ALMEIDA FILHO, André Luiz Ribeiro de. Mutualismo no Setor Público - Uma Proposta Anarquista

July 13, 2017 | Autor: A. Ribeiro de Alm... | Categoria: Gestão de Pessoas, Gestão Pública, Anarquismo, Mutualismo
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Universidade Gama Filho Programa de Pós-Graduação em Gestão de Pessoas no Setor Público

MUTUALISMO NO SETOR PÚBLICO: UMA PROPOSTA ANARQUISTA ANDRÉ LUIZ RIBEIRO DE ALMEIDA FILHO1

Resumo: O objetivo deste artigo é propor uma nova organização aos setores da administração pública, tornando-os mais democráticos e eficientes. A proposta se desenvolve sobre uma vertente Anarquista denominada Mutualismo, procurando uma ordem baseada na igualdade de conhecimento, tornando a competição interna desnecessária e ampliando a integração da equipe, a qual passa a se autogerir. Palavras-Chave: Gestão Pública. Gestão de Pessoas. Anarquismo. Igualdade. Rotação. Mutualismo.

Abstract: The objective of this article is to propose a new organization for public administration sectors, making them more democratic and efficient. The proposal is developed on an Anarchist branch called Mutualism, seeking an order based on equality of knowledge, making unnecessary inner competition and expanding the team integration which now becomes self-managed. Keywords: Public Management. People Management. Anarchism. Equality. Rotation. Mutualism.

Rio de Janeiro 2012 1

Bacharel em História pela Universidade Gama Filho (2010)

1. Introdução "Todo aquele que contesta a autoridade e luta contra ela é um anarquista"2 Sebastien Faure

A atual estrutura em que se encontram organizadas as instituições públicas sempre foi alvo de críticas em face da morosidade existente, decorrente da hierarquia estabelecida, para um trâmite processual, levando-se em conta sua entrada e saída, percurso que necessita da vista de inúmeras pessoas. Este é apenas um exemplo. O serviço público em sua totalidade deve ser compreendido, por quem dele participa, como o atendimento e um serviço à população; logo, este mesmo servidor deve estar consciente de que a importância é a das maiores, assim como a urgência. Para melhor início do trabalho, devemos apresentar uma base das propostas teóricas anarquistas e como estas podem contribuir para uma remodelação da estrutura burocrática, de forma a permitir maior segurança e agilidade nos trâmites internos, assim como atender ao outro lado do processo, ou seja, a quem executa. A preocupação em si não é apenas com o atendimento às demandas sociais, através de um serviço prestado com eficiência, mas sugerir formas de, mudando a estrutura dos que prestam o serviço, dinamizar o todo. Assim buscaremos na história, matéria de exemplos humanos por excelência, argumentos contrários à estrutura social que ainda hoje existe para que, num microcosmo, possamos dar sentido, viabilidade e satisfação a todos os envolvidos. E antes que o trabalho seja rechaçado por apresentar a palavra “Anarquia”, desde já informamos que o mesmo não é anarquista em sua essência, apenas utiliza-se de seus argumentos para sugerir. Como dito por George Woodcock: Todos os anarquistas contestam a autoridade e muitos lutam contra ela. Mas isso não significa que todos aqueles que contestam a autoridade e lutam contra ela devam ser considerados anarquistas. Do ponto de vista histórico, o anarquismo é a doutrina que propõe uma crítica à sociedade vigente; uma visão da sociedade ideal do futuro e os meios de passar de uma para a outra. A simples revolta irracional não faz de ninguém um anarquista, nem a rejeição do poder terreno com bases filosóficas ou religiosas.3

Ao analisarmos o Anarquismo, temos que ele se preocupa basicamente com o homem e com sua relação com a sociedade. Nada mais oportuno no caso, sendo este o 2

WOODCOCK, George. História das Ideias e Movimentos Anarquistas - v.l : A ideia/ George Woodcock; tradução de Júlia Tettamanzy. - Porto Alegre : L&PM, 2007, p. 7. 3 Ibidem, p. 7.

nosso escopo. Porém, a estrutura da própria sociedade acaba refletido-se no ambiente de trabalho e, novamente, no produto do trabalho. Logo, a morosidade, tão criticada socialmente, é apenas um reflexo das estruturas que a própria sociedade criou. O serviço público tem (teoricamente), como sua autoridade, a sociedade; porém, devido à ausência de consciência desta e das hierarquias que compõem o próprio setor, as demandas atendidas são, em grande escala, as de interesses das hierarquias burocráticas e dos políticos, estes com autoridade legitimada socialmente para determinarem e redeterminarem. Confirmando o pensamento de Proudhon, as leis e regras são impostas de cima, não tendo origem na própria comunidade. Segundo ele, elas deveriam ser o objetivo do esforço social, mas isso, somente se todos se esforçassem no mesmo sentido. Não seremos tão românticos nem utópicos em desejar e até mesmo buscar a destruição das autoridades estabelecidas, em prol de uma organização social unida de forma natural e fraterna, mas seremos ousados o suficiente para propor uma mudança sutil o bastante para abalar as estruturas. O Anarquismo nos aponta, em sua liberdade e espontaneidade, que devemos excluir qualquer tipo de organização rígida e qualquer outra estrutura que mantenha algum tipo de poder. Devemos abrir um pequeno parêntese para recordarmo-nos de que dentro do movimento Anarquista existem várias correntes e que neste nosso trabalho estamos acompanhando as suposições comuns entre elas, o que realmente constituí o núcleo da filosofia anarquista, a começar pela visão naturalista da sociedade. Conforme Kropotkin: O anarquista imagina uma sociedade na qual as relações mútuas seriam regidas não por leis ou por autoridades autoimpostas ou eleitas, mas por mútua concordância de todos os seus interesses e pela soma de usos e costumes sociais - não imobilizados por leis, pela rotina ou por superstições - mas em contínuo desenvolvimento, sofrendo constantes reajustes para que pudessem satisfazer as exigências sempre crescentes de uma vida livre, estimulada pelos progressos da ciência, por novos inventos e pela evolução ininterrupta de ideais cada vez mais elevados. Não haveria, portanto, autoridades para governá-la. Nenhum homem governaria outro homem; nem cristalização nem imobilidade, mas contínua evolução - tal como a que vemos na Natureza.4

No Anarquismo, a decência do ser humano e seu desejo de liberdade individual são pontos que, ao reformularmos as estruturas de trabalho, deverão ser atendidos, 4

KROPOTKIN, Piotr. Ajuda Mútua: Um Fator de Evolução. Tradução Waldyr Azevedo Jr. – São Sebastião / SP : A Senhora Editora, 2009, p. 23.

compreendendo que, uma vez governado pela razão (e seu instinto de sociedade), o homem deverá mudar sua forma de relacionamento com os demais, pois na situação em que se encontram as aspirações não satisfeitas, levam-no ao desejo de poder. Assim, temos que a forma como o trabalho está dividido e as condições em que é aplicado, são os principais fatores de desânimo e frustração. Devem ser substituídos por ambientes agradáveis e saudáveis, assim como pela possibilidade de execução de trabalhos variados, capazes de dar a sensação, a quem o executa, de ser útil e de estar participando de algo bom, não apenas para si, mas para todos. Assim, o trabalho passaria a ser mais atrativo e sua execução seria reforçada pela satisfação moral da compreensão de sentirse livre e útil. 2. Reflexão “Todos devem ter prazer em seu trabalho”5 Regulamento Medieval de Kuttenberg

Considerando que a humanidade é uma só e que todos os homens são iguais e ao mesmo tempo diferentes, os anarquistas fixam suas reflexões na busca de um equilíbrio entre a dualidade individual e a universalidade humana. Entre suas reivindicações, encontramos as de solidariedade para com o próximo e as do indivíduo livre, buscando um mundo sem fronteiras, baseado na autonomia local e na espontaneidade pessoal.6 Ao trazermos o reflexo social especificamente para o ambiente de trabalho no setor público, temos como premissa substituir o formato autoritário de burocracia hierarquizada que se instaurou, por uma forma cooperativa de trabalho (solidária), na qual as autoridades dominantes seriam substituídas por setores coordenados, mantendo uma rede de equilíbrio de interesses, porém, baseado em assistência recíproca. Teremos assim o desemprego das formas de coerção praticadas. Nem mesmo a divisão do trabalho conduzida com atenção a uma maior remuneração, utilizando-se das premissas de Taylor, nem a suposta flexibilização tão somente propagada para melhor distribuição de tarefas e a ideia de motivação no trabalho servem-nos de base para que alcancemos o real objetivo, o de estimular uma consciência coletiva, na qual a satisfação seja mais importante do que e a remuneração, e esta, apenas a consequência de um trabalho bem feito e útil a todos, ou seja, visando o

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KROPOTKIN, op. cit.; p. 157. WOODCOCK, George. História das Ideias e Movimentos Anarquistas - v2 : O movimento/ George Woodcock; tradução de Júlia Tettamanzy. - Porto Alegre : L&PM, 2006, p. 7. 6

“bem-estar da coletividade”. Este, por sua vez, deve ser a resposta aos que perguntam: “O que a maioria das pessoas quer com o seu trabalho?” Uma reflexão dos que estudam a sociedade parte do que é natural no ser humano e o que lhe é inculcado pela sociedade. O individualismo, por exemplo, é algo que até certo limite podemos considerar como natural, mas a partir da sua manifestação desenfreada, passamos a considerá-lo como um produto moderno, e não como uma característica humana natural. Partindo de uma análise da natureza, da relação entre as espécies, tem-se que o mutualismo não deve ser considerado um argumento voltado a instintos pré-humanos, totalmente deslocado de um foco social, contemporâneo, mas como algo intrínseco à natureza social, como um fator real e comprovável de evolução. Temos assim a percepção e o instinto de solidariedade, quando, ao se estabelecer um laço social, passa-se a vincular em íntima dependência a felicidade individual com a felicidade geral, na qual também o direito é tido como sendo igual para todos. Posto isso, será sobre essa base ampla e necessária, que se darão desenvolvimentos mais elevados. Trazendo os pressupostos acima citados do macro ao micro, observamos que, ao longo da história, o Estado foi quem absorveu as funções sociais, favorecendo o individualismo, tornando a relação individual para consigo a partir de obrigações. Com isso, utilizando-se do direito, da ciência e da religião, a busca da própria felicidade desvinculou-se da sociedade e do Próximo, sendo substituída pela supervalorização do Eu. Mas afinal, que reflexo tem esse processo instituído por um Estado que, para se manter legítimo, desvincula cada cidadão de seu elo? Bom, ao identificarmos os meios profissionais, as críticas ao trabalho já descritas, poderemos observar esse reflexo que passa tão despercebido e que dificilmente alcançamos, ao indagarmos o porquê de nosso trabalho estar de uma forma ou de outra, ou de termos ou não direito a algo, assim como nos perguntarmos se não poderia ser diferente. A primeira reflexão que se faz necessária a quem aborda tais questões é o porquê de se trabalhar. Logo nos vem em mente a ideia de sustento, de obter lucro para se atingir a um objetivo específico, porém não é assim que pensam os que gerem o capitalismo em si. Longe de atender as necessidades humanas, o trabalho na atualidade serve principalmente para gerar valor. Nisto, o que se obteve de produtividade, ao invés de reverter em benefício de todos, fica retido até que uma oportunidade de ser multiplicado surja. No setor público, como o trabalho não tem o lucro por fim, mas

como base para melhor atendimento às necessidades sociais, a gestão deve manter sempre a consciência, no funcionário, de que seu chefe é o povo, assim como as necessidades dos outros também são as suas. Tanto em ambiente público como no privado, a maior prova da insatisfação é a frustração e o absenteísmo gerado pelo desânimo de não ver seu trabalho reconhecido como produtivo. Não é apenas o reflexo de ser valorizado, até por esta ser uma manifestação individual, mas acima disto, sentir-se útil e feliz ao perceber que seu trabalho tem um reflexo positivo na vida das pessoas. Podemos ainda considerar que o funcionário público leva certa vantagem sobre o funcionário privado por manter uma relação mais próxima com a sociedade, criando uma consciência coletiva que esta interação provoca, e, variando de pessoa para pessoa, se permitir reavaliar constantemente seu papel junto às necessidades que seu trabalho pode atender. Vamos colocar o foco, então, em quem realmente interessa, o indivíduo. Mudar o que realmente é preciso, sair do conforto, parar de resolver da mesma forma, por sinal, acaba se mostrando sempre insuficiente ou uma solução de curto ou, no máximo, médio prazo. A mudança de atitude, mudança pessoal, que se faz necessária para que alcancemos nossos objetivos quanto à mudança de postura do geral ao invés do particular, necessita de duas frentes de ação, uma do ponto de vista de quem determina e a outra do ponto de vista de quem executa. Para os que determinam, a primeira mudança é a de estrutura. Como se encontra hierarquicamente em posto superior, com mais responsabilidades, deverá repartir com outros o seu cargo, o que nos levará ao fim do chefe como o conhecemos, e que será substituído por um grupo de pessoas que compartilharão das mesmas competências que o antigo chefe detinha. Cabe ressaltar que tendo estas pessoas as mesmas competências e capacidades, não haverá disputas, e a cooperação será inerente ao bom desempenho do grupo como gestor, visto que a entrada ou saída de um dos componentes dependerá da aprovação de todos. Voltando-nos para os que executam, levamos o mesmo conceito aplicado aos que determinam, mas com ressalvas, sabendo que por terem atividades específicas, não serão todas as formas de relação semelhantes. Os setores que executam ganham autonomia, passam a decidir e avaliar seu próprio trabalho e seus componentes obtém liberdade para melhorar sua atividade e sua produtividade. Com essas mudanças, poderemos considerar aplicado o mutualismo nas formas como descrito, com suas tipificações, e alcançando seu objetivo, que é o de atender a necessidade de todos.

Dando ênfase a nossa proposta, no setor público, as mudanças tornam-se mais sutis, porém o agente principal não poderá ser mudado, o quê, para muitos, poderá significar a desvalorização desse trabalho. A figura do líder do governo, seja ele prefeito, governador ou presidente, possuiu tal designação devido ao que diz a constituição. Esta, por sua vez, só poderá ser alterada por consenso popular, algo que não é nosso foco nesse artigo. Nossa proposta está no que pode ser alterado, ou seja, no que de imediato poderá trazer ao âmbito público o atendimento de suas necessidades; neste caso, a proposta de mudança da forma de trabalho. Parte do que citamos pode ser aplicado tanto em setores de produção como nos de serviço. Em ambos os casos, a mudança necessária deverá ser brusca, devido à forma como os setores se encontram compostos e administrados. A primeira mudança significativa deve ser a do perfil do servidor que se busca, compromissado com a sociedade e interessado em seu trabalho, que sinta prazer no que faz e que não enxergue o setor público como apenas uma garantia de emprego e que muda conforme os pleitos eleitorais. Ricardo Semler foi muito feliz em apontar “as três condições sine qua non para sobrevivência a longo prazo de uma empresa” e que valem tanto para o setor privado quanto para o público. São elas: 1. Capacidade de enxergar a necessidade de mudanças a tempo, com coragem para implementá-las antes que seja tarde demais. 2. Fazer a empresa funcionar através da efetiva participação de seus funcionários, e ter uma linha de conduta administrativa flexível e aberta às transformações. 3. Ter uma cultura própria e definida, que não seja adaptada às condições do momento, mas sim perene em suas crenças básicas.7

Dentro da cultura organizacional, assim como na reflexão sobre a própria propaganda da empresa, alguns pontos merecem muita atenção da parte dos gestores, porque, ao se criar uma contradição, a credibilidade existente com o colaborador se perde. Exemplo é a sensação e posterior confirmação de que admissão ou promoção não dependem exclusivamente do mérito; perceber que canais de comunicação com as demais áreas da empresa ou setor não funcionam, ainda mais se for de propósito, de forma a impedir a execução de serviços ou demais atividades, visando apenas prejudicar o próximo, e com agravo de saber da ciência do(s) superior(es) que faz(em) vista grossa. Todos os pontos possuem suas peculiaridades para serem trabalhadas, todas as mudanças terão seus graus de dificuldade, principalmente quando dependerem mais da

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SEMLER, Ricardo. Virando a Própria Mesa. São Paulo: Best Seller, 1988, p. 70.

mudança de mentalidade e, consequentemente, da cultura, do que de novas normas, regulamentos e reorganização de funções. A dúvida, que possivelmente fica, é a de que se a liberdade de decisão dentro dos setores e grupos de trabalho, a ausência de um indivíduo como “superior”, “supervisor” ou “chefe”, não levaria a uma situação de (ironicamente) “completa Anarquia”. Ricardo Semler, de forma geral, nos responde a esta questão quando abordado sobre a descrição de cargos8: ... não cheguei a ver ainda alguma sistemática de descrição de cargo que reúna um ou mais funcionários e discuta com eles sobre o que eles fazem na atualidade e o que, de fato, eles gostariam, se sentiriam qualificados ou motivados a fazer. É claro que isto não é possível em termos tradicionais, pois, entre outras coisas, aterrorizaria o nosso fiel analista — e todos os seus chefinhos, já que várias coisas ocorreriam como consequência de uma infamidade destas: primeiro não haveria como comparar o salário do diabinho com o diabito, visto que agora já não se sabe ao certo o que o diabinho realmente faz, uma vez que, motivado e interessado, ele passa a montar birutecos, parafusar telecotecos e pintar as paredes de sua seção quando não há serviço; segundo, porque agora tem-se em mãos um verdadeiro perigo — um homem que descobre que dar palpites, inovar e assobiar no trabalho não é nenhuma heresia. A essa hora Taylor já está com o traseiro esfolado de tanto virar no caixão e, se pudesse, perguntaria: ''My dear sir, esta sua fábrica não vai virar uma baderna?" Nos termos familiares a Taylor, provavelmente sim. Em compensação a mola mestra da produtividade passaria a ser a da motivação e do interesse, e não a da préfixação dos tempos e dos métodos de trabalho. Passaria, também, a ser quase impossível medir as pequenas produtividades individuais às quais Taylor tanto se dedicou, e só seria possível saber a produtividade de grupos de trabalho.9

Outro aspecto levantado por Semler, que muito nos interessa, é o de perceber as consequências que poderão ser obtidas se estas mudanças forem adotadas. A definição muito precisa de cargos cria um sem-fim de atividades específicas, as quais acabam limitando o funcionário dentro de um grupo de competências e responsabilidades e, principalmente, da atenção e do cuidado dispensados para cada atividade. Quando se generaliza e amplia as competências, se reduz o número de funcionários, também reduzindo a burocracia e estimulando a criatividade, aumentando os respectivos salários e benefícios. Permitimos com isso, às pessoas, se realizarem por poderem se sentir parte do que acontece à sua volta, por se sentirem sujeitos de suas atividades e não meras peças de engrenagem.

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Não podemos esquecer que ao tornarmos as competências comuns aos que compõem um setor, suas competências tornam-se gerais, perdendo sua especificidade. 9 SEMLER. op cit.; p. 212.

A aplicação desses itens deve ser feita em todos os setores, eliminando a hierarquia individualista e dinamizando a empresa10, seguindo que: O conceito é o de dar o máximo de autonomia e liberdade para cada unidade, e deixá-los los dirigir aquilo da maneira que acharem melhor. A corporação central, que é enxuta e ágil, apenas nas serve como apoio e centro de debate de 11 estratégias e operação.

Apontando um modelo de como deveriam se constituir os quadros de funcionários públicos dentro da proposta apresentada, podemos tomar primeiro o seguinte esquema:

Em primeiro lugar, devemos ter um número ímpar de superiores, a fim de não acontecerem empates durante decisões, decisões, e que estes possuam o mesmo conhecimento para que não disputem entre si. Devido à rotação de gerenciamento, deverão manter constante troca de informações sobre o que se passa com cada grupo de trabalho, aumentando a interatividade e induzindo a uma cooperação produtiva. Pensando na manutenção da da qualidade na execução de suas funções públicas, os Superiores deverão avaliar seus pares e serem avaliados a cada quatro quatro meses (épocas de rotação), de forma a manter uma produtividade e um bom nível de atendimento as 10

Devemos ampliar quando a referência se faz a Empresa, para setores e órgãos públicos tais como Secretarias, Repartições, Ministérios, etc. 11 SEMLER. op cit.; p. 273.

demandas do serviço público. Atendidas essas premissas, o engajamento em processos de atualização deverá ser implementado. O modelo proposto também deverá ser reproduzido nos demais níveis hierárquicos, objetivando eliminar a competição, aumentar a qualidade do serviço prestado e, como objetivo social, tornar o colaborador mais apto a cooperar com o próximo e a ser mais solidário, de forma construtiva, ao invés de competir de forma destrutiva. Rodízio de chefias e de funções democratizaria o serviço público e favoreceriam a transparência, além de eliminar o poder autoritário (presente na concentração e sonegação de informações) através da socialização da informação, do conhecimento das rotinas. 3. Conclusão "Devemos ocupar nosso tempo a examinar os ideais de uma sociedade futura?”12 Woodcock Para concluirmos a nossa proposta, devemos responder à pergunta. O que queremos? Quais são nossos objetivos e planos? Estamos no caminho certo? Podemos e temos como mudar? Estamos felizes? No fundo, todos nós queremos sempre o melhor, queremos mudar para o bem de todos, não apenas o nosso. Por mais que nossa sociedade nos coloque como meros agentes de consumo, como instrumentos do capital em busca de mais capital, podemos e devemos mudar para sairmos desta postura, deste ciclo onde o máximo que alcançamos são ilusões, as quais muitas vezes nos frustram. Temos que considerar as dificuldades, os pontos que dependem apenas de nós e os dependentes de todos, principalmente levando-se em consideração que ninguém aprenderá nem fará nada, a menos que tenha alguma ideia a respeito de sua utilidade e valor. Devemos considerar primeiramente o impacto imediato na nossa vida, no reflexo que nossa mudança de atitude poderá causar nos que convivem e, principalmente, trabalham conosco. O trabalho deve ser compreendido e executado sob diversos pontos de vista, desde a satisfação pessoal até a compreensão de sua extensão social. Não deve ser um causador de males, estresse, doenças, etc. Por mais que este artigo possa não vir a oferecer as sugestões aceitáveis, as vias pelas quais as mudanças para melhorar nosso 12

WOODCOCK. op. cit.; p. 220.

dia a dia sejam efetivamente colocadas, ao menos a reflexão de que uma mudança seja necessária, certamente ficará latente na primeira oportunidade de aplicação. Ainda assim, cabe insistir no modelo de rotação de atividades, pelo que tem de democrático, socializante e eficaz. Mas não deve se assustar quem, ao relembrar das primeiras palavras deste artigo, se ver criticando algo para que mude, porque como dito no início “do ponto de vista histórico, o anarquismo é a doutrina que propõe uma crítica à sociedade vigente; uma visão da sociedade ideal do futuro e os meios de passar de uma para a outra”. “... o fato de que eu tinha parado de usar relógio. Eu tinha assistido a um concerto da pianista Magdalena Tagliaferro, e ficara impressionado com o fato de que aquela mulher tinha nascido no tempo de D. Pedro, assistira à invenção do automóvel e do avião, passara por duas guerras mundiais, e ainda tocava piano em público. Percebi que a vida é medida em décadas e séculos, e não em horas e minutos. Percebi também que não é possível entender o passar da vida em toda sua amplitude se há um medidor de minutos a ser consultado a cada pequeno intervalo. Há muitos anos não uso relógio e geralmente não erro a hora por mais de quinze minutos. E óbvio. Se você não tem relógio, é obrigado a sentir a passagem do tempo, o que é muito mais intuitivo. Que diferença faz se são oito horas e catorze minutos, se vamos ficar na Terra por algumas décadas? O tempo é curto; medido com precisão, só serve para gerar o stress, que muitas vezes vem da sensação de que estamos correndo atrás de alguma coisa.”13

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SEMLER. op. cit.; p. 35.

Referência Bibliográfica: - DESENVOLVIMENTO Histórico do Comportamento Organizacional. Universidade Virtual Brasileira, 2005.

- FONSECA, Paulo César. Como Diferenciar o Chefe de um Líder. Texto para uso didático – EAD, Universidade Gama Filho. - GASPARETTO, Luiz Eduardo. Cultura e Clima Organizacional. Texto para uso didático – EAD, Universidade Gama Filho. - GASPARETTO, Luiz Eduardo. Liderança Motivação Delegação. Texto para uso didático – EAD, Universidade Gama Filho. - KROPOTKIN, Piotr. Ajuda Mútua: Um Fator de Evolução. Tradução Waldyr Azevedo Jr. – São Sebastião/SP : A Senhora Editora, 2009. - KRISIS, Grupo. Manifesto Contra o Trabalho. Tradução Heinz Dieter Heidemam e Claudio Duarte, 1999. - SEMLER, Ricardo. Virando a Própria Mesa. – São Paulo: Best Seller, 1988. - SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. Tradução Getúlio Schanoski Jr. – São Paulo: Madras, 2009. -WOODCOCK, George. História das Ideias e Movimentos Anarquistas – v.l : A ideia/ George Woodcock; tradução de Júlia Tettamanzy. – Porto Alegre : L&PM, 2007. - WOODCOCK, George. História das Ideias e Movimentos Anarquistas – v.2 : O movimento/ George Woodcock; tradução de Júlia Tettamanzy. – Porto Alegre : L&PM, 2006.

Agradeço ao meu amigo Evandro Carlos Pinheiro Ribeiro pelo incentivo, material cedido e conversas sobre o assunto. Obrigado mesmo meu amigo.

Aluno: André Luiz Ribeiro de Almeida Filho Mutualismo no Setor Público: uma proposta anarquista Artigo apresentado à Central de Cursos de Extensão e Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade Gama Filho como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pós-Graduação / MBA em Gestão de Pessoas no Setor Público. AVALIAÇÃO 1. CONTEÚDO Grau: _______ 2. FORMA Grau: _______ 3. NOTA FINAL: _______

AVALIADO POR

____________________________________ (Assinatura)

Rio de Janeiro, _____ de _______________ de 20 ____

_______________________________________________________ Titulação e Nome Completo do Coordenador do Curso

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