Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro - EntomoRio

Share Embed


Descrição do Produto

i

ANAIS DO

III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELOS COORDENADORES

D111a

Da-Silva, Elidiomar Ribeiro, 1967Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro – EntomoRio / Elidiomar Ribeiro Da-Silva. – Rio de Janeiro: Perse, 2016. 190 f. ISBN 978-85-464-0221-2 1. Zoologia. 2. Entomologia. I. Título. II. Autor

CDD: 595.7 CDU: 59

1. Ciência da Informação. 2. Administração. I. Título. i UNIPÊ / BC

CDU - 658:004

Ministério da Educação Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Biociências

ANAIS DO

III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

ARTIGOS COMPLETOS Ano da publicação: 2016

Organizado por:

Elidiomar Ribeiro da Silva Maria Inês da Silva dos Passos Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Valéria Magalhães Aguiar Claudia Soares Santos Lessa Departamento de Parasitologia e Microbiologia, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Luci Boa Nova Coelho Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ii

III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca Vice-Reitor Ricardo Silva Cardoso Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Evelyn Goyannes Dill Orrico Pró-Reitor de Graduação Alcides Wagner Serpa Guarino Instituto de Biociências Diretor Carlos Henrique Soares Caetano

Local de realização do evento: Auditório Tércio Pacitti - IBIO / CCET Avenida Pasteur 458 – Urca – Rio de Janeiro, RJ Data: 01 a 03 de setembro de 2015 Organização e realização do evento: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)

iii

III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

Coordenadora do III EntomoRio Maria Inês da Silva dos Passos (UNIRIO)

Comissão organizadora do evento Ângela Alves de Almeida (UFRRJ) Cláudia Soares Santos Lessa (UNIRIO) Elidiomar Ribeiro da Silva (UNIRIO) Felipe Ferraz Figueiredo Moreira (FIOCRUZ) Gabriel Luis Figueira Mejdalani (UFRJ) José Ricardo Miras Mermudes (UFRJ) Marcela Laura Monné Freire (UFRJ) Márcio Eduardo Felix (FIOCRUZ) Maria Inês da Silva dos Passos (UNIRIO) Nelson Ferreira-Jr (UFRJ) Ronaldo Figueiró Portella Pereira (UEZO) Valéria Magalhães Aguiar (UNIRIO)

Comitê científico do evento Gabriel Luis Figueira Mejdalani (UFRJ) Leonardo Henrique Gil Azevedo (UFRJ) Nelson Ferreira-Jr (UFRJ)

Equipe de apoio do evento Adriana Leal de Figueiredo (UNIRIO) Aline Amanda Sampaio (UFRJ) Ana Carolina Neves (UFRJ) André Silva Roza (UFRJ) Angelina Pimentel Vieira (UFRJ) Bernardo Egito Amarante (UNIRIO)

Cauan Augusto de Oliveira Antunes (FIOCRUZ) Derek Godoy (UNIRIO) Fernanda Avelino C. da Silva (UFRJ) Flávia Souza da Motta (FIOCRUZ) Francisco E. de Lima Nascimento (UFRJ) Higor Tomaz Teixeira de Castro (UNIRIO) Isabelle da Rocha Silva Cordeiro (FIOCRUZ) Juliana Mourão S. Rodrigues (FIOCRUZ) Laura Pires Stallone (UNIRIO) Lidiane Coelho Berbert (UEZO) Mariana Freire Campos (UNIRIO) Rafaela Pereira de Carvalho (UNIRIO) Raquel Leite Wainfas (FIOCRUZ) Sávio Cavalcante (UNIRIO) Stephanie Vaz Nogueira Campos (UFRJ) Tatiana Cristina da Silveira (UFRJ) Tatiana Nascimento Docile (UFRJ) Thaiane Franklin da Silva (UEZO) Thiago Rodas Müller de Campos (UNIRIO) Thiago Xisto de Oliveira (UFRJ) Virgínia Codá (UNIRIO) Wagner Rafael Maciel de Souza (UFRJ) Wellington Thadeu A. Azevedo (UNIRIO)

Editoração e administração Web Felipe Ferraz Figueiredo Moreira (FIOCRUZ)

Revisão dos resumos do evento Márcio Eduardo Felix (FIOCRUZ)

iv

III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

Apresentação O Estado do Rio de Janeiro abriga um grande número de instituições que realizam pesquisas científicas sobre insetos, com a orientação de muitos estudantes de graduação e pós-graduação. O Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro congrega professores, pesquisadores e estudantes de diferentes áreas, todos interessados em questões relativas à Entomologia, para a divulgação de pesquisas e troca de experiências, promovendo a integração das instituições fluminenses. Seguindose a filosofia das duas primeiras edições, realizadas respectivamente no Museu Nacional/UFRJ e na FIOCRUZ, o III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro teve por objetivo oferecer ao público uma abordagem multidisciplinar, promover o debate e divulgar as variadas linhas de pesquisa em andamento nas diversas instituições nacionais, especialmente do Estado do Rio de Janeiro. As linhas das pesquisas apresentadas no evento abrangem taxonomia, sistemática, evolução, morfologia, biologia molecular, diversidade, ecologia, bioindicadores, zoologia cultural, divulgação científica, dentre outras, envolvendo sempre a temática dos insetos e outros artrópodes classicamente incluídos em eventos de Entomologia. Nesse sentido, promove-se uma maior interação entre os diferentes grupos de pesquisa de diversas instituições, tais como UFRJ, UERJ, UNIRIO, UFRRJ, UEZO e FIOCRUZ. O evento visa gerar a discussão de problemas de interesse comum aos entomólogos, fornecendo assim propostas para suas soluções. Também objetiva atrair mais estudantes de graduação interessados em realizar sua iniciação científica em entomologia e contribuir para a formação de novos pesquisadores. Por sinal, pela primeira vez o evento foi realizado em um local mais dedicado à graduação. Diante do sucesso do III EntomoRio, e face à qualidade dos resumos apresentados, concretizou-se a ideia de se organizar um documento com artigos completos, feitos com base nos temas livres e palestras apresentados. E o resultado é a presente publicação, que consiste no relato de pesquisas a partir de duas das palestras proferidas e mais quinze artigos elaborados por autores de resumos apresentados no evento. Como introdução, há um artigo que analisa comparativamente os quantitativos de temas, autores e instituições entre as três edições já realizadas do Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro.

Comissão Editorial dos Anais do III EntomoRio

v

Revisão dos artigos

Todos os artigos foram avaliados pela comissão científica quanto aos critérios de formato e conteúdo, conforme regulamento divulgado. Os artigos deveriam conter resultados de atividades de pesquisa em Entomologia. O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos respectivos autores.

Pareceristas “ad hoc”

Adauto Maurício Tavares Alexandre Silva de Paula Christina Wyss Catelo Branco David Martins Eduardo Assis Abrantes Francisco Fernando Lamego Simões Filho Jacenir Mallet José Cola Zanúncio Laura Rocha Prado Lívia Maria Silva Ataíde Lucas Ramos Costa Lima Luciano de Azevedo Moura Marcos Rafael Gusmão Tiago Cardoso da Costa Lima Paschoal Coelho Grossi Paulo Sérgio Fiuza Ferreira Rafael Boldrini Wilson Sampaio de Azevedo Filho

vi

SUMÁRIO A CIENCIOMETRIA DO ENTOMORIO – UM BREVE RETRATO DA PESQUISA ENTOMOLÓGICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ............................................................................................................................................................ Pág. 002 ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS E BIOLOGIA COM OS INSETOS ................................................................... Pág. 012 ZOOLOGIA CULTURAL, COM ÊNFASE NA PRESENÇA DE PERSONAGENS INSPIRADOS EM ARTRÓPODES NA CULTURA POP ........................................................................................................................................................ Pág. 024 SINOPSE DAS ESPÉCIES DE Eurysternus DALMAN, 1824 (COLEOPTERA, SCARABAEIDAE, SCARABAEINAE, ONITICELLINI) DO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL .................................................................................................................................................................................. Pág. 036 INVENTÁRIO DAS ESPÉCIES DE Grammodesma ACHARD, 1923 (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE: CHRYSOMELINAE) OCORRENTES NO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL .................................................................................................................................................................................. Pág. 056 REDESCRIÇÃO DA FÊMEA DE Planicephalus flavicosta (STÅL, 1862) (HEMIPTERA: CICADELLIDAE) .................................................................................................................................................................................. Pág. 062 PRIMEIRO REGISTRO DO GÊNERO Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA: ASILIDAE) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E SUA ABUNDÂNCIA NA RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRASIL) .................................................................................................................................................................................. Pág. 070 FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Campsurus truncatus ULMER, 1920 (EPHEMEROPTERA: POLYMITARCYIDAE) NA MATA DO PARAÍSO, VIÇOSA, MINAS GERAIS ...................................................................................................... Pág. 077 Balclutha hebe KIRKALDY, 1906 AND Curtara atomaria (STÅL, 1862), NON-SEASONAL LEAFHOPPERS IN A SEASONAL ENVIRONMENT (HEMIPTERA: CICADELLIDAE) ………………………………………………………… Pág. 084 POPULATION DYNAMICS OF CICADELLIDAE AND DELPHACIDAE (HEMIPTERA) IN AN URBAN ENVIRONMENT OF THE RIO DE JANEIRO CITY ………………………………………………………………………………………….…….. Pág. 091 FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Singhiella simplex (SINGH, 1931) (HEMIPTERA: ALEYRODIDAE) EM AMBIENTE URBANO DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO ..................................................................................................... Pág. 101 INFLUÊNCIA DA LUZ E DO RELÓGIO BIOLÓGICO NA ATIVIDADE DE OVIPOSIÇÃO DO MOSQUITO VETOR Aedes aegypti (LINNAEUS, 1762) (DIPTERA: CULICIDAE) - OBSERVAÇÕES PRELIMINARES ...................................... Pág. 109 APLICAÇÃO DA ENTOMOLOGIA FORENSE EM CASOS JUDICIAIS NO PROJETO O JÚRI E A PERÍCIA ......... Pág. 120 ESTUDOS MORFOLÓGICOS PARA CARACTERIZAR INDIVÍDUOS TOTIPOTENTES EM COLÔNIAS DE Cryptotermes brevis (WALKER, 1953) (DICTYOPTERA: ISOPTERA: KALOTERMITIDAE) .......................................................... Pág. 126 COMPOSIÇÃO DE ELMIDAE (INSECTA: COLEOPTERA) EM UM RIACHO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA, RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL ........................................................................................................................................ Pág. 138 BESOUROS (COLEOPTERA) ATRAÍDOS POR LUMINÁRIAS EM LOCALIDADES SERRANAS URBANIZADAS NO INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ....................................................................................................... Pág. 144 CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA MORFOLOGIA E TAXONOMIA DE Dicranocentrus SCHÖTT, 1893, COM HISTÓRICO COMENTADO PARA A REGIÃO NEOTROPICAL (COLLEMBOLA: ENTOMOBRYIDAE) .................. Pág. 151 ANÁLISE DO FILME DE ANIMAÇÃO “VIDA DE INSETO” À LUZ DA BIOLOGIA ANIMAL ...................................... Pág. 166

vii

ARTIGO INTRODUTÓRIO

1

DA-SILVA, E.R. et al. 2016. A cienciometria do EntomoRio – um breve retrato da pesquisa entomológica no Estado do Rio de Janeiro. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 2-10.

A CIENCIOMETRIA DO ENTOMORIO – UM BREVE RETRATO DA PESQUISA ENTOMOLÓGICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Elidiomar Ribeiro Da-Silva1,4 Luci Boa Nova Coelho2 Maria Inês da Silva dos Passos3 RESUMO O Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro (EntomoRio) é um evento científico bianual que congrega professores, pesquisadores e estudantes de diferentes áreas do estudo dos insetos, para a divulgação de pesquisas e troca de experiências. A análise cienciométrica dos trabalhos apresentados nas três edições (2011, 2013 e 2015) já realizadas do evento pode representar um breve retrato da pesquisa entomológica no estado. Um total de 447 pesquisadores participaram da autoria de resumos de temas livres, representando 52 instituições, algumas de outros estados e até do exterior. Três ordens de insetos se destacam entre as mais estudadas: Coleoptera, Diptera e Hemiptera. Fica clara a vocação do Estado do Rio de Janeiro para estudos taxonômicos, o que explica a grande quantidade de novos táxons propostos nos resumos. Somando-se as três edições do evento, foram apresentados trabalhos versando sobre quatro gêneros e 130 espécies novos, número bastante significativo. Também se destacam os inventários faunísticos, tão importantes no mapeamento da distribuição das espécies.

Palavras-chave: estudo cienciométrico; evento científico; insetos. ABSTRACT SCIENTOMETRICS OF ENTOMORIO – A BRIEF PORTRAIT OF ENTOMOLOGICAL RESEARCH IN RIO DE JANEIRO STATE The Entomological Symposium of Rio de Janeiro (EntomoRio) is a biannual scientific event that brings together professors, researchers and students from different areas of the study of insects, for the dissemination of research and exchange of experiences. The scientometric analysis of the papers presented in the three editions (2011, 2013 and 2015) have made the event may represent a brief picture of entomological research in the state. A total of 447 researchers participated in the authoring of free themes summaries, representing 52 institutions, some from other states and even abroad. Three orders of insects stand out among the most studied: Coleoptera, Hemiptera and Diptera. It is clear Rio de Janeiro State vocation for taxonomic studies, which explains the large amount of new taxa proposed in the summaries. Adding to the three editions of the event, papers were presented dealing on four new genera and 130 new species, quite a significant number. Also highlight the faunal inventories so important in mapping the distribution of species.

Keywords: insects; scientific event; scientometrics. ___________________ 1 Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 Laboratório Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 4 Autor correspondente: [email protected]. 2

INTRODUÇÃO

MACIAS-CHAPULA (1998) definiu cienciometria como sendo o estudo dos aspectos quantitativos da ciência enquanto uma disciplina ou atividade econômica. A cienciometria é um segmento da sociologia da Ciência, sendo aplicada no desenvolvimento de políticas científicas. Envolve estudos quantitativos das atividades científicas, incluindo a publicação e, portanto, sobrepondo-se à bibliometria (MACIAS-CHAPULA, 1998: 134). O Brasil está em 20º lugar dentre os países que mais publicaram pesquisas em Zoologia entre 1945 e 2012 (SANTOS & LIMA FILHO, 2012), o que é o mínimo que se espera de um país que possui a maior biodiversidade do planeta (SANDES & DI BIASI, 2000). Ainda que incipientes dentro do campo da Zoologia e da Entomologia (e.g. SANTOS & LIMA FILHO, 2012; SHIMANO et al., 2013), estudos cienciométricos são comuns em outras áreas do conhecimento científico. Em verdade, o avanço do conhecimento produzido pelos pesquisadores tem de ser transformado em informação acessível para a comunidade científica. Dentro desse cenário, os indicadores bibliométricos e cienciométricos se tornaram essenciais (MACIAS-CHAPULA, 1998). O Estado do Rio de Janeiro abriga considerável quantidade de instituições que realizam pesquisas científicas sobre insetos, com a constante formação de estudantes de graduação e pósgraduação. Em 2011, as professoras doutoras Marcela Laura Monné e Cátia Antunes de Mello Patiu (do Museu Nacional, UFRJ) tiveram a ideia de convidar pesquisadores de outras instituições cariocas com pesquisas no campo da Entomologia para, juntos, organizarem um evento científico. Nascia assim o I Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro, cuja sigla é EntomoRio. O I EntomoRio, realizado no próprio Museu Nacional, congregou professores, pesquisadores e estudantes de diferentes áreas do estudo dos insetos, para a divulgação de pesquisas e troca de experiências, promovendo a integração das instituições fluminenses. Mantendo tal filosofia, novas edições do Simpósio foram realizadas em 2013 e 2015, respectivamente na FIOCRUZ e na UNIRIO. Hoje, podese dizer que o EntomoRio é um evento já consagrado no calendário científico fluminense e, mais até, uma alternativa a congressos de âmbito nacional, como o Congresso Brasileiro de Zoologia e o Congresso Brasileiro de Entomologia. Em seus seis anos de existência, o EntomoRio pode ser um ótimo indicador geral do estágio atual, das tendências e das perspectivas da Entomologia no Estado do Rio de Janeiro, bem como das vocações temáticas dentro das diferentes instituições.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo cienciométrico foi realizado a partir dos livros de resumos das três edições do EntomoRio, realizadas nos anos de 2011, 2013 e 2015. A classificação das ordens de Hexapoda 3

citadas seguiu RAFAEL et al. (2012). As abreviaturas das instituições são as seguintes: CONICET (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – Argentina); JBRJ (Jardim Botânico do Rio de Janeiro); FIOCRUZ (Fundação Instituto Oswaldo Cruz); IFES (Instituto Federal do Espírito Santo); IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro); INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia); UCB (Universidade Castelo Branco); UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro); UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia); UEZO (Universidade Estadual da Zona Oeste); UFBA (Universidade Federal da Bahia); UFC (Universidade Federal do Ceará); UFES (Universidade Federal do Espírito Santo); UFF (Universidade Federal Fluminense); UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora); UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso); UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto); UFPB (Universidade Federal da Paraíba); UFPel (Universidade Federal de Pelotas); UFPR (Universidade Federal do Paraná); UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro); UFSM (Universidade Federal de Santa Maria); UFU (Universidade Federal de Uberlândia); UFV (Universidade Federal de Viçosa); UnB (Universidade de Brasília); UNESP (Universidade Estadual Paulista); UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas); UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda); UNIGRANRIO (Universidade do Grande Rio); UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro); UCDB (Universidade Católica Dom Bosco); USP (Universidade de São Paulo).

AUTORES E INSTITUIÇÕES

Somando-se as três edições do EntomoRio, 447 pesquisadores participaram dos resumos de temas livres. Desse total, apenas 35 (7,83%) foram autores ou coautores de resumos nas três edições, enquanto que 48 (10,74%) participaram da autoria em duas edições. Do total, 364 (81,43%) participaram de trabalhos em apenas uma das edições. Dentre os que apresentaram trabalhos em duas edições do evento, dez (20,83%) participaram do EntomoRio I e do EntomoRio II, doze (25,00%) participaram do EntomoRio I e do EntomoRio III, e 26 (54,17%) participaram do EntomoRio II e do EntomoRio III. Ainda com relação aos que participaram como autor ou coautor em duas edições, destacada maioria (36, exatamente 3/4 do total) apresentou trabalho em eventos seguidos (EntomoRio I e II; EntomoRio II e III). Um total de 52 instituições esteve representado nos resumos apresentados no EntomoRio (Tabelas 1-2). Considerando-se apenas o primeiro autor de cada resumo, são 31 as instituições representadas, na grande maioria universidades públicas (Tabela 1). Com base na análise quantitativa dos três livros de resumos, a UFRJ é o carro-chefe da Entomologia fluminense, até mesmo porque inclui dois núcleos tradicionalmente produtivos (o Museu Nacional e o Instituto de Biologia), com 4

muitos laboratórios e até um departamento especificamente de Entomologia (no caso do Museu Nacional). Outras instituições que merecem destaque são a FIOCRUZ, também um tradicional celeiro de pesquisas entomológicas, e a UNIRIO, sede da mais recente edição do evento (2015). Ambas tiveram seus melhores desempenhos exatamente quando sediaram o EntomoRio. A UNIRIO apresentou um impressionante incremento quantitativo ao longo das edições. Tal dado é um indicador do acerto na estratégia de se fazer o rodízio de sedes do evento, visando o incremento da participação de pesquisadores e instituições. Tabela 1. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a instituição do primeiro autor. As instituições que sediaram as edições estão marcadas. INSTITUIÇÃO FIOCRUZ IFES IFRJ INPA UCB UCDB UERJ UESB UEZO UFBA UFC UFES UFJF UFMG UFMT UFPel UFPR UFRGS UFRJ UFRRJ UFSM UFU UNESP UNIABEU UNICAMP UNIFESP UniFOA UNIGRANRIO UNIRIO Universidad Oriente (Cuba) USP

ENTOMORIO I 12 0 0 0 3 1 2 2 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 41 1 0 0 0 0 0 1 0 1 2 0 1

ENTOMORIO II 18 0 1 0 4 0 4 1 0 3 1 3 0 0 0 2 1 1 33 1 1 1 1 0 3 2 0 0 7 0 2

ENTOMORIO III 8 2 0 1 2 0 0 0 1 0 0 2 1 1 0 0 0 3 41 4 0 0 0 1 2 1 2 0 12 1 1

Tem-se, percentualmente falando, pouca participação das outras universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro, o que pode indicar a necessidade de uma melhor divulgação do evento e até mesmo da inclusão de profissionais dessas instituições na organização. Certamente a participação de um professor da UEZO na comissão organizadora do III EntomoRio (2015) contribuiu para a vinda de participantes daquela instituição. Ainda com relação às instituições participantes, vê-se uma tendência de incremento da participação de pesquisadores de fora do Estado do Rio de Janeiro e até do exterior (Tabelas 3-4), em colaboração com instituições fluminenses ou até mesmo encabeçando 5

as pesquisas. Isso é um indício demonstrador que o EntomoRio se firma como uma excelente opção de evento não só em termos locais, mas no âmbito nacional. Com otimismo, pode-se prever uma participação cada vez mais efetiva de pesquisadores oriundos de outros países da América Latina, principalmente aqueles carentes em eventos locais de Entomologia e Zoologia. Tabela 2. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a instituição, considerando-se todos os autores. As instituições que sediaram as edições estão marcadas. INSTITUIÇÃO CONICET FIOCRUZ FIOCRUZ - BA IFES IFRJ INPA Instituto de Biologia do Exército Instituto de Criminalística Carlos Éboli JBRJ Ministério da Saúde CE Ministério da Saúde DF Núcleo Entomológico de Roraima Polícia Militar Ambiental do MS Secretaria de Saúde CE Secretaria de Saúde TO Sistema Elite de Ensino UCB UCDB UERJ UESB UEZO UFBA UFC UFES UFF UFJF UFMG UFMT UFOP UFPB UFPel UFPR UFRGS UFRJ UFRRJ UFSM UFU UFV UnB UNESP UNIABEU UNICAMP UNIFESP UniFOA UNIGRANRIO UNIRIO Universidad de Buenos Aires Universidad Oriente (Cuba) Universidade Metodista de São Paulo University of Agricultural Sciences University of Illinois USP

ENTOMORIO I 0 12 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0 5 1 3 2 0 0 0 0 1 0 0 3 0 0 0 2 0 43 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 3 0 0 0 0 0 3

ENTOMORIO II 0 22 1 0 1 0 1 4 0 0 0 0 0 1 0 0 4 0 3 1 0 4 1 3 0 0 1 1 1 0 4 2 2 44 2 1 1 0 0 1 0 3 2 0 0 8 1 0 1 1 1 4

ENTOMORIO III 1 13 0 2 0 1 0 1 1 1 1 1 0 0 0 1 2 0 0 0 3 0 0 2 0 2 1 1 0 1 0 1 3 53 5 0 0 2 1 1 1 2 1 4 0 15 1 1 0 0 0 1

6

Tabela 3. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a procedência do primeiro autor (Estado do Rio de Janeiro; outros estados do Brasil; exterior). INSTITUIÇÃO Do RJ De outros estados Do exterior

ENTOMORIO I 62 7 0

ENTOMORIO II 67 22 0

ENTOMORIO III 71 14 1

Tabela 4. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a procedência dos autores e coautores (Estado do Rio de Janeiro; outros estados do Brasil; exterior); n= total de resumos do evento. INSTITUIÇÃO Do RJ De outros estados Do exterior

ENTOMORIO I (n=69) 63 13 0

ENTOMORIO II (n=89) 69 27 2

ENTOMORIO III (n=86) 73 22 3

Face às exigências de produção e à cada vez maior complexidade das pesquisas, não é surpreendente a grande quantidade de coautorias nos trabalhos submetidos ao EntomoRio (Tabela 5). As três edições do evento tiveram número máximo de autores por resumo de dez, onze e oito, respectivamente. A média foi em torno de três autores por resumo nas três edições. Vale destacar que apenas nove resumos (em um total de 244, ou seja, 3,69%) foram de autoria única. Tabela 5. Quantitativo do número e média de autores por resumo (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio; n= total de resumos do evento. NÚMERO DE AUTORES / RESUMO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 MÉDIA

ENTOMORIO I (n=69) 2 20 18 7 4 4 0 2 1 1 0 3,23

ENTOMORIO II (n=89) 2 30 18 9 12 8 7 0 1 0 2 3,82

ENTOMORIO III (n=86) 5 33 19 11 11 2 2 3 0 0 0 3,22

Dentro desse cenário, era de se esperar uma quantidade significativa de parcerias entre autores de instituições diferentes. Porém, de modo surpreendente, a maior parte das parcerias observada nos resumos é dentro da mesma instituição. Porém, parece existir uma tendência ao incremento das colaborações interinstitucionais, posto que o percentual relativo vem aumentando a cada edição: 20,29% no EntomoRio I, 28,09% no EntomoRio II e 34,88% no EntomoRio III (Tabela 6). Vale ressaltar que as parcerias ocorridas entre diferentes setores de uma mesma instituição não foram consideradas “interinstitucionais”. Assim, por exemplo, resumos que contenham apenas profissionais do Instituto de Biologia e do Museu Nacional (ambos pertencentes à UFRJ) como autores, foram considerados de instituição única. 7

ORDENS

Analisando-se criticamente os grupos de Hexapoda tratados nos resumos de temas livres (Tabela 7), de certo modo pode-se dizer que três ordens merecem destaque: Coleoptera, especialmente as grandes famílias, como Cerambycidae; Hemiptera, especialmente Cicadellidae; e Diptera, com estudos tanto taxonômicos quanto em relação à sinantropia. Tais grupos são historicamente bem estudados no Estado do Rio de Janeiro. O estudo dos Coleoptera tem como patriarca o Prof. Miguel Angel Monné Barrios, o dos Cicadellidae o Prof. José Alfredo Pinheiro Dutra, e os diferentes estudos de Diptera representam as continuidades das pesquisas de grandes nomes da Entomologia brasileira, como o Prof. Hugo de Souza Lopes. Muitos pesquisadores hoje em dia dão continuidade e até mesmo diversificam esse legado. O estudo da ordem Coleoptera tem como núcleo inicial o Museu Nacional, mas hoje se desenvolve também, dentre outros locais, no Instituto de Biologia. O estudo dos Cicadellidae teve origem no Instituto de Biologia, sendo efetivo também no Museu Nacional, na FIOCRUZ e, mais recentemente, na UNIRIO. E os Diptera continuam sendo destaque nas pesquisas entomológicas do Museu Nacional (mais voltadas para a taxonomia) e da FIOCRUZ (no campo da Entomologia médico-veterinária), mais recentemente com núcleos bem produtivos na UNIRIO (sinantropia) e UEZO (ecologia). Tabela 6. Totalização e percentual de parcerias interinstitucionais versus resumos de instituição única nos resumos (temas livres) das diferentes edições do EntomoRio; n= total de resumos do evento.

Parceria entre instituições Instituição única

ENTOMORIO I (n=69) 14 (20,29%) 55 (79,71%)

ENTOMORIO II (n=89) 25 (28,09%) 64 (71,91%)

ENTOMORIO III (n=86) 30 (34,88%) 56 (65,12%)

Outras pesquisas também podem ser consideradas como típicas do Estado do Rio de Janeiro, abordando Collembola (no Museu Nacional) e insetos aquáticos, incluindo os grupos Odonata, Ephemeroptera, Plecoptera, Nepomorpha, Gerromorpha, Trichoptera, Chironomidae, Dytiscidae, Hydrophilidae e Elmidae (na UFRJ e na UNIRIO). O grande desenvolvimento de tais estudos é muito relacionado à atuação do Prof. Jorge Luiz Nessimian (Instituto de Biologia), que formou e forma gerações de pesquisadores na área.

TEMAS

Em que pese o incremento de estudos mais analíticos, com base nas pesquisas apresentadas no EntomoRio, fica clara a vocação do Estado do Rio de Janeiro a estudos preponderantemente taxonômicos (Tabela 8), o que explica a grande quantidade de novos táxons propostos. Já se pode 8

até dizer que é tradição do EntomoRio a revelação de gêneros e espécies novos. Somando-se as três edições do evento, foram apresentados trabalhos versando sobre quatro gêneros e 130 espécies novos (Tabela 9), número bastante significativo. Tabela 7. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a ordem dos insetos abordados; n= total de resumos do evento. As três ordens de maior destaque estão marcadas. ORDEM Collembola Ephemeroptera Odonata Plecoptera Orthoptera Phasmida Mantodea Blattodea Isoptera Hemiptera Psocoptera Phthiraptera Neuroptera Megaloptera Diptera Siphonaptera Coleoptera Trichoptera Lepidoptera Hymenoptera

ENTOMORIO I (n=69) 4 2 4 2 0 0 0 2 0 18 0 0 0 1 21 0 18 3 5 4

ENTOMORIO II (n=89) 1 2 3 2 1 0 0 1 0 21 0 0 0 0 36 0 14 3 2 1

ENTOMORIO III (n=86) 6 4 6 0 4 1 2 5 3 29 1 2 1 1 25 2 20 6 6 10

Outro destaque evidente são os inventários faunísticos, tão importantes no mapeamento da distribuição das espécies. Vale ressaltar que grupos de pesquisa notoriamente consolidados e produtivos, cujos estudos versam em Ecologia, Bioquímica, Biofísica e Entomologia agrícola, não estiveram tão efetivamente presentes no elenco de resumos analisado. Isso é mais um indício de que se deve tentar fazer uma divulgação mais eficiente do EntomoRio. Tabela 8. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo o tema principal da pesquisa; n= total de resumos do evento. Os dois temas de maior destaque estão marcados. TEMAS Biodiversidade (faunístico) Biogeografia Ciclo de vida e desenvolvimento Coleção Ecologia Entomologia agrícola Entomologia cultural / educação Entomologia forense Entomologia médico-veterinária Morfologia Sistemática / Filogenia / Molecular Taxonomia

ENTOMORIO I (n=69) 11 0 2 0 6 1 0 6 1 0 4 38

ENTOMORIO II (n=89) 22 2 4 1 4 0 1 8 10 1 4 28

ENTOMORIO III (n=86) 17 0 3 0 11 1 5 4 5 1 4 35

9

Tabela 9. Número de gêneros e espécies novos mencionados nos resumos (temas livres) das diferentes edições do EntomoRio; n= total de resumos do evento. TÁXONS NOVOS Gêneros Espécies

ENTOMORIO I (n=69) 2 36

ENTOMORIO II (n=89) 1 45

ENTOMORIO III (n=86) 1 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MACIAS-CHAPULA, C.A. 1998. O papel da informetria e da cienciometria e sua perspectiva nacional e internacional. Ciência da Informação 27(2): 134-140. RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; CARVALHO, C.J.B.; CASARI, S.A. & CONSTANTINO, R. (eds.). 2012. Insetos do Brasil: Diversidade e Taxonomia. Holos Editora, Ribeirão Preto. SANDES, A.R.R. & DI BLASI, G. 2000. Biodiversidade e diversidade química e genética. Biotecnologia, Ciência e Desenvolvimento 13: 28-32. SANTOS, T. & LIMA FILHO, G.F.L. 2012. Para que serve um marimbondo? Ensaio cienciométrico sobre a disciplina de Zoologia no curso de Ciências Biológicas. Revista Eletrônica de Educação da Faculdade Araguaia 2(2): 605-610. SHIMANO, Y.; SALLES, F.F. & JUEN, L. 2013. Study of the mayfly order Ephemeroptera (Insecta) in Brazil: a scienciometric review. Revista Brasileira de Entomologia 57(4): 359–364.

10

ARTIGOS ELABORADOS A PARTIR DE PALESTRAS

11

MACEDO, M.V. et al. 2016. Ensinar e aprender Ciências e Biologia com os insetos. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 12-23.

ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS E BIOLOGIA COM OS INSETOS Margarete Valverde de Macedo1,2 Vivian Flinte1 Milena de Sousa Nascimento1 Ricardo Ferreira Monteiro1 RESUMO O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, que utilizam apenas representações prontas, não permite ao aluno os importantes passos da vivência da realidade estudada e o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à formação de um cidadão crítico e participativo. Esse trabalho tem como objetivos apresentar e desenvolver sugestões de como utilizar os insetos no processo ensinoaprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica, de maneira a aproveitar melhor o potencial que esses organismos e estas disciplinas têm para a formação integral do indivíduo. Iniciamos justificando, em termos práticos e pedagógicos, o uso dos insetos como ferramentas de ensino na Educação Básica, chamando atenção para suas possibilidades e facilidades. Sugerimos e descrevemos conteúdos e estratégias que podem ser desenvolvidos a partir do trabalho com insetos, apresentando alternativas para diferentes perfis de infraestrutura escolar e explorando espaços dentro ou, principalmente, próximos da escola que permitam e estimulem observações, perguntas e debates. Consideramos também a importância da formação do professor, receptividade e apoio da escola para que os objetivos sejam alcançados.

Palavras-chave: aprendizagem; atividades; campo; Educação Básica; ferramenta de ensino; laboratório; sala de aula. ABSTRACT Teaching and learning Science and Biology with insects Teaching Science and Biology based solely on lectures, using only finished materials, does not allow students to experience themselves natural phenomena, important for developing skills and competencies necessary for critical thinking. In this work we suggest ways to use insects in teaching of Science and Biology in Basic Education, in order to better explore the potential of these organisms and school subjects for the formation of students. The benefits of using insects as educational tools in Basic Education are explained in practical and pedagogical terms, drawing attention to its possibilities and facilities. We suggest and describe contents and strategies that can be developed to work with insects, presenting alternatives for different school infrastructure profiles and exploring spaces within or close to the school that allow and encourage questions and debates. Teacher formation and school support are important to achieve good results.

Keywords: activities; Basic Education; classroom; field work; laboratory; learning; teaching tool.

___________________ 1 Laboratório de Ecologia de Insetos, Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Autor correspondente [email protected]. 12

INTRODUÇÃO

Apesar da estrutura ainda um tanto enrijecida da sala de aula, marcada pelo processo passivo de transmissão-recepção do conhecimento, a evolução de teorias e práticas educacionais tem aberto a possibilidade para novas formas de abordar conteúdos, de modo a estimular nos alunos o desenvolvimento de um conjunto de atitudes e habilidades, tais como: saber aprender, pesquisar, selecionar informações, identificar evidências, concluir e comunicar, explicar conclusões, entre outras (um detalhamento sobre as habilidades pode ser lido em CAZELLI & FRANCO, 2001). O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, ainda muito comum, prejudica o aluno, pois o deixa em um estado permanente de objeto (DEMO, 2002). Na sala de aula, a utilização de representações prontas e acabadas não permite ao aluno os importantes passos da vivência da realidade estudada, durante a qual irão ocorrer as impressões estéticas motivadoras da conduta e do aprendizado, e a elaboração de hipóteses (característica fundamental do pensamento científico) sobre o fenômeno observado (FONSECA & CALDEIRA, 2008). Como afirmou CALDEIRA (2005): “O ensino de Ciências não deve fundamentar-se na memorização de conteúdos distantes da realidade dos alunos, mas precisa permiti-lo a elaboração de sua própria interpretação. Mais do que ensinar ciências é preciso possibilitar o raciocinar sobre e através de fenômenos naturais. ” A maioria das crianças são aprendizes concretos, capazes de pensar de forma hipotética apenas quando lidam com exemplos concretos. O pensamento formal se desenvolve plenamente somente em algum momento entre os 14 anos e a idade adulta. Assim, teorias e conceitos científicos podem parecer altamente abstratos para a maioria dos alunos, mesmo no Ensino Médio e na faculdade. Por isso faz sentido, para um processo de ensino-aprendizagem de sucesso, que quanto mais oportunidades práticas e exemplos da vida real se puder fornecer na aula de Ciências, melhor (MATTHEWS et al., 1997). Nesse contexto, a adoção da pesquisa como pedagogia, como método didático, deveria ser uma tônica no ensino de Ciências. DEMO (2002), em seu livro “Educar pela pesquisa”, discutiu que pesquisa e educação não devem ser separados, pois a pesquisa não se basta em ser o princípio científico, ela precisa também ser princípio educativo. Assim, pesquisa é o meio e a educação, o fim. Para estimular a pesquisa no aluno, é fundamental que exista na escola e em sala de aula, ambiente positivo para se conseguir no aluno participação ativa, presença dinâmica, interação e comunicação fácil. Nesse contexto, muito mais do que a mera aula expositiva, mesmo acompanhada de textos, fotos, slides etc., o desenvolvimento do espírito científico requer que várias importantes habilidades sejam trabalhadas, como a observação, o planejamento, a organização, a associação, a integração, 13

que tornam possível a mobilização de conhecimentos para a solução de problemas, em outras palavras, construir competências. Segundo PERRENOUD (1999), competência é: “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. ” As aulas práticas em ambientes naturais, em laboratórios (quando existem na escola) ou na própria sala podem ser um ótimo recurso didático no processo de ensino-aprendizagem de Ciências e Biologia. Visitas a espaços não formais de educação (museus, exposições, feiras etc.) proporcionam também estímulos à curiosidade e ao interesse, facilitam o aprendizado e quebram a monotonia do ambiente tradicional da sala de aula. A utilização de trabalhos de campo não é uma estratégia de ensino muito comum no currículo da Educação Básica, talvez por exigir certa disposição e compromisso tanto do professor quanto do aluno, porém, possuem muitos aspectos positivos. As atividades em campo podem, por exemplo, representar um estímulo para os professores, que, com elas, têm possibilidade de inovação em seu trabalho. Por seu aspecto estético motivador, tais atividades proporcionam o envolvimento emocional dos alunos, levando-os à reflexão sobre valores, ao desenvolvimento de atitudes e habilidades. O contato direto com o ambiente proporciona a experiência do fenômeno natural íntegro, ou seja, como ocorre na realidade, reduzindo a fragmentação do conhecimento (SENICIATO, 2006). Iremos, neste artigo, desenvolver sugestões de como, dentro do contexto apresentado até aqui, utilizar os insetos como facilitador do ensino e da aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica, ou seja, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

POR QUE USAR INSETOS PARA FACILITAR A APRENDIZAGEM

No ensino de Ciências e Biologia, os insetos talvez sejam o grupo animal que melhor permita ao professor oferecer aos alunos oportunidades para a construção de conceitos concretos, desenvolvimento do pensamento científico e exemplos de vida real (MACEDO et al., 2001). Hoje, o consenso geral entre os educadores de Ciências é que atividades exploratórias como um elemento de questionamento têm mais sucesso em cativar o interesse, estimular o pensar, promover a aprendizagem pela pesquisa e desenvolver o pensamento científico. Nesse sentido, os insetos como ferramenta de ensino se sobressaem (MATTHEWS et al., 1987). Há muitos motivos para usar os insetos em sala de aula. Primeiramente, sua enorme riqueza de espécies, diversidade de adaptações e sucesso evolutivo. São muito abundantes, podendo ser encontrados em praticamente qualquer lugar e em todas as épocas do ano em nossa região. Possuem, em geral, tamanho reduzido e ciclo de vida curto, e passam por grandes mudanças físicas 14

durante o desenvolvimento, sendo assim excelentes modelos para utilização em demonstrações e experimentações com objetivos didáticos, sendo fáceis de manter, manusear e criar em laboratório. Por fim, o entendimento dos insetos pode se constituir na base para uma compreensão mais ampla da natureza e de seus processos.

O QUÊ APRENDER COM OS INSETOS

Os insetos podem ser usados como modelos para estudos de diversos conteúdos de Ciências e Biologia, muitas vezes relacionados. A seguir exemplificamos alguns destes conteúdos, mas, certamente, a lista é ainda maior do que esta apresentada. Aspectos da biologia (ciclo de vida, metamorfose) e do comportamento animal podem ser abordados com a criação de alguns insetos. Mostrá-los no ambiente, através de uma pequena saída de campo ou visita ao jardim da escola também é recomendável. Esse tipo de observação traz o importante elemento da realidade. Em atividades ao ar livre facilmente encontram-se insetos em diferentes estágios de desenvolvimento que podem ser trazidos para a sala ou para o laboratório e criados para observação do ciclo de vida. Pode-se observar o que o inseto está fazendo (repousando, alimentando-se, acasalando, colocando ovos, cuidando da prole etc.), e algumas de suas características, como tamanho, forma, cor, defesas. A ecologia talvez seja o melhor campo para desenvolver conceitos relacionados aos insetos, através de práticas realizadas em sala, no laboratório e no campo. Pelo seu grande número, eles participam de virtualmente todas as cadeias e teias alimentares, além de estarem envolvidos nos diversos tipos de interações ecológicas, como parasitismo/parasitoidismo/predação (+ -), competição (- -) e mutualismo (+ +). São animais que ocorrem em todos os continentes e em praticamente todos os ambientes, desde terrestre a aquático, possuindo adaptações específicas para cada um, além de apresentarem comportamentos muito variados. Esses temas também remetem à importância dos insetos para o funcionamento dos ecossistemas e da necessidade de sua preservação e da conservação das áreas naturais. O entendimento das características dos insetos que levaram ao enorme sucesso do grupo também é uma discussão interessante neste contexto e que auxilia no entendimento da evolução não apenas dos insetos, mas também de outros grupos animais. Em zoologia ao estudar os grupos animais, sua morfologia e suas relações filogenéticas em mais detalhes, os insetos destacam-se pelo extraordinário número de espécies, formas e hábitos diferentes. As diversas ordens de insetos com características morfológicas bem evidentes e facilmente reconhecidas se apresentam como material bastante didático e prático no conhecimento/aprendizado sobre classificações zoológicas de animais nas diversas categorias taxonômicas. Vários mecanismos 15

bioquímicos e fisiológicos básicos existentes nesses animais (que surgiram há mais de 400 milhões de anos) são compartilhados com a espécie humana, embora outros tantos tenham sofrido modificações ao longo de sua evolução. Assim, fica fácil entender porque estudos de fisiologia realizados com insetos tiveram tanto impacto no entendimento dos mecanismos fundamentais que governam o funcionamento dos seres vivos em geral. Como algumas espécies de insetos transmitem e causam várias doenças, o professor pode explorá-las, discutindo suas consequências, mas também suas causas tanto no contexto de programa de saúde, quanto no de ecologia. Um exemplo é o conhecido mosquito da dengue, para o qual o próprio homem cria condições para reprodução. A criação de alguns mosquitos (facilmente coletados pelo professor e pelos alunos) em sala ou no laboratório da escola pode ajudar no entendimento do ciclo de vida e formação de conceitos concretos. Os insetos foram e ainda são muito usados como material para estudar genética (por exemplo, modelos de herança, cromossomos ligados ao sexo), biologia do desenvolvimento embrionário, mecanismos de ação de hormônios esteróides, aspectos da biologia celular, entre outros. A criação e experimentos com Drosophila melanogaster Meigen, 1830 (Diptera: Drosophilidae), a mosca-das-frutas, podem ser facilmente realizados em sala ou no laboratório para trabalhar alguns desses conceitos, inclusive alguns relacionados à evolução. Os insetos também podem ser muito úteis em Educação Ambiental, em parte por seu potencial interdisciplinar, mas também por permitir discussões sobre as mudanças ambientais atuais. Além disso, os insetos são responsáveis por alguns serviços ecossistêmicos essenciais para a nossa sobrevivência, como a polinização e a ciclagem de nutrientes, sendo, portanto, ótimos exemplos para serem trabalhados dentro da temática da Educação Ambiental. Alguns jogos e atividades lúdicas usando os insetos podem ser muito úteis para trabalhar conceitos relacionados à conservação. Algumas espécies de insetos são importantes pragas na agricultura, enquanto que outras atuam justamente fazendo o controle biológico dessas pragas, ou seja, mantendo essas populações de pragas em densidades baixas, causando danos bem reduzidos. Ao falar sobre o controle de pragas, podem ser levantados alguns pontos interessantes de discussão, como quais características das formas de cultivo atuais propiciam o aparecimento de pragas, e o papel das interações (herbivoria, parasitoidismo) na regulação de populações das pragas, sejam elas plantas ou insetos.

COMO UTILIZAR OS INSETOS

A forma como os insetos serão utilizados no ensino de Ciências e Biologia depende muito do assunto a ser tratado e do objetivo que se quer alcançar. A versatilidade do grupo permite que sejam realizadas atividades de diferentes níveis de complexidade e em diferentes espaços, oferecendo, assim, as mais diversas experiências de aprendizado aos alunos. Abaixo são descritos e 16

desenvolvidos alguns procedimentos gerais que podem ser usados para trabalhar temas de estudo em Ciências e Biologia e cujo ajuste do nível de aprofundamento pode tornar a atividade aplicável para turmas desde a educação infantil até o Ensino Médio.

Em campo

Não há dúvidas de que um trabalho de campo em uma unidade de conservação (Figura 1A) é a opção ideal, pela diversidade de animais, hábitos, comportamentos e interações que podem ser encontrados. Portanto, se esta alternativa é possível, ela deve ser a escolhida! Entretanto, sabemos que para isso são necessários diversos tipos de recursos e disponibilidade de tempo, entre outros. O interessante quando trabalhamos com insetos é que essas limitações não impedem que uma prática ao ar livre seja realizada, uma vez que os insetos podem ser encontrados em qualquer lugar. Em uma breve ida ao jardim da escola ou à praça mais próxima podem ser observadas formigas carregando folhas para o formigueiro, borboletas alimentando-se em flores, lagartas alimentando-se de folhas ou mesmo besouros escondidos em sua planta hospedeira, oportunizando momentos ricos para observação direta relacionada a diversos conteúdos de Ciências e Biologia. Interações, como herbivoria/parasitismo e mutualismo (ex.: polinização), e tipos de defesa, como camuflagem e coloração de advertência, entre outros fenômenos, são frequentemente observados, mesmo em pequenas áreas com vegetação. Nesse tipo de atividade, a curiosidade, a observação atenta e a investigação são a chave do sucesso, mas procure levar também alguns materiais simples, como lupa portátil, papel e lápis. Os alunos podem ser solicitados a anotar tudo o que observarem, como as partes do corpo, o tamanho e a cor do inseto, a planta hospedeira, hábitos e comportamentos, entre outros aspectos, dependendo do objetivo do trabalho de campo. Um celular ou máquina fotográfica, mesmo de um modelo simples, ajuda a fazer o registro das observações, inclusive para compartilhamento entre os colegas e desenvolvimento posterior, enriquecendo o conhecimento de todo grupo. Por outro lado, se o objetivo da atividade em campo é coletar insetos para criação em laboratório, outros materiais serão necessários. Grande parte dos insetos, como lagartas, besouros, percevejos, cigarras, pode ser coletada de forma simples, manualmente, utilizando-se apenas sacos ou potes plásticos transparentes para o transporte. Outros grupos de insetos exigem métodos de coleta mais elaborados, como o uso de armadilhas e rede entomológica (Figura 1B). A coleta de insetos vivos para criação exige também a preocupação com a coleta de seu alimento. Se o inseto se alimenta de folhas, estas devem ser coletadas especificamente da planta onde o inseto foi encontrado, pois espécies de insetos alimentam-se, em geral, de um ou poucos tipos de plantas. No caso de insetos carnívoros, como louva-a-deus, por exemplo, outros insetos menores devem ser coletados 17

para sua alimentação. É importante também o registro de todas as informações de coleta, como local, data, nome do coletor, planta hospedeira, em uma etiqueta, para posterior registro na caixa entomológica, se esta for uma opção. Mais detalhes sobre métodos de coleta e montagem de insetos podem ser encontrados em ALMEIDA et al. (1998). Alternativamente, se possível, os insetos criados podem ser liberados de volta no local onde foram coletados e esta atividade pode também suscitar a discussão de diversos aspectos relativos à preservação e conservação, além de princípios e valores relativos ao respeito à vida e à natureza. Um ponto importante é a necessidade de obtenção de licença para realização de atividades como as acima descritas em unidades de conservação. Procure acessar a página do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para obter orientações de como fazer essa solicitação. Este instituto criou um sistema, SISBIO (Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade) que agiliza a concessão dessa licença e realiza o controle de todas as atividades de pesquisa e didáticas em unidades de conservação.

A

B

Figura 1. Saída de campo para observação de insetos (A) e coleta de insetos com rede entomológica (B).

Em laboratório

A criação de insetos em laboratório pode ser uma atividade bastante enriquecedora para o ensino de Ciências e Biologia. Por possuírem curto tempo de vida, em poucas semanas pode ser observado todo o ciclo de vida de um inseto, seus hábitos alimentares e diversos comportamentos. Pode ser criada uma rotina de cuidados dos insetos, com uma escala entre os alunos, todos se responsabilizando pelos insetos, trabalhando, além dos conceitos de biologia, senso de responsabilidade, disciplina e trabalho em equipe. Sugere-se um caderno único onde todos façam as anotações diárias referentes à criação. Insetos fitófagos (ou herbívoros), aqueles que se alimentam de tecido vegetal, são mais fáceis de serem criados, pois o seu alimento é mais fácil de ser mantido em laboratório. Os ramos da planta hospedeira devem ser mantidos em geladeira, dentro de sacos 18

plásticos transparentes, com um algodão umedecido na ponta dos galhos; assim as folhas permanecem frescas e adequadas para alimentação por mais tempo. É importante separar um canto na sala ou no laboratório para a criação dos insetos, pois essa é uma atividade que pode durar de duas a três semanas, dependendo do inseto coletado e do seu estágio de vida. Deve-se tentar minimizar a diferença entre as condições encontradas no campo e as da criação; para isso, sugerimos que os insetos sejam mantidos em potes plásticos com tampa (Figura 2A) ou em aquários de vidro (terrários), forrados com papel toalha ou papel higiênico. Para manter a umidade, é preciso borrifar algumas gotas de água no papel, mas sem encharcar, para evitar a proliferação de fungos. O local da criação deve ser arejado e sem incidência direta da luz do sol. A cada dois dias o recipiente de criação deve ser limpo, o papel trocado e o alimento renovado. Outra atividade interessante que também pode ser realizada é a preparação de uma pequena coleção de insetos em um meio líquido (álcool etílico a 80%) ou a montagem de uma caixa entomológica, que pode ser feita usando os insetos após a criação ou mesmo com insetos encontrados mortos. A coleção em uma caixa entomológica deve ser feita com insetos montados em alfinetes entomológicos e posteriormente secos. Para detalhes sobre a montagem de insetos, ver ALMEIDA et al. (1998). A escolha dos insetos que serão depositados na coleção didática da escola depende do objetivo pedagógico dessa atividade. Por exemplo, se o objetivo é exemplificar o ciclo de vida e os diferentes estágios de vida de um inseto, a coleção deve conter ovos, larvas ou ninfas, pupas (no caso de holometábolos) e adultos. Mas, se o objetivo é demonstrar a grande diversidade dos insetos ou usar esses exemplares para fins de identificação taxonômica, é importante conter adultos pertencentes ao maior número possível de ordens, utilizando caixas de madeira com tampo de vidro ou acrílico, e contendo cânfora e sílica, para armazená-los de maneira adequada (Figura 2B). O uso e/ou a elaboração de uma chave dicotômica (facilmente encontrada na internet) para identificar as diferentes ordens de insetos coletados ou já depositados na caixa entomológica da escola são atividades que treinam a observação e auxiliam o aprendizado das características dos grupos.

A

B

Figura 2. Lagarta de uma espécie de borboleta criada em pote plástico com folhas de sua planta hospedeira (A) e caixa entomológica mostrando a diversidade de insetos adultos (B).

19

Em sala de aula

A realização de atividades práticas em sala de aula é de extrema importância para o aprendizado do aluno, uma vez que aumentam o envolvimento e a participação do aluno. Nesse contexto, o uso de jogos didáticos pode ser uma alternativa às metodologias tradicionais, contribuindo para a melhora no desempenho dos alunos (GOMES & FRIEDRICH, 2001). Diversos jogos podem ser elaborados com a temática sobre insetos, como palavras cruzadas, jogo da memória, dominó, jogo da velha, entre outros. O importante nesses jogos é sempre fazer a associação da imagem a algum conceito relacionado ao inseto, por exemplo, o jogo da memória pode associar uma imagem a informações sobre a ecologia do grupo. GRENHA & MACEDO (2005) desenvolveram Interação (Figura 3A), jogo de tabuleiro baseado nas interações dos insetos com outros organismos e com o ambiente, cujo objetivo é fornecer uma ferramenta que pode ser utilizada para apresentar, desenvolver e fixar conceitos como hábitos, formas de defesa, alimentação, interações, entre outros. Cada aluno participante é uma espécie de inseto e recebe uma carta explicativa com informações sobre a sua espécie. Durante o jogo, o aluno se depara com situações sobre as quais deve tomar decisões com base nas características da sua espécie para prosseguir. Outros exemplos de atividades práticas que podem ser realizadas em sala de aula são a confecção de esculturas (Figura 3B), fichas (Figura 3C), painéis e maquetes. Ao final do semestre, essas atividades podem ser organizadas em uma exposição sobre insetos (Figura 3D), apresentando os trabalhos dos alunos. Esse momento da exposição é importante como coroação do trabalho de todo um período letivo, além de estimular o trabalho em equipe, o planejamento e a execução de projetos. Se a escola tem um evento durante o qual os alunos fazem apresentação de seus trabalhos ao público, este é um momento muito adequado para a “exposição de insetos”. Se a escola ainda não tem este tipo de evento, pode ser muito interessante que esta ideia seja considerada no âmbito das Ciências e Biologia, pois este pode passar a ser um rico espaço no qual a escola abre suas portas para a comunidade, fortalecendo os laços e tornando-se ainda mais relevante em seu contexto social.

QUAIS INSETOS USAR

Os insetos que podem ser facilmente usados em sala de aula são: Lepidoptera (espécies de borboleta e mariposas comuns ou com importância econômica, como pragas de hortaliças), Hymenoptera (formigas que possam ser criadas em terrários; abelha de mel, Apis mellifera), Coleoptera (joaninhas e tenébrios são fáceis de serem coletados ou comprados, além daqueles besouros que frequentemente se alimentam de feijão e amendoim), Diptera (mosca da fruta, Drosophila melanogaster), Blattodea (baratas domésticas). Novamente chamamos atenção para o fato 20

de que a escolha de um ou outro inseto e sua forma de utilização vão depender dos objetivos da atividade e, obviamente, das condições que se têm na escola.

A

B

C

D

Figura 3. Alunos jogando Interação em sala de aula (A). Esculturas (B), fichas e modelos (C) são alguns dos materiais sobre insetos elaborados e apresentados em exposição aberta ao público no polo Petrópolis (D), como atividade final da disciplina Insetos na Educação Básica, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do CEDERJ.

DO QUE PRECISAMOS PARA COMEÇAR A USAR INSETOS EM SALA DE AULA

Infraestrutura nas escolas

É evidente que uma boa infraestrutura na escola facilita muito o trabalho nas Ciências e na Biologia, pois um laboratório grande e equipado, e condições que permitam saídas para trabalhos de campo podem abrir um leque de possibilidades de desenvolvimento de temas nestas disciplinas. Entretanto, há opções de baixo custo que podem cumprir as funções de estimular o estudo e desenvolver ou fixar conteúdos sobre diversos temas. Neste contexto, o laboratório pode ser substituído por uma reorganização do mobiliário da sala durante o trabalho, de forma a permitir que os alunos se organizem em grupos, e um pequeno espaço destinado ao armazenamento do material quando este não estiver sendo trabalhado. O trabalho de campo pode ser feito em espaços externos 21

à escola, como um jardim, uma praça ou um terreno abandonado, pois sabemos que vamos encontrar insetos em qualquer um destes espaços.

Formação

O professor precisa estar preparado para empregar os insetos, tanto no sentido de disposição, valorização e estímulo, quanto em relação ao domínio do conteúdo necessário para o planejamento, a prática e a execução das atividades. Para tanto o professor deve ter tido uma boa formação inicial, mas saber também que cursos de formação continuada e estudos independentes podem ajudar bastante no sucesso desta empreitada. Recursos instrucionais, como guias práticos, livros especializados, textos em sites de universidades, podem ajudar os professores a superar sua insegurança quanto ao uso dos insetos e orientá-los em suas atividades. Não há dúvida, no entanto, que mais material de apoio aos professores e aos alunos precisam ser desenvolvidos e difundidos em nosso país.

Disposição

Se a infraestutura não é limitante e sua deficiência pode ser superada de outras formas, e se a formação necessária para propor e desenvolver atividades usando insetos nas Ciências e na Biologia também pode ser melhorada usando recursos já disponíveis, resta a disposição em tornar real esta possibilidade. É claro que a receptividade e o apoio da escola podem ajudar bastante, particularmente nas atividades extraclasse, e este apoio deve ser buscado em todas as iniciativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se deve esquecer que os insetos e quaisquer organismos, mesmo sendo usados como modelos, são seres vivos e, como tais, alguns cuidados devem ser tomados. Mais ainda, deve-se aproveitar a oportunidade de trabalho com eles para que alguns valores e atitudes sejam desenvolvidos. Dentre estes podemos destacar o respeito à vida e à natureza, a partir da compreensão de que todo ser vivo faz parte de uma teia de relações importantes na natureza e que a quebra de um elo desta teia pode ter um efeito em cascata de consequências desastrosas também para o homem. É importante também que o professor tenha em mente que outros organismos podem e devem ser usados no estudo de Ciências e Biologia. É muito provável que a partir da discussão do uso dos insetos como ferramenta pedagógica o professor tenha ideias de como e quais outros organismos podem ser usados, até mais apropriadamente, dependendo da situação! 22

Finalmente, estamos certos de que os problemas que envolvem o processo ensinoaprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica são bem mais complexos de serem resolvidos do que a simples adoção de uma ou outra metodologia de ensino/aprendizagem. Entretanto, esperamos apenas contribuir para reduzir a distância entre o possível e o ideal no ensino destas disciplinas tão importantes ao desenvolvimento de um cidadão crítico e participativo em nossa sociedade.

Sugestões de leitura Almeida, L.M.; Ribeiro-Costa, C. & Marinoni, L. 1998. Manual de coleta, conservação, montagem e identificação de insetos. Holos, Ribeirão Preto. Borror, D.J. & DeLong, D.M. 1988. Estudo dos insetos. Edgard Blucher, São Paulo. Buzzi, Z.J. & Miyazaki, R.D. 1999. Entomologia didática. Editora da UFPR. Curitiba. Gullan P.J. & Cranston, P.S. 1996. The insects: an outline of entomology. Chapman & Hall, London. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L.M.; RIBEIRO-COSTA, C.S, & MARINONI, L. 1998. Manual de coleta, conservação, montagem e identificação de insetos. Editora Holos, Ribeirão Preto. CALDEIRA, A.M.A. 2005. Análise semiótica do processo de ensino e aprendizagem. Tese de Livre-docência. UNESP, Bauru. CAZELLI, S. & FRANCO, C. 2001. Alfabetismo científico: novos desafios no contexto da globalização. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências 3(1): 1-18. DEMO, P. 2002. Educar pela pesquisa. Autores Associados, Campinas. FONSECA G. & CALDEIRA, A.M.A. 2008. Uma reflexão sobre ensino aprendizagem de ecologia em aulas práticas e a construção de sociedades sustentáveis. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia 1(3): 70-92. GOMES, R.R. & FRIEDRICH, M.A. 2001. Contribuição dos jogos didáticos na aprendizagem de conteúdos de Ciências e Biologia. In: Anais do I Encontro Regional de Ensino de Biologia, Rio de Janeiro. GRENHA, V. & MACEDO, M.V. 2005. Jogo Interação: Aprendendo interações ecológicas a partir de um jogo sobre insetos. In: Anais do I Encontro Nacional de Ensino de Biologia. III Encontro Regional de Ensino de Biologia: RJ/ES. Sociedade Brasileira de Ensino de Biologia, Rio de Janeiro. MACEDO, M.V.; GRUZMAN, E. & FLINTE, V. 2001. O uso dos insetos na Educação Básica. In: Anais do I Encontro Regional de Ensino de Biologia, Rio de Janeiro. MATTHEWS, R.W.; FLAGE, L.R. & MATTHEWS, J.R. 1997. Insects as teaching tools in primary and secondary education. Annual Review of Entomology 42: 269-289. PERRENOUD, P. 1999. Construir as competências desde a escola. Artmed Editora, Porto Alegre. SENICIATO, T.A. 2006. Formação de valores estéticos em relação ao ambiente natural nas licenciaturas em Ciências Biológicas da UNESP. Tese de Doutorado. UNESP, Bauru.

23

DA-SILVA, E.R. & COELHO, L.B.N. 2016. Zoologia Cultural, com ênfase na presença de personagens inspirados em artrópodes na cultura pop. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 24-34.

ZOOLOGIA CULTURAL, COM ÊNFASE NA PRESENÇA DE PERSONAGENS INSPIRADOS EM ARTRÓPODES NA CULTURA POP Elidiomar Ribeiro Da-Silva1,3 Luci Boa Nova Coelho2 RESUMO O ser humano sempre foi fascinado pelas outras espécies animais. E tal admiração constitui a base da chamada Zoologia Cultural, setor da Ciência que estuda a presença de elementos zoológicos nas diferentes manifestações da cultura. Temas relacionando Zoologia e cultura vêm ganhando destaque recentemente e, nesse cenário, surgiu o projeto A Zoologia na composição de personagens fictícios, coordenado pelo Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural da UNIRIO. Até o presente foi estudado o uso de aracnídeos, insetos e crustáceos na inspiração a personagens de histórias em quadrinhos, sempre pensando em possíveis formas de aplicação em sala de aula ou em divulgação científica. Palavras-chave: cultura popular; divulgação científica; popularização da ciência. ABSTRACT ZOOLOGIA CULTURAL, WITH EMPHASIS ON CHARACTER INSPIRED PRESENCE IN ARTHROPODS IN POP CULTURE The human being has always been fascinated by other animal species. This admiration is the basis of so-called Cultural Zoology, a Science sector that studies the presence of animal elements in the different manifestations of culture. Issues relating Zoology and culture have gained prominence recently and, in this scenario, we created the project Zoology and the composition of fictional characters, coordinated by the Laboratory of Urban and Cultural Entomology of UNIRIO. To date we studied the use of arachnids, insects and crustaceans inspiring the characters of comics, always thinking of possible ways to use in the classroom or in popular science. Keywords: popular culture; popularization of science; scientific divulgation.

___________________ 1 Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 Autor correspondente: [email protected]. 24

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios de sua evolução, o Homo sapiens é fascinado pelas outras espécies animais. As pinturas rupestres (Figura 1) são testemunhas desse antigo interesse (ALVES, 2012), certamente ligado às necessidades básicas de sobrevivência. O tempo passou e o ser humano acabou, de certa forma, se excluindo do meio natural (DA-SILVA et al., 2015a). Mas, talvez como forma compensatória, a admiração pelos nossos “irmãos” do reino animal permaneceu e pode ser vista no dia-a-dia, mesmo daqueles cidadãos urbanos, cuja vida está muito afastada do mundo natural. Não por outro motivo, a ida aos jardins zoológicos e museus de história natural é sempre um programa concorrido e os canais por assinatura com animais - e natureza em geral - como temática central são abundantes e diversificados. De certo modo, tais canais de TV são substitutos modernos das coleções de bancas de jornal das décadas de 1970 e 1980, como Os Bichos, Mil Bichos (Editora Abril), Naturama (Editora CODEX), A Fauna (Editora Salvat) e tantas outras (Figura 2). A abundância de títulos sobre animais naquela época é mais um indicador do interesse pelo tema.

Figura 1. Animais pintados na Gruta de Lascaux, França, um dos sítios de arte rupestre mais famosos do mundo. (Fonte: Wikipédia.)

Diante de tal cenário, é esperada uma presença maciça de elementos zoológicos nas diferentes manifestações culturais, e o seu estudo constitui a chamada Zoologia Cultural. Embora nossa 25

relação com os animais seja antiga, seu estudo acadêmico é relativamente recente, de modo que conceitos e definições de termos, ou mesmo linhas centrais de investigação, são ainda pouco definidos. Em linhas gerais, quando o estudo é relacionado a manifestações folclóricas ou regionais, tem-se a Etnozoologia que, por definição, é o estudo dos conhecimentos, crenças, representações afetivas e comportamentos que intermediam as relações entre as populações humanas e as espécies animais dos ecossistemas que as incluem (PINTO, 2011). Evidentemente, quando o objeto de estudo são os insetos e outros artrópodes tradicionalmente abrigados dentro da designação “Entomologia”, os termos utilizados são Entomologia Cultural (HOGUE, 1980, 1987) e Etnoentomologia (PACHECO, 2001), respectivamente. Definições detalhadas de Etnozoologia e Etnoentomologia podem ser obtidas nos excelentes artigos de Costa Neto e colaboradores (COSTA NETO, 2002, 2005, 2005, 2006a, 2013; COSTA NETO & RESENDE, 2004; SILVA et al., 2015)

Figura 2. Enciclopédias sobre a temática do mundo animal, que tanto sucesso fizeram nas décadas de 1970 e 1980. (Fonte: Google Imagens.)

MÍDIAS DA CULTURA POP EM ESTUDOS ACADÊMICOS

Histórias em quadrinhos ou gibis (HQs) fazem parte da vida de todos nós. Independentemente da idade, o fascínio por esse meio de comunicação sobrevive por gerações. As HQs são muito mais do que histórias de fantasias criadas para entreter crianças. Podem possuir muitos detalhes, alusões e ideias sofisticadas, e essas abordagens podem e devem ser aproveitadas de diversas formas, inclusive nas salas de aula, como uma tentativa para despertar o interesse e prender a atenção dos alunos (RAMA & VERGUEIRO, 2004; DA-SILVA et al., 2014a,b,c,d). O mesmo raciocínio se aplica a filmes do cinema, programas, séries e desenhos animados da TV. 26

A despeito de ser um processo com liberdade criativa, a composição de um personagem das HQs (ou de qualquer outra mídia) muitas vezes recebe interessantes influências da vida real. Face à forte ligação dos animais com o ser humano, não é de se estranhar que eles venham servindo como inspiração para muitos personagens da ficção (DA-SILVA et al., 2015b). A incorporação de elementos da cultura pop às produções acadêmicas vem ganhando destaque recentemente (NEMÉSIO et al., 2013; DA-SILVA et al., 2014a, 2014b; CASTANHEIRA et al., 2015). Importante elemento cultural, as produções cinematográficas vêm sendo mais e mais utilizadas na escola, embora ainda existam poucos estudos sobre a sua aplicação no ambiente escolar. Os filmes possuem potencialidade pedagógica especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas, com possibilidades de utilização em todos os níveis e disciplinas (COELHO & DA-SILVA, 2015).

ARTRÓPODES NA CULTURA

Temas relacionando a Zoologia às manifestações culturais vêm ganhando destaque. COELHO (2000, 2004) estudou as referências a insetos nas letras e na arte das capas de discos de rock, respectivamente. ASHENDEN (2000-2001) fez um estudo entomológico da célebre obra literária Ada, de Vladimir Nabokov. CHERRY (2002, 2005) estudou a função dos insetos na mitologia e na magia, respectivamente. MARIÑO PÉREZ & MENDOZA ALMERALLA (2006) fizeram uma análise crítica da presença de insetos e outros artrópodes em filmes do cinema, de 1938 a 2002. COSTA NETO (2006b) pesquisou a utilização de insetos em manifestações populares no Nordeste brasileiro. MENDONÇA (2008) estudou as manifestações folclóricas que poderiam ser utilizadas para facilitar o aprendizado da Zoologia na escola. CHANTOURY-LACOMBE (2009) estudou a ligação entre insetos e técnicas de pinturas usadas na Europa renascentista. MONSERRAT (2009, 2011) abordou a presença de artrópodes nas pinturas dos artistas El Bosco e Salvador Dalí, respectivamente. CARVALHO (2010) investigou o significado simbólico de duas espécies de borboletas presentes em pinturas do século XV. MONSERRAT (2010) fez um estudo sobre tatuagens contendo referências a artrópodes. NEMÉSIO et al. (2013) abordaram a utilização dos diferentes grupos taxonômicos animais em selos postais. DA-SILVA et al. (2014a) estudaram as possíveis formas de utilização da HQ Os Sete Soldados da Vitória (DC Comics – Editora Panini) no ensino de Biologia. DA-SILVA et al. (2014b, c, d) inventariaram os personagens da Marvel Comics e da DC Comics inspirados em aracnídeos, insetos e crustáceos, respectivamente. CASTANHEIRA et al. (2015) analisaram a presença de artrópodes em filmes e séries de TV. Recentemente, número expressivo de espécies animais vêm sendo batizadas em homenagem a ícones da cultura pop, como artistas (DUMAS et al., 2013), atletas (SANTOS & NESSIMIAN, 2009) e personagens fictícios (RODRIGUES et al., 2012; STANLEY et al., 2013). 27

APLICAÇÃO DA ZOOLOGIA CULTURAL NA EDUCAÇÃO REGULAR

Conforme já mencionado, o ser humano sempre foi fascinado pelos animais de um modo geral e uma prova desse interesse é o sucesso que fazem os canais de TV que têm documentários em sua grade, particularmente sobre natureza e vida selvagem. É impossível hoje em dia não se impressionar, tanto com a qualidade dos vídeos quanto com as informações que eles passam. Isso é Zoologia na sua essência, uma parte da Ciência extremamente interessante e atrativa até para o público leigo. Porém, nas aulas regulares, o quadro costuma ser diferente. Tem-se um conteúdo técnico vasto (morfologia, fisiologia, taxonomia, filogenia) que deve ser ministrado, o que, muitas vezes, causa enfado e desinteresse por parte dos alunos (DA-SILVA et al., 2015b). Como um dos maiores desafios da educação é tornar palatável e atraente o conteúdo da matéria aos alunos, o uso de elementos da cultura pop em sala de aula traz uma atmosfera amigável e tem se mostrado uma ferramenta didática de grande utilidade. Didaticamente falando, HQs, livros, filmes, desenhos animados e séries de TV podem ser utilizados em todos os níveis e disciplinas acadêmicos. Em matérias ligadas à História Natural e à Ciência, seu uso é particularmente interessante, posto que estudos indicam que a assimilação do conhecimento científico é mais efetiva quando se usa elementos da vida cotidiana do aluno. Com base nas mídias, muitos conceitos biológicos podem ser trabalhados em aulas regulares. Com a devida adequação de nível de profundidade, há conteúdos passíveis de aplicação tanto no ensino superior quanto nos ensinos médio e fundamental. Os temas vão desde os mais específicos, ligados à Zoologia (caracterização morfológica) até conceitos biológicos gerais (alimentação, predação, competição, mutualismo, colonialismo, reprodução, ciclo de vida) e aplicados (controle biológico, conservação ambiental). Todos esses conceitos e temas podem ser utilizados para enriquecer as aulas, transmitir conteúdos e despertar o interesse dos alunos (COELHO & DA-SILVA, 2015). Mas isso, sempre, com os devidos cuidados e ajustes. Como obras ficcionais, os filmes não estão obrigatoriamente compromissados em abordar conteúdos de Ciências Naturais da forma que é considerada correta pela comunidade científica (CARVALHO & MARTINS, 2009). Há sempre que se realçar que a utilização acadêmico-didática de uma obra ficcional deve ser moderada com muita cautela e planejamento, posto que o technobabble - recurso narrativo que usa palavras familiares para fazer uma teoria surreal soar verossímil (REBLIN, 2012) – é comum em tal tipo de obra. E é aí que deve entrar o grau de discernimento do professor, ao ministrar os conhecimentos e conduzir adequadamente as atividades (COELHO & DA-SILVA, 2015a; DA-SILVA, 2015). Interessante exemplo prático da utilização de personagens da cultura pop (no caso, pertencentes ao universo dos super-heróis) em aulas de Ciências nos foi contado pela professora Márcia Denise Guedes, do Colégio Futuro VIP Pilares, situado na Zona Norte do município do Rio de 28

Janeiro. Profa. Márcia propôs duas atividades aos seus alunos do 7º ano do Ensino Fundamental. Na primeira, cada grupo de alunos deveria indicar um super-herói ou vilão da ficção que apresentasse alguma característica animal, analisando o personagem em comparação com os animais estudados na matéria. Na segunda atividade, cada grupo deveria criar um personagem contendo características dos animais estudados (Figura 3). Iniciativas como essa trazem dinamismo às aulas, com certeza influenciando beneficamente na motivação por parte dos alunos.

Figura 3. Tarefas propostas aos alunos das turmas de 7º ano, Ciências, do Colégio Futuro VIP Pilares, no 2º semestre de 2015. (Fotos: Márcia Denise Guedes.)

APLICAÇÃO DA ZOOLOGIA CULTURAL EM DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRESERVAÇÃO

Os conhecimentos tradicional e científico podem ser complementares. Ambos se constituem em ferramentas importantes para o manejo dos recursos naturais, fornecendo possibilidades para a conservação da biodiversidade (McGREGOR, 2008; PINTO, 2011). A cultura pop e suas diversas mídias, que representam um meio de comunicação em massa de grande penetração popular, podem ser aproveitadas na sala de aula, como uma forma de despertar o interesse e prender a atenção dos alunos (conforme já comentado). Dentro de tal visão, podem também ser aliadas inestimáveis às atividades de divulgação científica, especialmente entre os jovens, que constituem o público-alvo desse tipo de publicação (DA-SILVA & COELHO, 2015). Recentemente, DA-SILVA & COELHO (2015) publicaram um artigo científico versando sobre o uso da cultura pop como forma de popularizar os estudos sobre um grupo ecológico específico, os insetos habitantes de ambientes aquáticos. Em que pese a ocorrência de grupos taxonômicos extremamente populares, como os mosquitos (Diptera: Culicidae) e as libélulas (Odonata), quando se fala em “insetos aquáticos” a reação do público leigo – e até mesmo de alguns zoólogos não tão 29

familiarizados com a Entomologia – geralmente é de total desconhecimento. Alguns personagens de HQs são muito adequados a discussões filosóficas sobre conservação da fauna e dos recursos naturais de uma maneira geral. Um deles é o Homem Animal (DC Comics), um herói capaz de assimilar as habilidades de todos os animais, criado no início da década de 1960, mas sem chegar a fazer muito sucesso entre os leitores no início de sua carreira. Nas mãos do escritor inglês Grant Morrison, o personagem passou a ter uma forte mensagem de ativismo em defesa dos animais (RODRIGUES, 2010). Outro personagem com interessante viés conservacionista é o Monstro do Pântano (também da DC Comics). Criado na década de 1970, o personagem é intimamente ligado à natureza, representado como um ser monstruoso composto de matéria vegetal, mas também com interessantes componentes animais. Criatura capaz de antessentir toda e qualquer ameaça à natureza, tal capacidade faz do Monstro do Pântano um verdadeiro herói ecológico. Ambos os personagens são representativos de uma postura crítica com relação aos impactos ecológicos, questionando a relação que o homem estabelece com a natureza, em uma sociedade cada vez mais propensa ao desperdício (RODRIGUES, 2013).

Figura 5. Homem Animal e Monstro do Pântano. (Fonte: Google Imagens.)

PROJETO: ZOOLOGIA NA CULTURA POP

Diante de tudo que foi comentado até aqui, foi elaborado o projeto institucional A Zoologia na composição de personagens fictícios, coordenado pelo Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural e contando com a participação de outros setores da UNIRIO, além de pesquisadores da UFRJ, da FIOCRUZ e da Universidade de Copenhagen. O projeto tem como objetivo principal promover o inventário dos personagens dos universos de super-heróis que tenham sido inspirados, de alguma 30

forma, em grupos taxonômicos animais. As peculiaridades desses personagens que tenham correspondência com características reais dos táxons inspiradores são enfatizadas, sempre pensando em possíveis formas de aplicação em sala de aula ou em divulgação científica. De um modo geral, os personagens vêm sendo classificados de acordo com a editora de criação, o papel social (herói ou vilão), a classificação taxonômica do animal que o inspirou, a presença/ausência de características associadas ao animal e a década de criação. Até o presente foram publicados artigos científicos versando sobre aracnídeos (DA-SILVA et al., 2014b), insetos (DASILVA et al., 2014c) e crustáceos (DA-SILVA et al., 2014d) (Figs. 4-6). Em elaboração estão estudos sobre os Myriapoda, Merostomata e Tardigrada (fechando os estudos sobre o táxon Panarthropoda), além de felinos (Mammalia: Carnivora: Felidae) e macacos não-humanos (Mammalia: Primates).

Figura 5. Exemplos de personagens inspirados em aracnídeos: Aranha Negra (DC, à esquerda), Homem-Aranha (Marvel, à direita). Adaptados de DA-SILVA et al. (2014b).

Figura 6. Exemplos de personagens inspirados em insetos: Besouro Azul (DC, à esquerda), Vespa (Marvel, à direita). Adaptados de DA-SILVA et al. (2014c).

31

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo-se da máxima de que é preciso conhecer para preservar (FARIA & SOUZA, 2015), esforços no sentido de popularizar o conhecimento científico são sempre bem-vindos. As mídias da cultura pop, podem, assim, ser aliadas inestimáveis às atividades de divulgação científica, especialmente entre os jovens, que constituem o público-alvo desse tipo de obra (DA-SILVA & COELHO, 2015). HUNN (2014) foi mais além nessa abordagem, afirmando que, mais do que conhecer, é preciso “amar” para se preservar, e o uso de personagens queridos pelo público em campanhas poder ser extremamente positivo. A utilização de atividades lúdicas na educação ambiental serve para mostrar, de forma dinâmica e didática, o quão é importante cuidar da natureza em todos os aspectos (TORRES et al., 2014). A introdução da cultura pop na didática curricular traz para a sala de aula debates espontâneos, a partir de observações comparativas entre a ficção e a realidade, criando uma maior intimidade do aluno com o objeto de estudo. Essa iniciativa estimula a leitura, a pesquisa além dos livros didáticos, o senso crítico, a criatividade, os debates extracurriculares, a paixão por novas descobertas, a satisfação individual e a curiosidade para além dos muros da escola. Tais estímulos são benéficos, influenciando diretamente no desenvolvimento acadêmico, cultural e pessoal do aluno.

Figura 7. Exemplos de personagens inspirados em crustáceos: Bedovian (DC, à esquerda), Câncer (Marvel, à direita). Adaptados de DA-SILVA et al. (2014d).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, R.R.N. 2012. Relationships between fauna and people and the role of ethnozoology in animal conservation. Ethnobiology and Conservation 1(2): 1-69. ASHENDEN, L. 2000-2001. Ada's erotic Entomology. Nabokov Studies 6: 129-148. CARVALHO, A.L. 2010. Butterflies at the Mouth of Hell: traces of biology of two species of Nymphalidae (Lepidoptera) in

32

European paintings of the fifteenth century. Filosofia e História da Biologia 5(2): 177-193. CARVALHO, L.S.; MARTINS, A.F.P. 2009. Os quadrinhos nas aulas de Ciências Naturais: uma história que não está no gibi. Revista Educação em Questão 35(21): 120-145. CASTANHEIRA, P.S.; PRADO, A.W.; DA-SILVA, E.R. & BRAGA, R.B. 2015. Analyzing the 7th Art – Arthropods in movies and series. Vignettes of Research 3(1): 1-15. CHANTOURY-LACOMBE, F. 2009. L’insectariumde l’histoire de l’art ou le pouvoir de fascination de la peinture (Hommage à Daniel Arasse). Canadian Art Review 34(2): 20-27. CHERRY, R. 2002. The functions of insects in mythology. American Entomologist 48(3): 134-136. CHERRY, R. 2005. Magical insects. American Entomologist 51(1): 11-13. COELHO, J.R. 2000. Insects in Rock & Roll music. American Entomologist 46(3): 186-200. COELHO, J.R. 2004. Insects in Rock and Roll cover art. American Entomologist 50(3): 142-151. COELHO, L.B.N.; DA-SILVA, E.R., 2015. Análise de “Minúsculos: o Filme” à luz da biologia animal. 13 pp. In: Cassab, M.; Andrade, G.T.B.; Oliveira, H.R. & Vilardi, L.G.A. (orgs.) - Anais do Encontro Regional de Ensino de Biologia – Regional 4. Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Educação, 28 a 30 de abril de 2015 Juiz de Fora, MG. Disponível em: http://www.sbenbio.org.br/blog/anais-do-encontro-regional-de-ensino-de-biologia-regional-4/ COSTA NETO, E.M. 2002. Entomofilatelia: os insetos na arte filatélica. Bioikos 16(1/2): 61-67. COSTA NETO, E.M., 2004. Estudos etnoentomológicos no estado da Bahia, Brasil: uma homenagem aos 50 anos do campo de pesquisa. Biotemas 17 (1): 117–149. COSTA NETO, E.M. 2005. O uso da imagem de insetos em cartões telefônicos: considerações sobre uma pequena coleção. Boletín Sociedad Entomológica Aragonesa 1(36): 317–325. COSTA NETO, E.M., 2006a. “Piolho-de-cobra” (Arthropoda: Chilopoda: Geophilomorpha) na concepção dos moradores de Pedra Branca, Santa Terezinha, Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences 28(2): 143-148. COSTA NETO, E.M. 2006b. “Cricket singing means rain”: semiotic meaning of insects in the district of Pedra Branca, Bahia State, northeastern Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências 78(1): 59-68. COSTA-NETO, E.M. 2013. 1º Simpósio Brasileiro de Entomologia Cultural. Anais. Programa oficial. Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana. COSTA NETO E.M.; RESENDE, J.J. 2004. A percepção de animais como “insetos” e sua utilização como recursos medicinais na cidade de Feira de Santana, Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences 26(2): 143-149. DA-SILVA, E.R. 2015. Quem tem medo de aranhas? Análise da HQ Aracnofobia à luz da Zoologia. Revista Urutágua 32: 10-24. DA-SILVA, E.R.; COELHO, L.B.N. 2015. Os personagens de HQs como estratégia para popularizar a Entomologia aquática. Revista Científica Semana Acadêmica. Fortaleza, ano MMXV, Nº. 000073, 05/10/2015. Disponível em: http://semanaacademica.org.br/artigo/os-personagensde-hqs-como-estrategia-para-popularizar-entomologia-aquatica. DA-SILVA, E.R.; COELHO, L.B.N.; RIBEIRO SILVA, T.B.N. 2014a. A Zoologia de “Sete Soldados da Vitória”: análise dos animais presentes na obra e sua possível utilização para fins didáticos. Enciclopédia Biosfera 10(18): 3502-3525. DA-SILVA, E.R.; FONSECA, L.N.; DE CAMPOS, T.R.M. & COELHO, L.B.N. 2015a. Qual é a importância dos animais na composição dos personagens da cultura pop? Reflexões a partir da preferência dos alunos da disciplina Zoologia de Artrópodos. 8 pp. In: Cassab, M.; Andrade, G.T.B.; Oliveira, H.R. & Vilardi, L.G.A. (orgs.) - Anais do Encontro Regional de Ensino de Biologia – Regional 4. Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Educação, 28 a 30 de abril de 2015, Juiz de Fora, MG. Disponível em: http://www.sbenbio.org.br/blog/anais-do-encontro-regional-de-ensino-debiologia-regional-4/ DA-SILVA, E.R.; FONSECA, L.N.; DE CAMPOS, T.R.M.; SILVEIRA, T.C.; BAFFA, A.F. & COELHO, L.B.N. 2015. Personagens da cultura pop inspirados em artrópodos e sua utilização nas aulas de Zoologia. 10 pp. In: Cassab, M.; Andrade, G.T.B.; Oliveira, H.R. & Vilardi, L.G.A. (orgs.) - Anais do Encontro Regional de Ensino de Biologia – Regional 4. Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Educação, 28 a 30 de abril de 2015. Juiz de Fora, MG. Disponível em: http://www.sbenbio.org.br/blog/anais-do-encontro-regional-de-ensino-de-biologia-regional-4/ DA-SILVA, E.R; COELHO, L.B.N.; CAMPOS, T.R.M.; CARELLI, A.; MIRANDA, G.S.; SANTOS, E.L.S.; RIBEIRO-SILVA, T.B.N.; PASSOS, M.I.S. 2014b. Marvel and DC characters inspired by arachnids. The Comics Grid: Journal of Comics Scholarship 4(1): 1-14. DA-SILVA, E.R; COELHO, L.B.N.; CAMPOS, T.R.M.; MIRANDA, G.S.; BAFFA, A.F.; SILVEIRA, T.C. 2014d. Marvel and DC characters inspired by crustaceans. Acme International Journal of Multidisciplinary Research 2(2): 1-12. DA-SILVA, E.R; COELHO, L.B.N.; SANTOS, E.L.S.; CAMPOS, T.R.M.; MIRANDA, G.S.; ARAÚJO, T.C.; CARELLI, A. 2014c. Marvel and DC characters inspired by insects. Research Expo International Multidisciplinary Research Journal 4(3): 10-36. DUMAS, L.L.; CALOR, A.R.; NESSIMIAN, J.L. 2013. The genus Alterosa Blahnik 2005 (Trichoptera, Philopotamidae, Philopotaminae) in northeastern Brazil, including the description of three new species and an identification key for the genus. ZooKeys 317: 1-15. FARIA, M.B. & SOUZA, G.C. 2015. Popularização da ciência através do Museu de Zoologia Newton Baião de Azevedo: conservação da fauna. Revista Científica Semana Acadêmica 67: 1-17. Disponível em HOGUE, C.L. 1980. Commentaries in Cultural Entomology. 1. Definition of Cultural Entomology. Entomological News 91(2): 33-36.

33

HOGUE, C.L. 1987. Cultural Entomology. Annual Review of Entomology 32: 181-199. HUNN, E. 2014. To know them is to love them. Ethnobiology Letters 5: 146-150. MARIÑO PÉREZ, R.; MENDOZA ALMERALLA, C. 2006. Los insectos en el cine. Un estudio preliminar. Boletín de la Sociedad Entomológica Aragonesa 38: 415−421. McGREGOR, D. 2008. Linking traditional ecological knowledge and western science: aboriginal perspectives from the 2000 State of the Lakes Ecosystem Conference. The Canadian Journal of Native Studies 28(1): 139-158. MENDONÇA, V.L. 2008. O folclore como ferramenta de motivação para o ensino de Zoologia na escola – proposta de um livro paradidático. Dissertação (Mestado), Instituto de Biociências, USP. MONSERRAT, V.J. 2009. Los artrópodos en la obra de Hieronymus Van Aken (El Bosco). Boletín de la Sociedad Entomológica Aragonesa 45: 589-615. MONSERRAT, V.J. 2010. Sobre los artrópodos en el tatuaje. Boletín de la Sociedad Entomológica Aragonesa 47: 477‒ 497. MONSERRAT, V.J. 2011. Los artrópodos en la obra de Salvador Dalí. Boletín de la Sociedad Entomológica Aragonesa 49: 413‒434. NEMÉSIO, A.; SEIXAS, D.P.; VASCONCELOS, H.L. 2013. The public perception of animal diversity: what do postage stamps tell us? Frontiers in Ecology and the Environment 11: 9–10. PACHECO, J.M. 2001. Etnoentomologia: o que é inseto? Informativo da Sociedade Entomológica do Brasil 26(2): 1, 5. PINTO, L.C.L. 2011. Etnozoologia e conservação da biodiversidade em comunidades rurais da Serra do Ouro Branco, Minas Gerais. Dissertação, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto. Rama, A. & Vergueiro, W. 2004. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. Contexto, São Paulo. REBLIN, I.A. 2012. A superaventura: da narratividade e sua expressividade à sua potencialidade teológica. Tese de Doutorado, Escola Superior de Teologia. RODRIGUES, L.G., GONÇALVES, A.C.; MEJDALANI, G. 2012. A remarkable new species of Euragallia from Peru (Insecta, Hemiptera, Cicadellidae, Agalliini), including the description of a peculiar structure of the male genitalia. ZooKeys 178: 51–58. RODRIGUES, M.S. 2010. Ativismo em defesa dos animais nas histórias em quadinhos da década de 1980: análise do caso “Homem Animal”. Veredas da História 3(2): 1-38. RODRIGUES, M.S. 2013. Sociedade de consumo, ecologia e histórias em quadrinhos: análise de América, de Robert Crumb, e o Monstro do Pântano, de Alan Moore. 2as. Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, Universidade de São Paulo, São Paulo. SANTOS, A.P.M.; NESSIMIAN, J.L. 2009. New species and records of Neotrichia (Trichoptera: Hydroptilidae) from Central Amazonia, Brazil. Zoologia 26(4): 758-768. STANLEY, W.T.; ROBBINS, L.W.; MALEKANI, J.M.; MBALITINI, S.G.; MIGURIMU, D.A.; MUKINZI, J.C., HULSELMANS, J.; PRE ´VOT, V.; VERHEYEN, E., HUTTERER, R.; DOTY, J.B.; MONROE, B.P.; NAKAZAWA, Y. J.; BRADEN, Z.; CARROLL, D.; PETERHANS, J.C.K.; BATES, J.M.; ESSELSTYN, J.A. 2013. A new hero emerges: another exceptional mammalian spine and its potential adaptive significance. Biological Letters 9: 1-5. SILVA, F.P.M.; COSTA NETO, E.M.; CARQUEIJA, C.R.G. 2015. A Etnotaxonomia de crustáceos estomatópodes e decápodes segundo pescadores artesanais do litoral norte da Bahia, Brasil. Revista Ouricuri 5(1): 1-29. TORRES, R.; RODRIGUES, R.G.; BARRETO, R.M.F. 2014. Etnozoologia como ferramenta na educação ambiental - os saberes populares como informação valiosa para a conservação: vivências na Floresta Nacional de Negreiros, SerritaPE. Extramuros 3(1): 191-200.

34

ARTIGOS DE TEMAS LIVRES

35

CUPELLO, M. & VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2016. Sinopse das espécies de Eurysternus Dalman, 1824 (Coleoptera, Scarabaeidae, Scarabaeinae, Oniticellini) do Parque Nacional do Itatiaia, Sudeste do Brasil. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 36-55.

SINOPSE DAS ESPÉCIES DE Eurysternus DALMAN, 1824 (COLEOPTERA, SCARABAEIDAE, SCARABAEINAE, ONITICELLINI) DO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL Mario Cupello1 Fernando Z. Vaz-de-Mello2 RESUMO São apresentados os primeiros resultados de um projeto ainda em andamento que visa completar um levantamento e guia de identificação dos besouros rola-bosta do Parque Nacional do Itatiaia, uma das mais importantes áreas de conservação da Mata Atlântica. O gênero Eurysternus Dalman, 1824, o único membro sul-americano da tribo Oniticellini, está representado no parque por oito espécies: E. cyanescens Balthasar, 1939, E. deplanatus (Germar, 1824), E. francinae Génier, 2009, E. hirtellus Dalman, 1824, E. inflexus (Germar, 1824), E. parallelus Castelnau, 1840, E. nigrovirens Génier, 2009 e E. sulcifer Balthasar, 1939. Além de serem fornecidas diagnoses para o gênero e suas espécies, apresentamos também uma chave de identificação e uma breve discussão sobre o posicionamento filogenético, a história taxonômica e a história natural de Eurysternus. Palavras-chave: chave de identificação, diagnoses, Mata Atlântica, rola-bostas, Serra da Mantiqueira. ABSTRACT A REVIEW OF THE Eurysternus DALMAN, 1824 SPECIES (COLEOPTERA, SCARABAEIDAE, SCARABAEINAE, ONITICELLINI) PRESENT IN THE PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SOUTHEASTERN BRAZIL Here we present the first results of an ongoing project that aims to make an inventory and an identification guide of the dung beetles inhabiting the Parque Nacional do Itatiaia, one of the most important conservation areas in the Atlantic Forest. The genus Eurysternus Dalman, 1824, the only South American member of the tribe Oniticellini, is represented in the park by eight species: E. cyanescens Balthasar, 1939, E. deplanatus (Germar, 1824), E. francinae Génier, 2009, E. hirtellus Dalman, 1824, E. inflexus (Germar, 1824), E. nigrovirens Génier, 2009, E. parallelus Castelnau, 1840, and E. sulcifer Balthasar, 1939. We give diagnoses for the genus and its species, an identification key to the species and a brief discussion about the phylogenetic placement, the taxonomic history and the natural history of the Eurysternus. Keywords: Atlantic Forest, diagnoses, dung beetles, identification key, Serra da Mantiqueira. ___________________ 1 Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 2 Departamento de Biologia e Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. 3 Autor correspondente: [email protected]. 36

INTRODUÇÃO

Os besouros rola-bosta da subfamília Scarabaeinae formam hoje um dos grupos mais intensivamente estudados na entomologia. Isso é devido não somente à sua diversidade de mais de 260 gêneros e 6200 espécies distribuídos por todas as regiões zoogeográficas (TARASOV & GÉNIER, 2012), mas também por conta da incrível complexidade morfológica, ecológica e comportamental que possuem (e.g., veja SCHOLTZ et al., 2009). Por serem consumidores de matéria orgânica em decomposição, especialmente fezes, adultos e larvas desses besouros possuem papel fundamental na ciclagem de nutrientes em ambientes terrestres. Consequentemente, para que possamos ter um entendimento pleno da dinâmica ecológica de áreas tropicais continentais, é imprescindível que primeiro conheçamos a composição e as relações biológicas de suas comunidades de rola-bostas. A Mata Atlântica, um dos hotspots de biodiversidade mundial (MYERS et al., 2000; WILSON, 2002; LAURENCE, 2009), possui uma rica fauna de rola-bostas ainda largamente desconhecida. Algumas de suas espécies, como Coprophanaeus machadoi (Pereira & d’Andretta, 1955), Dichotomius schiffleri Vaz-de-Mello, Louzada & Gavino, 2011, D. alvarengai Maldaner, Nunes & Vazde-Mello et al., 2015, D. speciosus (Waterhouse, 1891) e D. opalescens (Felsche, 1910), foram classificadas recentemente como em risco de extinção (VAZ-DE-MELLO et al., 2001; CUPELLO & VAZ-DE-MELLO, 2014; MALDANER et al., 2015) e outras espécies ainda não estudadas sob essa perspectiva – sobretudo, aquelas ainda não descritas ou as muito raras e que não são coletadas há décadas em certos locais em que antes eram encontradas – deverão ser incluídas nessa lista. A principal causa que ameaça a sobrevivência dessas espécies é, sem dúvida, a intensa pressão exercida pelo contínuo desmatamento dos últimos remanescentes florestais. RIBEIRO et al. (2009), por exemplo, deixaram claro o atual cenário de fragmentação em que se encontra a Mata Atlântica, bioma que outrora se estendia continuamente por grande parte do litoral sul-americano, desde o nordeste e sudeste brasileiro até a Argentina, e regiões interiores do continente no Paraguai e Mato Grosso do Sul, mas que hoje está reduzido a cerca de 11 a 16% de sua cobertura original e que tem 80% de sua área distribuída em pequenos fragmentos de menos de 50 hectares. Há ainda outras causas mais sutis ameaçando as comunidades de Scarabaeinae da Mata Atlântica, como a defaunação seletiva de mamíferos de médio e grande porte, os quais, com suas fezes, fornecem o alimento primordial que a maioria dos rola-bostas depende para viver (CULOT et al., 2013). Nos últimos anos, as comunidades de Scarabaeinae da Mata Atlântica foram alvo de diversos estudos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, Pedro Giovâni da Silva e colaboradores vêm pesquisando intensivamente os rola-bostas em diversos pontos do estado (SILVA et al., 2011, 2012, 2013; SILVA & DI MARE, 2012). Em Santa Catarina, há os trabalhos de CAMPOS & HERNÁNDEZ (2013) e SILVA & HERNÁNDEZ (2015). Por sua vez, HERNÁNDEZ et al. (2011), HERNÁNDEZ & 37

VAZ-DE-MELLO (2009) e CULOT et al. (2013) focaram o Estado de São Paulo, enquanto SILVA et al. (2010) estudaram os rola-bostas de uma localidade em Pernambuco. Não obstante os esforços quanto à padronização de coletas, testes estatísticos e outras ferramentas que esses trabalhos tenham empregado, qualquer estudo que lide com a fauna de Scarabaeinae da região neotropical enfrenta um sério problema que dificilmente pode ser contornado com sucesso: o amplo caos taxonômico que muitos grupos hoje se encontram. Apesar do grande número de revisões que vêm sendo publicadas nas últimas duas décadas [VAZ-DE-MELLO et al. (2011) resumiram aquelas disponíveis até então], há ainda claras lacunas no atual conhecimento da sistemática dos Scarabaeinae. Naturalmente, essas brechas trazem grandes perdas. Em muitos trabalhos de cunho faunístico ou de ecologia, não é possível identificar com segurança a maioria dos exemplares coletados, sendo os autores obrigados a separá-los muito imprecisamente em grupos de indivíduos com morfologia semelhante (as “morfoespécies”). Não tendo como nomeá-los, a comparação entre trabalhos de diferentes autores fica inviabilizada e praticamente toda a informação é perdida. Portanto, há grande urgência por trabalhos de taxonomia com os rola-bostas. Até onde sabemos, o único trabalho publicado até agora que se dedicou a inventariar os rola-bostas de uma região de Mata Atlântica e oferecer uma chave de identificação para as espécies encontradas foi o de SILVA et al. (2011), que apresentou um guia de identificação para os Scarabaeinae do município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Uma das áreas de Mata Atlântica há muito estudada é o Parque Nacional do Itatiaia (PNI), unidade de conservação mais antiga do país e que está localizada na divisa entre os estados do Rio de Janeiro (municípios de Itatiaia e Resende) e Minas Gerais (Itamonte e Bocaina de Minas), na Serra da Mantiqueira. Abrangendo áreas com elevação entre 600 e 2.792 metros, o parque reúne uma grande variedade florística e fisionômica nesse gradiente altitudinal: nas áreas mais baixas, predomina a floresta ombrófila densa, que gradualmente se converte na vegetação herbáceo-arbustiva característica dos campos de altitude do Planalto do Itatiaia. Levantamentos recentes da mastofauna do PNI – fauna com a qual os rola-bostas estão intimamente relacionados – mostraram a presença de 69 espécies de mamíferos não voadores no local (GEISE et al., 2004; AXIMOFF et al., 2015). Desses, é interessante ressaltar a presença de primatas como o bugio-ruivo [Alouatta fusca (Geoffroy SaintHilaire, 1812)], o muriqui-do-sul [Brachyteles arachnoides (E. Geoffroy, 1806)], o macaco-sauá [Callicebus nigrifrons (Spix, 1823)] e o macaco-prego [Sapajus nigritus (Goldfuss, 1809)], e ungulados como o caititu [Pecari tajacu (Linnaeus, 1758)] e o queixada [Tayassu pecari (Link, 1795)], todos prováveis fontes de fezes para o consumo dos rola-bostas. Em colaboração com a equipe do Laboratório de Coleoptera do Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 2010 nós temos desenvolvido um 38

levantamento e guia de identificação dos rola-bostas ocorrentes no PNI. Representando os primeiros resultados desse projeto, o presente trabalho trata do gênero Eurysternus Dalman, 1824, o único representante na América do Sul da tribo Oniticellini (GÉNIER, 2009). Com o intuito de auxiliar aqueles interessados em estudar a fauna de rola-bostas do parque, oferecemos uma chave de identificação e diagnoses para as espécies encontradas no local, além de um resumo das informações presentes na literatura sobre o gênero.

MATERIAL E MÉTODOS

Os resultados deste trabalho foram obtidos com base, sobretudo, no exame de espécimes depositados nas seguintes coleções (curadores entre parênteses): FIOC – Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil (Márcio Felix); MNRJ – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (Miguel A. Monné e Marcela L. Monné). Ainda que os exemplares coletados por J. F. Zikán e W. Zikán tenham indicado em suas etiquetas apenas a localidade “Itatiaia” e não uma referência direta ao PNI, é sabido que esses dois naturalistas coletaram durante anos na área do parque e, portanto, provavelmente foi lá que coletaram os Eurysternus examinados neste trabalho. A fim de acrescentar um maior número de exemplares e eventuais informações biológicas a este trabalho, o primeiro autor fez nove excursões ao PNI entre 2010 e 2015 e lá pôde instalar armadilhas pitfall iscadas com fezes humanas (variando até 10 o número de pitfalls por episódio de coleta) em locais próximos à Casa do Pesquisador, a cerca de 810 m de altitude. As diagnoses e a chave de identificação seguem a terminologia empregada por GÉNIER (2009), o responsável pela última revisão de Eurysternus; as informações sobre a variação do comprimento das espécies, em particular, foram tomadas integralmente de GÉNIER (2009). Quando não há dimorfismo sexual além daquele presente em todas as espécies de Eurysternus, foi dada apenas uma diagnose geral que se aplica a ambos os sexos, ao passo que, quando há qualquer diferença entre os sexos que não aquela geral do gênero, deu-se primeiro a diagnose detalhada do macho e, em seguida, uma lista das características que são próprias da fêmea. Por fim, as fotografias foram tomadas com câmara Nikon D90 com lente macro Sigma 150 mm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tribo Oniticellini Kolbe, 1905 Subtribo Eurysternina Vulcano, Martínez & Pereira, 1960 Gênero Eurysternus Dalman, 1824 39

1) Relacionamento filogenético com outros rola-bostas As espécies do gênero neotropical Eurysternus são facilmente diferenciadas de outros escaravelhos por sua forma geral do corpo e, possivelmente, foi por isso que DALMAN (1824) reconheceu e descreveu o táxon num momento ainda tão inicial da taxonomia do grupo (GÉNIER, 2009). Certamente, o metasterno amplo de Eurysternus, uma das principais características diagnósticas do grupo, chamou atenção de Dalman, já que ele a utilizou ao batizar o novo gênero. LANSBERGE (1874) redefiniu a tribo Sisyphini com base nesse caráter, além das mesocoxas paralelas e tarsos posteriores delgados, e nela situou três gêneros: Amphistomus Lansberge, 1874, Sisyphus Latreille, 1807 e Eurysternus. Reconhecendo particularidades deste último gênero, VULCANO et al. (1960) descreveram a tribo Eurysternini apenas para comportar Eurysternus e apontaram os palpos labiais biarticulados, o escutelo exposto e o clípeo inerme como características que separariam Eurysternus de Sisyphini. HALFFTER & HALFFTER (1976) citaram outras características que separariam as duas tribos, como a capacidade de Eurysternus de mover as pernas médias para cima dos élitros, o que não é encontrado em nenhum Sisyphini. Em adição a estes trabalhos, LOPEZ-GUERRERO (1999) descreveu a morfologia da genitália masculina de E. mexicanus Harold, 1869 e E. magnus Castelnau, 1840 e a comparou com a de Sisyphus submonticolus Howden, 1965 e S. crispatus mexicanus Harold, 1863 (citado como S. mexicanus). Em sua conclusão, a autora afirmou que, a despeito da semelhança geral do órgão entre os dois gêneros, algumas particularidades da morfologia do edeago de Eurysternus os isolam de Sisyphini. GÉNIER (2009) confirmou a posição de VULCANO et al. (1960) quanto à falta de afinidades entre Eurysternus e os outros gêneros Sisyphini, mas não concordou com a posição isolada do gênero numa tribo monotípica. De fato, GÉNIER (2009) defendeu que estes besouros estariam mais intimamente relacionados com os gêneros da tribo Oniticellini e, portanto, propôs que Eurysternini fosse rebaixado ao status de subtribo. Para sustentar sua proposta, o autor comparou Eurysternus com o gênero monotípico africano de Oniticellini Scaptocnemis Péringuey, 1901 e listou diversas características compartilhadas pelos dois táxons, tais como: achatamento dorsal do corpo, cabeça inerme, palpo maxilar cilíndrico e composto por quatro artículos, palpo labial chato e com dois artículos bem desenvolvidos (terceiro palpômero distal, se presente, rudimentar), proepisterno se estendendo verticalmente pela lateral do pronoto, margem anterior das protíbias dos machos munida de uma escova de cerdas, mesocoxas paralelas e largamente separadas, escutelo visível entre as bases dos élitros, bordas externas dos élitros paralelas e pseudoepipleura larga. Além disso, como mostraram HUERTA et al. (2005), o comportamento de nidificação de Eurysternus e outros membros de Oniticellini possui semelhanças que podem ser interpretadas como sendo homólogas e, nesse caso, representariam em conjunto uma sequência de modificações evolutivas extremamente interessantes 40

e um forte argumento a favor da proposta GÉNIER (2009). No entanto, é curioso notar que, das filogenias publicadas até o presente momento, tenham elas sido baseadas em dados morfológicos (ZUNINO, 1983; PHILIPS et al., 2004; VAZ-DE-MELLO, 2007; TARASOV & GÉNIER, 2015; PHILIPS, 2016) ou moleculares (OCAMPO & HAWKS, 2006; MONAGHAN et al., 2007), apenas uma (VAZ-DE-MELLO, 2007) retornou Oniticellini sensu GÉNIER (2009) monofilético. Nesse trabalho, além de Eurysternus parallelus Castelnau, 1840, apenas outras duas espécies de Oniticellini foram incluídas: Oniticellus cinctus (Fabricius, 1775) e Sinodrepanus thailandicus Ochi et al., 2004, ambas da Ásia. O fato é que nenhum desses estudos teve entre os seus objetivos principais o teste do posicionamento filogenético de Eurysternus entre as tribos de Scarabaeinae e, por isso, a amostragem taxonômica utilizada não foi realmente adequada para esse fim. Assim, testar a hipótese de GÉNIER (2009) através de uma análise cladística ou de métodos filogenéticos probabilísticos ainda é de grande interesse. A última classificação proposta divide Oniticellini em quatro subtribos: Oniticellina, Eurysternina, Drepanocerina e Helictopleurina (BOUCHARD et al., 2011).

2) Histórico taxonômico JESSOP (1985), o primeiro autor a revisar Eurysternus, reconheceu então 22 espécies válidas no gênero. Logo em seguida, MARTÍNEZ (1988) descreveu mais seis espécies e dividiu Eurysternus em três subgêneros: Eurysternus s. str., Paraeurysternus Martínez, 1988 e Eurysternodes Martínez, 1988. Mais tarde, ÖZDIKMEN (2009) descobriu que o último nome é homônimo júnior de Eurysternodes Schuster & Summer, 1978 (Arachnida: Acari), e, para substituí-lo, propôs o nomen novum Amartinezus. GÉNIER (2009), contudo, na última e maior revisão do gênero, sinonimizou os três subgêneros e dividiu as 53 espécies consideradas por ele como válidas (27 delas novas) em 11 grupos de espécies.

3) História natural Muito já foi publicado sobre a biologia de Eurysternus, sobretudo, sobre seu comportamento de nidificação. Um aspecto importante sobre as espécies deste gênero é que não podem ser classificadas em nenhum dos dois grandes grupos em termos de realocação de alimento em que os rola-bostas são divididos: os paracoprídeos (os escavadores) e os telecoprídeos (os roladores) (HUERTA et al., 2005). Os primeiros escavam túneis embaixo das massas de fezes deixadas por mamíferos e para lá levam o alimento. No segundo grupo, os besouros constroem pequenas bolas com as fezes e as rolam sobre o solo para longe da massa; somente quando alcançam certa distância dela é que finalmente enterram a bola. Eurysternus não se enquadra em nenhum desses dois cenários. HALFFTER & EDMONDS (1982), numa classificação muito mais detalhada, reconheceram sete padrões distintos 41

de nidificação entre os Scarabaeinae, sendo um deles, o Padrão VI, representado apenas pelas espécies de Eurysternus.1 A primeira característica ímpar de Eurysternus está em possuir uma relação com o alimento na época não reprodutiva distinta daquela do período fértil. Outros rola-bostas manejam o alimento do mesmo modo toda a vida: se forem roladores, farão bolas estando ou não em período reprodutivo; se forem escavadores, enterrarão independentemente da época de suas vidas. As espécies de Eurysternus, por outro lado, quando não estão em período fértil, simplesmente alimentam-se diretamente sobre o alimento, como ocorre em muitos Aphodinae, outro grupo de escarabeídeo detritívoro, sem que haja a sua realocação. Segundo NORIEGA & CALLE (2008), há registros de espécimes se alimentando de fezes de cavalo, macaco-aranha, macaco-uivador e de humanos, além de carcaças de cutias, ratos, preguiças e tamanduás. Além disso, eles reportaram o consumo de pétalas de flores de Gustavia hexapetala (Aublet) Smith por Eurysternus foedus, algo inédito em Scarabaeinae. PESSOA & LANE (1941) apontam quatro espécies necrófagas de Eurysternus (E. foedus; E. calligramus Dalman, 1824; E. impressicollis Castelnau, 1840; E. parallelus Castelnau, 1840) atualmente válidas como sendo de interesse médico-forense por fazerem parte de sucessão cadavérica. Não obstante essa variedade alimentar nos períodos inter-reprodutivos, o comportamento destes animais muda drasticamente no período de nidificação. A nidificação de Eurysternus é dividida em três fases distintas: o banquete nupcial (“nupcial feast”), a nidificação experimental (“experimental nesting”) e a nidificação definitiva (“final nesting”). De fato, esta é uma generalização, pois certas espécies não apresentam parte (e.g., E. deplanatus (Germar, 1824)) ou nenhuma dessas fases (E. foedus Guérin-Méneville, 1844). Nessas exceções, contudo, pode estar contida a chave que ligará o comportamento único de Eurysternus com o restante de Scarabaeinae, como já afirmado por HUERTA et al. (2005). Durante o banquete nupcial, as fêmeas constroem inúmeras bolas com as fezes. Essa ação atrai os machos, fato que também é diferente de muitos outros rola-bostas, nos quais é o macho que atrai as fêmeas com bolas que eles constroem (HUERTA et al., 2003). A cópula pode ocorrer em momentos variados, mas o padrão é que ela seja seguida por nidificação experimental, onde ovos individuais são postos em cada uma das várias bolas construídas durante o banquete nupcial. Em seguida, essas bolas e seus ovos são destruídos e ingeridos. Após o período de ninhos experimentais e um intervalo com alimentação normal, um ninho definitivo com múltiplas bolas é construído e a fêmea ficará de guarda cuidando dos ovos e larvas em

1

A discussão que se segue, a não ser quando especificada outra fonte, é uma compilação dos dados publicados por HALFFTER & HALFFTER (1976), HALFFTER et al. (1980), HALFFTER & EDMONDS (1982) e HUERTA et al. (2003, 2005).

42

desenvolvimento, período que poderá durar até cerca 50 dias (HALFFTER et al., 1980). Esse comportamento subsocial é útil na defesa contra fungos e cleptoparasitas que ameaçam o ninho. Após a emergência das imagos, a fêmea abandona a cria. Ela poderá voltar a realizar todo o comportamento de nidificação novamente, pois, diferentemente de outros rola-bostas, as fêmeas de Eurysternus podem viver um longo período, algumas alcançando até dois anos de idade. Outro aspecto ímpar da biologia de Eurysternus é o seu comportamento críptico. Segundo GILL (1990), não é fácil observar espécimes em campo, pois eles apresentam coloração opaca, movimentos letárgicos e uma forma de tanatose única, na qual as pernas médias e posteriores se estendem enquanto o animal se finge de morto. Este hábito separaria Eurysternus do restante dos Scarabaeinae neotropicais, mas táxons de outras regiões apresentam camuflagem e tanatose similares. Cyptochirus Lesne, 1900, gênero africano de Oniticellini, por exemplo, apresentaria comportamento semelhante (GILL, 1990). Segundo HALFFTER et al. (1980), Eurysternus se originou na América do Sul, de onde se expandiu para a atual área de distribuição, que se estende desde o México até o norte da Argentina (GÉNIER, 2009). O período de atividade de Eurysternus aparentemente é diurno. HERNÁNDEZ (2002) cita E. parallelus Castelnau, 1840, E. cyanescens Balthasar, 1939 e uma terceira espécie não identificada como ativas durante o dia. De fato, em Itatiaia, avistamos E. inflexus chegando às armadilhas em horário diurno, por volta de 15:30, em outubro de 2010.

4) Espécies presentes no PNI No PNI, são encontradas oito espécies de Eurysternus pertencentes a seis dos onze grupos estabelecidos por GÉNIER (2009): grupo deplanatus: E. deplanatus (Germar, 1824) e E. parallelus Castelnau, 1840; grupo foedus: E. sulcifer Balthasar, 1939; grupo inflexus: E. inflexus (Germar, 1824); grupo hirtellus: E. hirtellus Dalman, 1824 e E. nigrovirens Génier, 2009; grupo calligramus: E. cyanescens Balthasar, 1939; e grupo caribaeus: E. francinae Génier, 2009.

Diagnose: Corpo retangular e bem aplanado. Clípeo e fronte inermes; sutura clipeofrontal inconspícua; sutura clípeo-genal fraca, mas visível. Antenas 9-articuladas inseridas anteriormente aos olhos e com clava trífila; palpos maxilares cilíndricos e tetra-articulados; palpos labiais chatos e aparentemente bi-articulados (terceiro artículo distal muito atrofiado e pouco visível). Pronoto inerme. Escutelo claramente visível entre as bases dos élitros. Margem externa da protíbia das fêmeas fortemente denteada, sendo quatro destes dentes muito longos e robustos; macho com apenas algumas pequenas calosidades ligeiramente projetadas. Mesocoxas paralelas entre si e situadas nas laterais do corpo. Élitros planos, chatos, com margens externas paralelas e com leve declive para o 43

ápice; carena humeral presente; oito estrias elitrais; carena elitral formando ampla pseudoepipleura vertical. Proepímero vertical, estendendo-se por toda a lateral do protórax. Mesosterno curto e de difícil visualização; sutura mesometasternal fraca e sinuosa; metasterno amplo e totalmente plano, sem qualquer área em declive. Caracteres sexuais secundários são de fácil observação em Eurysternus: - Protíbia dos machos, em seu ápice, logo abaixo do protarso, com um pente transversal de cerdas curtas claramente visível. Este é ausente nas fêmeas (JESSOP, 1985; GÉNIER, 2009). - Tarsômero basal do protarso dos machos curto e giboso. Nas fêmeas, tarsômero basal longo, cilíndrico e fino. - Protíbia dos machos com dentes muito reduzidos; fêmeas com dentes da protíbia bem desenvolvidos - Em algumas espécies, esporão da metatíbia dos machos fundido, enquanto nas fêmeas ele é sempre articulado (JESSOP, 1985; GÉNIER, 2009).

Chave para as espécies de Eurysternus Dalman, 1824 encontradas no Parque Nacional do Itatiaia (parcialmente adaptada de GÉNIER, 2009)

1- Metafêmures inermes ....................................................................................................................... 2 1’- Metafêmures com dente conspícuo em sua margem posterior ....................................................... 7 2- Pronoto com pontuação simples e com ao menos uma única área triangular glabra bem delimitada na região anterior. Primeiro urosternito visível acuminado entre os ápices das metacoxas ................ 3 2’- Pronoto com pontuação ocelada e sem áreas glabras delimitadas por cerdas (i.e., pronoto inteiramente glabro ou inteiramente coberto por cerdas). Primeiro urosternito visível truncado ou acuminado entre os ápices das metacoxas. Forte pubescência por todo o corpo ............................... 5 3- Região anterior do pronoto com área triangular glabra única e de mesma coloração do restante do tegumento. Vértex munido de dois tufos de longas cerdas ............................ E. inflexus (Germar, 1824) 3’- Região anterior do pronoto com três áreas glabras lustrosas e de coloração diferente do restante do tegumento. Vértex sem tufo de longas cerdas ................................................................................. 4 4- Meso e metafêmures com coloração como o restante do tegumento, marrom escuro com brilho metálico verde-oliva. Áreas circulares glabras da região anterior do pronoto menos lustrosas e contrastantes com o restante do tegumento do que a área glabra triangular mediana. Metasterno do macho

com

pequena

carena

longitudinal

entre

os

ápices

das

metacoxas

.................................................................................................................. E. parallelus Castelnau, 1840 4’- Meso e metafêmures com coloração negra no terço basal e castanho claro no restante do comprimento nos espécimes mais claros. Áreas circulares glabras da região anterior do pronoto tão 44

lustrosas e contrastantes com o restante do tegumento quanto a área glabra triangular mediana. Metasterno do macho inerme ................................................................... E. deplanatus (Germar, 1824) 5- Metasterno irregular, com depressões nas áreas adjacentes às mesocoxas, ao ápice das metacoxas e no centro do disco metasternal ............................................... E. nigrovirens Génier, 2009 5’- Metasterno com superfície lisa e com forte coloração verde metálica no centro do disco, podendo apresentar uma leve depressão nesta área ..................................................... E. hirtellus Dalman, 1824 6- Carena da pseudoepipleura elevada e mais alta do que a região adjacente dos élitros. Mesofêmures clavados ................................................................................................ E. cyanescens Balthasar, 1939 6’- Carena da pseudoepipleura no mesmo nível ou mais baixa do que região adjacente dos élitros. Mesofêmures lineares .......................................................................................................................... 7 7- Ápice dos élitros com cerdas escamiformes simples, bífidas e trífilas. Metafêmures lineares e com dente na metade basal da margem posterior ................................................. E. sulcifer Balthasar, 1939 7’- Ápice dos élitros com cerdas filiformes e somente simples. Metafêmures levemente clavados e com dente na metade apical da margem posterior nos machos e no centro da margem posterior nas fêmeas ........................................................................................................................ E. francinae Génier, 2009

1. Eurysternus parallelus Castelnau, 1840 (Figura 2) = Eurysternus femoralis Lucas, 1857 Diagnose: Macho: 9,5-14,0 mm de comprimento. Tegumento castanho-escuro com brilho metálico verde-oliva. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com pontuação simples e com pequena área triangular glabra, lustrosa e ligeiramente convexa na superfície anterior flanqueada por duas áreas circulares também glabras e lustrosas. Metasterno com pequena carena longitudinal entre as metacoxas. Protarso presente; meso e metafêmur clavados e unicolores; metatíbia com esporão articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito visível acuminado entre as metacoxas. Fêmea: Metasterno sem carena entre as coxas. Comentários: Um espécime depositado no MNRJ possui etiqueta escrita a mão em grafite “Sergipe? ”. Se esta localidade for confirmada como correta, será de grande interesse, pois, segundo a distribuição dada por GÉNIER (2009), a espécie não ocorreria no nordeste brasileiro, tendo o seu limite setentrional na Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro. Altitude e período de coleta: Espécie coletada por todo o ano (GÉNIER, 2009; MNRJ). Em relação à altitude, os espécimes depositados no MNRJ e FIOC possuem altitude máxima de 900 m. Todos os espécimes coletados pelo primeiro autor no PNI o foram em altitude de 750 m. Distribuição Geográfica: BRASIL: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. PARAGUAI: Concepción, Central, Cordillera, 45

Paraguarí, Canindeyú, Alto Paraná, Caaguazú, Guará, Caazapá. ARGENTINA: Misiones, Corrientes (GÉNIER, 2009). Amplia-se a distribuição no Brasil para o estado do Mato Grosso. Material Examinado: BRASIL: MATO GROSSO: Rio Caraguatá, III.1953, Plauman col. – 1 macho e 2 fêmeas (MNRJ). MINAS GERAIS: Passa Quatro, XII.1916, E. Jaeger col. – 2 fêmeas (MNRJ). PARANÁ: Guarapuava, III.1958, I. Schneider col. – 1 macho (MNRJ); Rio Negro, XII.1922, coletor não legível – 1 fêmea (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Itaguaí, Serra da Caveira, 600m, 25.II.1948, W. Zikán col. – 1 macho (MNRJ); Itatiaia, 19.IV.1922, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 1924, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 3.III.1930, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 03.XII.1940, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 700m, 15.V.1924, J. F. Zikán col. – 2 machos (FIOC); Itatiaia, 700m, 5.XI.1928, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 700m, 19.XII.1933, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 700m, II.1959, W. Zikán col. – 7 machos e 5 fêmeas (MNRJ); Itatiaia, 900m, 10.X.1929, W. Zikán col. – 1 macho (MNRJ); Mendes, Centro Marista São José das Paineiras, 1822.I.2013, Mario Cupello & Luiz P. Gonzaga cols. – 1 macho (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, 750m, 22-24.X.2010, Wallace Beiroz & Mario Cupello cols – 1 macho (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750 m., 27.II-01.III.2012, Mario Cupello col. – 1 fêmea (MNRJ); Rio Muriaé, 12.XI.1908, W. Zikán col. – 1 macho (MNRJ). SANTA CATARINA: Arapongas, XII.1951, A. Maller col. – 1 macho (MNRJ); Corupá, II.1968, Maller col. – 1 fêmea (MNRJ); Corupá, 60m, III.1940, A. Maller col. – 3 machos e 2 fêmeas (MNRJ); Mafra, I.1969, A. Maller col. – 1 fêmea (MNRJ); Mafra, 800m, IV.1940, A. Maller col. – 1 macho (MNRJ); São Bento, I.1952, A. Maller col. – 2 machos (MNRJ). SÃO PAULO: Angatuba, I.1923, “Burimayer” (Thomas Borgmeier?) col. – 1 macho (MNRJ); Aurora, VI.1947, sem coletor – 1 macho (MNRJ); Mogi-Guaçu, 19.V.1969, Karol Lenke col. – 1 macho (MNRJ); Rio Paraná, Porto Cabral, III a IV.1944, L. Travassos col. – 1 macho e 1 fêmea (MNRJ). SERGIPE (?): sem data e coletor – 1 macho (MNRJ).

2. Eurysternus deplanatus (Germar, 1824) (Figura 3) Diagnose: 8,0-11,0 mm de comprimento. Tegumento variando desde castanho-escuro até castanhoclaro. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com pontuação simples e com pequena área triangular glabra, lustrosa e ligeiramente convexa na superfície anterior. Protarso presente; meso e metafêmures clavados e de coloração negra no terço basal e castanho no restante do comprimento nos espécimes mais claros, pouco contraste entre as duas áreas nos espécimes mais escuros. Metatíbia com esporão articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito visível acuminado entre as metacoxas. Altitude e período de coleta: Habitualmente coletado acima de 1.000 m nos meses de janeiro, fevereiro, abril, setembro, novembro e dezembro (GÉNIER, 2009). O único exemplar examinado com dados de altitude depositado no MNRJ foi coletado a 700 m, enquanto o espécime único da FIOC foi 46

coletado também no PNI a 1.380 m de altitude. Distribuição Geográfica: BRASIL: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (GÉNIER, 2009). Material Examinado: Localidade não especificada: 4.IX.1921, sem coletor – 1 macho (MNRJ). BRASIL: PARANÁ: Guarapuava, XII.1959, I. Schneider col. – 1 fêmea (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Itatiaia, XI.1950, Travassos & Dalcy cols. – 1 macho (MNRJ); Itatiaia, 700m, II.1959, W. Zikán col. – 1 fêmea (MNRJ); Itatiaia, 1380m, 23.XII.1935, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC).

3. Eurysternus inflexus (Germar, 1824) (Figura 4) = Eurysternus rufescens Dalman, 1824 = Eurysternus opatrinus Perty, 1830 = Eurysternus planipennis Lucas, 1859 Diagnose: 9,0-12,0 mm de comprimento. Tegumento castanho-claro. Ápice do clípeo com forte depressão. Vértex munido de dois tufos de longas cerdas. Pronoto com pontuação simples; superfície anterior com área triangular glabra e de mesma coloração do restante do tegumento bem delimitada por fileira de longas cerdas. Protarso presente; meso e metafêmures levemente clavados e de coloração negra no terço basal e castanho-claro no restante do comprimento; metatíbia com esporão articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito visível acuminado entre as metacoxas. Altitude e período de coleta: Espécie de altitude mediana a elevada, coletada nos meses de janeiro, março, abril, outubro, novembro e dezembro (GÉNIER, 2009). Todos os espécimes depositados no MNRJ foram coletados pelo primeiro autor em altitude de 750 m, nos meses de outubro, novembro e fevereiro. Distribuição geográfica: BRASIL: Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo (GÉNIER, 2009). Material Examinado: BRASIL: RIO DE JANEIRO: Itatiaia, 07.I.1924, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 10.II.1933, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 20.II.1933, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 06.XI.1937, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 20.XII.1937, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 02.I.1948, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Parque Nacional do Itatiaia, 750m, 22-24.X.2010, Wallace Beiroz & Mario Cupello cols. – 4 machos e 11 fêmeas (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750m, 22-24.IX.2011, Mario Cupello col. – 5 machos e 1 fêmea (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750m, 11-13.XI.2011, Mario Cupello col. – 3 fêmeas (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750 m., 27.II01.III.2012, Mario Cupello col. – 1 macho (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 810m, Mario Cupello col. – 15 machos e 4 fêmeas (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 810m, 22-25.II.2013, Mario Cupello col. – 15 machos e 4 fêmeas. 47

4. Eurysternus nigrovirens Génier, 2009 (Figura 8) Diagnose: Macho: 5,0-75 mm de comprimento. Forte pubescência e distinta pontuação ocelada por todo o corpo. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto sem áreas glabras. Proepisterno com duas carenas semi-paralelas. Metasterno fortemente irregular, com depressões nas áreas adjacentes às mesocoxas, ao ápice das metacoxas e no centro do disco metasternal; pequena área plana entre os ápices das metacoxas. Protarso presente. Meso e metafêmures lineares. Metatíbia com esporão não-articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito visível truncado entre os ápices das metacoxas. Fêmea: Metatíbia com esporão articulado. Comentários: Não tivemos em mãos espécimes coletados no PNI, mas GÉNIER (2009) cita uma fêmea coletada em Itatiaia, o único exemplar conhecido do Rio de Janeiro. Altitude e período de coleta: Para Itatiaia, GÉNIER (2009) cita um único espécime de altitude de 700 m coletado por J. F. Zikán em junho de 1928. Em relação a toda a área de distribuição, a espécie ocorre por todo o ano (GÉNIER, 2009). Distribuição geográfica: BRASIL: Paraíba, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo. PERU: Madre de Dios. BOLÍVIA: Santa Cruz. PARAGUAI: Concepción, San Pedro, Canindeyú, Paraguarí. ARGENTINA: Salta (GÉNIER, 2009). Material Examinado: BRASIL: MINAS GERAIS: Santana do Riacho, Parque Nacional da Serra do Cipó, 780m, 21.I.2001, Vaz-de-Mello & Génier cols. – 1 fêmea, parátipo (MNRJ).

5. Eurysternus hirtellus Dalman, 1824 (Figura 7) = Eurysternus cirratus Harold, 1883 Diagnose: Macho: 6,0-7,5 mm de comprimento. Tegumento castanho-escuro. Forte pubescência e distinta pontuação ocelada por todo o corpo. Ápice do clípeo sem forte depressão. Pronoto inteiramente coberto por cerdas longas e sem áreas glabras. Proepisterno munido de somente uma carena lateral. Metasterno com superfície lisa e com forte coloração verde metálica no centro do disco, podendo apresentar uma leve depressão nesta área. Protarso presente; meso e metafêmur lineares e unicolores; metatíbia com esporão não-articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito visível truncado entre as metacoxas. Fêmea: Ápice do clípeo com forte depressão; metatíbia com esporão articulado. Comentários: Não tivemos acesso a espécimes de E. hirtellus com procedência do PNI, mas a presença desta espécie no local foi confirmada por JESSOP (1985), que designou um espécime de Itatiaia como neótipo do nome. O tipo está depositado no Naturhistoriska Riksmuseet, Estocolmo, Suécia, e foi escolhido por ser um dos espécimes identificados como E. hirtellus pelo entomólogo paulista Eduardo Navajas (1905-1962), o último pesquisador que teve em mãos a série-tipo original 48

de Dalman (1824).

Figuras 1-8. Espécies de Eurysternus encontradas no PNI: 1. E. cyanescens Balthasar, 1939. 2. E. parallelus Castelnau, 1840. 3. E. deplanatus (Germar, 1824). 4. E. inflexus (Germar, 1824). 5. E. francinae Génier, 2009. 6. E. sulcifer Balthasar, 1939. 7. E. hirtellus Dalman, 1824. 8. E. nigrovirens Génier, 2009.

49

Na distribuição geográfica abaixo, utilizamos dados somente de GÉNIER (2009). Dois outros trabalhos, LOUZADA et al. (2007) e MARTÍNEZ (1988), não tiveram seus dados incluídos porque, até a revisão de GÉNIER (2009), o nome E. hirtellus era mal aplicado a um conjunto de espécies-crípticas que hoje forma o grupo hirtellus. Altitude e período de coleta: Para Itatiaia, GÉNIER (2009) cita um espécime coletado a 700 m de altitude por J. F. Zikán em março de 1930. A espécie é coletada nos meses de janeiro, março abril, maio, agosto, setembro e outubro (GÉNIER, 2009). Distribuição Geográfica: BRASIL: Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro (GÉNIER, 2009). Material Examinado: BRASIL: ESPÍRITO SANTO: Vitória, Morro Moscoso, X.1982, B. Silva col. – 1 macho (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Rio de Janeiro, Corcovado, 27.X.1975, C. A. Campos Seabra – 1 fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Paineiras, 1961, H. Schubart col. – 1 macho (MNRJ); Rio de Janeiro, Parque Laje, III.1991, Fernando col. – 1 macho (MNRJ); Rio de Janeiro, Represa Rio Grande, IX.1967, P. M. Oliveira col. – 1 fêmea (MNRJ).

6. Eurysternus cyanescens Balthasar, 1939 (Figura 1) = Eurysternus confusus Jessop, 1985 Diagnose: Macho: 10,0-15,0 mm de comprimento. Tegumento negro com leve brilho azulado. Ápice do clípeo sem forte depressão. Pronoto com pontuação ocelada distribuída pelo tegumento; superfície mediana anterior com pequena área glabra entre os olhos. Protarso presente; mesofêmur linear e unicolor; metafêmur clavado, unicolor e com pequeno dente na metade apical da margem externa; metatíbia com esporão não-articulado. Interestrias do ápice dos élitros podem apresentar feixes de cerdas curdas; carena da pseudoepipleura elevada e mais alta do que a região adjacente dos élitros. Primeiro urosternito visível truncado entre as metacoxas. Fêmea: Esporão tibial articulado Comentários: Uma espécie muito próxima de E. cyanescens é E. calligrammus Dalman, 1824. As diferenças entre elas não são fáceis de visualizar e, de fato, mesmo JESSOP (1985) se confundiu ao afirmar que os machos de E. calligrammus seriam como as fêmeas da espécie ao apresentarem o metafêmur inerme, o que os diferenciaria dos machos de E. cyanescens, que têm o metafêmur armado com um dente agudo na margem externa. Além de corrigir esse erro, GÉNIER (2009) chama atenção para a sutura mesometasternal fortemente carenada de E. calligrammus, a qual é completamente distinta daquela vista em E. cyanescens, que é simples e plana. Ademais, o ápice da protíbia dos machos de E. cyanescens é fortemente curvado para baixo, o que não ocorre em E. calligrammus. Fêmeas de E. calligrammus, por outro lado, realmente podem ser separadas de E. cyanescens por apresentarem metafêmur desarmado, enquanto as fêmeas da segunda espécie têm um dente como 50

o dos machos. Apesar de não termos registro de E. calligrammus para o PNI, a distribuição das duas espécies é largamente sobreposta e, dessa forma, acreditamos que existe a possibilidade de existência de E. calligrammus nas partes baixas de Itatiaia. Altitude e período de coleta: Para Itatiaia, GÉNIER (2009) citou apenas um espécime coletado a 700 m de altitude por Richard von Diringshofen (citado como “Dirings”) em janeiro de 1960. Da coleção do MNRJ, espécimes de Itatiaia foram coletados entre 700 e 1.250 m de altitude. Todos os exemplares coletados pelo primeiro autor no PNI o foram a 750 m. O período de coleta citado por GÉNIER (2009) foi de agosto a abril. Distribuição Geográfica: BRASIL: Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina (GÉNIER, 2009). Material Examinado: BRASIL: AMAZONAS (possível erro de etiquetagem): Manaus, 28.V.1956, Elias & Roppa col. – 1 macho (MNRJ). MINAS GERAIS: Cambuquira, sem data, sem coletor – 1 macho (MNRJ); Catas Altas, RPPN Serra do Caraça, trilha da bocaina, 1250m, 22-24.X.2014, Mario Cupello, Marcela L. Monné & Allan Carelli cols. – 1 fêmea (MNRJ); Maria da Fé, XI.1980, sem coletor – 1 fêmea (MNRJ); Poços de Caldas, IX.1967, Roppa col. – 1 macho (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Itatiaia, 15.XII.1933, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 700 m, II.1959, W. Zikán col. – 1 fêmea (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, 1250m, 1-4.X.2009, M. L. Monné, J. R. Mermudes & M. A. Monné cols. – 1 macho (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, 1250 m, 30.IX-02.X.2010, Marcela L. & Miguel A. Monné cols. – 1 fêmea (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750m, 22-24.IX.2011, Mario Cupello col. – 2 fêmeas (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750 m., 27.II-01.III.2012, Mario Cupello col. – 1 fêmea (MNRJ); Petrópolis, 17.XII.1993, E. Conrado col. – 1 macho (MNRJ); Petrópolis, Le Vallon, Alto Mosela, 24.I a 23.II.1956, D’Albuquerque col. – 1 macho e 1 fêmea (MNRJ); Petrópolis, Le Vallon, Alto Mosela, III.1957, Daley col. – 2 fêmeas (MNRJ); Rio de Janeiro, Alto da Boa Vista, III.1951, Campos Seabra col. – 3 machos (MNRJ); Rio de Janeiro, Corcovado, 14.XI.1952, D. Zajclw col. – 1 fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Morro Santa Bárbara, 16.III.1952, Orlando Rego col. – 1 fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Tijuca, 1934, Campos Seabra col. – 1 fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Tijuca, 2.XI.1951, Campos Seabra col. – 1 macho (MNRJ).

7. Eurysternus sulcifer Balthasar, 1939 (Figura 6) Diagnose: Macho: 16,5-18,0 mm de comprimento. Tegumento castanho com brilho metálico verdeoliva. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com pontuação simples e cerdas escamiformes; superfície mediana anterior com pequena área glabra flanqueada por duas áreas circulares glabras e lustrosas. Protarso ausente. Meso e metafêmur lineares e unicolores; metafêmur com forte dente com ápice apontando para o trocanter na metade basal da margem posterior; metatíbia com esporão nãoarticulado. Interestrias do ápice dos élitros com cerdas curtas, escamiformes e bífidas ou trífilas no 51

ápice. Primeiro urosternito visível truncado entre as metacoxas. Fêmea: Metatíbia com esporão articulado. Comentários: Não encontramos nas coleções estudadas espécimes com procedência do PNI, mas GÉNIER (2009) citou dois machos e uma fêmea coletados no local. Altitude e período de coleta: Espécimes coletados entre 1.500 e 1.720 m de altitude; presente nos meses de janeiro, março, setembro, novembro e dezembro (GÉNIER, 2009). Distribuição Geográfica: BRASIL: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (GÉNIER, 2009). Amplia-se a distribuição para o Paraná. Material Examinado: BRASIL: MINAS GERAIS: Passa Quatro, sem data e sem coletor – 1 macho (MNRJ); Virgínia, 12.IX.1916, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (MNRJ). PARANÁ: Guarapuava, XI.1959, I. Schneider col. – 1 macho (MNRJ).

8. Eurysternus francinae Génier, 2009 (Figura 5) Diagnose: Macho: 13-17,5 mm de comprimento. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com pequenos pontos ocelados e com superfície mediana anterior apresentando área elíptica glabra, lustrosa e de forte coloração verde-oliva bem delimitada e ligada à base do pronoto por um fraco sulco longitudinal de coloração similar ao restante do tegumento. Metasterno levemente deprimido no meio da superfície anterior e na superfície acima de cada metacoxa e com forte carena longitudinal mediana estendendo-se a partir dos ápices das metacoxas; superfície adjacente às mesocoxas plana. Protarso presente e ligeiramente mais claro do que a protíbia. Dois primeiros dentes da protibia horizontais e apontados para fora, terceiro dente vertical e apontado para baixo. Meso e metafêmerus bicolores, com superfície externa predominantemente amarelada e superfície interna amarelada apicalmente e marrom escura no restante do tegumento; mesofêmur linear e metafêmur levemente clavado e com forte dente na metade apical da margem posterior. Metatíbia com esporão não-articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de cerdas curtas. Primeiro urosternito visível acuminado entre os ápices das metacoxas. Fêmea: Metasterno sem forte carena, somente uma pequena quilha separando as duas depressões posteriores. Protíbia com os três dentes horizontais e apontando para fora. Metafêmur com pequeno dente no meio da borda posterior. Metatíbia com esporão articulado. Comentários: Não tivemos acesso a espécimes do PNI, mas GÉNIER (2009) cita um macho coletado em IV.1995 para Itatiaia, o único exemplar do estado do Rio de Janeiro. Altitude e período de coleta: Acima de 1.000 m de altitude (MC e FZVM, observação pessoal); presente em maio e entre os meses de setembro e março (GÉNIER, 2009). Distribuição geográfica: BRASIL: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (GÉNIER, 2009). 52

Material Examinado: BRASIL: MINAS GERAIS: Catas Altas, RPPN Serra do Caraça, trilha da bocaina, 1250m, 22-24.X.2014, Mario Cupello, Marcela L. Monné & Allan Carelli cols. – 1 macho e 1 fêmea (MNRJ); Catas Altas, RPPN Serra do Caraça, 1250m, 08-13.XII.2014, Mario Cupello & Allan Carelli cols. – 1 fêmea (MNRJ). SÃO PAULO: Serra do Japi, 1050m, 1998, M.I.M. Hernández col. – 2 machos e 2 fêmeas, parátipos (MNRJ).

AGRADECIMENTOS

Desde 2011, quando o resumo deste trabalho foi apresentado pela primeira vez no I Entomorio, nós temos recebido fundamental suporte da equipe do Laboratório de Coleoptera do MNRJ e, por isso, somos muito gratos a todos os seus integrantes que nos auxiliaram nos trabalhos de campo e em laboratório: Miguel A. Monné, Marcela L. Monné, Juan Pablo Botero, Allan Carelli, Marianna Simões (atualmente na University of Kansas, Kansas, Estados Unidos), Vanessa Machado (ex-membro), Rodrigo Souza (ex-membro) e Wallace Beiroz (atualmente na Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, Brasil). Também somos gratos a Márcio Felix (FIOC) pelo empréstimo de material, a Leo Nascimento (PNI) pelas autorizações de coleta e a dois revisores anônimos que em muito melhoraram a fluidez do nosso texto e a clareza das nossas diagnoses. Ao longo do período de elaboração deste trabalho, MC recebeu suporte financeiro através de bolsas de iniciação científica do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UFRJ/CNPq), bolsa de mestrado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e bolsa de mestrado Nota 10 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). FZVM é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (304925/2010-1) e recebeu os seguintes financiamentos: CNPq 484035/2013-4 e FAPEMAT/CNPq PRONEM 568005/2014.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AXIMOFF, I.; SPENCER, C. & VAZ, S.M. 2015. Mamíferos de médio e grande porte no Parque Nacional do Itatiaia. Boletim do Parque Nacional do Itatiaia 19: 1-56. BALTHASAR, V. 1939. Neue Megathopa- und Eurysternus-Arten. Entomologische Blätter 35: 111-116. BOUCHARD, P.; BOUSQUET, Y.; DAVIES, A.E.; ALONSO-ZARAZAGA, M.A.; LAWRENCE, J.F.; LYAL, C.H.C.; NEWTON, A.F.; REID, C.A.M.; SCHMITT, M.; SLIPNSKI, A. & SMITH, A.B.T. 2011. Famlily-group names in Coleoptera (Insecta). Zookeys 88: 1-972. CAMPOS, R.C. & HERNÁNDEZ, M.I.M. 2013. Dung beetle assemblages (Coleoptera, Scarabaeinae) in Atlantic forest fragments in southern Brazil. Revista Brasileira de Entomologia 57(1): 47-54. CASTELNAU, CONDE DE [título nobiliárquico de Francis de Laporte]. 1840. Histoire Naturelle des Insectes Coléoptères, v. 2. Duménil, Paris. CULOT, L.; BOVY, E.; VAZ-DE-MELLO, F.Z.; GUEVARA, R. & GALETTI, M. 2013. Selective defaunation affects dung beetle communities in continuous Atlantic rainforest. Biological Conservation 163: 79-89. CUPELLO, M. & VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2014. Revalidation of the Brazilian Atlantic Forest dung beetle species Coprophanaeus (Metallophanaeus) machadoi (Pereira & d’Andretta, 1955) (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae: Phanaeini) based on morphological and distributional evidence. Zootaxa 3869(4): 435-451. DALMAN, J. W. 1824. Ephemerides Entomologicae. P. A. Norstedt, Estocolmo (“Holmiae”). GÉNIER, F. 2009. Le Genre Eurysternus Dalman, 1824 (Scarabaeidae: Scarabaeinae: Oniticellini), Révision

53

Taxonomique et Clés de Détermination Illustrées. Pensoft Publishers, Sófia. GILL, B.D. 1990. Two new species of Eurysternus Dalman (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae) from Venezuela with notes on the genus. The Coleopterists Bulletin 44(3): p. 355-361. HALFFTER, G. & EDMONDS, W. D. 1982. The nesting behavior of dung beetles (Scarabaeinae). An ecological and evolutive approach. Instituto de Ecología, México, D.F. HALFFTER, G. & HALFFTER, V. 1976. Notas sobre Eurysternus (Coleoptera, Scarabaeidae, Scarabaeinae). Folia Entomologica Mexicana 37: p. 43-86. HALFFTER, G; HALFFTER, V. & HUERTA, C. 1980. Mating and nesting behavior of Eurysternus (Coleoptera: Scarabaeinae). Quaestiones Entomologicae 16: 599-620 HAROLD, E. 1883. Einige neue Coprophagen. Entomologische Zeitung Herausgegeben von dem Entomologischen Vereine zu Stettin 44: 429-435 HERNÁNDEZ, M.I.M. 2002. The night and day of dung beetles (Coleoptera, Scarabaeidae) in the Serra do Japi, Brazil: elytra colour related to daily activity. Revista Brasileira de Entomologia 46(4): 597-600. HERNÁNDEZ, M.I.M.; MONTEIRO, L.R. & FAVILA, M.E. 2011. The role of body size and shape in understanding competitive interactions within a community of Neotropical dung beetles. Journal of Insect Science 13: 1-14. HERNÁNDEZ, M.I.M. & VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2009. Seasonal and spatial species richness variation of dung beetle (Coleoptera, Scarabaeidae s. str.) in the Atlantic Forest of southeastern Brazil. Revista Brasileira de Entomologia 53(4): 607-613. HUERTA, C; HALFFTER, G. & HALFFTER, V. 2005. Nidification in Eurysternus foedus Guérin-Méneville: its relationship to other dung beetle nesting patterns (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae). Folia Entomologica Mexicana 44(1): 75-84. HUERTA, C; HALFFTER, G; HALFFTER, V & LÓPEZ, R. 2003. Comparative analysis of reproductive and nesting behavior in several species of Eurysternus Dalman (Coleoptera: Scarabaeinae: Eurysternini). Acta Zoológica Mexicana (n.s.) 88: 1-41. JESSOP, L. 1985. An identification guide to Eurysternine dung beetles (Coleoptera, Scarabaeidae). Journal of Natural History 19: 1087-1111. KOLBE, H.J. 1905. Über die Lebensweise und die geographische Verbreitung der coprophagen Lamellicornier. Zoologischen Jahrbüchern Supplement 8 : 475–594. LANSBERG, G. van. 1874. Observations sur la classification des lamellicornes coprophages. Annales de la Sociétpe Entomologique de Belgique 17 : 177-193. LAURENCE, W.F. 2009. Conserving the hottest of the hotspots. Biological Conservation 142: 1137. LOPEZ-GUERRERO, Y. 1999. Morphological comparison of the male genitalia of Eurysternus Dalman and Sisyphus Latreille (Coleoptera, Scarabaeidae, Scarabaeinae). The Coleopterists Bulletin 53(3): 201-207. LOUZADA, J.N.C.; LOPES, F.S. & VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2007. Structure and composition of a dung beetle community (Coleoptera, Scarabaeinae) in a small Forest patch from Brazilian Pantanal. Revista Brasileira de Zoociências, 9(2): 199203. MALDANER, M.E.; NUNES, R.V. & VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2015. Taxonomic revision of the Dichotomius speciosus (Waterhouse, 1891) species group (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae). Zootaxa 3986(5): 549-560. MARTÍNEZ, A. 1988. Notas sobre Eurysternus Dalman (Coleoptera, Scarabaeidae). Entomologia Basiliensia 12: 279304. MYERS, N.; MITTERMEIER, R.A.; MITTERMEIER, C.G; FONSECA, G.A.B. & KENT, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403: 853-858. MONAGHAN, M.T.; INWARD, D.J.G.; HUNT, T. & VOGLER, A.P. 2007. A molecular phylogenetic analysis of the Scarabaeinae (dung beetles). Molecular Phylogenetics and Evolution 45: 674-692. NORIEGA A., J.A. & CALLE, J.C. 2008. Consumption of Gustavia hexapetala (Aublet) Smith (Lecythidales: Lecythidaceae) by the dung beetle Eurysternus plebejus Harold (Coleoptera: Scarabaeidae). The Coleopterists Bulletin 62(4): 455-460. OCAMPO, F.C. & HAWKS, D.C. 2006. Molecular phylogenetics and evolution of the food relocation behaviour of the dung beetle tribe Eucraniini (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae). Invertebrate Systematics 20: 557-570. ÖZDIKMEN, H. 2009. Nomenclatural changes for five preoccupied scarab beetle genus group names (Coleoptera: Scarabaeidae). Munis Entomology & Zoology 4(1): 139-147. GEISE, L.; PEREIRA, L.G.; BOSSI, D.E.P. & BERGALLO, H.G. 2004. Pattern of elevational distribution and richness of non volant mammals in Itatiaia National Park and its surroundings, in southeastern Brazil. Brazilian Journal of Biology 64(3B): 599-612. PESSOA, S.B. & LANE, F. 1941. Coleópteros necrófagos de interesse médico-legal: ensaio monográfico sobre a família Scarabaeidae de S. Paulo e regiões vizinhas. Arquivos de Zoologia do Estado de São Paulo 2: 389-504. PHILIPS, T.K. 2016. Phylogeny of the Oniticellini and Onthophagini dung beetles (Scarabaeidae, Scarabaeinae) from morphological evidence. Zookeys 579: 9-57. PHILIPS, T.K.; PRETORIUS, E. & SCHOLTZ, C.H. 2004. A phylogenetic analysis of dung beetles (Scarabaeinae: Scarabaeidae): unrolling an evolutionary history. Invertebrate Systematics 18: 53-88. RIBEIRO, M.C., METZGER, J.P., MARTENSEN, A.C., PONZONI, F.J. & HIROTA, M. M. (2009) The Brazilian Atlantic Forest: how much is left, and how is the remaining forest distributed? Implications of conservation. Biological Conservation 142(6): 1141-1153. SCHOLTZ, C.H.; DAVIS, A.L.V. & KRYGER, U. 2009. Evolutionary biology and conservation of dung beetles. Pensoft

54

Publishers, Sofia. SILVA, F.A.B.; COSTA, C.M.Q.; MOURA, R.C. & FARIAS, A.I. 2010. Study of the dung beetle (Coleoptera: Scarabaeidae) community at two sites: Atlantic Forest and clear-cut, Pernambuco, Brazil. Environmental Entomology 39(2): 359-367. SILVA, P.G.S. & DI MARE, R.A. 2012. Escarabeíneos copro-necrófagos (Coleoptera, Scarabaeidae, Scarabaeinae) de fragmentos de Mata Atlântica em Silveira Martins, Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Série Zoológica 102(2): 197-205. SILVA, P.G.S. & HERNÁNDEZ, M.I.M. 2015. Spatial patterns of movement of dung beetle species in a tropical forest suggest a new trap spacing for dung beete biodiversity studies. PLoS ONE 10(5): 1-18. SILVA, P.G.S.; VAZ-DE-MELLO, F.Z. & DI MARE, R.A. 2011. Guia de identificação das espécies de Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) do município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Biota Neotropica 11(4): 331-345. SILVA, P.G.S.; VAZ-DE-MELLO, F.Z. & DI MARE, R.A. 2012. Attractiveness of different bait to the Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) in forest fragments in extreme southern Brazil. Zoological Studies 51(4): 429-441. SILVA, P.G.S.; VAZ-DE-MELLO, F.Z. & DI MARE, R.A. 2013. Diversity and seasonality of Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) in forest fragments in Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências 85(2): 679-697. SMITH, A.B.T. 2006. A review of the family-group names for the superfamily Scarabaeoidea (Coleoptera) with corrections to nomenclature and a current classification. Coleopterists Society Monograph 5: 144-204. TARASOV, S. & GÉNIER, F. 2015. Innovative bayesian and parsimony phylogeny of dung beetles (Coleoptera, Scarabaeidae, Scarabaeinae) enhanced by ontology-based partitioning of morphological characters. PLoS ONE 10(3): 186. VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2007. Revisión taxonómica y análisis filogenético de la tribu Ateuchini (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae). Tese de doutorado, Instituto de Ecologia, Xalapa. VAZ-DE-MELLO, F.Z.; EDMONDS, W.D.; OCAMPO, F.C. & SCHOOLMEESTERS, P. 2011. A multilingual key to the genera and subgenera of the subfamily Scarabaeinae of the New World (Coleoptera: Scarabaeidae). Zootaxa 2854: 1–73. VAZ-DE-MELLO, F.Z.; LOUZADA, J.N.C. & GAVINO, M. 2001. Nova espécie de Dichotomius Hope, 1838 (Coleoptera, Scarabaeidae) do Espírito Santo, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia 45(2): 99-102. VULCANO, M.A.; MARTÍNEZ, A. & PEREIRA, F.S. 1960. Eurysternini, nueva tribu de Scarabaeinae (Col. Scarabaeidae). Actas y Trabajos del Primer Congresso Sudamericano de Zoologia 3(4): 267-271. WILSON, E.O. 2002. The future of life. Knopf, New York. ZUNINO, M. 1983. Essai préliminaire sur l’évolution des armures genitales des Scarabaeinae, par rapport à la taxonomie du groupe et à l’évolution du comportement de nidification. Bulletin de la Société Entomologique de France 88(7-8): 531-542.

55

SAMPAIO, A.A. & MONNÉ, M.L. 2016. Inventário das espécies de Grammodesma Achard, 1923 (Coleoptera: Chrysomelidae: Chrysomelinae) ocorrentes no Parque Nacional do Itatiaia, Sudeste do Brasil. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 56-61.

INVENTÁRIO DAS ESPÉCIES DE Grammodesma ACHARD, 1923 (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE: CHRYSOMELINAE) OCORRENTES NO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL Aline Amanda Sampaio1,2 Marcela Laura Monné1 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apresentar um inventário das espécies de Grammodesma Achard, 1923 presentes no Parque Nacional do Itatiaia (PNI), uma das mais importantes áreas de conservação da Mata Atlântica do sudeste do Brasil. Foram estudados espécimes depositados em coleções entomológicas (Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro, e Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil), bem como os espécimes coletados por nós na área do parque. Como resultado, três espécies foram registradas como presente no PNI: G. luridipennis (Baly, 1859), G. elongata Bechyné de 1952 e G. obliqua (Stal, 1859). Uma chave de identificação para essas espécies é fornecida. Palavras-chave: chave de identificação; Chrysomelini; Mata Atlântica; Minas Gerais; Rio de Janeiro. ABSTRACT INVENTORY OF THE Grammodesma ACHARD, 1923 SPECIES (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE: CHRYSOMELINAE) OF PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SOUTHEASTERN BRAZIL The present work aims to present an inventory of the Grammodesma Achard, 1923 species present in the Parque Nacional do Itatiaia (PNI), one of the most important Atlantic Forest conservation areas of southeastern Brazil. We studied specimens deposited at entomological collections (Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro, and Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brazil) as well as specimens collected by us in the area of the park. As result, three species were recorded as present in the PNI: G. luridipennis (Baly, 1859), G. elongata Bechyné, 1952 e G. obliqua (Stal, 1859). An identification key for these species is given. Keywords: Atlant Forest; Chrysomelini; identification key; Minas Gerais; Rio de Janeiro.

___________________ 1 Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Autora correspondente: [email protected]. 56

INTRODUÇÃO

Coleoptera é a mais rica e variada ordem da classe Insecta, com aproximadamente 392 mil espécies descritas, incluindo quase três mil extintas (SLIPINSKI et al., 2011), correspondendo a cerca de 40% do total de insetos e 30% dos animais descritos. Na Região Neotropical, são conhecidas 127 famílias, 6.703 gêneros e 72.476 espécies (COSTA, 2000). A ordem dos besouros distingue-se facilmente das demais por apresentar o primeiro par de asas modificado em élitros, protegendo o segundo par de asas membranosas (GALLO et al., 2002). A família Chrysomelidae inclui entre 37.000 e 40.000 espécies descritas. Apresentam a forma do corpo muito variada, de esférica a hemisférico, e às vezes, achatada com élitros expandidos em forma de escudo. Caracterizam-se por apresentar cabeça sem rostro e com suturas gulares separadas; antenas formadas por 9 ou 11 artículos; élitros geralmente completos, expondo 1-2 tergitos em algumas espécies (JOLIVET & VERMA, 2002). A subfamília Chrysomelinae apresenta 3.000 espécies e 132 gêneros (JOLIVET & VERMA, 2002). WILCOX (1975) citou para as Américas 368 espécies e 25 gêneros. Diferencia-se das demais subfamílias por possuir o corpo oval-convexo e coloração com tonalidades iridescentes; élitros geralmente apresentam listras longitudinais ou manchas regulares e irregulares; terceiro segmento tarsal geralmente não bilobado (BURGOS-SOLORIO & ANAYA-ROSALES, 2004). O gênero Grammodesma Achard, 1923 pertence a tribo Chrysomelini (BOUCHARD et al., 2011), e atualmente apresenta 31 espécies registradas para o Brasil. Distinguem-se dos demais gêneros de Chrysomelinae pelos palpos maxilares com artículo apical mais curto do que o anterior; processo prosternal projetado e com encaixe no mesosterno; élitros pontuados; metacoxas distantes entre si; garras tarsais simples, não fusionadas na base (BLACKWELDER, 1946). O Parque Nacional do Itatiaia (PNI) está localizado no sudeste do estado do Rio de Janeiro, nos municípios de Resende e Itatiaia; e ao sul de Minas Gerais, envolvendo os municípios de Alagoa, Bocaina de Minas e Itamonte (IBDF, 1982). O PNI abrange vegetação típica do bioma Mata Atlântica, com forte gradiente altitudinal. Em áreas de mais baixa altitude, a floresta densa predomina, com alta diversidade e abundância de fauna e flora; com o aumento de altitude, por sua vez, esta vegetação é progressivamente substituída por vegetação rasteira resistente ao frio intenso típica de Campos de Altitude. Em toda a sua área, o PNI abrange cerca de 5.000 espécies de insetos, 350 de aves e 50 de mamíferos, além de inúmeros répteis e anfíbios (ICMBIO, 2010). ZIKÁN & ZIKÁN (1967) registraram 76 espécies de Chrysomelinae para o PNI, com 23 gêneros listados para essa subfamília, incluindo Grammodesma, com três espécies: G. circuita (Stal, 1859), G. impuncticollis (Stal, 1859) e G. obliqua (Stal, 1859). Tais espécies podem ser encontradas numa altitude que varia de 700 a 1960m. 57

As informações sobre a fauna de Chrysomelinae do estado do Rio de Janeiro são escassas, o que representa uma grande lacuna no conhecimento entomológico da região. Então, visando remediar parte deste problema, este trabalho tem como meta o levantamento e chave de identificação para as espécies de Grammodesma Achard ocorrentes no PNI.

MATERIAL E MÉTODOS

O material estudado é proveniente da coleção de Coleoptera do Departamento de Entomologia do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MNRJ), e da coleção entomológica do Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro (CEIOC). A coleta manual foi o principal meio de obtenção dos espécimes, e quando necessário, utilizou-se o auxílio de guarda-chuva entomológico e rede entomológica. As identificações foram feitas com auxílio das descrições originais e comparação com material já identificado por especialista. As fotografias em vista dorsal, lateral e ventral dos exemplares foram realizadas com câmera Nikon D90 de lente macro Sigma 1500mm. Os termos utilizados na chave de identificação são aqueles comumente utilizados para Chrysomelinae (JOLIVET & VERMA, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo ZIKÁN & ZIKÁN (1967), o gênero Grammodesma apresenta três espécies: G. circuita (Stal, 1859), G. impuncticollis (Stal, 1859) e G. obliqua (Stal, 1859) no PNI. No entanto, as duas primeiras espécies foram transferidas para Grammomades Achard, 1923. Após as visitas feitas às coleções citadas, dois novos registros de Grammodesma – G. elongata Bechné, 1952 e G. luridipennis (Baly, 1859) – para o PNI foram acrescidos (Quadro 1).

Quadro 1. Espécies de Grammodesma ocorrentes no Parque Nacional do Itatiaia, RJ (*novos registros).

Tribo 1 Chrysomelini 2 Chrysomelini 3 Chrysomelini

Espécies

N° de Instituição exemplares Grammodesma elongata Bechyné, 1952* 1 MNRJ Grammodesma luridipennis (Baly, 1859) * 8 MNRJ Grammodesma obliqua (Stal, 1859) 1 CEIOC

58

Chave de identificação para as espécies de Grammodesma Achard, 1923 do Parque Nacional do Itatiaia:

1 - Cabeça e pronoto pretos com brilho metálico; vértice com depressão marrom-avermelhada; sutura genofrontal ausente; clípeo com um par de fóveas; pronoto com depressão e pontuação grossa; escutelo arredondado no ápice; escutelo e élitros marrom-avermelhados; élitro sem manchas e com estrias; pontuação elitral não contrastante; processo prosternal não dilatado na base e com depressão mediana no ápice.................................................................. Grammodesma luridipennis (Figuras 1-3).

1

2

3

Figuras 1-3. Grammodesma luridipennis (Baly, 1859). 1, vista dorsal. 2, vista ventral. 3, cabeça e pronoto.

- Cabeça e pronoto pretos ou castanho-claros; vértice sem depressão; sutura genofrontal presente; clípeo sem fóveas; pronoto sem depressão e com pontuação fina; escutelo triangular, preto ou marrom; élitro sem estrias, castanho com manchas e pontos pretos ou marrons; pontuação elitral contrastante; processo prosternal dilatado na base e sem depressão mediana no ápice ................... 2 2 - Cabeça e pronoto castanho-claros; margens do pronoto com iridescência verde; escutelo, manchas e pontuações elitrais marrons; élitro ligeiramente alargado para trás e com declínio acentuado na região posterior, mais visível em vista lateral; terço anterior de cada élitro com mancha em “ziguezague”, estendendo-se até a sutura elitral; quatro faixas paralelas interrompidas, no terço posterior de cada

élitro;

região

anterior

do

processo

prosternal,

em

vista

lateral,

anguloso..................................................................................Grammodesma elongata (Figuras 4-6).

59

4

5

6

Figuras 4-6. Grammodesma elongata Bechyné, 1952. 4, vista dorsal. 5, vista ventral. 6, vista lateral.

- Cabeça e pronoto pretos; margens do pronoto sem iridescência verde; escutelo, manchas e pontuações elitrais pretos; élitro não alargado para trás e com declínio pouco acentuado na região posterior, mais visível em vista lateral; macha transversal no terço basal do élitro, alargando-se gradativamente até a sutura elitral, se estendendo por toda a margem sutural; linha transversal oblíqua no terço posterior do élitro; região anterior do processo prosternal, em vista lateral, curvo ...................... ..................................................................................................... Grammodesma obliqua (Figuras 7-9).

7

8

9

Figuras 7-9. Grammodesma obliqua (Stal, 1859). 7, vista dorsal. 8, vista ventral. 9, cabeça e pronoto.

60

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao curador da coleção entomológica Márcio Felix (CEIOC) pela inestimável colaboração com o empréstimo de material, e ao Prof. Miguel A. Monné pelas sugestões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLACKWELDER, R.E. 1946. Checklist of the Coleopterous Insects of Mexico, Central America, the West Indies and South America. Part 6. Bulletin of the United States National Museum 185: 667-679. BOUCHARD, P.; BOUSQUET, Y.; DAVIES, A.E.; ALONSO-ZARAZAGA, M.A.; LAWRENCE, J.F.; LYAL, C.H.C.; NEWTON, A.F.; REID, C.A.M.; SCHMITT, M.; ŚLIPIŃSKI, A.S. & SMITH, A.B.T. 2011. Family-group names in Coleoptera (Insecta). ZooKeys 88: 519-522. BURGOS-SOLORIO, A. & ANAYA-ROSALES, S. 2004. Los crisomelinos (Coleoptera: Chrysomelidae: Chrysomelinae) del estado de Morelos. Acta Zoológica Mexicana 20: 39-66. COSTA, C. 2000. Estado de conocimento de los Coleoptera neotropicales. In: MARTÍN-PIERA, F.; MORRONE, J.J. & MELIC, A. (eds.) Hacia um proyecto Cyted para el Inventário y Estimatión de la Diversidad Entomológica em Iberoamérica: PrIBES 2000. m3m-Monografías Tercer Milenio, vol. 1, Sociedad Entomológica Aragonesa (SEA), Zaragoza. GALLO, D.; NAKANO, O.; WIENDL, F.M.; SILVEIRA NETO, S. & CARVALHO, R.P.L. 2002. Entomologia agrícola. Ceres, Piracicaba. IBDF (INSTITUTO BRASILEIRO DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL). 1982. Plano de manejo do Parque Nacional de Itatiaia. Brasília. ICMBIO (INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE). 2010. Plano de manejo do Parque Nacional de Itatiaia. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/quem-somos.html. Acesso em: 14 de agosto de 2015. JOLIVET, P. & VERMA, K.K. 2002. Biology of leaf beetles. Intercept Limited, Hampshire. SLIPINSKI, S.A., LESCHEN, R.A.B. & LAWRENCE, J.F. 2011. Order Coleoptera Linnaeus, 1758. In: Zhang, Z-Q. (ed.), Animal biodiversity: an outline of higher-level classification and survey of taxonomic richness. Zootaxa 3148: 203–208. WILCOX, J. A. 1975. Checklist of the beetles of North and Central America and the West Indies. Family 129. Flora and Fauna Publications. Gainesville. ZIKÁN, J.F. & ZIKÁN, W. 1967. A inseto fauna do Itatiaia e da Mantiqueira. Revista Brasileira de Entomologia 12: 118154.

61

CAMPOS et al. 2016. Redescrição da fêmea de Planicephalus flavicosta (Stål, 1862) (Hemiptera: Cicadellidae). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 62-69.

REDESCRIÇÃO DA FÊMEA DE Planicephalus flavicosta (STÅL, 1862) (HEMIPTERA: CICADELLIDAE) Mariana Freire Campos1,4 Virgínia Codá2 Luci Boa Nova Coelho3 Elidiomar Ribeiro Da-Silva2 RESUMO Planicephalus Linnavuori, 1954 foi originalmente descrito como subgênero de Deltocephalus Burmeister, 1838 e é um gênero atualmente composto por onze espécies. A redescrição da fêmea de Planicephalus flavicosta (Stål, 1862) foi baseada em exemplares procedentes do município de Itaguaçu, Estado do Espírito Santo, com foco na genitália. Até então, a fêmea era reconhecida apenas por seu padrão de coloração, semelhante ao do macho, e pela aparência do sétimo esternito. Embora amplamente distribuída pelo Brasil e pelo continente americano, este é o primeiro registro de P. flavicosta para o estado. Palavras-chave: cigarrinha; Deltocephalini; sudeste do Brasil; taxonomia. ABSTRACT REDESCRIPTION OF THE FEMALE OF Planicephalus flavicosta (STÅL, 1860) (HEMIPTERA: CICADELLIDAE) Planicephalus Linnavuori, 1954 was originally described as a subgenus of Deltocephalus Burmeister, 1838 and is now a genus composed of eleven species. The redescription of the female of Planicephalus flavicosta Stål, 1862 was based on specimens from the municipality of Itaguaçu, state of Espírito Santo, focusing on genitals. Until then, the female was only recognized for its staining pattern, similar to the male, and for the seventh sternite appearance. Despite being widely distributed throughout Brazil and the Americas, this is the first record of P. flavicosta for the state. Keywords: Deltocephalini; leafhopper; southeastern Brazil; taxonomy.

___________________ 1 Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 4 Autor correspondente: [email protected]. 62

INTRODUÇÃO

O gênero Planicephalus Linnavuori, 1954 (Deltocephalinae: Deltocephalini) foi originalmente descrito como um subgênero de Deltocephalus Burmeister, 1838. KRAMER (1971) elevou seu status a gênero, o qual é, atualmente, formado por onze espécies. Planicephalus flavicosta (Stål, 1862) é uma cigarrinha amplamente distribuída pelo continente americano. No Brasil, apresenta registros no Amazonas, Roraima, Rondônia, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás (CAVICHIOLI & ZANOL, 1991; MEJDALANI et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2013). Abundante em ervas daninhas associadas às culturas de trigo, aveia e milho, P. flavicosta foi registrada como vetor de fitoplasmas (OLIVEIRA et al., 2013), e MCDV (maize chlorotic dwarf waikavirus) em milho anão (LOPES et al., 1994). A espécie é conhecida principalmente por características do macho, sendo a fêmea reconhecida por seu padrão de coloração, semelhante ao do macho, e pela aparência do sétimo esternito, o qual KRAMER (1971) considerou idêntico ao de P. flavocostatus (Van Duzee, 1892), de ocorrência nos Estados Unidos. Com base em exemplares procedentes do Estado do Espírito Santo, Sudeste do Brasil, o presente trabalho redescreve a fêmea de P. flavicosta, fornecendo pela primeira vez detalhes acerca das estruturas genitais externas e internas. A espécie é pela primeira vez registrada para o território capixaba.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi feito com base em exemplares procedentes do município de Itaguaçu, região central do Estado do Espírito Santo. Os exemplares encontram-se depositados no Museu Regional de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Minas Gerais. A técnica para preparação das peças genitais seguiu OMAN (1949). A extremidade do abdome dos exemplares foi retirada e diafanizada em hidróxido de potássio (em banho maria), logo após as peças foram destacadas, colocadas em lâmina escavada com glicerina P.A. e observadas sob estereomicroscópio e microscópio óptico, conforme procedimento corriqueiro para estudos taxonômicos de Cicadellidae. A genitália foi estocada em um tubo de vidro contendo glicerina, alfinetado junto com o exemplar. As fotografias foram realizadas por meio de uma câmera digital acoplada a estereomicroscópio e a microscópio óptico, usando-se posteriormente o programa gratuito CombineZP® para compor imagens multifocadas. As fotografias foram editadas utilizando-se o programa Adobe Photoshop CC®. A terminologia descritiva seguiu YOUNG (1977), exceto quanto à terminália (BALDUF, 1934; BLOCKER & TRIPLEHORN, 1985). 63

RESULTADOS E DISCUSSÃO Planicephalus flavicosta (Stal, 1862) – Redescrição da fêmea (Figuras 1-13)

Tamanho: 3,0-3,5 mm. Padrão de coloração similar ao do macho (LINNAVUORI, 1959). Cabeça triangular, coloração castanho-escura a negra, com manchas amarelas e brancas (Figuras 1-3); margem anterior pouco produzida medianamente, com mancha mediana branca; coroa uma mancha branca atrás de cada ocelo, outra próxima à margem posterior, entre o ocelo e a linha mediana, e uma bem menor na margem posterior, próxima ao olho; linha mediana marcada por castanho-avermelhado, com uma mancha branca, a cada lado, na margem posterior e outra próxima ao ápice da coroa, também branca; larga faixa amarela de contorno sinuoso, ligando a mancha branca, situada atrás de cada ocelo, àquela lateral à linha mediana; margem posterior com fina faixa também amarela; largura máxima interocular cerca de 4 vezes o comprimento mediano, que é de cerca de 0,6 vezes a largura máxima interocular; fronte com seis pares de arcos, uma faixa longitudinal central e uma mancha superior circular, todas amarelas. Pronoto castanho, com uma mancha amarela, de contorno irregular, próxima à margem anterior, a cada lado da linha mediana, e três manchas brancas circulares atrás de cada olho; cinco faixas longitudinais amareladas, a central coincidindo com a linha mediana (Figuras 1-2); largura máxima do pronoto cerca de 0,9 vezes a largura máxima da coroa. Escutelo com triângulos basais castanho-escuros ladeados por manchas amarelas e uma mancha circular castanha, a cada lado da linha mediana. Espinhos tarsais escurecidos basalmente. Asa anterior castanha, translúcida, veias amarelo-pálidas, contornadas de castanho-escuro esfumaçado, células apicais castanho-escuras; metade basal da margem costal amarela; margem apical amareloesbranquiçada. Asa posterior com veias castanhas.

Figura 1. Planicephalus flavicosta – fêmea (vista laterodorsal).

64

Sétimo esternito (Figuras 4-5) com metade apical mais estreita em relação à metade basal, margem apresentando dois lobos laterais e dois menores, medianos; uma dobra semicircular limitando a área entre os ápices dos lobos laterais; área semicircular elevada, manchada de castanho, até próximo à margem posterior; largura máxima cerca de 2,5 o comprimento mediano. Pigóforo (Figuras 4, 6) com formato aproximadamente ovoide e coloração castanho-escura com margens ventrais amarelas, área amarelada semi-circular do terço mediano da margem ventral à região central; cerdas amarelas esparsamente distribuídas próximas à margem ventral e com maior concentração na região ventro-posterior, apresentando cerdas por toda a região posterior. Primeiro valvífero (Figura 7) de formato ovoide-triangular, com dois conjuntos de cerdas pequenas e robustas. Válvula I (Figuras 7-8) com comprimento cerca de 7,5 vezes a largura máxima; ápice agudo, curvado dorsalmente; esculturações circulares dorsais ocupando aproximadamente dois terços da válvula na porção apical, também encontrados ventralmente, próximas à base, ocupando um quinto da margem; haste localizada na metade da válvula, desembocando subapicalmente na margem dorsal. Válvulas II (Figuras 9-11) delicadas e fortemente fusionadas uma à outra; margem irregularmente denteada, com alternância de dentes de dois tamanhos básicos; poro próximo à base de cada dente de tamanho maior iniciando dutos em direção ao interior da peça. Segundo valvífero (Figura 12) com cerdas espiniformes na margem ventral, próximas ao ponto de inserção na válvula III, e também um conjunto de cerdas medianas. Válvula III (Figuras 12-13) com cerdas espiniformes por toda a margem ventral e no ápice da margem dorsal, com cerdas maiores esparsamente distribuídas entre elas; comprimento cerca de 7,5 vezes a largura máxima. Material estudado – BRASIL, Espírito Santo, município de Itaguaçu, 07/III/2013, M.C. Velez col., 4 fêmeas (UFV).

Figura 2. Planicephalus flavicosta – fêmea. Cabeça, tórax e base das asas anteriores (vista dorsal).

65

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela primeira vez são descritos os detalhes da genitália das fêmeas, especialmente as válvulas do ovipositor de Planicephalus flavicosta. O sétimo esternito lembra os de P. christinae Zanol, 1998 e P. equatorianus Zanol, 1998 (cf. ZANOL, 1998), pela presença de uma mancha central posterior, mas pode ser diferenciada pela margem posterior, que é truncada no caso dessas duas espécies. De maneira geral, as peças do ovipositor são semelhantes às do gênero Deltocephalus e da tribo Doraturini. A válvula I lembra a de Chiasmus Mulsant & Rey, 1855 (Chiasmusini) e a válvula II, a de Divus Distant, 1908 (Drabescini) e de Selenocephalini (cf. HILL, 1970).

Figura 3. Planicephalus flavicosta – fêmea. Cabeça e parte do tórax (vista ventral).

Figura 4. Planicephalus flavicosta – fêmea. Extremidade posterior do abdome (vista ventral).

66

De acordo com DA-SILVA & COELHO (2015), é imperativo que se tente descrever, com o maior detalhamento possível, a genitália das fêmeas de Cicadellidae. Isso pode ser extremamente útil no levantamento de características taxonômicas relevantes para a diferenciação entre as espécies, o que é fundamental para os estudos faunísticos e de estudo da biodiversidade.

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Paulo Sérgio Fiuza Ferreira (UFV) e ao Dr. David dos Santos Martins (INCAPER), pela disponibilização dos exemplares.

Figura 5. Planicephalus flavicosta – fêmea. Sétimo esternito (vista ventral).

Figura 6. Planicephalus flavicosta – fêmea. Pigóforo (vista lateral).

Figura 7. Planicephalus flavicosta – fêmea. Primeiro valvífero e válvula I (vista lateral).

67

Figura 8. Planicephalus flavicosta – fêmea. Ápice da válvula I (vista lateral).

Figura 9. Planicephalus flavicosta – fêmea. Válvula II (vista lateral).

Figura 10. Planicephalus flavicosta – fêmea. Ápice da válvula II (vista lateral).

Figura 11. Planicephalus flavicosta – fêmea. Detalhe dos dentes da margem dorsal da válvula II (vista lateral).

68

Figura 12. Planicephalus flavicosta – fêmea. Segundo valvífero e válvula III (vista lateral).

Figura 13. Planicephalus flavicosta – fêmea. Ápice da válvula III (vista lateral).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALDUF, W.V. 1934. The taxonomic value of ovipositors in some Empoasca species (Homoptera, Cicadellidae). Annals Entomological Society of America 27: 293-310. BLOCKER, H.D. & TRIPLEHORN, B.W. 1985. External morphology of leafhoppers. In: NAULT, L.R. & RODRIGUEZ, J.G. (eds.), The leafhoppers and planthoppers. John Wiley & Sons, New York. CAVICHIOLI, R.R. & ZANOL, K.M.R. 1991. Espécies de Cicadellinae, Deltocephalinae (Homoptera, Cicadellidae) da Ilha de Maracá, Roraima. Acta Amazônica 21: 55-61. DA-SILVA, E.R. & COELHO, L.B.N. 2015. Descrição da fêmea de Curtara (Labata) ushima Coelho & Da-Silva, 2012 (Insecta: Hemiptera: Cicadellidae). Enciclopédia Biosfera 11(21): 2015-2157. HILL, B.G. 1970. Comparative morphological study of selected higher categories of leafhoppers (Homoptera: Cicadellidae). Tese de Doutorado, North Carolina State University. KRAMER, J. 1971. North american deltocephaline leafhoppers of the genus Planicephalus with new generic segregates from Deltocephalus (Homoptera, Cicadellidae). Proceedings of the Entomological Society of Washington 73(3): 255-268. LINNAVUORI, R. 1959. Revision of the Neotropical Deltocephalinae and some related subfamilies (Homoptera). Annales Zoologici Societatis Zoologicae Botanicae Fennicae “Vanamo” 20(1): 1-370. LOPES, J.R.S.; NAULT, L.R. & GINGERY, R.E. 1994. Leafhopper transmission and host plant range of Maize chlorotic dwarf waikavirus strains. Phytopathology 84: 876-882. MEJDALANI, G.; COELHO, L.B.N.; GONÇALVES, A.C.; CARVALHO, R.A.; RODRIGUES, L.G.N.; COSTA, L.A.A.; FELIX, M. & DA-SILVA, E.R. 2010. Espécies de cigarrinhas (Hemiptera, Membracoidea, Cicadellidae) registradas no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Arquivos do Museu Nacional 67(3-4): 155–171. OLIVEIRA, C.M.; OLIVEIRA, E.; SOUZA, I.R.P.; ALVES, E.; DOLEZA, W.; PARADELL, S.; REMES LENICOV, A.M.M. & FRIZZAS, M.R. 2013. Abundance and species richness of leafhoppers and planthoppers (Hemiptera: Cicadellidae and Delphacidae) in Brazilian maize crops. Florida Entomologist 96(4): 1470-1481. OMAN, P.W. 1949. The Nearctic leafhoppers (Homoptera: Cicadellidae). A generic classification and check list. Memoirs of the Entomological Society of Washington 3: 1–253. YOUNG, D.A. 1977. Taxonomic study of the Cicadellinae (Homoptera: Cicadellidae). Part 2. New World Cicadellini and the genus Cicadella. Bulletin of North Carolina Agricultural Experiment Station 239: 1–1135. ZANOL, K.M.R. 1998. Planicephalus Linnavuori, 1954 (Homoptera, Cicadellidae, Deltocephalinae) descrição de três espécies novas. Acta Biologica Paranaense 27(1-4): 67-74.

69

MOREIRA JR, D. & MAIA, V.C., 2016. Primeiro registro do gênero Leptogaster Meigen (Diptera: Asilidae) no Estado do Rio de Janeiro e sua abundância na Reserva Biológica da União (RJ, Brasil). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 70-76.

PRIMEIRO REGISTRO DO GÊNERO Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA: ASILIDAE) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E SUA ABUNDÂNCIA NA RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRASIL) Danilo Moreira Junior1,2 Valéria Cid Maia1 RESUMO Os Asilidae são uma família de dípteros predadores, com pernas fortes e hipofaringe perfuradora bastante desenvolvida. Este trabalho visa contribuir para o conhecimento da ocorrência e abundância do gênero Leptogaster no Estado do Rio de Janeiro. No período de janeiro de 2013 a março de 2014, foram realizadas coletas com rede entomológica e armadilha Malaise, em três trilhas da reserva Biológica da União, região de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Foram coletados 520 indivíduos de Asilidae. Verificou-se maior abundância do gênero Leptogaster, com 61,34% do número total de espécimes coletados (319 indivíduos). A razão sexual observada foi de aproximadamente 1:1. Foi encontrado um maior número de exemplares nos meses de primavera e verão, como esperado para a maioria dos insetos. Verificou-se a maior abundância de indivíduos na trilha mais larga e próxima à rodovia, o que sugere que Leptogaster é um gênero bem adaptado a condições ambientais alteradas. Palavras-chave: distribuição; Mata Atlântica; moscas assassinas. ABSTRACT FIRST RECORD OF THE GENUS Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA: ASILIDAE) IN RIO DE JANEIRO STATE AND THEIR ABUNDANCE IN RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRAZIL) The Asilidae are a family of dipteran predators, with strong legs and well developed drill shape hypopharynx. This paper aims to contribute to the knowledge of occurrence and abundance of Leptogaster in Rio de Janeiro. During the period of one year and two months between January 2013 and March 2014, insects were collected using entomological nets and Malaise traps along three trails of the Reserva Biológica da União, an area of Atlantic Forest in the state of Rio de Janeiro. 520 specimens of Asilidae were collected. Among them, Leptogaster was the most abundant genus, with 61.34% of the total number of specimens (319 specimens). Sexual rate was approximately about 1:1. The number of specimens was greater in the spring and summer than in the other seasons, as expected for the most insects. There was a higher abundance of specimens in the wider and closer to the highway trail, suggesting that the genus Leptogaster is well adapted to the modified environmental conditions. Keywords: distribution; Atlantic Forest; robber flies. ___________________ 1 Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20.940-040 Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2 Autor correspondente: [email protected]. 70

INTRODUÇÃO

Os Asilidae são moscas cujos adultos e larvas são predadores de outros insetos. Os adultos são facilmente reconhecidos pelo vértice aprofundado entre os olhos, face pilosa, hipofaringe perfuradora e fortemente desenvolvida, tórax robusto e pernas fortes. Formam uma das mais diversificadas famílias de Diptera, com distribuição cosmopolita. Incluem mais de 7.000 espécies conhecidas em cerca de 530 gêneros. Na Região Neotropical, existem cerca de 1.576 espécies distribuídas em 217 gêneros (GELLER-GRIMM, 2015). O gênero Leptogaster Meigen, 1803, pode ser reconhecido por ter tamanho não superior a 20 mm, estreitamento na região das antenas e fronte mais larga que o vértice (Figura 1), nervura A1 normalmente muito maior que a célula bm e o ápice desta separada da base da célula m3 pela veia tronco (Figura 2). Com distribuição geográfica mundial, esse gênero inclui 254 espécies descritas. No Brasil, de acordo com PAPAVERO (2009), Leptogaster tem ocorrência registrada nos estados do Amazonas, Pará, Santa Catarina e São Paulo.

OBJETIVO

Este trabalho visa contribuir para o conhecimento da ocorrência do gênero Leptogaster no Estado do Rio de Janeiro, através do estudo de sua abundância espacial e temporal na Reserva Biológica da União.

Figura1. Cabeça de Leptogaster (Asilidae).

71

Figura2. Asa de Leptogaster (Asilidae).

MATERIAL E MÉTODOS

Local de estudo: Reserva Biológica da União Com cerca de três mil hectares e situada na mesorregião das baixadas litorâneas fluminenses, a Reserva Biológica da União está localizada nas coordenadas S 22°25'35", W 42°2'4" no norte fluminense e guarda elementos primários da flora e da fauna, e a maior riqueza e diversidade vegetal entre todos os remanescentes de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro (Figura 3).

Figura 3. Mapa indicando a localização da Reserva Biológica da União, RJ.

72

A reserva abrange os municípios de Rio das Ostras (53%), Casimiro de Abreu (46%) e Macaé (1%) e conserva rica fauna, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas como a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus Desmarest, 1816), a jaguatirica (Leopardus pardalis Linnaeus, 1758), onça-parda (Felis concolor Linnaeus, 1771), além de ser conhecida por abrigar uma das maiores populações silvestres de mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia Linnaeus, 1766). Foram feitas coletas bimestrais em três trilhas: Buracão (Figura 4), Interpretativa (Figura 5) e Três Pontes (Figura 6), com cinco dias de duração cada, durante o período de janeiro de 2013 a março de 2014, utilizando-se rede entomológica. Na primeira expedição, foram colocadas armadilhas do tipo Malaise, uma por trilha, exceto na última, onde foram colocadas duas armadilhas: uma próxima à linha férrea e a outra a cerca de três quilômetros do início da trilha, próxima a um lago. O conteúdo de todas as armadilhas foi recolhido mensalmente e transportado para o laboratório de Diptera do Museu Nacional/UFRJ, onde se procedeu a triagem. Os espécimes de Asilidae foram montados em alfinetes entomológicos, identificados em gênero com base na chave de FISHER (2009), utilizando-se estereomicroscópio, etiquetados e depositados na coleção de Diptera do Museu Nacional (MNRJ). Fotos dos exemplares foram feitas com uso de microscópio Leica MZ16 utilizando-se o programa Auto Montage Pro by Syncroscopy.

Figura 4. Trilha Buraco.

Figura 5. Trilha Interpretativa.

Figura 6. Trilha Três Pontes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 520 exemplares de Asilidae distribuídos em 20 gêneros, sendo Leptogaster o mais abundante, com 61,34% do total (Figura 7). Na trilha Buracão, foi verificado um maior número de indivíduos do gênero Leptogaster (n= 193), ao passo que nas trilhas Três Pontes/lago, Três Pontes/ferrovia e Interpretativa, os totais foram 63, 36 e 17, respectivamente. Vale a pena ressaltar que 60,50% dos exemplares coletados foram encontrados na primeira trilha (Figura 8). O número total de fêmeas coletadas foi um pouco maior do que o número de machos (160 e 149, respectivamente). Apenas na trilha Buracão, as fêmeas se apresentaram em maior número: 107 fêmeas e 86 machos, 73

o que representa respectivamente 55,44% e 44,55% de valores percentuais da trilha. Já nas trilhas, Três Pontes/lago, Três Pontes/ferrovia e Interpretativa os machos foram mais abundantes. Os números absolutos e valores percentuais para fêmeas e machos foram respectivamente: 30 (47,61%) e 33 (52,38%); 16 (44,44%) e 20 (55,55%); 07 (41,17%) e 10 (58,82%) (Figura 9).

Figura 7. Abundância do gênero Leptogaster (Asilidae) na Reserva Biológica União, RJ.

Como pode ser observado, as diferenças na razão sexual não foram significativas. Por fim, 10 espécimes não puderam ter o sexo identificado, por estarem muito danificados, e foram excluídos deste estudo (3,15% do total). No período de 26/09/2013 a 27/01/2014 foi coletado um número significativamente maior de indivíduos (69,27%) do que no período de 28/01/2013 a 25/10/2013 (Figura 10) mostrando que o gênero Leptogaster apresentou maior abundância na primavera e nos dois primeiros meses do verão do que no final do verão e no outono e inverno, o que ocorre com a maioria dos insetos (FORATTINI, 1962).

Figura 8: Número de indivíduos de Leptogaster (Asilidae) por trilha na Reserva Biológica da União, RJ.

74

Figura 9. Porcentagem de machos e fêmeas de Leptogaster (Asilidae) por trilha na Reserva Biológica da União, RJ.

Figura10: Número de exemplares de Leptogaster (Asilidae) coletados no período de janeiro de 2013 a março de 2014 na Reserva Biológica da União, RJ.

A trilha com maior abundância de representantes do gênero Leptogaster é a mais antropizada, sendo mais larga que as demais, com maior movimentação de veículos e também mais próxima da BR 101, indicando uma provável adaptação desta mosca a condições ambientais mais alteradas. Diferença não significativa na razão sexual entre machos e fêmeas já era esperada, uma vez que na maioria das espécies com reprodução sexuada e sem partenogênese, a razão sexual é aproximadamente de 1:1 (FISHER, 1930). Trata-se do primeiro registro de Leptogaster no Estado do Rio de Janeiro, gênero assinalado anteriormente apenas para os estados de São Paulo (Região Sudeste), Amazonas, Pará (Região Norte) e Santa Catarina (Região Sul). 75

CONCLUSÕES

- Leptogaster é um gênero presente no Estado do Rio de Janeiro e abundante na Reserva Biológica da União, representando o gênero de Asilidae com maior número de exemplares. - A trilha mais antropizada foi também a que apresentou maior abundância de exemplares de Leptogaster, indicando adaptabilidade do gênero a condições ambientais mais alteradas. - Não houve diferenças significativas na proporção sexual do gênero Leptogaster na Reserva Biológica da União. - Nos meses de primavera e verão foi encontrado um maior número de exemplares do gênero.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GELLER-GRIMM, F. 1999. Information on Robber Flies - Introduction. Disponível em: http://www.gellergrimm.de/asilidae.htm. Acesso em: 18 de agosto 2015. FISHER, E.M. 2009. Asilidae (robber flies, assassin flies, moscas cazadoras, moscas ladronas). In: BROWN, B.V.; BORKENT, A.; CUMMING, J.M.; WOOD, D.M.; WOODLEY, N.E. & ZUMBADO M. (eds.), Manual of Central American Diptera: volume 1. NRC Research Press, Ottawa. FISHER, R.A. 1930. The Genetical Theory of Natural Selection, Clarendon Press, Oxford. FORATTINI, O.P. 1962. Entomologia médica. Faculdade de Higiene e Saúde Pública, São Paulo. PAPAVERO, N.; ARTIGAS, J.N. & LAMAS, C.J.E. 2009. Manual of Neotropical Diptera. Asilidae. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

76

CAMPOS, T.R.M. et al. 2016. Flutuação populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920 (Ephemeroptera: Polymitarcyidae) na Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 77-83.

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Campsurus truncatus ULMER, 1920 (EPHEMEROPTERA: POLYMITARCYIDAE) NA MATA DO PARAÍSO, VIÇOSA, MINAS GERAIS Thiago Rodas Müller de Campos1,4 Elidiomar Ribeiro Da-Silva1 Aline Fernandes Baffa1 Luci Boa Nova Coelho2 Paulo Sérgio Fiuza Ferreira3 RESUMO A partir de coletas realizadas em uma reserva florestal de Viçosa, Estado de Minas Gerais, foram estudados aspectos da biologia populacional de Campsurus truncatus. Em 28 meses de coleta, foram obtidos 5.996 exemplares. Os maiores valores de abundância foram obtidos em fevereiro, abril e outubro. Foi verificada a correlação significativa positiva dos valores populacionais com velocidade do vento, evaporação, precipitação, quantidade de dias de chuva, temperatura e nebulosidade, e negativa com pressão atmosférica e insolação. Palavras-chave: autoecologia; efemérida; Floresta Atlântica; Região Neotropical. ABSTRACT POPULATIONAL FLUCTUATION OF Campsurus truncatus ULMER, 1920 (EPHEMEROPTERA: POLYMITARCYIDAE) IN MATA DO PARAÍSO, VIÇOSA, MINAS GERAIS STATE From surveys carried out in a forest reserve of Viçosa, Minas Gerais State, we studied aspects on population biology of Campsurus truncatus. In 28 months of collects, 5,996 specimens were obtained. The greatest abundance values were obtained in February, April and October. It was observed a significant positive correlation of population values with wind speed, evaporation, precipitation, number of days of rain, temperature and cloud cover, and negative with air pressure and insolation. Keywords: Atlantic forest; autecology; mayfly; Neotropics.

___________________ 1 Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 Museu Regional de Entomologia, Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil. 4 Autor correspondente: [email protected]. 77

INTRODUÇÃO

Os integrantes da ordem Ephemeroptera são notáveis por passarem a maior parte de sua existência como formas imaturas aquáticas, chamadas náiades, enquanto os adultos sobrevivem por tempo suficiente apenas para a concretização do processo reprodutivo (EDMUNDS JR et al., 1976). Devido a breve existência imaginal, não é incomum que alguns grupos promovam voos nupciais, às vezes de grande magnitude (DA-SILVA & SALLES, 2012). É o que ocorre com o gênero Campsurus Eaton, 1868 (Polymitarcyidae), comumente encontrado por todo o Brasil (PEREIRA & DA-SILVA, 1991; MOLINERI et al., 2015). A partir de coletas com armadilha luminosa, realizadas na Mata do Paraíso, uma reserva florestal vinculada à Universidade Federal de Viçosa, Estado de Minas Gerais, foram estudados aspectos da biologia populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920. Os resultados preliminares, ainda tratando a espécie como C. melanocephalus Pereira & Da-Silva, 1991, foram apresentados em congresso científico (DA-SILVA et al., 1996). A espécie tem distribuição conhecida para os estados de Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro (SALLES et al., 2015). A ocorrência de C. truncatus no município de Viçosa e no Estado de Minas Gerais só foi registrada em literatura cinzenta (resumos de congressos, teses). Assim, efetivamente a espécie é pela primeira vez registrada em Minas Gerais com base no presente trabalho.

OBJETIVO

Estudar o padrão de variação populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920 (Figura 1), com base em amostragens periódicas realizadas na Mata do Paraíso, município de Viçosa, MG.

ÁREA DE ESTUDOS

A Mata do Paraíso (20º45'S; 42º51'W) é uma reserva de Mata Atlântica secundária, com pouco menos que 200 hectares de extensão e altitude média de 650 m, vinculada à Universidade Federal de Viçosa (UFV). Segundo ANTUNES (1986), o clima da região está classificado como temperado chuvoso (mesotérmico), também chamado subtropical de altitude (Cwb). Segundo dados históricos (1931 a 1960) do Setor de Meteorologia Agrícola da UFV, as médias anuais de temperatura, precipitação, evaporação e umidade relativa do ar são, respectivamente, 19oC, 1.341 mm, 650 mm e 80% (DE PAULA & FERREIRA, 1998). Conforme a classificação fitogeográfica de HUECK & SEIBERT (1972), a vegetação está constituída por bosques subtropicais decíduos e mesófilos, com alta proporção de espécies perenes. No local há ambientes lênticos, possíveis sítios de criação das náiades de Campsurus truncatus. 78

Figura 1. Campsurus truncatus, imago macho.

MATERIAL E MÉTODOS Os exemplares foram coletados com a utilização de uma armadilha luminosa modelo “Luiz de Queiroz”, equipada com lâmpada UV de 15 watts e 100 volts, elevada a 2,5 metros do solo e adaptada para a conservação dos insetos a seco. O material, coletado de agosto de 1981 a novembro de 1983, está depositado no Museu Regional de Entomologia da UFV. Os exemplares capturados foram mantidos a seco em mantas entomológicas, armazenadas em latas de 20 litros, contendo naftalina e paraformaldeído, até a triagem e contagem. Após essas, os exemplares encontram-se estocados em caixas entomológicas. Os dados ambientais foram obtidos junto ao INMET e são relativos ao município de Viçosa. Visando estimar a possível influência dos fatores ambientais, utilizou-se a Correlação de Postos de Kendall para confrontá-los aos fatores climáticos da localidade.

RESULTADOS

Em 28 meses de coleta, foram obtidos 5.996 exemplares de Ephemeroptera, sendo 5.262 machos (87,76%) e 734 fêmeas (12,24%). A maior quantidade de machos pode não representar um desequilíbrio na proporção sexual, mas provavelmente é devida às fêmeas serem maiores, pesadas (são repletas de ovos) e, por isso, terem maior dificuldade física em se aproximar da armadilha. 79

Figura 2. Aspecto e localização da Mata do Paraíso, Viçosa, MG. Mapa baseado em COELHO & DA-SILVA (2003). Fonte das imagens de satélite: Google Maps (2015). Desde a época das coletas até os dias de hoje a fisionomia da localidade sofreu pouca variação.

Os maiores valores de abundância média (Figura 3) foram obtidos em fevereiro, abril e outubro de 1982 (respectivamente 412,5, 400,5 e 318,25 exemplares). Foi verificada a correlação significativa positiva das médias mensais de C. truncatus com a velocidade do vento, a evaporação, a precipitação, a quantidade de dias de chuva, a temperatura, a nebulosidade, e negativa com a pressão atmosférica e a insolação (Tabela I).

DISCUSSÃO

Temperatura e pluviosidade são fatores tradicionalmente correlacionados a variações nas populações de insetos tropicais (eg., WOLDA, 1978; FERREIRA et al., 1986; COELHO & DA-SILVA, 2003; MARQUES et al., 2004). Temperatura e umidade têm papel decisivo na ecdise imaginal (BURKS, 1975; DA-SILVA, 1998). A temperatura é um dos fatores mais críticos, tendo um efeito marcante no desenvolvimento e nas atividades do inseto. A evaporação costuma ser correlacionada 80

positivamente à temperatura (BARRETO & GODOY, 1961). A pressão atmosférica é um fator que pode estar correlacionado com mudanças no comportamento sexual de determinados insetos (PELLEGRINO, 2011). Insetos muito susceptíveis à perda de água por transpiração, como os adultos de Ephemeroptera (BURKS, 1975), tendem a ser negativamente influenciados por valores elevados de insolação (DA-SILVA, 1998). Por fim, como parâmetro de comparação, já foi registrado que a velocidade do vento e nebulosidade têm influência na eficiência das armadilhas luminosas como meio de coleta para certos grupos de insetos (NOWINSZKY, 2004; STEINER & HÄUSER, 2011).

Figura 3. Variação mensal da abundância média (em log Y) de Campsurus truncatus na Mata do Paraíso, Viçosa, MG, de agosto de 1981 a julho de 1983.

Trabalhos populacionais com Ephemeroptera sugerem uma variação de acordo com a época, 81

mesmo em ambientes tropicais, onde a sazonalidade não é aparentemente tão bem definida, indicando flutuações na abundância de acordo com a época avaliada (WOLDA & FLOWERS, 1985). Muitos insetos das regiões intertropicais podem agir de forma sazonal, por causa de alternâncias entre períodos secos e chuvosos ao longo do ano (WOLDA, 1988). Tabela I. Correlação de Kendall (t) entre os valores populacionais de Campsurus truncatus e os parâmetros ambientais da Mata do Paraíso, Viçosa, MG.

PARÂMETROS AMBIENTAIS Velocidade média do vento Velocidade máxima do vento Insolação total (mês anterior) Evaporação de piche Nebulosidade média Número de dias de chuva Precipitação total Pressão atmosférica Temperatura máxima média Temperatura compensada média Temperatura mínima média

t 0,3059 0,33161 -0,38235 0,31706 0,26457 0,29719 0,28925 -0,35788 0,36713 0,38381 0,36713

p p
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.