Alienação do Trabalho na produção de minério do Brasil: o exemplo do minério de ferro

May 23, 2017 | Autor: R. Pereira de Lima | Categoria: Brasil, Trabalho, Mineração, Minério De Ferro
Share Embed


Descrição do Produto

Alienação do Trabalho na produção de minério do Brasil: o exemplo do minério de ferro

Roberta Pereira de Lima1

RESUMO Na atividade de mineração atual o Brasil desponta entre um dos maiores produtores de minérios do mundo. O minério de ferro é o carro chefe entre os minérios de maior produção e exportação do país. A indústria extrativa demanda volume significativo do produto ou commoditie pelo fato de o minério de ferro ser uma matéria prima tão essencial para outras matérias primas que se transformarão em uma infinidade de produtos. No entanto, o mercado de extração de minério de ferro aliena a força de trabalho no tocante a sua remuneração e ao distanciamento das vantagens dos bens produzidos a partir de seu dispêndio de trabalho.

Nesse cenário de

mercadorias diversas e sofisticadas cuja matéria prima em primeiro grau tem níveis importantes do minério o processo de produção é fetichizado e a mão de obra, alienada. A proposta desse artigo é descrever esse processo de alienação usando como arcabouço teórico basilar a teoria marxista.

Palavras-chave: Alienação, trabalho, extração mineral, minério de ferro.

1

Bacharel em Economia pela UFPB e mestranda em Economia pela UFBA.

2

1 INTRODUÇÃO A mineração no Brasil é um ramo demasiadamente importante para a indústria extrativa e para a economia do país. O setor de mineração durante séculos forneceu insumos e movimenta montante significativo de recursos financeiros. O minério de ferro, tido como uma commoditie2, é um dos itens de grande abundância no território brasileiro e sua extração é do interesse nacional e mundial para a indústria de diversos produtos, gerando receita anual em bilhões e demandando contingente relevante de mão de obra. De acordo com publicação em 2011, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) concluiu que as exportações de minério de ferro no ano de 2010 movimentaram US$ 30,8 bilhões e representou 15,3%. Já segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX, 2015), as exportações de soja, minério de ferro e petróleo bruto concentravam entre 2012-2014 quase 50% da pauta exportadora do país. Muito embora, em 2015 as três commodities tenham registrado uma perda de 14,6 bilhões de dólares nas vendas.

O setor de mineração é bastante diversificado e divide-se em quatro classes: metálicos, não-metálicos, Gemas e Diamantes e energéticos. O ferro ou minério de ferro (in natura) está na classe dos metálicos. Dentro dessa classe dos minerais, os metálicos são os de maior produção, mantendo uma média de aproximadamente 70% entre 2005 e 2010, tendo no ferro a mais expressiva proporção (média em torno de 50% também sob 2005 e 2010), como aponta o DNPM (Ver anexo 1). Além disso, no que diz respeito ao trabalho empregado no setor, calculando a média de 2007-2010 pelos dados da RAIS segundo a publicação do DNPM, o setor de mineração manteve um número de trabalhadores em mais de 860 mil, apesar de em 2007, antes da crise financeira, esse número ter ultrapassado 1 milhão. (Ver anexo 2). No tocante a participação do trabalho por setor de mineração, o ferro e os

2

Commodities são mercadorias na fase de matéria prima, essenciais na fabricação de produtos finais. Sua demanda é extremamente significativa e sua precificação é dada como ativo em bolsas de valores presentes e futuros estando sujeita as variações deste mercado.

3

produtos de ferro/aço e ligas, tiveram 23,5% e 28,1% na extração e na transformação mineral em 2010 respectivamente, demonstrando mais uma vez a importância dessa atividade. (Ver anexo 2). Entretanto, a atividade mineradora também envolve questões, de certo modo, negativas; como o impacto ambiental que a mineração provoca e o impacto sob o trabalhador no que diz respeito a alienação em formas diversas da força de trabalho. Portanto, a abordagem desse assunto foi o objetivo deste artigo. Com esse propósito e atentando para o fato de que a metodologia de pesquisa é parte essencial em todo trabalho científico, servindo como fio condutor, é fundamental explicitar o método que amparou esta análise. Como o objetivo deste artigo é não apenas denotar a importância do ferro ou minério de ferro para a reprodução sistêmica, mas sim, e principalmente, explicar como se dá a alienação do trabalho no tocante à extração desse minério de ferro, o método materialista histórico dialético pareceu o mais apropriado, pois, como expõe Marx, esse método possibilita a observação dos fenômenos para além de sua aparência, isto é, busca explicar os fenômenos na sua essência, enquanto forma e conteúdo, causa e efeito. Entendendo que o referencial teórico de Marx foi essencial para este estudo, no que tange os aspectos filosóficos a respeito da estrutura e superestrutura que compõem o Modo de Produção Capitalista (M.P.C.) e a análise crítica que o autor faz do sistema com respeito as relações de produção, além do próprio fetichismo na produção de mercadorias, o artigo procurou embasar-se principalmente nesse arcabouço teórico de Marx. Todavia, como Shumpeter realiza análise interessante sobre a dinâmica de produção e a importância do ferro para a reprodução do sistema capitalista, fez-se necessário esse referencial teórico em conjunto. O empenho nesse estudo foi observar e descrever as relações que evolvem a extração de minério de ferro, em especial no Brasil. Desse modo, buscou-se coletar dados referentes ao mercado de minério, tais como: produção, consumo, lucro, contingente de trabalhadores envolvidos nessa atividade, impactos sociais, etc.

4

Esses dados e informações foram reunidos a partir de estatísticas levantadas por órgãos e entidades como; Vale, RAIS, IBRAM, DNPM, CNAE, entre outros. Com a referida bibliografia e informações houve a comparação de dados do setor e a partir do referencial teórico base, onde são relatadas que no M.P.C. as relações de produção são feitichizada e a força de trabalho (Ft) alienada dessa produção, o estudo buscou identificar, portanto, como se dá essa alienação do trabalho no setor de mineração. É relevante ressaltar que nessa pesquisa se entende por alienação o fato de o trabalhador participar ativamente da extração e produção de mercadoria (o minério de ferro/ferro) e mais valia, porém, o excedente ser expropriado desse trabalhador e, mais, a Ft ser submetida à situação de risco como também apartada de qualquer ganho (seja material, intelectual, tecnológico, etc.) que advenha do fruto desse processo de produção. Com esse intuito a referida pesquisa, que tem como norte uma função descritiva, foi estruturada em quatro sessões. A primeira sessão diz respeito a esta introdução, dando um panorama geral das perspectivas e abordagens a serem tratadas no trabalho. A segunda sessão faz uma exposição do acabou teórico que fundamentam este artigo no que tange a importância do metal e a ideia sobre o significado de alienação do trabalho. A terceira e quarta sessão apresenta resultados e discussões por meios de estatísticas que informam determinados fatos afirmados e que também acabam se contrapondo em alguns aspectos. A quinta e última sessão reuni as considerações finais a respeito do tema abordado. 2 O MERCADO DE MINÉRIO DE FERRO E A ALIENAÇÃO DO TRABALHO

O minério de ferro é considerado um recurso valoroso para o sistema capitalista. Usado como elemento base para diversos produtos (armas, máquinas,

5

automóveis, edificações e tantos outros), o minério de ferro é, e deverá ser ainda por um longo período, um dos bens mais valiosos para as sociedades. Não por acaso, Diamond (2004) dedica uma parte de seu livro “Armas, germes e aço3” para explicar a relevância e evolução no uso dos metais no processo histórico, geográfico e tecnológico das sociedades. O autor chama atenção para o fato de os metais estarem presentes em revoluções tecnológicas importantes, desde a idade média, com a explosão medieval a partir do cobre e, principalmente, na revolução industrial. É o que se denomina processo autocatalítico, pois avança a uma velocidade que aumenta com o tempo, ou seja, se catalisa. Atualmente, as sociedades não conseguem se imaginar sem os objetos que tem como um dos elementos principais os metais, em especial, o aço, o ferro ou o minério de ferro (in natura). A partir da revolução industrial os metais passaram não apenas a compor parte dos meios de produção, para a fabricação das máquinas e demais objetos carregados de tecnologias, mas também, a servir de indicador para a análise da dinâmica cíclica do sistema capitalista, como argumenta Shumpeter (1997). Isso se deve, certamente, ao fato de tais metais se constituírem em uma espécie de espinha dorsal para o denominado avanço tecnológico autocatalítico. Ora, como imaginar a tecnologia que se conhece na atualidade sem os chips, micro chips, nano chips, feitos com material que utilizam ouro, cobre, aço? Ou ainda, como substituir o ferro/aço tão fundamental nas estruturas metálicas usadas na fabricação de carros, aviões, máquinas, edifícios, etc.? Em a Teoria do Desenvolvimento Econômico, Shumpeter aborda uma série de elementos chaves, em sua opinião, que influenciam, determinam e indicam a dinâmica de produção e desenvolvimento do sistema capitalista. A figura do “agente especial” (o empreendedor) e a questão do lucro, juro, crédito afetando em maior ou menor grau a produção são alguns destes elementos. Porém, a contribuição mais significativa na obra de Shumpeter é com respeito à análise dos ciclos econômicos e 3

O aço é um produto do minério de ferro e usado em inúmeras mercadorias.

6

como estes afetam a dinâmica de produção. Shumpeter identifica que o sistema capitalista não se desenvolve em condição de equilíbrio, como afirmava economistas adeptos ao liberalismo de mercado, ao contrário, a regra do M.P.C. é o desequilíbrio. Para ele, a natureza do capitalismo é se desenvolver em ciclos4, que segundo ele, formam ondas e possui momentos de boom e de depressão. O ponto a que este artigo quer chegar com a concepção do fenômeno dos ciclos econômicos ou ciclo de Juglar, como também aponta Shumpeter, é que o consumo de ferro se torna um excelente indicativo para “os negócios”, isto é, para a dinâmica de produção. Esse índice, de acordo com o autor, é propagado por Spiethoff no século XIX e auxilia efetivamente a observação das fases cíclicas do capitalismo. (SHUMPETER, 1997). Shumpeter descreve que nos períodos de boom o consumo de ferro aumenta porque os empresários investem em plantas industrias e em meios de produção, como máquinas, equipamentos, etc. Ocorre também investimentos em estradas, ferrovias e outros projetos de infraestrutura que demandam montante significativo de ferro. Desta forma, o ferro é a variável que possibilita medir o nível de aquecimento ou desaquecimento da economia. Noutras palavras, o consumo de ferro indica a fase do ciclo em que a economia capitalista se encontra; se no período de boom ou em depressão. Esse estudo, porém, não se propõe analisar o fenômeno dos ciclos econômicos, mas, é importante ressaltar que assim como no século XIX, o consumo de ferro era indicador e recurso importante para a produção capitalista, na atualidade, o ferro in natura (minério de ferro) ou não, continua sendo vital para a produção e reprodução do sistema. Todavia, apesar de possuir extrema relevância, sua extração e manuseio encobrem e fetichiza um processo de produção que aliena a força de trabalho. E tentar relatar essa dinâmica é o propósito deste artigo.

4

No que Shumpeter chama “psicologia das crises”, o fenômeno dos ciclos econômicos tem periodicidade e se dá como ondas, onde “todo momento de boom é seguido por depressão, toda depressão por boom”. O período de boom ocorre depois da depressão e envolve absorção de inovações, que segundo Shumpeter é promovida pelo agente empreendedor. (Ver Teoria do Desenvolvimento Econômico de Shumpeter, 1997, p. 202).

7

Na obra “O Capital” de Marx (2012), o autor expõe como as relações sociais que envolvem a produção de mercadorias são fetichizadas e como o produto do trabalho é alienado (no sentido de apartado/expropriado) da força de trabalho que o produziu. Ao tratar do tema fetichismo da mercadoria, Marx descreve uma das formas de alienação do trabalho que se dá por meio de uma relação social que “assume a forma fantasmagórica de relação entre coisas”. Isso acontece porque a simples troca de mercadoria acaba encobrindo/escondendo as “características sociais do próprio trabalho

dos

homens,

apresentando-as

como

características

materiais

e

propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho” (MARX, 2012, p. 94). Marx diz ainda que (...) os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que mantém relações entre si e com os seres humanos. É o que ocorre com os produtos da mão humana, no mundo das mercadorias. Chamo a isto de fetichismo que está sempre grudado aos produtos do trabalho (...) (MARX, 2012, p. 94).

As características sociais que a mercadoria encobre e que assume a forma fantasmagórica de relações entre coisas ocorrem porque, no intercâmbio de mercadorias, o processo social de produção destas mercadorias fica ocultado e é exatamente nesse processo que acontece a mágica, isto é, a criação de valor, mas não o valor de troca ou o valor de uso comum em todas as mercadorias. É na produção que se criam mercadorias dotadas de valor de uso e de valor, onde, o excedente deste último, Marx denomina de mais valia (expropriada da força de trabalho e apropriada pelo capitalista). No entanto, na mera troca de mercadorias esse fato fica subsumido/fetichizado/ocultado. Tal fato, não é outro, senão, decorrente do processo de alienação do trabalho. A alienação do trabalho, no M.P.C., como mencionado anteriormente, existe porque o trabalhador é expropriado do valor excedente que sua força de trabalho produz. Mas não somente. A alienação se dá também quando justamente pela expropriação do valor do trabalho este trabalhador encontra-se impedido/apartado de usufruir do produto de seu trabalho. Um exemplo disso é o dos trabalhadores da

8

fábrica de equipamentos eletrônicos da “maçã” que produzem a mercadoria, mas, muitos sequer conseguem possuir tais equipamentos produzidos com sua própria força de trabalho. Isto é mais um tipo de alienação do trabalho. Para compreender melhor a alienação do trabalho, voltemos ao processo de produção de mercadorias, onde o trabalhador, não detentor de meios de produção, somente pode ofertar sua força de trabalho, sua capacidade braçal e cerebral de desenvolver determinada atividade. Já o capitalista, detentor dos meios de produção contrata a Ft e, portanto, possui com isso todos os meios (Mp + Ft) necessários à produção de mercadorias. Assim, a etapa de produção é levada a cabo e como resultado obtém-se as mercadorias. Mas, estas mercadorias possuem algo de especial (mais valia) que é inerente a elas e que ocorre apenas no ato de produção. A equação a seguir pode elucidar um pouco mais este procedimento e mostrar que algo diferente ocorre no ciclo da produção, representado no esquema por P’. Mp D --- M --- P’ --- M’ --- D’ Ft O esquema acima indica o funcionamento da reprodução ampliada do Capital, onde: D representa o capital inicialmente investido em M, isto é, mercadorias compradas e que são divididas entre meios de produção (objetos de trabalho, maquinas, matérias primas, etc) e força de trabalho (contratação de mão de obra); P’ representa a esfera da produção, reunindo os itens anteriores para a fabricação de novas mercadorias acrescidas de valor em quantidade e em qualidade, pois, é nessa etapa que os Mp e a Ft transferem parte de seu valor à produção de mercadorias. É em P’ que o trabalho realizado e transferido pela Ft excede o tempo necessário gerando a mais valia. M’ condiz apenas na mercadoria pronta com a mais valia cristalizada. E D’simboliza o momento final em que a

9

mercadoria vai ao mercado e é reconhecida socialmente, tendo seu valor de uso e seu valor (acrescido de mais valia) materializado na forma dinheiro. Marx afirma que No processo de trabalho, a atividade do homem opera uma transformação, subordinada a um determinado fim, no objeto sobre que atua por meio do instrumental de trabalho. O processo extingue-se ao concluir-se o produto. O produto é um valor de uso, um material da natureza adaptado às necessidades humanas através da mudança de forma. O trabalho está incorporado ao objeto sobre que atuou. (MARX, 2012, p. 214)

Nesse ponto fica nítido como descreve Marx que o trabalho do homem é transferido/incorporado à mercadoria. Quando descreve o processo de produção de mais valia o autor relata como ocorre a criação de excedente de valor, como também, a alienação do trabalho, já que o excedente produzido se torna propriedade do capitalista. Segundo Marx O produto, de propriedade do capitalista, é um valor de uso (...). Mas, (...). Na produção de mercadorias, nosso capitalista não é movido por puro amor aos valores de uso. Produz valores de uso por serem e enquanto forem substrato material, detentores de valores de troca. [O capitalista]. Tem dois objetivos. Primeiro, quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, um artigo destinado à venda, uma mercadoria. E segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la, isto é, a soma dos valores dos meios de produção e força de trabalho, pelos quais antecipou seu bom dinheiro no mercado. Além de um valor de uso, quer produzir mercadoria; além de valores de uso, valor, e não só valor, mas também valor excedente (mais valia). (MARX, 2012, p. 220).

Um pouco mais adiante, em sua obra, Marx argumenta que se comparado O processo de produzir valor com o de produzir mais valia, veremos que o segundo só difere do primeiro por se prolongar além de certo ponto. O processo de produzir valor simplesmente dura até o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é submetido por um equivalente. Ultrapassando esse ponto, o processo de produzir valor torna-se processo de produzir mais valia (valor excedente). (MARX, 2012, p. 228).

Com essa afirmação, fica evidente como se dá a produção de mais valia. Mais valia estaque acaba sendo alienada do trabalhador, tendo em vista que não

10

fica nas mãos da força de trabalho que a produziu. Ao contrário, o detentor de mais valia é o capitalista que investiu na produção de mercadorias e que, portanto, a incluem seu capital, na forma de lucro. Diante de toda a exposição a respeito da alienação do trabalho colocada por Marx e da importância do ferro para a dinâmica capitalista apontada por Shumpeter é possível analisar a realidade da extração de minério de ferro no Brasil e verificar como ocorre esse processo.

3 O MERCADO DE MINÉRIO NO BRASIL A atividade mineradora no país tem séculos de história, desde a formação economia do Brasil, com o ciclo do ouro5. A mineração, portanto, sempre significou um bom negócio para o país e para seus investidores no tocante ao volume de recursos e rendimentos advindos destes. É sabido que na atualidade, embora, o ouro continue sendo um metal valioso, já não representa o produto de maior exploração na indústria extrativa, ao menos, não no Brasil. O minério de ferro que é considerado uma das mais apreciadas commodities do mundo se tornou um dos principais produtos de extração e exportação do Brasil em volume, movimentando bilhões de dólares no mercado todos os anos. Nas próprias palavras de uma das maiores mineradoras do mundo e a maior do Brasil, a Vale, a mineração além de ser o principal ramo de atuação da empresa é “uma atividade essencial para a vida moderna. De telefones celulares a aviões, de estruturas de prédios a moedas, os minérios são ingredientes para diversos itens indispensáveis para o seu dia a dia”6.

5O

ciclo do outro foi mais um dos diversos ciclos (açúcar, ouro, café, etc.) econômicos de exploração que ocorreram no Brasil ainda colônia e estão retratados de maneira crível no livro Formação Econômica do Brasil de Celso Furtado. 6

Essa citação foi retida do site da vale na página sobre mineração, onde a empresa denota a importância da atividade. Ver o link da página nas referências.

11

O Brasil é o segundo maior produtor e exportador de minério do mundo, perdendo apenas para a Austrália que ultrapassou o país a partir de 2009 e se mantem no topo do ranking. Os investimentos na atividade de mineração ocorrem em quase todo o país, porém, a extração do ferro se concentram nas regiões norte, nordeste e sudeste do Brasil, como é possível observar no mapa do quadro 1, a seguir. Quadro 1: Investimentos em mineração do Brasil (2011-2015)

Fonte: DNPM/Mdic

De acordo com o mapa os estados do PA, MG, BA e RN são os grandes responsáveis pela produção de minérios, como o ferro, recebendo volume importante de investimentos. Mas, segundo estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) o MS já em 2015 apresentou um resultado de 9,57% nos investimentos para a produção do metal, alcançando terceira posição entre os estados brasileiros. Vejamos o gráfico 1, a seguir.

12

Gráfico 1: Percentual de investimentos no setor de mineração no Brasil - 2015

Os mais expressivos percentuais de investimentos em mineração ficam em MG e PA que por sinal são os estados onde o minério de ferro tem índice elevado de produção. O minério de ferro é constituído por diferentes compostos que possuem em geral níveis significativos de ferro e, portanto, é o principal elemento do ferro, do aço, do alumínio, etc. Sua extração e transformação tem um efeito multiplicador sobre o produto e o emprego bastante notório na localidade de sua atividade como demonstra o esquema seguinte, a partir de apontamento realizado pelo IBRAM.

13

Efeitos diretos e indiretos da atividade mineradora para a região onde se localiza a produção de minérios. PROJETO DE INVESTIMENTO EM MINERAÇÃO

PRODUTOS FUNDIDOS

PEÇAS MECANICAS PARA MAQUINAS

PRODUTOS LAMINADOS

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS

METALURGIA DE PRODUTOS FERROSOS

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS

EFEITOS DIRETOS PARA FRENTE

EFEITOS INDIRETOS PARA FRENTE

Fonte: Elaboração própria a partir de diagrama do IBRAM.

Pelo esquema é possível enxergar que a indústria extrativa mineral tem uma capacidade de transbordamento considerável. Os investimentos nesse setor possibilitam a produção de diversos itens de tecnologia distintas. De chapas metálicas até maquinas e equipamentos, matéria prima para construção civil, etc. vejamos mais um esquema que descreve os efeitos do investimento em mineração. Efeitos sobre a economia da região que recebe os investimentos em mineração

14

É demonstrado mais uma vez através dos diagramas anteriores, que sem sombra de dúvida, a produção da commoditie minério de ferro e da indústria extrativa mineral como um todo, possui extrema relevância para a produção capitalista, como bem afirmava Shumpeter inclusive (sendo o metal um indicador do dinamismo econômico). O minério e seus compostos, que são elementos base para o ferro, o aço, o alumínio e outros metais e suas ligas estão presentes em mercadorias das mais simples as mais elaboradas, desde o alfinete até os computadores, automóveis, aviões, máquinas, equipamentos, linhas de transmissão de energia elétrica, embalagens laminadas para armazenamento de alimentos, bebidas e uma infinidade de produtos com graus diferenciados de tecnologia envolvidos. No Brasil, poucas empresas detém o ramo da mineração, mas apenas uma possui controle quase que total da atividade, é o caso da Vale S.A. que é a maior empresa de mineração do país e uma das maiores do mundo, responsável por milhões de toneladas do minério produzidas anualmente, como se observa na tabela 1 abaixo, com sua produção sucessivamente alcançando uma média aproximada de 80%. Tabela 1: Principais empresas na produção de minério de ferro brasileiro Produção de minério de ferro VALE S.A. CSN/Namisa Gerdau Usiminas COMISA - Cia. de Mineração Serra Azul VALLOUREC (V&M Mineração) Ferrous Resources MMX Arcelor Mittal MINERITA - Minérios Itaúna Ltda. Zamin Ferrous Vetria Mineração S.A. OUTRAS TOTAL (minérios) Fonte: publicação do IBRAM em 2015.

Mi/toneladas 2014 319,2 33,0 7,6 6,0 6,0 4,0 3,8 2,7 2,6 2,0 1,5 1,0 10,0 399,4

Mi/toneladas 2013 299,8 25,7 11,5 7,0 6,0 4,0 5,1 5,9 4,3 2,3 6,0 1,5 12,0 391,1

15

Muito embora o clima de crise no Brasil e no mundo tenham dado uma arrefecida no consumo do produto, arrastado especialmente, pela China, que é o principal consumidor do minério de ferro brasileiro, pelos dados da tabela, é nítido que a de produção mineradora (concentrada particularmente sob o quase monopólio da Vale S.A.), tem expectativas de rendimentos e produção crescentes. Certamente, tais expectativas de demanda pela commoditie continuam significantes devido a importância do minério para a produção chinesa e para a produção capitalista. Apesar de todo o destaque dado neste estudo a atividade mineradora e a produção das commodities, particularmente, o minério de ferro que serve de base para diversos metais que por sua vez são matérias primas em milhares de mercadorias, o setor de mineração descuida [ou esconde] práticas de produção condenáveis, tanto com respeito ao trabalho, quanto com respeito ao meio ambiente. Adiante, abordaremos uma dessas questões, a do trabalho.

4 A DINÂMICA DO TRABALHO NA EXTRAÇÃO DE MINÉRIO O ramo da mineração é um setor de expressiva absorção de mão de obra e possibilita um efeito multiplicador relevante como indica o IBRAM, a partir de resultados apresentados pelo DNPM e como já foi citado anteriormente. Esse efeito multiplicador gerado pela indústria extrativa mineral é de “3,6 postos de trabalhos sobre a indústria de transformação mineral”, o que significa mais de 700.000 empregos e, de acordo com o IBRAM, ocorre um efeito cadeia para trás e para frente envolvendo um contingente de empregos relacionados a atividade de mineração considerável, algo da ordem de 2,7 milhões. No entanto, a mineração não tem apenas impactos positivos sobre o emprego e a renda do país e da produção capitalista, ao contrário, o setor de mineração segundo matéria publicada pela Carta Capital, na página Politike (2015), é responsável pelo maior número de mortes no trabalho ao redor do mundo. Conforme a matéria a Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera o setor de mineração o mais perigoso por oferecer riscos a vida dos trabalhadores e precárias condições de segurança, além da violação de direitos trabalhistas, onde não são

16

preservados piso salarial, jornada de trabalho e onde os trabalhadores ainda são submetidos a condições desumanas, sofrendo inclusive abusos físicos. Não obstante, em países com menor fiscalização é possível que as jornadas sejam exaustivas e cheguem a até 24 horas em algumas jazidas. Os trabalhadores também são expostos a contaminação com metais pesados, o mercúrio, por exemplo. Mas, vale ressaltar que mesmo em jazidas de países mais “avançados” como o Canadá existe desrespeito aos diretos dos trabalhadores. No brasil a dinâmica de trabalho é confrontada com questões complicadas. Além do desgaste ambiental, que inegavelmente acontece por meio da atividade de mineração (erodindo o solo e contaminado rios, e daí, pode-se argumentar que é um mal necessário, tendo em vista que a vida moderna necessita de modo imprescindível desses minérios e, portanto, não tem como não explorar o meio ambiente sua obtenção), há os impactos da atividade mineradora sobre o homem, especificamente à pessoa do trabalhador nas minas que são acometidos com dilemas diversos e que torna os efeitos da mineração algo demasiadamente preocupante. O caso do Pará, por exemplo, reflete claramente tais questões. Em regiões como Parauapebas, Canaã e Carajás, os potenciais de extração são enormes, porém, os problemas enfrentados pela população e pelos trabalhadores da região se desdobram em diferentes impasses. A população sofre com os impactos ambientais diretos (como ruídos de explosões e poeira advindos pelo transporte do minério) e os impactos indiretos, por meios de contaminação do solo e da água, entre outros. Já os trabalhadores, como já mencionado, sofrem de diversas formas. Nos deteremos nesse estudo, porém, apenas a questão do rendimento do trabalho em relação produção e as possíveis implicações desse fato sobre a força de trabalho, de modo a expor que existe a alienação do trabalho descrita anteriormente. Para se ter ideia, a mina de Carajás é considerada a maior mina a céu aberto do mundo e produz o melhor minério de ferro. Entretanto, ao mesmo tempo em que as expectativas do potencial de exploração são ascendentes na região, a mecanização e especialização da produção tem afastado cada vez mais a força de

17

trabalho dessa atividade (em 2014 mais de 14 mil trabalhadores foram dispensados do trabalho, como relata o portal dos atingidos pela Vale). Estamos, portanto, diante de um grande descompasso entre o aumento na produção de minério e a redução dos postos de trabalho, que por si só envolve sérias contradições. Se refletirmos um pouco sobre a própria mudanças na estrutura de produção, o trabalhador nas minas extrai o minério de ferro que é usado para a fabricação de matéria prima que por sua vez produzirá máquinas que tomarão seus postos de trabalho nas minas, o já é uma grande contradição do sistema. No entanto, a alienação do trabalho e suas formas ficam mais evidentes quando comparamos o que essas minas produzem e o que os trabalhadores de menor escolaridade recebem em remuneração. Na tabela 2, disponível adiante, estão apresentados dados referentes ao salário de remuneração no setor de extração mineral, especificamente minerais sólidos, como é o caso do minério de ferro. É necessário enfatizar que, considerando que uma das formas de alienação é o fato de a força de trabalho ser expropriada do valor que seu trabalho excedente produz, isto é, que o trabalhador só recebe um salário de subsistência para repor sua força de trabalho, procuramos os dados em salário mínimo que, além de incluir a mão de obra menos instruída, tivesse remuneração de até quatro salários mínimos (S.M.).

18

Tabela 2: remuneração de trabalhadores da extração – ano de referência 2015 CNAE 2.0 Classe = TRABALHADORES DA EXTRACAO DE MINERAIS SOLIDOS Valor Remuneração Média (SM)7 UF Mínimo Máximo 11 - Rondônia 0,99 3,96 12 - Acre 0,94 3,3 13 - Amazonas 1 3,68 14 - Roraima 1,55 2,45 15 - Pará 0,52 4 16 - Amapá 1,1 3,8 17 - Tocantins 1 3,85 21 - Maranhão 0,98 3,93 22 - Piauí 0,88 3,69 23 - Ceará 0,6 3,86 24 - Rio Grande do Norte 0,96 3,41 25 - Paraíba 0,7 3,98 26 - Pernambuco 0,9 3,87 27 - Alagoas 1,01 3,71 28 - Sergipe 1 3,99 29 - Bahia 0,55 4 31 - Minas Gerais 0,55 4 32 - Espírito Santo 0,51 4 33 - Rio de Janeiro 0,54 3,89 35 - São Paulo 0,54 4 41 - Paraná 0,86 4 42 - Santa Catarina 0,53 4 43 - Rio Grande do Sul 0,63 4 50 - Mato Grosso do Sul 1,05 3,71 51 - Mato Grosso 0,96 3,99 52 - Goiás 0,98 4 53 - Distrito Federal 1,11 3,58 Total 0,51 4 Fonte: RAIS

Pela análise da tabela 2 conseguimos verificar que existem estados que possuem remuneração máxima de quatro salários, mas, surpreendentemente constatamos que há estado que pagam menos de um salário mínimo na atividade de mineração e os estados de maior produção e extração mineral (minério de ferro), como o PA e MG estão entre os que remuneram a Ft com salários abaixo do mínimo. Vejamos o Gráfico 2 que ilustra mais claramente essa afirmação. 7

Os dados referentes a remuneração dos trabalhadores coletados na RAIS consideraram resultados de 0,5 a 4 salários mínimos. Portanto, os valores máximos não excedem 4 e os valores mínimos não excedem 0,5.

19

Gráfico 2: Remuneração dos trabalhadores da extração de minérios

Fonte: Elaboração propria a partir da tabela anterior.

Por meio do Gráfico 2, é possível observar que dentre todos os estados que possuem alguma atividade extrativa, estados que produção de minério de ferro é significativa, como BA, PA e MG, tem remunerações mínimas de 0,5 salário mínimo, uma contradição se comparado ao volume que tais estados produzem da valiosa matéria prima. Agora, quando analisamos o setor de extração de minério de ferro especificamente,

confirmamos

a

informação

anterior

a

respeito

da

baixa

remuneração da força de trabalho. Na tabela 3 verificamos que ao estabelecer os parâmetros entre 0,5 e 4 salários mínimos, encontramos nos estados citados resultados exatamente entre 0,5 e 4, apontados como valores mínimos e máximos, respectivamente.

20

Tabela 3: Remuneração dos trabalhadores de minério de ferro CNAE 2.0 Classe = Extração de minério de ferro – referência 2015 Valor Remuneração Média (SM)8 UF Média Mínimo Máximo 11 - Rondônia 0,0 0,0 12 - Acre 0,0 0,0 13 - Amazonas 0,0 0,0 14 - Roraima 0,0 0,0 15 - Pará 3,2 0,5 16 - Amapá 0,0 0,0 17 - Tocantins 0,0 0,0 21 - Maranhão 0,0 0,0 22 - Piauí 0,0 0,0 23 - Ceará 2,4 1,7 24 - Rio Grande do Norte 0,0 0,0 25 - Paraíba 0,0 0,0 26 - Pernambuco 0,0 0,0 27 - Alagoas 0,0 0,0 28 - Sergipe 0,0 0,0 29 - Bahia 1,7 1,3 31 - Minas Gerais 3,1 0,5 32 - Espírito Santo 3,1 1,8 33 - Rio de Janeiro 3,2 1,1 35 - São Paulo 0,0 0,0 41 - Paraná 0,0 0,0 42 - Santa Catarina 0,0 0,0 43 - Rio Grande do Sul 0,0 0,0 50 - Mato Grosso do Sul 3,1 0,5 51 - Mato Grosso 0,0 0,0 52 - Goiás 1,4 1,2 53 - Distrito Federal 0,0 0,0 Total 3,1 0,5

0,0 0,0 0,0 0,0 4,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,3 4,0 4,0 4,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,0 0,0 1,6 0,0 4,0

Fonte: RAIS

É interessante notar que estados em que a produção de minério de ferro/ferro não é tão expressiva possuem remunerações mínimas maiores, como o caso do CE, por exemplo. O gráfico 3, a seguir, mais uma vez denota nitidamente as informações da tabela. Vejamos.

8

Assim como na tabela anterior, foram considerados dado para a remuneração dos trabalhadores partindo de 0,5 até 4 salários mínimos.

21

Gráfico 3: Remuneração dos trabalhadores da extração de minério de ferro

Fonte: Elaboração propria a partir da tabela anterior.

Quando comparamos o rendimento dos trabalhadores de outros setores ligado direta ou indiretamente a extração de minério ou a transformação do minério de ferro, verificamos situação semelhante. Isto é, salarios abaixo do mínimo inclusive em regioes onde determinada atividade costuma ser melhor remunerada, como é o caso operadores de forno e fusão do estado de SP, como é possivel vizualizar no grafico 4 abaixo. Gráfico 4: Remuneração dos trabalhadores em forno, fusão e aciaria

Fonte: Elaboração propria a partir de dados da RAIS

22

Resultado semelhante econtra-se nos Grafico 5 e 6 a seguir. O que chama atenção nos dados é que muito embora, tais atividades sejam ocupadas por trabalhodores de menor escolaridade, ocorrem remunerações bastante abaixo do padrao instituido. Gráfico 5: Remuneração dos trabalhadores de beneficiamento de minérios

Fonte: Elaboração propria a partir de dados da RAIS

Gráfico 6: Remuneração dos trabalhadores de garimpo e salinas

Fonte: Elaboração propria a partir de dados da RAIS

23

Por fim, comparando afora setores de atividade especifica de extração, como petroleo e gás e minerio de ferro. É possivel observar pelos Grafico 7 e 8 que calculando

o

rendimento

por

hora

contratada,

encontramos

divergencias

significativas no que diz respeito a mesma atividade, porém, com produtos distintos. O Gráfico a esquerda mostra o rendimento por hora contratada dos trabalhadores na extração de petróleo e gás e o Gráfico a direita, dos trabalahdores da extraçao de minerio de ferro. O que se verifica é que as atividades possuem reuneraçoes distintas. Em MG e PA, por exemplo, que são os estados com maior produção do minerio de ferro, o trabalhador recebe o equivalente médio de R$ 77 reais p/h contratada. No entanto, também na atividade de extração só que de petróleo e gás, em estados como RJ e ES, os trabalhadores da atividade de extração recebem mais de R$ 250 reais p/h contratada. E se comoparado apenas a atividade de extração de minerio de ferro, os estados do RJ e ES pagam mais de R$ 100 reais p/h contratada9 a seus trabalhadores. (Ver os dados em detalhe no Anexo 3 e 4). Gráfico 7 e 8: Remuneraçação do trabalahores na atividade de extração em petróleo e Gás e em Mineri ode ferro.

Fonte: Elaboraçao própria a partir da RAIS.

9

O ideal seria obter no número de horas trabalhadas para vislumbrar um resultado mais efetivo sobre os rendimentos. No entanto, apenas as horas contratadas, que obviamente não podem ultrapassar as 44 horas, segundo a CLT, são disponibilizadas em dados.

24

Diante dessa exposição, é possível inferir que, de fato, há alienação do trabalho na exploração do minério de ferro. Usando o parâmetro do rendimento do trabalho nessa atividade e mesmo existindo locais de melhor remuneração como citado anteriormente e observável nos gráficos acima, a mão de obra nessa atividade, a partir do referencial teórico que se utilizou, sofre efetivamente com alienação do trabalh. Se contar nas condições as quais esse ramo os submete, mas que é difícil explicitar por meio de estatísticas, já que os órgãos fiscalizadores não conseguem captar, tampouco as empresas se disporão expor. O que temos é que quando estamos com nossos eletrônicos sequer imaginamos o processo de produção e alienação e fetichização que tal bem oculta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste artigo foi discutir um pouco a questão da alienação do trabalho na produção de commodities, em especial o minério de ferro usando como arcabouço teórico a teoria marxista, numa tentativa de descrever como se dá o processo de alienação do trabalho na atividade mineradora que é tão importante para a vida moderna e consequentemente para a produção capitalista. Neste estudo, observou-se que existe uma relação contraditória e até dialética no ramo da mineração. Ao passo que enquanto o setor produz anualmente milhões de toneladas em uma mercadoria (minério de ferro) considerada demasiamente relevante para a sociedade, a força de trabalho que despende tempo de trabalho e de vida para tal produção é remunerada com baixos salários, sendo alienada do valor do seu trabalho, como também do processo de produção, através até mesmo da substituição de sua Ft por máquinas, por exemplo. Como consequências desse processo de alienação existente na produção capitalista de minério de ferro, a força de trabalho, no setor da mineração, especialmente aquela com menor nível de instrução é a alienada/apartada das vantagens que a mercadoria que ajuda a produzir é capaz de possibilitar. Ora, um trabalhador que por ventura seja remunerado com um salário mínimo ou menos que isso, como foi demonstrado por meio de dados em tabelas e gráficos, sequer

25

consegue reproduzir sua força de trabalho para desempenhar a atividade de extração, menos ainda poderá usufruir de automóveis, tablets, aparelhos celulares e computadores sofisticados, etc, que seu trabalho ajudou a produzir através da extração e fornecimento de matéria prima, no caso, o minério de ferro. Isso se constitui, pois, claramente, alienação do trabalho.

5 REFERÊNCIAS ARTICULAÇÃO INTERNACIONAL DO ATINGIDOS PELA VALE. Extração de ferro em alta e empregabilidade em baixa em Parauapebas/PA, 2014. Disponível em: < https://atingidospelavale.wordpress.com/2014/08/10/extracao-de-ferro-em-alta-eempregabilidade-em-baixa-em-parauapebaspa/>. Acesso em: nov. 2016. . CBO. Classificação brasileira de ocupações. Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorEstrutura.jsf>. Acesso em: nov. 2016. . CNAE. Classificação nacional de atividades econômicas. Disponível em:< http://cnae.ibge.gov.br/?view=divisao&tipo=cnae&versao=9&divisao=07>. Acesso em: nov. 2016. . DIAMOND, J. M. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. . DNPM. A importância econômica da mineração no Brasil. Apresentação RENAI. Disponível em: < http://investimentos.mdic.gov.br/public/arquivo/arq1314392332.pdf>. Acesso em: nov. 2015. . FUNCEX. Concentração da pauta de exportações brasileira no complexo da soja, em minério de ferro e petróleo bruto reduzirá capacidade de gerar superávit comercial em 2015. Revista Conjuntura Econômica - FGV. Disponível em: . Acesso em: nov. 2016. . FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. 32ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003. . IBRAM. Informações sobre a economia mineral brasileira 2015. Disponível em: < http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00005836.pdf>. Acesso em: nov. 2016. . MARX, K. O Capital: Critica da economia política: livro I. 30ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

26

. POLITIKE. Carta Capital. Mineração é a maior responsável por mortes no trabalho ao redor do mundo - 2015. Disponível em: < http://politike.cartacapital.com.br/mineracao-e-a-maior-responsavel-por-mortes-notrabalho-ao-redor-do-mundo/>. Acesso em nov. 2016. . RAIS. Ministério do trabalho. Disponível em:< http://bi.mte.gov.br/scripts10/dardoweb.cgi>. Acesso em: nov. 2016. . SCHUMPETER, J. A. A Teoria do Desenvolvimento Econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1997. . VALE. Negócios/Mineração. Disponível em: . Acesso em: nov. 2016.

27

Anexo 1: Dados apresentados em publicação do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM (2011)

28

Anexo 2: Dados sobre o emprego na mineração publicados pelo DNPM 2011

Anexo 3: Dados de alguns setores sobre o valor de remuneração, a quantidade de horas contratadas de trabalho e a remuneração por hora 10– ano de referência 2015

UF 11 - RO 12 - AC 13 - AM 14 - RR 15 - PA 16 - AP 17 - TO 21 - MA 22 - PI 23 - CE 24 - RN 25 - PB 26 - PE 27 - AL 28 - SE 29 - BA 31 - MG 32 - ES 33 - RJ 35 - SP 41 - PR 42 - SC 43 - RS 50 - MS 51 - MT 52 - GO 53 - DF Total

Fabricação de celulose e outras pastas para a Extração de petróleo e gás natural Extração de minério de ferro fabricação de papel Qtd Hora Vl Remun remuneração Qtd Hora Vl Remun remuneração por Qtd Hora Vl Remun remuneração Contr Dezembro Nom por hora Contr Dezembro Nom hora Contr Dezembro Nom por hora 0 0 #DIV/0! 748 63480,61 84,86713 792 19554,75 24,69034 0 0 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 3978 477662,25 120,0760 0 0 #DIV/0! 44 2468,36 56,09909 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 184896 14155005 76,55658 4338 295762,2 68,17938 0 0 #DIV/0! 484 26037,37 53,79622 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 44 788 17,9091 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 352 19278,6 54,76875 0 0 #DIV/0! 8814 2431942,01 275,9181 352 9681,27 27,50361 0 0 #DIV/0! 44 0 0 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 1144 52708,45 46,0738 0 0 #DIV/0! 468 18082,04 38,63684 646 224323,02 347,2493 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 5616 2400537,7 427,4462 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 12745 4124372,6 323,6071 1624 95737,31 58,95155 10932 749379,4 68,54916 792 22302,6 28,1598 429472 33606792 78,25142 1466 75341,91 51,39284 1460 402241,9 275,5082 36808 3717234 100,9898 80 4418,78 55,23475 72352 19040753,4 263,1683 6944 953788,3 137,3543 352 10698,01 30,39207 124 22163,45 178,7375 2156 85021,2 39,43469 17832 1562738 87,63671 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 19154 681290,8 35,56911 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 4316 148167,7 34,32987 528 27494 52,0720 0 0 #DIV/0! 1484 183979,5 123,9754 0 0 #DIV/0! 19904 1557626 78,25694 5928 440654 74,33435 2156 236413,58 109,6538 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 44 1182 26,8636 308 13854,14 44,98097 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 110487 29464884,9 266,6819 684048 54303536 79,38556 67186 4192535 62,40192

Fabricação de produtos derivados do petróleo, exceto produtos do refino Qtd Hora Vl Remun remuneração Contr Dezembro Nom por hora 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 1424 61082,05 42,8947 44 1900 43,18182 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 264 6274,71 23,76784 1936 46551,04 24,04496 0 0 #DIV/0! 44 889,33 20,21205 88 2188 24,86364 132 2957,42 22,4047 0 0 #DIV/0! 176 8131,5 46,2017 7458 355189,2 47,62527 396 16132,58 40,73884 19222 1135127 59,05352 43686 2659087 60,86817 2528 106690 42,20332 748 29569,07 39,53084 3928 188204 47,91345 0 0 #DIV/0! 44 1296 29,45455 44 2917,08 66,29727 0 0 #DIV/0! 82162 4624185 56,28132

Fonte: dados retirados da RAIS a partir de classificação obtida pela CBO e CNAE.

10

Para obter esse resultado calculou-se a remuneração média dos dados de dezembro 2015 sobre a qtd. de horas contratadas. Assim, foi possível chegar na estimativa do valor remunerado ao trabalhador por hora.

30

Anexo 4: Dados de alguns setores sobre o valor de remuneração, a quantidade de horas contratadas de trabalho e a remuneração por hora – ano de referência 2015

UF 11 - RO 12 - AC 13 - AM 14 - RR 15 - PA 16 - AP 17 - TO 21 - MA 22 - PI 23 - CE 24 - RN 25 - PB 26 - PE 27 - AL 28 - SE 29 - BA 31 - MG 32 - ES 33 - RJ 35 - SP 41 - PR 42 - SC 43 - RS 50 - MS 51 - MT 52 - GO 53 - DF Total

Fabricação de equipamentos de transmissão Metalurgia do alumínio e suas ligas Fundição de ferro e aço Fabricação de estruturas metálicas para fins industriais Qtd Hora Vl Remun remuneração Qtd Hora Vl Remun remuneração Qtd Hora Vl Remun remuneração Qtd Hora Vl Remun remuneração Contr Dezembro Nom por hora Contr Dezembro Nom por hora Contr Dezembro Nom por hora Contr Dezembro Nom por hora 0 0 #DIV/0! 1672 59233,52 35,42675 7128 255251,7 35,80972 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 176 5406,4 30,71818 2332 63160,27 27,08416 0 0 #DIV/0! 792 27991,36 35,34263 44 788 17,90909 28204 1013687 35,94124 440 31847,4 72,38045 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 88 669,87 7,612159 0 0 #DIV/0! 10212 527743,7 51,67878 1496 51560,5 34,46557 32736 1132208 34,58601 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 616 15551,19 25,24544 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 4344 145330,1 33,45536 0 0 #DIV/0! 2552 286536,7 112,2793 440 10981,35 24,95761 13508 451305,5 33,41024 0 0 #DIV/0! 308 6522,6 21,17727 1276 24367 19,09639 4928 108790 22,07589 0 0 #DIV/0! 9724 229631,5 23,61492 7260 188509,5 25,9655 49354 1469937 29,78353 0 0 #DIV/0! 836 26071,38 31,18586 308 8518,5 27,65747 7832 247844,6 31,64512 0 0 #DIV/0! 8560 231391,7 27,03174 528 12111,21 22,9379 8376 200275,4 23,91062 0 0 #DIV/0! 18040 1014810 56,25333 9328 451264,3 48,3774 59128 2522788 42,66655 660 31030,47 47,01586 440 8762,4 19,91455 3560 125341 35,20813 2508 49518,41 19,74418 0 0 #DIV/0! 0 0 #DIV/0! 220 4334 19,7 13228 399739,2 30,21917 0 0 #DIV/0! 7150 238965,7 33,42177 2108 96541,11 45,79749 55172 2601549 47,15344 660 22922,73 34,73141 15423 719972,1 46,68172 267360 12469297 46,6386 246451 9452928 38,35622 9237 496820,1 53,78587 5940 203339,7 34,23228 2429 90627,74 37,31072 62744 2479722 39,52125 352 16768,48 47,63773 13332 517445,6 38,8123 18526 664577,7 35,87271 92513 3940585 42,59493 2728 137035,5 50,23295 230099 15154494 65,86075 331222 20124129 60,75722 309337 15302078 49,46734 154500 11545747 74,72975 36906 1382062 37,44816 28361 1342168 47,32444 151954 6548218 43,09342 4738 296333,7 62,54404 16958 918372,3 54,1557 293916 15923824 54,17815 133048 5934451 44,60384 9858 476693,2 48,35597 13852 562519,3 40,60925 94227 4503411 47,79321 177725 7988424 44,94823 25204 1427059 56,62033 660 32180,57 48,75844 4136 157377,5 38,05066 11474 432343,7 37,68029 0 0 #DIV/0! 3212 141386,5 44,0182 1672 83018,99 49,65251 42464 1777110 41,84979 0 0 #DIV/0! 3776 126817,3 33,58509 4268 172965,7 40,52618 57799 2106403 36,44359 1804 82525,74 45,74598 1144 37355,8 32,65367 176 2865,4 16,28068 14388 670863,2 46,62658 0 0 #DIV/0! 399916 22394372 55,99769 1074709 56573219 52,6405 1589379 67310729 42,35033 210181 14564783 69,29638

Fonte: Dados retirados da RAIS, a partir de classificação obtida pela CBO e CNAE.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.