forma resumida de entender a questão. Por centenas de anos, pensadores têm se dedicado ao tema e suas implicações como, por exemplo, a dúvida se nossa apreensão do objeto se dá intuitivamente ou racionalmente.
Os que admitem uma distinção entre natureza e espírito são os espiritualistas, os que não admitem essa distinção são os materialistas e os que admitem a primazia do espírito sem negar a natureza são os idealistas. Aqui, o autor explora, ainda, a noção do conhecimento adquirido pela experiência imediata (instintiva e artística) e adquirido pelo raciocínio discursivo ou por dedução. "Em épocas de crise e de inquietação como a nossa, observa-se a preocupação que há em basear toda filosofia na experiência", pondera Santo, que complementa o pensamento: "as fórmulas perderam sua força e eis a razão porque a experiência avulta agora de significado".
Outro debate trazido pelo autor é sobre as noções de tempo e espaço. Para Kant, o espaço é intuitivo e transcendental. É o que permitira a experiência humana. Já o tempo seria impossível de racionalizar, a menos que fosse reduzido ao espaço e tornado mensurável. Tanto em Kant como em Leibniz, o tempo só existe no pensamento humano.
Por fim, ao tratar da relação sujeito e objeto, Santos conclui que, no conhecimento um não pode conhecer sem o outro e aponta, aqui, quatro correntes teóricas: empiristas, para quem o homem é uma tábula rasa na qual o objeto grava a matéria percebida (Bacon, John Locke e Hume); racionalistas-aprioristas, para quem o sujeito cria o mundo exterior, independentemente da experiência (Leibniz – mais radical; e Descartes e Spinoza - mais moderados, pois consideram o objeto necessário apesar do sujeito ser decisivo); criticista – onde não há oposição entre intuição e razão, mas uma síntese (Kant); e os místicos, para quem o conhecimento ocorre por uma visão interior.

O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele?
O livro é verdadeiro em parte. Em Conceito, Fato, Comparação, Identidade, Semelhança, Diferença e Razão, Santos não contempla a linguística, mesmo que fosse para descaracterizá-la como filosofia. Em 1910, Saussure ministrava aulas que chamava de filosofia da linguística. Tenho dúvidas se podemos mesmo falar de uma filosofia da linguística. O fato é que ela assim foi chamada e creio que mereça ser analisada. Saussure refletiu sobre a língua como um sistema de signos onde o conceito é o significado e a língua o significante. Trata-se de uma visão completamente diferente da construção dos conceitos.
Para a linguística, não é possível conceber conceitos ou ideias sem uma denominação específica e vice-versa. Saussure diz que a língua não é uma simples nomenclatura para cada conjunto de conceitos universais. Os significados não são conceitos que já existem, mas conceitos que podem mudar de uma língua para outra. A estrutura semântico-sintática de uma linguagem seria uma estrutura subjacente para a cosmovisão de um povo por meio da organização da percepção do mundo e da categorização linguística dos objetos. Como uma categorização linguística emerge de uma representação da visão de mundo, ela também modifica a percepção social e, portanto, conduziria a uma contínua interação entre linguagem e percepção.
Outro filósofo desconsiderado por Santos é Wittgenstein para quem todo conceito é uma palavra e onde não há possibilidade de experiência-conhecimento fora da linguagem que nos constitui.
E então? Qual a importância do livro para mim?
O livro foi importante para a revisão de alguns conceitos básicos necessários ao estudo da epistemologia, além de despertar minha atenção para um estudo mais detalhado da linguística. O texto foi importante também como base para o entendimento da palestra de Koselleck e o livro O que é um conceito?, de Hardy-Vallée, leituras que se seguiram a essa.

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