Anais do IX Congresso Brasileiro de Turismo

July 4, 2017 | Autor: Daniel Vasconcelos | Categoria: Turismo
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Descrição do Produto

“TURISMO: Uma nova gestão para sustentabilidade e acessibilidade”

IX Congresso Brasileiro de Turismo Recife, Pernambuco 05 a 07 de junho de 2014 Editores Dr. Glécio Machado Siqueira Msc. João Paulo da Silva Msc. Marcelo da Silva Taveira Msc. Luís Henrique Souza Msc. André Luis José Silva Msc. Pricylla Wanna Lopes Xavier Esp.Sérgio Henrique Verçosa Xavier

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IX Congresso Brasileiro de Turismo Organização

Comité Organizador Adriana Maria Cavalcanti Montenegro (UNINASSAU, Brasil) Alessandra Brasiliano Silva(UNINASSAU, Brasil) André Luis José Silva (UNINASSAU, Brasil) Anna Cristina de Araújo (UNINASSAU, Brasil) Glécio Machado Siqueira (UNINASSAU, Brasil) Letícia Souto Ribeiro de França (UNINASSAU, Brasil) Pricylla Wanna Lopes Xavier (UFPE, Brasil) Sérgio Henrique Verçosa Xavier (UNINASSAU, Brasil)

Comité Científico Adriana Maria Cavalcanti Montenegro (UNINASSAU, Brasil) Alessandra Brasiliano Silva (UNINASSAU, Brasil) André Luis José Silva (UNINASSAU, Brasil) Anna Cristina de Araújo (UNINASSAU, Brasil) Glécio Machado Siqueira (UNINASSAU, Brasil) João Paulo da Silva (Joaquim Nabuco, Brasil)

Letícia Souto Ribeiro de França (UNINASSAU, Brasil) Luís Henrique Souza (UFPE, Brasil) Marcelo da Silva Taveira (UFRN, Brasil) Pricylla Wanna Lopes Xavier (UFPE, Brasil) Sérgio Henrique Verçosa Xavier (UNINASSAU, Brasil) Renato Barboisa (FACOTTUR, Brasil)

Apoio

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Título: IX Congresso Brasileiro de Turismo (2º edição) Editores: Glécio Machado Siqueira, João Paulo da Silva, Marcelo da Silva Taveira, Luís Henrique Souza, André Luis José Silva, Pricylla Wanna Lopes Xavier, Sérgio Henrique Verçosa Xavier

 Centro Universitário Maurício de Nassau - UNINASSAU  Universidade Da Coruña - UDC

ISBN: 978-84-9749-596-7 Editora: UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Programa de PósGraduação em Engenharia Agrícola. Rua Manuel de Medeiros - Dois Irmãos, Recife - PE, 52171-030.

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Apresentação

Segundo as normas especificadas pela Organização Mundial do Turismo (OMT), O Turismo Sustentável deve ser aquele que salvaguarda o ambiente e os recursos naturais, de forma a garantir o crescimento econômico das atividades turísticas e deve ter como principal função satisfazer as necessidades das presentes e futuras gerações. Mas como atender os anseios dos turistas e das regiões receptoras de maneira eficiente sem prejudicar o meio ambiente nem desprezar a cultura regional, a diversidade biológica e os sistemas ecológicos de cada localidade? Essas serão algumas das questões a serem debatidas no IX Congresso Brasileiro de Turismo que este ano terá como tema central “Turismo Sustentável e Acessibilidade”. O encontro será realizado entre os dias 5 e 7 de junho de 2014, no Centro de Convenções de Pernambuco. Na ocasião, estarão reunidos profissionais e estudiosos da área que avaliarão o cenário atual do Turismo Sustentável no Brasil e no mundo, a importância de ser sustentável nos dias atuais e as novas perspectivas para o setor no país. Outro tema de fundamental importância para profissionais e estudantes da área de Turismo esta na questão da acessibilidade. Nessa vertente, os palestrantes discutirão as alternativas para o desenvolvimento do Turismo em áreas com grandes potenciais turísticos, mas que não contam com o mínimo de infra-estrutura para atender pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Este livro é a compilação dos artigos apresentados durante o IX Congresso Brasileiro de Turismo.

Recife, 20 de maio de 2014

Msc. João Paulo da Silva

Esp. Sérgio Xavier

Presidente da comissão científica IX Congresso Brasileiro de Turismo

Coordenador acadêmico do IX Congresso Brasileiro de Turismo

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SUMÁRIO

TÍTULO DO TRABALHO (RE)SIGNIFICANDO O OLHAR SOBRE O PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO (RE)CONHECER A CIDADE MOSSORÓ, SEUS CANTOS E ENCANTOS. A CADA PASSO UMA DANÇA: REDESCOBRINDO A HISTÓRIA

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A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE RIO 2013 COMO UM DESPERTAR PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RELIGIOSO NO BRASIL.

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A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS DE EVENTOS DE JUIZ DE FORA.

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A VIABILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE CONDO-HOTÉIS EM PERNAMBUCO: UMA ALTERNATIVA DE INVESTIMENTO PARA A EXPANSÃO DE LEITOS NOS DESTINOS TURÍSTICOS.

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ACESSIBILIDADE AOS ESPAÇOS DE LAZER: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ACERCA DA “CICLOFAIXA DE TURISMO E LAZER” DA CIDADE DO RECIFE.

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ACESSIBILIDADE: COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃO INCLUSIVA NA INFRAESTRUTURA DO TERMINAL RODOVIÁRIO DE SÃO LUÍS. ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE DOS ATRATIVOS TURÍSTICOS DO CENTRO HISTÓRICO DE DIAMANTINA/MG PARA VISITANTES COM MOBILIDADE REDUZIDA. ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL EM EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS DE PARAGOMINAS-PA.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE SEGUNDA RESIDÊNCIA E VISITAÇÕES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO POVOADO PONTAL DO PEBA, MUNICÍPIO DE PIAÇABUÇU - ALAGOAS.

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ESTUDO COMPARATIVO DA INFRAESTRUTURA TURÍSTICA DE HOSPITALIDADE: O CASO DA PRAIA DO FORTE EM CABO FRIO – RJ.

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ÉTICA EM ESPAÇOS HIEROFÂNICOS: REFLEXÕES COM BASE EM VISITANTES DE IGREJAS CATÓLICAS NA CIDADE DE PENEDOAL. EXPRESSÕES DE HOSPITALIDADE PÚBLICA NA VOZ DE GUIAS DE TURISMO: ANALISANDO O MIRANTE DE SÃO GONÇALO, EM MACEIÓ-AL.

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LAZER, TURISMO E ACESSIBILIDADE: UMA ANALISE SOBRE O PROJETO PRAIA SEM BARREIRAS OLINDA/PE.

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MERCADO DAS TULHAS: UM ESTUDO TURÍSTICOANTROPOLÓGICO CONTEMPORÂNEO SOBRE PROJETOS SALUTARES NA PRAIA GRANDE.

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O PANORAMA DO TURISMO DE SAÚDE E BEM ESTAR EM CURITIBA/PR.

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O SÍTIO PIRANHENGA E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E TURÍSTICA PARA O MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS. OS IMPACTOS GERADOS PELO TURISMO A PRAIA DE ATALAIA – PI. PLANEJAMENTO, PARTICIPAÇÃO E EMPODERAMENTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ELABORAÇÃO DO PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE ALAGOAS.

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231 PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS APLICADAS A EVENTOS: UMA REALIDADE POSSÍVEL. PROJETO SOCIAL: TURISMO GRISALHO DA FELIZ IDADE – ESTÍMULO ÀS EXPERIENCIAS A FAVOR DE NOVOS TEMPOS.

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PROPOSTA DO ESTALEIRO ESCOLA COMO ATRATIVO TURÍSTICO PARA A CIDADE DE SÃO LUÍS: UM ESTUDO DE CASO.

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SINALIZAÇÃO TURÍSTICA: ANÁLISE E PROPOSTA PARA O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DA CIDADE DE MORROS- MA.

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SINALIZAÇÃO TURÍSTICA: AVALIAÇÃO DA COMPREENSÃO DOS PICTOGRAMAS.

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SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NO SEGMENTO DA HOTELARIA.

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THEATRO JOSÉ DE ALENCAR – O CASO DO EVENTO DIA 17 NO TEATRO.

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TURISMO DE EXPERIÊNCIA: INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE NA FEIRA DA PRAIA GRANDE EM SÃO LUÍS – MA.

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TURISMO E IMPACTO SOCIOCULTURAL: ANÁLISE SOBRE O TAMBOR DE CRIOULA DO MARANHÃO. TURISMO E SUSTENTABILIDADE: INVESTIGAÇÃO SOBRE A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL NA PRAIA DA GUIA EM SÃO LUÍS – MA.

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(RE)SIGNIFICANDO O OLHAR SOBRE O PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO (RE)CONHECER A CIDADE MOSSORÓ, SEUS CANTOS E ENCANTOS Fernanda Gabriela da Silva Ferreira1 Luana Eduarda da Silva Soares2 Maria Valdirene Santos Sousa3 Mayara Mirella Fonseca Barbalho4 Salete Gonçalves5 RESUMO O projeto de extensão (Re) Conhecer a cidade: Mossoró, seus cantos e encantos é um projeto de continuidade e de experiências exitosas que vem sendo desenvolvido em escolas públicas de Mossoró/RN e tem como eixo central a valorização do patrimônio natural e cultural, numa proposta de turismo pedagógico e educação ambiental. Essa atividade extensionista foi criada no ano de 2008, numa ação conjunta entre os Cursos de Turismo e Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, em parceria com instituições públicas e empresas privadas. Seu objetivo principal é proporcionar aos estudantes do Ensino Fundamental II a ressignificação do olhar diante do patrimônio natural e cultural do referido munícipio, abordando os aspectos socioculturais, econômicos e ambientais dos locais visitados, através do turismo pedagógico. Para tal, apresenta como procedimentos metodológicos: técnicas participativas, dinâmicas de grupo, debates e a realização de city tour pelos principais atrativos e recursos turísticos da cidade, conduzidos pelos graduandos da supracitada Universidade, sob orientação docente. Constatou-se que em cada edição dessa atividade de extensão há um elevado grau de satisfação entre todos os envolvidos e o interesse constante em permanecer como parceiros. Dessa forma, acredita-se que esse projeto extensionista apresenta-se como uma possibilidade de vivenciar o conhecimento in locu, contribuindo assim, para a transformação da interpretação da realidade dada e da (re)significação da cidade. Palavras-chave: Patrimônio natural e cultural; turismo pedagógico; extensão universitária.

INTRODUÇÃO A extensão universitária é uma atividade capaz de produzir um novo sentido à Universidade, capaz de cooperar significativamente para a transformação da sociedade. A 1

Graduanda do Curso de Turismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Email: [email protected]. 2 Graduanda do Curso de Turismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Email: [email protected]. 3 Graduanda do Curso de Turismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Email: [email protected]. 4 Graduanda do Curso de Turismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Email: [email protected]. 5 Mestre em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e docente do Departamento de Turismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Email: [email protected].

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mesma só foi entendida como procedimento que profere o ensino e a pesquisa no final da década de 1980, onde instituíam e promoviam as mobilizações sociais, culturais e políticas que surgiram na época. Diante de tais acontecimentos várias indagações sobre produção de ciência e sobre sua entrada originaram variadas discussões sobre um novo protótipo de universidade, de sociedade e de cidadania (DRÈZE e DEBELLE, 1983). No processo de indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, afirma-se que essa atividade é necessária à vida acadêmica dos estudantes, pois é por meio dela que se realiza a troca de saberes disciplinares e populares, o que resulta na participação da comunidade na atuação universitária. Sendo assim, é um modo de levar conhecimento para a sociedade e trazê-lo em forma de experiências e ações para a universidade, pois favorece uma visão integrada do social. Nesse sentido, torna-se indispensável a prática da extensão para as Instituições de Ensino Superior, pois é neste momento em que se envolve em práticas sociais que permitem encontrar soluções através de pesquisas, garantindo valores democráticos e desenvolvimento social. Partindo desse entendimento, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), baseada em seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) destaca que a prática extensionista é condição fundamental para estruturar e viabilizar um currículo dinâmico e flexível. Ressaltando que a interdisciplinaridade e a participação do estudante são fundamentais à formação crítica e investigativa, como mecanismo de formação de profissionais cidadãos e com espaço para a vivência de atividades "complementares" de formação política, estética e pedagógica nos diversos cursos de graduação (SOUSA, 2008). Frente esse contexto, surgiu no ano de 2008 sob a Coordenação dos Cursos de Turismo e Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, o Projeto de Extensão (Re) Conhecer a cidade: Mossoró, seus cantos e encantos. Seu objetivo central é proporcionar aos estudantes do Ensino Fundamental II (precisamente do 6º ano) a ressignificação do olhar diante do patrimônio natural e cultural da cidade, abordando os aspectos socioculturais, econômicos e ambientais dos locais visitados, através do turismo pedagógico. A princípio era realizado em duas escolas públicas, a então Jardim da Infância Modelo e Moreira Dias, localizadas respectivamente nos bairros do Centro e Doze Anos, respectivamente. Porém desde o ano de 2010, por questões logísticas, desenvolve suas ações apenas na segunda instituição. Para Cavalcanti (2003), o turismo pedagógico centra-se nas maneiras mais adequadas de organizar e conduzir a atividade educativa, de forma a alcançar finalidades pedagógicas, delineadas por meio da prazerosa experiência turística, evidenciando que o conjunto dessa ação ultrapassa a concepção tradicional de aula de campo ou de turismo de estudantes. Ainda segundo a autora, esse segmento turístico deve ser planejado pela escola, onde apenas o professor e a coordenação pedagógica têm o domínio da finalidade do estudo e dos objetivos a serem alcançados, e nenhum outro profissional, ou guia de turismo, pode substituir o professor; mas pode, sim, atuar de forma suplementar. Isso posto, o papel dos docentes e discentes é exatamente o de atuar como facilitador, promotores e especialistas em motivar o aprendizado ao aluno-turista e desfrutar seu tempo de viagem-passeio, através de técnicas e ações específicas. A função desses sujeitos não se restringe à realização de atividades recreativas, mas sim a todas as áreas, desde o planejamento, execução e avaliação do Projeto. A equipe executora é formada por 02 docentes do Curso de Turismo, 01 docente do Curso de Gestão Ambiental, 06 discentes do Curso de Turismo, 02 alunos do Curso de Gestão Ambiental e 01 graduando do curso de Geografia, assumindo o seu caráter interdisciplinar, uma busca constante das atividades extensionistas.

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DESENVOLVIMENTO O Projeto de Extensão (Re) Conhecer a cidade: Mossoró, seus cantos e encantos iniciou concentra em percorrer cantos e recantos da cidade de Mossoró, vivenciando o seu patrimônio natural e cultural. Dentre os diversos recursos e atrativos visitados, destacam-se: Praça de Eventos, Praça das Crianças, Estação das Artes Eliseu Ventania, Teatro Municipal Dix-Huit Rosado, Memorial da Resistência, Igreja São Vicente, Catedral de Santa Luzia, Museu do Petróleo, Biblioteca Pública Ney Pontes, além das pontes, o rio Apodi/Mossoró, o viveiro de mudas da prefeitura municipal e a própria UERN (sendo apresentados alguns programas e projetos como: Mais Saúde e A matemática através dos jogos6). A concepção metodológica do projeto está inspirada na possibilidade da inserção do turismo no processo educativo, tendo quatro prerrogativas como base: aprendência da transdisciplinaridade, que compreende que a nova educação busca um conhecimento além dos currículos convencionais, mas uma educação para a vida, onde as disciplinas se fundem, as sensações podem ser expressas e a experiência de vida do aluno é fundamental no processo de aprendizagem; aprendência da sociabilidade, onde através do turismo pedagógico, a socialização é um elemento primário, iniciado na relação entre o educador e os educandos e posteriormente, entre esse grupo e as comunidades visitadas; aprendência da animação sociocultural, entendendo que a ludicidade permeia toda viagem pedagógica; e por fim a aprendência de ser, que transcende o próprio turismo pedagógico, diz respeito à plenitude do ser, a sua autodescoberta, harmonia e desarmonia, o homem que é a razão e emoção, corpo e alma, ludens e faber, sapens e demens, empiricus e imaginarius, economicus e consumans, prosaicus e poeticus, capazes de sentir a cidade, a natureza, o outro, a história (GONÇALVES, 2006). O turismo pedagógico comunga com a idéia de que diante das tamanhas transformações pelas quais a sociedade vem passando, dos modos de produção, aumento do tempo livre, avanço tecnológico, melhoria da qualidade e expectativa de vida, a escola pode promover mudanças, educando os alunos de modo holístico e que, neste contexto, considere também o lazer, não apenas o trabalho. Desse modo, o turismo pedagógico, por meio de processos metodológicos e ações que se preocupem tanto com o conhecimento disciplinar quanto com a dimensao subjetiva dos alunos, frente às possibilidades e o alcance dessa prática educativa, poderá contribuir com essa Nova Educação7. Como modalidade turística o Turismo Pedagógico é recente, seu conceito ainda está em formação, sabe-se que, a partir da década de 1980 surgiram algumas agências especializadas a atender esse público, porém sem nenhum estudo mais aprofundado (ANDRIOLO e FAUSTINO, 2000, p.167), provocando muitos equívocos com turismo cultural e turismo educacional. No entanto, é necessário primeiramente esclarecer essas diferenciações, o objetivo do turismo cultural é a exploração do elemento herança e do patrimônio cultural (BENI, 1998) e turismo educacional é aquele que se remete a viagens com o objetivo de estudar, fazer intercâmbio ou curso de idiomas no exterior (CAVALCANTI, 2003). O turismo pedagógico seria “o que serve às escolas em suas atividades educativas que envolvem viagens. Não obstante possuir momentos de lazer, não é realizado com este fim” (ANDRIOLO e FAUSTINO 2000, p. 165). Percebe-se que este conceito limita as possibilidades do turismo pedagógico e/ou demonstra a falta de entendimento de 6

O Programa Mais Saúde é vinculado a Faculdade de Educação Física da UERN e promovia atividades recreativas e físico-esportivas aos alunos-turistas. Já o Projeto A matemática através dos jogos contribuiu com a apresentação de conceitos matemáticos de forma lúdica. 7 Entende-se como Nova Educação, uma Educação centrada no Ser, num conhecimento não fragmentado, desconectado, mas unilateral, contextualizado e vivenciado, proposto por Assmann (1998) e Morin (2000).

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pesquisadores e profissionais da área sobre o lazer, gerando algumas indagações. Seria correto dizer, que o turismo pedagógico propicia momentos lúdicos e não, de lazer, além do que, pode-se pensar na oportunidade dessa experiência educar os alunos para o lazer, como um fim. Os autores, afirmam ainda, que as escolas se conscientizaram da necessidade da viagem como instrumento pedagógico (ANDRIOLO e FAUSTINO 2000, p. 167), quer-se chamar atenção à concepção que as escolas têm da viagem apenas como recurso, limitando assim, as possibilidades dessa vivência. Da Hora (2001, p.54), entende o turismo pedagógico “como uma técnica de ensino que possui como principal metodologia a atividade turística ou alguns de seus elementos, essencialmente a viagem”. Para o autor, durante a viagem pedagógica, os alunos passam a assumir a condição temporária de turista, onde se faz presente o elemento dinâmico (a viagem) e o sujeito do turismo (turista). Onde a experiência é provocada pelo que o autor denomina de conversão do olhar. Seus estudos levaram a compreensão de quatro características primordiais ao Turismo Pedagógico: a atividade pressupõe o deslocamento, a utilização de equipamentos turísticos durante a viagem pedagógica, a passividade de comercialização (isto é, não há nada que impeça o planejamento e elaboração de um “pacote” turístico pedagógico para a sua comercialização, por exemplo em escolas) e a sazonalidade. Interessante notar que, o autor não considera a dinâmica ensino-aprendizagem como característica, uma que, é ele que caracteriza um processo educacional. Nessa mesma perspectiva, entendendo que o papel da escola deve ser o de incentivar os alunos a construir o conhecimento da região onde vivem, desde os limites territoriais até as características geográficas, econômicas, sociais e políticas. Este ao sair da sala de aula, dos intramuros da escola, possibilitará aos mesmos a se localizarem como cidadãos, servindo de base para a construção da identidade e vínculo com o lugar, assim como para estudos de espaços mais amplos, a exemplo das macrorregiões (AZIZ Ab´SABER, 2001, apud RAYKILL e RAIKILL). Para sua operacionalização, primeiramente são realizadas reuniões quinzenais com os docentes e discentes do projeto, debatendo textos sobre turismo pedagógico, educação ambiental e extensão universitária, no intuito de respaldá-los com os princípios norteadores da atividade extensionista. Bem como a confecção e recolhimento de material didático (apoio) a ser utilizado nos encontros que antecedem aos passeios com alunos. Em seguida, são realizados encontros com a equipe para o planejamento e elaborações das ações, dentre elas as dinâmicas de grupo que serão propostas na Escola, os possíveis roteiros que podem ser executados (definidos em três categorias: City Tour UERN, City Tour Histórico-Cultural e o City Tour Ambiental) e pesquisas sobre os patrimônios que serão visitados. Paralelamente a essa etapa, são feitas reuniões com a Direção da Escola para definir a data de execução das ações, conteúdos a serem contemplados, funcionários que irão acompanhar o projeto e o lanche a ser oferecido aos alunos. Posteriormente, com a definição do roteiro são realizados os contatos com os espaços e equipamentos a serem visitados e o convite aos profissionais que também irão contribuir no desenvolvimento dessa ação. Além disso, é feito o agendamento com a empresa Trenzinho da Alegria nos trilhos da Educação e Transporte Passageiro Ltda, parceira desde o ano de 2009 do referido projeto que promove o deslocamento dos participantes e torna a experiência mais turística. A próxima fase do (Re) Conhecer a cidade Mossoró, seus cantos e encantos é marcada pelo contato inicial entre a equipe executora e os alunos do 6º ano da Escola Estadual Moreira Dias (aproximadamente 60 crianças/encontro), denominado de momento de sensibilização. Nesse encontro são feitas dinâmicas com o intuito de apresentação do grupo e dos objetivos do projeto. Depois são repassados conhecimentos, de forma lúdica,

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sobre conceitos de turismo, segmentos turísticos, patrimônio natural e cultural de Mossoró, com o intuito de contribuir para a (re)significação do olhar sobre a cidade (GASTAL e MOESCH, 2007). Essa vivência antecede o realização do city tour, que é executada apenas no dia seguinte, ver ilustração 01:

Ilustração 01: Dinâmica de apresentação Fonte: Santos (nov.2012) Destaca-se que nesse dia, todos os alunos são convidados a participar, mas apenas aqueles que tiverem a autorização assinada do responsável poderá fazê-lo. Na realização do roteiro turístico é feito um passeio cênico pelos principais recursos e atrativos turísticos da cidade de Mossoró, previamente definido, onde durante todo o percurso os discentes passam informações sobre o patrimônio visitado, alertam para os elementos estéticos a serem observados, apontam sobre questões ambientais, fazem perguntas aos alunos-turistas e distribuem brindes, conforme ilustração 02:

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Ilustração 02: City Tour Histórico Cultural/ Mossoró-RN Fonte: Soares (nov.2012) Ressalta-se que as atividades são acompanhadas também por docentes da Escola, bem como que são realizadas paradas estratégicas em determinados pontos, contato assim, com o apoio de outros profissionais no repasse do conhecimento. A proposta é tornar essa experiência mais transdisciplinar e humana, oferecendo-lhes a possibilidade de uma participação ativa, protagonista e cidadã. Por fim, é feito um reencontro com os alunos-turistas em sala de aula, onde é feita uma avaliação da experiência, através de rodas de conversas, depoimentos e desenhos do que eles mais gostaram no passeio pedagógico, conforme ilustração 03.

Ilustração 03: Dinâmica de apresentação Fonte: Santos (nov.2012)

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Além disso, é realizada também uma reunião com a Direção da Escola, docentes e discentes da UERN para apontar os pontos fortes e fragilidades do Projeto, com o intuito de reavaliar constantemente e buscar melhorias no seu fazer.

CONCLUSÃO A experiência do Projeto (Re) Conhecer a cidade Mossoró: seus cantos e encantos, através dos princípios do Turismo Pedagógico, em atuação conjunta com a escola pode contribuir com a diminuição da exclusão sociocultural e espacial que muitos alunos sofrem, estimulando o sentimento de pertencimento e a busca para que o lazer se concretize como direito em suas vidas. Destaca-se que durante essa vivência, o aluno é capaz de sentir a cidade, a natureza, as pessoas, a história, os cheiros, os gostos, se reportando a determinada situação espaçotemporal (consigo mesmo, com o outro e com o ambiente). Essas sensações ajudam os alunos a se descobrirem como seres sociais, e o educador, bem como os facilitadores (docentes e discentes da UERN) devem orientá-los para que possam fazê-lo sozinhos, buscando a autonomia desses sujeitos. Acredita-se que a educação deve contribuir para que as pessoas possam saber escolher conforme sua sensibilidade, seus interesses, propiciando o acesso a outros conhecimentos, a diversidade e descristalizando alguns padrões. Dessa forma, o referido Projeto pode contribuir para o desenvolvimento de um turismo mais humano, levando em conta os interesses das comunidades visitadas, o respeito ao patrimônio natural, à cultura e aos interesses dos cidadãos, e sem as quais a sustentabilidade da atividade, assim como em qualquer modalidade turística não será possível. Os resultados apontados por esse projeto podem ser uma importante ferramenta para o processo de formação e valores humanos, bem como apresentar aos alunos-turistas as potencialidades e fragilidades da cidade de Mossoró. Compreende-se que ao promover atividades fora da sala de aula, o desempenho dos envolvidos pode ser tão ou mais duradouros/benéficos quanto às atividades regulares desenvolvidas na sala de aula ou em laboratórios. E os atores envolvidos mostram-se bastante satisfeitos com tais ações e esperam que as mesmas perdurem por vários anos. Em contrapartida, as principais dificuldades na execução do Projeto encontram-se na falta de maior envolvimento com a escola parceira, tanto na escolha do roteiro a ser visitado, quanto no acompanhamento mais eficiente e eficaz dos professores que acompanham a execução das ações. Muitas vezes, observa-se o domínio e a responsabilidade do grupo e das informações sobre a Universidade, ficando aquém o papel primordial da Escola. Já para os acadêmicos dos Cursos de Turismo, Gestão Ambiental e Geografia, o contato com comunidade local e seus conflitos contribui com a aplicabilidade do conhecimento teórico na realidade, bem como um diferencial na construção de sua formação profissional, tornando-os mais críticos, políticos e humanos. Face esse cenário, a realização desse projeto é de grande relevância, dado ao envolvimento da academia com a comunidade, onde a participação da coordenação, professores e alunos da referida instituição se faz de maneira agregativa aos valores individuais e coletivos, a partir da experiência de vivência nos espaços urbanos que o mesmo possibilita, contribuindo com socialização e mudança do olhar diante do patrimônio local.

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REFERÊNCIAS

ANDRIOLO, Arley e FAUSTINO, Evandro. Educação, turismo e cultura: A experiência de estudantes paulistas em Uruçanga. In: RODRIGUES, Adyr B. (org.). Turismo: Desenvolvimento Local. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 2000. ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: vozes, 1998. BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Senac, 1998. CAVALCANTI, Keila B. Bases Conceituais e Metodológicas para a compreensão do Turismo Pedagógico (mimeo). Natal: 2003. DRÈZE, Jacques; DEBELLE, Jean. Concepções da Universidade. Fortaleza: Edições Universidade Federal do Ceará, 1983. GONÇALVES, Salete. O florescer do turismo pedagógico: voando em busca de uma educação para o lazer. Dissertação (Especialização em lazer) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. GASTAL, Susana; MOESCH, Marutschka Martini. Turismo, Políticas Públicas e Cidadania. São Paulo: Aleph, 2007. HORA, Alberto S.S. e CAVALCANTI, Keila B. Turismo Pedagógico: conversão e reconversão do olhar. In: REJOWSKI, Mirian e COSTA, Kramer B. (Org). Turismo Contemporâneo: Desenvolvimento, estratégia e gestão. São Paulo: Atlas, 2003. MORIN, Edgar. Os Sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo : Cortez, 2000. RAYKIL, Eladyr Boaventura; RAYKIL, Cristiano. Turismo pedagógico: uma interface diferencial no processo ensino-aprendizagem. Disponível em . Acesso em: 25 jan. 2013. SOUSA, Aécio Cândido de. (Org). Plano de desenvolvimento institucional – PDI/UERN. Mossoró: UERN, 2008.

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A CADA PASSO UMA DANÇA: REDESCOBRINDO A HISTÓRIA Cledna da Silva8 Conceição Belfort 9 Erionaldo Costa10 José Rodrigues11 Karoline Coimbra 12 Luís Vinícius Ferreira 13 RESUMO O presente artigo enfoca sobre a importância da cultura para o turismo da cidade de São Luís, mais especificamente as danças e o seu patrimônio arquitetônico. A cidade recebeu da UNESCO em 1997 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade e em 2009 recebeu da ONG CBC (Integrante do Bureau Internacional de Capitais Culturais) o título de Capital Brasileira da Cultura, sendo assim, é necessário valorizar e potencializar ainda mais essa grande riqueza da capital maranhense. Abordamos ainda a criação de um roteiro turístico com base cultural, buscando assim um reconhecimento maior dessas manifestações populares por parte do público e ainda fazê-lo conhecer o Centro Histórico da cidade. Utilizou-se como metodologia pesquisa bibliográfica e a testagem dos horários. Palavras-chave: Turismo; Cultura; Danças.

INTRODUÇÃO São Luís recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 1997, devido sua beleza e conservação do acervo arquitetônico e transmissão da sua cultura perpassando as gerações, cultura essa que foi adquirida devida os vários povos como os portugueses, africanos, indígenas, que na cidade passaram construindo a história e diversificação da cultura ludovicense. Até onde se tem conhecimento, antes mesmo da esquadra de Pedro Alvares Cabral atracar no Brasil em 1500, os índios já povoavam esta terra, sendo assim considerados os primeiros povos a habitar o país, estes contribuíram significativamente na formação da cultura brasileira, tanto na culinária, como a tapioca, no artesanato e no vocabulário, enquanto que os portugueses e os africanos (escravos) também ajudaram, respectivamente, no desenvolvimento das artes, danças, músicas, artesanato, deixando como características 8

Graduanda do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]. 9 Professora orientadora. Graduação em Turismo pela Universidade Federal do Maranhão (1997), Especialização em Planejamento Ambiental pela Universidade Federal do Maranhão, mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2001) e Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2009). E-mail: [email protected]. 10 Graduando do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]. 11 Graduando do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]. 12 Graduanda do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]. 13 Graduando do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected].

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mais marcantes na cidade de São Luís, a culinária, e mais especificamente no seu Centro Histórico a arquitetura. A partir do citado acima e das riquezas histórico culturais presentes no Centro Histórico de São Luís, limitando-se no bairro da Praia Grande, mapeou-se os bens culturais ali existentes a fim de potencializá-los através da elaboração de um roteiro, vindo usufruir e explorar espaços, agregando valor junto a outras atividades desenvolvidas, consideradas importantes não apenas para o desenvolvimento do turismo, mas principalmente devido a sua história e a percepção da comunidade como ambiente a ser preservado favorecendo a difusão e a apropriação da mesma por parte dos endógenos. Temos como objetivo principal a implantação de um roteiro criativo no Centro Histórico de São Luís, proporcionando aos visitantes conhecimento histórico-cultural através das experiências ofertadas. E os objetivos específicos são: ofertar a cidade de São Luís um roteiro diferenciado contribuindo para o desenvolvimento da mesma; fortalecimento e divulgação da cultura ludovicense; preservação e conservação das praças, manifestações culturais e suas história; proporcionar o fortalecimento dos cinco sentidos através do turismo de experiência.

TURISMO DE EXPERIÊNCIA A partir de 1950, mudanças socioculturais, técnicas, econômicas e educacionais provocaram uma alteração em vários hábitos das pessoas. Abriu-se espaço tanto para a atividade de turismo como para a necessidade de serviços e de infraestrutura para atendêla.(GAETA, 2010, p.136). A exemplo de tais modificações, está a ascenção econômica na sociedade industrializada e as viagens realizadas em aviões que permitiram a redução do tempo e de custos, contribuindo para o aumento da demanda e, consequentemente, para a segmentação do turismo e o desenvolvimento de novas ofertas para o setor. Do ponto de vista da demanda turística, isto tem – se refletindo no aumento da heterogeneidade de motivações para realizar uma viagem, formando-se novos segmentos que se multiplicam e para os quais podem se constituir ofertas diferenciadas. (DIAS, 2005, p.66)

Dentre os principais segmentos turísticos estão o de sol e praia, negócio, religioso, aventura, GLBT(Gays, Lésbicas, Bisexuais, Travestis, transexuais, transgêneros) e o turismo de experiência em que “[...] duas pessoas não podem ter a mesma experiência, porque cada experiência deriva da interação entre o acontecimento organizado (como uma peça teatral) e o humor da pessoa.[...]” (BENI, 2008, p.484) assim cada indivíduo irá envolver-se de forma única, aguçando um sentido mais que o outro. Segundo Gaeta (2010, p.140) o turismo de experiência é aquele “no qual o prazer de viajar está intimamente associado às experiências ímpares que serão vivenciadas durante a viagem, em perspectiva individual e personalizada. O turista não quer mais ser um expectador passivo em sua viagem; ele quer vivenciar sensações”, sensações estas que encaixam-se adequamente com o potencial para o desenvolvimento desse segmento em São Luís do Maranhão, apresentando-se como um dos meios a cultura popular. A cultura popular (termo que prefiro a “folclore”, pelas restrições que tem), caracteriza-se por se constituir, basicamente, de um complexo de informações transmitidas de geração a geração, sem ensino formal e nas sociedades gráficas. O ensino formal, metodizado, sistemático, regular, onde se criam situações pedagógicas intencionais, científica e tecnicamente estabelecidas, é o do ambiente escolar. (CORREA, 2010, p.02).

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Onde a multiplicidade étnica de indígenas, africanos e europeus, deu ao Maranhão uma grande diversidade cultural, mas as influências com mais destaques são indígenas e dos negros enfatizando suas danças com a cultura produzida pelo povo que são:    

Tambor de crioula. Blocos tradicionais; Cacuriá e; Bumba-meu-boi.

Estas apresentações proporcionarão aos turistas a oportunidade de obter uma experiência única, através das danças, batidas e conhecimentos históricos, que acontecerão pelo despertar das sensações e seu grau de envolvimento com a atividade apresentada, estando a disposição dos mesmos, instrumentos como saias, tambores, matracas, tipícos de cada dança ocorrendo a interação e valorização da cultura por parte do brincante e do autóctone, sendo os objetos devolvidos ao final de cada atividade. ATRATIVOS 

Tambor de crioula:

Tambor de crioula ou punga é uma dança de origem africana praticada por descendentes de escravos africanos no estado brasileiro do Maranhão, em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior frequência no carnaval e durante as festas juninas. A dança não requer ensaios. Originalmente não exigia um tipo de indumentária fixa, mas nos dias atuais a dança pode ser vista com as brincantes vestidas em saias rodadas com estampas em cores vivas, anáguas largas com renda na borda e blusas rendadas e decotadas brancas ou de cor. Os adornos de flores, colares, pulseiras e torços coloridos na cabeça terminam de compor a caracterização da dançante. Os homens trajam calça escura e camisa estampada. A animação é feita com o canto puxado pelos homens com o acompanhamento das mulheres. Um brincante puxa a toada de levantamento que pode ser uma toada já existente ou improvisada. Em seguida, o coro, integrado pelos instrumentistas e pelas mulheres, acompanha, passando esse canto a compor o refrão para os improvisos que se sucederão. Os temas, puxados livremente em toadas, podem ser classificados como de auto apresentação, louvação aos santos protetores, sátiras, homenagem às mulheres, desafio de cantadores, fatos do cotidiano e despedida. A coreografia da dança apresenta vibrantes formas de expressão corporal, principalmente pelas mulheres que ressaltam, em movimentos coordenados e harmoniosos, cada parte do corpo (cabeça, ombros, braços, cintura, quadris, pernas e pés). As dançantes se apresentam individualmente no interior de uma roda formada por um grupo de vários

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brincantes, incluindo dirigentes, dançantes, cantadores e tocadores. Da roda, participam também os acompanhantes do tambor. Todos acompanham o ritmo com palmas. O tambor de crioula apresenta coreografia livre e variada. A brincante que está no centro é responsável pela demonstração coreográfica principal, mostrando sua forma individual de dançar. No centro da roda, os movimentos são mais livres, mais intensos e bem acentuados, seguindo o compasso dos tocadores. A dança apresenta uma particularidade: a punga. Entre as mulheres, se caracteriza como um convite para entrar na roda. Quando a brincante está no centro e quer sair, avança em direção a outra companheira, aplicando-lhe a punga, que consiste no toque com a barriga. A que estiver na roda vai para o centro para continuar a brincadeira. Toda a marcação dos passos da dança é feita por um conjunto de tambores que os brincantes chamam de parelha. São três tambores nos tamanhos pequeno, médio e grande, feitos de troncos de mangue, pau d'arco, soró ou angelim. Um par de matracas batidas no corpo do tambor grande auxilia na marcação. O tambor pequeno é conhecido como crivador ou pererengue; o médio é chamado de meião, meio ou chamador e o grande recebe, entre os tocadores, os nomes de roncador ou rufador. Os tambores são bastante rústicos, feitos manualmente de troncos cortados nos três tamanhos e trabalhados exteriormente com plainas para que a parte superior fique mais larga que a inferior. Internamente, o tronco é trabalhado a fogo com o auxílio de instrumentos de ferro para que fique oco. A cobertura do tambor é feita com o couro de boi, veado, cavalo ou tamanduá. Depois da cobertura, é derramado azeite doce no couro que fica exposto ao sol para enxugar e atingir o "ponto de honra", quando é considerado totalmente pronto. Durante a dança, os tambores são esquentados na fogueira para que tenham afinação perfeita. 

Bloco tradicional

Os Blocos Tradicionais são vistos nas festas juninas e carnavais do Maranhão, originário da década de 1950. Seu principal instrumento musical, os contratempos, esses blocos são também chamados de blocos de ritmo e blocos de tambor grande. Os instrumentos são tambores grandes de compensado, cobertos de couro, geralmente de bode - acompanham par a par o toque e o canto dos blocos tradicionais de carnaval de rua maranhense. Os tocadores trazem os tambores presos ao corpo por uma correia larga, que vai de um lado a outro, usam as mãos espalmadas para tocarem esses tambores, com força e rapidez, ao mesmo tempo em que fazem uma coreografia saltitante. A música além também conta com a percussão de retintas, cabaças, reco-recos, agogôs, afoxés, maracás e rocas. Essa diversidade instrumental favorece a esses blocos tocarem vários ritmos musicais, dançados por seus tocadores e brincantes, apresentam-se com fantasias luxuosas, com golas, mantos, chapéus, camisões, cangas, perneiras. Segundo Moraes (2008), os primeiros blocos tradicionais se apresentavam com uma fantasia que se assemelhava com a roupa do fofão em que os brincantes pintavam o rosto e usavam gorros ou pequenos chapéus em formato de cone. 

Cacuriá

O cacuriá é uma dança do Maranhão, surgiu na festa do Divino Espírito Santo, hoje dançada mais na época de São João. É uma dança de pares com formação em círculo, acompanhada por instrumentos de percussão chamados caixas do Divino (pequenos tambores). No final da Festa do Divino Espírito Santo, após a derrubada do mastro, as caixeiras do carimbó podem descansar. É neste momento que elas passam à porção profana

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da festa, com o cacuriá. A parte vocal é feita por versos improvisados respondidos por um coro de brincantes. O ritmo é uma derivação do carimbó maranhense. Inicialmente, o cacuriá era praticado unicamente com as caixas, mas aos poucos se foi acrescentando outros instrumentos, como banjo, violão, clarinete e flauta. Porém, o cacuriá passou a ter maior destaque a partir do Grupo de Dona Teté ou Almerice da Silva Santos (1924-2011), caixeira do Divino Espírito Santo. Esta foi para o Laborarte em 1980, participar de espetáculos de dança, quando criou grupos de cacuriá com crianças de escolas públicas, até, em 1986, criar o seu próprio grupo, ganhando projeção nacional e internacional, mas que foge relativamente do cacuriá advindo da cidade de Guimarães. (HARTMANN, 2010). 

Bumba meu boi

O bumba-meu-boi no Maranhão é um auto dramático, onde, segundo Vieira Filho (1977, p.25), por meio do teatro, da música e da dança, o boi assume o papel de protagonista da festa e os demais personagens, formados por índios, brancos e negros, compartilham em igual tamanho as alegrias e tristezas dessa estória. A festa com o Bumba-meu-boi é um resgate de uma história envolvendo relações sociais e econômicas da região durante o período colonial, monocultura, criação de gado e escravidão. Conta-se a história de Mãe Catirina e Pai Francisco, onde viviam em uma fazenda de gado, ele mata um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, que desejava comer a língua. Quando descobre o sumiço do animal, o senhor fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta. Curandeiros são convocados para salvar o escravo e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre. Brincadeira democrática que incorpora quem passa pelo caminho, o Bumba-meu-boi já foi alvo de perseguições da polícia e das elites por ser uma festa mantida pela população negra da cidade, chegando a ser proibida entre 1861 e 1868. O atual modelo de apresentação dos bois não narra mais toda a história do 'auto', que deu lugar à chamada 'meia-lua', de enredos simplificados. Atualmente, existem quase cem grupos de bumba-meu-boi no Estado do Maranhão, subdivididos em diversos sotaques. Cada sotaque tem características próprias que se manifestam nas roupas, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música e nas coreografias. Sotaque de matraca - é o mais popular e com maior numero de grupos no Estado. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por dois pequenos pedaços de madeira, o que motiva os fãs de cada boi a engrossarem a massa sonora de cada "Batalhão". Além das matracas, são usados pandeirões e tambores-onça (uma espécie de cuíca com som mais grave). Na frente do grupo fica o cordão de rajados, caboclos de fitas, índias, vaqueiros e caboclos de pena. Sotaque de Zabumba - Ritmo original do Bumba-meu-boi, este sotaque marca a forte presença africana na festa. Pandeirinhos, maracás e tantãs, além das zabumbas, dão ritmo para os brincantes. No vestuário destacam-se golas e saiotes de veludo preto bordado e chapéus com fitas coloridas. O sotaque de zabumba passa por grande crise nos últimos anos devido à falta de novos brincantes interessados em manter as tradições do mais antigo estilo de boi. Sotaque de Orquestra - Ao incorporar outras influências musicais, o Bumba-meuboi ganha neste sotaque o acompanhamento de diversos instrumentos de sopro e cordas, como o saxofone, clarinete e banjo. Peitilhos (coletes) e saiotes de veludo com miçangas e canutilhos são alguns dos detalhes nas roupas do brincante.

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Sotaque da Baixada - Embalado por matracas e pandeiros pequenos, um dos destaques deste sotaque é o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e bicho que, vestido com uma bata comprida, máscara de madeira e de chocalho na mão, diverte os brincantes e o público. Outros usam um chapéu de vaqueiro com penas de ema. Sotaque Costa de Mão - Típico da região de Cururupu, ganhou este nome devido a uns pequenos pandeiros tocados com as costas da mão. Caixas e maracás completam o conjunto percussivo. Além de roupa em veludo bordado, os brincantes usam chapéus em forma de cogumelo, com fitas coloridas e grinaldas de flores. Canjão (2003) afirma que: O bumba-meu-boi do Maranhão é uma manifestação que articula símbolos e significados, sentidos que se transmitem através dos tempos e que vão constituindo e reconstituindo a história do povo que a produz. Sentidos retirados de uma experiência que faz sempre referência a um passado. Assim, no resgate da memória, evita-se o esquecimento, a negação de uma tradição (...) Ilustra uma condição de elaboração de identificação, de configuração de identidades, apresenta-se como um sistema de referências. Nesse contexto, a identidade é concebida como um elemento que marca fronteiras, que situa o indivíduo em um lugar, no tempo e no espaço, em sua memória.(CANJÃO, 2003. P.107)

O ROTEIRO 

Praça dos Catraieiros

Situada junto à rampa do palácio, próxima ao terminal hidroviário, a Praça dos Catraieiros também foi edificada no local de um antigo estacionamento, hoje serve de apoio principalmente aos passageiros de transportes marítimos que partem daquele local em direção às diversas partes do litoral maranhense. A nova praça, com 640m2, recebeu essa denominação em homenagem aos trabalhadores marítimos que secularmente conduzem em suas pequenas canoas os passageiros e cargas até uma embarcação maior. 

Praça Benedito Leite

Seu primeiro nome foi Largo João Velho do Val (ou do Vale). Seu nome atual foi dado após a construção de uma estatua de bronze em homenagem a Benedito Pereira Leite, estadista que levou o nome do Maranhão no Senado da Republica. Ao lado da Catedral Metropolitana, Igreja da Sé, e do Palácio do Comércio, este logradouro é passagem obrigatória de quem vem do centro comercial para a Av. Dom Pedro II, onde fica o Palácio dos Leões. 

Praça da Faustina

A Praça da Faustina, hoje em dia tornou-se uma um cenário cultural da cidade de São Luís, dona de um charme sem igual, a praça que tem por título o nome de uma das garotas de programas mais respeitáveis da ilha, já falecida, recebe gente de todo tipo, na sexta-feira tem apresentações de tambor de crioula. 

Praça Nauro Machado Era um espaço de comercialização de escravos ao ar livre e foi reestruturada homenageando o poeta Nauro Machado casado também com a poetisa Arlete Nogueira, sendo a única praça como Patrimônio uma pessoa ainda viva.

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PROGRAMA (PRODUTO) Primeira parada: O roteiro inicia-se às 16:30h na Praça dos Catraieiros, tendo o receptivo para 15 turistas por um guia de turismo da Associação dos Guias de São Luís. O roteiro terá a sequência as quintas-feiras, sextas-feiras e Sábados. Na praça citada, o guia de turismo explanará sobre a história da praça e do Tambor de crioula por 10 minutos, onde era uma área de embarque e desembarque de produtos e vários escravos viviam nesta área trabalhando e a diversão era as grandes rodas de tambor de crioula e, em seguida haverá a apresentação da dança por 15 minutos e, seguindo para a Praça Benedito Leite em 5 minutos, podendo conhecer o entorno do caminho percorrido. Experiência: Pôr em prática atividades e histórias que ficaram preservadas como bens materiais e imateriais. Com isso, os turistas terão a experiência de entrar na dança, as mulheres utilizando vestimentas típicas que o guia emprestará e, os homens irão tocar os instrumentos entrando no ritmo do tambor de crioula. Pontos fortes

Pontos fracos

Uma grande visibilidade das pessoas que passam naquela área influenciando na visitação. Fortalecer a apresentação cultural Um espaço amplo e com beleza arquitetônica

Falta de segurança no entorno da Praça e na escadaria da capitânia dos portos. Falta de acessibilidade. Falta de sinalização urbana e turística

Segunda parada: Ao chegar a Praça Benedito Leite as 17:00h, o guia irá enfatizar sobre a história da mesma e também sobre a manifestação do bloco tradicional por 10 minutos, pois esta área moravam muitos europeus e o bloco tradicional tem a origem europeia tendo uma grande ligação. Ao término da explicação acontecerá a apresentação cultural citada a cima por 15 minutos, dando sequência do passeio por mais 5 minutos até chegar a Praça da Faustina. Experiência: Conhecer elementos constitutivos do patrimônio é elemento de identidade e cada patrimônio cultural tem sua importância tanto para quem vivência, quanto para quem visita que acaba vivenciando, por conta das memórias que são passadas, causando um sentimento experimental. Nesta parada o turista poderá tocar os instrumentos, dançar e utilizar algumas indumentárias. Pontos fortes A importância do entorno Posto de informação turística Valorização do bloco tradicional

Pontos fracos Poluição visual com muitos carros estacionados Lona em frente à igreja da Sé Urina e fezes na escadaria da Praça

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Terceira parada: A Praça da Faustina é o terceiro ponto, chegando as 17:30 quando já está próximo de escurecer para poder valorizar mais a dança e o local, seguindo com a história da praça e do Cacuriá por 10 minutos e, mais 15 minutos da dança de Cacuriá com suas batidas e pegadas fortes. Ao finalizar a apresentação eles terão 5 minutos para se deslocarem até a Praça Nauro Machado. Experiência: De acordo com o Livro “Os Tambores de São Luís”, a busca pela identidade nacional é construída sob três parâmetros: o espaço, o tratamento do tempo e os personagens. (BELFORT, Conceição. Itinerários: Revista Científica de Turismo.2006, p.53.) Estes três parâmetros serão encontrados na terceira parada e, a experiência na Praça será parecida com a do tambor de crioula só que no Cacuriá os homens também dançam.

Pontos fortes Ambiente rústico apropriada para do Cacuriá Iluminação amarelada envelhecida Valorização da praça

Pontos fracos Ameaça de desabamento no prédio da frente Falta de segurança Presença de moradores de rua

Quarta parada: A última Praça a ser visitada será a Nauro Machado com início as 18:00h, com histórias da Praça e do Bumba-meu-boi que a apresentação cultural mais popular do Maranhão com suas danças, batucadas e dramatizações por 10 minutos, depois a apresentação da brincadeira por 20 minutos, já que será a ultima etapa do roteiro.

Experiência: Com os lindos traçados urbanos apresentados aos turistas, chegará o fim de um roteiro histórico-cultural de turismo de experiência que influenciará na manutenção das manifestações e lugares para ser um ótimo instrumento de informação ao público que experimentará um uso da Praça e dançará o Bumba-meu-boi, onde o guia ofertará algumas matracas como lembrança de São Luís e eles poderão também aprender o gingado da dança.

Pontos fortes Boa localização Locais para compras ao redor Segurança

Pontos fracos Moradores de rua Bêbados Uso de drogas.

TESTAGEM

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Cada patrimônio tem sua identificação cultural, havendo uma necessidade de preservação, e o roteiro abordado pretende mostrar aos visitantes e turistas a conservação, preservação dos bens tangíveis e intangíveis. O teste foi realizado somente com os graduandos em turismo, seguindo passo a passo o roteiro teve o encontro na Praça dos Catraeiros, com intuito de atiçar a curiosidade das pessoas que passam ali, o horário foi de acordo com o pôr-do-sol para as 17:00h ao irem para a Benedito Leite eles tirarem fotos do Palácio dos Leões em direção as belas águas que ali se encontram. A Praça da Faustina por ser um ambiente mais rústico, o cacuriá se inclui no espaço muito bem com uma iluminação envelhecida. Já, na Praça Nauro Machado o encerramento porque ali é o coração do Centro Histórico e, como nos dias de visitação há um número intenso de pessoas, com restaurantes, comércios e bares abertos, sendo uma grande estratégia de fazer os turistas consumirem naquela área para obter um aumento econômico pra cidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao realizar este artigo buscou-se ampliar a visão e fortalecer o conhecimento da cultura maranhense e sua importância, mais especificamente sobre algumas danças culturais e patrimônios arquitetônicos e agregar valor através de atividades que sejam pertinentes à localidade, como o turismo, porém há algumas barreiras que dificultam essa prática dentre elas a principal é a falta de conexão entre os setores públicos e privados e a comunidade local. Sendo assim através da economia de experiência, possibilitou a criação de um roteiro que venha a abranger essa gama cultural presente no bairro da Praia Grande sendo bastante viável, tendo o planejamento das ações, visita diagnóstica, diagnóstico de produção, levantamento de pesquisas regionais, ações de apoio, realização e análise de pesquisas de oferta e demanda, dentre outros. Proporcionando uma pequena viagem sobre a cultura popular maranhense sendo interessante tanto para os turistas como para os autóctones, onde o componente emocional, os valores e os sentimentos adquirem maior relevância, pelos mesmos gerando memoria e identidade aos consumidores.

REFERÊNCIAS ARTMANN, Luciana. Cacuriá: Dinâmicas de uma tradição dançada. VI Congresso de pesquisa e pós-graduação em artes cênicas, 2010. BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008. CANJÃO, Isanda. O lugar da memória no bumba-meu-boi. In: Olhar, memória e reflexões sobre a gente do Maranhão. São Luís: CMF, 2003. P. 103-112. CORRÊA, Norton Figueiredo. Bumba-meu-boi do Maranhão: Um desafio ao olhar. Trabalho apresentado na Reunião Brasileira de Antropologia (27), 2010, ago. Belém-PA. DIAS, Reinaldo. Introdução ao Turismo. São Paulo: Atlas, 2005.

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GAETA, Cecília; PANOSSO, Alexandre Netto. Turismo de experiência e novas demandas de formação profissional. São Paulo : Editora Senac São Paulo, 2010. MORAES, José de Ribamar. Sobre Blocos Tradicionais. São Luís, julho de 2008. Entrevista concedida à jornalista Conceição Caldas.

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A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE RIO 2013 COMO UM DESPERTAR PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RELIGIOSO NO BRASIL Ana Beatriz Lobo, MESQUITA14 Mansueto da Silva, BRILHANTE15 Maria Isabel de Barros Mamede, HOLANDA16 Paula Roberta de Oliveira, LEITE17 RESUMO Esta investigação é o resultado de um estudo realizado sobre a Jornada Mundial da Juventude Rio 2013 e a prática do Turismo Religioso no Brasil. O estudo é baseado em um levantamento histórico e conceitual das temáticas de Turismo, Turismo Religioso e a JMJ RIO 2013. A investigação tem com objetivo identificar os impactos causados pelo evento ao Turismo brasileiro e consequentemente as oportunidades geradas pelo mesmo, além da avaliação do evento por meio de entrevista com participantes e com visita à campo. Por fim, o presente estudo também visa mostrar a potencialidade do Turismo Religioso no Brasil, assim como um incentivo para novos estudos e investimentos no segmento em questão. Palavras-Chave: Turismo Religioso, Eventos Religiosos, JMJ RIO 2013.

INTRODUÇÃO A modalidade turística que é praticada atualmente, remota do século XVII com o Gran Tur realizado pela aristocracia europeia que buscava conhecimento, no entanto a prática só se tornou acessível as demais camadas sociais apenas no século XIX com a Revolução Industrial, onde a motivação do deslocamento era por descanso, lazer e restabelecimento da saúde física e mental. Já no mundo denominado pós-moderno, o Turismo deixou de ter apenas o sentido de uma atividade que visa o descanso e o lazer, para ser encarado como uma atividade econômica rentável e especializada. Hoje, a atividade turística encontra-se num sistema de segmentação de serviços visando sempre adequar os serviços à motivação e o perfil do turista. Seguindo essa ideia de segmentação pode-se destacar o Turismo Religioso, sendo esse o objeto do estudo. O Turismo Religioso abrange várias atividades como peregrinações, romarias, festividades de santos e padroeiros e eventos em geral. Dentro da perspectiva de eventos religiosos pode-se citar a Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, evento esse, de cunho religioso católico, ocorrido no período de 23 a 28 de julho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro.

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Bacharela em Turismo (FaC). Especialista em Políticas Públicas de Turismo (IFCE) e Bacharel em Turismo (UNICAP). Coordenador do curso de Bacharelado em Turismo da Faculdade Cearense e Docente do Instituto Centro Tecnológico do Ceará (CENTEC) e Aluno Especial do curso de Mestrado em Gestão. [email protected] 16 (UNIFOR), Especialista em Administração e Marketing (UNIFOR), Bacharel em Turismo (UNIFOR) e Docente do curso de Bacharelado em Turismo da Faculdade Cearense. [email protected] 17 Especialista em Políticas Públicas de Turismo (IFCE) e Bacharela em Turismo (FACE), Servidora Pública do Município de Aquiraz-CE, Docente do Curso de Turismo da Faculdade Cearense. [email protected] 15

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Após as primeiras pesquisas realizadas pelo Ministério do Turismo e UFRJ sobre o evento, pode-se observar que o mesmo seria um bom objeto de estudo, já que se trata de um evento de grande porte, abrangência e bem atual, além também de ser uma temática pouco abordada no meio acadêmico. A partir desta ideia, buscou-se responder a problemática sobre os verdadeiros impactos causados pela JMJ RIO 2013 ao Turismo brasileiro, e consequentemente ao segmento de Turismo Religioso. Para dar embasamento ao estudo foram-se utilizados os dados divulgados pelo Ministério do Turismo do Brasil e pela UFRJ. Os objetivos do estudo visam identificar as oportunidades geradas pelo evento; estudar a qualidade dos serviços e estrutura e realizar um diagnóstico da cidade do Rio de Janeiro para receber os próximos eventos mundiais que serão realizados na cidade. As hipóteses desenvolvidas para este estudo são: o evento desencadeou muitas oportunidades para o Turismo no Brasil, a infraestrutura desenvolvida para a prática do turismo ainda é ineficiente e o segmento de Turismo Religioso possui grande potencial de desenvolvimento no Brasil. Quanto a metodologia do estudo, foi realizada a pesquisa bibliográfica e documental, com a finalidade de obtenção dos conceitos e contexto histórico de Turismo com enfoque no Turismo Religioso, Turismo de Eventos e sobre a Jornada Mundial da Juventude RIO 2013. Também foi utilizada a pesquisa quantitativa, em busca dos números gerados pelo evento além de entrevistas com quatro participantes, para que se pudesse obter algumas visões sobre o evento em questão.

DEFINIÇÕES E CONCEITOS DE TURISMO A origem etimológica do termo Turismo tem origem francesa, Tour, que significa giro ou círculo, ou movimento ao redor de um eixo. Outra vertente etimológica de Turismo deriva de um vocábulo hebreu, Tur, que significa viagem de reconhecimento ou exploração de novas terras (BARBOSA, 2002). Ainda na perspectiva etimológica, Aurélio (Apud BARBOSA, 2005,p. 69), Turismo significa viagem ou excursão feita por prazer a locais que despertam interesse. Na visão acadêmica, Beni conceitua o Turismo em três visões. A primeira definição é do economista austríaco Hermann Von Schullern zu Schattenhoffen (1910) que conceitua o Turismo apenas como deslocamentos e permanências das pessoas em lugares por motivos econômicos. A segunda definição, a técnica, é foi formulada em 1930, por organizações governamentais e empresas turísticas, com base no turista, sendo considerado turista, de acordo com o objetivo da viagem, a duração e a distância percorrida. Já na terceira definição, faz-se necessário incorporar as teorias de áreas afins como a antropologia, sociologia, geografia e marketing para os estudo do Turismo, podendo ser melhor compreendido através de Jafar Jafari (apud BENI, 2003,p96): É o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físicos, econômicos e socioculturais da área receptora.

Atualmente não há uma única definição de Turismo, o que é encontrado são conceitos de autores com várias perspectivas de visão. A que é mais aceita mundialmente é sugerida pela Organização Mundial do Turismo-OMT (apud IGNARRA, 2003, p.11) onde:

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O turismo engloba as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente usual durante não mais do que um ano consecutivo, por prazer, negócios ou outros fins.

A partir dessa perspectiva, o Turismo é encarado com um mercado econômico e que ao longo do seu desenvolvimento ganhou espaço e atualmente é um grande fenômeno socioeconômico, buscando sempre atingir e superar as necessidades e expectativas do seu público alvo.

Evolução histórica do Turismo A evolução do Turismo está intimamente ligada ao deslocamento e a motivação do ser humano. Para Dias (2005), os primeiros deslocamentos humanos deram-se em torno dos ciclos migratórios de animais e germinação de plantas, observando que era possível tornarse fixo em um terreno, domesticando animais e plantado, o homem tornou-se sedentário, a partir daqui a motivação de deslocamento era outra. Já para Ignarra (2003), os primeiros indícios de Turismo, se apresentam quando o homem deixa de ser sedentário para ser nômade, motivado pela necessidade do comércio. Como visto, as motivações de deslocamento humano eram várias, aconteciam de acordo com a necessidade de cada povo. Na antiga Grécia as pessoas viajavam por motivos religiosos e esportivos (Olimpíadas). Os romanos viajavam à procura de tratamentos de saúde, descanso, lazer e também para conhecer outros povos.Na Idade Média observa-se deslocamentos de cunho religioso, que baseavam em peregrinações aos lugares santos e também compra de produtos para comercialização nos feudos. O modelo de Turismo que é conhecido atualmente começou a ser moldado nos séculos XVII e XVIII com a prática do Gran Tur, viagens voltadas para os filhos da nobreza europeia para que os mesmos pudessem conhecer novas culturas, agregando conhecimento e status social. No fim do século XVIII, com a decadência da nobreza e ascensão da burguesia, o gran tur passou a ser realizados pela classe emergente. No século seguinte, há o desenvolvimento do Turismo Moderno através do primeiro pacote de viagem organizado por Thomas Cook, que foi possível graças a avanços dos meios de transporte, desenvolvimento de vias de acesso, que possibilitavam transportar um grande número de pessoas, com conforto, segurança e rapidez, tornando-se a maior contribuição de Thomas Cook para o Turismo Moderno. O século XX marca o Turismo com as realizações de convenções internacionais do trabalho, que tinham como objetivo obter-se férias remuneradas aos trabalhadores das fábricas, nascia aí o Turismo Social. Além das motivações de deslocamento humano, há outro grande motivo de desenvolvimento turístico: os avanços dos meios de transporte e vias de acesso. Em 1945, com a Segunda Guerra Mundial, surge o avião, meio esse que se incorporou ao Turismo e que hoje é um dos meios de transporte mais utilizados no traslado de pessoas. Durante as décadas de 70 e 80 houve grandes e importantes fatos que caracterizaram o Turismo Pós Moderno, como a consolidação das empresas de aviação comercial, o uso da informática como aliado das empresas turísticas, consolidação de destinos turísticos e a consolidação mundial de empresas turísticas particulares: cadeias hoteleiras, as operadoras e agencias de viagens e as próprias empresas de aviação comercial como citado acima, através de seus voos regulares e voo charters. Já a década de 90 é marcada pelo crescimento do turismo de massa, voltado à natureza com predominância o “sol e praia”. No início do século XXI observa-se o

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crescimento do Turismo de natureza, o Ecoturismo, sendo o seguimento com maior índice de crescimento. Durante toda a evolução história da atividade turística, houve vários fatores essenciais para o crescimento, sendo a Globalização o novo fator de desenvolvimento da atividade no século XXI. Com a globalização, há um maior fluxo de informações, sendo as mesmas cada vez mais acessíveis. Analisando a maior acessibilidade as informações e o maior poder de compra das pessoas, a atividade turística passou a ser considerada como um mercado econômico e gerador de riquezas. Visando a maior geração destas riquezas, o mercado turístico, busca cada vez mais se segmentar e se especializar, oferecendo ao consumidor produtos de qualidade e que atendam as suas expectativas. Com a segmentação da demanda turística, percebe-se o desenvolvimento de segmentos turísticos como o Turismo de Eventos e o Turismo Religioso, sendo estes o cenário do presente estudo.

Histórico e conceitos de Turismo Religioso Segundo BARBOSA (2005) os primeiros deslocamentos religiosos podem ser representados na Bíblia, com a expulsão do homem do Paraíso, sendo as viagens vistas como uma sentença de morte. Ainda na concepção cristã citada por BARBOSA (2005), o homem é marcado pela partida e retorno nos eventos mitológico-religioso do Êxodo, a arca de Noé e a fuga dos hebreus do Egito. Já DIAS (2008), parte de uma visão antropológica e sociológica em que os primórdios do Turismo Religioso, oriunda pelo ano de 2700 a.c, no Império Egípcio, quando há a construção de monumentos religiosos e fúnebres e as pessoas começaram a desenvolver curiosidade e realizavam grandes peregrinações aos locais dos mesmos. Posteriormente, na Grécia Antiga, encontra-se outro marco de Turismo Religioso: os Jogos Olímpicos. Datados dos anos de 800 a.c (DIAS, 2008, p42) os Jogos Olímpicos atraiam cerca de 200.000 pessoas para participarem dos jogos, sendo os mesmos considerados como culto aos deuses. Neste período os anfitriões dos jogos, disponibilizavam suas casas para os estrangeiros. Já na era medieval as grandes peregrinações cristãs à Jerusalém e mulçumanas à Meca, reuniam milhares de peregrinos. Em que o objetivo maior do deslocamento era em cumprimento as leis ditadas por cada religião, sem que houvesse grandes estruturas turísticas de apoio aos que realizavam as peregrinações. No entanto, foi neste cenário que as primeiras estruturas de apoio ao Turismo começaram a se desenvolver. O turismo religioso praticado no século XXI é bem diferente do que era praticado em seus primórdios. Hoje, existe uma grande estrutura por trás de todo lado místico ou religioso. A motivação inicial de visitar lugares santos ou participar de festas ou eventos religiosos continua, no entanto uma nova motivação leva as pessoas a praticarem essa tipologia. As peregrinações do Turismo Religioso tornaram-se grande fenômeno para o Turismo e principalmente para a indústria hoteleira como cita URRY (apud BARBOSA, 2005, p. 25): Nos séculos XII e XIV as peregrinações haviam se tornado um amplo fenômeno servido por uma indústria crescente de redes de hospedarias para viajantes, mantidas por religiosos e por manuais de indulgências produzidos em massa. Essas peregrinações incluíam frequentemente uma mescla de devoções religiosas, culturas e prazer.

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Além das peregrinações, outras demonstrações de fé são consideradas práticas pertencentes ao segmento de Turismo Religioso, sendo as mais frequentes: as visitações a templos religiosos (igrejas, catedrais, mesquitas, templos); participações de festejos de santos (festas de padroeiros, homenagem à divindades) e também os eventos religiosos (feiras, congressos, conferencias episcopais), sendo esse último o que mais se destaca no segmento. Partindo desse ponto, Dias (2003) define o Turismo Religioso, como: Turismo Religioso é aquele compreendido por pessoas que se deslocam por motivações religiosas e/ou para participação em eventos de caráter religioso. Compreender romarias, peregrinações e visitações a espaços, festas, espetáculos e atividades religiosas.

Uma segunda definição é dada por Andrade (apud DIAS, 2003, p. 77): Conjunto de atividades com utilização parcial ou total de equipamentos e realização de visitas a receptivos que expressem sentimentos místicos ou suscitem fé, esperança e caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões.

Em vista disto, Turismo Religioso, tornou-se um segmento turístico de grande expressividade e que também requer uma infraestrutura de apoio para a realização das atividades. O segmento de Turismo Religioso é responsável por porcentagem de lucro gerado pela atividade turística no Brasil. O segmento gera grande número de pessoas, consequentemente renda e desenvolvimento socioeconômico às regiões anfitriãs.

Turismo Religioso como gerador de economia De acordo com o Ministério do Turismo, o Turismo Religioso incrementa a economia de 344 municípios brasileiros, sendo os maiores índices de eventos voltados à fé católica com: romarias, procissões, festas de padroeiros, eventos religiosos, locais de visitações como igrejas e templos, que muitos deles são tombados pelo Patrimônio Histórico e cultural.18 Pesquisas realizadas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) 3,6% das viagens domésticas são com finalidade religiosa. O Brasil possui uma vasta opção de destinos para o turismo religioso como as cidades históricas de Ouro Preto e Congonhas em Minas Gerais; o polo da região do Vale do Paraíba em São Paulo com as cidades de Aparecida do Norte (Santuário de Nossa Senhora Aparecida), Guaratinguetá (Santuário de Santo Antônio de Sant’ Ana Galvão e o Monteiro da Luz) e Cachoeira Paulista (Comunidade Canção Nova). Na região Norte e Nordeste com a Festa do Círio de Nazaré em Belém-PA, as romarias de São Francisco e Padre Cícero à Canindé e Juazeiro do Norte no Ceará, o Santuário de Santa Rita de Cássia no Rio Grande do Norte, com a maior imagem da santa na América Latina, com 56 metros de altura, a encenação da Paixão de Cristo na Nova Jerusalém-PE na páscoa, dentre outros. Atualmente surgem novos destinos para prática do Turismo Religioso no Brasil como o Santuário do Divino Pai Eterno em Trindade-GO, romaria à Nova Trento- SC em devoção à Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus e à Salvador-BA em devoção à Bem-Aventurada Dulce dos Pobres e festejos do Senhor do Bonfim. 18

Fonte: http://www.turismoreligioso.org.br/

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Dentro das visitações e peregrinações surgem também grandes eventos religiosos, que abrangem as tradicionais festas de santos e padroeiros até as conferencias, feiras, congressos e encontros mundiais. O mais atual exemplo de peregrinação e evento de cunho religioso é a Jornada Mundial da Juventude, evento católico realizado durante os dias 23 a 28 de julho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro.O evento reuniu um grande número de participantes e segundo as primeiras pesquisas realizadas pelo Ministério do Turismo do Brasil, obtendo uma boa aceitação do público e gerou grandes impactos ao turismo na cidade, que será abordado com mais ênfase nos capítulos a seguir.

A JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE A Jornada Mundial da Juventude ou JMJ, é um evento católico, que teve suas raízes no ano de 1984, durante as celebrações do Encontro Internacional da Juventude, no Vaticano e com a presença do então Papa João Paulo II. No ano seguinte, a Organização das Nações Unidas, ONU, declarou o ano de 1985, como o ano Internacional da Juventude. Em março de 1985, o Papa João Paulo II convidou os jovens católicos para outro encontro internacional na Praça São Pedro no Vaticano e anunciou a criação da Jornada Mundial da Juventude. Durante o Seminário sobre as Jornadas Mundiais, realizado em CzestochowaPolonia, em 8 de maio de 1996, o Papa João Paulo II redigiu uma carta para o Cardeal Eduardo Francisco, contando o objetivo das JMJ que seria colocar a pessoa de Jesus Cristo como referencia de pessoa para a juventude e educação para as próximas gerações: O principal objetivo das Jornadas é fazer a pessoa de Jesus o centro da fé e da vida de cada jovem para que Ele possa ser seu ponto de referência constante e também a inspiração para cada iniciativa e compromisso para a educação das novas gerações.

A JMJ é um evento católico, direcionado, primeiramente para a juventude católica, no entanto estende-se para todos os jovens e pessoas do mundo. Acontece a cada dois ou três anos em cidades sedes e à nível mundial, ao todo já aconteceram treze Jornadas ao redor do mundo. Cada edição das Jornadas Mundiais possuem algumas características peculiares e que identifica cada um delas. Essas características são: lema, de caráter bíblico e a logomarca. Além dos lemas e logomarcas das Jornadas Mundiais, há também mais dois grandes símbolos que representam o evento: A Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora. A Cruz Peregrina ou Cruz dos Jovens,é uma cruz de madeira que possui 3,8 metros de altura, que foi construída e colocada como símbolo da fé Católica, próximo do altar principal da Basílica de São Pedro durante o ano Santo da Redenção 19, a pedido do então Papa João Paulo II. Em 1994 a Cruz tornou-se símbolo das Jornadas e é tradição que a mesma percorra todas as dioceses do país que será sede da respectiva Jornada Mundial, como uma forma de preparação para o evento maior. O segundo símbolo das Jornadas Mundiais é o Ícone de Nossa Senhora. O ícone é uma réplica do original e antigo ícone de “Salus Populi Romani” encontrado na Basílica Maria Mãe de Deus no Oriente. O Ícone de Nossa Senhora foi dado aos jovens pelo Papa João Paulo II para acompanhar a Cruz Peregrina pelo mundo durante a Jornada Mundial em Roma 2003. 19

Ano Santo da Redenção: Comemoração dos 1950 anos da morte de Cristo.

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“Hoje eu confio a vocês... o ícone de Maria. De agora em diante, ele vai acompanhar as Jornadas Mundiais da Juventude, junto com a cruz. Contemplem a sua Mãe! Ele será um sinal da presença materna de Maria próxima aos jovens que são chamados, como o apóstolo João, a acolhê-la em suas vidas” (Roma, Jornada Mundial da Juventude Roma 2003).

Como dito acima, os dois símbolos percorrem todas as dioceses do país que sediará a JMJ; na edição brasileira, foi organizado um evento intitulado Bote Fé, que era realizado nas dioceses das capitais e de outras cidades importantes, onde o objetivo era proporcionar aos jovens que não poderiam ir ao evento maior no Rio de Janeiro, uma experiência próxima, e aos que iriam participar do evento maior, serviu como uma preparação para o mesmo.

A Jornada Mundial da Juventude RIO 2013 A Jornada Mundial da Juventude RIO 2013 aconteceu nos dia 23 a 28 de Julho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro. A edição da JMJ Rio 2013 teve um público estimado de 3,7 milhões de pessoas, dos quais 617 mil são turistas, gerando R$ 1,285 bilhão na economia do Rio de Janeiro e quase 100% de satisfação20 dos participantes. A JMJ RIO 2013 foi anunciada em 21 de agosto de 2011 pelo então Papa Benta XVI, durante a Missa de Envio e encerramento da JMJ MADRID 2011: "Tenho o prazer de anunciar que a sede da próxima Jornada Mundial da Juventude, em 2013, será o Rio de Janeiro. Peçamos ao Senhor já desde este momento que ajude os jovens de todo o mundo que tiverem de se preparar para que possam se reunir novamente com o papa nessa bela cidade brasileira" (Madrid, Jornada Mundial da Juventude Madrid 2011)21.

Assim como as demais edições da JMJ, a do Rio de Janeiro, também contou com uma logomarca, hino e lema. Os dois primeiros foram escolhidos através de um concurso, em que os jovens podiam enviar ao Comitê Organizador Local da JMJ RIO 2013 seus trabalhos para que fosse decido o que melhor identificava o evento. A logomarca escolhida e usada em toda a identidade visual da JMJ RIO 2013 foi do jovem Gustavo Huguenin de 25 anos, natural da cidade do Cantagalo. A logomarca é formada por elementos que representam a cidade do Rio de Janeiro como o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, e o amor para com o próximo como citou o autor da logomarca. Na figura abaixo pode-se observar o significado de cada elemento contido na logomarca.

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Fonte: Site do Ministério do Turismo do Brasil http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20130801.html 21 Fonte:Site da revista Época: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI259093-15223,00.html

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Fonte: http://www.rio2013.com/pt/noticias/detalhes/202/logomarca-oficial-da-jmj-rio2013-conceito Figura 18: Logomarca da JMJ Rio 2013 e o significado de cada elemento.

Assim como a logomarca, o Hino Oficial, intitulado de “Esperança do Amanhecer”, também foi escolhido através de um concurso realizado pela COL. Ao todo foram 180 títulos enviados e o escolhido foi escrito pelo Padre José Cândido de Minas Gerais. Segundo o autor a inspiração para composição do hino, foi nas belezas naturais do Rio de Janeiro, no monumento do Cristo Redentor e no próprio lema da JMJ. A gravação do Hino contou com a participação de vários cantores católicos brasileiros.

Público do Evento As primeiras pesquisas realizadas para traçar o perfil dos turistas da Jornada Mundial da Juventude, foram realizadas pelo Ministério do Turismo e pelo Instituto Alberto Luis Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisas de Engenharia. Ao todo, foram entrevistados 4450 turistas, sendo eles 3,1 mil brasileiros e 1350 estrangeiros de 175 países. As pesquisas foram realizadas durante toda a programação do evento. Segundo as primeiras pesquisas realizadas pelo Ministério do Turismo do Brasil, o perfil dos participantes da Jornada Mundial da Juventude foi composto por: 51,5% de mulheres, 55,7% de jovens de até 25 anos, 49,4% utilizou o avião como meio de transporte para chegar ao evento, 59,8% utilizaram hospedagem especial (alojamentos oferecidos na inscrição do evento: casas de família, salões de igrejas, colégios e outros), 71,1% veio em grupos, 84,8% estão participando pela primeira vez de uma Jornada Mundial, 95,1% desejam retornar ao Rio de Janeiro.22 Partindo para a visão econômica foram realizadas algumas pesquisas pelo Ministério do Turismo. Onde concluiu-se que a Jornada Mundial da Juventude RIO 2013 gerou uma receita de 1,285 bilhão23 na economia do Rio de Janeiro. O gasto médio durante a permanência no Brasil foi de R$1830,00 para os turistas estrangeiros e R$1370,00 para os turistas brasileiros. A Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF), juntamente com a secretaria Estadual de Turismo do Rio de Janeiro, realizou uma pesquisa durante os dias 23 e 25 de julho de 2013 e chegaram à conclusão de que 1,8 bilhões de reais 22

Dados obtidos a partir da pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo e Instituto Alberto Luis Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisas de Engenharia, com objetivo de traçar o perfil dos participantes da JMJ RIO 2013 . 23 Fonte: Ministério do Turismo do Brasil.

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foram injetados na economia da cidade-sede, um ganho econômico de 17 vezes mais que na Copa das Confederações24. Uns dos setores que mais lucraram com a realização da JMJ foram o de bares e restaurantes e hotéis. Durante os seis dias de evento, houve faturamento dobrado nos restaurantes e bares da região de Copacabana e Zona Sul do Rio de Janeiro, cerca de 25 mil pratos foram vendidos a mais por dia, e 78,36% de ocupação hoteleira, entre os dias 25 de 28 de julho. Além do grande faturamento gerado na economia fluminense, outros números que chamaram bastante atenção dos organizadores foi o recolhimento de dejetos produzidos durante todo o evento. No total foram 390 toneladas de lixo, desses 45 toneladas de reciclados, sendo que, em apenas uma noite de Réveillon na Praia de Copacabana são recolhidos 320 toneladas e o número de voluntários inscritos, 60 mil no total, que ajudaram os peregrinos e a Comissão Organizadora durante a JMJ. Talvez o maior legado deixado pela JMJ RIO 2013 não seja apenas a renda gerada durante os dias do evento, ou as estruturas montadas para o mesmo, mas algo maior, como a valorização do segmento de Turismo Religioso pelo Ministério do Turismo como pelo próprio brasileiro. O primeiro sinal de interesse pelo segmento religioso foi a criação da Cidade Da Fé durante a JMJ RIO 2013 para abrigar duas feiras: a Expocatólica e ExpoVocacional25. Ambas reuniram uma estrutura de 200 tendas para exposição de produtos e destinos religiosos. Além das exposições, o espaço também foi preparado para realização de 70 shows católicos, sessões de autógrafos e dedicatórias e espaços para realizações de negócios. Por dia eram esperadas 60 mil pessoas. Durante a ExpoCatólica, como aprofundado no capítulo anterior, maior feira católica, o ministro do Turismo Gastão Vieira e o secretário de Turismo do Rio de Janeiro Ronald Azário, afirmaram sobre o grande potencial turístico do segmento religioso, cerca de 1,7 milhões de viagens feitas no Brasil em 2012 eram de cunho religioso, e da necessidade de investimento na área. Segundo o atual secretário de Políticas Públicas do Ministério do Turismo, Sandro Ricardo Fernandes, o Ministério começou a despertar para a potencialidade do Turismo Religioso no Brasil há dois anos com a anunciação do Rio de Janeiro como sede de uma JMJ e a realização da ExpoCatólica foi o primeiro passo dado para o desenvolvimento dos destinos potencias do Turismo Religioso e a promoção dos destinos e do segmento. Em um balanço geral, a JMJ RIO 2013 pode ser considerada como um evento de grande sucesso, pois atraiu um bom número de pessoas para a prática do Turismo Religioso, foi sustentável e que gerou grandes impactos no Turismo brasileiro e principalmente, mostrou ao país o grande potencial que o Turismo Religioso tem e o quanto pode gerar de renda ao Brasil.

RESULTADOS Baseando-se no problema formulado: Quais os impactos causados pela JMJ RIO 2013; foi formulado seis questionamentos direcionados aos dois tipos de participantes do evento, voluntario e peregrino, a fim de se obter a imagem que o evento deixou para os participantes.

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Todos os dados e números presentes neste subitem foram retirados do Site Oficial do Evento e do Ministério do Turismo do Brasil (em 4 de novembro de 2013 às 0h22min). 25 Fonte: Site Cidade da Fé http://www.cidadedafe.com.br/cidade-da-fe-marcara-o-turismo-religioso-no-brasil/

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No que se referem à análise, os dados subjetivos foram transformados em texto. As entrevistas foram realizadas com quatro participantes do evento, sendo dois voluntários (Paloma Santos de 18 anos e Matheus Ribeiro de 18 anos, ambos são do estado do Espírito Santo) e dois peregrinos (Marcos Antonio Jr de 28 anos e Elzilane dos Santos de 33 anos, ambos do estado do Ceará). Foi composta por seis questionamentos iguais para peregrinos e voluntários e mais duas questões específicas para os voluntários. O questionário aplicado encontra-se no final deste estudo. De modo geral, todos os respondentes afirmaram que o evento foi maravilhoso e marcante. Não só pela visão religiosa como também quanto a sua organização, no entanto ainda era necessário que houvesse melhores investimentos e organização no item de mobilidade pública. Também foi falado sobre a boa hospitalidade dos cariocas para com os peregrinos. Foi perguntado sobre os serviços oferecidos nos pacotes de inscrição da JMJ apontando os pontos que agradou e os que não agradaram. O peregrino Marcos Antônio Jr e o voluntário Matheus compartilharam a mesma opinião, ambos gostaram da forma que foi conduzida a alimentação e o transporte dos participantes. No entanto, a voluntária Paloma afirmou que houve um pequeno problema na entrega dos tickets de alimentação e transporte entre alguns voluntários. Todos respondentes afirmaram que houve uma falha na estrutura da cidade para receber todos os peregrinos, sendo o setor de transportes o mais criticado. Outro ponto negativo foi na visitação de alguns pontos turísticos do Rio de Janeiro e nos próprios alojamentos que foram disponibilizados durante o evento. No questionamento seguinte, foi perguntado sobre os serviços e as estruturas que estavam à disposição dos participantes durante o evento. Para peregrina Elzilane o ponto mais crítico foi quanto a mobilidade pela cidade, pois os transportes públicos não supriram a demanda do evento. Os voluntários Matheus e Paloma também se queixaram quanto aos transportes. No quesito de segurança todos se sentiram seguros durante o evento, mesmo sabendo que a cidade do Rio de Janeiro, possuía número relativamente alto de violência. O peregrino Marcos Antonio Jr afirmou que havia a presença de muitos policiais e as forças armadas. Quanto à hospedagem houve divergência de opiniões. Para o voluntário Matheus a hospedagem deixou a desejar, pois eram muitas pessoas para poucos espaços para realização de higiene. Já para a voluntária Paloma não houve problemas. Um problema que foi observado quanto à hospedagem foi referente aos espaços para higiene pessoal, era muitas pessoas para poucos banheiros. Já quanto à alimentação, o voluntário Matheus e o peregrino Marcos Antonio Jr novamente compartilham da mesma opinião, afirmaram que o valor disponível para consumo foi bom e que havia muitos estabelecimentos que aceitavam o recebimento dos tickets. Já para a voluntária Paloma a alimentação deixou a desejar, pois nos dias do evento houve feriados na cidade do Rio de Janeiro, e muitos estabelecimentos encontravam-se fechados, e os que estavam abertos possuíam valores altos e a comida não a agradou muito. Quando perguntado sobre o item informações pela cidade, o peregrino Marcos Antonio Jr afirmou que esse item também deixou a desejar, no entanto o mesmo salienta que essa falha foi por parte do governo. Já para o voluntário Matheus não houve nenhuma queixa quanto a isso, até afirmou que o próprio carioca ajudava bastante em passar informações. Foi perguntado sobre a estrutura da cidade do Rio de Janeiro para receber os próximos eventos mundiais. A voluntária Paloma afirmou que a cidade está preparada, mas que se deve investir em locomoção, salientou que essa medida deve ser tomada não só no Rio de Janeiro, mas também em outras cidades. Já para o peregrino Marcos Antonio Jr a cidade não está preparada para receber outros eventos de grande porte, ainda disse que se

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deve desenvolver um plano de contingencia para melhor acolher, informar e manter as próximas pessoas que vierem para outros eventos. A peregrina Elzilane, também partilha da mesma ideia de que a cidade deve melhorar para bem receber os brasileiros como também os estrangeiros, ela frisa que aja uma melhora nos transportes públicos. Já os voluntários Matheus e Paloma, consideram a cidade do Rio de Janeiro preparada para receber outros eventos. Na última pergunta voltada a todos os respondentes, foi questionado se os mesmos voltariam a participar de outro evento de cunho religioso no Brasil. Todos afirmaram que participariam de outros eventos religiosos no Brasil, e que a JMJ RIO 2013 foi uma grande experiência, em que puderam fazer novas amizades e fortaleceram-se na fé. O peregrino Marcos Antonio JR ainda afirmou que é preciso maiores investimentos no segmento de Turismo Religioso no Brasil. Além das seis perguntas feitas aos respondentes peregrinos e voluntários, foi feita também mais duas perguntas direcionadas apenas aos voluntários. Na primeira foi indagado sobre o motivo que levou os mesmos a candidatar-se como voluntários. A voluntária Paloma afirmou que o motivo foi o serviço a Deus, já o voluntário Matheus não teve um motivo certo, mas afirmou que sempre gostou de ajudar e já se voluntariou em vários outros projetos. Ele também afirmou que o que o levou a se voluntariar foi pelo fato de que ninguém iria de sua paróquia e que iria sozinho, sendo assim resolveu se voluntariar. Na segunda e última pergunta voltada aos voluntários, foi perguntado se os mesmo voltariam a se voluntariar em outros eventos. Assim como na questão anterior, ambos responderam que sim, que voltariam a voluntariar-se, inclusive ambos afirmou que a após a JMJ já buscaram projetos sociais e retiros religiosos para ajudarem. De uma forma geral, pode-se perceber que o evento foi bem visto pelos peregrinos e voluntários, no entanto ocorreram grandes falhas em serviços básicos que incomodaram os mesmos. É interessante que o Governo busque desenvolver fórmulas de sanar esses tipos de erros, parra que os mesmos não venham ser presentes nos próximos eventos programados para acontecerem no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A atividade turística no Brasil tem apresentado um bom crescimento nos últimos anos; isso se deu com a grande exposição do país em eventos de nível mundial. No mês de julho de 2013 ocorreu na cidade do Rio de Janeiro a Jornada Mundial da Juventude RIO 2013, evento de cunho religioso que gerou grandes impactos ao Turismo brasileiro e por ter desenvolvido tamanha importância turística, tornou-se o objeto de estudo desta pesquisa. Com o crescimento da atividade turística desenvolveu-se a necessidade de segmentar o mercado, buscando atender melhor cada grupo de pessoas com expectativas de viagens semelhantes. Dos segmentos que hoje são conhecidos, o que mais cresce é o Turismo Religioso. Foi nessa temática que este trabalho se fundamentou. A princípio buscou-se realizar um estudo aprofundado sobre o Turismo, apresentando conceitos e histórico do mesmo, posteriormente foi dado ênfase ao segmento citado acima. A partir deste embasamento teórico, foi apresentado sobre o objeto de estudo, a JMJ RIO 2013 e a repercussão deste grandioso evento ao turismo brasileiro. No inicio do estudo foi proposto um questionamento sobre os impactos causados pela JMJ RIO 2013 ao Turismo brasileiro. Também foram propostas três hipótese sendo elas: o evento desencadeou muitas oportunidades para o Turismo no Brasil, a infraestrutura

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desenvolvida para a prática do turismo ainda é ineficiente e o segmento de Turismo Religioso possui grande potencial de desenvolvimento no Brasil. Todas as três hipóteses se confirmaram, e para que as mesmas fossem respondidas utilizou-se da pesquisa bibliográfica, dos estudos realizados pelo MTUR e das entrevistas feitas com quatro participantes da JMJ RIO 2013. A primeira hipótese foi confirmada através dos números gerados pela JMJ RIO 2013, como por exemplo, a renda de 1,8 bilhões de reais gerada na economia carioca, um ganho econômico 17 vezes maior que a Copa das Confederações, o que despertou interesse do MTUR para com o Turismo Religioso. A segunda hipótese foi respondida com os dados obtidos durantes as entrevistas com quatro participantes do evento e visita à campo. Eles responderam que mesmo o evento sendo maravilhoso, houve alguns problemas quanto o deslocamento pela cidade, a falta de informações, demora dos serviços de alimentação. Ficou claro que a cidade do Rio de Janeiro, assim como as outras que irão sediar outros eventos precisam melhorar suas estruturas para que possam receber melhor seus visitantes e abrigar melhor os seus próprios moradores. A terceira e última hipótese foi provada com os dados obtidos pelas pesquisas bibliográficas que apontaram o número de 344 cidades brasileiras com vocação para o Turismo Religioso, como Nova Jerusalém e Aparecida do Norte, e após a realização da JMJ RIO 2013 o MTUR mostrou-se interessado em desenvolver e investir no segmento de Turismo Religioso. Além das hipóteses também foram formulados três objetivos específicos, as quais foram detalhadas a seguir: o primeiro apontou a surgimento de grandes oportunidades, entre geração de empregos diretos, indiretos e principalmente geração de renda para a cidade que sediou o evento. No que tange a qualidade dos serviços e infraestrutura básica, o estudo apontou que alguns serviços não foram bem avaliados por parte dos peregrinos e voluntários, entre esses pode destacar: mobilidade pública, hospedagem, informação turística e alimentação. Entretanto, avaliaram positivamente a segurança. Por fim, alguns entrevistados afirmaram que a cidade do Rio não se encontra preparada para receber outros eventos de grande porte, porém mesmo diante de alguns problemas estruturais encontrados todos responderam que voltariam à cidade, uma vez que foi uma grande experiência, em que puderam fazer novas amizades e fortaleceram-se na fé. A partir do que foi exposto pode-se então concluir que a JMJ RIO 2013 foi um grandioso evento, um verdadeiro teste de qualidade para os próximos eventos que serão sediados no Brasil. Pode-se aprender muito com seus erros e acertos do evento. Durante as pesquisas alguns problemas de infraestrutura básica foram muito explorados, como transporte e mobilidade urbana. Na visita ao evento pode ser constatada essa falha nos transportes, principalmente quando aconteciam os atos centrais na Praia de Copacabana. O fluxo de pessoas era muito grande e os meios de transporte que eram disponibilizados não supriam a demanda. Problemas como esse precisam ser sanados para que se possa oferecer um turismo melhor para os que visitam e também para aqueles que moram nos destinos. Por fim, o evento deixou um legado de desenvolvimento de algumas práticas como o voluntariado e acolhimento da população local durante evento. Dos 70 mil voluntários inscritos na JMJ RIO 2013 cerca de 38 mil eram cariocas, isso mostra como o povo brasileiro possui o espírito da hospitalidade e receptividade para quem visita o país. A grandiosidade do evento, a renda e empregos gerados, mostram o quanto o segmento turístico-religioso tem potencial e quanto precisa de investimento para se adequar ao mercado e satisfazer as expectativas dos turistas que viajam em busca de destinos religiosos e de boas estruturas turísticas. A JMJ RIO 2013 causou e ainda causará grandes

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impactos e mudanças no cenário do Turismo brasileiro, sendo um ‘divisor de águas’ para o Turismo Religioso. Contudo, espera-se que esta pesquisa desperte atenção dos governos municipais, estaduais e federais para um melhor planejamento e organização do Turismo Religioso no Brasil e também que desperte interesse em realizar novos estudos sobre a temática de Turismo Religioso e o que podem proporcionar ao Turismo brasileiro.

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A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS DE EVENTOS DE JUIZ DE FORA: Um estudo sobre as ações de responsabilidade social, aplicadas pelas empresas produtoras de evento da cidade de Juiz de Fora internamente e nas comunidades ao seu entorno. Ana Paula Moratori Ferreira26 João Roberto Marques Lobo27 RESUMO Este trabalho busca identificar como as principais empresas produtoras de eventos da cidade de Juiz de Fora (MG) se comportam quanto à temática Responsabilidade Social. Ações de responsabilidade social interna e externa foram analisadas através de uma pesquisa qualitativa, realizada com a aplicação de um questionário. Cinco empresas foram selecionadas para a pesquisa devido ao impacto regional de seus eventos. As perguntas foram divididas em três blocos: perfil geral da empresa, ações de responsabilidade social externa e ações de responsabilidade social interna. O resultado da pesquisa foi um panorama de como as empresas produtoras de eventos de Juiz de Fora lidam com o tema proposto. Ações sugestivas também foram pontuadas ao final do estudo. Palavras-chaves: Responsabilidade Social; Responsabilidade Social Corporativa; Eventos; Sustentabilidade.

INTRODUÇÃO O setor de eventos no Brasil cresce de forma contínua, sendo responsável por significativo impacto econômico. A 9ª Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo – Pacet, apresentada em 2013 pelo Ministério do Turismo (MTur) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que os organizadores de eventos ocupam a primeira posição entre os segmentos turísticos que mais aumentaram seu faturamento em 2012. Segundo o estudo, o segmento cresceu 23,3%. A pesquisa reuniu informações a respeito do desempenho em 2012 e dos prognósticos para 2013 das 80 maiores empresas do setor de turismo, as quais auferiram um faturamento de R$ 57, 6 bilhões no ano em referência. A cidade de Juiz de Fora, localizada na Zona da Mata Mineira, segue as tendências de crescimento neste setor. Situada em área geográfica privilegiada, próxima a metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a cidade abriga, ao menos, cinco produtoras responsáveis pelo desenvolvimento de projetos de eventos de médio e grande

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Coordenadora e Professora do Curso Superior de Tecnologia em Eventos da Faculdade Machado Sobrinho. Mestranda em Comunicação pela UFJF. Especialista em Gestão Empresarial pela Fundação Educacional Machado Sobrinho. Graduada em Comunicação Social na UFJF. Consultora em Marketing, Comunicação e Eventos no Instituto de Desenvolvimento em Vendas – IDEVA. [email protected] 27 Coordenador e Professor do Curso de Pós-Graduação em Gestão Empresarial da Fundação Educacional Machado Sobrinho. Mestre em Sistemas de Gestão pela Universidade Federal Fluminense. Especialista em Gestão de Negócios, Empreendedorismo e Controle Estatístico de Processos pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduado em Administração de Empresas pela Fundação Educacional Machado Sobrinho. Gerente Regional Zona da Mata do SEBRAE em Minas Gerais. [email protected]

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porte, com atuação regional e com maior impacto nos resultados da indústria de eventos para a região. Mas como é a atuação dessas empresas quando o assunto é responsabilidade social corporativa? O que as produtoras de alguns dos mais significativos eventos de Juiz de Fora têm feito pela comunidade ao seu redor e pelo seu público interno? Qual a contrapartida da oportunidade de desenvolvimento e sustentação destas empresas proporcionada pela região que as sediam? Partindo do pressuposto de Collins e Porras (1994), independente de tamanho, setor, atividade ou lugar, qualquer organização tem liberdade para se instalar, desenvolver-se e prosperar. Porém, em contrapartida há a obrigação de atuar como corresponsável pelo desenvolvimento e bem-estar dos agentes do seu entorno. Sendo assim, o estudo aqui apresentado procurou pesquisar se as principais produtoras de eventos da cidade de Juiz de Fora atuam de forma socialmente responsável com relação aos seus públicos interno e externo. O levantamento de dados se deu por meio de uma revisão de literatura sobre o tema e entrevista com os gestores de cinco produtoras de eventos da cidade de Juiz de Fora. A amostra foi constituída através de pesquisa qualitativa com aplicação de questionário padronizado e comparação de informações. O trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro traz uma revisão de literatura sobre Responsabilidade Social, destacando as origens do termo e sua aplicação no ambiente corporativo. No capítulo seguinte, a responsabilidade social no setor de eventos é identificada através de alguns exemplos específicos. O terceiro capítulo apresenta os dados da pesquisa realizada com os gestores das cinco produtoras de eventos. Na conclusão é retomada a pergunta-problema, sendo destacadas as diversas constatações que puderam ser efetuadas por meio da pesquisa desenvolvida, além de sugestões de atuação social que podem ser aplicadas pelas empresas do setor abordado.

1.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Segundo Karkotli (2006), a responsabilidade social é um assunto recente, teorizado e colocado em prática a partir da metade do século XX, época de evolução social e criação de novas organizações em razão das falhas cometidas pelo governo nesta área. No Brasil, a responsabilidade social é considerada um tópico atual, melhor contextualizado com a promulgação da Constituição Federal de 1988, documento que, segundo Reis e Medeiros (2009), consagrou duas grandes espécies de democracia no mundo moderno: a liberal, na qual as liberdades individuais são protegidas contra o abuso de poder dos governantes, e a social, cujo objetivo é eliminar as grandes desigualdades de condição de vida. Vidigal (2000) define o termo responsabilidade como a expressão moral da personalidade consciente e livre, levando o indivíduo a assumir seus atos, positivos ou negativos, uma vez que se reconhece como autor deles. Já o termo social, segundo Abbagnano (1998) é definido como algo que pertence à sociedade ou tem em vista as suas estruturas ou condições, daí alguns termos como “ação social”, “movimento social” ou “questão social”. Sendo assim, a responsabilidade social poderia ser definida sob a ótica filosófica como a responsabilidade que cada indivíduo assume, através do seu livre arbítrio, pelas realizações ou não de seus atos, prevendo as consequências sociais que serão originadas e assumindo as consequências geradas por elas.

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1.1 Responsabilidade Social Corporativa Reis e Medeiros (2009) esclarecem que a Responsabilidade Social das Empresas é um movimento iniciado nos anos 1960. A motivação principal que deu origem a sua disseminação foi fundamentada na busca por maior consciência de segmentos da sociedade com relação à responsabilidade das corporações na preservação do meio ambiente e dos direitos dos consumidores. Na análise dos autores, o histórico da responsabilidade social das empresas remonta a meados do século XVI e está relacionado ao poder das empresas nos EUA. No século XVIII, o poderio público controlava intimamente as legalidades corporativas. Uma mais ampla noção desta relação se dá quando é explicitado que naquele tempo a constituição de empresas acontecia somente através de autorizações concedidas pelo poder público e poderiam ser retiradas se houvesse entendimento de que deixavam de servir ao interesse deste. No entanto, com a guerra civil norte-americana (1861-1865) as empresas começam a escapar deste controle. Quanto mais os lucros aumentavam maiores eram as pressões exercidas sobre o governo para ampliar seus benefícios e autonomia. Os grupos de defesa da responsabilidade empresarial continuaram na tentativa de evitar os abusos, mas não puderam impedir naquele tempo que as corporações conseguissem aprovar leis favoráveis a elas mesmas como isenção sobre acidentes de trabalho, salários, número de horas, dentre outras. Hoje, no século XXI,

Um dos maiores desafios que o mundo enfrenta (...) é fazer com que as forças de mercado protejam e melhorem a qualidade do ambiente, com a ajuda de padrões baseados no desempenho e uso criterioso de instrumentos econômicos, num quadro harmonioso de regulamentação. O novo contexto econômico caracteriza-se por uma rígida postura dos clientes, voltada às expectativas de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado, e que atuem de forma (...) responsável. (TACHIZAWA, 2008, pg.5).

As transformações socioeconômicas destes últimos anos afetaram significativamente as empresas privadas, geradoras de riquezas, contribuintes fiscais de alta importância e também, dentro do contexto da responsabilidade social, organizações compromissadas com a sociedade com a qual interagem. Karkotli (2006) define a Responsabilidade Social Coorporativa como sendo uma área da Responsabilidade Social a qual envolve um comportamento ético e responsável que almeja a qualidade nas relações da organização com todos os seus stakeholders, associados direta ou indiretamente aos negócios da empresa. Segundo o autor, as ações estratégicas da organização devem refletir tais desafios éticos para dimensões econômicas, ambientais e sociais.

O ambiente de acirrada competição vivenciado pelas empresas na atualidade vem, sem dúvida, lhes impondo a necessidade de uma atuação diferenciada como imperativo de sobrevivência no mercado, exigindo-lhes uma verdadeira mudança de paradigma ao determinar a transformação das atitudes empreendedoras fundamentadas simplesmente em conceitos lucrativos, para atitudes e práticas administrativas mais solidárias, no que diz respeito às suas interações e responsabilidades sociais com a comunidade onde atuam e de onde retiram sua sustentação econômica (KARKOTLI, 2006, pg. 13).

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Assim sendo, as empresas, por força das leis socioambientais ou por pura consciência social e boa vontade, iniciam sua jornada rumo a práticas mais éticas de atuação, na tentativa de adquirir para si uma consciência mais tranquila como membro fundamental do desenvolvimento do meio em que estão inseridas ou, simplesmente, como estratégia de angariar novos adeptos às suas marcas através de uma imagem mais politicamente correta.

2.

RESPONSABILIDADE SOCIAL EM EVENTOS

2.1 O que é evento? Antes de iniciar qualquer estudo sobre o setor de eventos, é importante a conceituação do termo. Segundo NETO (2005, pg.13) “Evento é um conceito de domínio amplo. De cursos e palestras até shows, jogos e competições esportivas, exposições, festivais, festas, mostras de arte e mesmo campanhas publicitárias criativas.”. Matias (2007) apresenta diversas outras definições e, dentre essas, a atividade é considerada pela autora uma ação do profissional mediante pesquisa, planejamento, organização, coordenação, controle e implantação de um projeto, visando atingir seu público-alvo com medidas concretas e resultados positivos. O retorno das atividades geradoras do evento estão, geralmente, vinculados ao retorno que uma marca, pessoa ou empresa, de certa forma, poderá obter. Segundo Britto (2002), no sistema de comunicação dentro da atividade empresarial, as inter-relações estratégicas pressupõem diferentes canais de comunicação, entre os quais o evento se destaca como ação concreta e de permanentes resultados positivos. 2.2 A ação social dos eventos O século XXI está sendo marcado por um momento de responsabilidade ética e interessada e também por um modismo despropositado no que diz respeito a ações socialmente responsáveis das empresas. As mudanças mercadológicas geradas pela globalização, maior acesso a informação, desenvolvimento tecnológico e consequente aumento da concorrência, estão obrigando as organizações a repensarem suas estratégias de mercado.

Na busca incessante por lucros cada vez maiores, e mesmo para se manterem no mercado, elas tiveram de ‘sair da toca’ e criar processos de geração de novos negócios e produtos diferenciados da concorrência. Já não podiam mais depender dos atuais produtos sequer para sobreviver. No setor de eventos a realidade é a mesma. Com o incrível aumento do número de eventos, torna-se evidente a necessidade da busca por projetos criativos e diferenciados para vencer a concorrência. Tais projetos têm início em ideias criativas. (GIACAGLIA, 2007, pg. 02).

A criatividade é uma grande aliada do mercado de eventos. A tentativa é de que o consumidor do evento vivencie uma experiência única e satisfatória, levando consigo uma imagem e deixando para trás algum retorno ao investimento feito pela organização. Mas a que custo todo esse preparo é feito? A logística é complexa e, em grande parte, não é reversa, ou seja, materiais recicláveis tornam-se lixo, não há um sistema de reutilização de água ou iluminação natural, as comunidades ao redor do evento ou da empresa que o produz

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não são beneficiadas, pelo contrário, algumas vezes são até prejudicadas pelo barulho, sujeira e lentidão no trânsito. Pereira (2010) lembra que reverter essa situação é muito simples. Segundo ele, por meio do monitoramento dos impactos positivos e negativos gerados pelos eventos nas comunidades em que são promovidos, torna-se possível identificar os pontos preocupantes, assim como administrá-los visando potencializá-los quando positivos ou minimizá-los quando negativos. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a empresa Ernst & Young Brasil, desenvolveu um estudo para identificar os impactos socioeconômicos que serão trazidos pela Copa do Mundo de 2014. Segundo o documento, o País movimentaria R$ 142,39 bilhões adicionais no período 2010-2014, gerando 3,63 milhões de empregos-ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população. Os impactos denominados como específicos pelo estudo incluem os impactos do Programa de Voluntariado sobre a escolaridade e renda da população; a exposição do país na mídia mundial e os consequentes efeitos sobre o turismo; as potenciais reduções da violência e criminalidade advindas dos investimentos em segurança; os benefícios sociais dos investimentos em infraestrutura; e os impactos microeconômicos da construção e melhoria dos estádios e todo um novo ambiente de oportunidades que se cria em seu entorno em função do megaevento. As Olímpiadas de 2016 também prometem contribuir com o desenvolvimento socioambiental de seu local-sede. De acordo com o Plano de Gestão da Sustentabilidade dos Jogos Rio 2016, publicado em 2013 e elaborado pelo Comitê organizador dos Jogos olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 (Comitê Rio 2016), Gerência Geral de Sustentabilidade, Acessibilidade e Legado, Autoridade Pública olímpica (APO), Diretoria de Infraestrutura Esportiva e de Apoio ao Evento e Meio Ambiente, Escritório de Gerenciamento de Projetos do Governo do Rio de Janeiro (EGP), Empresa olímpica Municipal (EOM) e Gerência de Sustentabilidade e Acessibilidade, os princípios que irão reger os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 são definidos na norma ABNT NBR ISO 20121 para sistemas de gestão de sustentabilidade em eventos. São eles: Responsabilidade, Inclusão, Transparência e Integridade. Dos eventos esportivos, aos festivais, outra empresa que parece estar preocupada com a imagem é aquela promotora do Rock in Rio. Segundo Gomes (2011), em 2011 o festival lançou um plano de ação para ser o primeiro evento no Brasil a ter a cerificação 100R, selo internacional que atesta emissão zero de carbono e 100% de reciclagem. As atividades incluíam a gestão de resíduos, redução e compensação da emissão de carbono, programas educacionais e a campanha "Vá de ônibus". A vice-presidente do Rock in Rio, Roberta Medina28, informa que desde 2001 o festival se utiliza de artifícios socialmente responsáveis como promoção de grandes ações sociais e projetos direcionados como “Por um mundo melhor”. Ela declara ainda que acredita ser importante que o consumidor reconheça o calor de uma marca que se preocupa com causas sociais e ambientais.

O desenvolvimento de planejamento com ênfase na responsabilidade social requer uma mudança bastante significativa na filosofia e na prática gerencial da maioria das organizações, sejam elas públicas ou privadas. Isso faz o empreendimento organizacional passar, necessariamente, por uma fase de mudanças culturais e gerenciais, para possibilitar novas formas de atuação, comportamentos e comunicação, além de novas técnicas e práticas de planejamento, controle e avaliação organizacional e social. (KARKOTLI, 2006, pg. 42) 28

Disponível em < http://oglobo.globo.com/cultura/rock-in-rio-apresenta-plano-de-sustentabilidade-dofestival-garante-emissao-zero-de-carbono-2867961> Acesso em 30 mar. 2014.

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Dessa forma, entende-se que a compreensão e aplicação dos conceitos de Responsabilidade Social pelas empresas de eventos não é algo simples. A cultura precisa ser modificada. Saflate (2007) revela que uma pesquisa realizada pelo Ibope com 500 executivos no Brasil evidencia que deste total 80% não entendem que ética está relacionada com a prática socioambiental e apenas um terço afirmou que considera sustentabilidade uma questão estratégica para a empresa. Vários anos se passaram desde a pesquisa, a mentalidade de muitos gestores continua a mesma, ou evoluiu pouco.

3.

PESQUISA

Segundo TASHIZAWA (2008), a gestão ambiental e a responsabilidade social tornam-se importantes instrumentos gerenciais para capacitação e criação de condições de competitividade para as organizações, qualquer que seja seu segmento econômico. Com o crescimento das empresas no setor de eventos e sua consequente influência econômica e social nas regiões em que se desenvolvem, é fundamental que tais empreendimentos se adequem a essa nova mentalidade de gestão. O presente trabalho busca, dessa forma, identificar o nível de entendimento das empresas de evento da cidade de Juiz de Fora (MG) no que diz respeito à importância da Responsabilidade Social como forma ética e empreendedora de atuação, utilizando o método qualitativo de pesquisa. A intenção desta utilização é levantar dados que dizem respeito ao grau de conhecimento, preocupação e ações das principais empresas de produção de eventos da cidade de Juiz de Fora (MG) no que tange a Responsabilidade Social. O instrumento utilizado para a pesquisa foi um questionário, constituído por questões relacionadas ao objetivo final deste trabalho. Este questionário é composto de perguntas fechadas e abertas e é dividido em três partes: perguntas relativas à empresa que está sendo pesquisada; perguntas referentes ao conhecimento e ações sobre práticas de responsabilidade social no meio externo e perguntas referentes ao conhecimento e ações sobre práticas de responsabilidade social no meio interno. Todas as empresas foram definidas de forma não aleatória, por conveniência. Isto se deu porque a autora da pesquisa considerou que deveriam ser escolhidas empresas de médio a grande porte que produzem eventos com impacto local-regional. O processo de trabalho de campo para coleta dos dados foi realizado através de agendamento de entrevista com um gestor representante de cada empresa selecionada. A pesquisa foi realizada de forma presencial durante o mês de maio de 2013. 3.1 Análise dos dados Para melhor compreensão do estudo, a análise dos dados foi dividida em três blocos: o primeiro buscou compreender o perfil das empresas, o segundo pretendeu observar as ações da empresa no que tange a responsabilidade social externa e o último bloco procurou observar as ações da empresa no quesito responsabilidade social interna. Para preservar a identidade das empresas e seus respectivos gestores, cada situação de entrevista foi nomeada de “A”, “B”, “C”, “D” e “E”. 3.1.2 Perfil das empresas

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No primeiro grupo de respostas foi possível identificar o perfil das empresas entrevistadas. Todas são produtoras de eventos de médio e grande porte, que impactam a cidade de Juiz de Fora e a região ao entorno. A empresa “A” é responsável pela produção de festivais countries e micaretas, além de shows e outros eventos esporádicos. A empresa “B” tem como foco principal a realização de feiras diversas e eventos coorporativos. A empresa “C” produz eventos relacionados a formaturas. A empresa “D” tem seu nicho de atuação em eventos relacionados a formaturas, micaretas, casamentos, eventos temáticos, eventos empresarias, shows e outros eventos esporádicos. A empresa “E” atua no setor de moda, feiras e gastronomia. Das cinco empresas produtoras de evento entrevistadas, 60% não possuem uma missão empresarial, apesar de estarem a caminho dela segundo os relatos, e contam com mais de um gestor. No que diz respeito ao contrato de funcionários, 60% possuem funcionários registrados, sendo que dessas 40% abrigam mais de dez funcionários registrados e 20% abrigam mais de 100 funcionários. Das empresas que possuem uma missão empresarial já estabelecida, 40% delas, apenas uma menciona a responsabilidade socioambiental como sendo um de seus valores. Com relação à experiência de mercado 80% atuam a mais de cinco anos no mercado de Juiz de Fora e 100% dizem que sua estrutura é capaz de promover eventos voltados a todos os tipos de público. 3.1.4 Resultados da pesquisa relacionados à Responsabilidade Social no ambiente externo Com relação à responsabilidade social externa, pode-se perceber que 80% dos gestores compreendem por completo o significado de responsabilidade social e 20% não estão totalmente certos sobre este conceito. Dos cinco gestores entrevistados, 100% concordam que a responsabilidade social é parte de uma conduta ética empresarial e afirmam se utilizar de estratégias socialmente responsáveis na execução dos eventos promovidos pela empresa em que atuam. Gráfico 1 : Responsabilidade Social Externa

0% 0% 20% Compreendem o que é Não compreendem por completo

80% Fonte: Os autores (2013) Ao mencionar os tipos de ações sociais que são executadas nos eventos, 40% dos entrevistados mencionaram participar de programas de redução do carbono e reciclagem das lonas e banners dos eventos; 20% das empresas fazem referência ao envolvimento das associações de bairro e comunidade onde o evento será executado; 40% mencionam a reciclagem do papel utilizado pela empresa; 20% mencionam a doação das latas de alumínio

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descartadas no evento para grupos de reciclagem; 20% mencionam parceria com a Associação do Meio Ambiente de Juiz de Fora na utilização de plataformas sustentáveis; 60% mencionam a arrecadação de alimentos não perecíveis para doação a instituições carentes; 40% fazem menção ao oferecimento de transporte para os participantes dos eventos, viabilizando o deslocamento e provendo a segurança e 20% listam a gratuidade do acesso aos eventos.

Empresas que realizam a ação (%)

Gráfico 2: Ações Sociais Executadas nos Eventos 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

Fonte: Os autores (2013) Aos serem questionados sobre a atuação na comunidade onde as empresas estão localizadas 80% dos gestores afirmam atuar junto a esta população. Nas referências aos tipos de ações executadas 100% deles inclui a doação de alimentos ou agasalhos em sua fala; 20% organizam eventos beneficentes para arrecadação de fundos para instituições de apoio; 60% contribuem com instituições religiosas que fornecem suporte a famílias carentes e 100% dizem prover ajuda esporádica quando solicitados.

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Empresas que realizam a ação (%)

Gráfico 3: Atuação na Comunidade 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Doação de Alimentos

Organização de Eventos Beneficenes

Contribuição com instituições religiosas que promovem ações sociais

Ajuda esporádica quando solicitado

Fonte: Os autores (2013) Ao serem questionados sobre a importância da responsabilidade social para o pleno desenvolvimento da empresa 40% dos gestores afirmam considerá-la importante e 60% consideram importante sob uma ótica pessoal, alegando que o público-alvo da empresa não valoriza tais ações. Gráfico 4: Importância da Responsabilidade Social externa para o pleno desenvolvimento da empresa 0% 0%

40% Consideram importante

60%

Consideram importante sob uma ótica pessoal (não acreditam que o público-alvo valorize)

Fonte: Os autores (2013) Com base nos dados coletados é visível que todas as empresas entrevistadas incluem em seus processos ações, pontuais ou continuadas, de responsabilidade social. No entanto, pode-se notar que há uma desarmonia entre ações executáveis e ações executadas. Essa afirmação é embasada por alguns dados numéricos como o fato de que 40% das empresas entrevistadas mencionam a reciclagem do papel utilizado pela empresa e doação das latas do evento para Associação dos Catadores de Latas. Vinte por cento das empresas mencionam envolvimento das associações de bairro nos locais onde os eventos são executados e essa mesma porcentagem aparece em ações de parceria com a Associação do Meio Ambiente de Juiz de Fora. A arrecadação de alimentos durante os eventos consta em 60% das entrevistas, mesmo sendo um item que envolve um esforço maior o público-alvo. A gratuidade na entrada dos eventos não será considerada porque esta é uma estratégia de adesão ao evento e não uma ação de responsabilidade social.

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3.1.5 Resultados da pesquisa relacionados à Responsabilidade Social no ambiente interno Das empresas entrevistadas 40% não possuem funcionários registrados, utilizandose de serviços terceirizados, voluntários e free lancers que também são utilizados pelas outras 60%. Esse tipo de colaborador foi considerado nas perguntadas que eram referentes aos funcionários registrados. Gráfico 5: Número de funcionários registrados 0% 0%

40%

Possuem funcionários registrados Não possuem funcionários registrados 60%

Fonte: Os autores (2013) Com relação aos benefícios oferecidos pela empresa ao funcionário, 80% das empresas oferecem auxílio transporte ao seu colaborador, seja ele registrado ou não; 60% das empresas oferecem auxílio alimentação, sendo que 20% possuem um refeitório em suas instalações. Esta porcentagem é referente a mesma empresa que provê aos funcionários de determinado nível com participação nos lucros. Com relação ao plano de saúde, 40% oferecem esse benefício. Foram mencionadas também por 40% dos entrevistados bonificações em situações específicas e 40% deles provêm o funcionário com uniforme da empresa.

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Empresas que oferecem (%)

Gráfico 6: Benefícios oferecidos aos colaboradores 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Auxílio Transporte

Auxílio Alimentação

Participação nos lucros

Uniforme

Bonificações Plano de Saúde

Fonte: Os autores (2013) Com relação a programas de treinamento e capacitação, 100% das empresas alegam oferecer oportunidades de aperfeiçoamento a seus colaboradores, no entanto, de forma esporádica, quando há demanda pela qualificação. Nenhuma das empresas entrevistadas oferece plano de carreira. No que se refere à pesquisa de satisfação interna dos funcionários 40% realizam informalmente, 20% não realizam e 40% realizam formalmente.

Empresas (%)

Gráfico 7: Pesquisa de Satisfação Interna 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Realiza Informalmente

Realiza Formalmente

Não Realiza

Fonte: Os autores (2013) No que tange às atividades de lazer oferecidas aos funcionários e colaboradores 20% das empresas não provêm atividades como esta e 80% realizam confraternizações anuais como churrascos e festas temáticas. Com relação a programas de incentivo ou premiação, 60% das empresas, não possuem nenhum programa e 20% praticam programas de inovação e redução dos custos periodicamente.

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Empresas que realizam (%)

Gráfico 8: Atividades Motivadoras 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Treinamento e Capacitação

Plano de Carreira Confraternizações

Programas de Inovação e redução dos custos

Progrmas de Incentivo e Premiações

Fonte: Os autores (2013) Com relação a considerar a prática da responsabilidade social interna como sendo importante para o funcionamento pleno da empresa 80% dos gestores concordam com essa afirmativa, sendo que desses, 20% afirmam não considerá-la importante para o posicionamento da marca e 20% dizem nunca ter pensado sobre o assunto. Gráfico 9: A Importância da Responsabilidade Social interna para o pleno funcionamento da empresa 0% 20% Considera importante plenamente Considera importante mas não para o posicionamento da marca Nunca pensou sobre o assunto 20%

60%

Fonte: Os autores (2013) Das empresas entrevistadas 40% estão em fase de desenvolvimento de projetos de evento voltados a Responsabilidade Social e Sustentabilidade. A responsabilidade social interna foi um item difícil de ser observado uma vez que 40% das empresas não possuem funcionários registrados. No entanto, todas as empresas, de alguma forma, demonstram o mínimo de preocupação com o bem estar dos seus colaboradores. As empresas com o maior número de funcionários, 20 e 103 respectivamente, oferecem todos os benefícios básicos como auxílio transporte, alimentação e plano de saúde.

4.

CONCLUSÃO

49

A responsabilidade social é um tema que pode ser adotado como estratégia de ação empresarial - desde que almeje um comprometimento real com causas sociais - ou, se feita de forma descompromissada - visando à promoção da marca ou satisfação pessoal do gestor - pode-se dizer que o que há são atos filantrópicos, entendidos como caridade pontual. Acredita-se que, com o aumento do acesso à educação e informação nas últimas décadas, o consumidor brasileiro torne-se mais consciente com relação à importância da contribuição corporativa na sociedade em que atua. Isso faz com que muitos deles estejam dispostos a pagar mais caro por um produto vindo de uma empresa socialmente responsável. Também essas empresas encontram mais facilidade de acesso em suas transações à medida que se expandem para novos mercados. Apesar disso, esta pesquisa mostrou que 60% das maiores empresas produtoras de eventos de Juiz de Fora não consideram que seus públicos-alvo valorizam tais ações. Ainda assim, todas as empresas deste estudo mencionaram algumas ações sociais internas e externas que são desenvolvidas por elas. No entanto, as ações são realizadas de forma esporádica ou começaram a ser executadas pelas empresas recentemente. Tais evidências mostram que a falta de controle, mapeamento e continuidade podem vir a comprometer a eficácia das organizações no bem-estar que poderiam proporcionar às comunidades ao seu redor. Conclui-se, dessa forma, que as maiores empresas produtoras de eventos da cidade de Juiz de Fora estão tentando alavancar sua responsabilidade social, necessitando, no entanto, de estratégias mais organizadas e sustentáveis. Para auxiliá-las, algumas sugestões de ações visando um melhor desempenho na execução da responsabilidade social poderiam englobar: a separação e doação dos materiais recicláveis e reaproveitáveis para a Associação Municipal dos Catadores de Materiais Recicláveis e Reaproveitáveis de Juiz de Fora (ASCAJUF) ou para a Associação dos Catadores de Papel e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora (APARES); utilização de materiais recicláveis e reciclados nas ações internas e externas da empresa; utilização da mão-de-obra das comunidades onde os eventos são executados, com treinamento se necessário, gerando assim oportunidades de profissionalização e emprego; iniciativa pela busca de parcerias com instituições promotoras de ações de marketing social ligadas à saúde, educação, meio ambiente, segurança etc para que possam divulgar suas campanhas; utilização de expertise dos gestores e colaboradores da empresa, bem como envolvimento dos fornecedores e parceiros, na realização de eventos ou atividades beneficentes, com adoção de ao menos uma instituição local para ser auxiliada, no mínimo, anualmente.

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A VIABILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE CONDO-HOTÉIS EM PERNAMBUCO: UMA ALTERNATIVA DE INVESTIMENTO PARA A EXPANSÃO DE LEITOS NOS DESTINOS TURÍSTICOS. Raphael dos Santos D’Emery Gomes 29 Luis Henrique de Souza 30 Alexandre César Batista da Silva31 RESUMO Recentes pesquisas econômicas destacam a liderança do estado de Pernambuco no indicador Produto Interno Bruto (PIB), com taxas de crescimento superiores à média nacional. Nesta perspectiva, o estado tem despertado o interesse dos investidores em diversas áreas, inclusive no setor hoteleiro. O estudo que ora se apresenta busca identificar os principais fatores que têm viabilizado a construção de condo-hotéis no estado de Pernambuco. Os procedimentos metodológicos basearam-se nas seguintes técnicas de pesquisa: bibliográfica para o referencial teórico, documental para os dados econômicos e estudo de caso empírico realizado nas construtoras estudadas. A abordagem utilizada foi a descritiva, com técnica qualitativa e uso de entrevista estruturada para coleta de dados. Os resultados da pesquisa demonstram que o crescimento da demanda turística, o baixo risco e as formas de financiamento são fatores que têm viabilizado a difusão deste negócio em Pernambuco. Conclui-se, portanto, que os condo-hotéis se apresentam como uma alternativa para a expansão de leitos nos destinos turísticos. Palavras- Chave: Pernambuco. Investimento hoteleiro. Condo-hotel.

INTRODUÇÃO A partir da difusão do mercado hoteleiro, apresentam-se novas modalidades de hospedagem para se adaptar as exigências do mercado que são cada vez mais específicas de acordo com as exigências dos nichos de segmentação. Em São Paulo entre as décadas de 1970 e 1980 surgiram os flats, cujas construções ocorreram em função da crise que assolava a construção civil no período. Saab e Gimenez (2001) ressaltam que os flats apresentam como principal característica a oferta de serviços hoteleiros para clientes que demandam um maior tempo de permanência numa determinada localidade, podendo haver, inclusive, moradores no empreendimento, ao contrário do que ocorre em geral nos hotéis. Essa modalidade de hospedagem também tem como característica a grande quantidade de investidores, diferenciando-se assim dos hotéis convencionais, onde em geral estes possuem apenas alguns proprietários, ou membros da mesma família. Com a evolução e amadurecimento dos flats, surgem no mercado os condo-hotéis, que se caracterizam por haver grande quantidade de investidores para viabilizar a construção deste tipo de empreendimento. Entretanto, cabe destacar que diferente dos flats, é vedada a moradia dos proprietários nesta modalidade de equipamento hoteleiro. Este tipo de 29

Graduado em Turismo pela Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: [email protected] . Professor do Departamento de Hotelaria e Turismo da Universidade Federal de Pernambuco -UFPE. E-mail: [email protected] 31 Professor do Departamento de Hotelaria e Turismo da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. E-mail: [email protected] 30

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empreendimento costuma ser uma alternativa para destinos onde há carência de leitos para atender a demanda, devido à celeridade para construção desta modalidade de investimento. Os condo-hotéis possuem peculiaridades para sua construção, e neste raciocínio, este estudo demonstra sua relevância ao identificar os principais fatores que têm viabilizado a construção de condo-hotéis no estado de Pernambuco.

REFERENCIAL TEÓRICO Condo-hotel é um termo recente no mercado nacional, que faz parte também de um tipo de mercado imobiliário, onde o turismo aparece como um viés de investimento. Onde este se caracteriza por não se fazer necessária à participação direta do poder público ou da comunidade local criando desta forma espaços segmentados de lazer, descanso, ócio e afins, conforme afirma Ferreira e Silva (2008, p.4). O chamado “Turismo Imobiliário” é aqui tomado como uma nova forma que o mercado imobiliário encontra para reestruturar-se, sem depender, diretamente, do financiamento público e sem depender das especificidades da economia local, isto é, da renda local. Essa modalidade de produção imobiliária está relacionada com a segmentação dos espaços (em práticas sociais de lazer, ócio, descanso, alimentação, etc.) e a possibilidade de novos capitais, advindos de investidores externos, sejam estes grupos ou indivíduos.

Na Espanha, o termo utilizado é o de turismo residencial, que utiliza esta definição há mais de 25 anos. De acordo com Brito (2010, p.26) a definição de turismo residencial é: [...] o conjunto de actividades [sic] interligadas com a aquisição, por não residentes, de uma casa para a vivência do tempo livre, em geral no quadro de um empreendimento turístico, para utilização exclusiva (temporária ou permanente), para rendimento exclusivo ou uma combinação de utilização e de rendimento.

A definição de turismo imobiliário no Brasil feita por Silva (2010, p. 154), define o mesmo como sendo: É o conjunto de atividades relacionadas com o setor do turismo e do mercado imobiliário, que se traduz em um capital imobiliário-turístico e sustenta uma modalidade que está sendo nomeada pelo mercado e divulgada pelos meios de comunicação de ‘turismo imobiliário’ ou turismo residencial, por outros.

De acordo com a análise de Silva (2010), quanto ao desenvolvimento do turismo residencial na Espanha, o mesmo se consolidou como um modelo de urbanização turística em seu litoral, tendo como principais motivações a comercialização de terrenos a beira-mar ou em regiões agrícolas por estrangeiros. Segundo Mazón e Aledo, 2005, p.18-19 (apud SILVA, 2010 p.134), a definição é: El turismo residencial es la actividad económica que se dedica a la urbanización, construcción y venta de viviendas que conforman el sector extra-hoteleiro, cuyos usuarios las utilizan como alojamiento para veranear o residir, de forma permanente o semipermanente, fuera de sus lugares de residencia habital, y que responden a nuevas fórmulas de movilidad y residencialidad de las sociedades avanzadas.

Diante das definições expostas pelos autores anteriormente, pode-se concluir que este mercado compreende-se da seguinte forma. O conjunto de atividades que envolvem a

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construção civil, mercado imobiliário, agentes financeiros e o setor turístico. Podendo ser adquiridos por pessoas físicas ou jurídicas que tenham interesse de investir capital para auferir lucros com a rentabilidade do empreendimento, ou então, para servir como imóvel de segunda residência, com fins de lazer, ócio e afins. Mesmo com a elucidação realizada pelos autores citados anteriormente, fica evidente que a definição destes autores brasileiros vislumbram em geral a participação do mercado turístico e imobiliário, onde o consumidor tem este investimento como um fim (em geral para lazer, ócio, descanso e etc.). Contudo, na definição elucidada por Brito (2010), percebe-se que esta é realizada de forma mais abrangente, tratando o turismo imobiliário não apenas como um investimento fim, mas também um investimento meio. Apresentando desta forma que os proprietários possuem o interesse não só de descanso, lazer, ócio e afins, mas também como uma forma de gerar rendimentos através da gestão do bem. Para os espanhóis Mazón e Aledo (2005 apud SILVA, 2010), estes vão um pouco mais além, tratando também sobre a questão da urbanização e aquisição para residência permanente ou semipermanente. Estas definições apresentadas pelos autores europeus podem ser caracterizadas por estes mercados, Espanha e Portugal serem um dos principais mercados de turismo residencial do mundo. Quanto ao condo-hotel, mesmo não havendo uma lei ou regulamentação que defina a tipologia, frequentemente o mesmo se confunde com outras modalidades de meios de hospedagem com componente de residência primária e flats. Segundo Rushmore (2006) os hotéis com um componente imobiliário de residência primária têm como principal característica a apresentação de uma estrutura física hoteleira com instalações exclusivas para seus residentes, como entrada paralela, lobby e elevadores. Os proprietários destes imóveis se beneficiam do hotel a partir da utilização dos serviços hoteleiros. Desta forma, os proprietários beneficiam o hotel pelo uso dos seus serviços, diminuindo desta forma os riscos associados à sazonalidade. Por este empreendimento ter como perfil clientes de primeira moradia, é comum não haver um pool de locação, onde o proprietário aceite o operador hoteleiro para alugar seu imóvel e posteriormente se beneficiar com a divisão dos resultados obtidos. Quanto à outra possível variação e bastante difundida, os flats segundo Beni (1998, p.303) são conceituados como “condomínio residencial, cujas unidades habitacionais podem, eventualmente, ser locadas a terceiros por tempo determinado. As instalações físicas são mais amplas do que as do apart-hotel. [...] Fornece os mesmos tipos de serviço”. Complementando Beni (1998), Rushmore (2006, p.2) lembra ainda que quando os proprietários não estão ocupando o imóvel, os mesmos podem colocá-lo em um pool de locação, alugando-os aos hóspedes através do operador hoteleiro. Tipicamente, o rendimento é divido entre o hotel e o proprietário do condomínio à proporção de 50% para cada um. No entendimento comum entre os autores, os flats possuem diversos proprietários, que podem morar no empreendimento, ou alugar a terceiros, ou então dispor de seu imóvel para um pool de locação. Este tipo de empreendimento sempre possui uma operadora hoteleira que será responsável em gerir as atividades do flat e repassar a divisão dos resultados obtidos para aqueles que fizerem parte do pool. Como evolução dos flats, surgiram os condo-hotéis, que se caracterizam como empreendimentos na forma de hotel em condomínio bastante recentes no mercado hoteleiro do Brasil. Estes são hotéis que têm sua estrutura operacional hoteleira composta por um pool de locação, onde todas as unidades são autônomas, comercializadas a investidores. Conforme relatam Saab e Gimenez (2001, p.139):

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Os condo-hotéis, ou hotéis em condomínio, muitas vezes confundidos com os flats, constituem-se basicamente de hotéis com funding32 realizado pelo mercado imobiliário, contemplando a venda das unidades ou tendo a captação de recursos por meio de um fundo de investimento imobiliário. É um hotel em sua totalidade, com todos os apartamentos disponíveis para o pool e operados por cadeia hoteleira. Do ponto de vista arquitetônico, esses empreendimentos privilegiam os espaços comuns destinados a atividades sociais e de lazer, em detrimento das áreas de serviço das unidades autônomas, tais como cozinha e despensa.

No entendimento do SECOVI-SP (2012), trata-se de um empreendimento com aprovação nos órgãos públicos que são submetidos ao regime de condomínio edilício. Contudo, o proprietário ou o detentor de sua posse não tem o direito de utilizar sua unidade para moradia, ficando proibida a locação a terceiros, sendo obrigatória a participação do pool através do gestor hoteleiro. Como características dos proprietários deste tipo de empreendimento, os mesmos estão procurando primeiramente o retorno sobre seu investimento ao invés de um lugar para morar, ou passar as férias. Desta forma, a unidade habitacional é estruturada como um negócio, onde o mesmo beneficia-se do retorno obtido e de outras vantagens fiscais. De acordo com o exposto, observa-se que os condo-hotéis podem ser definidos como empreendimentos hoteleiros, onde há uma grande quantidade de investidores, podendo ser fundos de investimentos imobiliários, pessoas físicas ou pessoas jurídicas. Neste caso é vedada a moradia no empreendimento ou a locação direta pelo proprietário da unidade, entretanto, o proprietário pode, em determinados períodos do ano, utilizar sua unidade e ficar fora do pool de locação neste período, de acordo com o contrato com a operadora hoteleira. Para os incorporadores deste tipo de empreendimento, os condo-hotéis possuem um maior e mais rápido retorno do investimento, o que propicia uma oferta na expansão de leitos que se adéqua ao iminente aumento da demanda por meios de hospedagens em função dos eventos esportivos sediados nos próximos anos no Brasil.

MÉTODO O presente artigo teve como recorte os condo-hotéis no estado de Pernambuco. O alvo das pesquisas foram as construtoras que já realizaram a construção de condo-hotel ou que possuem pretensão de realizar tal investimento no estado nos próximos 03 anos. Quanto às técnicas de pesquisa foram utilizadas a bibliográfica, documental e o estudo de caso. A abordagem utilizada na pesquisa foi do tipo descritiva, que tem como característica a busca por entendimento de um fenômeno. Nesta ênfase, a pesquisa descritiva, “procura descobrir, com a precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características”. (CERVO e BERVIAN, 2002, p.66). A técnica de coleta de dados utilizada foi realizada uma entrevista estruturada Como a pesquisa possui o interesse em identificar os fatores influenciadores para as construtoras na construção de condo-hotéis, os dados foram coletados junto aos executivos de duas construtoras atuantes no mercado hoteleiro. A primeira já construiu condo-hotéis em Pernambuco, que será denominada Construtora A. Enquanto que a segunda ainda não possui condo-hotel construído, contudo, já possui obras em andamento, será designada como Construtora B. O período de realização das entrevistas foi entre os dias 07/01/2013 a 29/03/2013.

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Funding: Constitui-se por hotéis com recursos alavancados pelo mercado imobiliário. Saab e Gimenez (2001)

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ANÁLISE DOS RESULTADOS No primeiro ponto da entrevista, que aborda o mercado hoteleiro no estado, procurou-se buscar dos entrevistados como as empresas percebem o mercado hoteleiro em Pernambuco. Em ambas as entrevistas, os executivos afirmam que há uma demanda latente no estado. De acordo com o executivo da Construtora A, o mesmo relata que esta demanda se deve ao fechamento de antigos hotéis no Recife e a falta de construção de novos hotéis na região. Contudo, o executivo da Construtora B expõe o atual cenário da hotelaria do estado que está melhorando e se apresenta como um dos maiores potenciais de crescimento, devido entre outros fatores a demanda elevada e qualificada versus antigos equipamentos. Corroborando com os entrevistados, segundo o Ministério do Turismo entre os anos de 2009 e 2010 houve o fechamento de 12 equipamentos hoteleiros no estado. Fato este que criou uma maior demanda por equipamentos hoteleiros, devido ao surgimento de novos investimentos no estado como o Complexo de Suape, Fábrica da Fiat, Hemobrás, dentre outros investimentos. Estas dinâmicas econômicas movimentaram o setor hoteleiro com a vinda de seus executivos ao estado e também com a moradia temporária de trabalhadores. O executivo da construtora B ainda ressalta o incentivo vindo da prefeitura do Recife, onde a mesma aumentou o coeficiente de ocupação, em outras palavras, podendo hotéis e afins construir um maior número de apartamentos para comercialização. Quanto ao mercado hoteleiro, também foi questionado quais os fatores que influenciam a construção de novos empreendimentos hoteleiros. O fator da demanda reprimida esteve presente nas respostas de ambos os gestores, entretanto, alguns outros fatores complementaram esse questionamento. O acompanhamento das pesquisas de mercado, a busca por uma boa localização, o valor do terreno, a falta de oferta de equipamentos qualificados, incentivo municipal, demanda interna forte, não dependência do mercado externo, são fatores que também influenciam a construção de novos empreendimentos. No que se refere aos condo-hotéis, a primeira pergunta foi referente ao entendimento deste termo (condo-hotel). Nas duas entrevistas realizadas, os representantes das construtoras definiram de forma bastante semelhante, como sendo um empreendimento hoteleiro/residencial, onde há a presença de vários proprietários, que podem ou não aderir a um pool de locação do empreendimento. Vale ressaltar que em ambas as respostas, na visão dos entrevistados, no flat pode haver um condo-hotel funcionando dentro do empreendimento, dependendo da forma que foram comercializadas as unidades, precisando que os proprietários se adequem às especificações para participarem do pool. Este modo de operacionalização mostra uma adequação à definição da realidade dos condo-hotéis definida por Rushmoore, Saab e Gimenez, que relatam sobre os 100% dentro de um pool, entretanto, estes empreendimentos estão com 100% dentro de seu pool, que funciona em parte de um edifício de fato. No quesito sobre os fatores que influenciam a construção de um condo-hotel, a demanda é um fator presente na resposta de ambos os entrevistados. Outros fatores também citados pelos entrevistados são a localização (fator que vai determinar a valor das unidades), viabilidade econômica e a estrutura financeira para o financiamento. Visto os fatores que influenciam a viabilidade deste tipo de empreendimento, é perceptível a perspectiva de crescimento nesta modalidade de investimento, devido ao atual cenário turístico que vem se apresentando no estado, com crescimento do desembarque de turistas domésticos. A pesquisa também buscou abordar a importância do cenário econômico e turístico para a viabilização deste tipo de empreendimento dentro do estado. Em relação ao cenário econômico, em ambos os casos é citado, a necessidade de escolher o momento adequado para lançamento deste tipo de empreendimento para uma rápida absorção. Também é citado

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como um fator importante a necessidade da economia local encontrar-se em crescimento, tanto superior a economia nacional, quanto referente a anos anteriores. No quesito que alude ao cenário turístico, os entrevistados citaram a ocupação hoteleira como principal importância, no caso de Recife que há 03 anos havia uma carência de 5 mil leitos. Contudo, o executivo da Construtora A relata que na capital pernambucana a situação do turismo de negócios é o fator primordial para a viabilização, visto que para o mesmo o turismo de lazer não é um fator muito determinante. Esta afirmação do executivo da Construtora A, reflete novamente nos investimentos que têm surgido no estado nos últimos anos, onde os executivos das empresas que aportaram capitais no estado, desembarcam em Recife para supervisionar seus negócios e estes necessitam de hospedagem. Sobre as vantagens e desvantagens deste tipo de empreendimento, cada entrevistado focou sua resposta em pontos bem distintos. O executivo da Construtora A relatou que um condo-hotel oferece uma facilidade de venda das unidades, além do valor agregado com serviços, boa rentabilidade e tranquilidade a quem está investindo, enquanto o executivo da Construtora B expôs as desvantagens. Como desvantagem na construção do empreendimento foi ressaltada a dificuldade de operação onde há muitos proprietários envolvidos e também devido à falta de conhecimento dos mesmos na gestão de um empreendimento hoteleiro. Segundo o entrevistado da Construtora B, na gestão de um hotel, é preciso haver uma reserva de capital para investimentos na infraestrutura do hotel e os investidores que não entendem bem a área não vão compreender quando for o momento adequado de investir na reforma do empreendimento. Desta forma o equipamento corre o risco de perder competitividade ao passar do tempo. Na questão sobre a percepção da perspectiva de crescimento dos condo-hotéis no estado, os executivos responderam com observações importantes, como o crescimento com atenção, e também um crescimento que deve se acomodar com o tempo. O entrevistado da Construtora B acredita que para os condo-hotéis se tornarem uma opção mais rentável devese escolher por hotéis econômicos, por se tratar de empreendimentos com um investimento menor e um retorno mais rápido. Segundo o executivo da Construtora A, a alta demanda deve existir pelo menos até 2017, devido aos investimentos na região de Suape e da Fábrica da Fiat que está sendo construída no município de Goiania/PE. O mesmo ainda lembra que é preciso observar o comportamento de ocupação para não ocorrer um excesso de oferta, fato que já ocorreu em São Paulo há alguns anos e motivou o fechamento de diversos equipamentos hoteleiros na região. Por fim, foi questionado sobre qual cenário econômico e turístico não seria viável a implantação deste tipo de empreendimento. Em ambas as entrevistas houve um consenso entre os entrevistados ao citar que uma economia estagnada, em decadência, ou sem perspectivas de crescimento, seria um cenário impróprio para o investimento nesta área. No que se refere ao cenário turístico, o representante da Construtora A acredita que um cenário desfavorável para o investimento é onde há uma grande oferta de leitos. Já o representante da Construtora B acredita que uma região onde não há atrativos, nem demanda de eventos e já apresenta baixa ocupação, se encaixa como um cenário inviável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como objetivo identificar os principais fatores que têm viabilizado a construção de condo-hotéis no estado de Pernambuco. As considerações apresentadas não pretendem encerrar os estudos acerca deste tema, pois como mencionado

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anteriormente, este tema é bastante recente na dinâmica do turismo e no que se refere aos investimentos no setor de turístico-imobiliário, que carece de estudos mais aprofundados. O presente estudo visa destacar alguns pontos para um melhor entendimento deste mercado e desenvolver a reflexão para que novos estudos sejam realizados. Ainda que recente no Brasil, este tipo de investimento já é bastante disseminado em países europeus como Espanha, Portugal, nos EUA e em outras regiões. É perceptível a viabilidade do investimento em condo-hotel nos mais diversos destinos, pois, esses hotéis têm se mostrado viáveis em equipamentos hoteleiros de alto padrão e também resorts, por possuírem alto valor na hospedagem, além de muitos serviços agregados. O estado de Pernambuco está recebendo investimentos nos mais diversos setores da economia o que pode apresentar oportunidades em atender os mais variados tipos de clientes, nas diversas regiões de investimentos do estado. Desde turistas de negócios que vêm para gerir seus negócios, como também turistas de eventos que buscam uma alternativa ao sol e mar ou ao campo, como também turistas de lazer que estão a procura por novos destinos para diferentes experiências, enfim, há uma grande variedade de clientes que podem ser atendidos através do condo-hotel. O condo-hotel mostra-se como uma oportunidade viável de preencher uma lacuna deixada diante das dificuldades de financiamento de empreendimentos que necessitam de grande aporte de capital, da mesma forma que também aparece como uma oportunidade para que investidores possam diversificar sua carteira de investimentos. Entretanto, esta modalidade de investimento traz consigo algumas ressalvas que devem ser bem estudadas, como por exemplo, a possibilidade de grande oferta de leitos em destinos que não possuem a capacidade de absorver os turistas e manter o equipamento com a ocupação média no valor mínimo de retorno adequado. Outro fator que é de fundamental importância para o investimento em condo-hotel é quanto a escolha adequada de uma bandeira qualificada, visto que para a gestão do mesmo, é de fundamental importância que a operadora hoteleira saiba como conciliar os interesses dos proprietários para manter sempre o equipamento competitivo.

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ACESSIBILIDADE AOS ESPAÇOS DE LAZER: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ACERCA DA “CICLOFAIXA DE TURISMO E LAZER” DA CIDADE DO RECIFE. Maria Helena Cavalcanti da Silva Belchior33 Valdeci Barbosa da Silva Júnior34 RESUMO Cotidianamente percebe-se um maior uso dos espaços públicos atrelados ao lazer. Em especial, na cidade do Recife, estado de Pernambuco, a expansão, revitalização e incentivo às práticas de lazer por parte do poder público municipal vêm ganhando destaque. O projeto “Ciclofaixa de Turismo e Lazer” em vigor na cidade estudada vem a ser objeto de estudo desta pesquisa por proporcionar a seus frequentadores a acessibilidade irrestrita aos espaços de lazer tanto à população autóctone como a seus visitantes. Sendo assim, tem-se como objetivo a compreensão acerca das práticas de lazer desempenhadas pelos frequentadores do projeto a fim de se estabelecerem os entendimentos necessários quanto à aceitação e participação destes com vistas ao uso do espaço público de lazer. Para tanto, foi necessária a consecução de procedimentos metodológicos concernentes à problemática do estudo. Pesquisas do tipo bibliográfica e documentais foram as principais formas de coleta de dados antecedentes à pesquisa de campo aplicada aos usuários das “Ciclofaixas de Turismo e Lazer”. Ademais, foi definida a pesquisa como sendo exploratória sendo possível elencar as principais características do fato estudado. Conclui-se que as atividades de lazer desempenhadas pela população e visitantes sofreram e sofrem impactos na medida em que é oportunizado o livre acesso aqueles interessados em realizar suas práticas de lazer. Foi possível perceber a influência causada pelo projeto no que concerne à congregação de famílias em prol de uma forma de lazer integradora além da oportunidade dos frequentadores puderem conhecer a cidade sobre um novo olhar, uma revisitação a seu espaço. Palavras-chave: Acessibilidade; Lazer; Recife; Ciclofaixa de Turismo e Lazer. INTRODUÇÃO Os estudos do lazer carregam consigo uma importância histórica relativa aos trabalhadores que por muito tempo lutaram pela conquista de um tempo liberado das obrigações do trabalho. A conquista deste tempo passa a ser nos dias atuais de extrema necessidade uma vez que o ritmo frenético vivido pela população faz com que os momentos de descanso, de ócio e de fazimento de atividades espontâneas tornem-se corriqueiramente difíceis de acontecer. No Brasil, a partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, encontra-se na composição dos direitos sociais, inclusos no rol dos direitos e garantias fundamentais o lazer como parte dos direitos da população. Destaca-se acerca destes a alteração sofrida a partir da Emenda Constitucional número 64 do ano de 2010 passando o artigo sexto a ter a seguinte redação: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência

33Bacharel em Turismo. Professora do Departamento de Hotelaria e Turismo, Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: [email protected]. 34Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: [email protected].

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social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 2010). Ao se empreender uma linha integradora entre os direitos e as necessidades da população, em especial, as que tratam de questões relativas ao lazer, é oportuno destacar a propagação de ações públicas e privadas relativas à expansão do lazer. Levando em consideração a acessibilidade a ações gratuitas oriundas da gestão pública, observa-se que planos, programas e projetos são direcionados à população sob a expectativa de se atender ao contido nos dispostos legais. O desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao lazer é assunto tratado em esfera federal, estadual e municipal dentro dos limites de atuação de cada um destes entes. Promover condições básicas necessárias à acessibilidade ao lazer de uma população é promover para a mesma a oportunidade de se rever sobre a condição de exercer sua cidadania plena. Na cidade do Recife, local escolhido como locus desta pesquisa, a expansão quanto à oferta de locais e atividades ligadas ao lazer vem se tornando uma constante no rol das ações implantadas em esfera municipal. Deter-se-á especialmente neste nível de atuação pública pelo objeto de estudo centrar-se em uma ação fundamentalmente desenvolvida nesta esfera. A partir da promoção do lazer, a escolha pela frase “Eu amo Recife” traz consigo a significância que o poder público deseja trazer à cidade a partir da conquista ou por que não dizer reconquista do seu cidadão. Com a instituição da Secretaria de Turismo e Lazer na gestão atual, percebe-se uma ampliação na oferta, na divulgação e promoção de projetos, programas e planos nos quais o turismo e o lazer caminham lado a lado, afinal a interdependência destas áreas do conhecimento carregam consigo a importância de estudos que as compreendam no espaço temporal, a partir do viés da sociedade e de suas condições sejam estas econômicas, ambientais, sociais e políticas. Neste instante é oportuno destacar mais uma vez as relações existentes entre o turismo e o lazer. Mais uma vez recorrendo à Constituição de 1988 em seu artigo 180 encontra-se “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico” (BRASIL, 1988). Observando-se a partir desta definição a relação com o lazer apresentado como um direito social, pode-se perceber a forte ligação existente entre as duas áreas. A garantia ao direito do lazer, a promoção e incentivo ao turismo são condições previstas em lei e à disposição de todo cidadão. É para este cidadão que a propagação de projetos e demais ações relativas ao lazer se concretiza. Em especial, tratando-se da “Ciclofaixa de Turismo e Lazer”, a aceitabilidade é vista com a grande adesão ao projeto nos períodos de sua execução (finais de semana e feriados). Atrativos turísticos passaram a ser mais visitados, a efervescência do centro do Recife propaga-se nos finais de semana e a participação da população e de visitantes constantemente vem sendo ampliada. Em se tratando da acessibilidade ao projeto, é válido destacar como preceitua Marcellino (2002) os fatores condicionantes às práticas de lazer sendo estes definidos como tempo e atitude. O tempo tem relação direta com a liberação das obrigações do indivíduo que precisa estar de livre vontade na realização de qualquer atividade relativa ao lazer. Da mesma forma a atitude, ou seja, o interesse, a disposição em se dedicar à atividade proposta, afinal, as práticas de lazer carregam consigo o estado de permissão. Objetiva-se com o presente estudo compreender as formas de lazer desempenhadas pelos usuários das “Ciclofaixas de Turismo e Lazer” à luz da acessibilidade e participação da sociedade em geral quanto à adesão ao projeto observando de que maneira se dá o aproveitamento dos espaços públicos envolvidos. A significância deste estudo parte fundamentalmente da necessidade de se estudar o lazer e suas relações com as diversas esferas da sociedade. Mesmo sendo uma área que congrega diversos pesquisadores a exemplo de Dumazedier (2001) Camargo (1998), Bacal

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(2006), Krippendorf (2009), Marcelino (1989, 1996, 2000, 2004, 2006a, 2006b, 2007, 2011, 2012), Gomes; Pinheiro; Lacerda (2010) novas formas de se enxergar o lazer bem como a promoção deste com novas áreas do conhecimento carregam consigo a possibilidade de se observar novas formas de se compreender a sociedade. A interdisciplinaridade relativa aos estudos do lazer e do turismo torna-se fundamental na medida em que entregam à sociedade o entendimento acerca de determinado assunto sobre uma forma integrada buscando prover respostas a um determinado problema, uma lacuna percebida bem como apresentando as benesses encontradas em ações como as que serão tratadas no presente estudo.

OS ESPAÇOS DE LAZER E AS SUAS RELAÇÕES COM A ACESSIBILIDADE Nos escritos de Marcellino; et al. (2007), a ênfase dada aos espaços de lazer como item componente de uma política pública se fundamenta sobre a perspectiva de ser nestes espaços o local onde ocorrem trocas sociais, a realização de atividades gratuitas e que envolvem uma significância dada por cada participante a seus momentos livres de suas obrigações. A diminuição de espaços públicos ao ar livre em alguns centros urbanos torna-se uma problemática vivenciada pela sociedade. A substituição de casas por grandes condomínios vem dando lugar para a realização de um lazer cercado por muros e sem contato com o exterior acarretando inclusive em transformações do próprio indivíduo que o pratica. Os condomínios verticais e horizontais buscam a ilusão da saída individual para o “lar, doce lar”, construindo suas moradas como “cantinho de sonho”, “refúgio do guerreiro”, mas têm em suas construções guaritas medievais e fossos, com pontes elevadiças, separando as casas. E o lazer é individualizado, com profusão de piscinas e parabólicas, e bancos individuais, nos jardins, distando, em alguns casos, pelo menos dez metros, uns dos outros. (MARCELLINO; et al. 2007, p. 22).

Tomando por base a citação acima, percebe-se que uma nova configuração espacial também acarreta mudanças significativas às questões ligadas ao lazer uma vez que a necessidade em se definir os espaços para a realização de atividades tem relação direta a políticas públicas, pois, é a partir destas que se definem as bases legais para a instituição de atividades ligadas ao lazer ofertado a uma sociedade. Convém destacar a estreita aproximação quanto ao entendimento do que vem a ser espaço e equipamento, pois, como aponta Marcellino; et al. (2007) os termos se distinguem sendo o espaço o local destinado à execução das atividades de lazer e que recebem os equipamentos entendidos como os componentes que podem ser inseridos em um determinado espaço. De forma exemplificativa tem-se uma praça como espaço do lazer e os brinquedos (escorregos, balanços, gangorras, dentre outros) os equipamentos que compõem o cenário deste espaço. O que se pode concluir é que é condição sine qua non para a realização de atividades inerentes ao lazer, a disponibilidade de espaço para tal, o que não ocorre com os equipamentos podendo estes estar ou não inseridos em um determinado espaço. Se procedermos à relação lazer/espaço urbano, verificaremos uma série de descompassos, derivados da natureza do crescimento das nossas cidades, relativamente recente, e caracterizado pela aceleração e imediatismo. O aumento da população urbana não foi acompanhado pelo desenvolvimento de infraestrutura adequada, gerando desníveis na ocupação do solo e diferenciando

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marcadamente, de um lado as áreas entrais, ou os chamados pólos nobres, concentradores de benefícios, e de outro a periferia, com seus bolsões de pobreza, verdadeiros depósitos de habitações.

O que se percebe em relação aos espaços de lazer e aos equipamentos é o aumento gradativo deste último. Um exemplo emblemático da expansão de equipamentos que possuem como uma das formas de uso o lazer são os shopping centers. Equipamento envolto com as questões do consumo, também é refúgio para a realização de lazeres como, por exemplo, ligados ao cinema, jogos e teatros. Para fins deste estudo centrar-se-á as discussões quanto aos espaços de lazer do tipo público, locais que deveriam ser permeados de “convivencialidade” tal qual preceitua Marcellino e demais autores (2007) e quem venham de encontro às questões relativas à qualidade de vida. Pensar em questões relativas à qualidade de vida em relação à prática do lazer caminham lado a lado conforme preceitua Dumazidier (2001) ao apontar o estado de permissão do sujeito que deseja entregar-se aos benefícios oriundos do lazer. Tudo isto tem relação direta com qualidade de vida e os espaços para o lazer são os locais onde as trocas e vivências entre os pares ocorrerão. É preciso pensar as vivências de lazer no âmbito do turismo para além dos moldes tradicionais, estimulando não apenas um único sentido, mas explorando as múltiplas condições do ser humano na situação vivida (visão, olfato, audição e paladar [...]. Cabe ainda, extrapolar a simples ideia de expor o turista frente ao “novo”. Aos nos preocuparmos em sensibilizar o sujeito para a “novidade”, podemos e devemos causar inquietudes construtivas, no sentido de despertar a percepção do sujeito para que este descubra novos saberes, sons, cheiros, paisagens, sabores, sensações e ideias (GOMES; PINHEIRO;LACERDA, 2010, p.40).

Ao se tratar das relações presentes entre lazer, espaço e acessibilidade, a perspectiva aqui apresentada é relativa a tornar o espaço berço para a prática do lazer acessível e que possua facilidades para aqueles que desejem integrar-se ao lugar terem plenas condições de assim fazer. Percebe-se que estudos relativos ao lazer sobre a perspectiva da acessibilidade são centrados quase que exclusivamente na oportunização de condições para o desenvolvimento do lazer por parte dos portadores de necessidades especiais e idosos, porém, é necessário ampliarmos esta linha de pesquisa para a acessibilidade irrestrita a determinados nichos da sociedade, uma vez que, a acessibilidade é condição básica para toda uma sociedade. O provimento de condições relativas às práticas do lazer deve abranger a todos que compõem uma sociedade na medida em que seja provida a condição plena de se exercer um direito conquistado e tratado via Constituição federal.

AS DISCUSSÕES CONTEMPORÂNEAS INERENTES AO LAZER Os estudos do lazer no Brasil carregam consigo forte influência de autores como Jofre Dumazidier trazendo assim as perspectivas da sociologia atrelado-as às bases conceituais inerentes ao entendimento do que é o lazer. De acordo com Gomes e Elizalde (2012) as premissas acerca do lazer na visão do autor, centram-se em questões relativas ao lazer versus o trabalho e o momento específico para a realização deste atrelando-o a questões temporais, ou seja, o momento da vida do indivíduo liberado de suas ocupações. É sabido que o tema vem provocando a realização de escritos inerentes a diversas áreas do conhecimento, afinal, o homem como realizador do lazer é sujeito participante nesta ação,

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porém, a abordagem sociológica permeia as discussões relativas à área objeto de estudo, pois a dinâmica social é fator chave para o constructo relativo ao entendimento do lazer e suas distintas abordagens. Apontam-se no Brasil como meios difusores dos pensamentos de Dumazidier, o Centro de Estudos, Lazer e Recreação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e o então Centro de Estudos do Lazer (Celazer), vinculado ao Serviço Social do Comércio (SESC) (GOMES, 2008). Para o referido autor, o lazer pode ser compreendido como: Um conjunto de ocupações que às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZIDIER, 1973, p. 34 apud GOMES, 2008, p.109).

Com a difusão dos pensamentos de Dumazidier no Brasil e sua influência nos escritos de diversos autores, cabe também apresentar o SESC e o Serviço Social da Indústria (SESI) como locais nos quais a perspectiva de desenvolvimento do lazer voltada aos trabalhadores teve campo fértil em termos de promoção das atividades inerentes ao lazer (GOMES, 2008). Até hoje, ambas as instituições valorizam e atuam em atividades fins do lazer sobre a perspectiva atrelada ao viés social, o que rebate em questões inerentes à qualidade de vida – uma das perspectivas a que o lazer se relaciona. Ainda sobre o Brasil, Marcellino (2006a) aborda a contribuição à temática a partir dos escritos de José Acácio Ferreira com o livro intitulado “Lazer operário” de forma que percebe-se fatores intrínsecos ao mundo do trabalho vivenciado pelos trabalhadores, suas condições sociais e o espaço dado ao lazer em suas vidas. Aproximando as discussões do lazer aos dias atuais, percebe-se que temáticas relacionadas a questões públicas vêm ganhando espaço nas discussões relativas à área do turismo e as relações destas específicas ao lazer. Por possuir uma heterogeneidade de abordagens relativas às áreas como a Educação Física, a Pedagogia, o Turismo, a Hotelaria, a Psicologia, dentre outras se obteve e ainda hoje se obtém uma capilaridade em termos de estudos do lazer, o que se torna benéfico na medida em que oferta a sociedade o entendimento desta a partir de distintos olhares e conexões. Atrelando-se a questões relativas aos espaços do lazer, o tempo do lazer e suas condições de realização, percebe-se a propagação de espaços privados, tornando-se assim uma constante em grandes centros urbanos, o que vem a limitar a socialização presente nas atividades ligadas ao lazer. Marcellino; et al. (2007, p.22) aponta: O lazer, visto como manifestação humana, com suas especificidades, mas entendido no conjunto delas, sofre as mesmas influências que qualquer área do social. Entendê-lo como um “oásis” de tranqüilidade, e que inclusive, a gera, é uma visão contraditoriamente mercantilista - lazer mercadoria a ser consumida -, funcionando como válvula de escape. Pelo contrário: a violência, a falta de segurança, são apontados como fatores que impedem a escolha do lazer das pessoas, contribuindo para que fiquem reféns de suas próprias casas, aumentando o já elevadíssimo número de indivíduos que têm na casa o seu principal “equipamento” de lazer.

A necessidade de condições satisfatórias em termos de espaços disponíveis ao lazer adequados aos interesses populacionais, o que rebate naturalmente aos olhos dos visitantes, deve permear as políticas públicas voltadas à área, uma vez que estas são produzidas para uma sociedade e devem ser utilizadas em benefício desta.

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Pretendendo-se que o lazer não constitua apenas a oportunidade de recuperação da força de trabalho, ou que possa ser caracterizado como instância de consumo alienado, ou “válvula de escape”, que ajude a manter o quadro social injusto, o âmbito municipal é apenas um dos que deve ser considerado, na esfera da Administração Pública; é preciso que seja levado em conta, mas é fundamental que diferencie sua atuação das demais iniciativas, desde as espontâneas, até as da chamada “indústria cultural”. (MARCELLINO, 1996, p.25).

Ademais a implantação do disposto em políticas públicas segue uma linha mestra definida na legislação máxima brasileira e essas devem ser criadas com a perspectiva de vivência pela sociedade fazendo com que esta seja despertada quanto ao interesse em participar. Ações ligadas às práticas do lazer na cidade do Recife passam por um momento de efervescência, em especial, quando ligadas à implantação das ciclofaixas presentes na cidade, temática esta a ser tratada em seção específica aos resultados do estudo em tela.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Com a definição do plano de pesquisa a ser desenvolvido no presente estudo, foi possível definir os procedimentos metodológicos mais adequados para o alcance dos objetivos inerentes ao estudo. A pesquisa em turismo torna-se de extrema relevância na medida em que proporciona: A formulação de perguntas, a coleta sistemática de informações para responder a essas perguntas e a organização e análise dos dados com a finalidade de descobrir padrões de comportamento, relações e tendências que auxiliem o entendimento do sistema, a tomada de decisões ou a construção de previsões a partir de vários cenários futuros alternativos. (OMT, 2005, p.5).

A partir da estreita relação existente entre o lazer e o turismo foi possível definir um objeto de estudo que ao mesmo tempo possuísse ligações ao lazer bem como ao turismo, pois, a “Ciclofaixa de Turismo e Lazer” é uma ação pública à disposição da comunidade autóctone bem como de visitantes interessados em vivenciar uma das formas de lazer disponíveis. Ademais, como o lazer, temática central presente neste artigo, é estudado sobre a perspectiva de integração com diversas áreas do conhecimento, a interdisciplinaridade aqui se faz presente. Escritos oriundos das ciências sociais, ciências humanas e ciências da saúde são apresentados sob a perspectiva de autores como Dumazidier, Bacal, Marcellino, Gomes, Elizalde, Pinheiro, Lacerda, dentre outros. Destaca-se ainda a forte influência de Marcellino neste documento por ser um dos autores brasileiros a possuir maior produção científica na área do estudo bem como apresentar a partir de suas obras o lazer relacionado a questões mercadológicas, sociais, políticas e humanizadoras. A pesquisa foi definida como do tipo exploratória, pois a temática-chave específica ao objeto de estudo é recente e faz com que a quantidade de estudos antes desenvolvidos seja incipiente. Objetiva-se, portanto, uma familiarização ao tema estudado conforme postula Gil (2008). Define-se ainda a pesquisa como sendo estudo de caso pautando-se em análises qualitativas a partir dos resultados colhidos. Partindo propriamente à fase relativa à congregação de materiais a serem utilizados na construção teórica da pesquisa, foram utilizadas tanto as pesquisas documentais, como as bibliográficas finalizando com as de campo. Em relação às pesquisas bibliográficas como já apresentado, foram elencadas obras de diversos autores que dissertam sobre o lazer em seus variados aspectos. Ademais a busca pela legislação que verse sobre o lazer e suas práticas fazem parte das fontes indicadas como

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documentais. Ressalta-se que sítios eletrônicos também foram visitados principalmente em busca de informações específicas ao projeto que contempla as “Ciclofaixas de Turismo e Lazer” uma vez que não há literatura impressa em formato de livro sobre o assunto. Sendo assim, a pesquisa aqui definida sobre a abordagem qualitativa. Partindo para a etapa específica ao levantamento de dados no locus de pesquisa o período destinado a tal ação foram os meses de janeiro e fevereiro de 2014. Sendo assim, duas frentes foram implantadas buscando-se se colher uma maior quantidade de dados a partir da perspectiva do frequentador das “Ciclofaixas de Turismo e Lazer”. A primeira, realizada no Parque da Jaqueira, sito na zona norte do Recife, ocorreu aos domingos (um no mês de janeiro e outro no mês de fevereiro) no horário destinado à execução da atividade (turnos manhã e tarde). Por conveniência dos pesquisadores o Parque da Jaqueira foi escolhido dentre as demais rotas das ciclofaixas por congregar uma grande quantidade de usuários o que fez com que se concentrasse toda a ação de entrevistas em tal local. Mesmo sendo uma rota bastante procurada, foi percebida uma limitação quanto à aplicação das entrevistas, uma vez que, parte dos frequentadores abordados preferia não parar para responder as perguntas, alguns destes alegando que o pouco tempo que possuíam seria utilizado para suas práticas de lazer ou, por estarem com crianças pequenas não tinham condição de parar e assim responderem as perguntas. Mesmo com esta limitação, um total de quinze formulários foi respondido. Outra frente de ação foi o encaminhamento do formulário de entrevistas através de uma rede de relacionamento especialmente aos grupos frequentadores de ciclofaixas recifenses. Com a identificação de quatro destes grupos, o encaminhamento do formulário ocorreu sendo devolvidos um total de 33 formulários totalizando-se assim uma amostra (definida por conveniência de 48 respondentes). Contendo perguntas do tipo abertas e fechadas, foi possível através dos formulários coletados ter-se a percepção dos usuários das ciclofaixas acerca do projeto em si, dos espaços públicos de lazer disponíveis nos percursos existentes, os usos e condicionantes do lazer e principalmente traços definidores da acessibilidade presente na ação pública supracitada. Após a etapa da coleta de dados foi possível realizar a tabulação das informações colhidas no decorrer da pesquisa tabulando-se os dados em programa específico, o Microsoft Excel. Com a conclusão das etapas específicas à coleta de dados em campo, foi possível redigir os resultados encontrados pelos autores a partir das informações transmitidas pelos frequentadores das ciclofaixas conforme disposição na seção a seguir. DISCUSSÕES RESULTADOS ALCANÇADOS Acerca da implantação das “Ciclofaixas de Turismo e Lazer” na cidade do Recife, o ano de 2013 marca o início das atividades destas. No Brasil as ciclofaixas já foram adotadas por cidades como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba (AGÊNCIA ESTADO, 2013). Atrelando a questões de ordem física e social, as ciclofaixas ora instaladas em Recife a princípio, foram apresentadas ao público com um total de duas rotas – uma partindo da zona norte da cidade e outra da zona sul ambas desembocando no centro do Recife (RECIFE, 2013a). Atualmente o projeto conta com três rotas (a terceira também partindo da zona sul do Recife) totalizando cerca de 35 km de extensão e abrangência a 28 bairros do Recife (G1, 2013). No sítio eletrônico oficial das Ciclofaixas diversas seções são apresentadas ao internauta que deseja obter informações acerca de rotas, pontos turísticos, tais como o Parque da Jaqueira, O Museu do Estado, o Parque 13 de Maio, o Palácio do Campo das Princesa, a Praça da República, o Palácio da Justiça, o Centro de Artesanato de Pernambuco,

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Marco Zero, Forte das Cinco Pontas, Praia de Boa Viagem, Pracinha de Boa Viagem e Parque Dona Lindu, dicas, informações, uma seção destinada ao “fale conosco” e como adquirir o passe para utilização das bicicletas disponíveis para aluguel (RECIFE, 2013b). Sendo um projeto desenvolvido na esfera municipal, sob responsabilidade das Secretarias de Turismo e Lazer e Mobilidade em parceria com o Banco Itaú e a empresa Serttel, prioriza uma nova forma de conhecimento da cidade à disposição dos moradores e visitantes que desejem vivenciar uma nova experiência na cidade sob duas rodas. Desta feita, parte-se para a etapa de apresentação dos resultados alcançados a partir dos formulários utilizados na presente pesquisa. Cabe destacar que as perguntas foram formuladas no sentido de se perceber através da mesma a presença ou não de questões relativas à acessibilidade, ou seja, se o indivíduo sentia que a ação por ele desenvolvida estava pautada em aspectos acessíveis como, por exemplo, disponibilização de sinalização específica, segurança, localização das rotas, dentre outras questões. A seguir, apresentam-se os resultados. Sobre a amostra pesquisada, 65 % dos entrevistados foram homens e 35% mulheres. Prioritariamente a faixa etária definida de 18 a 25 anos foi a mais percebida no decorrer das entrevistas (67%) não impedindo, naturalmente, a participação de pessoas de outras faixas etárias. Acerca do local de procedência dos entrevistados, 82% eram moradores da cidade do Recife. Sobre os 18% restantes, foram entrevistados frequentadores de cidades como: Bezerros, Limoeiro, Moreno, Paulista, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata. Na ocasião não foi registrado nenhum respondente oriundo de fora de Pernambuco. O perfil deste visitante das Ciclofaixas foi composto por 80% de visitantes participando pela primeira vez do Projeto, enquanto os outros 20% já eram frequentadores que tinham mais de uma participação. Foi possível ainda perceber acerca da amostra que pelo menos 66% dos entrevistados se utilizam das Ciclofaixas de uma a duas por mês utilizando-se das próprias bicicletas (52%) para deslocarem-se até os locais que possuem as rotas definidas no Projeto. Ainda foram apontados outros meios de transporte para se chegar às Ciclofaixas, sendo o automóvel (21%) e o ônibus (17%) os itens também informados. Pode-se inferir que as pessoas que vão para as “Ciclofaixas de Turismo e Lazer” fazem uso das bicicletas disponíveis para aluguel no decorrer das rotas. Especialmente quando consultados acerca do uso ou não das bicicletas disponíveis para aluguel, um total de 65 % dos respondentes faz uso de sua própria bicicleta enquanto os demais 35 % utilizam-se da locação. Para aqueles que fazem uso das bicicletas alugadas pelo Banco Itaú, as instruções de utilização encontram-se disponíveis no sítio eletrônico das “Ciclofaixas de Turismo e Lazer” em seção específica que trata da habilitação do “passe Recife” (2013c). Ainda é possível encontrar a locação de bicicletas e acessórios a parte da oferecida pelo Banco Itaú no decorrer das rotas. Um segundo bloco de perguntas teve por objetivo entender a percepção dos usuários do Projeto acerca das questões inerentes à acessibilidade em si presente nas Ciclofaixas. Quando perguntados acerca da companhia para frequentar as Ciclofaixas, um total de 82 % dos respondentes afirmou que a família e os amigos costumam estar presentes nos passeios. Este dado mostra-se extremamente relevante aos estudos sobre o lazer, pois se percebe a forte presença do viés social e humanizador conforme preceitua Marcellino em sua obra Lazer e Humanização (2000). Em relação a itens concernentes à sinalização sobre as perspectivas do usuário em si da Ciclofaixa bem como dos motoristas, foi possível perceber que 73% dos respondentes afirmaram que a sinalização para o frequentador, ou seja, a instalação de cones, placas indicativas e pessoal de apoio enquadravam-se como boa (63%) e ótima (10%). Outros 23% informaram ser regular esta sinalização e 10 % ruim. Já sob a ótica do motorista de meios de

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transportes como automóveis, ônibus, caminhão e motos, os frequentadores possuem uma opinião diferenciada em relação à pergunta acima, pois um percentual de 48% dos entrevistados (enquadrando-se as opiniões regular, ruim e péssimo) não se apresentaram satisfeitos com a sinalização à disposição dos motoristas. Destaca-se sobre este item a preocupação emanada por alguns dos entrevistados, pois como as “Ciclofaixas de Turismo e Lazer” iniciam-se às 7 horas da manhã de domingos e feriados, existem pessoas trafegando pelos locais que possuem rotas que estão voltando de festas e bares podendo estes estar alcoolizados e até mesmo provocarem acidentes de trânsito. Ademais, outra preocupação relativa a este item também foi informada pelos respondentes acerca da pouca quantidade de agentes de trânsito no decorrer das rotas. Em se tratando da segurança presente nas vias que recebem as Ciclofaixas, também é perceptível a preocupação dos frequentadores, pois para um total de 54 % dos entrevistados o estado de conservação da pista e a instalação de redutores de velocidade são deficientes. Um total de 40% dos entrevistados tem a opinião de que a segurança encontra-se classificada como “boa”, 4 % como ótima e 2 % não quiserem responder. Sendo a “Ciclofaixa de Turismo e Lazer” uma alternativa de lazer desenvolvida em espaço público, perguntou-se aos entrevistados acerca da suficiência ou não destas rotas em vigor na cidade. Como esperado, devido à forte adesão às Ciclofaixas, um total de 71% dos entrevistados apontou como insuficiente as rotas em vigor enquanto 29 % dos entrevistados consideraram como suficiente as rotas atuais. Aproveitando a pergunta, questionou-se aos entrevistados que apontaram a quantidade de ciclofaixas como insuficientes suas sugestões quanto à expansão destas. Avenidas como Caxangá, Recife e Agamenon Magalhães foram apontadas como sugestões. Outro item facilitador para tornar acessível o projeto “Ciclofaixa de Turismo e Lazer” diz respeito à sua divulgação. Nesta questão foi possível perceber uma variedade de respostas que mostra a capilaridade presente no Projeto. Por ordem decrescente tem-se a televisão com 38%; a internet, com 34 %; o jornal impresso, 8 % e amigos, 6%. Ainda se obteve em menor percentual respostas como: rádio, folhetos e cartazes, família, mora perto de uma rota. Destaca-se a forte presença da divulgação virtual, o que vem de encontro à principal faixa etária usuária das Ciclofaixas (18 a 25 anos). É sabido que cada vez mais cedo, os jovens tem a sua disposição o meio virtual como principal forma de comunicação. Então se tem uma ferramenta de grande alcance sendo utilizada pela Prefeitura da Cidade, que precisar estar atenta a dados como estes, uma vez que a alimentação dos portais eletrônicos relativos às Secretarias Municipais envolvidas e o Projeto em si precisam constantemente estar atualizados. A pergunta final do questionário buscava através de um questionamento do tipo aberto obter a opinião do respondente sobre o projeto “Ciclofaixa de Turismo e Lazer”. Objetiva-se com isto deixar o entrevistado à vontade para expor sua opinião e assim os pesquisadores poderem ter a percepção primordial quanto à aceitabilidade ou não do Projeto, o que tem relação estreita com a acessibilidade ao mesmo. Como esperado, foi unânime a aprovação das Ciclofaixas atrelado aos benefícios trazidos por estas relativos a questões de saúde e uma nova forma de lazer gratuita à disposição de todos. Foi possível compreender que os frequentadores almejam não somente a expansão da quantidade de rotas disponíveis, mas também o aumento de dias de ocorrência do projeto. Cabe destacar que a respeito da expansão das rotas, o Governo do Estado lançou em fevereiro de 2014 o Plano Cicloviário da Região Metropolitana do Recife, o que pode vir a contemplar os anseios dos entrevistados e população sobre a ampliação das Ciclofaixas não somente em Recife, mas no estado de Pernambuco. Outro item apontado primordialmente pelos visitantes entrevistados foi a criação de projetos como o existente em Recife em suas cidades haja vista as mesmas não possuírem

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uma estrutura como a encontrada na cidade. Os dados acima apresentados corroboram com os apresentados pela Prefeitura primordialmente referentes à aceitação das “Ciclofaixas de Turismo e Lazer”. Através de pesquisa realizada no decorrer dos meses de maio e junho de 2013, os frequentadores do projeto foram entrevistados e um percentual significativo de 90% dos frequentadores aprovam o Projeto e ações de lazer inerente ao mesmo (RECIFE, 2013d; SERTTEL, 2014). Cabe destacar que a partir do contato obtido com os entrevistados no decorrer deste estudo, foi possível perceber ações decorrentes às ciclofaixas em si praticadas pelos usuários, como por exemplo, o aumento de frequentadores aos locais turísticos indicados no Projeto, o aumento de permanência em parques e praças (a exemplo da Jaqueira); a heterogeneidade no perfil do público local e a realização de atividades integradoras por famílias. Estas ações trazem o traço definidor e primordial ao lazer sobre a perspectiva da necessidade do convívio entre pares de uma sociedade fazendo com que a “Ciclofaixa de Turismo e Lazer” auxilie e facilite a democratização e a acessibilidade aos espaços de lazer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O aumento gradativo de espaços privados nas grandes cidades emerge. À medida que ocorrem construções de grandes edifícios e condomínios club, as práticas de lazer desempenhadas pelos cidadãos vêm sendo influenciadas por esta nova dinâmica. Independente da faixa etária, as condições de lazer são influenciadas pelo contexto vivenciado em cada sociedade. No Brasil, e em especial na cidade do Recife e entorno, o lazer é encarado por muitos como uma fuga do cotidiano, da necessidade de cumprimento de regras. O lazer como mercadoria, apresentado sobre a visão de Marcellino; et al. (2007), vem ganhando a cada dia mais manifestações. O consumidor do lazer é visto como espectador passivo de um movimento que emana significância em termos do que pode proporcionar ao indivíduo que tem no lazer a possibilidade de reencontro consigo; de socialização e de trocas entre pares. Os estudos do lazer em suas diversas áreas do conhecimento trazem consigo a relevância de uma área que vem se reinventando a cada dia, pois o ser humano, sujeito ativo da ação de realizar o lazer, também vem em seu cotidiano sendo influenciado pelas transformações ocorridas na sociedade, que vive a era da informação. O desenvolvimento de ações que oportunizem aos usuários possibilidade de melhor aproveitarem seu tempo livre, de se afastarem de ações habituais vivenciadas em seu dia a dia, vem a despertar o interesse das pessoas. É neste sentido que as “Ciclofaixas de Turismo e Lazer” se inserem no cotidiano da população recifense e de seus visitantes. A partir de uma ação oriunda do poder público municipal prioritariamente com parcerias estabelecidas com entes privados, o projeto, que já conta com um ano de duração, está consolidado enquanto prática concernente ao lazer de seus usuários bem como a expansão de suas rotas também é uma constante nas ações ora desenvolvidas pelas Secretarias de Turismo e Lazer e Secretaria de Mobilidade Urbana, ambas vinculadas à Prefeitura da Cidade do Recife. A partir da oferta de espaços (definidas como ciclofaixas) os usuários tem a sua disposição rotas previamente definidas que possuem a delimitação de locais em vias públicas disponíveis exclusivamente para uso dos freqüentadores do projeto. Dentre os objetivos elencados para as “Ciclofaixas de Turismo e Lazer”, destaca-se – dentre os quatro previstos – a promoção do ambiente urbano a partir do viés da humanização bem como a responsabilidade social dos seus usuários (RECIFE, 2013e). Especialmente focando na questão da humanização, o Projeto cumpre seu papel no instante em que traz a seus freqüentadores a possibilidade de ver seu ambiente cotidiano

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sobre uma nova perspectiva, aproveitando instantes destinados ao lazer para observar e vivenciar a cidade a partir de oportunidades criadas com a vivência aos espaços definidos. Inclusive, percebe-se que um dos anseios dos entrevistados acerca desta questão versa justamente sobre a ampliação das rotas e ampliação das ciclofaixas para outros dias da semana, além dos domingos. Em se tratando dos objetivos inerentes ao estudo em tela, a disponibilização dos espaços públicos vai de encontro a questões vitais relativas à acessibilidade. A aceitabilidade da amostra pesquisada neste estudo foi unânime no sentido de comprovar o que se esperava – de forma dedutiva – acerca da acessibilidade inerente ao Projeto estudado. Inerente a isto, trata-se da democratização do lazer a partir da vivência livre a todos os interessados quanto a frequentar as Ciclofaixas. Destaca-se ainda sobre a acessibilidade o entendimento percebido a partir dos usuários que a acessibilidade possui ligações com os aspectos relativos ao Projeto a partir da perspectiva da sinalização, freqüência de utilização, suficiência de Ciclofaixas, divulgação e expansão para outras áreas do Recife. Sob a égide do tornar acessível, entende-se que as mais variadas formas de se praticar o lazer ocorrem no decorrer das Ciclofaixas. Momentos relativos ao recreio, contemplação e divertimento são perceptíveis enquanto ações decorrentes do lazer; o espaço público passa por um processo de ressignificação a partir das vivências relativas aos usuários. O próprio usuário passa por esta nova forma de ação no instante em que aplica o seu tempo livre de obrigações na realização de atividades prazerosas. Nos escritos de Bacal (2006) ao tratar das questões relativas à necessidade de valorização do tempo livre, a autora ratifica a importância destinada a este, uma vez que é neste momento que o lazer tem seu espaço garantido. Sob esta perspectiva, o lazer e o turismo se encontram, pois: É preciso pensar as vivências de lazer no âmbito do turismo para além dos moldes tradicionais, estimulando não apenas um único sentido, mas explorando as múltiplas condições do ser humano na situação vivida (visão, olfato, audição e paladar [...]. Cabe ainda, extrapolar a simples idéia de expor o turista frente ao “novo”. Aos nos preocuparmos em sensibilizar o sujeito para a “novidade”, podemos e devemos causar inquietudes construtivas, no sentido de despertar a percepção do sujeito para que este descubra novos saberes, sons, cheiros, paisagens, sabores, sensações e idéias. (GOMES;PINHEIRO;LACERDA, 2010, p.40).

É esta “inquietação construtiva” conforme expõem os autores que devem permear os ambientes destinados ao lazer, pois, tanto os moradores como os visitantes serão influenciados em suas práticas cotidianas. Afinal é a partir da vivência do novo que ocorrem as transformações esperadas em uma sociedade que deve permitir-se ao lazer. REFERÊNCIAS AGÊNCIA ESTADO. São Paulo 'exporta' modelo de ciclofaixas de lazer para outras cidades do País. (2013). Disponível em: . Acesso em 24 abr.2014. BACAL, S. Lazer e o universo dos possíveis. 2.ed. São Paulo: Aleph, 2006.

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(2014).

Disponível

em:

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ACESSIBILIDADE: COMUNICAÇÃO E SINALIZAÇÃO INCLUSIVA NA INFRAESTRUTURA DO TERMINAL RODOVIÁRIO DE SÃO LUÍS Carlaelma Vieira de Sousa Denise Ferreira Costa Karoline Rocha Coimbra Lígia Michelle Mendonça de Carvalho Sílvia Regina Sousa Santos Orientador: David Leonardo Bouças da Silva35

RESUMO O terminal rodoviário de uma localidade é a porta de entrada dos visitantes, constituindo um importante instrumento para o turismo, uma vez que as primeiras interpretações de uma cidade são realizadas neste espaço. Diante disto, buscou-se identificar a percepção dos usuários do Terminal Rodoviário de São Luis acerca da infraestrutura, da prestação de serviço e, à partir dos dados obtidos, analisar seu grau de satisfação. Para tanto, realizou-se uma pesquisa quantitativa, descritiva, cujos dados foram coletados através de questionários e observação direta. Observou-se que as percepções a respeito do Terminal Rodoviário variam de acordo com o nível de escolaridade, e as faixas etárias e salariais dos entrevistados. Os dados coletados mostraram que o terminal satisfaz os usuários entrevistados em quase todos os aspectos, entretanto, pontos negativos foram citados como falta de acessibilidade e melhoria na estrutura local. Os resultados apesar de favoráveis ao terminal apontam a necessidade de melhoria nos serviços ofertados, a fim de satisfazer de maneira mais eficaz os seus clientes, entre eles, o turista. Palavras-chave: Terminal; Infraestrutura; Satisfação; Acessibilidade.

INTRODUÇÃO É consensual afirmar que a atividade turística envolve diversos setores produtivos de bens e serviços cuja interrelação forma uma cadeia onde a comunicação e o bom funcionamento colaboram para o favorecimento da imagem positiva de determinada localidade. Dentre os muitos prestadores de serviços, está o Terminal Rodoviário de São Luís, inaugurado em 1986 pelo governador Luís Rocha. Localizado na Avenida dos Franceses, bairro do Santo Antonio, o terminal foi criado a fim de atender a demanda de visitantes que chega à cidade. Após 23 anos de sua inauguração, no dia 12 de março de 2011, este recebe o nome de Terminal Rodoviário Governador Luís Rocha, em homenagem a seu idealizador, conforme evidenciado abaixo: O prefeito de São Luís, João Castelo, sancionou a lei nº 5.434/2011, de autoria do ex-vereador Lourival Mendes (PT do B), originária do projeto de lei nº 213/2010, que dá o nome de “Governador Luís Rocha” ao Terminal Rodoviário de São Luís. Para o ex-vereador Lourival Mendes, trata-se de uma homenagem justa ao ex-

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Doutorando em Administração (FACE/UnB - 2018). MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (ISAN/FGV-2012). Mestre em Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB - 2008). Graduação em Turismo (UFMA - 2003) e graduação em Letras (UEMA - 2002).

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governador Luís Rocha, uma vez que a obra de construção da rodoviária foi iniciada seu governo. (BASTIDORS 3, 2011.)

O Terminal funciona como porta de entrada da cidade e agrega diversas empresas prestadoras de serviços como: lojas de souvenirs, farmácia lanchonetes, restaurantes, banheiros, bancas de revistas, táxi 24h, posto de informações turísticas, posto policial, caixas eletrônicos e as empresas de transporte que objetivam atender tanto à necessidade dos autóctones quanto dos visitantes. Desta forma, este trabalho teve por objetivo identificar a percepção dos usuários do Terminal Rodoviário Governador Luís Rocha, acerca de sua infraestrutura e dos serviços prestados no local, a fim de analisar seu grau de satisfação. Paratanto, foi realizada uma pesquisa, onde detectaram-se problemas no local como: falta de acessibilidade, baixa qualidade no atendimento, insegurança entre outros.

JUSTIFICATIVA Terminal Rodoviário Governador Luís Rocha, constituí a principal forma de entrada e saída de visitantes da cidade, apesar disto, verifica-se que a falta de manutenção e a qualidade dos serviços turísticos, não estão em conformidade com o anseio dos visitantes, fato que reflete negativamente a imagem da cidade. Os baixos números de usuários do Terminal, a impressão negativa dos visitantes acerca de sua infraestrutura ratificam esta afirmativa e a falta de facilidades colaboram para a diminuição de usuários. A presença efetiva de transportes alternativos (vans) também é um fator que colabora para essa realidade. O fluxo de passageiros no Terminal Rodoviário de São Luís tem diminuído 10% por ano nos últimos cinco anos. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros e Fretamento do Estado do Maranhão (Setrefma), hoje a rodoviária da capital perdeu 50% de seu público por causa da concorrência desleal do transporte alternativo irregular, que movimenta os terminais improvisados na rotatória do Km 0 da BR-135 e em frente à rodoviária municipal. (IMIRANTE, 2013.)

Dante da realidade observada, verificou - se a necessidade de realizar uma pesquisa a fim de avaliar o grau de satisfação dos usuários e suas percepções relativas à infraestrutura e qualidade dos serviços prestados, através do levantamento de informações (questionários aplicados) a fim de estabelecer estratégias de melhoria do local.

3 OBJETIVOS Geral: - Identificar e analisar a percepção dos usuários acerca da qualidade e infraestrutura dos serviços oferecidos no Terminal Rodoviario Governador Luis Rocha. Específicos: - Evidenciar a importância da qualidade na prestação de serviços turísticos;

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- Elencar os principais problemas evidenciados pelos usuários a fim de apontar alternativas que os solucionem; - Identificar o perfil dos usuários do Terminal Rodoviário de São Luís;

4 METODOLOGIA Realizou-se pesquisa quantitativa, descritiva, uma vez que envolve a utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados com aplicação de questionários e observação direta. Tal pesquisa, além de identificar o perfil dos usuários do Terminal Rodoviário de São Luís (idade, sexo, escolaridade...) teve como objetivo maior, colaborar para a melhoria da qualidade dos serviços prestados e da infraestrutura do terminal através da percepção do usuário relativas ao local. O universo da pesquisa envolveu o Terminal Rodoviário e seus usuários que foram diretamente abordados para responder às perguntas. Foram abordados 16 pessoas entre, turistas, usuários locais e comunidade no dia 27 de outubro de 2013, onde foi possível ter uma noção sobre os aspectos sócio-econômicos, principalmente dos turistas e da comunidade local e outros itens necessários que descrevem os usuários e a sua satisfação em relação aos serviços disponibilizados pelo Terminal. Com as informações iniciou-se a fase de tabulação e análise dos dados obtidos que foram transformados em gráficos representativos dos quesitos elencados nos questionários, facilitatando a avaliação geral dos resultados obtidos. O método utilizado na pesquisa consistiu em um formulário estruturado com 26 questões contendo perguntas fechadas, destinado aos usuários, referentes ao seu perfil, bem como ao seu grau de satisfação em relação aos produtos e serviços encontrados no terminal. Aplicaram-se 16 formulários com os usuários do Terminal Rodoviário Governador Luís Rocha.

5 RESULTADOS A maioria dos entrevistados foram mulheres com percentual de 63% e em seguida homens com 38%, gráfico 1.1, abaixo.De acordo com o gráfico 1.2, abaixo a direita, 25% dos entrevistados tem até 20 anos, outros 25% tem de 21 a 30 anos e mais 25% tem de 31 a 40 anos. Com 13% ficaram os entrevistados entre 41 e 50 anos e com 6% 51 a 60 anos e mais 6% acima de 60 anos. Assim sendo, constatou-se que a idade do público que frequenta o Terminal Rodoviário é bastante diversificada e relativamente jovem.

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Faixa Etária

Sexo 6% 6%

25%

38%

Até 20 anos 21 a 30 anos

13% Masculino

31 a 40 anos 41 a 50 anos

Feminino 63%

51 a 60 anos

25% 25%

Gráfico 1.1

Acima de 60 anos

Gráfico 1.2

Com base nas informações do gráfico 1.3, abaixo, as pessoas com ensino médio completo, cerca de 56%, são as que mais utilizam o Terminal Rodoviário e que apesar de concluírem essa formação, não apresentavam propriedade ao responder os questionamentos. Em seguida com 19% ensino médio incompleto e superior completo, com apenas 6% o ensino fundamental incompleto.

Qual seu nível de escolaridade?

19%

Sem educação formal Ensino Fundamental Completo Ensino Fundamental Incompleto Ensino Médio Completo

6%

Ensino Médio Incompleto Ensino Superior Completo Ensino Superior Incompleto Pós - Graduação Completa

19% 56%

Pós - Graduação Incompleta Outro

Gráfico 1.3 O fator escolaridade vem refletir nos quesitos como ocupação e faixa salarial, respectivamente, gráficos 1.4, e 1. 5 seguinte, onde no primeiro, 19% dos entrevistados afirmaram estar desempregados, 6% são estudantes e 50% informou trabalhar em outras atividades. Percebe-se que a taxa de desempregados é alta podendo influenciar na escolha do Terminal Rodoviário. Ao adquirir uma atividade remunerada, não significa que o salário será uma motivação para permanência em um determinado emprego, até mesmo devido a ausência de qualificação proposta no cotidiano do cidadão, podendo ser um fator para o desenvolvimento de atividades como comerciante, representado no gráfico 1.4, acima, com 13%.

76

Qual sua faixa salarial invidual mensal?

Qual sua ocupação?

Sem reda fixa Estudante

Até 1 salário mínimo

6% 13% 50%

Funcionário Público

6%

6%

31%

2 a 3 salários mínimos

Desempregado

4 a 6 salários mínimos

25% Autônomo

7 a 9 salários mínimos

Comerciente

Acima de 10 salários mínimos

19%

13%

31%

Outro

Outros

Gráfico 1.4

Gráfico 1.5

Assim, perante a faixa salarial verificamos que a renda individual mensal, gráfico 1.5, acima, direita, 31% dos usuários declararam não ter renda fixa e que outros 31% ganham uma média de até um salário mínimo. 25% detêm uma renda média mensal que vai de 2 a 3 salários que corresponde entre R$ 1.200, 00 a R$ 1.900, 00. Apenas 6% possuem entre4 e 6 salários e também 6% revelaram obter renda entre 7 a 9 salários.Apesar de 31% dos entrevistados, possuírem de 7 a 9 salários minímos quando relacionado ao transporte utilizado para suas viagens, gráfico 1.6, abaixo-esquerda,75% afirmaram que viajam de ônibus vindo a ser identificado a razão dessa demanda no gráfico 1.7, direita, estabelecendo que a segurança é um dos principais motivos, ficando em segundo lugar a variável preço com 25%, seguidos do conforto com 19% e com apenas 6% dos motivos descritos estão os horários disponíveis juntamente com o único meio para viajar ao destino. Qualo principal meio de transporte utilizado para as suas viagens?

Qual o principal motivo para que o senhor (a) escolha viajar de ônibus?

Carro próprio 6%

13%

6%

Preço

Ônibus Avião

44%

25%

Único meio para o destino

Trem

Conforto 6%

Trasporte alternativo

Gráfico 1.6

Segurança

6%

Outros 75%

Horários disponíveis

Outros 19%

Gráfico 1.7

De acordo com o gráfico 1.8, abaixo à esquerda, 75% dos entrevistados responderam que residem em São Luís e 25% disseram que moram em outra localidade sendo que 94%,

77

1.9, abaixo à direita, afirmaram que não é a primeira vez que utilizam o terminal rodoviário e 6% sim. O senhor mora em São Luís?

É a primeira vez que utiliza o terminal rodoviário de São Luís?

25% 6% Sim

Sim

Não

Não

75% 94%

Gráfico 1.8

Gráfico 1.9

Dos entrevistados, gráfico 2.1, abaixo à direita, 31% responderam que frequentam o Terminal Rodoviário mensalmente, 25% disseram que frequentam anualmente, 19% utilizam o Terminal semanalmente, 13% utilizam diariamente. Constatando-se um fluxo constante de usuários na Rodoviária de São Luís acarretandor em significativa movimentação econômica e prestação de serviços. Caso negativo, qual a frequência que utiliza o terminal? 13% Diariamente 25% Semanalmente 19%

Mensalmente Semestralmente

6%

Anualmente Outros 31%

Gráfico 2.1 Quando perguntados sobre o motivo da ida ao Terminal Rodoviário, gráfico 2.2, seguinte, a maioria dos entrevistados disseram utilizá-lo para viajar, sendo representados por 69% e 31% disseram que utilizam por outros motivos.

78

Qual o motivo principal da sua vinda ao terminal rodoviário de São Luís?

31%

Viagem Trazer um parente /amigo Comer/ beber Sacar dinheiro Comprar moto Outros

69%

Gráfico 2.2 Com base nos dados abaixo, gráfico 2.3, verificou-se que 31% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com a segurança do local, outros 31% responderam estar insatisfeitos. 25% se sentiram indiferentes ao quesito segurança e outros 13% declararam estar muito insatisfeitos com a segurança do ambiente. É notório que a falta de segurança é um problema grave e que afeta todos os setores da sociedade, no Terminal Rodoviário de São Luís constatou-se que há um temor principalmente devido o seu entorno ser habitado por comunidades onde existem contínuos e graves casos de violência. Com relação a segurança, como você se considera: 13% 31%

Muito satisfeito Satisfeito Indiferente

31%

Insatisfeito Muito insatisfeito 25%

Gráfico 2.3 Quanto à avaliação sobre os serviços de limpeza de banheiros, bancos, chão etc, a maioria das pessoas questionadas, ou seja, 56% consideraram o serviço como bom e declararam-se satisfeitas. 25% foram o total de pessoas insatisfeitas e 19% total de indiferentes à questão.

79

Com relação à limpeza, você se considera:

Muito satisfeito

25%

Satisfeito Indiferente Insatisfeito

56% Muito insatisfeito

19%

Gráfico 2.4 A maioria dos entrevistados relataram satisfação com a estrutura de alimentação, gráfico 2.5, do Terminal Rodoviário com 44%, 31% declararam insatisfação com a estrutura, 19 % responderam estar muito insatisfeitos e 6% ficaram indiferentes ao questionamento. Com relação à estrutura para alimentação, você se considera:

19% 31% Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito 6% 44%

Gráfico 2.5 Relacionado ao serviço de sinalizaçãoda àrea, gráfico 2.6, seguinte, tais como placas de entrada, saída de emergência, banheiros e etc, os números demonstram que a maioria dos entrevistados está satisfeito, pois 63% consideraram este um trabalho bem feito. Uma parcela de 19% mostrou-se ainda mais satisfeito com este serviço, apenas 13% foram contrários dizendo-se insatisfeitos, seguido de 6% que não opinaram ou não souberam responder.

80

Com relação a sinalização, você se considera: 13% 19% Muito satisfeito

6%

Satisfeito Indiferente Insatisfeito 63%

Muito insatisfeito

Gráfico 2.6 De acordo com o gráfico 2.7, abaixo, 50% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com manutenção e conservação do Terminal Rodoviário e 44% responderam estar insatisfeitos com a manutenção, apenas 6% declararam muita insatisfação. Quanto ao conforto, Gráfico 2.8, abaixo, o grau de satisfação dos usuários demonstra uma leve diferença entre os que estão insatisfeitos com 44% e satisfeitos com 38%. 13% são os entrevistados que se sentem muito satisfeitos e 6% muito insatisfeitos. Nível de satisfação com a conservação/manutenção

Com relação ao conforto, você se considera:

Muito satisfeito

6%

6%

13%

Muito satisfeito

Satisfeito

Satisfeito

Indiferente

Indiferente

50% 44%

44% Insatisfeito

Insatisfeito

38% Muito insatisfeito

Gráfico 2.7

Muito insatisfeito

Gráfico 2.8

A porcentagem de usuários que declararam insatisfação com a acessibilidade do Terminal Rodoviário, gráfico 2.9, abaixo, é de 56%, 19% disseram estar satisfeitos outros 19% foram indiferentes ao questionamento e apenas 6% responderam muito insatisfeito. Notou-se que a muitos dos entrevistados não tinham esclarecimento ou conhecimento sobre o significado do termo ACESSIBILIDADE e por isso não responderam com precisão ao questionamento. Percebeu-se também que o Terminal não possui infraestrutura adaptada, nem meios de comunicação para pessoas portadoras de deficiência ou com dificuldades de locomoção.

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Com relação àcom a acessibilidade, você se considera: 6% 19% Muito satisfeito Satisfeito Indiferente 19% 56%

Insatisfeito Muito insatisfeito

Gráfico 2.9 Quanto a apresentação dos atendentes das empresas, gráfico 3.1, abaixo, os dados mostram-se aceitáveis uma vez que 75% responderam que estão satisfeitos a esse respeito e que 19% demonstraram estar muito satisfeito. Apenas 6% estão insatisfeitos. Com relação à apresentação dos atendentes das empresas de ônibus, você se considera: 6% 19% Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito 75%

Muito insatisfeito

Gráfico 3.1 O nível de satisfação com o atendimento das empresas, gráfico 3.2, abaixo, foi de 56%, 19% dos entrevistados relataram estar insatisfeitos outros 19% muito satisfeitos e apenas 6% foram indiferentes ao questionamento.

82

Nível de satisfação com o atendimento das empresas de ônibus 19%

19%

Muito satisfeito Satisfeito

6%

Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito

56%

Gráfico 3.2 Conforme constatado no gráfico 3.3, abaixo, 50% dos entrevistados afirmaram estar satisfeitos com a variedade de produtos comercializados, 25% declararam insatisfação e outros 25% foram indiferentes ao questionamento. Constando-se durante a visita técnica que o Terminal Rodoviário possui uma vasta gama de serviços e produtos que atendem não somente aos viajante mas também a comunidade do seu entorno que não tem outras opções, sendo que no gráfico 3.4, abaixo, 38% dos entrevistados disseram que os produtos são muito caros, outros 38% responderam que os preços são normais e 25% afirmaram que os produtos são caros. Com relação a variedade dos produtos comercializados, você se considera:

Preço dos produtos

38%

38% 25%

50%

Muito satisfeito

Muito caro Caro

Satisfeito

Normal Barato

Indiferente

Muito barato Insatisfeito 25%

25% Muito insatisfeito

Gráfico 3.3

Gráfico 3.4

No que diz respeito aos principais aspectos positivos do Terminal, gráfico 3.5, seguinte, os usuários destacaram a boa localização correspondendo a 50% das respostas, uma vez que encontra-se em um espaço estratégico, visto que o meso localiza-se aos pontos de entrada e saída da cidade. Já 19% disseram ser o bom atendimento e somente 13% falaram de bons preços como aspecto principal.

83

Na sua opinião, qual o principal aspecto positivo do terminal rodoviário de São Luís? 6% 6%

13% Bons preços

6%

Bom atendimento 19%

Boa localização Nenhum Boa estrtura

50%

Outros

Gráfico 3.5 Os entrevistados apontaram que o principal aspecto negativo do Terminal Rodoviário é falta de estrutura, gráfico 3.6, abaixo, com 25%,19% disseram que é a distância das suas casas, outros 19% responderam que não há nehum aspecto negativo, 13% afirmaram que são os altos preços e outros 13% apontaram outros aspectos negativos. Qual o principal aspecto negativo do terminal 13% 13% Altos preços 13%

Falta de higiene Distância da minha casa

25%

Nenhum Falta de estrutura 19%

Outros

19%

Gráfico 3.6 Com relação ao grau de satisfação dos usuários, gráfico 3.7, abaixo, a pesquisa demonstrou que a grande maioria dos entrevistados que corresponde a 75% mostrou-se satisfeito com os serviços prestados no Terminal Rodoviário. Somente uma parcela de 26% está dividida entre os que se sentem indiferentes e insatisfeitos.

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De forma geral, como você se considera em relação ao terminal rodoviário?

Muito satisfeito

13%

Satisfeito 13% Indiferente Insatisfeito 75%

Muito insatisfeito

Sugestão para melhoria da rodoviária

6% Melhor atendimento

19% 31%

Segurança Melhorar a estrturar

44%

Outros

Gráfico 3.7 Gráfico 3.8 De acordo com o gráfico 3.8, acima, os entrevistados sugeriram melhorar a estrutura do Terminal Rodoviário com 44% das respostas, 31% responderam segurança, 19% deram outras sugetões e 6% disseram melhor atendimento. Mediante o exposto, é notório que os usuários entrevistados requerem melhorias na estrutura e segurança do Terminal os quais são requisitos imprescindíveis para o bom funcionamento do mesmo.

6 ANÁLISE SWOT A partir das observações e do levantamento de dados obtidos pela pesquisa realizada no Terminal Rodoviário de São Luís, Governador Luís Rocha, aplicou-se as informações alcançadas na análise swot, a fim de identificar as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades do local, apresentando –se da seguinte forma:

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FORÇAS     

Localização Facilidade de acesso Prédio Conservado Espaço Amplo Serviços Diversos

AMEAÇAS    

Poluição Sonora Insegurança Diminuição da demanda Transporte alternativo

FRAQUEZAS  Sinalização Precária  Acessibilidade Inexistente  Espaços Ociosos

OPORTUNIDADES  Melhorar a segurança pública e aumentar o policiamento em àreas de grande movimento  Melhorias na questão da acessibilidade nos ônibus e em toda cidade  Implantação da fiscalização de transportes clandestinos

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da observação direta e da pesquisa realizada através da aplicação de questionários, detectou-se que o Terminal Rodoviário Governador Luis Rocha, apesar de apresentar excelente espaço físico, perde, paulatinamente, o número de usuários, necessitando de ações efetivas que agreguem valor ao local, sobretudo, no que se refere à infraestrutura e prestação de serviços. Um dos aspectos mais negativamente citados foram a segurança e a manutenção do Terminal.O objetivo geral da pesquisa foi atingido, no qual estabeleceu-se identificar a percepção dos usuários acerca da infraestrutura e prestação de serviços do Terminal. O Maranhão, por ser um Estado que possui um pólo turístico bem diversificado e que recebe muitos turistas, é imprescindível que a capital São Luis, por ser a porta de entrada, possua um Terminal Rodoviário que seja referência. De modo geral, percebeu-se que o terminal precisa proporcionar melhores serviços de qualidade que satisfaçam os usuários. Assim sendo, os prestadores de serviços turísticos devem trabalhar em conjunto para a realização de serviços eficientes a fim de causar nos visitantes e na própria população autóctone uma boa impressão. A partir dos problemas mais citados na percepção dos usuários, um ponto que ficou em aberto foi a questão da acessibilidade, ou seja, a esse respeito as pessoas entrevistadas não tem conhecimento e confundem com meios de acesso à rodoviária. Pensando nessa problemática idealizou-se um projeto cujo título é: Acessibilidade: comunicação e sinalização inclusiva no Terminal Rodoviário Governador Luís Rocha, a fim de estabelecer estratégias para solucionar os problemas relativos a esse tema.

REFERÊNCIAS ALCANTARA Jr. José O; SELBACH, Jeferson Francisco (Orgs). Mobilidade urbana em São Luís. São Luís: EDUFMA, 2009.

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BASTIDORES 3. Terminal Rodoviário de São Luís receberá o nome de “Governador Luís Rocha”. Disponível em: /< http://www.bastidores3.com/2011/03/terminal-rodoviariode-sao-luis.html >. Acesso em: 18 de Nov. 2013. CORRÊA , Anderson.Fluxo de passageiros em terminal rodoviário caiu 50% em cinco anos. Disponível em: Acesso em: 19 de Nov. 2013. SERRA, Cacilda. QUALIDADE NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS: um estudo sobre a satisfação dos usuários do terminal rodoviário de São Luís-MA. São Luís.2013.

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ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE DOS ATRATIVOS TURÍSTICOS DO CENTRO HISTÓRICO DE DIAMANTINA/MG PARA VISITANTES COM MOBILIDADE REDUZIDA Antônio Carlos GUEDES36 Raquel Faria SCALCO37 RESUMO A legislação brasileira assegura ao cidadão portador de deficiência e/ou mobilidade reduzida o direito à acessibilidade como instrumento de inclusão social. O objetivo deste estudo consiste em avaliar se este direito está sendo garantido ás pessoas com mobilidade reduzida no que se refere aos atrativos turísticos do centro histórico de Diamantina/MG.. Tem-se como objetivos específicos identificar as limitações e facilidades de acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida em atrativos turísticos da cidade e discutir a importância da inclusão de pessoas com mobilidade reduzida no lazer e no turismo. Para tanto, foram realizadas pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e observação sistematizada nos principais atrativos turísticos do centro histórico da cidade. Pela análise geral dos atrativos percebe-se que a maior parte deles não está acessível, de acordo com as Normas da ABNT (NBR9050) e Manual de Orientações sobre Turismo e Acessibilidade (MINISTÈRIO DO TURISMO, 2006). Apesar dos imóveis serem antigos e estarem em local tombado pelo IPHAN, dificultando intervenções nas fachadas, no interior dos mesmos as mudanças como adaptações em banheiros, presença de rampas e corrimãos adequados, largura das portas, pisos antiderrapantes, espaços para cadeirantes, altura das maçanetas e interruptores de luz vem ocorrendo ainda de forma insipiente. Nota-se com a pesquisa que os atrativos turísticos localizados no centro histórico de Diamantina não possuem adaptações adequadas que auxiliam a visita de pessoas com mobilidade reduzida, não garantindo, assim, sua acessibilidade com autonomia e independência e excluindo este público das possibilidades de realização de turismo em uma cidade patrimônio cultural da humanidade. Palavras-Chave: acessibilidade; mobilidade reduzida; inclusão; turismo; Diamantina/MG.

INTRODUÇÃO As normas específicas para a acessibilidade a edificações, espaços, mobiliários e equipamentos urbanos são formuladas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT-NBR 9050, 2004) e visam eliminar as barreiras arquitetônicas e urbanísticas nas cidades, edifícios, meios de transporte e comunicação possibilitando a inclusão social das pessoas com deficiência e/ou com mobilidade reduzida. Entende-se como deficiência: Redução, limitação ou inexistência das condições de percepção das características do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente. (ABNT NBR 9050, 2004)

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Bacharel em Direito e Graduando em Turismo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Email: [email protected] 37 Bacharel em Turismo, mestre em Geografia e professora assistente do curso de turismo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Email: [email protected]

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Já a pessoa com mobilidade reduzida é entendida como: Aquela que, temporária ou permanentemente, tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de utilizá-lo. Entende-se por pessoa com mobilidade reduzida, a pessoa com deficiência, idosa, obesa, gestante entre outros. (ABNT NBR 9050, 2004)

Assim, esse estudo visa contribuir com a discussão sobre a acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida ao turismo. O questionamento se fundamenta na necessidade de ações afirmativas em prol do visitante/turista com mobilidade reduzida, haja vista que o Manual de Orientações sobre a Acessibilidade e Turismo do Ministério do Turismo (BRASIL, 2006) reconhece que a acessibilidade ao turismo no Brasil ainda não é satisfatória. Desta forma, o Ministério do Turismo, ao editar o supra-citado manual, sinaliza um compromisso à promoção do turismo acessível no país no que se refere aos espaços e edificações de uso público e coletivo, vias, praças, parques, transportes coletivos, informação e comunicação, como portais e endereços eletrônicos destinados a prestação de serviços turísticos. Turismo acessível é termo técnico utilizado para definir a “possibilidade e condição do portador de deficiência alcançar e utilizar, com segurança e autonomia, edificações e equipamentos de interesse turístico”. (AGUIRRE, 2003 apud MTUR, 2009, p. 27). O objetivo principal deste estudo consiste em analisar a acessibilidade dos principais atrativos turísticos do centro histórico de Diamantina para visitantes com mobilidade reduzida. Além disso, tem-se como objetivos específicos identificar as limitações e facilidades de acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida em atrativos turísticos do centro histórico da cidade e discutir a importância da inclusão de pessoas com mobilidade reduzida no lazer e no turismo local. Desta forma, tem-se como problemática deste trabalho entender de que modo o turismo inacessível discrimina o exercício do lazer como um direito do cidadão e compreender a importância da aplicação das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT-NBR 9050:2004) e Manual de Orientações sobre a Acessibilidade e Turismo, do Ministério do Turismo (BRASIL, 2006), como instrumentos eficazes de inclusão do turista-deficiente. Para tanto, foram realizadas pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e observação sistematizada nos principais atrativos turísticos do centro histórico de Diamantina. A justificativa para a escolha do tema está no fato de que Diamantina possui uma grande variedade de atrativos turísticos, sendo uma cidade que ostenta o título de Patrimônio Cultural da Humanidade e que possui seu Conjunto Histórico e Paisagístico tombada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ressaltando sua grande importância cultural e turística. Destaca-se que, lamentavelmente, Diamantina não possui legislação especial com relação ao acesso dos deficientes e/ou pessoas com mobilidade reduzida aos monumentos históricos e aos atrativos turísticos. Portanto, estes enfrentam barreiras de acessibilidade e a cidade deixa de ser conhecida por turistas deficientes, excluídos do direito à cultura, ao lazer e ao turismo, por falta de adaptação adequadas que garantam a acessibilidade a este público.

METODOLOGIA

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A pesquisa tem caráter exploratório e descritivo com o intuito de explorar a temática sobre a acessibilidade de visitantes com mobilidade reduzida em atrativos do centro histórico de Diamantina/MG, utilizando como técnica de coleta de dados as pesquisas bibliográfica, documental e observação sistematizada. O primeiro procedimento metodológico adotado foi a pesquisa bibliográfica, a fim de aprofundar no tema do lazer e turismo na sociedade atual, definições sobre acessibilidade, pessoas com deficiência, pessoas com mobilidade reduzida, o direito de todos ao lazer e a inclusão das pessoas nos espaços turísticos. Para a professora Márcia Rita Trindade Leite Malheiros (2010), a pesquisa bibliográfica levanta o conhecimento disponível na área, possibilitando que o pesquisador conheça as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para compreender ou explicar o seu problema objeto de investigação. O segundo procedimento metodológico adotado foi a pesquisa documental em leis, normas e manuais que tratam sobre a questão da acessibilidade, das pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. A análise documental constitui em uma técnica importante na pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema (LUDKE E ANDRÉ, 1986). Por fim, foi realizada a observação sistematizada em alguns atrativos turísticos do centro histórico de Diamantina visando analisar sua adequação aos quesitos de acessibilidade ao turista com mobilidade reduzida, com base no conceito de Desenho Universal, nas Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas sobre Acessibilidade (ABNT-NBR 9050:2004), no Manual de Orientações sobre a Acessibilidade do Ministério do Turismo (Brasil, 2006) e em Leis que versam sobre o tema. Já a Observação Sistematizada requer um planejamento para o registro dos fenômenos a serem observados, anotados em documentos previamente preparados, possibilitando o emprego de mensuração quantitativa. A referida observação em campo ocorreu durante os meses de junho e julho de 2013. Para tanto, foi elaborado um Roteiros de Observações in loco, baseado na Norma da ABNT – NBR 9050 e no Manual de Acessibilidade, do Ministério do Turismo. Para selecionar os atrativos turísticos a serem analisados foi utilizada a Pesquisa de Demanda Turística Real de Diamantina e Região (SILVEIRA & MEDAGLIA, 2012). Pela referida pesquisa, foram identificados que os atrativos históricos mais visitados da cidade no primeiro semestre de 2012 foram: Casa de Chica da Silva, Casa de JK, Catedral Metropolitana, Capela Imperial do Amparo, Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Mercado Velho, Museu do Diamante e Instituto Casa da Glória. Sendo assim, a presente pesquisa foi desenvolvida nos referidos atrativos turísticos. Portanto, seguindo estes procedimentos metodológicos foi possível alcançar o objetivo geral deste trabalho que consiste em fazer uma análise sobre a acessibilidade dos atrativos turísticos do centro histórico de Diamantina para visitantes com mobilidade reduzida.

REFERENCIAL TEÓRICO O lazer, apesar de ser um direito social garantido pela Constituição Federal não é usufruído por todas as pessoas, sendo oportuno frisar que a Constituição Federal de 1988, além de garantir o direito ao lazer, também o coloca como um direito social. O artigo 6º da Constituição da República (BRASIL, 1988) elenca que os direitos sociais compreendem: “a

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educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Saliente-se que com os direitos garantidos pela Carta Magna, foram surgindo leis e medidas governamentais para a promoção da igualdade e garantia de acessibilidade às pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida, no que tange ao acesso à educação, saúde, trabalho e lazer. Entre estes direitos está o acesso ao lazer e ao turismo que pressupõe um conjunto de medidas de adaptação de forma a garantir o acesso com segurança e autonomia, total ou assistida, por todos os tipos de público. Destaca-se também o direito à acessibilidade, definida como: “Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos.” (ABNT NBR 9050, 2004). Constata-se que o direito à acessibilidade da pessoa deficiente está previsto em vasta legislação constitucional e infraconstitucional. Neste contexto, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, §2º, estabelece as normas de construção de logradouros, edifícios de uso público e particular, fabricação de veículos de transporte coletivo; e no artigo 244, regulamenta as adaptações destes espaços, a fim de garantir o acesso adequado às pessoas portadoras de deficiências (BRASIL, 1988). Ademais, o direito à acessibilidade está previsto também na Lei nº 10.048/00 (BRASIL, 2000), que dispõe sobre a prioridade de atendimento ao portador de deficiência; e na Lei 10.098/00 (BRASIL, 2006), que visa promover a inclusão, através da construção de rampas de acesso, banheiros adaptados, instalação de piso tátil e adequação no meio urbano e demais espaços. E ainda estabelece normas gerais e critérios básicos para promoção de acessibilidade das pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e obstáculos nas vias, espaços, mobiliário urbano, construção e reforma de edifícios e nos meios de transportes e comunicação. No âmbito federal, a Lei nº 11.666/94 (BRASIL, 1994), estabelece critérios de adaptação visando a acessibilidade do portador de deficiência motora (cadeirante). Encontrase previsto na Lei nº 7.853/99 (BRASIL, 1999) regulamento que determina que os órgãos federais propiciem espaços para os deficientes cadeirantes, auditivos e visuais em bibliotecas, museus, locais de reunião, conferências, aulas e similares. As normas específicas para a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências e/ou mobilidade reduzida a edificações, espaços, mobiliários e equipamentos urbanos são formuladas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT-NBR 9050, 2004), que visa eliminar as barreiras arquitetônicas e urbanísticas nas cidades, edifícios, meios de transporte e comunicação possibilitando a inclusão social dessas pessoas. Pode-se entender como barreiras arquitetônicas os obstáculos inibidores da circulação dos portadores de deficiência e demais pessoas que apresentam incapacidade transitória como: crianças, idosos, gestantes, obesos e cardiopatas, dificultando o acesso aos órgãos públicos e privados, construídos em desacordo com as normas técnicas (ABNT/NBR 9050, 2004). Portanto, a promoção da acessibilidade consiste na remoção dessas barreiras causadoras da exclusão do portador de necessidades especiais. No entanto, a promoção da acessibilidade para o portador de deficiências e/ou pessoas com mobilidade reduzida, constitui desafio a ser enfrentado através da eliminação das barreiras arquitetônicas e implantação de um projeto de inclusão. Portanto, o desenho universal consiste na construção de espaços propiciadores de acesso a serem utilizados de modo independente e igual, pelos portadores de deficiência transitória ou permanente, assim como por qualquer outra pessoa. De acordo com o Ministério do Turismo, o desenho universal consiste: Concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de

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forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade (BRASIL - MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006).

Nesta linha de raciocínio, Netto et al (2009, p. 474) discorrem sobre a definição de desenho universal que, se efetivamente adotado, evita a necessidade de adaptações futuras (que acabam, na maioria das vezes, sendo consideravelmente onerosas), e que possibilitam o uso comum e simultâneo dos espaços e equipamentos por pessoas com e sem deficiência – tendência que já se manifesta nas atividades de lazer e turismo, conforme afirma Sassaki: São as chamadas atividades integradas (quando a pessoa com deficiência consegue participar de atividades de lazer não adaptadas) e atividades inclusivas quando os programas de lazer são modificados para que pessoas com deficiência possam participar juntamente com as pessoas em geral. (SASSAKI, 2003, p. 14-15)

Conforme os autores citados anteriormente, nas regiões turísticas onde a questão da acessibilidade é uma realidade para os próprios habitantes e para os turistas, todo o esforço deve ser feito pelos gestores públicos e agentes locais para inserir nas políticas de turismo as necessidades de acessibilidade de todos os cidadãos. O setor turístico também deve empreender ações visando a inserção das pessoas com deficiência e/ou com mobilidade reduzida ao mercado de trabalho, pela prestação de serviços turísticos, em cumprimento a legislação de quotas vigente. Neste contexto, Netto et al (2009) ressalta que o turismo deve levar em consideração a diversidade humana ao construir seus espaços, como hotéis, restaurantes, museus, mirantes, trilhas, entre outros atrativos. Deve-se levar em consideração a lógica do desenho universal, de construir espaços sem barreiras, para que não seja necessário ter espaços individuais para pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida e estas possam circular por toda a cidade e edificações. (NETTO et al, 2009, p.474) Nesta linha de raciocínio, Netto et al (2009, p. 481) advertem que deve-se reconhecer que pensar na (e agir em prol da) inserção das pessoas com deficiência e/ou com mobilidade reduzida nos movimentos turísticos, mais do que um desejo romântico, é uma realidade que, gradualmente vem se tornando mais visível, seja por iniciativa própria deste segmento, seja por uma oferta (ainda tímida) que começa a surgir, seja, ainda, por ações de organizações do terceiro setor que tentam trabalhar sob a perspectiva do turismo inclusivo. O turismo inclusivo se caracteriza pelo tipo de turismo que fornece a qualquer pessoa a possibilidade de realizá-lo. Possibilita que, nas diversas condições físicas e sociais em que um indivíduo possa se encontrar, este possa realizá-lo em toda a sua plenitude. É uma forma de designar a cada ser humano seu espaço e condições para que o utilize. (FLORES e SILVA e GONÇALVES, 2006, p. 11)

DIAMANTINA: BREVE CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA, HISTÓRICA E TURÍSTICA O Município de Diamantina localiza-se na Região Sudeste do território brasileiro, na região central do Estado de Minas Gerais, na Mesoregião do Vale do Jequitinhonha e Microregião de Diamantina, a uma distância de aproximadamente 300 km da capital Belo Horizonte. Diamantina possui uma altitude média de 1.113 metros, sendo cercada pela Serra dos Cristais que faz parte da Serra do Espinhaço, cadeia montanhosa considerada Reserva da Biosfera pela UNESCO, sendo que os principais biomas encontrados na região são o cerrado e a Mata Atlântica. Ressalta-se a presença do rio Jequitinhonha e de diversos outros atrativos

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naturais como cachoeiras, quedas d'águas, grutas, lapas e vegetações características do cerrado como os campos de sempre-vivas. As origens do Arraial do Tijuco, como era chamada a cidade de Diamantina, remontam a 1.713, com as atividades dos bandeirantes à procura de ouro, diamante e outras pedras preciosas nas Minas Gerais. Diamantina tornou-se lendária na imaginação popular por ter abrigado o romance do Contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira e da escrava liberta Chica da Silva, sendo também a terra de Juscelino Kubitschek, ex- Presidente da República e idealizador de Brasília, em 1950. A cidade também é considerada como principal centro de atratividade turística do Circuito dos Diamantes, possuindo um patrimônio histórico-cultural legado do período colonial brasileiro. Vislumbradas atualmente através das expressões arquitetônicas, o centro histórico de Diamantina apresenta características das cidades do período colonial, com padrão irregular, arruamentos transversais à encosta, marcados, principalmente, pelas ruas paralelas, pequenas variações de abertura ou desvio de alguns becos e ruas estreitas. (MONUMENTA, s.d.) Devido à efervescência cultural de Diamantina, destaca-se o cultivo do teatro, da música e das artes em geral, tornando-se característica marcante da sociedade local. Ressalte-se que as festividades religiosas e populares, bem como a Vesperata (apresentação musical nas sacadas dos casarões do centro histórico), constituem atrações para os turistas oriundos de diversos estados brasileiros que a visitam mensalmente. Em 1938, Diamantina recebeu do IPHAN (Instituto Histórico e Artístico Nacional) o título de Patrimônio Histórico Nacional, contribuindo assim para que a cidade fosse reconhecida como importante reduto de história e cultura nacional. O reconhecimento de sua importância não parou, e o turismo assumiu relevância crucial para o desenvolvimento da cidade, através da exploração do passado fascinante e das belezas naturais exclusivas de seu território. Em 1999, Diamantina foi reconhecida pela UNESCO, tornando-se, merecidamente, Patrimônio Cultural da Humanidade, atraindo assim diversos turistas nacionais e internacionais para a cidade.

A ACESSIBILIDADE PARA VISITANTES COM MOBILIDADE REDUZIDA AOS ATRATIVOS DO CENTRO HISTÓRICO DE DIAMANTINA Concluída as pesquisas de campo no centro histórico de Diamantina/MG, foi possível averiguar os resultados e, a partir daí, identificar as limitações e facilidades para o acesso por visitantes deficientes ou com mobilidade reduzida aos atrativos selecionados, diagnosticar suas atuais condições de acessibilidade e ao final apontar medidas para possibilitar ou ampliar as condições de acesso para este público específico. Constatou-se que a maioria dos atrativos analisados apresentou várias falhas no tocante à acessibilidade, consequentemente causando a exclusão de pessoas com mobilidade reduzida aos Museus, Igrejas e demais atrativos turísticos do centro histórico da cidade, justificando-se a necessidade das adaptações com urgência para receber esse tipo de público. De acordo com a Pesquisa de Demanda Turística Real de Diamantina e Região, foram identificados os atrativos históricos mais visitados da cidade no primeiro semestre de 2012, sendo eles na ordem de maior visitação: Casa de Chica da Silva, Mercado Velho, Casa de JK, Catedral Metropolitana, Museu do Diamante, Instituto Casa da Glória, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de Nossa Senhora do Rosário e Capela Imperial do Amparo. Sendo assim, estes atrativos turísticos serão analisados no que se refere à

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acessibilidade para visitantes com mobilidade reduzida, seguindo a ordem de maior visitação turística. A Casa de Chica da Silva, atualmente funciona como museu, mas serviu de residência para a escrava e o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, entre 1755 e 1770. A escrava liberta, Chica da Silva, subverteu sua posição na sociedade local ao se unir com um dos homens mais poderosos do Arraial do Tejuco, hoje Diamantina, passando a gozar dos privilégios da elite branca, o que era um escândalo na época (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). Pelas observações em campo sobre acessibilidade, pode-se notar a inexistência de área prioritária de estacionamento para deficiente e/ou pessoas com mobilidade reduzida próximo ao atrativo. Em relação ao acesso ao atrativo, constatou-se a presença de degraus na entrada e calçamento com relevos irregulares, e portas com abertura mínima exigida (80,0 cm). Em seu interior, nota-se a ausência de pisos antiderrapantes, elevadores para o segundo pavimento e banheiros adaptados em suas instalações hidráulicas e elétricas. Possui área de circulação entre os móveis que permitem a passagem de cadeirantes. Saliente-se que há corrimãos em escadas e rampas em duas alturas (70 cm e 92 cm), o diâmetro do corrimão entre 3cm e 4,5cm, espaço livre de 4 cm entre corrimão e parede, como preconizado na Norma Técnica sobre Acessibilidade. Existem algumas placas de informações que foram afixadas ao lado das peças expostas e não acima, o que facilita a visualização por cadeirantes. Porém, nota-se uma facilidade que é a altura das peças e das bancadas de aproximadamente 80 cm, pois essa altura dá uma boa visibilidade a pessoas em cadeiras de rodas e de baixa estatura. Devido a reforma na casa que foi adaptada para servir como Museu, a altura das maçanetas e interruptores elétricos foram instalados aproveitando-se a arquitetura original da construção em alturas adequadas de acordo com os itens descritos na norma NBR9050/2004. Já o Mercado Velho foi construído em 1835, por Joaquim Cassimiro Lages e servia como ponto de descarregamento e venda de mercadorias entre os comerciantes e mineradores que passavam pela cidade. Os tropeiros amarravam seus cavalos nas estacas de madeira localizadas no pátio externo do mercado (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). Atualmente, o local é ponto de encontro de moradores e turistas e local de realização de eventos culturais como feira de artesanato e hortifruti, pequenos show e barraquinhas com comidas típicas. Percebe-se nesse atrativo, muito visitado por turistas que apesar de estar localizado em uma Praça bastante ampla não foi priorizado estacionamento privativo para deficientes. Na entrada principal do Mercado há um calçamento tipo “pé-de-moleque” que são calçadas com pedras de rios, com relevos e pisos bastante irregulares. Todas as entradas para o Mercado possuem degraus com ausência de corrimãos. As portas de acesso garantem a passagem de cadeirantes, conforme preconiza a Norma Técnica. No interior do atrativo observa-se a ausência de pisos antiderrapantes, bem como ausência de elevadores para o pavimento inferior. Observou-se ainda a presença de corrimãos na escadaria que dá acesso ao piso inferior onde há um auditório utilizado para reuniões, palestras, encontros e cursos, equipada com sanitários de uso comum, mas não existe nenhuma adaptação nos sanitário destinado ao atendimento de pessoa com mobilidade reduzida ou deficiente, o mesmo ocorrendo nos sanitários em sua área externa. Dentro do Mercado, devido à grande movimentação de pessoas durante os eventos que ocorrem nas sextas-feiras à noite e nas manhãs de sábados, há dificuldade de circulação de pessoas com mobilidade reduzida e/ou cadeirantes em seu interior, apesar dos moveis permitirem a circulação de cadeirantes. Ante a arquitetura original do Mercado, a altura das maçanetas e interruptores elétricos podem ser consideradas como compatíveis com os requisitos da norma NBR9050/2004. Outro atrativo analisado foi a Casa de JK, que trata-se de uma residência modesta, construída de pau-a-pique, típica do século XVIII, onde o ex-presidente da República

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Juscelino Kubitschek viveu dos 3 aos 19 anos de idade. Após sua morte, a casa foi transformada em um museu que expõe fotografias, textos e até violões usados nas serestas que ele participava. (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). O atrativo possui a particularidade de ter sido restaurado observando-se algumas normas de acessibilidade. Porém, constatou-se a ausência de área de estacionamento prioritária para deficiente e/ou pessoas com mobilidades reduzidas próximo ao atrativo, degraus na entrada principal, além do passeio e escadaria na entrada serem bastante estreitos, dificultando assim a locomoção de cadeirantes. Além disso, o calçamento da rua apresenta buracos, relevos irregulares e escorregadios. Em seu interior nota-se a ausência de pisos antiderrapantes. Ressalta-se a presença de portas de acesso aos ambientes com abertura mínima exigida de 80 cm, áreas de circulação entre os móveis que garantem a passagem de cadeiras de rodas. Nota-se a presença de corrimãos em escadas e rampas em duas alturas (70 cm e 92 cm), com o diâmetro do corrimão entre 3cm e 4,5cm, espaço livre de 4 cm entre corrimão e parede de acordo com a orientação da Norma Técnica sobre Acessibilidade. Algumas placas de informação também foram colocadas ao lado das peças expostas e não acima, facilitando a visualização por cadeirantes. Uma facilidade observada é a altura das peças e das bancadas de aproximadamente 80 cm, sendo que essa altura dá uma boa visibilidade a pessoas em cadeira de rodas e de baixa estatura. Observou-se ainda neste atrativo a presença de um sanitário devidamente sinalizado e adaptado para cadeirantes. Devido a sua reforma para ser utilizada como Museu, a altura das maçanetas e interruptores elétricos foram instalado em alturas que podem ser consideradas compatíveis com a norma NBR9050/2004. A Catedral Metropolitana de Santo Antonio é um atrativo localizado na área central da cidade, e foi construído entre 1933 e 1940, em substituição a mais antiga Igreja de Diamantina, a Igreja de Santo Antônio da Sé, demolida após longo processo de degradação (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). Inicialmente, observa-se como pontos positivos a presença de estacionamento prioritário e devidamente sinalizado e demarcado contando com uma vaga para deficiente bem em frente à Catedral. Existe ainda uma rampa com piso antiderrapante em sua entrada principal, na lateral esquerda. A porta central de acesso é bastante larga em razão de sua arquitetura atendendo assim a abertura mínima exigida, bem como o corredor central que garante a circulação de cadeiras de rodas. Porém, constata-se a ausência de sanitários destinados ao público em geral, bem como prioritários para pessoa com deficiência e/ou mobilidade reduzida. Devido a sua construção ser mais recente em relação aos demais atrativos, a altura das maçanetas e interruptores elétricos podem ser aproveitados como descrito na Norma NBR9050/2004. O Museu do Diamante originariamente foi a casa onde morou José de Oliveira Silva e Rolim, ou Padre Rolim, um dos principais articuladores da Inconfidência Mineira. Após ser preso e enviado para Portugal, teve a casa confiscada pela Fazenda Real, que a leiloou em praça pública. (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). O citado imóvel pertenceu à particulares até 1945, quando foi readquirido pelo Estado e transformado no Museu do Diamante. Nesse atrativo inicialmente pode-se citar como ponto positivo a presença de estacionamento prioritário contando com uma vaga para deficiente devidamente demarcada e sinalizada. Mas em relação ao acesso, constatou-se a presença de uma estreita escada e degraus em sua entrada, além de calçamento irregular e escorregadio na rua em frente ao atrativo. Observa-se que o Museu do Diamante possui em razão da arquitetura original portas largas e em seu interior observa-se que os mobiliários foram dispostos garantindo a circulação de pessoas com mobilidade reduzida, havendo corrimãos em escadas e rampas em duas alturas (70 cm e 92 cm), diâmetro do corrimão entre 3cm e 4,5 cm, espaço livre de 4 cm entre corrimão e parede bem como a largura de portas e corredores havendo ainda a

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altura compatível de maçanetas das portas. Saliente-se que algumas placas de informações foram colocadas ao lado das peças expostas e não acima, facilitando a visualização por cadeirantes. Uma facilidade observada é a altura das peças de artes e das bancadas com aproximadamente 80 cm, sendo que essa altura dá uma boa visibilidade a pessoas em cadeiras de rodas e de baixa estatura. Constatou-se, que o atrativo é bastante visitado por turistas, porém nota-se a presença de sanitários de uso comum, faltando adaptação de sanitário para uso por deficientes e/ou pessoa com mobilidade reduzida. Devido a reforma Casa que foi adaptada para servir como Museu, as maçanetas e interruptores elétricos foram instalados em alturas que podem ser aproveitadas com as descritas nos requisitos da norma NBR9050/2004. O Instituto Casa da Glória que em 1818 tornou-se sede da antiga Casa de Intendentes e Contratadores, responsáveis pela exploração de diamantes na região. Em 1864, passou a abrigar o 1º Bispado de Diamantina e foi residência do primeiro Bispo da cidade. Foi cedido às Irmãs de São Vicente de Paulo, em 1867, quando passou a sediar um educandário e orfanato. (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). No início do século XIX, utilizando sobras de madeira da chácara de Chica da Silva, foi construído o Passadiço, que é hoje um dos grandes símbolos de Diamantina. Atualmente, o local pertence ao Instituto de Geociências da UFMG e abriga em seu interior um Museu de Mineralogia e serve como base de apoio para pesquisadores. Nesse atrativo foi observada a ausência de estacionamento privativo para deficientes e/ou pessoas com mobilidade reduzida. Foi constatada a presença de degraus em sua entrada principal, além de calçamentos com pisos escorregadios e relevos irregulares. Devido sua arquitetura centenária possui portas largas, bem como a presença de corrimãos entre 3 cm e 4,5 cm de diâmetro e móveis dispostos garantindo a circulação de cadeirantes. Observa-se em seus salões que algumas placas de informação foram colocadas ao lado das peças expostas facilitando a visualização por cadeirantes. Outra facilidade é a altura das peças e das bancadas de aproximadamente 80 cm, sendo que essa altura dá uma boa visibilidade a pessoas em cadeira de rodas e de baixa estatura. Em seu interior constatou-se a ausência de pisos antiderrapantes, ausência de elevadores para os demais pavimentos, bem como a presença de diversos bebedouros e sanitários de uso comum, faltando à adaptação de sanitários destinados à cadeirantes e/ou pessoas com mobilidade reduzida. Por fim, as maçanetas e interruptores elétricos foram instalados em alturas compatível com as descritas nos requisitos da norma NBR9050/2004. Partindo para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo merece mencionar que ela foi construída pelo contratador João Fernandes de Oliveira, que se desentendera com outros membros da Irmandade ao escolher um local próximo à sua casa para sua construção. Destaca-se a talha esculpida por Francisco Antônio Lisboa (homônimo de Aleijadinho) e Manoel Pinto, além de um órgão de 514 tubos que teria sido utilizado por Lobo de Mesquita, um dos mais importantes compositores coloniais. Constata-se nas proximidades do atrativo a ausência de estacionamento prioritário para deficientes (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). Pelas observações em campo, nota-se como positivo a ausência de escadas e degraus em sua porta de entrada principal e nas portas laterais, sendo que a calçada possui a largura mínima exigida de 1,20 cm, e as portas de entrada possuem largura mínima exigida pela Norma Técnica em função da arquitetura religiosa da época de sua construção. Em seu interior, o espaçamento entre os bancos e a nave central garante a circulação de cadeirantes, mas nota-se nesse atrativo a ausência de sanitário de uso geral bem como prioritário destinado para cadeirante e/ou pessoa com mobilidade reduzida. A altura das maçanetas e interruptores elétricos é compatível com os requisitos da norma NBR9050/2004. Por sua vez, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário é considerada uma das igrejas mais antigas de Diamantina, construída por volta de 1728, por negros pertencentes à

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irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Em 1771, passou por uma reforma, que provavelmente ampliou a nave e acrescentou uma sacristia. A exemplo de outras igrejas construídas posteriormente na cidade, possui uma única torre que é independente da nave. O largo da igreja abriga ainda um dos dois chafarizes remanescentes do séc. XVIII (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). Pode-se observar nesse atrativo a ausência de estacionamento prioritário próximo ao local e piso irregular próximo à entrada da Igreja. Como ponto positivo destaca-se a ausência de escada e degraus na entrada principal e nas laterais da Igreja, facilitando a circulação de pessoas com deficiência; o fato de possuir portas largas, com mais de 80 cm; e em seu interior possuir áreas de circulação que garantem a passagem de cadeirantes. Nota-se a ausência de sanitário de uso geral bem como que possa atender pessoa com deficiência e/ou mobilidade reduzida, além da ausência de pisos antiderrapantes. As maçanetas e interruptores elétricos foram instalados em alturas adequadas de acordo com a norma NBR9050/2004. Partindo para a Capela Imperial do Amparo, saliente-se que ela foi construída no século XVIII e ganhou o nome de "Imperial" após a Independência do Brasil. A Capela sedia a tradicional Festa do Divino Espírito Santo, que acontece geralmente nos meses de maio/junho, com destaque para o sorteio do Imperador do ano seguinte. (CIDADES HISTÓRICAS, s.d.). Nesta Igreja observa-se a inexistência de estacionamento privativo para deficientes e ou pessoas com mobilidade reduzida próximo ao atrativo. Porém, em razão de sua arquitetura original a calçada em frente ao atrativo é ampla, possuindo a largura mínima exigida de 1,20 cm, bem como ausência de degraus em sua porta de entrada e a presença de portas bastante largas e móveis que garantem a circulação de cadeirantes entre os ambientes. Além disso, constatou-se a ausência de pisos antiderrapantes e de sanitário para uso geral e/ou pessoa com mobilidade reduzida. As maçanetas e interruptores elétricos foram instalados em alturas que podem ser aproveitadas com as descritas nos requisitos da norma NBR9050/2004. Pela análise geral dos atrativos pode-se concluir que a acessibilidade nos principais atrativos do centro histórico de Diamantina MG pode ser considerada como obstáculo não só para pessoas com deficiência, mas também para idosos, crianças, obesos e gestantes. A cidade de Diamantina ainda não está acessível para que esse público possa se locomover com autonomia e segurança. Destaca-se que todos os atrativos analisados possuem construções antigas e encontram-se inseridos em locais tombados pelo IPHAN, dificultando por vezes intervenções como nas fachadas, escadas e calçadas de acesso. No interior de alguns imóveis as mudanças vem ocorrendo de forma lenta e gradativamente como adaptações em banheiros, largura das portas, espaços para deslocamento, altura das maçanetas e interruptores elétricos. Observa-se que mesmo sendo Diamantina uma cidade histórica e Patrimônio Mundial da Humanidade, percebe-se o mal estado de conservação das calçadas que necessitam de uma melhoria para o uso pela população em geral e principalmente por pessoas que possuem mobilidade reduzida, tais como idosos e portadores de deficiência. No centro histórico, constata-se a presença de pisos inadequados, buracos e ruas apresentando calçamento em pedras irregulares e escorregadias; passeios com tipo de pisos inadequados, sendo observado que em alguns locais apresentam obstrução do passeio por veiculo motorizado e com poucos locais que apresentam placas indicativas de estacionamento exclusivo para portadores de deficiências. Além disso, em quase todos os atrativos inexiste estacionamento prioritário para deficientes. Observou-se ainda que em quase todos os atrativos as portas de acesso e largura das calçadas em frente aos atrativos atendem às exigências da Norma Técnica e nas áreas de

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circulação, os móveis foram dispostos garantindo a circulação cadeiras de rodas, mas sendo necessário auxilio de terceiros. Porém, tais adaptações referem ao padrão de construção dos imóveis e não foram pensadas no sentido de atender às necessidades específicas do público deficiente e/ou com mobilidade reduzida. Nunca é demasiado citar que a maioria dos atrativos conta com a presença de escadas e degraus sem sinalização, inexistência de rampas ou quando existem, a maioria encontram-se em desacordo com a Norma da ABNT. Além disso, os corrimãos, quando presentes, muitas vezes estão fora dos padrões exigidos na referida norma, sendo que os citados problemas favorecem a inacessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, tornando-as excluídas de seus direitos de cidadãos. Saliente-se que pela análise dos atrativos visitados, pode-se dizer que há diversas dificuldades no percurso, destacando a necessidade de intervenções nas escadas, instalação de corrimãos nos moldes previstos na Norma Técnica, adaptações em banheiros, construções de rampas de acesso, elevadores para imóveis com mais de um pavimento, entre outras ações. Desta forma, destaca-se a importância do desenho universal com a criação de produtos e ambientes em prol da acessibilidade das pessoas com mobilidade reduzida e que garanta o uso dos espaços para todos os tipos de público. Relevante citar que o descumprimento das normas garantidoras do direito de acesso tem como consequência a exclusão do direito ao lazer. Analisando-se a cidade de Diamantina, nota-se que a sua peculiaridade por se tratar de uma cidade histórica tombada e reconhecida como patrimônio cultural da humanidade, atraindo grande número de turistas e deveria de fato garantir a acessibilidade à toda humanidade. Porém, observa-se a inexistência de qualquer legislação municipal específica que garanta a acessibilidade para deficiente e/ou pessoas com mobilidade reduzida aos seus atrativos turísticos, localizados no centro histórico da cidade. Conforme o resultado das observações em campo nota-se a dificuldade de acessibilidade nos principais atrativos de Diamantina contribui sobremaneira para a exclusão impedindo o exercício do direito de ir e vir garantido constitucionalmente e, fere a dignidade do cidadão no Estado Democrático de Direito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao término da coleta de dados e de sua análise, pode-se concluir que os objetivos da presente pesquisa foram atingidos, visto que a pesquisa bibliográfica, documental e a observação sistematizada em campo foram realizadas e, assim, foi possível analisar a acessibilidade dos principais atrativos turísticos do centro histórico de Diamantina ao visitante com mobilidade reduzida. Este estudo demonstrou a necessidade de acessibilidade para pessoa com mobilidade reduzida no turismo, por meio da adaptação nas edificações, espaços, mobiliários e equipamentos e serviços turísticos para eliminar as barreiras arquitetônicas e promover a acessibilidade do turista-deficiente. Como sugerido por Bittencourt (2004), a falta de acessibilidade impede visitantes com mobilidade reduzida de exercer plenamente a cidadania, como o direito de ir e vir, o acesso à educação, saúde, lazer, emprego e a existência das barreiras arquitetônicas constituem obstáculos que impedem sua circulação em ambientes construídos. Por meio desta pesquisa, pode-se comprovar a importância da acessibilidade das pessoas com deficiência ao turismo, demonstrar que a exclusão discrimina o direito ao exercício do lazer tornando o turismo inacessível. Além disso, foi possível também demonstrar a importância da aplicação das normas da Associação Brasileira de Normas

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Técnicas (ABNT-NBR 9050:2004) e do Manual de Orientações sobre a Acessibilidade e Turismo, do Ministério do Turismo (BRASIL, 2006), como instrumentos eficazes de inclusão do turista-deficiente. Pelo levantamento in loco constata-se, de modo geral, que os atrativos são parcialmente acessíveis, visto que o acesso a muitos atrativos possuem entraves como escadas e degraus, ausência de corrimãos, largura das calçadas e portas fora do padrão exigido, ausência de pisos antiderrapantes, entre outras. Apesar disso, em seu interior constatou-se possibilidades de deslocamento e alcance visual para pessoas com mobilidade reduzida. Pela análise dos dados levantados por meio do Roteiro de Observação, infere-se que a maioria dos atrativos localizados no centro histórico não apresentam totais condições de acessibilidades adequadas para o turismo. Os mesmos possuem barreiras arquitetônicas, ausências de vagas de estacionamento específicas para deficientes, ausência de banheiros equipados para atendimento às pessoas com mobilidade reduzida e principalmente, a presença de obstáculos diversos que dificultam a presença de cadeirantes e visitantes com mobilidades reduzidas nos atrativos do centro histórico da cidade. Ressalte-se que, uma grande parcela de turistas com mobilidade reduzida sofre exclusão social, pois não possuem o mesmo acesso a atrativos turísticos do que as demais pessoas. Este fato se torna ainda mais grave por se tratar de uma cidade com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela UNESCO, que impede os deficientes de serem cidadãos comuns e apresentarem uma vida social condizentes com seus direitos constitucionais. De acordo com os resultados das observações cumpre reafirmar que a não adoção de medidas de acessibilidade para as pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida ao turismo favorece a discriminação, promove exclusão social e fere o direito ao lazer dos cidadãos especiais. A implementação de ações afirmativas no sistema turístico brasileiro em consonância com a Associação Brasileira de Normas Técnicas e com o Manual de Orientações sobre a Acessibilidade e Turismo do Ministério do Turismo serão decisivas para transformar em prática aquilo que já está previsto em várias lei brasileiras. Este pesquisa compõe ainda um material estruturado e argumentado que poderá servir de base para contestações futuras acerca das políticas públicas sobre turismo e acessibilidade em Diamantina. Pode-se constatar a inexistência de projetos de adaptação e acessibilidade em curso pelo poder público e pela iniciativa privada no município. Como proposta, destaca-se a necessidade de fiscalização no cumprimento da Norma Técnica da ABNT-NBR 9050/2004, numa ação conjunta com os órgãos públicos das esferas Municipal, Estadual e Federal e supervisionado pelo IEPHA/MG, IPHAN, UNESCO e órgãos afins, para evitar a descaracterização dos monumentos históricos tombados, tanto na fachada como no interior dos respectivos bens. Como sabido, o centro histórico de Diamantina, que abriga casarões e monumentos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional – IPHAN e tem o relevo acidentado, encontra certa dificuldade para passar por algumas adaptações. No entanto, não é porque a cidade possui áreas tombadas pelo IEPHA/MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) e pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) que esta pode se tornar um obstáculo na acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. Necessário se faz um diálogo e envolvimento dos poderes públicos e privados, visando chegar a resultados semelhantes a outras cidades históricas brasileiras e estrangeiras onde a acessibilidade para visitantes com mobilidade reduzida já é uma realidade. Tendo-se como base a legislação brasileira vigente sobre acessibilidade, o que se pode constatar é a existência de várias leis e normas que regulamentam os direitos das

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pessoas com mobilidade reduzida, mas infelizmente, o que se verifica na prática é que, apesar de sua existência, elas não são devidamente cumpridas, tendo em vista que não garantem que diversos atrativos turísticos, atendam a maior diversidade possível de turistas e visitantes, principalmente aqueles com deficiência e/ou com mobilidade reduzida.

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______Lei n. 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em . Acesso em julho 2013. BRASIL - MINISTÉRIO DO TURISMO. Turismo e acessibilidade: manual de orientações – 2. ed. – Brasília: Ministério do Turismo, 2006. .CIDADES HISTORICAS BRASILEIRAS. Diamantina: Monumentos Civis Mercado dos Tropeiros, Casa de Juscelino Kubitschek, Casa da Glória e Passadiço, Casa de Chica da Silva, Casa do Padre Rolim (Museu do Diamante). http://www.monumenta.gov.br/site/?page_id=180. Acesso em julho de 2013. FLORES E SILVA, Yolanda; GONÇALVES, Patrícia Spíndola. A estrutura hoteleira de Balneário Camboriú para turistas portadores de necessidades especiais. In: Turismo – Visão e Ação, Balneário Camboriú, v. 8, n.1, p.9-29, jan./abr.2006. IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Laguna – SC conhece diretrizes para mobilidade e acessibilidade no Centro Centro Histórico Disponível em: . Acesso em julho 2013. IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Instrução Normativa n.º 1, de 25 de novembro de 2003. Disponível em:. Acesso em julho 2013. LÜDKE, M., ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.U., 1986. NETTO, A. P. et al. Segmentação do Mercado Turístico: estudos, produtos e perspectivas. São Paulo. Ed. Manole, 2009. ONU, Organização Das Nações Unidas. Declaração dos direitos das pessoas deficientes, 1992. Disponível em . Acesso em: junho.2013. SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão no lazer e turismo: em busca da qualidade de vida. São Paulo: Àures, 2003. 128p. SILVEIRA, C. E.; MEDAGLIA, J. Perfil da demanda turística real de Diamantina e região: características de viagem, motivações, percepções e expectativas. Diamantina: UFVJM, 2012.

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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL EM EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS DE PARAGOMINAS-PA João Gabriel Pinheiro Huffner38 Admilson Alcantara da Silva39 Mônica dos Santos Silva40 RESUMO O presente estudo teve como objetivo central realizar um levantamento sobre a existência ou não de medidas mitigadoras de impactos socioambientais negativos em empreendimentos hoteleiros do município de Paragominas no estado do Pará, juntamente com investigação sobre o conhecimento dos empreendedores acerca da importância em incorporar práticas sustentáveis nas rotinas de seus empreendimentos. O levantamento dos dados foi feito a partir de um censo contemplando todos os meios de hospedagem inseridos no sistema de cadastro de prestadores de serviços turísticos do Ministério do Turismo – CADASTUR que operam no município de Paragominas. Desta forma foram visitados todos os sete (07) meios de hospedagem com cadastro no CADASTUR. Nestes empreendimentos foram aplicados questionários com perguntas abertas e fechadas junto aos gerentes administrativos. Os questionários aplicados possuíam questões acerca da economia de energia, uso dos recursos hídricos, gerenciamento de resíduos sólidos e conscientização ambiental de hóspedes e colaboradores. Com os resultados obtidos é possível perceber a incipiente preocupação com as questões que envolvem sustentabilidade socioambiental dos empreendimentos hoteleiros em Paragominas, os quais necessitam de apoio técnico para a absorção de um paradigma de desenvolvimento de suas atividades, o qual seja pautado na sustentabilidade do processo produtivo. Palavras-chave: Turismo, Sustentabilidade, Empreendimentos Hoteleiros INTRODUÇÃO O cenário mundial do século XXI presencia o despertar de uma nova consciência da sociedade em relação à questão ambiental, que ganha novos contornos devido a importância atribuída à proteção ao meio ambiente como um dos fatores-chave do desenvolvimento humano e social (HUFFNER, 2013). A preocupação ecológica e a crescente busca por alternativas de desenvolvimento sustentável levam as organizações empresariais, a planejar investimentos em tecnologias antipoluentes, optando por mecanismos de ação para incrementar o aproveitamento de insumos, evitando a exploração indiscriminada dos recursos naturais e o acúmulo de materiais desperdiçados. Nesse sentido, o compromisso e a responsabilidade com as questões ambientais têm sido foco de intensas discussões em diversas áreas do conhecimento. A aplicação de medidas socioambientais para a mitigação de impactos negativos, tornou-se prerrogativa mercadológica no cenário econômico atual, exercendo caráter de diferencial competitivo entre instituições e organizações privadas, bem como no setor público, na condução de 38

Estudante de Bacharelado e Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Pará – UFPA. E-mail: [email protected] 39 Professor da Universidade do Estado do Pará-UEPA e Coordenador de Estudos, Pesquisas e Informações da Secretaria de Estado de Turismo do Pará. E-mail: [email protected] 40 Estudante de graduação em Estatística na Universidade Federal do Pará - UFPA

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políticas públicas e investimentos. Portanto, o objetivo de promover o “desenvolvimento sustentável” é um aspecto medular na estratégia adotada por governantes e empreendedores do mundo inteiro. E no setor turístico, promover o “turismo sustentável” é uma iniciativa que traduz a contribuição desse setor produtivo na consecução daquele objetivo (ESPIRITO SANTO, 2012). Ao considerar que a hospedagem, especificamente o segmento hoteleiro, configura-se como uma das bases de sustentação do turismo, dotado de característica e funcionalidade própria, a ele é atribuído um caráter de liderança no desenvolvimento turístico, bem como no protagonismo de ações que visem contribuir com a sustentabilidade da atividade. Os meios de hospedagem fazem parte de um sistema complexo da atividade turística, possuindo uma relação direta com os aspectos sociais e ambientais, impactando os mesmos, seja positiva ou negativamente, transcendendo obrigatoriamente as barreiras territoriais do empreendimento no que diz respeito a sua parcela de responsabilidade com a preservação e manutenção dos recursos naturais, tendo a responsabilidade de implementar programas e práticas de gerenciamento e monitoramento desses recursos. Destarte, o setor de hoteleiro de modo geral tem contribuindo para desenvolver na prática o conceito de turismo sustentável, direcionando ações para as questões ambientais, proporcionando um aumento na produção de manuais e certificações de boas práticas hoteleiras, consequência da ampliação da demanda por empreendimentos ambientalmente responsáveis. Ou seja, ocorre uma transformação em ritmo acelerado tanto no perfil do empreendedor, quanto no do visitante usuário da oferta. Portanto, com este estudo, objetivou-se, realizar um levantamento qualitativo e quantitativo a cerca da adoção de práticas sustentáveis nos empreendimentos hoteleiros do município de Paragominas, no estado do Pará. O levantamento ocorreu a partir de visitas in loco, com a aplicação de questionários pré-formulados, constituídos de perguntas abertas e fechadas, contemplando indicadores de sustentabilidade inerentes à rotina operacional dos empreendimentos. Neste contexto, conceitua-se um indicador como “a representação de um conjunto de dados, informações conhecimentos acerca de determinado fenômeno, capaz de expressar e comunicar, de maneira simples e objetiva, as características essenciais e o significado do fenômeno” (ADRIANSEE, 1993).

A PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL EM EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS A preocupação com o meio ambiente surge a partir do momento em que homem toma consciência dos efeitos de suas ações sobre os recursos naturais e, consequentemente sobre sua própria qualidade de vida. Nesse sentido, o conceito de desenvolvimento sustentável, fruto do auge dos movimentos ambientalistas e das conferências ambientais da década de 70, 80 e 90, surge da necessidade de galgar uma nova realidade para a forma como a humanidade se desenvolve, interage com o meio em que vive e utiliza seus recursos. As conferências sobre meio ambiente iniciadas com maior relevância a partir da conferência de Estocolmo, em 1972, aceleraram as discussões sobre os problemas ambientais o planeta, com ênfase no rápido crescimento populacional e na pressão sobre os recursos naturais. Essas discussões incorporadas à sociedade colocaram em xeque a forma como esta vinha e vem utilizando os recursos naturais (PALHETA DA SILVA, 2007, p.42).

Atualmente, o estado do desenvolvimento estabelecido, gera consequências em sua maior parte sociais e ambientais, que são reflexos do nível acelerado de industrialização que os países desenvolvidos e os em desenvolvimento estão passando, da globalização da

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economia, da busca por novas fontes de recursos como o petróleo, e do consumismo exacerbado promovido em prol da manutenção da economia capitalista (HUFFNER, 2013). Portanto, pode-se concluir que todo conceito oriundo dos avanços nas discussões que envolvem os problemas ambientais globais ainda estão em construção, possuindo um grande corpo teórico, porém, com a prática ainda limitada, ou seja, existe um longo caminho a ser trilhado, tanto em âmbito cientifico quanto governamental e social para que se alcance um consenso entre a necessidade de desenvolvimento socioeconômico e a preservação da natureza. Nesse sentido, percebe-se um avanço com relação a produção legislativa pertinente ao tema, introdução de políticas com cunho ambiental implícito em programas e projetos, além de novas iniciativas que buscam reduzir o desperdício e o consumo de recursos naturais e a inserção cada vez maior da temática ambiental na educação básica, média e superior. No setor turístico, tendo o meio ambiente como matéria prima para o seu desenvolvimento, percebe-se um avanço principalmente no segmento hoteleiro no que tange o emprego de medidas mitigadoras de impacto, tecnologias sustentáveis e políticas ambientais internas com o propósito de reduzir o consumo e desperdícios de recursos, o que ainda contribui para as economias de custos operacionais do empreendedor. Atualmente em muitos países muito se tem feito por parte de grandes operadoras e empresários do segmento de hospedagem em busca de adequar o seu negocio aos novos modelos exigidos tanto pela sociedade e legislação vigente, porém também como pelos próprios turistas. O que acontece também no Brasil, com a criação de normas e programas de certificação que estipulam regras e requisitos para a adequação do empreendimento ao desenvolvimento de praticas sustentáveis, como as normas de orientação criadas pelo Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro de Turismo – Embratur e Instituto de Hospitalidade através de um acordo, oque definiu requisitos técnicos para a certificação de empreendimentos turísticos e profissionais da área para promover a qualidade e sustentabilidade ambiental, social e cultural dos mesmos. (GAZONI, 2005, p. 117). Os paradigmas ambientais atuais remetem a uma visão holística que envolve o empreendimento hoteleiro, meio ambiente natural e o social, e isso se dá devido aos novos processos implementados de gestão ambiental, os quais vêm evoluindo conforme as novas necessidades e tecnologias. A gestão ambiental deve integrar a concepção de produção do hotel e assim revisar a situação do local empreendido. Desse modo Centeno completa com o texto abaixo: Por isso entende-se que a qualidade na exploração hoteleira depende, e muito, da qualidade do meio ambiente no qual ela esta inserida. Neste contexto, a gestão ambiental, tendo em vista o controle e gestão dos resíduos gerados e a consequente escassez de recursos naturais que esta ocasiona é considerada fator fundamental para o planejamento hoteleiro (CENTENO, 2004, p.55).

A hotelaria brasileira hoje adota uma serie de medidas, projetos, programas, normas e certificações no que tange a qualidade e gestão ambiental dos empreendimentos sendo alguns de grande relevância para o amadurecimento do assunto e preservação ambiental. Um dos programas de gestão ambiental mais relevantes hoje na hotelaria nacional é o “Hóspedes da Natureza” implementado pela Associação Brasileira da Industria de Hotéis – ABIH: Em 2002, a ABIH assumiu a responsabilidade para fomentar a gestão ambiental nos meios de hospedagem, uma vez que há interação desse subsistema com fornecedores, hospedes, funcionários, comunidade e também com outros subsistemas de distribuição tais como as agencias e operadoras turísticas. A partir desse enfoque surge o programa “Hospedes da Natureza”, um programa de responsabilidade ambiental que tem como objetivo conscientizar os dirigentes do setor empresarial quanto à conservação do meio ambiente, em razão do aumento

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populacional, da degradação ambiental e da concorrência do mercado (ALVES – CAVALCANTI – SILVA, 2006, p.92-93).

Portanto, dadas as dimensões de cada empreendimento, é factível a possibilidade de adequação e condicionamento à determinadas regras que possibilitem a contribuição do setor para a construção de paradigma ambiental sustentável inerente ao turismo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Primeiramente, para a aplicação das pesquisas foram escolhidos como objeto de análise, todos os empreendimentos hoteleiros de Paragominas que estão inseridos no sistema de cadastro de prestadores de serviços turísticos do Ministério do Turismo – CADASTUR. Em seguida foram elaborados questionários de cunho qualitativo e quantitativo com perguntas abertas e fechadas abordando a adoção de medidas mitigadoras de impactos ambientais, bem como o emprego de práticas sustentáveis nas rotinas operacionais dos empreendimentos. Os questionários foram respondidos pelos proprietários empresários, com questões abarcando os seguintes indicadores; economia de energia, uso dos recursos hídricos, gerenciamento de resíduos sólidos e conscientização ambiental de hóspedes e colaboradores. Após o levantamento fez-se a apuração dos dados, seguido pela tabulação e por fim dar-se a interpretação e análise dos resultados.

ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados foram compilados e analisados separadamente conforme o indicador ambiental averiguado nos empreendimentos após aplicação dos questionários, portanto, procedeu-se uma analise descritiva a cerca da preocupação ambiental inserida na rotina operacional dos empreendimentos pesquisados. Consumo de Energia Elétrica No quesito medidas adotadas para redução de consumo de energia elétrica, 42,86% dos empreendimentos permanentemente adotam esses tipos de medidas, como por exemplo, informativos nos apartamentos, utilização de energia solar, lâmpadas e equipamentos de baixo consumo e verificação de aparelhos ligados quando não há hóspedes nos apartamentos. Gráfico 1: Adoção de Medidas para a Redução de Consumo de Energia Elétrica.

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Consumo de Água no Empreendimento Em relação a medidas adotadas para a redução de consumo de água, 28,57% dos empreendimentos adotam medidas permanentes, dentre esses, são verificados torneiras e chuveiros nos apartamentos vazios, uso de temporizadores em torneiras, economizadores em descargas, manutenções regular nos encanamentos e ações de conscientização para os hóspedes. Gráfico 1: Empreendimentos que Adotam medidas para a Redução de Consumo de Água.

Separação por Tipo de Resíduos Sólidos Sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos (separação por tipo de resíduo), 42,86% dos empreendimentos não adotam medidas com foco no acondicionamento adequado do resíduo sólido de acordo com as condições de licença ambiental de operações aprovadas pela SEMMA de Paragominas. Gráfico 2: Tratamento adequado de resíduos sólidos

Seleção de Fornecedores (Critérios Ambientais) A tabela 1 apresenta o percentual de empreendimentos em relação à seleção de fornecedores comprometidos aos critérios ambientas. Percebe-se que 42,86% desses empreendimentos não trabalham com esse tipo de fornecedor, 28,57% que ocasionalmente

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trabalha com esses fornecedores alegam dificuldade em contratar esses, e que muitas vezes, recorrem a fornecedores alternativos. Tabela 1: Percentual de empreendimentos que selecionam fornecedores a partir de critérios ambientais Seleção de Fornecedores Quantidade Percentual Permanente 02 28,57 Ocasionalmente 02 28,57 Não Trabalha 03 42,86 Total 07 100,00 Fonte: SETUR 2012

Sensibilização dos Hóspedes em Relação à Sustentabilidade Sobre a sensibilização dos hóspedes em relação a sustentabilidade 28,57% dos empreendimentos adotam medidas permanentemente a respeito desse assunto através de informativos distribuídos nos apartamentos. Tabela 2: Sensibilização de hóspedes sobre sustentabilidade Sensibilização Quantidade Percentual Permanentemente 02 28,57 Ocasionalmente 02 28,57 Poucas Vezes 01 14,29 Não Sensibiliza 02 28,57 Total 07 100,00 Fonte: SETUR (2012)

Poluição Sonora (Emissão de Ruídos das Instalações, Maquinários e Equipamentos) Dos empreendimentos hoteleiros do município de Paragominas, 42,86% não adotam nenhuma medida para redução da poluição sonora (emissão de ruídos das instalações, maquinários e equipamentos) através de manutenções nos equipamentos de maior emissão de ruídos. Tabela 3: Empreendimentos que adotam medidas de controle da poluição sonora Poluição Sonora Permanentemente Ocasionalmente Não Adotam Medidas Não Respondeu Total

Quantidade Percentual 02 28,57 01 14,29 03 01 07

42,86 14,29 100,00

107

Fonte: SETUR (2012)

Tratamento de Efluentes (Águas de Torneiras,...) A rede de captação de tratamento de efluente (água de torneiras) de 85,71% dos empreendimentos não está ligada ao sistema de esgoto do município, sendo que 14,29% não conhecem se existe rede de captação. Os proprietários dos estabelecimentos alegam que a cidade não dispõe de sistema de esgoto em maior parte dos bairros. Tabela 4: Quantidade e Percentual de Empreendimentos que estão Ligados ao Sistema de Esgoto do Município. Tratamento de Efluentes Não Não Conhece Total Fonte: SETUR (2012)

Quantidade Percentual 06 85,71 01 14,29 07 100,00

Sensibilização dos Funcionários e Colaboradores Internos quanto à Sustentabilidade Ambiental do Empreendimento Nesse quesito verificou-se que, 42,86% dos empreendimentos adotam medidas permanentemente de conscientização dos funcionários e colaboradores através de reuniões, palestras e treinamentos oferecidos periodicamente. Tabela 5: Empreendimentos que trabalham a sensibilização ambiental dos funcionários Sensibilização (Funcionários) Permanentemente Ocasionalmente Poucas Vezes Não Sensibiliza Total Fonte: SETUR (2012)

Quantidade Percentual 03 42,86 01 14,29 02 28,57 01 14,29 07 100,00

Sustentabilidade Sociocultural Incorporada ao Empreendimento Sobre a sustentabilidade sociocultural incorporada pelos empreendimentos hoteleiros do município de Paragominas, 57,14% apoiam a cultura local por meio de incentivo a eventos e manifestações culturais com divulgações de eventos aos hóspedes, 42,86% utilizam peças decorativas produzidas por artesãos e artistas locais no estabelecimento e 42,86% não absorve produtos e matéria prima local no funcionamento do empreendimento.

108

Tabela 7: Quantidade e Percentual de Empreendimentos que apóiam a cultura local Apoio a Cultura Local Quantidade Percentual Sim

04

57,14

Não Não Respondeu

01

14,29

02

28,57

Total

07

100,00

Fon te: SET UR (201 2)

Artistas Locais Sim Não Não Respondeu Total

Quantidade Percentual 03 02 02

42,86 28,57 28,57

07

100,00

Tabela 8: Quantidade e Percentual de Empreendimentos que Absorve a Mão-de-Obra Local. Mão de obra local Sim Não Não Respondeu Total Fonte: SETUR (2012)

Quantidade Percentual 04 57,14 01 14,29 02 28,57 07 100,00

CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos dados coletados percebe-se a incipiente preocupação com as questões ambientais durante os processos rotineiros de funcionamento dos empreendimentos hoteleiros pesquisados, os quais representam uma significativa amostra da realidade local no que tange à sustentabilidade turística. Atualmente a sustentabilidade é tema central nas principais discussões de planejamento e organização econômica dos mais diversos setores produtivos nacionais e internacionais, e no turismo não pode ser diferente, pois, este trabalha o meio ambiente como matéria prima para suas atividades e cada vez mais ganha espaço no PIB de países como o Brasil, e neste prospecto ressalta-se a função estatal de coordenar e orientar o desenvolvimento da atividade para que não se desenvolva ao sabor do mercado com caráter degradante no que diz respeito à conservação dos recursos naturais e respeito às comunidades receptoras. Neste sentido, foi possível constatar a presença insuficiente de práticas relacionadas à sustentabilidade ambiental nos empreendimentos investigados no município de Paragominas, o que torna possível avaliar a necessidade de interver na concepção e organização do setor hoteleiro local. Os empreendimentos investigados nesta pesquisa possuem interesse em modificar suas características de organização e operação a fim de alcançar um novo paradigma de responsabilidade com a gestão e conscientização ambiental, tornando possível contribuir para a consolidação de uma base turística produtiva sustentável no estado Pará. Os eixos prioritários de ação devem contemplar a gestão dos resíduos sólidos, a adequação e sensibilização para o uso dos recursos hídricos e energéticos, a preocupação ecológica com os materiais utilizados e com possível reutilização e a disseminação entre funcionários e colaboradores de práticas sustentáveis e sua importância.

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REFERÊNCIAS ALVES. K.dos S.e CAVALCANTI J. E. A. e SILVA J. T. M. Hotelaria e Turismo: Elementos de Gestão e Competitividade: A Gestão Ambiental de Resíduos Sólidos no Setor Hoteleiro - Campinas, São Paulo Editora Alínea, 2006. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIA DE HOTÉIS (ABIH ) A Industria do Turismo no Mundo e no Brasil. 2000 disponível em: www.abih.com.br/historia_industiratur.htm. Acesso em 29 Setembro de 2008. BARRETO, Margarida. Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo_ Campinas S.P; Editora Papirus, 2003. CENTENO R. C. Gestão Ambiental em Meios de Hospedagem, Porto Alegre, 2004. DASGUPTA, P. Existe Desenvolvimento Sustentável na Contemporaneidade? Academia de Ciência, Junho, 2002. ESPIRITO SANTO, A.N. Programa Turismo Verde. Secretaria de estado de Turismo do Pará, Belém,Pa, 2012. GAZONI, L. J. . Gestão de Hotelaria e Turismo: Sustentabilidade em Meios de Hospedagem / Reinaldo Dias e Maria Alzira Pimenta (Organizadores) . São Paulo Editora Pearson Prenticen Hall, 1997. HUFFNER, J.G. Educação Ambiental, Turismo e Sustentabilidade em Empreendimentos Hoteleiros; Um Estudo de Caso em Belém do Pará. Revista Educação Ambiental em Ação, ISSN 1678-0701/Nº 43, Ano XI. Março-Maio/2013. HUFFNER, J.G. Meios de Hospedagem e Sustentabilidade; Uma análise do Gerenciamento Ambiental no Hotel Muiraquitã em Belém do Pará. Revista Turismo e Desenvolvimento. Editora Átomo, Vol.8, Nº1-2, 2009. PALHETA DA SILVA, J. M. Perfil dos Municípios Paraenses. In: Gilberto de Miranda Rocha. (Org.). Gestão Ambiental: desafios e experiências municipais no Estado do Pará. 1ed. Belém: UFPA, v. 01, p. 41-51. 2007.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE SEGUNDA RESIDÊNCIA E VISITAÇÕES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO POVOADO PONTAL DO PEBA, MUNICÍPIO DE PIAÇABUÇU - ALAGOAS. Daniel Arthur Lisboa de VASCONCELOS41 Camila Salgueiro DANTAS42 Josimário CARDOSO43 RESUMO O artigo ora apresentado é o resultado de um estudo exploratório, e tem como objetivo trazer considerações sobre o fenômeno de segundas residências e suas relações com visitantes no Povoado Pontal do Peba, município de Piaçabuçu - Alagoas. Inicialmente utilizou-se, para composição deste estudo, pesquisa bibliográfica para contextualizar a temática das visitações e das segundas residências. Neste contexto, observamos que as práticas de segunda residência tem provável origem na cultura europeia, quando a nobreza deixava seus castelos para temporadas de descanso em casas de campo. Em um segundo momento, realizou-se pesquisa de campo, que se dividiu em dois momentos, sendo o primeiro a aplicação de questionários semiestruturados aos visitantes da localidade estudada, e em um segundo momento procedeu-se a realização de entrevista semiestruturada com um representante comunitário que possui residência fixa no povoado. O resultado obtido permitiu conclusões acerca das visitações e práticas de segunda residência, no que diz respeito aos impactos sociais, conflitos de relação e influências no espaço estudado. Palavras-chave: Segunda Residência; Visitações; Pontal do Peba; Piaçabuçu; Alagoas. INTRODUÇÃO Ter a possibilidade de usufruir de um local com características físicas e sociais diferente do lugar em que residimos durante a maior parte do tempo é realmente sonho de consumo para muitos. Não se resume apenas a status ou, simplesmente, lazer, mas também caracteriza uma necessidade física e mental. O desgaste causado ao homem contemporâneo devido ao excesso de trabalho, somado ao conjunto de dificuldades cotidianas encontradas nos aglomerados das cidades, geram elevado nível de stress nas pessoas colocando em risco sua saúde. Por tais motivos, é cada vez mais comum que se busque novas alternativas de descanso e lazer, na tentativa de se afastar de grandes centros urbanos. Com o ritmo atribulado de vida nas cidades, as pessoas buscam regiões que preencham o desejo de descanso e lazer, as quais geralmente não mais encontram no lugar em que já ficam nos dias de trabalho semanais. Porém, para suprir essa aspiração, se faz necessário dispor de tempo livre, condição econômica viável, e acessibilidade de locomoção. Para viabilizar esses anseios, algumas conquistas foram de grande importância durante décadas de luta: férias remuneradas, diminuição da carga horária de trabalho e o décimo terceiro salário (também conhecido como abono salarial), formaram uma tríade que oferece condição ao Lazer e ao Ócio. Outros avanços compactuam acessibilidade. É o caso da 41

Doutorando em Cidades e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Alagoas. Bacharel em Turismo pela Faculdade de Alagoas. Docente efetivo da Graduação em Turismo da Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected] 42 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected] 43 Graduando em Turismo pela Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected]

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indústria automobilística, e das melhorias e expansão das rodovias, no caso do Brasil, finalmente tornando possível a criação das então “rotas de fuga” que possibilitam levar pessoas a diferentes lugares em busca do merecido descanso. Hauzman nos diz que: (...) os indivíduos nas sociedades modernas precisam efetivamente escapar da monotonia e das carências do cotidiano, buscando maneiras de alternar a insatisfação e cansaço das atividades do trabalho remunerado com o seu tempo de ócio prazeroso. Precisam afastar-se temporariamente dos ambientes desagradáveis, barulhentos, congestionados e poluídos das grandes metrópoles para locais com paisagens diferentes, mais rústicas, pitorescas ou exóticas (HAUZMAN, 2001, p. 77).

Dentro dessa perspectiva, as atividades atreladas às visitações tem agregado valor ao segmento de segunda residência, que são saídas encontradas para saciar a necessidade de um público disposto a usar seu tempo de ócio longe da sua residência principal (local habitual de residência) para uma satisfação máxima. Nesse sentido, esse artigo apresentado tem como objetivo explanar mediante a pesquisa bibliográfica e de campo, as visitações e a utilização das segundas residências no Povoado Pontal do Peba, Piaçabuçu, Alagoas. Quanto à tipologia do estudo, optou-se pelo método qualitativo, que ao longo do tempo, tem sido direcionado principalmente ao campo das ciências sociais buscando descrever e exemplificar fenômenos de seu interesse. A pesquisa qualitativa parte de questões ou focos de interesse amplo que vão se definir à medida que o estudo se desenvolve. Essa característica “[...] envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo [...]” (GODOY, 1995, p. 58). Inicialmente, realizamos o levantamento bibliográfico em livros, artigos publicados em sites, dissertações, entre outras fontes. O objetivo aqui é assimilar o conteúdo já publicado para uma melhor percepção nas fases a serem desenvolvidas nesta pesquisa. O passo seguinte consistiu em pesquisa de campo, permitindo a obtenção de dados sobre o fenômeno de interesse, da maneira como ocorre na realidade estudada. Foi realizada em momentos distintos visitas in loco para melhor compreensão do espaço, registros fotográficos, aplicação de questionários e entrevista semiestruturada. A coleta destes dados foi representativa para registro de variáveis relevantes para posterior análise. Neste contexto, aos visitantes foi coletada uma amostra não probabilística com sessenta questionários, com perguntas que caracterizavam a motivação para que se visitasse o Povoado Pontal do Peba, grau de satisfação, formas de hospedagem, entre outras. Já no grupo dos residentes locais, foi escolhido um representante comunitário e a este se aplicou entrevista semiestruturada, por sua característica de possibilitar liberdade na expressão de opiniões e sentimentos.

SEGUNDAS RESIDÊNCIAS NO BRASIL A prática de veranear44 dimana dos tempos antigos quando era de costume dos nobres europeus deixar suas residências de uso habitual para passarem um período nas suas casas de campo. Segundo Silva (2010, p.32), o costume de morar e veranear no campo ou na cidade “é de origem europeia e chegou ao Brasil no período colonial”. No Brasil o fenômeno das Segundas Residências emergiu aproximadamente na década de 1950 Becker (1995) apud Assis (2003, p. 110), porém, a temática apenas emerge no Censo Demográfico de 1970 quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 44

Expressão dada aos que se deslocam de suas residências principais a uma segunda residência

112

(IBGE) incluiu as residências secundárias entre os domicílios fechados. Assim, eram consideradas como “o domicílio que servia de moradia (casa de praia, ou campo, normalmente usado para descanso de fim de semana ou férias) e cujos moradores não estavam presentes na data do censo” (IBGE, 1970). Em seu início as práticas da atividade de segunda residência eram exclusivas da alta sociedade, pois, existiam custos que não se encaixavam no poder econômico das classes menos providas financeiramente. Dessa forma, ficava vedada a participação da pequena burguesia nas práticas de vilegiatura45. Sobre este conceito Boyer (2003) enuncia: [...] todas as formas de residências secundárias são a maneira como a burguesia e também certas camadas intermediárias apropriam-se do prazer aristocrático do lazer na natureza, no campo, afirmando seu sucesso social (Boyer, 2003, p. 56).

Porém, com o desenvolvimento econômico mundial e nacional, houve um aumento expressivo de pessoas adquirindo sua segunda residência para fins de lazer e ócio. Como comenta Vieira (2008, p. 92): “Hoje em dia, a nossa realidade em relação à aquisição de uma segunda residência não é mais somente um sinal de “status” ou de afirmação do sucesso social das classes burguesas.” Para tanto o autor complementa: “o processo de industrialização, leis trabalhistas mais justas, melhoria das condições de vida da população, ajudaram bastante na conquista da segunda residência” (2008, p. 92). As segundas residências são alojamentos particulares, utilizados temporariamente nos momentos de lazer, por pessoas que têm seu domicilio permanente em outro lugar. Tulik (2001) adverte que a residência secundária é um investimento que não oferece liquidez e nem rentabilidades imediatas, pois a venda está sujeita às leis da oferta e da procura e, nem sempre estes imóveis são alugados, permanecendo vazios na maior parte do ano. Com a expansão das segundas residências, vários fatores tiveram que ser levados em consideração, tendo em vista que o local receptor sofre uma forte carga de impactos causados por essa atividade. Fatores econômicos, de infraestrutura, ecológicos, de ordem publica e outros são modificados conforme o crescimento e o fluxo de visitantes em determinada localidade. Neste sentido, há de se concordar que existem efeitos positivos, pois juntos com o aumento de domicílios de uso ocasional, tende-se a aumentar a arrecadação de imposto para o município, bem como, um maior numero no consumo de serviços, de telefonia, energia elétrica, e abastecimento de água. As transformações corelacionadas à visitação, ligadas às segundas residências, criam nos núcleos receptores uma carga maior que a habitual, causando certo desconforto nas dinâmicas sociais entre visitantes e visitados, pois, o acúmulo populacional causado em períodos de grande movimentação, gera uma sobrecarga nos serviços de ordem publica, bem como a deficiência de atendimento do comercio que por hora não está ajustado a grande demanda. Para Anderáos (2005), como consequência do uso exclusivamente sazonal, tais áreas apresentam características próprias. Complementando este pensamento, Macedo (2002, p. 196) nos diz que, a total ausência do vínculo de grande parte de sua população de veranistas (donos de grande parte das residências) com a população fixa, reflete na forma de estrutura da trama urbana, que em geral, como visto, é ineficiente para receber o contingente de veranistas, que, durante a temporada, faz multiplicar muitas vezes o número total da população residente dessas cidades.

45

Temporada de descanso fora do domicílio de uso habitual. Provem do italiano “villegiatua”.

113

POVOADO PONTAL DO PEBA: O QUE SE CONTA E O QUE SE SABE O Povoado Pontal do Peba fica localizado no município alagoano de Piaçabuçu, na região Sul do litoral do Estado de Alagoas. Com uma área territorial 240,014 km2, o município limita-se a Norte com o município de Feliz Deserto e Penedo, a Oeste com o município de Penedo, a Leste com o Oceano Atlântico e ao Sul com o Rio São Francisco. De acordo com o último censo catalogado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município possui uma população de 17.203 habitantes nas áreas urbana e rural. Seu gentílico é Piaçabuçuense. O acesso ao município pode ser feito pela rodovia AL 101 Sul que liga o município à capital de Alagoas, Maceió, e também pelo Rio São Francisco para o estado vizinho, Sergipe (IBGE, 2010). No decorrer dos anos, a paisagem do povoado formada, dentre outros elementos, por grandes coqueirais, deu lugar a extensas casas de veraneio/segundas residências, caracterizadas pelo uso eventual e por ficarem fechadas durante grandes períodos do ano. Segundo dados da Secretaria Municipal de Finanças de Piaçabuçu, o Povoado Pontal do Peba, com base em registros até o ano de 2012, possuía 1.593 residências, sendo destas, 382 domicílios fechados, caracterizados como residências de uso ocasional, conforme entendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). O povoado na visão dos moradores passou hoje “de uma pequena vila de pescadores, a um dos mais movimentados lugares da região” (residente do povoado). O Pontal do Peba possui uma faixa de areia de 24 km de extensão, mar calmo e de temperatura agradável. Possui, ainda, dunas móveis que são moldadas de acordo com os ventos e as marés. Tais motivos tornaram o povoado um lugar para pessoas que buscam descanso e lazer, especialmente moradores de cidades que circundam o município de Piaçabuçu, ao qual pertence.

114

Figura 1. Povoado Pontal do Peba (Fonte: imagem adaptada de Cabral, Azevedo e Larrazabel (2006), e Google maps/SD)

O Povoado Pontal do Peba também é conhecido regionalmente por promover eventos pesqueiros como a Gincana de Pesca de Arremesso. Todos os anos no mês de novembro o CAPESPE (Clube de Pesca de Penedo) realiza a Gincana, oferecendo premiação aos competidores que são em sua maioria equipes de pescadores visitantes. E à população que prestigia o evento são ofertadas atrações musicais no período de três dias. Em entrevista realizada com o presidente da Associação de moradores do Povoado Pontal do Peba obtivemos detalhes de como tem sido a sintonia entre moradores nativos e moradores esporádicos na comunidade em estudo. “Para nossa comunidade o turismo é uma atividade importante porque traz muita gente, e consequentemente mais dinheiro ao local. Elas46 cresceram o Peba, e o deixa mais bonito”. Atualmente o Povoado Pontal do Peba conta com uma boa estrutura de acolhimento a seus visitantes. Destacando-se entre elas restaurantes, bares e pousadas. Além das Casas de Veraneio que são ofertadas em aluguel, seja por um simples final de semana a grandes temporadas.

Figura 2. Casa de veraneio no Povoado Pontal do Peba (Fonte: Casa de Praia-Alagoas, 2014).

O mesmo entrevistado também mensura a importância das segundas residências para a economia do município de Piaçabuçu. “Para o município elas aumentam a arrecadação de impostos, mas trazem consequências. Eles47 compram nossos produtos, mas produzem mais lixo, e consomem mais água e sujam a praia”. Indagado sobre quais iniciativas poderiam ajudar a sanar tais problemas, nosso entrevistado conta que “a comunidade cobra do prefeito mais estrutura, principalmente no que diz respeito ao aumento do consumo de água e da produção de lixo nos períodos de grande movimentação por parte dos veranistas”. 46 47

Segundas residências. Referência aos usuários das práticas de segunda residência.

115

Ainda segundo o presidente da associação de moradores, o povoado em estudo tem atualmente uma estrutura de fornecimento de água para 500 ligações (residências) hidráulicas, quando existe por volta de 1500 unidades ligadas a rede. Em períodos de festas48, férias e grandes feriados o volume de pessoas no povoado causa uma sobrecarga no sistema de abastecimento de água fazendo com que este seja interrompido em grande parte do dia. “a adutora também abastece outros povoados vizinhos” ele acrescenta. Outras particularidades foram citadas pelo representante comunitário como “o crescimento do povoado e do comércio”. Perguntado se tais mudanças eram positivas ou negativas ele as classifica como “no geral positivas, pois para uma comunidade se desenvolver é preciso uma economia que cresça”.

PERFIL DOS VISITANTES Muitos são os motivos que levam as pessoas a viajar. E para melhor analisarmos os reais impulsos e pretensões, bem como melhor compreender o fenômeno das visitações em segundas residências no espaço em estudo, aplicou-se questionários direcionados aos visitantes, os quais nos permitiram obter uma melhor compreensão do perfil do visitante do Povoado Pontal do Peba. Após verificação dos dados, obtivemos os seguintes resultados. No gráfico a seguir, há representação de um balanço praticamente igualitário no que diz respeito ao gênero dos que visitam o Pontal do Peba, em Piaçabuçu – Alagoas.

Gênero Masculino

52%

Feminino

48%

Gráfico 1. Analisa o sexo dos entrevistados (elaboração própria).

Já quando observada a faixa etária, percebe-se que em sua maioria, foram entrevistadas pessoas com idade acima de 46 anos. E com renda mensal familiar a partir de cinco salários mínimos conforme gráficos 2 e 3.

48

Gincana de Pesca e arremesso (1ª quinzena do mês de novembro); Carnaval; Festa do padroeiro.

116

Faixa etária menor que 18 anos

18 a 25 anos

26 a 35 anos

36 a 45 anos

maiores de 46 anos

não informaram

5% 7% 23% 32% 18% 15%

Gráfico 2. Faixa etária dos entrevistados (elaboração própria).

Renda familiar até 1 Salário Mínimo

de 1 a 2 s.m

de 2 a 3 s.m

de 3 a 5 s.m

mais que 5 s.m

não declarado

sem rendimentos 8% 3%

7%

10% 15%

30% 27%

Gráfico 3. Renda familiar mensal dos entrevistados (elaboração própria).

Os visitantes entrevistados foram, em sua maioria, provenientes dos municípios de Penedo e Arapiraca. Entretanto não se resumem a estes como podemos ver no gráfico a seguir:

117

Residência habitual Penedo

Arapiraca

Piaçabuçu

Maceió

Igreja Nova

outros

20%

3%

40%

4% 10% 23%

Gráfico 4. Principais municípios emissores de visitantes ao Povoado Pontal do Peba (elaboração própria).

Diante do exposto no gráfico 4, observou-se que o município de Penedo, no contexto analisado, se destacou no envio de visitantes ao povoado. Este fato pode ser justificado pela proximidade entre centro emissor e centro receptor dessa demanda. Acrescenta-se, a esta realidade, que o número de residentes ocasionais evolui pelo simples fato da fácil comunicação e viabilidade de acesso e retorno as residências de uso habitual. Outras características que são importantes para justificar o fluxo de visitantes no Povoado Pontal do Peba são as de ser um lugar praiano, tranquilo, e de típicas de belezas naturais.

Motivos para visitar o Povoado Pontal do Peba Praia

Tranquilidade do lugar

Belezas naturais

Outros

25% 41% 17% 17%

Gráfico 5. Motivação para se visitar o povoado (elaboração própria).

Já quando perguntados sobre os aspectos negativos 77% dos visitantes que responderam ao questionário se mostraram descontentes por algum motivo.

118

Descontentes sim

não

23% 77%

Gráfico 6. Insatisfação dos visitantes (elaboração própria).

Quanto ao índice de insatisfação observou-se que problemas de ordem pública como a falta de água, e descarte de lixo (este ultimo, por sua vez, se espalhado na faixa de areia da praia e nas ruas do povoado) são fatores inaceitáveis na concepção dos visitantes. As informações se confirmam visto que também foram apresentadas pelo presidente da associação de moradores na concepção da comunidade. Estas informações são observadas no gráfico 7, que analisa a situação.

INSATISFAÇÃO Saneamento básico

Barulho de som de carros

Fluxo de veiculos na praia

Lixo

Falta de água

Infraestrutura/outras formas de laser

6% 11%

19%

17% 30% 17%

Gráfico 7. Ilustra os principais motivos de insatisfação no Povoado Pontal do Peba (elaboração própria).

No gráfico 8, notou-se que grande maioria das visitas no local em estudo é feita por excursionismo, ou seja, sem pernoite, totalizando, assim, 33% dos que dos que responderam a esta pesquisa. Outra característica é o pouco uso dos equipamentos de hospedagem, como hotéis e pousadas, este número se resume a 7% dos entrevistados. Para os que pernoitam no local, os usuários de segunda residência são os que ocupam maior percentual nos apontamento alcançando com 22% do total das respostas.

119

Visitantes hospedados estou de passagem sem pernoite

casa alugada

segunda Residencia

pousada/hotel local

outros locais

20% 33%

18% 7% 22%

Gráfico 8. Identifica o tipo de hospedagem utilizado (elaboração própria).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A reflexão bibliográfica, os exemplos baseados na observação in loco, e o resultado catalogado nesse estudo, demonstram que a expansão das visitações atreladas às segundas residências é tendência nos deslocamentos sociais, apresentando como principal motivação aos que usam e buscam este tipo de alojamento uma melhor qualidade no tempo de ócio e lazer. Características físicas e naturais, viabilidade de locomoção, bem como a proximidade com as suas principais zonas emitentes, são fatores de valor significativo para que se fizesse do Povoado Pontal do Peba um local eleito para descanso e lazer no extremo Sul do litoral de Alagoas. Contudo tal atividade implica, de forma direta, em impactos na comunidade receptora. Haja vista que o aumento na demanda exige maior capacidade na prestação de serviços comuns, nem sempre disponíveis na localidade em estudo. Dedicados a compreender quais fatores são positivos e quais são negativos, observou-se a necessidade de levantarmos algumas questões fundamentais acerca do fenômeno da segunda residência, quais sejam: 1. Qual a influência das segundas residências nas comunidades receptoras? 2. O tempo de uso (fim de semana, feriadões, férias anuais etc.) influencia na relação entre visitante e comunidade receptora? 3. Tal atividade gera conflito entre visitante e visitado? As transformações decorrentes da utilização de segundas residências exigem um acompanhamento no desenvolvimento estrutural local. Neste ponto, o povoado em estudo se mostra despreparado para um aumento no volume de pessoas, a exemplo do consumo de serviços simples, a exemplo do abastecimento de água. O que se faz necessária intervenção dos órgãos gestores competentes desenvolver soluções para que se defina um caminho seguro para a expansão do fenômeno na localidade. Foi possível concluir, ainda, que o uso das segundas residências é esporádico e sazonal, para tanto, percebe-se que a movimentação dos visitantes ocasiona influências isoladas. Esse fator propicia a geração de barreiras na relação entre visitantes e moradores locais.

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Na avaliação dos dados obtidos a partir da aplicação de questionários, conseguiramse dados, dentre outros, acerca da origem, classe social e interesses. O que nos dá uma síntese do perfil dos visitantes do Povoado Pontal do Peba. Também foi possível identificar, nas lideranças locais, a ótica da comunidade a respeito dos visitantes e das segundas residências e, com isso, concluiu-se, de um modo geral, que ainda não há significativa alteração do modo de vida dos residentes, exceto naqueles períodos de maior fluxo, como os feriados e eventos locais. Maiores conclusões não são possíveis nos limites deste estudo que é de cunho meramente exploratório.

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ESTUDO COMPARATIVO DA INFRAESTRUTURA TURÍSTICA DE HOSPITALIDADE: O CASO DA PRAIA DO FORTE EM CABO FRIO – RJ Tiago Boruchovitch Fonseca49 Wilson Martins Lopes Júnior 50 RESUMO O turismo é um setor muito complexo, envolve diversas atividades econômicas correlatas, as quais formam uma relação dialética de dependência para com o turismo. A atividade turística possui uma dimensão espacial bastante evidente, uma vez que ocorre pautada na materialidade espacial. Já a hospitalidade, é entendida como o ato de receber bem, acolher alguém que não está em sua localidade de residência. A hospitalidade está diretamente ligada com a existência de infraestruturas de base para o turismo. Dessa forma, o presente estudo teve o objetivo de colaborar com a hospitalidade através do estudo da infraestrutura turística instalada na Praia do Forte, localizada em Cabo Frio – RJ. Este município é localizado na mesorregião das Baixadas litorâneas. Por seu litoral dotado de diversas praias, o município é um polo turístico, tendo grande parte de sua economia diretamente ligada ao setor. Como procedimentos metodológicos do trabalho, foram realizadas quantificações da infraestrutura instalada, dividida em alimentícia e hospedagem, em dois momentos distintos: baixa temporada (setembro de 2012) e alta temporada (janeiro de 2013). Conclui-se que a presença sazonal de turistas modifica claramente a materialidade do espaço, de modo a promover a concentração de equipamentos de infraestrutura necessários para a atividade turística. Palavras-chave: Turismo; Hospitalidade; Cabo Frio RJ.

INTRODUÇÃO O turismo é um setor complexo e multifaceteado, envolvendo processos diversos em sua construção como atividade. Ao analisa-lo não é possível negligenciar a relação existente entre localidades, emissora e receptora, ambas as quais sofrem alterações por conta do turismo. Podemos entender a atividade, a luz do seguinte trecho da obra de Barreto (1995): Turismo é o conceito que compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista de um determinado município, país ou estado. (BARRETO, 1995, p. 9)

Existem inúmeras outras definições de turismo, no entanto, algo indiscutível é a ocorrência de tal atividade a partir do espaço geográfico, assim como sua ação - alteração sobre o mesmo. Diante desta relação de dependência do turismo para com o espaço geográfico faz-se necessário definir esse conceito geográfico. O espaço apresenta-se como um produto social no qual ocorrem diferentes relações sob a perspectiva de um modo de produção, o que consequentemente expressa diferentes 49

Aluno do Curso de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Pesquisador do Grupo de Pesquisa - Geografia, Espaço e Turismo – GEOETUR. E-mail: [email protected]. 50 Docente do Curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense – UFF de Angra dos Reis – RJ. Coordenador do Grupo de Pesquisa - Geografia, Espaço e Turismo - GEOETUR. E-mail: [email protected].

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materializações, como as do turismo. Deste modo, a definição deste conceito é essencial para o entendimento dos elementos dinâmicos constituintes do objeto de estudo da geografia, assim como também deste objeto de consumo do turismo. O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. (SANTOS, 2004, p. 63)

Assim, a dinâmica dos elementos do espaço ocorre através da interação "solidária e contraditória" dos sistemas de objetos e sistemas de ações. No entendimento de Cruz (2000), a atividade turística é responsável pela criação e transformação de objetos e ações, que interagem com os já existentes assim provocando uma nova lógica de organização espacial. Portanto, é a necessidade do turismo por infraestruturas (rodovias, serviços, transportes, hotéis, restaurantes, etc.) que faz dele um modelador do espaço geográfico. Nesta perspectiva, as alterações provocadas no espaço geográfico pelo turismo, provocam o surgimento do espaço turístico. Já as consequentes relações capitalistas travadas entre turistas e empresários que ocorrem nesse espaço promovem a mercantilização do mesmo. Neste espaço turístico e mercantilizado, há o predomínio do valor de troca sobre o valor de uso, assim impactando o setor financeiro e social de uma localidade. De acordo com Carlos (2002), é por conta desta mercantilização que ocorrem mudanças expressivas no uso e consumo do espaço, que é fragmentado pelo processo de compra e venda. É notório que o turismo possui uma dimensão espacial muito relevante. Primeiramente, pode-se dizer que o turismo ocorre por conta das diferenças entre os espaços. Isso porque o deslocamento de pessoas entre os espaços não faria sentido se esses fossem homogêneos. Além disso, o turismo é uma atividade que ocorre no espaço e através do espaço, sendo por muitas vezes responsável pela produção de espacialidades específicas e peculiares relacionadas à atividade. O espaço geográfico é o principal objeto de consumo do turismo e disso decorre uma das mais importantes especificidades da prática social do turismo: o consumidor-turista tem de se deslocar até o produto a ser consumido, o lugar turístico. Em função dessa característica intrínseca, o turismo acaba por impingir transformações, diretamente, a pelo menos três porções do espaço geográfico: sobre os pólos emissores de fluxos, os espaços de deslocamento e os núcleos receptoras de turistas. (CRUZ, 2003, p. 21)

Sendo assim, o turismo é uma atividade que transforma e reformula o espaço geográfico, frequentemente através da modificação da função espacial de uma área ou de sua intensificação funcional, como no caso da instalação de infraestruturas turísticas. Para Cruz (2000) o turismo faz com que haja uma adequação dos territórios à sua prática, de modo que novos objetos e ações provocam tais mudanças socioespaciais. O turismo mostra sua complexidade econômica através de suas atividades correlatas. Dentre essas atividades, estão todas aquelas que possuem uma relação dialética de dependência para com o turismo, sendo que da mesma forma que o turismo só pode acontecer por conta delas, elas só existem e se consolidam pela demanda turística, como por exemplo, as infraestruturas de hospedagem, alimentação e comércio, em cidades predominantemente turísticas. O turismo necessita de elementos do espaço geográfico, como também uma infraestrutura de equipamentos específicos que sustentam sua atividade e desenvolvimento. Durante a prática do turismo partes do espaço geográfico são

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apropriadas e alteradas influindo na produção dos territórios turísticos. A partir dessas interferências, o turismo estrutura e reestrutura o espaço geográfico, expondo questões como impactos econômicos, socioculturais e ambientais. (CORIOLANO, 1998, p.21)

O espaço urbano em sua estruturação e reestruturação por parte do turismo é alterado, como exposto, pelas infraestruturas já existentes que são utilizadas, assim como novas instaladas para sustentar o seu desenvolvimento. Decorrente disto há uma nova organização espacial que, por sua vez implica diretamente na maneira na qual a cidade recebe o turista. Esse receber o turista compreende desde a infraestrutura instalada até questões como a receptividade, sociabilidade, cordialidade, confortabilidade, entre outros, que remete a hospitalidade. Destaca-se, portanto, na compreensão da lógica da atração turística a consideração do conceito da hospitalidade. A hospitalidade é um conceito polissêmico, que perpassa diversos aspectos. Para iniciar a discussão a cerca deste conceito, considerou-se importante recorrer à etimologia do termo. A noção de hospitalidade provém da palavra latina hospitalitas-atis e traduz-se como: o ato de acolher, hospedar; a qualidade do hospitaleiro; boa acolhida; recepção; tratamento afável, cortês, amabilidade; gentileza. Já a palavra hospesitus se traduz por hóspede, forasteiro, estrangeiro, aquele que recebe ou o que é acolhido com hospitalidade; o indivíduo que se acomoda ou se acolhe provisoriamente em casa alheia, hotel ou outro meio de hospedagem; estranho. (DIAS in DIAS, 2002, p. 98)

Dessa forma, compreende-se como noção básica de hospitalidade, o ato de acolher, de bem receber um hóspede, sustentado na relação entre quem recebe (anfitrião) e o hóspede. A hospitalidade se apresenta como uma característica das pessoas que estão recebendo, assim como de sua localidade. No entanto, merece ênfase que há divergências no entendimento da hospitalidade, isso com relação aos conceitos e seus autores, sendo que as discussões se sustentam nas ciências humanas e sociais aplicadas mostrando se muito ampla. Para Dalpiaz et al (2013) a hospitalidade é muito ampla e está relacionada com o turismo através da facilitação do ingresso e permanência, transportes e comunicações, educação e capacitação, prestação de serviços, e também a infraestrutura. Para que o turista sinta-se bem acolhido há a necessidade básica de infraestrutura, tanto a de hospedagem, como a alimentícia, e as respectivas atitudes já mencionadas para com os hóspedes. Porém, na perspectiva da infraestrutura, a hospitalidade não se restringe a isso, envolvendo também a infraestrutura básica de uma cidade (rodovias, ruas pavimentadas, sistema de transportes, saneamento básico, serviços de internet, etc). (...) a hospitalidade em si e um fenômeno muito mais amplo, que não se restringe a oferta, ao visitante, de abrigo e alimento, mas sim ao ato de acolher, considerado em toda sua amplitude. Envolvendo um amplo conjunto de estruturas, serviços e atitudes que, intrinsecamente relacionados, proporcionam bem-estar ao hospede. (CRUZ in DIAS, 2002, p. 39)

Dessa forma, a hospitalidade mostra seu atrelamento direto com a ciência geográfica: ela depende de sua relação dialética para com a espacialidade. Os elementos do espaço são essências para garantir a hospitalidade, que por sua vez só pode ocorrer no espaço. Pode-se ressaltar, a importância do entendimento espacial para o planejamento da hospitalidade:

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A hospitalidade esta associada a questões mais amplas que o simples ato de hospedar e alimentar. O exercício da hospitalidade engloba o estudo tanto do espaço geográfico de sua ocorrência – a cidade ou o campo – quanto dos aspectos que se relacionam direta ou indiretamente com seu desenvolvimento: o planejamento e a organização de seus recursos materiais, humanos, naturais e/ou financeiros. (PAULA in DIAS, 2002, p.71)

Sendo assim, é importante para os estudos das áreas de turismo e hospitalidade, considerarem a infraestrutura instalada nos principais pontos turísticos, visando compreender as modificações espaciais que o turismo proporciona.

OBJETIVOS E METODOLOGIA Essa pesquisa teve como objetivo quantificar e comparar os dados da infraestrutura turística de suporte a hospitalidade e ao turismo na Praia do Forte em Cabo Frio - RJ. Vale destacar que a extensão avaliada foi de 1,7 km das Avenidas Hilton Massa e Macário Pinto Lopes, no trecho compreendido entre as ruas Praia do Pontal e Mercúrio. A metodologia de entendimento de infraestruturas turísticas utilizada no trabalho baseou-se em uma tipologia, na qual dividiu-se a infraestrutura em hospedagem (hotéis, pousadas, casas para locação), e alimentícia (restaurantes, sorveterias, bares), além de registro fotográfico. Com a intenção de demonstrar a sazonalidade da instalação das infraestruturas fez-se a coleta de dados comparativa, em dois períodos do ano diferentes. Primeiramente, foram coletados dados referentes à baixa temporada (setembro de 2012), e em seguida, na alta temporada (janeiro de 2013). A partir dessa coleta, foi possível tabular os dados e gerar gráficos nos quais a comparação entre os períodos tornou-se evidente.

ÁREA DE ESTUDO Cabo Frio é um município do estado do Rio de Janeiro, localizado na Região dos lagos, possuindo 186.227 habitantes, segundo IBGE (2010). O município é bastante requisitado para a prática do turismo litorâneo, uma vez que conta com diversas praias arenosas e clima relativamente seco, o que possibilita um maior aproveitamento do recurso turístico. Segundo Silveira (2006), a formação histórica de Cabo Frio remonta à época do descobrimento do Brasil, sendo o sítio tão antigo quanto os primeiros assentamentos do novo continente. Já em 1503, Cabo Frio foi berço da primeira fundação de origem europeia, a feitoria de João de Braga. Além disso, merece destaque, que Cabo Frio possui o mais antigo relato documentado de sua descoberta e a primeira tentativa de ocupação permanente, nos livros "lettera" de Américo Vespúcio. Também de Cabo Frio, conforme Silveira (2006) partiu a primeira exploração do interior do continente, na qual exploraram aproximadamente 250 km do que na época nomearam de "sertoens de Cabo Frio".

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Figura 1: Mapa do Estado do Rio de Janeiro, subdividido em Mesoregiões, com destaque para o município de Cabo Frio, em amarelo.

Figura 2: Mapa da mesorregião das Baixadas, no Estado do Rio de Janeiro, com destaque para o município de Cabo Frio.

RESULTADO E DISCUSSÃO Como resultados, a pesquisa demonstrou que não houve aumento na quantidade de equipamentos turísticos de hospedagem na Praia do Forte, em Cabo Frio (RJ), na comparação dos períodos estudados, de baixa temporada (setembro de 2012) e de alta temporada (janeiro de 2013).

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30 25 20 Baixa Temporada

15

Alta Temporada

10 5 0 Hotel

Casa Aluguel

Prédios

Gráfico 1: Comparativo de equipamentos turísticos de Hospedagem.

Já os equipamentos alimentícios aumentaram expressivamente, e dentre eles, destacam-se as categorias de barracas instaladas na areia, barracas itinerantes e ambulantes, que tiveram os aumentos de respectivamente, 190%, 100% e 320%. Estima-se, que esse aumento ocorreu devido à dinâmica sazonal da economia local, na qual, muitos trabalhadores exploram o setor turístico durante somente a alta temporada, buscando a instalação regulamentada, ou não, de barracas as quais trabalharão somente durante o verão. Dessa forma, a paisagem da praia do Forte, em Cabo Frio é alterada durante a alta estação de turistas, de modo a que, diversas barracas e ambulantes se instalam na areia da praia, gerando uma nova composição espacial.

300 250 200 150 100 50

Baixa temporada Alta Temporada

0

Gráfico 2: Comparativo de equipamentos turísticos de Alimentação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A presente pesquisa permitiu demonstrar a importância da atividade turística como modificadora e modeladora do espaço geográfico. O turismo é responsável pela dinamização da economia da localidade estudada, Cabo Frio - RJ, fazendo com que se desenvolvam atividades correlatas, como a hospedagem e a alimentação. Sendo assim, portanto, o turismo é indissociável das modificações espaciais ocorridas na localidade. A presença sazonal de turistas modifica claramente a materialidade do espaço, de modo a promover a concentração de equipamentos de infraestrutura necessários para a atividade turística. Essa dialética pode ser percebida no município de Cabo Frio RJ, por meio da observação proposta nesta pesquisa. Conclui-se também através da pesquisa bibliográfica a relevância da hospitalidade para o crescimento da atividade econômica do turismo em localidades destino. Para tanto, é necessário que hajam equipamentos turísticos de alimentos e de hospedagem, dentre os quais existem as mais diversas categorias. A presença desses elementos de infraestrutura indica também que a localidade estudada é dotada de uma satisfatória hospitalidade, uma vez que além da infraestrutura turística instalada, possui a infraestrutura básica necessária ao desenvolvimento da atividade: ruas e avenidas asfaltadas, rede de telecomunicação e internet, saneamento básico e água potável. Tem-se a expectativa que um maior conhecimento a respeito da infraestrutura turística da Praia do Forte, em Cabo Frio – RJ possa ser de grande valia para a gestão e o planejamento turístico, na cidade.

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ÉTICA EM ESPAÇOS HIEROFÂNICOS: REFLEXÕES COM BASE EM VISITANTES DE IGREJAS CATÓLICAS NA CIDADE DE PENEDO-AL Daniel Arthur Lisboa de Vasconcelos51 Janine Nascimento da Silva52 Thamires Soares da Silva53 José Lucas de Omena Gusmão54 RESUMO Faz parte da condição social humana a existência de princípios éticos no nosso convívio, assim como a busca da responsabilidade em elementos e seres presentes ao nosso redor. Esta relação entre ética e responsabilidade integra-se e faz-se presente na forma como os visitantes se comportam perante o patrimônio histórico-cultural-religioso de espaços hierofânicos. O objetivo desse estudo é compreender a motivação e o comportamento de visitantes de igrejas em Penedo-AL. Nesse sentido, buscou-se compreender como eles relacionam ética e lugares sagrados. Para além da revisão bibliográfica, o trabalho se desenvolveu sob a forma de pesquisa de campo, em três igrejas da cidade: Igreja das Correntes; Convento Nossa Senhora dos Anjos e Catedral Diocesana de Penedo. Ao constatar a motivação das visitas, a religião e a fé foram aspectos secundários perante o patrimônio histórico-cultural desses espaços. Palavras-Chaves: Ética da Responsabilidade, Espaços Hierofânicos, Atratividade, Visitantes. INTRODUÇÃO A cidade de Penedo é rica em atratividade55 nos aspectos históricos e culturais relacionados as manifestações vinculadas ao catolicismo, o que muitas vezes determina a motivação de quem a visita. Conhecida no Brasil como a Ouro Preto do Nordeste, desperta o interesse de visitantes56 pelo seu patrimônio57 histórico – cultural presente em seus casarios 51

Doutorando em Cidades e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Alagoas. Bacharel em Turismo pela Faculdade de Alagoas. Docente efetivo da Graduação em Turismo da Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected] 52 Pós-Graduada em Saúde Pública - CEAP (Central de Ensino e Aprendizado de Alagoas). Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Alagoas. Graduanda em Turismo pela Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected] 53 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected] 54 Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas. 55 Segundo Beni (2004), atrativo turístico é todo lugar, objeto ou acontecimento de interesse turístico que motiva grupos a se deslocarem de um determinado lugar para conhecê-los. 56 O visitante é aquele que se desloca para um local não habitual por um período de menos de doze meses e por motivos que não seja de trabalho. Por sua definição este termo se subdivide entre turistas e excursionistas. A primeira definição do termo turista reconhecida oficialmente foi em 1937 pela Sociedade das Nações (SDN), a qual designava como turista, todas as pessoas que permaneciam em um país diferente por pelo menos vinte quatro horas (BERNARDO, 2013, P. 10). Os excursionistas são aquelas que permanecem em um lugar por menos de 24 horas, com a finalidade de diversão, onde não pernoitam. O tempo de permanência e o motivo pelo qual se viaja é o que define e diferencia o turista e o excursionista, que apesar de estarem envolvidos no universo da definição de visitantes, obtém-se de diferenças mínimas que os separam (FERREIRA, 2007). 57 Já o conceito clássico de patrimônio refere-se a: bens culturais ou monumentos de valor histórico e artístico nacional (CAMARGO, P.95, 2005).

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e principalmente em suas igrejas. Com base nisso, nós procuramos desenvolver um estudo que avaliasse o comportamento ético dos visitantes perante os espaços sagrados que hoje são usados como atrativos turísticos. A ética investiga o sentido que o homem imprime à sua conduta para ser verdadeiramente feliz, enquanto que o principio da responsabilidade procura abranger a percepção do homem de forma coletiva, pensando no meio em que se insere (COTRIM, 1992; BATTESTIN & GHIGGI, 2010). A natureza como forma de hierofania que consiste “estruturalmente” na “escolha” de certos elementos do cosmo, segundo o critério de sua forma, força, eficácia, singularidade, onde os elementos hierofânicos se impõem ao homem religioso, seja qual for a sua fé, levando-o sempre a ver neles uma “manifestação do Sagrado”. Podendo ser objetos e até mesmo instituições que funcionam como “sinais” da presença de uma realidade transcendente e absoluta (PIAZZA, 1976). As visitações turísticas, usando tais espaços como atrativos, conseguem, de certa forma, retirar o Sagrado do foco principal, uma vez que as motivações de ordem religiosa, que podem estar na origem dos deslocamentos dos visitantes, não o impedem de desenvolver, durante a viagem, outros consumos de espaços, nomeadamente em áreas conexas da oferta cultural (ALVES, 2012). A metodologia que utilizamos neste trabalho começou com a revisão bibliográfica sobre os principais temas que envolviam a pesquisa. Posteriormente o trabalho se desenvolveu sob a forma de pesquisa de campo, em três igrejas da cidade de PenedoAlagoas: Igreja das Correntes, Convento Nossa Senhora dos Anjos e a Catedral Diocesana de Penedo. A pesquisa se deu na forma de questionários estruturados, mediante a entrevista semiestruturada, que visou a identificar aspectos da ética de visitantes perante o patrimônio histórico-cultural-religioso de igrejas católicas identificando sua origem e ouvindo sua opinião sobre fé, patrimônio cultural e comportamento em espaços denominadamente hierofânicos. ÉTICA E O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE Segundo Cotrim (1992), a ética investiga o sentido que o homem imprime à sua conduta para ser verdadeiramente feliz. O Princípio da Responsabilidade, defendido por Hans Jonas, tenta abranger a esse conceito de felicidade o fator da compreensão do mundo (natureza), no qual o homem deve deixar o lado individualista e pensar agora também no espaço natural, trazendo a concepção de um futuro melhor para o mundo, onde o problema do homem agora não seria o espaço e sim a temporalidade (BATTESTIN & GHIGGI, 2010). Segundo Segre & Cohen (2002), a eticidade está na percepção dos conflitos da vida psíquica (emoção x razão) e na condição, que podemos adquirir, de nos posicionarmos, de forma coerente, face desses conflitos. Considera-se, portanto, que a ética se fundamenta em três pré-requisitos: 1. Percepção dos conflitos (consciência); 2. Autonomia (condição de posicionar-se entre a emoção e a razão, sendo que essa escolha de posição é ativa e autônoma); 3. Coerência. A ética está ligada a nossa vida a partir do nosso consciente. É a partir dele que determinamos o que fazer e o que não fazer, o certo ou errado, a questão do momento, em que é certo, agirmos por impulso ou pensarmos antes de tomarmos atitudes, são essas as escolhas que fazem da conduta do homem, ter ou não, o comportamento moral que é

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imposto pela sociedade, buscando sempre o equilíbrio da vida social para que a sociedade possa conviver, sempre com base em princípios e valores, tanto históricos como culturais. É intrínseca a ligação que se tem entre ética e moral, o ethos (ética em Grego) é a maneira pela qual um indivíduo realiza sua natureza própria e, nesta acepção, a ética referese à educação do caráter dos indivíduos em vista da felicidade, da vida justa e livre que, para os gregos, só era possível como vida política. Já moral vem do latim (mores), significando os costumes estabelecidos por uma sociedade como normas, regras e valores que determinam o comportamento de seus membros (CHAUÍ, 2007) Ainda segundo Chauí (2007) a moral depende muito de fatores de uma sociedade, pois cada país tem seus costumes e suas regras, que educam sua população para discernir o que é certo e errado, definindo o comportamento social das pessoas de forma prática. Já o que se pode entender por ética: é a busca de análises e explicações teóricas, que têm como objetivo tratar as reais situações em observação e explicação, para dar forma ao comportamento moral do homem em sociedade. A moral tem a capacidade de se transformar junto às mudanças que a sociedade vem adquirindo na sua história, o que antes era imoral, hoje pode não ser mais, a mesma coisa é com relação ao hoje, que também pode sofrer mudanças, podendo tornar o que é imoral em moral. Chauí (2007, p. 8) enfatiza bem isso em seus exemplos, quando fala sobre o desenvolvimento tecnológico. No feudalismo o ócio era um valor fundamental, pois o trabalho era garantido pelos servos que deveriam demonstrar lealdade, fidelidade e coragem para enfrentar as guerras. Com o surgimento do capitalismo, o trabalho passou a ser um valor para todos, porque o capital se reproduz através do lucro que extrai da força de trabalho. Por isso vem à norma moral preconceituosa: “quem não trabalha é preguiçoso”.

Hans Jonas, em seus estudos sobre ética a partir do Princípio da Responsabilidade, tenta mostrar a insuficiência dos conceitos de ética diante da relação humana e o meio que vivemos, direcionando tudo isso agora para o agir em grupo, desfazendo-se da ética individualista, já que os preceitos éticos perderam a validade diante da mudança do comportamento humano. Hans Jonas formulou um novo e característico imperativo categórico, relacionado a um novo tipo de ação humana: “Age de tal forma que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica sobre a terra” (JONAS, 1995, p.40). Essa nova idealização enfatiza a ação do indivíduo perante o meio em que se vive, preocupando-se não só consigo, mas sim com tudo aquilo que faz parte da sociedade, as coisas extra-humanas. Olhar a biosfera é isso que a ética da responsabilidade defende e tenta incluir quando se fala em coisas extra-humanas (BATTESTIN; GHIGGI, 2010). Hans Jonas no seu interesse de defender o olhar do indivíduo não só para si, mais para tudo o que está em sua volta, tirando os conceitos antigos e insuficientes que a ética defendia, cita a religião neste ato de insuficiência com o desenvolvimento do comportamento da humanidade na nova era tecnológica, enfatizando a religião e seu entorno como algo que precisa de um novo olhar por parte do indivíduo, onde este possa valorizar e preservar a partir da consciência de futuro, na tentativa de que o visitante atento aos detalhes e a história do espaço desperte em si o desejo natural de conservar (PELIZZOLI, 2003, p. 98).

RELIGIÃO, RELIGIOSIDADE E VISITAS A ESPAÇOS SAGRADOS.

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Segundo Dalgalarrondo (2008), o Brasil sempre foi considerado, um país predominantemente católico, desde que chegaram com os portugueses os primeiros frades franciscanos, padres seculares e principalmente os jesuítas. O país continua tendo a mais populosa nação católica do mundo, cerca de 64,6% dos brasileiros se dizem católicos (IBGE,2010). Porém, apesar dessa predominância do Catolicismo, o Brasil é um país diverso em práticas religiosas, ou seja, existe uma grande tolerância e mobilidade das pessoas entre as religiões. O termo religião é caracterizado como sendo a crença na existência de um poder sobrenatural, criador e controlador do Universo, que dá ao homem uma natureza espiritual, divina, que continua a existir mesmo depois da morte de seu corpo (matéria). Já a Religiosidade é definida como a extensão na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião (PANZINI; et al, 2007). Ainda de acordo com Magalhaes (2012, p. 10): Para se compreender o que de fato é religiosidade é necessário fazer a distinção entre religiosidade e religião. Uma vez que: “A religiosidade é uma dimensão antropológica e estrutural do ser humano.” Enquanto que a religião ocupa um importante papel social de congregar e organizar as pessoas no espaço social.

O que marcou a religiosidade no Brasil foi a grande influência do Cristianismo, sendo a mais popular tanto entre os colonos como entre os seus servos (MAGALHAES, 2012). Rosendhal mostra que a composição da paisagem religiosa se dá através do processo de sacralização dos espaços hierofânicos58 (espaços que manifestam o sagrado). Para ela: “o espaço sagrado é um campo de forças e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, levando-o para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência” (ROSENDHAL, 1996, p. 30). Enquanto que o Profano se dá como algo comum, secular, algo destituído de um significado que remeta à realidade transcendente existente nos espaços sagrados (ELIADE, 1992, p. 17). São considerados como parte do turismo cultural, os diversos santuários ou templos religiosos, que são, via regra, multifuncionais, mesmo quando o fator religioso domina. Por isso, as motivações de ordem religiosa, que podem estar na origem dos deslocamentos humanos, não o impedem de desenvolver durante a viagem outros consumos do espaço, nomeadamente em áreas conexas da oferta cultural (ALVES, 2012). Na lógica cultural da visitação, é possível se compatibilizar, no mesmo meio, o peregrino e o romeiro excursionista, pois ambos são capazes de multiplicar significados para um mesmo atrativo, por mais repulsivo que tal atrativo possa parecer, aos olhos de alguns (OLIVEIRA, 2008). Segundo Ribeiro (1999), os rituais de entrada em um santuário também devem ser seguidos à risca sob pena de severas punições. Conforme os escritos bíblicos, para Moisés, foi necessária a retirada das sandálias, para se tornar digno de permanecer no lugar santificado pela hierofania da sarça ardente. Para a entrada em certos templos também se deve ter os pés nus, em outras é necessário trazer a cabeça coberta, em outros a realização de certos sinais ou da lavagem dos pés e mãos. Dentro deste espaço sagrado, o fiel deve se comportar de modo condizente com a sacralidade do local. Assim, excluem-se atividades ou palavras que são tidas como profanas ou impuras, lembrando que cada religião estabelece para si normas de conduta moral para proceder dentro dos espaços sagrados (RIBEIRO, 1999). 58

Eliade (1992) afirma que a história de todas as religiões, desde as mais primitivas às mais elaboradas, é constituída por um número considerável de hierofanias, pelas manifestações das realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania, por exemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, uma pedra ou uma árvore, é a instauração do Sagrado no mundo a partir da valoração que o homem faz de certos conteúdos de sua vivência do Cosmo.

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ATRATIVIDADE E VISITAÇÕES EM IGREJAS DE PENEDO Penedo é a cidade mais antiga às margens do Rio São Francisco, e é também uma das mais belas cidades históricas do Brasil. Está situada a 157 km de Maceió, e possui hoje uma população de aproximadamente 60.000 habitantes. É chamada de "Ouro Preto do Nordeste" graças a seu riquíssimo acervo arquitetônico presente em sobrados e igrejas seculares (TURISMO-AL, 2007). É uma cidade de cultura católica e tradições religiosas, como a devoção a Bom Jesus dos Navegantes, o trezenário de Santo Antônio, a festa de Nossa Senhora do Rosário (padroeira da cidade) e as manifestações que acontecem com os padroeiros de cada comunidade. Ressaltando que das tradições religiosas citadas a de maior abrangência é a de Bom Jesus dos Navegantes, em que o fluxo de visitantes é intenso.

Figura 1: Vista da Cidade de Pededo-AL Fonte: (SIPEAL, s.d.)

Segundo Ribeiro et.al., (2009), a cidade possui 13 igrejas no centro histórico e 10 capelas, das quais merecem destaque a Igreja de Nossa Senhora da Corrente, o Convento Franciscano e igreja de Nossa Senhora dos Anjos. De acordo com Christine (2013), Penedo também tem parte de seu patrimônio histórico preservado, com destaque para a Igreja de Nossa Senhora da Corrente, tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e considerada uma das mais belas do país, com detalhes arquitetônicos do barroco, rococó e neoclássico, é decorada com azulejos vindo de Portugal e cerâmica inglesa.

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Figura 2: Altar da Igreja de Nossa Senhora das Correntes Fonte: (SIPEAL, s.d.)

O Convento de Nossa Senhora dos Anjos, com sua edificação do século XVIII, foi construído no dia 17 de setembro de 1660, dia consagrado às Chagas de São Francisco, trabalhado no estilo barroco português, uma vez que seus construtores foram frades brasileiros e portugueses. Depois de vinte anos começaram os trabalhos para erguer o atual convento (MÉRO, 1991).

Figura 3: Fachada do Convento Nossa Senhora dos Anjos Fonte: (SIPEAL, s.d.)

A Catedral Diocesana teve sua construção feita por partes. antigamente no local da atual Matriz, existia somente uma capela, que tinha por nome Capela de Santo Antônio. Somente em 1690 os trabalhos para a construção de um novo templo começaram. Iniciando pela construção da capela-mor que possui traçado mais estreito e profundo em relação à nave. Só em 1850 conseguiram finalizar as torres (MÉRO, 1991). A Igreja Matriz da cidade possui um esplendoroso conjunto de imagens espalhadas. Dentre estas a de maior destaque é a imagem da padroeira da cidade: Nossa Senhora do Rosário, em madeira de boa escultura, com douramento e policromia em seu revestimento (ENCICLOPÉDIA MUNICÍPIOS DE ALAGOAS, 2010).

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Figura 4: Fachada da Catedral Diocesana Fonte: (SIPEAL, s.d.)

RESULTADOS Ao realizar esta breve pesquisa sobre a ética da responsabilidade de visitantes diante da história, cultura e religiosidade de igrejas católicas da cidade de Penedo-AL, (mais especificamente das três principais igrejas: Convento Nossa Senhora dos Anjos, Nossa Senhora da Corrente e Catedral Diocesana) refletimos acerca do comportamento de visitantes diante da sacralidade das igrejas, como também das motivações desses ao visitar as igrejas, essas ligadas à fé, história e/ou cultura. Os questionários foram aplicados a visitantes, também, com o intuito de verificar os seguintes aspectos: local de origem, gênero, renda, motivo da visita. Analisando o local de origem dos visitantes percebemos uma pequena variação desses, sendo 40% provenientes de Alagoas, 40% de Sergipe e 20% da Paraíba e Pernambuco. Isso demostra uma variação considerável, visto que os questionários foram aplicados todos no mesmo dia, 12 de Abril do corrente ano, aniversário de Penedo e feriado municipal. Nesse grupo estudado, 60% eram homens e 40% mulheres. Esses indivíduos dispunham de uma renda na qual 40% tem uma renda mensal de 1a 2 salários, 40% de 2 a 3 salários e 20% de 3 a 4 salários. Quando questionados sobre o motivo da visita às igrejas, 80% dos entrevistados responderam ter interesse na história e cultura da igreja, 13% tinham interesse de cunho religioso e 7% relataram interesse de ordem histórica e religiosa.

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Figura 5 – Gráfico: Motivo da Visita

O que motivou sua visita a essa igreja? 0% 7% 13%

Fé História e Cultura Dois Fatores Outros

80%

Fonte: Elaboração Própria

O interesse pela história e cultura segundo os visitantes foi o motivo que os levou a visitar aquelas igrejas. “O que mais me chamou a atenção foram às esculturas trabalhadas em madeira, com seus detalhes dourados e a história da igreja” (Entrevistado V). Quanto ao perfil religioso dos entrevistados, 62% afirmaram ser católicos praticantes e 38% não são católicos praticantes. Desses, 38% afirmaram que estavam naquelas igrejas por devoção e 62% para conhecer mais a fundo a historia das igrejas. Em meio às descobertas que foram feitas, nós perguntamos como deve se comportar o visitante na igreja em relação a fé católica, 50% disseram que se faz necessário respeitar as regras desta fé, 33% foram precisos ao dizer que primeiramente deve-se olhar as vestimentas e 17% abordaram o comportamento como um todo. Com relação à motivação hierofânica, observamos que os visitantes não estavam em busca de um ritual, ou objeto que pudesse transcender um ritual que levasse a transformação de algo profano em sagrado. A maioria deles estava somente em busca de conhecer e apreciar a história e a arquitetura presente nas igrejas. Sabe-se que nem todos que visitam as igrejas vêm exatamente por motivos ligados a fé, mas mesmo assim se faz necessário manter o respeito diante do lugar que está sendo visitado, com base nisso 25% dos entrevistados afirmou perceber o respeito por parte daqueles quem estão ali somente por estar, 50% notaram que a maioria estava ali só por uma curiosidade e somente 17% conseguiu perceber certo nível de comportamento, mesmo sem a fé ser o fator principal. O que pode ser sustentado com a afirmação de Ribeiro (2010) ao afirmar que: os santuários são patrimônio cultural e, estão susceptíveis de serem transformados em recursos turísticos. Dessa forma, percebe-se que nas igrejas estudadas ocorre uso turístico de espaços religiosos. Ressaltamos, ainda, nesse sentido, que 100% dos entrevistados gostariam que a cidade organizasse um roteiro de visitas as Igrejas, com pontos de apoio e pessoas mais capacitadas para repassar as informações. Diante da visão dos entrevistados quando questionamos se existe relação entre ética e religiosidade, 93% respondeu que sim, relacionando esta resposta principalmente ao respeito e sua conduta, evidenciando-se preocupados perante as regras que se deve seguir diante da sacralidade, história da igreja e preservação do meio: “A ética está interligada com a religião, através do respeito, comportamento perante as imagens e as regras que existem com base na fé católica.” (Visitante S). Isto enfatiza o Princípio da Responsabilidade, anteriormente discutido, em que o visitante preocupa-se não só com sua satisfação, mas também com o meio e com a existência futura, em que seus atos conscientes e de respeito

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acabam que por preservar tudo aquilo que está sendo visto, na perceptiva de que daqui a algum tempo tais elementos culturais estejam preservados. Para complementar essa pesquisa, sentimos a necessidade de entrevistar as pessoas responsáveis por receber e passar informações aos visitantes. Dos três locais visitados, apenas em um afirmou-se que tal responsável passou por um processo de capacitação. O responsável pelo Convento nos disse que a maioria dos grupos vem com guias de turismo, e que esses repassam para os grupos de visitantes as informações a respeito da igreja, outras vezes alguns visitantes aparecem com amigos que residem na cidade, e eles mesmos fazem a apresentação, e quando algum visitante aparece sozinho, o responsável somente mostra a igreja e avisa que foto com flash não é permitida. O responsável pela Catedral nos relatou que o comportamento daqueles visitantes que demonstram fé católica é muito ruim, há uma falta de respeito muito grande perante a sacralidade da igreja. Já o responsável pela igreja das Correntes, nos passou que a maioria dos visitantes que demonstram ter fé católica vem com interesse de conhecer as imagens, e que ao perguntar, ao se expressar eles conseguem transmitir fé, o que faz com que ele os separe daqueles que vem somente para ver e contemplar a beleza da igreja, mas o que ele percebe é que independente do motivo que os leva até a igreja, todos demostram respeito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve por finalidade tornar perceptível a relação que se pode fazer entre ética, visitações e espaços sagrados. Jonas (1995, p.40), em sua defesa do Princípio de Responsabilidade como um princípio ético, enfatiza que as atitudes praticadas pelos seres humanos devem ser pensadas de forma coletiva, pensando não somente no propósito individual, mas no outro e na perspectiva de futuro. Como há escassez de trabalhos voltados para a temática aqui abordada, e as pessoas muitas vezes, por falta de orientação e/ou esclarecimento não sabem como se comportar em ambientes sagrados, é que se percebeu a relevância desse estudo, o qual analisou como visitantes percebem a importância de se preservar e respeitar o sagrado, mesmo aqueles que vêm somente em busca da atratividade não motivada pela fé religiosa. Diante disto, esta pesquisa observou o comportamento de visitantes diante da sacralidade encontrada em igrejas da cidade de Penedo, já que, para a maioria destes visitantes, a ética foi estabelecida como respeito perante a história e a arquitetura ali encontradas. A religião e a fé foram aspectos que menos se destacaram na motivação dos visitantes aqui estudados. Diante desse dado é que contatamos a ética perante a sacralidade dessas igrejas, uma vez que, caso não detenha o conhecimento sobre as regras de perante espaços de fé católica, o visitante não tem maiores possibilidades de conduzir um comporta mento interativo nesses espaços, o que sugere ser útil para esse contato, que a pessoa responsável por recebê-lo tenha capacidade repassar para ele as informações necessárias a fim de manter harmonia ética entre visitante e local de visita. Constatou-se, ainda, que apesar de serem atrativos turísticos centrais para o fluxo de visitações na cidade de Penedo, as igrejas ainda não são plenamente satisfatórias para aqueles que as visitam, tendo em vista a precariedade de informações e a receptividade aos que vem visitá-las, fato que, ao nosso olhar, pode interferir diretamente no comportamento dos visitantes.

REFERENCIAS

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EXPRESSÕES DE HOSPITALIDADE PÚBLICA NA VOZ DE GUIAS DE TURISMO: ANALISANDO O MIRANTE DE SÃO GONÇALO, EM MACEIÓ-AL Daniel Arthur Lisboa de Vasconcelos59 Marcela Ferreira Marinho60 Jéssica dos Santos Reis61 RESUMO Este artigo baseia-se nos conceitos de hospitalidade público dos espaços urbanos, sob a luz de Grinover (2007), a qual pode ser verificada através de três dimensões, representadas pelas categorias acessibilidade, legibilidade e identidade. Tem-se como objetivo perceber expressões de hospitalidade, pautados no discurso de guias de turismo sobre o Mirante de São Gonçalo, localizado na cidade de Maceió, Alagoas. A pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada por meio de entrevistas com guias de turismo. Como resultado da análise do discurso desses sujeitos, verificou-se que o mirante possui expressões de hospitalidade traduzidas através de sua rica paisagem natural, em contraponto, observou-se, nos discursos sob aspectos da legibilidade e acessibilidade, algumas características inapropriadas no que se refere à infraestrutura relacionada à sinalização, orientação turística e acessibilidade. Como resultados obtidos, percebe-se que, infraestrutura e hospitalidade pública, são fatores imprescindíveis para o desenvolvimento turístico da cidade de Maceió, e esse equipamento de apoio ao turismo não apresenta elementos suficientes para contemplar satisfatoriamente as demandas turísticas e locais ali existentes. Palavras-chave: Turismo; Hospitalidade Pública; Equipamentos, Mirante de São Gonçalo.

1. INTRODUÇÃO O Turismo mobiliza pessoas em busca de experiências de lazer e, ainda, pode proporcionar desenvolvimento ao local visitado. Esse fenômeno social gera interação entre visitantes e visitados. Desse modo, se faz necessário o planejamento turístico levando em consideração a hospitalidade, Krippendorf (2006, p. 147) explica que “harmonizar o desenvolvimento turístico implica, antes de tudo, desembaraçar o nó dos interesses, muitas vezes contraditórios, e estabelecer uma ordem de prioridades”. Assim, Cabe destacar que o Turismo pode interferir no espaço geográfico, pois, para atender ao turista muitas vezes o poder público criar infraestrutura, que influencia na percepção de acolhimento dos turistas e da própria comunidade, (re)significando muitas vezes o espaço urbano devido à necessidade de instalação de novas atividades que agreguem valor a cidade e a atividade turística. A apropriação de um local para a exploração do turismo urbano é o resultado de um conjunto de potencialidades e facilidades existentes nas cidades. O turismo é uma forma de exploração do espaço urbano que leva em se apoia nas vivências humanas e no consumo do patrimônio, seja ele, artístico, histórico ou cultural, no local em que é inserido.

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Doutorando em Cidades e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Alagoas. Bacharel em Turismo pela Faculdade de Alagoas. Docente efetivo da Graduação em Turismo da Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected]. 60 Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul. Bacharel em Turismo pela Faculdade de Alagoas. Docente na Estácio de Sá/Faculdade de Alagoas. Contatos: [email protected]. 61 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected].

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Desse modo, parece-nos relevante discutir o Turismo e suas relações com a Hospitalidade Urbana. Tal relação trouxe-nos para o desafio de perceber expressões de hospitalidade, com base no discurso de guias de turismo sobre a hospitalidade pública referente ao Mirante de São Gonçalo, em Maceió-AL, o qual sob a concepção teórica de Grinover (2007) nos ilustra em três dimensões, quais sejam: a “acessibilidade”, que está ligada diretamente ao acesso a espaços públicos, infraestrutura, equipamentos de natureza econômica, cultural ou física; a “legibilidade”, que destaca a maneira de como percebemos a cidade e suas partes constituintes, ou seja, se refere aos aspectos provenientes do visual da cidade e a “identidade”, que remete-nos a tudo aquilo que é percebido, elementos físicos e culturais típicos de uma determinada população, cultura,”. Já, sob as orientações de Panosso Netto (2005), a respeito da análise do discurso com base em fenomenologia hermenêutica, construiu-se a ferramenta de análise empírica pertinente a esse estudo. Baseado nesses preceitos objetivou identificar marcas discursivas que sinalizem a percepção de guias de turismo sobre a de hospitalidade pública no espaço delimitado.

2. REFERENCIAL TEORICO O presente referencial teórico traz como balizador dois fundamentais, o primeiro discorrerá sobre a relação entre a cidade à hospitalidade e o equipamento de apoio ao turismo e o segundo sobre o mirante de São Gonçalo.

2.1. CIDADE, HOSPITALIDADE E (MIRANTES COMO) EQUIPAMENTOS DE APOIO AO TURISMO. A hospitalidade é apresentada por muitos autores e sob diversos olhares. Para efeito do presente estudo recorremos às considerações de Grinover (2007, p. 125) quando teoriza sobre hospitalidade como “a relação entre hóspedes e instituições, pessoas e organizações integradas em um sistema de natureza institucional, pública, privada, ou familiar”. Neste contexto ele, ainda explica a hospitalidade como uma relação especializada entre dois atores: aquele que recebe e aquele que é recebido. Grinover (2007), ainda afirma que: [...] a hospitalidade é uma qualidade social antes de ser uma qualidade individual: é um fenômeno que implica uma organização, um ordenamento de lugares coletivos e, portanto, a observação de regras de uso desses lugares (p. 125).

Os lugares coletivos são concedidos à prática da socialização. O encontro destes dois mundos deve ser visto como valorização da interação sócio espacial no contato entre eles, levando-se em conta a modificação em ambos, homem e meio, o autor discorre que “a cidade pode ser entendida como um espaço concebido, vivido e percebido” (GRINOVER, 2013 p. 18). Ana Carlos nos lembra de que o bairro, a praça, a rua, o pequeno comércio, aproximam os moradores. Tais lugares podem ser mais do que pontos de troca de mercadorias. Eles possibilitam o encontro, reformam a sociabilidade (GRINOVER, 2013, p. 18).

Nesse discurso, abrimos o olhar sobre os valores de pertencimento, “pois o pertencimento é vital: o desejo de pertencer a uma cidade, a um grupo, a um espaço ou a uma tribo tem impulsionado movimentos sociais e ações culturais”. (GRINOVER, 2007 p.

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86). A cidadania deve ser construída pelos habitantes junto ao processo de configuração dos equipamentos coletivos. A infraestrutura e a hospitalidade urbana, dentro desta perspectiva, são indispensáveis ao desenvolvimento turístico de qualquer cidade. Os fatores que determinam a hospitalidade como potencial turístico de uma cidade, é a proximidade do visitante com o visitado e a diversidade dos recursos de infraestrutura urbana associado ao bem-estar. Seguindo essa linha de raciocínio, Grinover (2007) revela que, Há cidades que oferecem espontaneamente informações (são todos elementos gráficos visuais, falados e televisionados) que permitem ao estrangeiro orientar-se imediatamente sem dificuldades; [...]. É o que poderia ser chamado de hospitalidade “informada”, “oferecida” pelas autoridades públicas e, administrativas e, também de certa forma, pelos habitantes [...] ( p.126).

O autor também aponta que a melhor forma de identificar se uma cidade é hospitaleira, é analisando-a em três dimensões, como já abordado anteriormente, mas a título de ênfase, novamente pontuamos que são elas: “acessibilidade”, que está ligada diretamente ao acesso a espaços públicos, infraestrutura, equipamentos de natureza econômica, cultural ou física; “legibilidade” refere-se à maneira como percebemos a cidade e suas partes constituintes, ou seja, aos aspectos provenientes do visual da cidade e “identidade” que é tudo aquilo que identifica o espaço urbano, ou seja, elementos físicos e culturais típicos de uma determinada população, cultura, sociedade. A seguir será discorrido, de modo mais específico, acerca desses três aspectos. 2.1.1 A Acessibilidade Se, por um lado, é reconhecida a importância do turismo nos espaços urbanos, por outro, ainda existe uma dificuldade de acessibilidade nos espaços turísticos que possibilite toda e qualquer pessoa visitá-lo. De acordo com as palavras de Grinover (2007, p. 135), A acessibilidade evoca diversos conceitos ligados às possibilidades de acesso dos indivíduos, ou de grupos sociais, a certas atividades ou a certos serviços que estão presentes na cidade, devendo proporcionar igualdade de oportunidade aos usuários urbanos. O acesso à cidade é direito de todos [...]

A acessibilidade refere-se às dimensões tangível (física, de acesso aos lugares) e intangível (acesso cultural, à cidadania). São as políticas de estruturação urbana que determinam o acesso à cidade, seja por meio de automóveis a pé ou qualquer outro meio de locomoção. Grinover (2007) assegura que a acessibilidade, seja ela física (tangível), ou verbal, seja virtual (intangível) ela é uma condição fundamental da hospitalidade, pois possibilita que a população ou visitante, frequente espaços de lazer e coloque-se em contato com a cultura, a informação e a socialização, através da interpretação de seus códigos. 2.1.2 A Legibilidade Enquanto a acessibilidade trata de dimensões tangíveis e intangíveis, a legibilidade estimula a leitura, a percepção e a interpretação da paisagem e dos símbolos do local visitado. Essas três unidades básicas, somente podem ser identificadas através de subsídios e facilidades que possibilitem ao visitante se deslocar dentro da cidade e usufruir dos elementos arquitetônicos e culturais. Esses elementos e marcos devem ser facilmente reconhecidos, evitando transtornos como a perda de tempo e o risco de se perder dentro da cidade (GRINOVER, 2007). Legibilidade para Grinover (2007) é,

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a qualidade visual de uma cidade, território, examinada por meio de estudos da imagem mental que dela fazem, antes de qualquer outro, os seus habitantes. Essa imagem mental é uma referência, é uma estrutura gramatical e sintática que [...] exprime-se pela codificação de mensagens, e, em seguida, pela decodificação dessas mesmas mensagens, cujas interpretações só poderão se dar se os códigos de emissão e de leituras forem compatíveis (p. 144).

Cada cidade tem suas características, essas, devem ser expostas através da leitura dos elementos feita no local, isso ajuda na construção e em trocas de experiências, através dos costumes, crenças e comportamentos. É extremamente relevante uma boa interpretação do local sob o aspecto do visitante, pois a legibilidade vai além da exposição de informações, estando ligada intrinsicamente, á emoção, gera uma ligação entre o indivíduo e a cidade. De acordo com Grinover (2007), a percepção, a leitura e a interpretação do ambiente, configuram-se elementos essenciais ao modo de percepção do lugar. A interpretação é um dos fatores que mais favorecem o turismo, pois faz com que os turistas conheçam e apreciem o lugar. Toda leitura da cidade é feita por meio de códigos, podem ser refletidas no cotidiano através dos monumentos históricos e da cultura local. Já a percepção é concebida através do olhar. O olhar não significa somente olhar, mas também ser olhado. A comunicação urbana é vista e interpretada de um ponto de vista antropológico, porque as formas ou os modelos culturais, que constituem as diferenças, se estabelecem aos modos de pensar, de sentir e de agir (GRINOVER, 2007, p. 146).

Contudo, não podemos esquecer que a legibilidade não pode ser oferecida apenas aos visitantes. O lugar deve ser primeiramente lido por moradores que utilizam constantemente o espaço. Em seu discurso, Grinover (2007) contextualiza a legibilidade como qualidade visual da cidade, observada através de estudos da imagem mental realizados primeiramente por seus moradores locais. Todo espaço, seja ele turístico ou não, deve ser planejado para atender as necessidades de seus moradores. É extremamente importante que os símbolos da cidade sejam lidos, interpretados e sentidos por todos. Mesquita (2008) através de Argan (1995), afirma que, A cidade, [...] “não é feita de pedras, mas de homens”. São os homens que atribuem um valor às pedras e todos os homens, não apenas arqueólogos ou os literatos. Devemos, portanto, levar em conta, não o valor em si, mas a atribuição de valor, não importa quem a faça e a que título seja feita. De fato, o valor da cidade lhe é atribuído por toda a comunidade (p. 85).

Esses símbolos estão relacionados ao fenômeno do acolhimento e às práticas de hospitalidade que se organizam e se desenvolvem nas relações de troca entre o turista e visitado. 2.1.3 A Identidade A identidade urbana está ligada diretamente ao sistema de signos, memórias, costumes e emoções. A identidade cultural de uma região, é, ao mesmo tempo o lugar das memórias passadas de moradores, e, o futuro de memórias desejadas (Grinover, 2007). O que determina a identidade de um local, sem dúvida, é a cultura. O autor ainda explica, através das considerações de Canevacci, que a identidade só pode ser analisada a partir das relações de produção e dominação social que os grupos mantem entre si.

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[...] Os lugares vivos constituem referências para a memória e as culturas locais. É essencial o cultivo da memória urbana. O historiador, o poeta, o músico fazem do todo e dos fragmentos da cidade o foco da organização de lembranças e da libertação de emoções. A emoção impregna o meio ambiente popular urbano. A cidade é um composto de pedras e tijolos acumulados, e de costumes e afetos praticados pela população urbana (GRINOVER, 2007, p.150).

Neste sentido, identidade é um processo de reconhecimento por parte do sujeito que assume dentro de seu grupo social, valores que determinam sua forma de vivência e seus atributos próprios.

2.2 O MIRANTE DE SÃO GONÇALO, EM MACEIÓ-AL O Mirante de São Gonçalo constitui um equipamento urbano que pode ser considerado um patrimônio cultural e turístico da cidade de Maceió, estando localizado próximo ao centro da cidade, na Avenida Aristeu de Andrade, praça Rosalvo Ribeiro, bairro do Farol. O local provavelmente tem ligação ao início do povoamento que deu origem a cidade de Maceió, a adaptação do antigo paiol de pólvora resultou na igreja de São Gonçalo do Amarante, o primeiro padroeiro da cidade, foi instituída como templo religioso em 1888. O lugar é ponto de referência para maceioenses e visitantes que desejam ter um panorama paisagístico da Maceió contemporânea, compreende-se, também, um equipamento de apoio ao turismo62, tornando-se o lugar com uma visão privilegiada da capital alagoana. Durante o dia, em todas as épocas do ano, esse equipamento recebe vários visitantes, sendo, inclusive, ponto de parada dos city tours realizados pelos receptivos turísticos locais e visitantes que procuram conhecer a cidade por conta própria (VASCONCELOS, et.al, 2014).

Figura 01: Atual panorama paisagístico do Mirante de São Gonçalo. Fonte: Acervo pessoal (2014)

Um mirante traz agregado em sua estrutura física a função de culturalizar, publicamente, a paisagem que de lá pode ser contemplada, contudo, o mirante de São Gonçalo agregou outros valores culturais, sagrados e profanos, justamente por sua proximidade com a praça e a histórica Igreja de São Gonçalo do Amarante, elemento 62

Um mirante serve como equipamento de apoio e uso público de lazer, destinado a diversas atividades, incluindo a turística. Segundo Pinho (et.al. 2008), equipamentos turísticos são elementos estruturais de uma cidade que são inseridos ou adaptados para atividade turística.

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cultural do catolicismo, do qual o mirante também herdou sua denominação popular (VASCONCELOS, et.al, 2014).

Figura 2: Atual Igreja de São Gonçalo no bairro do Farol. Fonte: Acervo pessoal (2014)

3. METODOLOGIA O presente artigo parte da percepção de guias de turismo, sobre expressões de hospitalidade, no intuito de identificar enunciados explícitos e implícitos, pautados no discurso de guias de turismo sobre a hospitalidade pública. Para isso, foram entrevistados 10 guias de turismo que trabalham, de algum forma, ligados no mirante de São Gonçalo. Justifica-se o fato de serem poucos participantes porque a pesquisa qualitativa está preocupada no aprofundamento das respostas e não na quantidade de entrevistas aplicadas. As perguntas presentes no questionário foram construídas com base nas três categorias de Grinover, vejamos:           

Acessibilidade:

O que você acha do acesso ao Mirante de São Gonçalo, no que se refere ao City tour? O que você acha do acesso ao Mirante de São Gonçalo para os que o visitam individualmente? E para a população de Maceió? Comente sobre a sensação de conforto no local (visual, temperatura, sons, locais para descanso, etc.)? E sobre a sensação de segurança? O mirante possui boa acessibilidade para pessoas com deficiência locomotora, visual, etc.? As informações (históricas, geográficas, culturais) sobre o mirante estão acessíveis nesse equipamento urbano?

 

Legibilidade:

 Comente sobre a sensação visual que a paisagem do mirante oferece.

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  Comente sobre as informações/orientações sobre o mirante e a cidade que estão nas placas ou outros elementos desse equipamento urbano.  O visitante do mirante consegue orientar-se sozinho nesse lugar?   Qual a imagem mental que você formou sobre esse lugar?  

Identidade:

 Qual a relação do mirante de São Gonçalo com a história e a cultura de Maceió?   O que os moradores de Maceió pensam sobre esse espaço? Como o utilizam?   Como você percebe a relação das pessoas que trabalham aqui no pequeno comércio com a valorização desse lugar?  Em termos arquitetônicos, há elementos que identificam esse mirante?   Você identifica alguma imagem mental os visitantes/turistas normalmente formam sobre lugar? A partir dessas questões foram desenvolvidos quadros cuja formulação obedeceu à seguinte estrutura: número de ordem, discurso na linguagem do sujeito, redução de unidades de significados e asserções articuladas no discurso, conforme os preceitos de Panosso Netto (2005). Ainda seguindo a proposta do autor, o exame das respostas dos sujeitos da pesquisa partiu da proposta hermenêutica, procurando “chegar ao significado primeiro do que cada um quis dizer” (p.118), assim como “estabelecer unidades de significado das respostas, para depois estabelecer nova compreensão do objeto pesquisado e alcançar a definição de sua essência a partir do grupo investigado” (p.119). Vejamos exemplo: Tabela 1. Ilustração dos procedimentos de análise efetuados dos objetivos constantes dos resumos das teses selecionadas. Nº

Discurso na Linguagem do Sujeito

1

Eu acredito que seja um grande complemento em relação ao Tour, em virtude das pessoas terem uma visão privilegiada da cidade. Eu acho muito complicado em relação ao tamanho das ruas, o trajeto, trânsito é bem complicado chegar aqui.

Redução Unidades de Significados

Asserções articuladas no discurso Complicado devido Acesso difícil ao tamanho das devido ao tamanho ruas, ao trajeto e ao das ruas e ao trânsito. trânsito.

4. ANÁLISE INTERPRETATIVA A partir da compreensão objetiva, elucidado no texto anterior, o que se tem em vista, é uma revisão das ideias sinalizadas através da percepção dos guias de turismo sobre a

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hospitalidade pública do equipamento de apoio ao turismo – Mirante São Gonçalo, Maceió/AL. A análise da primeira categoria “acessibilidade” transcorrerá sobre as subcategorias: acesso, conforto, segurança, acessibilidade e acesso as informações. 4.1. O que você acha do acesso ao Mirante de São Gonçalo, no que se refere ao City Tour? Por meio do discurso dos guias foi possível perceber algumas contradições sobre o acesso ao mirante, alguns ressaltam a facilidade de acesso outros destacam a dificuldade em chegar no local devido ao trânsito, as ruas serem estreitas e cheias de carros estacionados. Outros ressaltam a ausência de sinalização, como o guia 04: “[...] falta muita coisa ainda para poder ter uma boa visibilidade por que as placas, sinalização que eu conheça, que veja, que eu tenha conhecimento não existe”. 4.2 O que você acha do acesso ao Mirante de São Gonçalo para quem o visita individualmente? E o acesso para a população de Maceió? Nesse item, também houve contradições sobre o acesso ao visitante individual. Relatam que terão as mesmas dificuldade de chegar ao local com guias, com falta de sinalização turística e a dificuldade de chegar ao mirante devido ao despreparo que a cidade tem para com o turista que costuma viajar sozinho. Outros, como o guia 06, revelam que os turistas: “não vão encontrar dificuldades pois o ponto já é bastante conhecido, como mirante do turista”. 4.3 Comente sobre a sensação de conforto no local (visual, temperatura, sons, locais para descanso, etc.)? Sobre a questão do conforto no local, a maioria deles foram bastante incisivos em seus depoimentos, demonstraram uma enorme satisfação em termos visual, temperatura e sons. Mas, há questionamentos sobre a falta de banheiro e desvalorização da prefeitura com o local, como demonstra o discurso do guia do guia 02: “[...] infelizmente não tem um banheiro adequado, [...] um banheiro para que o turista passa disfrutar dessa beleza um bom tempo [...]”. Um outro desconforto foi citado, pelo assédio dos vendedores ambulante do local, percebido no guia 04: Uma coisa complicada ali é a questão daqueles ambulantes, que atacam os turistas ali [...], atacam o pessoal oferecendo aquela coisinha lá do piriquiti 63, um monte de coisas eles ficam vendendo lá de artesanato e acabam sendo inconveniente, é isso aí que eu acho.

4.3 E sobre a sensação de segurança? Todos os guias responderam que não há policiamento. Apesar de alguns afirmarem que o mirante é seguro mesmo sem ronda ou patrulhamento no local, como demonstra a fala do guia 05: “Acho seguro lá apesar de não ter policiamento”. Em alguns discursos, foi relatado que a segurança é feita pelos próprios vendedores do local, mas gostaria que houvesse uma cabine de policiamento como relato o guia 06: 63

O Entrevistado refere-se às pequenas sementes vermelhas das árvores que rodeiam o local, as quais são comercializadas localmente como lembranças, ou souvenirs, e utilizadas ritualmente como amuletos de sorte, por visitantes do local.

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Quanto a isso a gente sempre se sentiu seguro ali, pois as pessoas que lá trabalham e depende do mirante eles se preocupam com a segurança, mais nada como uma segurança a mais. Poderia ter uma cabine da polícia militar para tranquilizar mais.

4.5 O mirante possui boa acessibilidade para pessoas com deficiência locomotora, visual, etc.? A falta de acessibilidade foi retratada de maneira negativa nos discurso dos guias, afirmaram que o local não possui acessibilidade, os que disseram que existe, enfatizou apenas rampas de acesso a calçadas, mas para outros tipos de mobilidade reduzida, não é encontrado no mirante. A fala do guia 09, demonstra o que foi relatado: “Na verdade possui apenas rampa de acesso, mas não é o suficiente, pois a rua ainda é de paralelepípedo, nada mais que as rampas. Impossível um deficiente visual utilizar o espaço”. 4.6 As informações (históricas, geográficas, culturais) sobre o mirante estão acessíveis nesse equipamento urbano? Constata-se, nos discursos, que no local não há nenhum elemento que contenha dados sobre a história, a geografia e a cultura do local. O guia 01 enfatiza essa questão a seguir: “Não, não estão! Esse trabalho na verdade quem faz é o guia, de informar. Mas aqui no ambiente mesmo não tem nada... sei lá talvez uma placa, algo do gênero né? Tem não”. Existe na praça Rosalvo Ribeiro, o Busto contendo informações sobre esse famoso artista plástico. Esse fato é relatado pelo guia 05: Tem algumas dicas sobre a biografia do patrono daquele lugar que é o arquiteto Rosalvo Ribeiro, existe um busto [...], algumas informações de data de nascimento e falecimento, só que é muito carente na parte de biografia em si, mas não existe nenhuma informação.

A análise da segunda categoria “Legibilidade” transcorrerá sobre as subcategorias: sensação, orientação, informação e imagem mental. 4.7 Comente sobre a sensação visual que a paisagem do mirante oferece. Nesse item, foram unanimes as respostas positivas sobre a sensação boa, da parte baixa cidade de Maceió, que o visual do mirante oferece. Como podemos observar na fala do guia 03: “Pra mim é uma das mais bonitas, ter aquela vista panorâmica da parte baixa da cidade de Maceió, do porto de Maceió, [...] é uma paisagem que vale a pena ser admirado”. Ressaltada também pelo guia 06: Referente a sensação visual do mirante é uma das mais belas que nós podemos ter, uma vista esplêndida, uma paisagem aérea de Maceió em contraste do oceano com a cidade em si, moderna evoluída, então é uma visão em que o cliente não vai ter em outros locais, é única.

4.8 Comente sobre as informações que estão em placas de orientação sobre equipamento urbano. Segundo os discursos dos guias, não há informações em placas de orientação sobre o equipamento urbano e os que existem, não são visíveis ou estão defasadas. Como expressa o guia 06: “Já estão muito defasados a prefeitura poderia aperfeiçoar, melhorando esses equipamentos, por se tratar de uma cidade turística”. A posição do guia 03 sobre as informações de orientação: “[...] para as pessoas que não conhecem o mirante que nunca

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ouviram falar, fica difícil de chegar até ele, por que essas placas, elas não estão em locais de fácil acesso para as pessoas terem conhecimento desse local”. 4.9 O visitante consegue orientar-se sozinho até o mirante utilizando as placas de orientação na cidade? Na fala dos guias, sobre a orientação da cidade para visitante que viajam só, foi constatado que o visitante não conseguirá chegar ao mirante por conta própria através da placas se sinalização. A fala do guia 01 representa os demais: “Não. Não consegue de jeito nenhum, por conta justamente do fato de não ter sinalização. Você não consegue chegar no mirante sem conhecer o lugar”. 4.10 Qual a imagem mental que você formou sobre esse lugar? Foi diagnosticado que a maioria dos guias acham que o mirante passa uma imagem agradável, através da bela paisagem encontrada no local. Mas uma resposta chamou atenção sobre a imagem que a infraestrutura do mirante passa, como demonstra o discurso do guia 05: Bom, como morador, como profissional que trabalha na área, uma visão mental é que o local é ainda muito carente, em que não merece ser deixado para trás como ele é deixado em vários momentos, em que muitas pessoas não valorizam, não conhecem aquele local, o nascer do sol ali é mágico, point de alguns músicos alagoanos que vão ter inspirações, então é um local mágico é um ambiente totalmente Zen [...].

A análise da terceira categoria “Identidade” transcorrerá sobre as subcategorias: história, cultura, elementos arquitetônicos, pertencimento dos moradores, valorização do local. 4.11 Qual a relação do mirante de São Gonçalo com a história e a cultura de Maceió? No que se refere à história e a cultura de Maceió, o mirante de São Gonçalo, segundo depoimentos, tem total relação, pois, foi próximo ao local que deu início ao povoamento em Maceió, no local foi construído uma pequena capela para São Gonçalo do amarante. Essa relação está representada na fala do guia 03: A relação com a história de Maceió está ligada ao fato do mirante estar localizado numa área onde Maceió começou a se desenvolver ali perto do mirante existe a igreja de São Gonçalo, onde está guardado o primeiro padroeiro da cidade de Maceió São Gonçalo. Então essa região tem toda uma história pra ser vista pra ser vivida, e sobre a cultura está intimamente ligado a São Gonçalo [...] é carinhosamente conhecido como mirante de São Gonçalo, mas seu nome oficial é praça Rosalvo Ribeiro em homenagem ao grande artista plástico [...] de Maceió, então devido a isso ele está intimamente ligado a cultura e a história não só de Maceió como também do Estado de Alagoas.

4.12 O que os moradores de Maceió pensam sobre esse espaço? Como o utilizam? Foi notado nas respostas dos guias, sobre o que os maceioenses pensam e como utilizam o espaço, que os moradores de Maceió não o frequentam com tanta assiduidade notada por grupos de turistas, outros guias informaram que não sabiam responder sobre o assunto. Foi relatado por um dos guias que os moradores se sentem incomodados com a

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movimentação dos turistas no local e o barulho dos ônibus. Esse fato foi retratado no discurso do guia 02: “[...] eu acredito que se sintam perturbado pelo barulho do ônibus, pela quantidade de pessoas que passam aqui, não sabendo que isso traz segurança pra eles [...]”. O ponto de vista do guia 05 é que: “[...] somente uma pouca quantidade de pessoas visitam o mirante de São Gonçalo, aquelas pessoas mais aculturadas64 que querem ver um bom nascer do sol, aquelas pessoas que vão para lá para ter algumas fontes de inspirações [...]” 4.13 Como você percebe a relação das pessoas que trabalham aqui no pequeno comércio com a valorização desse lugar? No que se refere à relação das pessoas e a valorização do local, existiu um controversa no relato do guia 05: “demonstra pessoas apaixonadas pelo lugar, eu percebo o olhar deles como alguém que admira e até compreende o significado de cada pessoa que vai ali e apreciam a vista eles elogiam, incentivam as pessoas a tirar fotos”. A maioria dos guias informaram que a relação é puramente comercial. Guia 04: “Sinceramente as pessoas que trabalham ali, como ambulantes acho que eles estão mais preocupados em vender, com relação a valorização do local são poucos que estão preocupados em manter a limpeza do local”. 4.14 Em termos arquitetônicos, há elementos que identificam esse mirante? Sobre os elementos que identificam o mirante, os discursos foram bastante contraditórios, alguns relatam sobre a existência da capela de São Gonçalo com o único elemento arquitetônico, falam sobre as esculturas de inspiração grega que fazem parte da decoração do espaço e outros destacam que o local não possui nenhum elemento que represente ou identifique o local. O guia 03 relata o fato: Lá não tem nenhum elemento arquitetônico que chame a atenção, a não ser uma deusa grega que fica no centro do mirante pra enfeitar, mas, estilos arquitetônico que eu vejo ali nenhum. O único local que tem algum estilo arquitetônico é lá na igreja de São Gonçalo, em frente ao mirante.

4.15 Você percebe alguma imagem mental que os visitantes/turistas normalmente formam sobre lugar? As imagens mentais observadas pelos guias foram: sobre a paisagem do mirante, sobre o ritual do piriquiti uma semente usada para simpatia, onde os turistas ganham 5 sementes, jogam três de costas ao mirante e duas guardam na carteira para dar sorte e trazer dinheiro. O guia 05 comenta: “[...] As pessoas que já visitaram Maceió, eles jamais esquecem do mirante de São Gonçalo por que lá é feito o ritual do piriquiti [...]”. A paisagem foi citada pela maioria dos guias, demonstrada no trecho do discurso do guia 02: A imagem que eu acredito que tenha é sobre a beleza, eles levam uma boa recordação do mar de Pajuçara, a tranquilidade, a estrutura antiga de Maceió, a estrutura nova de Maceió, então eu creio que eles levam, como são comentadas as informações em nosso ônibus e sobre a beleza natural que proporciona o local.

5. SÍNTESE DA ANÁLISE INTERPRETATIVA

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O sentido dado a essa expressão, pelo informante, seria de indivíduo culto, com sensibilidade artística.

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Tendo em vista, a análise interpretativa dos discursos dos guias de turismo, objetivando identificar elementos que sinalizem expressões de hospitalidade pública presentes no mirante de São Gonçalo - Maceió/AL, sinalizamos a compreensão sobre hospitalidade como uma qualidade não apenas individual, mas também social (lugares coletivos ordenados e organizados). No que diz respeito ao item acessibilidade, as percepções dos guias de turismo entrevistados são marcadas pela ausência de elementos de acessibilidade como banheiro público, segurança, acesso a pessoas com deficiência, sinalização, assedio dos vendedores, informação; mas, por outro lado, ressaltam em termo visual, temperatura e sons como lado positivo. Associando a compreensão de que a infraestrutura e hospitalidade pública são imprescindíveis para o desenvolvimento turístico da cidade de Maceió, o mirante não apresenta desenvolvimento pertinente ao turismo, na percepção dos guias de turismo. Ao considerar o item “legibilidade” que ressalta a qualidade visual examinada por meio do estudo da imagem mental, os guias fizeram referencia como uma das mais belas e esplêndidas vistas panorâmicas da cidade de Maceió, assim como, ao contraste da paisagem urbana (a cidade) e da paisagem natural (o mar). Quanto às informações históricas e culturais sobre o mirante o sobre seu entorno houve uma pequena confusão, pois entenderam sobre sinalização turística e não sobre placas de orientação presentes no mirante. Quanto a construção de imagem que os guias possuem, alguns pontuaram sobre a presença de músicos, outros de que a comunidade local não valoriza o local, outros de que é um local de inspiração, um local mágico. A identidade urbana está ligada diretamente ao sistema de signos, memórias, costumes e emoções. A identidade cultural de uma região é ao mesmo tempo o lugar das memórias passadas de moradores, e, o futuro de memórias desejadas (Grinover, 2007). Desse modo, na percepção dos guias o mirante está ligado diretamente a história e a identidade do povo da cidade de Maceió, pois a cidade começou a se desenvolver no bairro de Jaraguá que fica próximo do bairro que o mirante fica localizado e, ainda, no mirante existe a capela de São Gonçalo que guarda o primeiro padroeiro da cidade, São Gonçalo. Quanto à presença dos moradores da cidade os guias explicam que não frequentam com tanta assiduidade, outro explica que parece que a comunidade se sente perturbada pelo barulho do ônibus, pela quantidade de turistas que passam pelo local. O comercio local constituiu-se pela presença eventual do turista no mirante, os guias ora sinalizam a paixão dos comerciantes pelo local, ora pelo olhar apenas comercial dos comerciantes. Em termos arquitetônicos a identidade cultural é percebida pelos guias unicamente pela presença da capela de São Gonçalo e ainda, eles explicam a existência de duas estátuas de deusas gregas que “enfeitam” o mirante, que em outras palavras descaracterizam o lugar. Quando questionados sobre a imagem mental dos visitantes os guias ressaltaram então sobre a beleza do contraste entre o novo e o velho, o urbano e o natural, as informações passadas e as informações percebidas as experiências vividas e as boas recordações da tranquilidade, do mar de Maceió. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A cidade, sendo considerada como espaço concebido, vivido e percebido, como foi mencionado anteriormente por Grinover, e sendo igualmente considerada como espaço para o desenvolvimento dos fenômenos “turismo” e “hospitalidade”, serviu como palco para o presente estudo ao que se refere à busca pela compreensão de expressões de hospitalidade pública presente nos discursos de guias de turismo, sobre o mirante de São Gonçalo.

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Embora tenha sido constatado através do olhar desses profissionais, que o local proporciona rica contemplação paisagística, fica evidente que a cidade necessita estruturar melhor o equipamento, oferecer sinalização e orientação turística, assim como necessita de que traduzam maior conforto e possibilite a interatividade entre os visitantes e o lugar. Ainda, fica evidente, dentro das categorias de análise estabelecidas e suas respectivas subcategorias, que são poucas as expressões de hospitalidade públicas percebidas no mirante de São Gonçalo. Essas características positivas e/ou negativas percebidas pelos guias estão ligadas, não apenas aos aspectos de acessibilidades, mas igualmente, aos aspectos da legibilidade traduzida por Grinover (2007), como o visual, como o estimulo a leitura, a percepção e a interpretação da paisagem e dos símbolos do local visitado; assim como aos aspectos de identidade, entendidos como diretamente ligada ao sistema de signos, memórias, costumes e emoções; articulam-se formando a rede complexa da hospitalidade pública, social, de lugares coletivos, ordenados, organizados e valorizados. Este estudo marca a emergência de estudos que referenciem e colaborem para o direcionamento e o ordenamento da cidade de Maceió ao que se refere a infraestrutura e ao desenvolvimento do turismo e da hospitalidade pública. Outros trabalhos fazem-se necessários para complementar os múltiplos olhares necessários a respeito da hospitalidade pública nessa cidade.

REFERENCIAS GRINOVER, Lucio. A Hospitalidade, a Cidade e o Turismo. São Paulo: Aleph, 2007. (Serie Turismo). GRINOVER, Lucio. Hospitalidade, qualidade de vida, cidadania, urbanidade: Novas e velhas categorias para a compreensão da Hospitalidade urbana. Revista Iberoamericana de Turismo – RITUR, Penedo, Vol. 3, n.1, p. 16-24, 2013. KRIPENDORFF, Jost. Sociologia do Turismo. São Paulo: Aleph, 2001. MESQUITA, Adailson P. Dos fragmentos à totalidade? Mobilidade e legibilidade urbana de Uberlândia-MG, 2008. 373p. Tese (Doutorado em Geografia), Instituto de Geografia, Universidade Federal De Uberlândia, Uberlândia, 2008. PANASSO, Netto. Filosofia do Turismo: Teoria e Epistemologia. São Paulo: Aleph, 2005. PINHO, André; et.al. Estatística e Turismo: ANÁLISE DO CONTEXTO TURÍSTICO DE BELO HORIZONTE E MINAS GERAIS. Belo Horizonte, 2008. Disponível em: < http://bhturismo.wordpress.com/2008/10/15/equipamento-de-lazer/>. Acesso em 01 abr. 2014. VASCONCELOS, Daniel Arthur Lisboa de; et. al. Maceió pela ótica de seus mirantes. Jornal Gazeta de Alagoas. Caderno Saber. Maceió, p. 4 - 5, 01 fev. 2014.

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LAZER, TURISMO E ACESSIBILIDADE: UMA ANALISE SOBRE O PROJETO PRAIA SEM BARREIRAS OLINDA/PE Polyne Marcela Pereira de Lima65 Roselle Maria Oliveira de Santana66 RESUMO O lazer é um direito de todos os cidadãos, é um dos fatores essenciais para a promoção da qualidade de vida das pessoas, inclusive pessoas com deficiência. As formas de lazer adaptadas para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida são de fundamental importância para a inclusão social. A acessibilidade se faz necessária e presente na sociedade. Surgem neste contexto muitos projetos e campanhas de conscientização, no intuito de minimizar as barreiras existentes para este público. Contudo, o presente artigo tem como objetivo analisar o projeto Praia Sem Barreiras na orla de Olinda/PE, identificando as atividades desenvolvidas, a qualificação dos profissionais envolvidos e a opinião dos usuários sobre o projeto. O trabalho utilizou-se de uma metodologia qualitativa, com pesquisas bibliográficas e de campo. O mesmo traz como referencial as concepções de autores como Dumazedier, Marcellino e Raulito Filho. São projetos como este que visam contribuir para uma melhor qualidade de vida da população local, sem exclusão e com melhor recepção ao visitante, deixando as vias urbanas e opções de lazer mais adequadas para atender as necessidades de todos. Palavras-chaves: Acessibilidade; Lazer; Turismo.

INTRODUÇÃO A acessibilidade é um fator que melhora a qualidade de vida das pessoas de uma determinada região e que vem promovendo ao longo dos anos a inclusão social das pessoas, não falando apenas em relação à escola ou trabalho, mas de maneira especial nos espaços de lazer. O poder público tem buscado a melhoria desses espaços adequando-se a necessidade do público com deficiência, proporcionado assim, um aumento na demanda turística de uma localidade. Pernambuco é um estado que está buscando derrubar as barreiras da inclusão social, fazendo mais por aqueles que ainda são muito excluídos: as pessoas com deficiência. Com o despertar da sociedade diante dos problemas enfrentados por esse grupo de pessoas, pode ser visto cada vez mais praças, ruas, hotéis, estabelecimentos comerciais adaptados para esse público. Um dos mais novos projetos para acessibilidade no estado foi à criação do projeto Praia Sem Barreiras, projeto realizado pelo SETUR-PE (Secretaria de Turismo de Pernambuco) que foi lançado primeiro em Fernando de Noronha no dia 31 de Janeiro de 2013, logo depois veio à orla de Boa Viagem no Recife, o terceiro ponto beneficiado foi Porto de Galinhas, e recentemente foi implantado em Olinda, no dia 21 de agosto também de 2013. Esse projeto tem como objetivo transformar as praias da orla pernambucana em 65

LIMA, Polyne Marcela Pereira de, Graduando em Turismo, pela Faculdade Joaquim Nabuco – Recife/PE. Email: [email protected] 66 SANTANA, Roselle Maria Oliveira de, Graduando em Turismo, pela Faculdade Joaquim Nabuco – Recife/PE. Email: [email protected]

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espaços de lazer e de inclusão social, realizando atividades com segurança voltadas para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Buscando aprofundar um pouco mais sobre as melhorias nas cidades para um lazer acessível, um lazer de interação entre comunidade e município, foi utilizado como objeto de estudo o município mais recente a receber o projeto Praia Sem Barreiras, a praia do Bairro Novo em Olinda. Através da pesquisa foi analisada a opinião pública e dos organizadores a respeito do mesmo, o que é preciso melhorar, se os agentes envolvidos estão devidamente qualificados, se a acessibilidade está sendo bem implantada no local e principalmente se o projeto está quebrando o paradigma de que pessoas com deficiência têm limitações para usufruir do lazer e ter qualidade de vida. O tema foi escolhido acreditando que as relações sociais sempre serão importantes, que as pessoas devem ser respeitadas e ouvidas sem distinções de raça, credo, gênero ou cor e que há a necessidade de um planejamento contínuo a respeito do assunto para que desta forma possa obter resultados positivos. A busca por um lazer acessível é grande, as melhorias são visíveis. Porém ainda falta mais comprometimento e conscientização de todos em relação ao assunto. As empresas privadas estão se atualizando, procurando um padrão mais adequado que beneficiem aos portadores de deficiência e que possa inseri-los em seu quadro empregatício, dessa forma ajudando a movimentar a economia local, gerando uma renda fixa aos mesmos, pois as pessoas tendo mais oportunidades para sair de casa, geram mais lucros para a localidade, beneficiando ambos os lados. A metodologia utilizada para desenvolver este trabalho foi a pesquisa de campo, bibliográficas e entrevistas, tendo como objetivo analisar a real situação do Projeto Praia sem Barreiras em Olinda e se suas ações estão sendo implantadas da forma como condiz o projeto, além de identificar se a comunidade local está usufruindo deste produto.

REFERENCIAL TEORICO Introdução ao Lazer Os registros sobre tempo livre e interação social são bem antigos, tendo em vista que mesmo sem a nomenclatura de “LAZER” as sociedades da época já praticavam alguma atividade com relação ao que se entendia dessa modalidade. Para Aristóteles o ócio era uma condição ou estado (estado de estar livre da necessidade de trabalhar). Foi na Grécia que surgiu o termo SKHOLÉ, termo que significa “um tempo dedicado a si mesmo”. A elite era quem tinha poder de desfrutar desse ócio, enquanto se utilizavam de escravos para fazerem seus trabalhos e usavam seu tempo livre para assistir jogos olímpicos ou seguir por peregrinações religiosas. Já em Roma, houve a criação da política de “Pão e Circo” como opção de lazer pra população, que iria às arenas assistirem escravos lutando pela sobrevivência. Em 1973, o sociólogo Joffre Dumazedier, trás uma das definições sobre o que é lazer quando ele diz: Lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se, entreterse ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 1973, p. 34).

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Vivemos em uma sociedade onde se pensa muito em trabalho, onde a hora que um cidadão teria livre para praticar o lazer é substituída por outros afazeres. Exemplo disso são mães que trabalham fora e não tem onde deixar seus filhos, e por isso procuram escolas com tempo integral para as crianças. Para um lazer acessível ainda precisamos quebrar muitas barreiras. Segundo Marcelino A classe social, o nível de instrução, a faixa etária, o sexo, entre outros fatores, limitam o lazer a uma minoria da população, principalmente se consideramos a frequência na prática e sua qualidade; são indicadores indesejáveis e necessitam ser atacados por uma política que objetive a democratização cultural. (MARCELINO, 2000)

Mas afinal, como tornar o lazer acessível a todos?

Lazer e Acessibilidade Dentre todo público de pessoas que estão na busca de mais opções de lazer, se destaca o grupo com pessoas especiais, o que nos leva há discutir um pouco sobre acessibilidade. O conceito de acessibilidade é mais recente, ao longo dos anos a sociedade vem percebendo a importância da inclusão social para pessoas portadoras de deficiências ou com necessidades especiais. Em 1975, surge a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência: “As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, tem os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade” (ONU. 1975). Após isso começaram as propagandas e debates voltados para a questão de descriminação por ser deficiente, e falta de acessibilidade e opções de lazer para o público. O decreto nº 5.296 de 2 de Dezembro de 2004 disse que: Acessibilidade são as condições e possibilidades de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de edificações públicas, privadas e particulares, seus espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, proporcionando a maior independência possível e dando ao cidadão deficiente ou àqueles com dificuldade de locomoção, o direito de ir e vir a todos os lugares que necessitar, seja no trabalho, estudo ou lazer, o que ajudará e levará à reinserção na sociedade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, “deficiência é o substantivo atribuído a toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica”. Refere-se, portanto, à biologia do ser humano. A expressão “pessoa com deficiência” pode ser atribuída a pessoas portadoras de qualquer tipo(s) de deficiência. Porém, em termos legais, esta mesma expressão é aplicada de um modo mais restrito e refere-se a pessoas que se encontram sob o amparo de determinada legislação. É designado “deficiente” todo aquele que tem um ou mais problemas de funcionamento ou falta de parte anatômica, embargando com isto dificuldades a vários níveis: de locomoção, percepção, pensamento ou relação social. Até bem recentemente, o termo “deficiente” era vulgarmente aplicado a pessoas portadoras de deficiência(s). Porém, esta expressão embarga consigo uma forte carga negativa depreciativa da pessoa, pelo que foi, ao longo dos anos, cada vez mais rejeitada pelos especialistas da área e, em especial, pelos próprios portadores. Atualmente, a palavra é

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considerada como inadequada e estimuladora do preconceito a respeito do valor integral da pessoa. Deste modo, a substitui-la surge à expressão: “pessoa especial”. No Brasil, 14,5% da população apresenta alguma deficiência, mas a falta de planejamento adequado para o público de deficientes ainda é grande. O transporte público que facilita a locomoção não é respeitada pelos próprios cidadãos que utilizam. Observa-se todos os dias pessoas que sentam nas vagas especiais ou que ficam em pé, na escada que é própria para o transporte do cadeirante. A falta de inclusão dos deficientes ainda é vista como um tabu. Ora, se a população não se acha no dever de respeitar os espaços destinados aos deficientes, como se pode dizer que as leis criadas em prol do deficiente são bem empregadas? A ignorância em relação a como lidar com pessoas especiais é real, a exclusão é um fato ocorrido no cotidiano de todos, mais nem por isso se deve acomodar ao que necessariamente é estipulado; as leis são criadas para serem seguidas e acatadas, lazer é um direito de todos. Portanto o direito de todos acaba quando o do outro não é respeitado. Acessibilidade foi e ainda é tema de muitos debates incluindo as áreas do turismo e do lazer, já que esses dois pontos são umas das prioridades do público com deficiência. A falta de infraestrutura e da população não preparada para lidar com essas pessoas são as principais barreiras no Brasil. O cume de Machu Picchu no Peru é adaptado até para tetraplégicos, na Grécia os deficientes podem usar uma cadeira adaptada e irem ao mar sozinho, enquanto no Brasil, os poucos locais destinados ao público não é respeitado (rampas, estacionamento, etc.), a partir daí, percebemos que essas barreiras não é só uma questão de investimentos (ou falta deles) por parte das vias públicas, mas também de conscientização pessoal.

Lazer e Turismo Lazer e turismo são duas atividades que surgem na sociedade pós-industrial, que servem para auxiliar no bem estar das pessoas, mas possuem características diferentes. O lazer é um tempo livre em que o indivíduo escolhe o que fazer, e muitas vezes nem precisa se deslocar da própria residência para praticá-lo. Já o turismo é uma das opções do que fazer no tempo livre, é uma opção do lazer. De acordo com Dumazedier (1994) “O turismo é um fenômeno histórico sem precedentes, na sua extensão e no seu sentido, é uma das invenções mais espetaculares do lazer da sociedade moderna”. Os avanços nos meios de transporte, meios de hospedagem e a modernização dos espaços para lazer, história, cultura, gastronomia regional, são alguns dos motivos que movem pessoas todos os dias a saírem do seu local de origem para conhecer novos lugares. Segundo Krippendorf : Nos nossos dias, a necessidade de viajar é sobretudo criada pela sociedade e marcada pelo cotidiano. As pessoas viajam porque já não se sentem à vontade onde se encontram, seja nos locais de trabalho, seja onde moram (KRIPPENDORF, 2000).

Ou seja, cada vez mais as pessoas estão com necessidade de viajar, de aprender sobre novas culturas e descansarem das rotinas. Para que isso continue a ser um fator importante para a economia das cidades, os equipamentos de lazer tem que estar em constante adaptação às novas tendências e as necessidades do público. Pernambuco por exemplo, é um dos estados que mais tem se expandido em opções de lazer e entretenimento, tanto para a comunidade local quanto para turistas. Atualmente, é possível ver vários projetos realizados pela prefeitura do estado que mobilizam os moradores

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dos bairros ao redor do centro da cidade, a saírem de suas residências para desenvolverem atividades nas ruas de maneira gratuita. Um dos projetos de mais destaque no momento é o Recife Antigo de Coração, que acontece todo último domingo do mês no Bairro do Recife, e que dispõe de várias atividades para diferentes públicos em vários pontos do local como a ciclofaixa, shows de bandas regionais na praça do marco zero, polo infantil com brincadeiras e diversão para as crianças e etc, atingindo tanto a comunidade local como aos turistas que visitam a cidade. O lazer e o turismo são importantes para o bem estar de todos e são fatores indispensáveis para a formação humana, um beneficiando o outro. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO O Praia Sem Barreiras é um projeto do SETUR (Secretaria de Turismo de Pernambuco), que veio trazer mais uma opção de lazer e entretenimento ao público com deficiência, mas, também desenvolve atividades com idoso, crianças e pessoas com mobilidade reduzida. Por questões de infraestrutura e planejamento local, o projeto foi inicialmente implantado em Fernando de Noronha, no dia 31 de Janeiro na praia do Sueste, logo em seguida no dia 17 de Março, o projeto chegou em Recife, na praia de Boa Viagem, a terceira praia a receber o projeto foi a de Porto de Galinhas no dia 05 de Maio, e a praia mais recente a recebe-lo é a que estamos avaliando, a praia de Bairro Novo em Olinda, onde o projeto foi implantado no dia 21 de Agosto 2013, que também foi o 1º dia da Semana Estadual da Pessoa com Deficiência. O projeto é realizado todas sextas, sábados e domingos, sempre nos horários das 08:00h às 12:00h, e conta com a presença do coordenador geral do projeto (Geziel) – que também trabalha na Secretaria de Recursos Humanos da Prefeitura de Olinda, a coordenadora da equipe da UNINASSAU (Centro Universitário Mauricio de Nassau), que realizam as atividades com os deficientes e os voluntários que participam do projeto. Esses voluntários são estudantes da UNINASSAU, dos cursos de Educação Física, Enfermagem, Engenharia, Fisioterapia e Turismo, onde para participar do projeto eles passam por uma capacitação de no mínimo 2 dias para saber como lidar com o público que o projeto atende, e desenvolvem todas as atividades, desde a abordagem na chegada até a hora de voltar ao transporte, sendo de costume entre 10 e 12 voluntários por dia de projeto. Em Olinda o projeto fica montado bem de frente para a Praça Duque de Caxias, e conta para execução das atividades com uma grande tenda, onde os pais ou responsáveis pelo deficiente podem ficar e ter um acompanhamento mais de perto das atividades, além de ajudar na visibilidade daqueles que não conhecem ainda o projeto. Também possuem 2 piscinas, para aqueles que não podem ir ao mar (preferencialmente para as crianças), poderem desfrutar do ambiente de modo a serem bem cuidados e se sentirem como se estivessem no mar. O projeto ainda tem 4 cadeiras anfíbias, o que permite ao deficiente ir tomar banho no mar, sempre acompanhado dos voluntários que dão todo apoio e segurança e com uma rota acessível que vai desde a parada de ônibus até a praia que possui rampas em todo seu acesso. Para a locomoção dos portadores de deficiência, há uma parceria com o Programa Pernambuco Conduz, que é um serviço do Governo do Estado de Pernambuco, voltados pra pessoas com alto grau de deficiência que não possuem condições de se locomover com outras vias de transporte, onde basta fazer o cadastro no site do PE Conduz, e o usuário poderá utilizar dos seus serviços. Os usuários do projeto Praia sem Barreiras passam por um cadastramento feito na hora em que começam a usufruir das atividades na praia e ficam sendo acompanhados durante as programações, além de também contribuírem com o projeto dando sugestões de melhorias.

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APRESENTAÇÃO E ANALISE DOS DADOS DA PESQUISA Para entender melhor sobre o projeto, foram levantados os seguintes pontos: - Localização - Atividades e Serviços Prestados - Equipamentos Disponíveis - Equipe Atuante no Projeto - Divulgação - Participação e Opinião dos Usuários Localização Em Olinda, mais precisamente na praia de Bairro Novo. O projeto acontece em frente à Praça Duque de Caxias, um ponto estratégico, pois desde a parada de ônibus até a praia o deficiente tem uma calçada adequada com acesso para atravessar a avenida e chegar à rampa do projeto.

Atividades e Serviços Prestados O projeto desenvolve o banho assistido, utilizando as cadeiras anfíbias que levam o usuário até o mar. Como algumas crianças não podem ir, os voluntários realizam atividades em duas piscinas montadas ao lado da tenda dando assim a oportunidade de um banho divertido e seguro. Diferente dos outros locais que tem o projeto há mais tempo, em Olinda, até o momento o banho assistido é a única atividade realizada, enquanto em Recife, por exemplo, os usuários dispõem de atividades esportivas como vôlei sentado também tenda de fisioterapia e enfermagem. Porém, Olinda tem como vantagem o mar por ser uma praia onde geralmente não se há problemas com a dinâmica de ondas. Atividades e Serviços Prestados. Fonte: As autoras, 2013.

Equipamentos Disponíveis

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Ao chegar ao local, o usuário conta com uma rota acessível que possui rampas, piso tátil de alerta e faixa de pedestres, um banheiro adaptado, localizado no quiosque próximo ao espaço, e um telefone para surdos. Também possui uma esteira de acessibilidade de 50 metros de comprimento, quatro cadeiras anfíbias e duas piscinas plásticas para as crianças. Atualmente, das quatro cadeiras, apenas uma está sendo utilizada, pois as outras não estão em bom estado, estando em manutenção várias vezes ao dia. Em conversa com o Coordenador do Projeto, ele afirmou que o motivo dessa deficiência com as cadeiras se deve ao fato que as cadeiras utilizadas em Recife, começaram a aparecer defeitos, e com isso, as cadeiras destinadas ao projeto em Olinda foram relocadas para Boa Viagem, o que esta prejudicando o bom andamento do projeto, especialmente nos dias de sábado e domingo, que é quando o mesmo tem sua maior demanda.

Equipamentos Disponíveis. Fonte: As autoras, 2013.

Equipe Atuante (Voluntários do Projeto) O Praia Sem Barreiras tem parceria com a Uninassau (Centro Universitário Maurício de Nassau), que conta com a ajuda de alunos voluntários dos cursos de Educação Física, Enfermagem, Engenharia, Fisioterapia e Turismo para desenvolver as atividades em Olinda. Atualmente o projeto conta com 12 voluntários, um número muito maior que a praia de Porto de Galinhas, e que não são subdivididos em atividades específicas – há interação de todos em todas as atividades - e que de acordo com a coordenadora da equipe, consegue atender a demanda que a praia recebe. Esses voluntários passam por uma capacitação de no mínimo 2 dias, ou dependendo da necessidade, no mesmo dia em que for ao projeto, eles tem aulas de como lidar com os usuários, entender os objetivos do projeto e fazer o acompanhamento total desses usuários o tempo em que eles permanecerem no local, isto inclui fazer um breve cadastro dessas pessoas que estão lá para melhor controle do projeto.

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Equipe Atuante. Fonte: As autoras, 2013.

Divulgação A divulgação do projeto é o ponto de maior falha encontrado nesta pesquisa. Durante todo o percurso até chegar ao destino, só foi encontrada uma indicação do projeto, que fica exatamente na parada de ônibus da Praça Duque de Caxias. Em conversa com o coordenador do projeto, ele afirma que a população local desconhece o projeto, que já viu muitas vezes as pessoas ficarem se questionando sobre a tenda e toda a parafernália que é montada na praia e já ouviu várias vezes pessoas perguntarem se é algo pago, quanto custa para usar os serviços e, afirma que o intuito do projeto é despertar o interesse do deficiente em sair de casa e ser mais uma opção de lazer acessível gratuita muito mais para a comunidade local que para o turista, mas que por conta do marketing “Turismo Acessível”, a demanda turística é maior que a local. O coordenador ainda diz que deveria ter uma maior divulgação para que a comunidade saia de suas casas para aproveitar mais do projeto, pois a maioria dos usuários são pessoas que já utilizam o projeto há algum tempo. Ele também conta que a Prefeitura tem o intuito de expandir o projeto para toda a orla de Olinda e que já está sendo realizado estudos da água das praias de Pau Amarelo até Maria Farinha para poder ver o ponto adequado para a realização do projeto nesta área.

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Divulgação. Fonte: As autoras,2013.

Participação e Opinião dos Usuários Como já citado a cima, os usuários são em maioria, aqueles que já têm conhecimento do projeto há algum tempo, e que sempre estão o usufruindo nos fins de semana. Em conversa com a mãe de uma usuária, ela nos conta que sempre leva à criança ao local, pois a mesma gosta muito de estar no ambiente e que se sente segura no projeto. Afirma também que gosta do modo como os voluntários atuam e dos equipamentos disponíveis, de modo a quase todos os fins de semana comparece com a criança para as atividades. Quando questionada sobre o que ela achava do projeto, ela informou que acha muito bom pois é uma opção a mais de lazer, além de ser muito gratificante ver a satisfação em que sua filha fica em pode ir a praia. CONSIDERAÇÕES E PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Como resultados da análise, se obteve as seguintes conclusões: a) O projeto teve como base de influência um projeto realizado no Canadá, com esse mesmo intuito de dar oportunidades de lazer acessível à todos; b) O Praia Sem Barreiras não possui divulgação adequada, causando assim um restritamente por parte do público alvo; c) O projeto está recebendo menos investimentos em Olinda, diferente dos outros locais que possuem o projeto há mais tempo; d) Os equipamentos novos destinados a Olinda foram trocados pelos antigos usados em Recife; e) O banho assistido é a única opção de atividades realizada no local, não há diversificação de atividades; f) Os voluntários são apenas estudantes UNINASSAU; O projeto foi uma ideia trazida por um dos funcionários que trabalha na Prefeitura de Olinda, e que está dando muito certo, e a tendência é expandir cada vez mais. Mesmo sendo uma ideia genial, o projeto tem como sua maior barreira a divulgação. Através de pesquisa realizada com a mãe de uma das usuárias, ela afirma que já faz parte do CERVAC (Centro

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de Revitalização e Valorização da Criança), e que viu apenas um anúncio na televisão, e procurou saber mais no local. Como dito antes, no percurso ao projeto há apenas 1 ponto de divulgação. O poder público deve promover mais ações publicitárias, em televisão, ônibus, rádios, panfletos, internet e qualquer outra via de comunicação para que a comunidade local tenha conhecimento do que está acontecendo nas orlas, e saíam de suas casas para aproveitarem esta opção de lazer. Tanto em questão de equipamentos quanto atividades, os investimentos em Olinda estão em processo mais lento, deveria ser criado arranjos produtivos para promover cada vez mais o projeto na cidade. Unir poder público e iniciativa privada para alavancar o fluxo de usuários nos dias do projeto. Isso é bem visto, com as trocas das cadeiras novas, pelas cadeiras em más condições do Recife, por tanto se espera que as cadeiras estejam em ótimo estado e em maior quantidade, para que mais usuários possam desfrutar do banho assistido. Por hora, o banho assistido é apenas a única atividade realizada no projeto em Bairro Novo. Uma ideia para melhorar este quadro seria desenvolver campeonatos de esportes para pessoas portadoras de necessidades especiais, que também interagissem com as pessoas que estivessem no local, destacando a importância da inclusão social e por consequência aumentando a divulgação do projeto. Elaborar gincanas que abordassem outros temas como reciclagem, que estimulassem aos usuários além de bem estar, despertar consciência ambiental. Para promover tudo isto, será preciso uma equipe maior; podendo assim aumentar as parcerias com outras faculdades, oferecendo esta oportunidade de ser voluntário em um projeto que está em crescente desenvolvimento. Outro ponto de destaque, é que esses voluntários não possuem remuneração alguma, o que acaba acarretando na falta de compromisso por parte de alguns deles. O próprio coordenador do projeto concorda que esses voluntários deveriam receber alguma ajuda de custo por estarem participando do mesmo. Concluindo assim, que o Projeto Praia Sem Barreiras em Olinda, ainda tem algumas barreiras para quebrar, o que não se pode é deixar de investir, planejar e monitorar o andamento das atividades, buscando sempre as melhorias necessárias de modo a alavancar a demanda no local e mostrar que é possível expandir o projeto por toda a orla pernambucana.

REFERÊNCIAS FILHO,Raulito Ramos. Reflexões sobre o tempo livre, o lazer e o antilazer, Disponível em: < http://www.partes.com.br/ed48/turismo2.asp>, acessado em: 24 nov. de 2013 DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e Cultura Popular. Trad. port. São Paulo, Perspectiva, 1973. MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: uma introdução. 2. ed., ampl. Campinas, SP: Autores Associados, 2000. Secretaria dos Direito da Pessoa com Deficiência. Plano Estadual de Ação Para a Garantia de Direitos das Pessoas Com Deficiência, Disponível em: , acessado em 15 set. de 2013. Escola Secundária Alves Martins. Necessidades Educativas Essenciais, Disponível em:

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< http://www.esec-alves-martins.rcts.pt/nee/nee-apoios.html>, acessado em: 15 set. de 2013. Escola Inclusiva. Um Olhar sobre o Assunto, Disponível em: < http://umolharsobreoautismo.blogspot.com.br/2009/01/escola-inclusiva.html>, acessado em: 15 set. de 2013. Governo do Estado de Pernambuco. Projeto Praia Sem Barreiras Chega à cidade de Olinda, Disponível em: , acessado em: 15 set. de 2013. FLOREZ, Julia, O Papel do Turismo na Sociedade Atual, Disponível em: Acessado em: 14 de Abr. 2014. FRANZINI, Rachel O Turismo Como Opção de Lazer, Disponível em: Acessado em: 14 de Abr. 2014 apud DUMAZEDIER, 1994, p. 38. FRANZINI, Rachel O Turismo Como Opção de Lazer, Disponível em: Acessado em: 14 de Abr. 2014 apud KRIPPENDORF, 2000, p. 14.

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MERCADO DAS TULHAS: UM ESTUDO TURÍSTICO-ANTROPOLÓGICO CONTEMPORÂNEO SOBRE PROJETOS SALUTARES NA PRAIA GRANDE Lucyana da Silva Rocha67 Tamires de Souza Moura68 Ludmilla Silveira de Jesus69 Agda Matias da Costa70 Profª Drª Conceição Belfort Carvalho71 RESUMO Estudo sobre o Mercado ou Casa das Tulhas, também conhecido como Feira ou Mercado da Praia Grande apresentando seus diferentes aspectos e singularidades presentes na sua história, importância, tradições e elementos únicos, numa visão turístico-antropológica sobre projetos salutares concretizados no local para conservação de um espaço refletor de cultura e símbolos turísticos maranhenses. Objetiva discorrer sobre o espaço Feira da Praia Grande cuja mercadologia perpassa aspectos econômicos, históricos e sociais tido como um produto do Turismo de São Luís com singularidade de seus produtos comercializados, importância e significado dentro do contexto que assegura o título de Patrimônio da Humanidade, sendo parte desse arsenal histórico presente na cidade de São Luís. A pesquisa utiliza estudo de caso como uma metodologia de investigação com abordagem qualitativa, sobre o objeto estudado “Mercado das Tulhas”, respaldado em literaturas científicas somadas a entrevistas e visitações ao local investigado. Esse estudo alcança sua proposta quando consegue abordar um símbolo de identidade cultural de um povo como um fenômeno contemporâneo de espaço histórico e mercadológico literalmente nos contextos do Turismo e da Antropologia visualizados na vivência cotidiana real e interativa com a localidade. Palavras-chave: Mercado das Tulhas. Símbolo Cultural. Turismo. Antropologia. Estudo.

1 INTRODUÇÃO Utilizando como objeto de estudo o mercado da Praia Grande também conhecida como Casa das Tulhas, este trabalho apresenta diferentes aspectos e singularidades presente na Feira abordando sua história, importância, tradições e elementos que compões o mercado A história do Mercado da Praia Grande se confunde com a de São Luís, haja vista, este que hoje é um grande ponto de encontro dos ludovicenses e também grande local de visitação dos turistas, fora no passado o Centro Comercial do Maranhão. A Feira da Praia Grande, também conhecida como Casa das Tulhas, teve as suas primeiras construções em meados do século XVIII, com o intuito de funcionar como um celeiro, onde os comerciantes pudessem estocar suas mercadorias. Anos depois foram feitos novas edificações, até chegar às construções atuais, sendo que houve muitos conflitos sociais e políticos. Atualmente a Feira comercializa doces, licores, tiquiras, cachaça, farinha, peixe

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Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão, [email protected]. Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão, [email protected]. 69 Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão, [email protected]. 70 Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão, [email protected]. 71 Orientadora/Professora Dr.ª do Departamento de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão. [email protected]. 68

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seco, artesanatos locais, camarão, enfim, inúmeros utensílios que fazem parte da cultura maranhense. A Feira da Praia Grande desempenha um papel fundamental para a história do Maranhão, pois além de sua história estar ligada diretamente a expansão comercial maranhense, o espaço reflete a cultura e certos aspectos maranhenses. Contribui ainda com o turismo de São Luís, pois mostra a singularidade da localidade através de seus produtos comercializados, possui também sua importância e significado dentro deste contexto que nos assegura o título de Patrimônio da Humanidade como parte desse arsenal histórico presente na cidade de São Luís

2 MERCADO DAS TULHAS Para discorrer sobre o Mercado das Tulhas tem-se a necessidade de entendimento a cerca do termo “Mercado” para que haja melhor amplitude de compreensão dos caracteres que envolvem o termo a fim de contextualizar com o patamar de Patrimônio cultural dedicado a Casa ou Mercado das Tulhas. Nesse sentido, Mercado encontra-se como “[...] um resultado da oferta e procura de bens, quando um produto possui oferta e procura, geralmente se considera que existe mercado para o mesmo [...]” (REBOUÇAS, 2008). E, em uma de suas várias definições, torna-se um agente facilitador entre vendedor e comprador na troca de bens de valores fomentados pela lei da oferta e da procura; ou uma ação mercadológica. Como exemplo e foco do trabalho se dará ênfase ao Mercado das Tulhas, também conhecido por Feira ou Casa das Tulhas, ou ainda, Feira da Praia Grande.72 O mercado das Tulhas também conhecida como Casa das Tulhas ou Feira da Praia Grande, teve sua construção por meados do século XVIII. Localizado no Centro Histórico da cidade de São Luís, no Maranhão, o mercado pode ser visto e freqüentado por moradores e visitantes de todas as partes do país e do mundo. Com uma forma retangular o espaço se define por um quarteirão com quatro portões que dão acesso ao interior da Feira enchendo os olhos de todos os frequentadores com suas iguarias, aromas e sabores da terra, sua área externa é possuidora de lojas comerciais que comercializam produtos típicos da cidade e região. Símbolo histórico de uma época em que a cidade e o estado viviam um grande crescimento econômico, o Mercado tornou-se uma atração e referência para turistas, moradores e trabalhadores da área, como uma lenda viva da herança histórica e cultural presente nos dias atuais. Por estar o Mercado das Tulhas no Centro Histórico da cidade que reúne mais de 3,5 mil prédios que foi tombado como Patrimônio Histórico-Cultural e Material da Humanidade ou Patrimônio Mundial, em 1997, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), integrante de um grande conjunto arquitetônico com casarões, sobrados, praças, escadarias e igrejas, destacados pelos seus desenhos, azulejos e detalhes em suas estruturas físicas que retratam lembranças da sociedade ludovicense (costumes, tradições, folclore, crenças) em determinadas épocas, resulta em ser considerado Patrimônio Cultural. Nesse contexto, a afirmação seguinte detalha claramente algumas características do Centro Histórico: O Centro Histórico de São Luís reúne em torno de 4 mil edificações tombadas pela União e mantém intacto o traçado urbano dos séculos XVIII e XIX. O Centro Histórico mantém preservado o casario colonial, construído pelos portugueses nos séculos XVIII e XIX, casarios estes que possuem peculiaridades como as fachadas 72

Local do centro histórico de São Luís/MA próximo à Beira-mar.

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revestidas em azulejos. O plano de urbanização foi feito por Frias de Mesquita, se caracterizando pela regularidade geométrica, talvez o primeiro realizado no Brasil. (CARVALHO, 2011)

O Mercado das Tulhas, portanto, encaixa-se na definição atribuída pela UNESCO73 (2012) de patrimônio cultural material ou mundial que se compõe por monumentos, casarões, praças, igrejas, grupos de edifícios ou sítios que tenham um excepcional e universal valor seja histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. 2.1 História do Mercado das Tulhas A história da Feira da Praia Grande está ligada diretamente à expansão comercial maranhense. Então, com criação da Companhia de Comércio, do Grão-Pará e Maranhão, houve uma mudança da situação econômica do Estado, que tinha uma economia amparada na exploração de alguns produtos para a subsistência, cuja produção “era suficiente apenas para o consumo interno”, passou a fazer parte do comercio mundial com a produção de arroz e algodão. Nessa época, eram raros os navios que vinham a São Luís, entretanto, depois da criação da Cia de Comercio do Grão-Pará e Maranhão foi possível a mudança do cenário urbano de São Luís, que antes era marcado por miséria e passou a ter construção de belos casarões. Segundo Cesar Marques (2006), “até o final do século XVIII, a maioria das casas eram precárias, e construídas de taipa e palha, passaram a ser substituídas pelos belos casarões [...] São Luís era a 4ª Cidade mais rica e sucedida no Brasil” (CAFETEIRA,1970). Essa expansão comercial possibilitou aos ludovicenses a construção do maior conjunto arquitetônico de origem européia na América Latina. Atualmente, a cidade de São Luís possui o título de Patrimônio Cultural da Humanidade tombado desde 1997. O Patrimônio Cultural é considerado, atualmente, um conjunto de bens materiais, que foram legados pelos nossos antepassados e que, em sua perspectiva de sustentabilidade, deverão ser transmitidos aos nossos descendentes, acrescidos de novos conteúdos e de novos significados, os quais, provavelmente, deverão sofrer novas interpretações de acordo com novas realidades socioculturais (DIAS, 2006, p.67)

O bairro comercial de São Luís, como em todas as cidades, surgiu no porto, na Praia Grande, assim chamado em contraposição à que lhe seguia pelo lado direito - a Praia Pequena - que desdobrava em duas outras, denominadas Trindade e Santo Antônio. A princípio era um bairro acanhado e pobre, onde despontavam grandes olhos d'água e frondosos juçarais e vivia constantemente encharcado das enxurradas que recebia do outeiro. Apesar do avanço que o Estado teve com a Companhia do Comércio do Grão-Pará e Maranhão, a cidade não tinha um lugar para comercializar e estocar as mercadorias que vinham do interior ou de outros Estados e Países, nem um porto que facilitasse o desembarque de mercadoria. Até a quarta parte do século XIX, a área da praia grande era um lodaçal, a água invadia, desde a rampa do palácio até a rua da estrela, onde se encontrava a alfândega e o arsenal da marinha [...] as embarcações atracavam na ponte da alfândega, mas quando a maré estava vazando, o desembarque era feito nas costas de escravos ou em ombros de marinheiro, sendo que essa lama impedia a locomoção, que resultava na perda de mercadoria, e nos altos preços. (MEIRELES, 1979)

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Trecho baseado no conceito do site da Representação da UNESCO no Brasil. Disponível em: < http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/cultural-heritage/>. Acesso em 08 out. 2012.

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As primeiras notícias que se tem sobre a transformação da área de lamaçal em cais e praça são de 1780, a partir de um ofício vindo de Lisboa ao governador e capitão-general do Maranhão pedindo que fosse enviada a planta da obra, que se pretendia fazer dando-se terrenos para se edificar. Mas, o Governador fez muitas exigências, no qual queria que as obras fossem feitas em um ano, mas as obras acabaram não sendo feitas de imediato. Mas nada foi feito no decorrer de 4 anos porque o Governador Teles da Silva (1784-1787), não concedeu chão; como pediu a corte. Ele impôs a condição de que a obra teria que ser edificada no prazo de um ano [...] Em 1805, na gestão de D. Antonio Saldanha de Gama (1804-1806), foi construindo no terreno lodaçal uma praça, um cais de sustentação, e barracas onde seriam vendidos diversos produtos (MEIRELES, TEIXEIRA, 1979)

A Praia Grande adquire, sem dúvida alguma, um marco considerável na história econômica do Maranhão. Foi o grande centro comercial dos primórdios dos Séculos XVIII e XIX. Ali, por obrigação natural - por estar próxima ao mar, foi o ponto de carga, descarga do fluxo mercadológico (importação e exportação) a nível estadual, nacional e internacional. A primeira construção no local onde está a Feira da Praia Grande foi uma praça, cercada de barracas feitas de paus, que vendiam diversos gêneros alimentícios. Mas era tudo improvisado e sem estrutura, o que facilitava constantes desavenças, entre os comerciantes e moradores. Apenas em 1805 houve uma construção oficial, mas essa construção não abrangia toda a área onde atualmente está localizada a Feira da Praia Grande. Atraídos por essa intensa atividade comercial do local, várias firmas estabeleceramse entorno dessa localidade. A maioria das propriedades era de portugueses e, como o porto configurava-se como a única via de escoamento, os comerciantes monopolizavam os preços dos produtos, cobrando o que lhes convinha. Com essa conjuntura foi estabelecida juntamente com o grande comércio agro-exportador, o chamado “Terreiro Público”. (REIS, 1982, p. 29). A construção desse Terreiro Público destacou-se devido a duas questões que se figuravam naquela época e que devem ser ressaltadas, era o fato dos produtos que abasteciam a cidade chegarem por via marítima e, geralmente devido à demora, se deteriorarem ou terem seus preços inflacionados pelos intermediários, havendo assim diminuição dos preços dos gêneros alimentícios e possibilidade de comercialização dos produtos regionais dos lavradores, que davam suporte à grande economia mercantil da época. Com o aterramento e conclusão dos três quarteirões de barracas, dava-se por concluído o Terreiro Público. Antes mesmo de terminar todos os quarteirões, após a conclusão do segundo quarteirão de barracas do terreiro, havia iniciado a comercialização dos gêneros de primeira necessidade ao público. As posturas municipais regulamentavam esse comércio através de algumas medidas, como: horário de funcionamento (desde o principio do dia até a hora da corrida da sineta da cadeia, ou seja, das 5h às 17h), a manutenção de uma lanterna ou lampião nas janelas dos aposentos dos barraqueiros (desde a entrada da noite até a corrida da sineta pela manhã), multas, penas e perdas de gêneros àqueles que infringissem as medidas impostas. Nesse terreiro se comercializava (e ainda se comercializa) de tudo, a varejo e atacado, como aves vivas, camarão, peixe seco, farinha d’água, fumo-de-corda, coco-dapraia ou manso, aguardente de cana-de-açúcar (cachaça) e de mandioca (Tiquira), óleos vegetais extraídos artesanalmente, frutas, dentre outras. A Casa da Praça, atualmente Mercado da Praia Grande ou Casa das Tulhas, também sofreu algumas reformas no decorrer do tempo. O seu espaço físico foi reduzido, pois todo aquele quarteirão situado na área central do antigo Largo do Comércio era compreendido pela outrora Casa da Praça, antiga denominação do mercado (MARTINS, 2000). A Casa das Tulhas parece camuflada no

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interior de um quarteirão repleto de casarões coloniais e, na parte externa, existe uma grande quantidade de lojas comerciais que vendem artesanato e vestuário. No mercado, hoje, existe 52 balcões ou divisórias de vendas, 4 bancas, localizadas em cada uma das quatro entradas do mercado, sendo a principal a da Rua da Estrela, que comercializa bebidas, garrafadas e ervas, e uma bancada de pedra onde ocorre venda de peixe fresco. 2.2 Projetos Salutares para o Mercado das Tulhas O Mercado, conhecido também pelo nome de Feira da Praia Grande, ocupa uma edificação retangular no meio do centro histórico. Apesar de possuir quatro entradas, a principal delas localizada na Rua da Estrela, a casa das Tulhas parece camuflada no interior de um quarteirão repleto de casarões coloniais. Parte da área externa do mercado é dedicada às lojas comerciais que vendem artesanato e vestuário. No interior da Feira possui inúmeros boxes, bancadas e barracas vendem produtos ligados à gastronomia. A Feira das Tulhas está bem localizada pela sua proximidade do terminal de integração de ônibus da Praia Grande e dos principais hotéis e pousadas do Centro Histórico que foi tombada, primeiramente, pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1955. Relata o Portal Brasileiro do Turismo (2012): Em 1997, a UNESCO concedeu o título de Patrimônio Mundial ao Centro Histórico de São Luís. Foi um reconhecimento à beleza e importância de um dos maiores conjuntos de arquitetura civil de origem européia no mundo. Esse acervo arquitetônico já havia sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1955.

No que se refere às manifestações folclóricas, o Tambor de Crioula encontra-se uma das mais atuantes pelos arredores da Feira, sendo apresentadas praticamente todas as sextas às cinco horas da tarde. O artesanato na Feira, em grande parte, é incipiente, o que faz com que se concentre aos arredores do mercado. A Casa da Praça, atualmente Mercado da Praia Grande ou Casa das Tulhas, também sofreu algumas reformas no decorrer do tempo. Dentre a mais importante, foi a empreendida pelo Projeto Praia Grande, que consistia em uma política de revitalização e preservação, na reestruturação e urbanização da área que abrange a Praia Grande, com intuito de transformar essa localidade em uma réplica do que foi no passado, principalmente no seu período de apogeu. Este projeto foi fruto do I Encontro Nacional da Praia Grande em 1979, promovido pelo governo do estado. O projeto Praia Grande só foi ocorrer no período de 1980 a 1982, durante a gestão do Governador João Castelo, com o apoio do IPHAN, tendo como o principal produto realizado o subprograma de Obras da praça do comércio, implantado entre 1981 e 1982 com recursos da ordem de 2,5 milhões de reais. Segundo os representantes do Governo do Estado, este programa foi caracterizado pela forte participação popular, principalmente dos Feirantes da área. A Feira da Praia Grande foi revitalizada ainda na primeira etapa do Programa de Revitalização (1981-1982) quando foram realizados investimentos na ordem de 1 milhão de dólares (LORÊDO, 2009) e feitas obras primárias prioritárias de restauração, reforma e ampliação da Feira e de mais três outros monumentos. No período de 1983 a 1986, houve certa estagnação do processo, por falta de verbas do investidor central que era o Governo do Estado. A prioridade do então governador Luís Rocha passa a ser a are rural do estado, levando a uma paralisação das intervenções no cetro histórico de São Luís. Em 2012, século XXI, com os 400 anos da cidade de São Luís, o prefeito da cidade João Castelo entregou, no dia 13 de março de 2012 a obra de recuperação da Feira da Praia

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Grande com o descerramento da placa comemorativa e a finalização simbólica da pintura de uma das paredes da fachada do mercado, além da ligação da iluminação artística que deu um visual especial ao prédio da Feira. Após seis meses de serviço, o objetivo do projeto municipal “Cores de São Luís” e do projeto das Tintas Coral que é melhorar as atividades dos comerciantes e a frequência da comunidade ao local, além de potencializar o Turismo e a Cultura Ludovicense. A restauração contou com a participação de 150 pessoas nos trabalhos de pintura, melhorias hidráulicas, limpeza de telhado, desentupimento e duplicação de fossas e reordenamento de calçamento. O Projeto das Tintas Coral, dedicado a pintura foram utilizados mais de 1.530 litros de tintas, os tons foram escolhidos a partir da aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com base nas cores originais da época da construção do prédio, que data de 1861, do século XIX. Ainda, nesse ano de 2012, a Feira funciona de segunda a domingo, oferecendo como atrações, em alguns bares, shows ao vivo, e em outras ocasiões ocorrem apresentações de Tambor de Crioula.

3 A IMPORTÂNCIA DO MERCADO DAS TULHAS PARA O TURISMO Mundialmente, o Turismo é conhecido por sua importância como atividade econômica por meio de movimento de pessoas, sendo visto atualmente, não apenas como incremento, mas em determinados países ou comunidades como única fonte de renda e divisas. Levando para uma atenção da população para a atividade do Turismo como possível geradora de desenvolvimento de um país ou de um local específico - no caso o Mercado das Tulhas, mesmo sendo este capaz de exercer significativos impactos sobre os espaços: material (físico), natural (geográfico), social ou popular e a cultura da área receptora dessa ação do Turismo. Para compreender e analisar a atividade do Turismo como ação impactante sobre os espaços e a cultura diretamente relacionados com um local e a sociedade deste, precisa-se voltar para o campo da Antropologia uma [...] expressão que provém dos termos gregos ‘Antropo’ – Homem – e ‘logia’ – estudo. A Antropologia é uma ciência de natureza social, portanto, ela se processa não apenas no campo teórico, mas principalmente na práxis. Seus estudos enfocam a comunicação humana, sua interação, como o ser se alimenta, compõe seus trajes, atua e responde aos estímulos culturais. Enfim, ela aborda a cosmovisão – a visão completa – de segmentos étnicos. (SANTANA, 2010)

Sendo que o objeto pesquisado- Mercado das Tulhas, pertencente ao Centro Histórico de São Luís, que mostra detalhes das transformações ocorridas economicamente e sociocultural ao longo do tempo, pode ser contextualizado na Antropologia Cultural que se pode definir como “[...] o ramo do conhecimento que se dedica a compreender os mecanismos da vida humana em sociedade, no aspecto cultural.” Numa relação de impacto do Turismo, uma vez que a atividade do Turismodesencadeia a atenção de uma população a fim de visar não apenas o lucro, mas também para conservação do acervo arquitetônico e cultural, deve se atrelar (relacionar, incorporar, envolver) com a Antropologia, que se volta para o estudo das sociedades, para que ambas podem ser vistas como tendo um objeto comum: a cultura bem como o incentivo para uma população ou uma sociedade de receber a ação turística sem afetar ou corromperas estruturas dos espaços de um local ou país.

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A cultura congrega conhecimentos tais como artes, moral,costumes, hábitos adquiridos, herança cultural, tradição social,expressa modo de vida, povo, ocupação, territorialidade, sentimentos numa sociedade com componentes que se inter-relaciona e funcionam harmonicamente, organizando economicamente e religiosamente, afirma Márcia Valéria (2006). Nessa visão o espaço antropológico está analogicamente à noção de espaço geográfico como “um sistema de proximidade (espaço) próprio ao mundo humano (antropológico) e logo dependente de técnicas, significações, linguagem, cultura, convenções, representações e emoções humanas” (LEVY,1995, p. 21). Ou seja, espaço antropológico de Lévy observa o espaço e o ser humano na sua constituição, na interação com seu meio físico (habitat) e propriamente humano, a raiz na qual se produzem, se transformam e se geram continuamente espaços antropológicos diferentes, porém entrelaçados. O espaço material, território ou físico se institui e se constitui com a agricultura, a cidade, o estado, a propriedade, a posse da terra e sua exploração(uma forma de impacto), que se torna são privilegiados por articular com a existência humana na ligação a uma entidade territorial (pertença, propriedade, etc.), “[...] definida por seus limites, suas fronteiras, autorizando às instituições sob as quais vivemos, uma territorialidade, nem que seja normativa, pela imposição de hierarquias, burocracias, sistemas de regras, lógicas de pertinência e de exclusão”(HYPERLOGOS, 2012). Já no espaço social ou popular a proposição de Lévy (1995) se refere aos “espaços vividos que se movimentam e se deformam ao redor de objetos e ações que eles compõem e organizam, ao mesmo tempo, que são por estes objetos e ações também compostos e organizados” (HYPERLOGOS, 2012). Os indivíduos vivos interagem com composição e troca de imagens, palavras, conceitos, ideias e coisas. Portanto, o Mercado das Tulhas como um objeto pertencente à infraestrutura patrimonial e econômica, sentido de movimento de venda e compra de produtos e ofertas, da cidade de São Luís, recebe como uma das suas características a atribuição de lugar de venda de gêneros alimentícios: frutos nativos, bebidas, doces, entre outros e produtos, que advindos de tradições, retratados pelo artesanato. Como um grande ponto de visitação no Centro Histórico de São Luís, a Casa das Tulhas, promove nos dias atuais, um papel de suma importância no processo de diversificação da oferta turística, sendo conhecido como local de encontro de gerações que carregam em seus costumes a identidade de uma sociedade que convive com as memórias culturais e físicas de uma sociedade que teve um desenvolvimento grandioso no passado e que traz em seus edifícios características dessa época preservados, mas com atenção constante sobre a conservação desse espaço material e social. Como produto turístico e atuante do retrato da história do desenvolvimento arquitetônico da cidade O Mercado das Tulhas enquadrasse com suas características como parte do turismo cultural. Dentre os vários segmentos que este setor aborda, o mais presente nas lembranças dos usuários e turistas que frequentam a Feira, o próprio turismo gastronômico representa a maior renda do mercado apontado como ponto de referência para a degustação de pratos típicos da terra. O perfil de turista adepto a este segmento procura o desconhecido, algo diferente do seu cotidiano, busca em seu lugar de destino uma experiência turística que lhe traga conhecimentos aprofundados no contato com a comunidade, lugar visitado, gerando uma troca de saberes e vivencias, promovendo assim um intercâmbio cultural. Pode-se ainda afirmar que a Feira da Praia Grande contribuiu e contribui ainda hoje com o Turismo da cidade de São Luís, como mostra da singularidade da localidade, por

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meio dos produtos comercializados, a presença da cultura transmitida através das pessoas que ali vendem expõem e disponibilizam seus produtos para venda, assim como suas vestimentas e “os seus costumes”, que compõem com a simplicidade de sua gente um aspecto rústico imperado pela própria construção. A importância histórica e cultural do espaço Casa das Tulhas para a conservação da memória popular precisa adquirir como produto, constantes investimentos e estratégias de promoção para sua permanência e valorização no cenário turístico da cidade. Ainda importa ressaltar que o comprometimento e participação dos proprietários e funcionários da Feira na manutenção e fiscalização interna do espaço são fundamentais para o andamento e visualização de seu potencial competitivo dentro do Centro Histórico diante das demais lojas presentes na área, como também, atrativo arquitetônico. 3.1 Produtos comercializados no Mercado ou Feira das Tulhas Toda uma produção feita por um artesão manualmente desde o preparo da matériaprima até o seu acabamento é conhecido e tido como artesanato. Por ter essa característica manual, o artesanato traz em si aspectos de uma região com seus costumes, tradições e folclore74. A comercialização do artesanato teve iniciu antes da Revolução Industrial, quando as pessoas não possuiam renda fixa e tinham menos alimentos em suas mesas e utilizavam seus trabalhos manuais como troca por comida.O Brasil por ter uma diversidade cultural grande, tem em seu artesanato um dos mais ricos do mundo e torna-se o sustento de muitos lares e comunidades que hoje sobrevivem de sua renda. Na Feira ou Mercado das Tulhas a maioria dos produtos comercializados são genuinamente maranhenses. Na parte externa da Feira há lojas de artesanatos com vendas de vasos e bibelôs de cerâmica esmaltada, sandálias de couro, além da venda de camisas, rendas variadas, azulejos personalizados e redes. Há a presença de ateliês onde se pode presenciar a construção de várias peças que compõe e mostram um pouco da cultura da terra. Na parte interna da Feira das Tulhas, há várias lojas ou boxes (como comumente são chamados e/ou conhecidos cada balcão) que comercializam produtos típicos do estado como: a cachaça, a tiquira, licores- essas bebidas além de serem feitas com frutas e partes de plantas nativas da região como jenipapo e caju, algumas também contém as próprias frutas dentro das bebidas enfeitando e atraindo visitantes e curiosos. Como mostra a imagem exemplos de bebidas típicas como à “Tiquira”- destilada do caldo da raiz de mandioca (garrafa na cor lilás), pendurada ao lado direito acima e posicionada ao lado esquerdo abaixo, e “Cachaça com fruta”- destilada de cana-de-açúcar com fruto nativo como o caju (garrafa com líquido translúcido com fruto amarelo “caju”), localizada ao lado esquerdo da Figura 1.

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Refere-se especificamente as brincadeiras como Bumba-meu-boi, por exemplo.

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Figura 1: Imagem das bebidas típicas.

Ainda, também, existem doces, polpas, compotas e geléias-visualizadas na Figura 2, feitas com frutas encontradas apenas na região como caju, buriti, babaçu, murici, abricó, abiu, cupuaçu, bacuri, pitomba, saputi, por exemplo.

Figura 2: Imagem de produtos como castanhas, doces, bebidas oferecidos por um dos boxes dentro da Casa ou Feira das Tulhas.

Vale ressaltar a presença de castanhas de caju e do Pará (espécie da região Amazônica), amêndoas do coco babaçu (fruto da palmeira Babaçu) e amendoins (mostrados em sacos transparentes acima na Figura 2), as famosas farinhas D’água e Branca extraídas da raiz de mandioca, camarões e peixes secos (destacados nos cofos- cestos de palhas da palmeira de Buriti, na Figura 3 a seguir:

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Figura 3: Cofos com camarões secos em outro box da Feira das Tulhas.

A Casa ou Mercado das Tulhas apresenta, entre outras iguarias maranhenses, temperos especiais podendo destacar as pimentas ardilosas e pimentas de cheiro ou não picantes como ilustra a imagem na Figura 4.

Figura 4: Pimentas em conserva.

Aloja bares que são freqüentados tanto por visitantes como por moradores e trabalhadores da área do Centro Histórico. A Feira ou Mercado das Tulhas abrange essa diversidade de produtos todos oferecidos em um ambiente histórico que encanta e surpreende visualmente e gastronomicamente os visitantes e frequentadores do local. Uma vez que... As expressões de comunicação popular, como a tiquira, a farinha e demais elementos, colaboram para o fortalecimento da identificação dos Feirantes, ao

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passo que carregam em si mensagens simbólicas de sentido, elaboradas a partir de um conjunto de características peculiares a esses elementos, que resistem ao tempo e aos processos modernizantes (CAMBIASSU, 2011)

3.2 Manifestação das Tradições Religiosa e Artística Dentro do Mercado ou Casa das Tulhas, em meio ao espaço destinado a venda dos produtos, encontra-se também a valorização da cultura religiosa e artística por meio do Festejo de São José das Laranjeiras - protetor do local, e do Tambor de Crioula- dança artística com traços presentes dos quilombolas75 sediadas dentro do mercado. Desde 1959, o Mercado da Praia Grande possui um santo protetor, São José das Laranjeiras, festejado todos os anos desde então, tem seu ápice no último domingo do mês de outubro, dia este que os Feirantes e populares celebram com uma procissão com a imagem, cantos e pagamentos de promessas e música ao vivo, além da comercialização das comidas e bebidas típicas da cidade e que são naturalmente vendidas na Feira. Tornando essa festa popular uma grande manifestação da preservação das tradições do Mercado, sendo o único mercado da cidade com realiza um festejo para seu padroeiro. O oratório não está presente desde a fundação do Mercado, como relata Reis (1982, p. 64), o padroeiro teria surgido como fruto da devoção do casal, o então médico Dr. Aníbal Andrade e Dona Cotinha Andrade que, doaram um quadro com a imagem de São José. No entanto, existia um cofre, ao lado do quadro, que serviria para arrecadar doações, revertidas para o Orfanato Santa Luzia. Com uma doação feita pelo Sindicato Comércio Varejista dos Feirantes de São Luís, que o quadro foi substituído por uma imagem do Santo, guardado em um oratório de frente para uma das entradas do mercado, após ter sido batizada na Igreja de São José de Ribamar. (REIS, 1982) Como mais uma prova da incrível capacidade que o Mercado da Praia Grande ou Casa das Tulhas tem de reunir em seu espaço diversas manifestações culturais, a Feira também atrai populares com as apresentações do folclore maranhense como as danças do Tambor de Crioula uma tradição que era mantida às sextas-Feiras dentro do local, e hoje sem data certa e nem horário fixo, mas frequente. O Tambor de Crioula como uma das representações quilombolas presentes na cultura popular maranhense traz ao mercado uma abordagem artística que encanta com suas danças homens e mulheres, sendo elas negras, brancas, pardas, brasileiras ou estrangeiras, todas convidadas a se unirem ao cordão e juntas dançarem e cantarem ao ritmo dos tambores que ecoam pelos corredores do local. 4 MERCADO DAS TULHAS COMO MEMÓRIA DE ESPAÇO POPULAR Observa-se ser de fundamental importância ressaltar o conceito de memória quando se fala em Patrimônio Cultural para a história de uma cidade, de uma sociedade, uma vez que este objeto cultural enfatiza o contexto histórico e socioeconômico de um local, de um povo ao transmitir em seus caracteres e singularidades de transformação ao longo do tempo como o caso do Mercado das Tulhas. Por si a memória compõe um conjunto formado por absorção, armazenamento e evocação de informações que adquirimos ao longo de nossas vidas, em estudos e vivencias na sociedade.

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Grupos descendentes dos escravos africanos que formaram Quilombos ou Terras de Preto como são denominadas as terras pertencentes a esses povos.

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Segundo Le Goff (1990, p. 366) a memória vista pelas ciências humanas, principalmente na História e na Antropologia, se ocupam mais com a análise da memória coletiva do que da memória individual. Nesse intuito, “a memória, que aqui tomamos em consideração, é a antropológica, pessoal e coletiva, que dá a percepção e possibilita a construção da identidade cultural. Na memória há um movimento que vai do presente em direção do passado”. Uma vez que, a memória pode ser entendida como processos sociais e históricos, de expressões, de narrativas e acontecimentos, de coisas vividas, que reforçam e reproduzem a identidade do grupo na atribuição de suas características. (RODRIGUES, 2012) A memória individual existente se constrói e se consolida a partir do interior de um grupo, de cada indivíduo; e a memória coletiva se forma a partir do pensamento e visão generalizada do grupo, a conclusão de um conceito, visão, comportamento incomum e concordante com o todo, e de uma memória histórica. Sendo entendida como passado vivido, formado por acontecimentos/momentos marcantes na vida do de uma sociedade, possibilitando a construção de uma narrativa sobre o passado. (RODRIGUES, 2012) Então, uma memória social pode se relacionar com a identidade no sentido que [...] a identidade reflete todo o investimento que um grupo faz, ao longo do tempo, na construção da memória. Portanto, a memória coletiva está na base da construção da identidade. Esta reforça o sentimento de pertença identitária e, de certa forma, garante unidade/coesão e continuidade histórica do grupo. (RODRIGUES, 2012).

A partir da identificação de um grupo ou sociedade, a memória social abrange um desencadeamento de aspectos construtivos de sentimento, lembranças, ideias, costumes, tradições, crenças coerentes e continuas na história desse grupo ou sociedade. A Antropologia tem demonstrado que todas “as sociedades humanas produzem, diferentemente, objetos, ideias, representações simbólicas e comportamentos”, que será contextualizado como cultura. Sendo o termo cultura, essencialmente primordial para formar o sentido e significado de patrimônio cultural, que pode ser material, ou seja, o que é visível, como os artefatos, e não-material, o que não é visível como ideias, comportamentos, sistema simbólico e religioso, é reproduzido e preservado através da memória social. Afirma Rodrigues (2012): Patrimônio cultural? É o conjunto de bens, materiais e imateriais, que são considerados de interesse coletivo, suficientemente relevantes para a perpetuação no tempo. O patrimônio faz recordar o passado; é uma manifestação, um testemunho, uma invocação, ou melhor, uma convocação do passado. Tem, portanto, a função de (re)memorar acontecimentos mais importantes; daí a relação com o conceito de memória social. A memória social legitima a identidade de um grupo.

O Mercado das Tulhas pode ser pensado enquanto suporte da memória popular da cidade de São Luís, sendo que esta memória volta-se para contexto histórico e socioeconômico de um local, de um povo para transmissão de suas influências e particularidades modificadas ao longo do tempo como o caso do Mercado das Tulhas. Os edifícios e áreas urbanas com valor patrimonial podem e devem ser tomados como apoio para a construção da memória social de uma população como um estímulo externo que ajuda a reativar e reavivar certos traços da memória coletiva em uma formação sócio-territorial. Apesar da existência do Mercado das Tulhas está crucialmente ligada a construção e evolução da cidade, nem todos os maranhenses possuem conhecimento de sua importância história e nem fazem noção da miscelânea de produtos, artefatos e utensílios da cultura do maranhense, expostos no Mercado da Praia Grande.

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5 CONCLUSÃO A pesquisa obre o Mercado das Tulhas proporciona uma verificação sobre a continuidade e necessidade d movimentação de pessoas uma vez que o mercado é uma ação desse demanda de pessoas na busca de compra e venda de produtos diversos oferecidos nesse local. No caso desse Mercado ou Feira das Tulhas se observa que os produtos comercializados com ênfase no artesanato e alimentos oriundos de frutos nativos e seus derivados resultados em bebidas, tortas, doces,; entre outros; entretanto nesse mesmo local, também há uma abertura a oferta gratuita de um produto cultural e imaterial como é a manifestação dôo festejo de São José das Laranjeiras e do Tambor de Crioula trazendo uma singularidade a esse espaço popular em relação aos outros mercados. Uma vez que essas apresentações religiosa e folclórica, respectivamente, só ocorre nessa Feira. Discorrer sobre a história e os alguns projetos realizados para preservação e conservação da Feira ou Casa das Tulhas remete a um olhar mais delicado sobre a grandiosidade do patrimônio cultural e material que se encontra dentro de um conjunto arquitetônico e urbanístico maior que é o Centro Histórico, afim de se fomenta uma conscientização de valoração para a memória social ou coletiva dos visitantes e freqüentadores e moradores da Feira das Tulhas. Cabe ressaltar a importância do estudo antropológico no sentido da práxis para se pensar nas atividades socioeconômicas advindas do turismo e fortemente desencadeadas por uma ação mercadológica para construção de um pensamento e de um exercício sob o aspecto cultural que resulte na perpetuação da identidade de um patrimônio cultural bem como sua memória.

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O PANORAMA DO TURISMO DE SAÚDE E BEM ESTAR EM CURITIBA/PR Bruna Damazio76 Luciane Neri77 RESUMO O turismo de saúde e bem estar é um dos segmentos turísticos que mais crescem em todo o mundo com uma taxa de crescimento de aproximadamente 20% ao ano. Atualmente o Brasil é considerado o principal destino de turismo de saúde da América Latina seguido por México e Colômbia. Cidades como São Paulo, Porto Alegre e Recife se destacam por ações que visam tanto o mercado do turismo de saúde nacional quanto o internacional. Curitiba é considerada um polo de turismo de saúde no estado do Paraná e dispõe de uma consolidada oferta de equipamentos e serviços de saúde e de turismo. O objetivo desta pesquisa é demonstrar o potencial de Curitiba e região para o desenvolvimento do turismo de saúde e bem estar através do levantamento dos equipamentos e serviços de saúde e de turismo disponíveis para atender esta crescente demanda. Buscaram-se informações sobre os principais hospitais tanto públicos quanto privados e dos Spas que fazem parte da ABCSPAs - Associação Brasileira de Clínicas e Spas. Ao final pode-se constatar que Curitiba possui um forte potencial para o desenvolvimento do turismo de saúde e bem-estar uma vez que conta com uma já consolidada oferta de meios de hospedagem e alimentação, equipamentos de lazer e recreação, transporte público alternativo interligado a vários centros de saúde da capital, além de importantes centros de excelência no tratamento de doenças cardíacas, de transplante de medula óssea, cirurgias bariátricas, tratamentos de câncer e de queimados, cirurgias plásticas e reparadoras entre outros. Palavras-chave: turismo; saúde; bem-estar. INTRODUÇÃO O Turismo de Saúde é considerado a mais antiga modalidade turística praticada pelo ser humano. Povos antigos como os Sumérios, egípcios, fenícios, gregos e romanos já se deslocavam de seu local de origem para visitar centros termais em busca de melhoria de sua saúde e bem-estar (FERNANDEZ FUSTER apud NERI). Além dos tratamentos curativos, atualmente as pessoas buscam também intervenções que promovam o relaxamento e o rejuvenescimento, justificando desta forma o crescimento no número de hospitais e clinicas especializadas em tratamentos de saúde e estéticos. Tal é a importância do setor que surgiu no Brasil a primeira agência de viagens do país especializada no Turismo de Saúde. A agência que opera na cidade de Florianópolis se propõe a trazer à cidade, de forma organizada, pessoas que busquem tratamentos de saúde e posterior recuperação uma vez que a região tem boa infraestrutura hospitalar e oferece um amplo leque de opções de estâncias termais e hidrominerais. Este trabalho tem por objetivo demonstrar o potencial de Curitiba e região para o desenvolvimento do turismo de saúde e bem estar, uma vez que nos últimos anos houve um aumento substancial no número de estabelecimentos voltados para atender, não apenas os moradores locais, como também pessoas que procuram a cidade por seus centros de saúde que são considerados referência em todo o país. 76

Graduanda do curso de Turismo da Universidade Federal [email protected]. 77 Profa. Dra. na Universidade Federal do Paraná. E-mail: [email protected].

do

Paraná.

E-mail:

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Para se alcançar o objetivo proposto se fez uma pesquisa de caráter exploratóriodescritivo, com coleta de dados por acessibilidade, ou seja, foram levantados os dados disponíveis nos meios eletrônicos, tais como websites dos principais centros hospitalares e Spas localizados em Curitiba e região, bem como foram feitos levantamentos de dados estatísticos sobre o tema no site do Ministério do Turismo e nos Órgãos Oficiais de Turismo e de Saúde de Curitiba, bem como de instituições voltadas à temática da saúde e do turismo.

TURISMO DE SAÚDE E BEM ESTAR O Turismo de Saúde é uma das modalidades turísticas mais antigas que se tem conhecimento, responsável pelo surgimento das estâncias hidrotermais e do turismo de sol e praia (VOGELER RUIZ, 1997 apud NERI, 2012). As primeiras termas de que se tem notícia datam do século V a.C. em Delos e Olimpia, na antiga Grécia. Este tipo de turismo, conhecido como termalismo, que no início era utilizado para higiene e tratamento de determinadas enfermidades, hoje evoluiu para um tipo de atividade que envolve um grande número de equipamentos e serviços tanto relacionados à saúde e bem estar tais como os médico-hospitalares, spas, clínicas estéticas, etc.; como pelos turísticos como os meios de hospedagem, as transportadoras turísticas e os serviços de alimentação, entre outros (REGÔ et. al. 2008). Também conhecido por Turismo médico, o Turismo de saúde constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos (BRASIL, 2006:53). Devido à diversidade de áreas que abrange também é conhecido como turismo hidrotermal, turismo hidromineral, turismo hidroterápico, turismo termal, turismo de bem-estar, turismo de águas, turismo médicohospitalar, turismo estético, entre outros. Os tipos de tratamentos e/ou serviços mais demandados pelo turista de saúde podem ser agrupados em cinco grupos a saber: a) serviços de saúde altamente especializados prestados pelos hospitais; b) serviços médicos e/ou odontológicos ambulatoriais; c) serviços de saúde prestados em locais que não hospitais, clinicas, etc., por exemplo centros de reabilitação para usuários de substâncias químicas. d) serviços de promoção e manutenção da saúde, como por exemplo os spas. e) Tratamentos com medicina alternativa. Dentre as principais atividades desenvolvidas no segmento de saúde, no que se refere ao tema médico-hospitalar, os mais frequentes são: intervenções cirúrgicas diversas, entre elas as cirurgias plásticas, cardiológicas, oftalmológicas e as bariátricas; tratamentos de oncologia, cardiologia e de reprodução assistida; tratamentos odontológicos; check-ups e exames variados. Referentes ao tema de bem-estar destacam-se os tratamentos para emagrecimento, procedimentos estéticos e terapias antiestresse (BRASIL, 2010). Segundo Godoi (2009:14) este tipo de turismo tem sido amplamente entendido como sendo um conjunto de serviços de alto valor agregado, composto por viagens que visam alguma forma de tratamento médico ou de recuperação da saúde. Vários são os motivos que levam pessoas a se deslocarem a outra cidade, estado ou país para tratamentos de saúde, dentre os quais se pode citar a alta tecnologia, os baixos custos, e a rapidez no atendimento. A Medical Tourism Association destaca os principais fatores da crise global na saúde que justifica o crescimento do deslocamento de pessoas de um país para outro em busca de tratamentos de saúde. São eles: (CVB RECIFE, s/d) a) alto custo dos serviços de saúde nos países mais desenvolvidos; b) precariedade dos serviços de saúde nos países em desenvolvimento e

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consequentemente a necessidade de melhoria destes; c) o envelhecimento populacional e a geração babyboomers; d) falta de profissionais de saúde no mundo todo; e) alto custo dos medicamentos; f) alto custo do erro médico g) alto custo de credenciamento e documentação; h) falta de medidas preventivas no mundo todo. Certos procedimentos são mais procurados, como ortodontia, cirurgia plástica, ortopedia e cirurgia cardiovascular. Alguns países se tornaram referência em determinada especialidade como por exemplo: Brasil - cirurgias plásticas e estéticas; Tailândia oftalmologia, oncologia, cardiologia, neurologia, ortopedia e cirurgia plástica; EUA gastrocirurgias, oncologia, cardiologia e pediatria; Dubai - ortopedia e oftalmologia; e a Índia famosa por seus tratamentos holísticos voltados para a saúde e bem estar. Os Spas também são espaços muito utilizados pelo turista em busca de saúde e melhoria do bem-estar. De acordo com Fernandes (2011) a origem do nome Spa é controversa, e apresenta algumas possibilidades da procedência do vocábulo, todas elas estão relacionadas ao uso da água como terapia como por exemplo a abreviatura da frase latina salute per aqua (saúde pela água), ou a cidade belga chamada Spa, famosa por suas águas termais ou ainda da palavra spagere que significa umidificar, molhar, etc. Determinados tratamentos de saúde podem ser muito longos e consequentemente há a necessidade de infraestrutura e equipamentos turísticos para atender aos pacientes e seus acompanhantes, considerando que devido à debilidade física causada pela enfermidade os pacientes costumam viajar acompanhados (HIAE, 2012).

REALIDADE E PERSPECTIVAS DO SETOR Diferente de tempos passados, quando o termalismo era um importante motivador do turismo mundial, onde no mesmo espaço estava inserido o hotel, a alimentação e as terapias, atualmente o turismo de saúde já não se limita a tratamentos hidrotermais ou em terapias com água e necessita de uma infraestrutura que envolve tanto equipamentos e serviços de saúde quanto turísticos, formando-se assim uma complexa rede que envolve hospitais e clínicas, profissionais de saúde, meios de hospedagem, transportadoras turísticas, agencias de viagem, tradutores e concierges que auxiliam o turista estrangeiro no país (BOL UOL NOTÍCIAS, 2013). O Turismo de saúde mundial é dominado por poucos países sendo os principais receptores: Estados Unidos, Tailândia, Cingapura, Índia (BOL UOL NOTÍCIAS, 2013). O Estudo Global de Procedimentos Estéticos realizado pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), destaca que a América Latina está disputando com a União Européia e Ásia a liderança mundial em tratamentos médicos e estéticos para turistas (BOL UOL NOTÍCIAS, 2013). De acordo com o World Travel Trends Report 2012/2013, que mede as tendências de viagem no mundo, o Brasil lidera o setor de turismo de saúde na América Latina, seguido de perto por México e Colômbia e ressalta que o alto custo dos tratamentos médicos e dos planos de saúde em muitos países ocasiona o aumento das listas de espera nos serviços públicos, fazendo com que viajar ao exterior seja uma opção para os pacientes economizarem tempo e dinheiro (ITB WORLD TRAVEL TRENDS REPORT, 2012/2013). Uma importante constatação observada por Godoi (2009) é que até a década passada eram pessoas dos países menos desenvolvidos que movimentavam o mercado do

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Turismo de Saúde buscando tratamentos especializados em países mais desenvolvidos e que hoje a situação se inverteu, sendo que são pessoas de países de primeiro mundo que buscam tratamento em países não tão prósperos, mas que estão bastante desenvolvidos na área de saúde e dispõe de bons profissionais, instalações e equipamentos, tanto de saúde como turísticos, muitas vezes com custo até 50% mais baixo que em seus países de origem. Os valores dos serviços médicos no Brasil podem ser de 30% a 50% inferior a países como Portugal e Espanha e até 70% mais baixos se comparados aos Estados Unidos, como se pode verificar no quadro abaixo. País

Cirurgia de estômago

Fertilização in vitro

Implante de silicone de mama

BRASIL

13.530

9.920

5.400

EUA

43.830

26.150

16.230

ALEMANHA

21.000

23.300

11.400

ARGENTINA

16.230

7.200

5.770

Quadro 1: Valores comparativos de procedimentos médicos em diferentes países. Fonte: Adaptado de Veja São Paulo, Ano 43, N.21 de 26 de maio de 2010, p.44

O professor Helmut Wachowiak, pesquisador da Universidade Bad Honnef IUBH, destaca que embora não existam números confiáveis sobre o mercado do turismo de saúde, se estima que o setor movimente entre 40 e 60 bilhões de dólares ao ano com uma taxa de crescimento de cerca de 20% (ITB WORLD TRAVEL TRENDS REPORT, 2012/2013). No que se refere ao Turismo de Saúde no Brasil, não há dados atualizados do setor, portanto o Ministério do Turismo apresenta dados referentes à pesquisa “Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil – 2007”. De acordo com este estudo 7,0% dos entrevistados teve como motivação de viagem a saúde e 2,2% disseram viajar para visitar estâncias climático/hidrotermais, considerando-se, portanto que 9,2% dos entrevistados viajaram para realizar tratamentos de saúde ou atividades de promoção e melhoria do bem-estar. Outro dado interessante demonstrado pelo estudo é que o turismo de saúde é praticado por turistas de diferentes classes sociais, destacando-se aqueles com renda de 0 a 4 salários mínimos, seguido da classe de renda entre 4 e 15 salários mínimos para tratamentos e procedimentos médico hospitalares. Entretanto quando se trata de visitas a estâncias climático/hidrominerais é a população com renda acima de 15 salários mínimos os que mais praticam esta atividade (BRASIL, 2010). Quanto ao turismo internacional, dados da Embratur mostram que em 2008 a saúde foi o motivo da chegada de 31.482 turistas estrangeiros ao Brasil representando 0,62% do número total de chegadas (BRASIL, 2010). São Paulo é considerada a melhor cidade do país para tratamentos médicos devido ao grande número de hospitais, clínicas e laboratórios de ponta e tecnologia avançada. De acordo com pesquisa realizada pela FIPE, em parceria com a São Paulo Turismo - SPTuris, em 2008 a cidade recebeu 12 milhões de turistas, sendo que 9,1% afirmou estar na cidade por motivo de saúde (SPTURIS, 2012). Em 2009 o Hospital Sírio Libanês atendeu 2.190 pacientes estrangeiros procedentes dos seguintes países: EUA (20%), Alemanha (17%), França (19%), Paraguai (15%), Angola (18%), Argentina (9%) e outros países (2%) (VEJA SÃO PAULO, 2010). Visando melhor atender ao turista que chega a São Paulo por este motivo, a SPTuris lançou em 2007 o São Paulo Saúde - Guia de Turismo Médico, Bem-estar e Qualidade de Vida, que oferece informações em português, inglês e espanhol sobre hospitais, clínicas, laboratórios, spas, parques, saúde ao ar livre, dicas de passeios e serviços

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para turistas (SPTURIS, 2012). A cidade de Recife é o polo de Turismo de Saúde na Região Nordeste, a metrópole contabilizou 298 mil pessoas que visitaram a cidade para tratamento de saúde, o que incentivou o Recife Convention & Visitors Bureau a lançar o Guia de Turismo de Saúde, Bem-estar e Qualidade de Vida de Pernambuco, que contém informações sobre equipamentos e serviços de saúde no estado para auxiliar o turista. Ainda com o objetivo de colocar Pernambuco no cenário nacional do Turismo de Saúde, a Câmara Americana de Comércio (Amcham-Recife), em parceria com a Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), criou a Rota do Turismo de Saúde, que tem como ações previstas a realização de missões internacionais, consultoria a instituições de saúde e um seminário internacional sobre o tema (FECOMÉRCIO PE, 2013). Outra cidade brasileira que está investindo no desenvolvimento do setor é a capital gaúcha, que criou a Porto Alegre Health Care Cluster - PAHC, entidade público-privada criada pela Secretaria Municipal de Turismo, instituições de classe, hospitais e médicos, hotéis e uma grande rede de fornecedores de serviços de saúde, bem-estar e hospitalidade para profissionalizar a gestão do turismo de saúde, com o intuito de transformar Porto Alegre no principal destino brasileiro de turismo de saúde para turistas norte-americanos e europeus que buscam tratamento de saúde fora de seu país. O cluster tem como principal contratante uma das maiores seguradoras internacionais de saúde com sede nos EUA e responsável pelo atendimento de 200 mil viajantes em todo o mundo (PAHC, 2013). No futuro, os bem-sucedidos destinos de turismo médico precisarão oferecer serviços de alta qualidade, disponibilidade rápida de tratamento e preços competitivos, além de serem destinos atraentes para os acompanhantes dos enfermos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Curitiba no cenário do turismo de saúde e bem-estar A cidade de Curitiba também apresenta sinais de expansão e diversificação do turismo médico. Segundo o vice-presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Paraná, Luiz Rodrigo Milano, 35% dos pacientes atendidos em Curitiba não moram na cidade. Entre estes estão os estrangeiros, que buscam tratamentos principalmente em cardiologia, neurologia, ortopedia e cirurgia do aparelho digestivo – especialidades destacadas pelo presidente da Associação Médica Paranaense, José Fernando Macedo, como referência na capital. A capital paranaense está se firmando na realização de grandes congressos da área médica, devido à qualidade e a variedade das redes hoteleira e gastronômica e a disponibilidade de grandes espaços para eventos. É cada vez mais comum encontrar executivos que vem de outros países aproveitarem as viagens de negócios para procedimentos mais rápidos como tratamentos odontológicos ou check-ups. A cidade de Curitiba, quando se trata segmentos turísticos, destaca-se pelo turismo de negócios e eventos, todavia, o setor da saúde vem se mostrando oportuno, com grande potencial a ser explorado pela atividade turística na cidade (SANTOS, 2010). De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde - SMS (2013), Curitiba conta com 70 hospitais e clínicas especializadas. Alguns se destacam por suas especialidades, e são tidos como referência, a exemplo do Hospital de Clínicas no que se refere a transplantes de medula óssea, Hospital Evangélico de Curitiba quanto ao tratamento de queimaduras, Hospital Erasto Gaertner para tratamento oncológico, Hospital Cajuru especialista em trauma, Hospital Pequeno Príncipe em pediatria, Hospital Sugisawa em aparelho digestivo,

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Hospital Vita em cirurgia bariátrica e o Hospital Marcelino Champagnat considerado o primeiro spa hospital do estado do Paraná. No que se refere à quantidade de pessoas que se deslocam à Curitiba motivadas pelo turismo de saúde, de acordo com pesquisa realizada pela Secretaria de Estado do Turismo do Paraná - SETU (2007), em 2003, 172.800 pessoas se deslocaram à cidade motivadas por tratamentos de saúde, o que representa 7,2% dos turistas que visitaram a cidade. Esta porcentagem vem se mantendo estável no decorrer dos anos, todavia, existem perspectivas de crescimento, evidenciadas recentemente, em 2011, quando R$ 75 milhões foram investidos em um hospital em Curitiba - visando justamente o mercado do turismo de saúde (GAZETA DO POVO, 2011). Em reportagem datada de 2010, o Jornal Gazeta do Povo discorre sobre diversos casos de investimentos em hospitais de Curitiba, cita ao todo cinco grandes hospitais em situações de ampliação de espaços, reformas, criação de novas unidades, melhoria de tecnologias e treinamento de pessoal. Relatos dos diretores dos estabelecimentos exprimem o otimismo com que encaram o novo panorama da saúde que se consolida. As acreditações hospitalares são outro fator que motivam esse desenvolvimento, por tratar-se de um sistema de avaliação e certificação da qualidade de serviços de saúde, de caráter voluntário, reservado e com prazo de validade de dois a tres anos. Para que um hospital tenha excelência internacional deve ser certificado pelas duas maiores acreditadoras internacionais a Joint Commission International – JCI ou pela Canadian Council on Health Services Accreditation - CCHSA. Somente 18 hospitais brasileiros tem selo de excelência internacional dado pela maior certificadora a JCI, sendo que mais de 55% deles se encontram na cidade de São Paulo e o restante no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. No Brasil a Organização Nacional de Acreditação (ONA), uma organização não governamental, sem fins lucrativos, certifica a qualidade dos serviços prestados por estabelecimentos de saúde no país. Instituições acreditadoras credenciadas à ONA realizam as avaliações e certificam os estabelecimentos de acordo com os padrões estabelecidos no manual de acreditação hospitalar, certificado pela International Society for Quality in Health Care (ISQua). (ONA, s/d) O trabalho desenvolvido pela ONA, por meio do sistema de acreditação, tem caráter educativo, visa estimular o aprimoramento contínuo da gestão e da qualidade da assistência. As acreditações podem se revelar bastantes benéficas, pois transmitem valores como confiabilidade e segurança, fatores determinantes para um paciente no momento da escolha, e por outro ângulo, perante um investidor, demonstram o engajamento da organização em ofertar um serviço de qualidade e a aspiração de se tornar referência (ONA, s/d). São acreditados aqueles estabelecimentos que atendem a determinados critérios tais como: liderança e administração, organização profissional, atenção ao paciente/cliente, diagnóstico, abastecimento e apoio logístico, infraestrutura, apoio técnico e ensino e pesquisa. (ONA, sd) No quadro 2 destacam-se os hospitais de Curitiba acreditados pela ONA, elencados de acordo com os distintos níveis de certificação, dispostos no Manual Brasileiro de Acreditação (2014) que são: Acreditado com Excelência (corresponde a excelência em gestão), Acreditado Pleno (corresponde ao princípio de processos integrados), e Acreditado (corresponde ao princípio de segurança).

HOSPITAIS Hospital Santa Cruz

ACREDITAÇÃO

SITUAÇÃO

Acreditado com Excelência Privado

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Hospital Nossa Senhora das Graças

Acreditado com Excelência Privado

Hospital Vita Batel

Acreditado com Excelência Privado

Hospital Vita Curitiba

Acreditado com Excelência Privado

Hospital Vitória

Acreditado com Excelência Privado

Hospital Erasto Gaertner

Acreditado Pleno

Público

Hospital Nossa Senhora do Pilar

Acreditado Pleno

Privado

Hospital Cardiológico Constantini

Acreditado Pleno

Privado

Instituto de Neurologia de Curitiba

Acreditado Pleno

Privado

Hospital das Nações

Acreditado

Privado

Quadro 2 - Hospitais de Curitiba acreditados pela ONA. Fonte: ONA, março 2014.

Além desta acreditação os Hospitais Vita Curitiba e o Vita Batel também detém a certificação pelo programa Accreditation Canada International (ACCREDITATION CANADA, s/d). O quadro acima monstra que apenas um hospital público tem acreditação; o Hospital das Clínicas, maior hospital público do estado foi acreditado pela ONA até 2013 data do vencimento da acreditação que vale por 2 anos. A qualidade dos serviços e da infraestrutura ofertada pelos hospitais de Curitiba vem continuamente sendo reconhecida e buscada. As especialidades mais procuradas pelos estrangeiros, que são cardiologia, neurologia, ortopedia e cirurgias em aparelho digestivo, vão de encontro com as especialidades desenvolvidas pelos hospitais do município (GAZETA DO POVO, 2009). Essa razão, aliada ao fato de que na cidade de origem não se tem acesso a determinados tratamentos em hospitais públicos, faz com que as pessoas procurem por estes em estabelecimentos privados, fora de suas cidades, como no caso de Curitiba, que ofertem serviços privados a um preço mais acessível ou até mesmo gratuitos (CVB RECIFE, s/d). Dentro deste contexto, deve-se considerar não apenas a situação daqueles que vêm para Curitiba por motivos de saúde, mas também daqueles que os acompanham. De acordo com pesquisa realizada por Santos (2010) em oito grandes hospitais da capital, dentre eles quatro públicos e quatro privados, somente dois hospitais privados oferecem acomodações aos acompanhantes dos pacientes, nos demais os acompanhantes devem buscar opções de hospedagem por conta própria. Para suprir estas necessidades Curitiba apresenta um complexo hoteleiro amplo e variado, contabilizando 139 hotéis e flats de diferentes categorias que disponibilizam 18.101 leitos (Instituto Municipal de Turismo, 2007). Segundo a pesquisa de demanda da SETU (2007), o turista motivado pela saúde permanece em Curitiba em torno de quatro dias, tempo este que pode ser parcialmente empregado em passeios e outras atividades turísticas, visto que a cidade dispõem de inúmeros atrativos turísticos, tais como Jardim Botânico, Mercado Municipal, Museu Oscar Niemeyer, Ópera de Arame, Parque Tanguá, Parque Barigui, Bairro Italiano Santa Felicidade, Torre Panorâmica, Passeio Público e o Centro Histórico, além de contar com aproximadamente quinze shoppings centers que dispõem de uma grande variedade de produtos. Esses atrativos são passíveis ainda de serem visitados por meio da Linha Turismo, uma maneira prática e eficaz de se fazer um tour completo pela cidade. Dentre as características dos turistas em questão, a pesquisa aponta também que 23,2% visitam atrativos durante sua permanência, 52,4% hospedam-se em casa de

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parentes/amigos, 17,5% em hotéis e o restante se divide entre apartamentos, casa própria ou alugada e outros meios de hospedagem (SANTOS, 2010). Visando melhor atender os turistas que chegam a Curitiba para tratamento de saúde foi criada em 1997 uma linha de ônibus alternativa denominada interhospitais, cujo trajeto parte da estação rodoferroviária e passa por hospitais e centros de saúde com grande procura na cidade e chegam a transportar mais de mil pessoas por dia (FEHOSPAR, 2009). Um item que seria de bastante utilidade ao turista que já frequenta a cidade e àqueles que tem intenção de vir, são os guias turísticos de saúde, existentes em São Paulo e Recife, como foi anteriormente citado. Neste quesito o Curitiba Convention e Visitors Bureau declarou que o projeto para a criação de um guia de turismo de saúde em Curitiba entrará na pauta de discussão ainda este ano de acordo com sua diretora executiva. Uma amostra dos equipamentos médicos hospitalares de Curitiba Curitiba é considerada polo de saúde no estado do Paraná, uma vez que atende a pacientes vindo de todo o estado, além de receber muitos pacientes vindos de outros estados como Santa Catarina e interior de São Paulo. De acordo com o Ministério da Saúde, Curitiba tem a segunda melhor saúde pública do país ficando atrás apenas de Vitória/ES (GAZETA ONLINE, 2014). A cidade conta com uma importante oferta de hospitais e centros de saúde especializados totalizando mais de 70 estabelecimentos de saúde, alguns considerados de excelência transplante de medula óssea, pediatria, oncologia, cardiologia, queimaduras e cirurgias bariátricas. Dentre os principais hospitais de Curitiba destacam-se: Hospital de Clinicas (HC) - Fundado em 1961 foi criado para ser hospital-escola cuja finalidade principal é atender a demanda paranaense por um hospital geral público (REVISTA DO HOSPITAL, 2011). Considerado o maior hospital público do estado integra o Sistema Único de Saúde (SUS), com uma média de 100 mil atendimentos mensais no ano de 2011. ( HOSPITAL DE CLINICAS, 2013) Dos pacientes atendidos em ambulatório, mais da metade são de Curitiba, no gráfico 1 pode-se observar a procedência do público que faz uso do HC.

Gráfico 1 - Procedência dos pacientes atendidos nos ambulatórios. Fonte: Hospital de Clínicas, 2013.

Apesar de boa parte das pessoas serem de Curitiba e Região Metropolitana, um número significativo, em torno de 18% por cento, vem de outras localidades do Paraná e outros estados. Para melhor atendimento ao paciente/turista o HC conta com o apoio de algumas associações, como a Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia (APACN), que oferece hospedagem, alimentação e transporte a pacientes e acompanhantes, pode hospedar cerca de 120 pessoas e a Associação Mara Lígia Cercal (AMALICE) voltada aos pacientes do Serviço de Transplante de Medula Óssea e seus familiares (REVISTA DO HOSPITAL, 2011). O HC é referencia mundial no tratamento para a leucemia mielóide crônica por meio de

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transplante de medula óssea, e oferece treinamento a médicos de países como Peru, Colombia, Venezuela, Equador e Chile (GAZETA DO POVO, 2014). O Hospital Pequeno Príncipe é referência no tocante a pediatria, destacando-se no Brasil por seu aparato tecnológico, excelência na realização de procedimentos clínicos e cirúrgicos e disseminação do conceito de humanização no atendimento hospitalar. Dentre as especialidades em destaque tem-se a cirurgia cardíaca, transplantes, em especial de rim, e oncologia (HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE, 2013). Demonstra ainda seu engajamento através da participação no programa Hospital Sentinela, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que zela pela segurança e saúde do paciente, monitorando o uso de materiais e medicamentos, para sua retirada de circulação quando avaliados como inadequados (HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE, 2013). Quanto aos atendimentos, 70% destes são voltados ao SUS, sendo que de todos os atendimentos infantis via SUS no estado do Paraná 45% são realizados pelo Pequeno Príncipe. No ano de 2011 o HPP realizou mais de 340 mil atendimentos e 17 mil cirurgias em crianças de todo o estado do Paraná e outros. (HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE, 2012). Um importante programa de apoio ofertado pelo hospital é o “Família Participante”, no intuito de manter a criança acompanhada durante todo o tratamento. Dentre vários benefícios, por meio do programa se tem acesso ao auxílio de hospedagem e alimentação, do paciente e do acompanhante; a casa de apoio possui 48 leitos e consegue atender uma média de 350 pessoas ao mês. Aparte deste programa, também são servidas gratuitamente refeições aos acompanhantes de crianças internadas pelo SUS (REVISTA CENTRAR DE CASOS, 2013). O Hospital Erasto Gaertner foi fundado em 1972 e é tido como o principal centro de diagnóstico e tratamento de câncer no Paraná, e se tornou referência no sul do país. Desde 2004 atua como hospital de ensino, promove congressos, palestras e especializações, trabalha visando sempre a aquisição de maior conhecimento para melhor tratar seus pacientes, pois tem como missão combater o câncer com humanismo, ciência e a afeto (HOSPITAL ERASTO GAERTNER, 2012). Além de prezar pelo bem estar emocional dos pacientes, em especial no que tange a Rede Feminina de Combate ao Câncer, que atua principalmente na assistência de pacientes e familiares, bem como na arrecadação de recursos, o hospital desenvolve fortemente também o Instituto de Bioengenharia, especializado na fabricação de materiais médico-hospitalares específicos (INSTITUTO PRÓ-CIDADANIA DE CURITIBA, 2013) Erasto Gaertner possui ainda Certificado de Qualidade ISO 9001:2000 e Certificado de Acreditação Hospitalar. Altamente reconhecido o hospital realiza quase 300 mil atendimentos ao ano, em 2012 obteve o número de 276.871 atendimento, sendo 252.996 via SUS (ERASTO GAERTNER, 2012). O Hospital Marcelino Champagnat foi inaugurado em 17 de novembro de 2011 para suprir a demanda de um hospital de porte e qualidade internacional, construído dentro dos moldes da Joint Comission Internacional (JIC). O hospital que tem cerca de 400 médicos, atende diversas modalidades e realiza procedimentos cirúrgicos de alta complexidade nas áreas de ortopedia, neurocirurgia, cirurgias cardíacas, geral e bariátrica são o foco do hospital. Considerado o primeiro “spa hospital” do estado, oferece atendimento bilíngue em todas as áreas, concierge, serviços de hotelaria e gastronomia, com cardápios para os pacientes com assinatura de Chef com renome internacional (HOSPITAL MARCELINO CHAMPAGNAT, s/d). O Grupo Vita conta, no Paraná, com dois hospitais, o Vita Curitiba e Vita Batel, ambos acreditados pelo programa Accreditation Canada, os únicos a receber esta certificação no sul do país, o que de pronto lhes confere significativo reconhecimento e

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busca por seus serviços (HOSPITAL VITA, s/d). Os hospitais Vita são lembrados pela realização de tratamentos de alta complexidade e estão constantemente na corrida por mais qualificação, ainda em 2011, sete anos após a inauguração, o Vita Batel recebeu a acreditação em Cirurgia Bariátrica pela Surgical Review Corporation, se destacando também nas especialidades de cardiologia, neurologia, ortopedia, cirurgia geral e urologia (ANAHP, s/d). Já o Vita Curitiba, mais antigo, inaugurado em 1996, é tido como um dos complexos hospitalares mais modernos do Brasil, e recebe um grande fluxo de pessoas, mensalmente o número gira em torno de 11 mil atendimentos de emergência, 850 internações e 750 cirurgias (ANAHP, s/d). Em 2012 passou a fazer parte, como hospital multiplicador, do Programa Brasileiro de Segurança do Paciente. As especialidades que se destacam são também cardiologia, neurologia, ortopedia, além de pediatria e medicina de urgência (HOSPITAL VITA, s/d). O Hospital Nossa Senhora das Graças completou em 2013, 60 anos de existência, e seu papel como referência em transplantes de medula óssea e hepático se fortalece com o passar do tempo, tomando abrangência internacional (HOSPITAL NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, s/d). O hospital se distingue ainda por ser o sócio fundador da Associação Nacional de Hospitais Privados, por possuir um centro especializado em tratamento oncológico e de diabetes, além de unidade de internação com quartos e suítes sofisticadas, podendo contar com sala de estar, banheiro, frigobar, cardápio diferenciado, telefone, televisão e internet sem fio. Conforme o convênio é permitida ou não a permanência do acompanhante (HOSPITAL NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, s/d). Dentre a lista de certificações e prêmios, o Nossa Senhora das Graças, desponta com o Selo Verde (2010), Urso de Ouro (2010), Hospital Best (2003 e 2004), Top Hospitalar (2001), além de também atuar como Hospital Sentinela, é parceiro da Associação Paranaense de Controle de Infecção Hospitalar (HOSPITAL NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, s/d). Spas em Curitiba e região Ao contrário do que se possa imaginar, são múltiplas as razões que podem levar o indivíduo a procurar por um spa, a exemplo de objetivos como emagrecimento, relaxamento e tratamento de doenças, que são tratados de distintas e variadas formas, visto que a filosofia dos tratamentos e de alimentação são diferenças marcantes entre os spas, de acordo com reportagem disponibilizada pelo popular jornal curitibano Gazeta do Povo (2012). Curitiba e região dispõem de diversos e reconhecidos equipamentos voltados a este setor, como o Gaya Yoga Spa (Curitiba), Shishindo Spas (Curitiba), Spa Tereza Zanchi (Curitiba) e Lapinha Spa (Lapa), estabelecimentos estes associados à ABC-SPAs Associação Brasileira de Clínicas e Spas (ABC-SPAs, s/d). A ABC-SPAs cumpre importante papel no setor, por meio dela os associados podem adquirir o Selo de Certificação e Excelência. Sabendo-se que o Brasil vive um momento em que a criação de novos spas e expansão dos já existentes é uma constante, a ABC-SPAs julgou por bem desenvolver parâmetros que definem padrões de qualidade de infraestrutura e de serviços, a fim de proporcionar ao consumidor mais segurança ao fazer sua escolha. Os critérios avaliados são a Excelência Institucional e de Atendimento ao Cliente, Excelência Visual e Espacial, e Excelência nos Processos de Higiene e Limpeza (ABC-SPAs, s/d). Outra ação que vem ganhando força no mercado de spas brasileiro é o evento “Spa Week - Beleza e Bem-Estar”, ideia originária dos Estados Unidos, trazida ao Brasil pela ABC-SPAs, tem o intuito de promover o bem-estar na sociedade. Aqui desenvolvido desde

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2009, o Spa Week se resume em uma semana em que os spas participantes ofertam seus serviços com descontos, em sua maioria saem pelo valor de R$ 55,00, um incentivo para conquistar mais adeptos à atividade. No ano de 2013 doze spas de Curtiba participaram da iniciativa (PR RIC MAIS, 2013). Embora não se saiba a quantidade exata, pode-se afirmar que Curitiba e região apresentam um número significativo de spas e clínicas estéticas, bem como centros voltados à busca pelo bem-estar. Esses estabelecimentos estão bastante bem distribuídos, é possível encontrar spas em locais centrais da cidade e de fácil acesso, como em shoppings e hotéis, a exemplo dos shoppings Crystal, Curitiba, Palladium, Estação, Pátio Batel e Parkshopping Barigui; e os hotéis Bourbon, Four Points, Pestana, Deville Rayon, e Radisson. Massagens anti stress, de drenagem, limpezas, esfoliações, hidratações, Yoga, Tai Chi Chuan, essas são algumas das atividades comumente ofertadas nestes estabelecimentos (NA CIDADE, s/d). No entorno de Curitiba encontram-se alguns spas com instalações maiores, com a possibilidade de pernoite, como o Lapinha Spa (Lapa), Spa Givita (São José dos Pinhais), Do Lago Spa (Almirante Tamandaré), onde são desenvolvidos terapias e tratamentos tanto estéticos quanto clínicos, buscando o restabelecimento do equilíbrio físico, mental e espiritual, da reeducação alimentar, da desintoxicação, com consultas médicas e psicológicas, em alguns casos exames laboratoriais, orientações nutricionais e orientações físicas (GAZETA DO POVO, 2012). Conhecida como capital ecológica pela grande quantidade de área verde representada pelos inúmeros parques existentes por toda a cidade que oferecem aos usuários espaços para prática de esportes, lazer e recreação, além de atividades para promover o bem-estar da população. Um exemplo é a oferta gratuita de ioga e tai chi chuan em diversos parques, com a participação cada vez maior da população que está em busca de equilíbrio do corpo, mente e espírito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil já se destaca como um reconhecido destino para a prática do turismo de saúde no cenário mundial, e a julgar pelas tendências previstas pelo ITB WORLD TRAVEL TRENDS REPORT de que o turismo de saúde vai crescer a uma taxa de 20% ao ano, coloca o Brasil em uma situação bastante privilegiada, uma vez que o país já é o maior mercado deste segmento para a América Latina. Considerando este cenário, Curitiba revela-se uma cidade com pleno potencial para melhor se desenvolver o turismo de saúde e bem-estar, a julgar os equipamentos e serviços de saúde e turísticos de qualidade que dispõem e o número cada vez maior de pessoas que vem à cidade a negócios ou para participar de eventos, sendo estas as principais motivações dos mais de 3,5 milhões de turistas que visitam Curitiba todo ano, de acordo com dados do Instituto Municipal Turismo Curitiba (2012). O turismo de saúde e bem-estar vem assumindo uma importância cada vez maior no mercado turístico internacional por ser um produto composto por diversas especialidades tais como médico-hospitalar, estético, bem-estar, termalismo, entre outros. Curitiba demonstra forte potencial para o desenvolvimento do turismo médico, estético e de bem-estar, pois conta com uma infraestrutura de hospitais e centros de saúde especializados e certificados nacional e internacionalmente, além de uma expressiva oferta de spas e áreas verdes para a prática de atividades esportivas e de lazer e recreação. No que se refere ao turismo, a cidade conta com uma consolidada oferta de meios de hospedagem, restaurantes, transporte público, e aeroporto internacional. O que falta é a realização de um inventário dos centros de saúde, quais tratamentos

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são oferecidos, profissionais atuantes e suas especialidades, identificação da demanda efetiva e potencial para que se possa ter um diagnóstico da atual situação do setor de saúde, com o fim e se propor diretrizes para colocar Curitiba no cenário de turismo de saúde nacional e internacional.

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O SÍTIO PIRANHENGA E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E TURÍSTICA PARA O MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS Gisley Ribeiro Pimentel78 Ana Jéssica Corrêa Santos Wilson de Carvalho Rosa Filho Nagelângela Gomes

RESUMO Este artigo analisou todo o potencial turístico do Sítio Piranhenga, um lugar localizado na cidade de São Luís do Maranhão, repleto de história, cultura, belezas naturais e um meio ambiente sem igual, ainda preservado que desperta a admiração de quem o visita. Diagnosticamos todas as riquezas culturais e ambientais do local, buscando formas de desenvolver todos os tipos de turismo que o local apresenta, assim como mecanismos de divulgação para os turistas e até mesmo para a população local, que desconhece o Sítio Piranhenga. Analisou-se todos os principais pontos fortes e fracos do local, suas principais atrações turísticas, seu histórico, sua importância para o município, sobressaindo-se a sua riquíssima história, fauna e flora, além de todas as suas belas e históricas edificações, cujas muitas remetem ao tempo da escravidão e sua infraestrutura turística. A metodologia constituiu-se por meio de pesquisa documental, bibliográfica e pesquisa de campo objetivando detectar o potencial da localidade, assim como seus principais problemas. Por fim, percebemos que apesar do Sítio Piranhenga ser uma grande potencialidade turística, não possui infraestrutura adequada para o desenvolvimento da atividade turística. Palavras-chave: Sítio Piranhenga; Turismo; Meio ambiente.

1 INTRODUÇÃO

O Maranhão é um dos estados brasileiros mais ricos em manifestações culturais e folclóricas, com destaque para as danças típicas do seu tradicional São João, como o fantástico e inesquecível tambor de crioula e diversas outras danças/brincadeiras que só enriquecem e fortalecem a cultura do nosso estado. Não podemos esquecer também dos belos casarões históricos e seculares que várias cidades do estado possuem, atraindo assim, pessoas do mundo inteiro, e muitos desses casarões são considerados Patrimônio Cultural da Humanidade. Mas infelizmente, todos esses monumentos patrimoniais não são devidamente preservados pelo poder público e pela própria população local. Um grande exemplo disso é o Centro Histórico da capital São Luís, que ao nosso modo de ver, está abandonado e esquecido pelo poder público e sociedade, mesmo tendo uma vasta história e cultura que poderia ser melhor trabalhada. Um lugar também localizado em São Luís que possui uma história e beleza cultural-natural riquíssima e que anda esquecido pela própria população local é o Sítio Piranhenga. Ele fica próximo ao Centro da cidade e é de fácil acesso, mas ao mesmo tempo se torna um local muitas vezes esquecido por grande parte da população, talvez por estar localizado em um bairro de periferia com um índice bastante elevado de criminalidade, devido às mazelas sociais; ou por ser um local ainda “desconhecido” sem ter 78

Alun@s do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão - UFMA

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tido uma divulgação capaz de torná-lo um local de grande atratividade turística dentro do município. O certo é que o Sítio Piranhenga merece uma atenção muito maior por parte de toda a população não só local mais também estadual e nacional, por se tratar de um paraíso que mantém em silêncio os fragmentos de etnias, índia, negra e branca, que fizeram a história de São Luís e constituem sua população. O Sítio apresenta uma vasta cultura e principalmente um meio ambiente praticamente todo preservado, sem ter danos ou degradações sérias. Um dos pontos fortes do Sítio são suas edificações, como a senzala, que retrata o modo de vida que os negros levavam e a que eram submetidos; a capela, que apresenta a parte religiosa da época; a casa grande, que era a moradia dos primeiros donos do local, e que foi toda restaurada pela artista plástica e arquiteta romena Virgínia Eftimié (nessa época proprietária), que apesar da restauração manteve a originalidade e fez algumas inovações que proporcionaram em uma excelente combinação artística e cultural; entre outras. É importante destacar também que o azulejo é o principal elemento decorativo do Sítio e está presente em todos os espaços parietais, como peças isoladas na escadaria, muretas de arrimo, adornos compondo padronagens, revestindo bancos, encostos e peitoris, colunas de suporte de objetos ornamentais; fachada total da capela e dependência anexa; a nave da Igreja é contornada por silhares azulejado. A verdade é que o Sítio Piranhenga é um pedaço da história do Brasil e do Maranhão que a população ainda desconhece e que não é valorizado pelo poder público. Mas neste trabalho abordaremos formas de divulgação do sítio, tentando implementar propostas de turismo voltado em bases sustentáveis que visem a valorização e ao mesmo tempo conservação do mesmo, procurando torná-lo conhecido e atrativo para todos. 2

CARACTERÍSTICAS DO SÍTIO PIRANHENGA

Constitui-se como um local de grande potencial histórico, cultural, arquitetônico e natural localizado a margem direita do rio Bacanga, atrás do Parque Pindorama, trecho localizado entre o Sítio do Físico e a barragem, o acesso por terra é feito através da Avenida dos Africanos cuja distância do centro é de 7 km, podendo utilizar o ônibus Parque dos Nobres e descer no ponto final do bairro. A entrada do sítio é feita através de um portão com uma identificação na parte superior, denominado de Sítio Piranhenga. Fica dentro da cidade de São Luís-MA, no Parque Pindorama e é vizinho do Bairro de Fátima e do Coroadinho. 3

ASPECTOS HISTÓRICOS DO SÍTIO PIRANHENGA

Um patrimônio é essencialmente histórico, de modo que seu significado sofre reinterpretações constantes em função de realidades socioculturais específicas do presente. Assim, os patrimônios culturais são bens ou manifestações selecionados por apresentar qualidades consideradas passíveis de ser preservadas, enquanto outros, que não contêm tais qualidades, são excluídos. O patrimônio é assumido pelos grupos sociais como simbolização de um momento anterior ao presente que representa seu próprio passado. Dessa forma, o patrimônio valoriza a memória, a tradição e a identidade, ao concretizá-la e representá-la simbolicamente, com o intuito de melhorar a auto-estima de uma localidade. O Sítio Piranhenga é um exemplo de patrimônio histórico-natural, pois apresenta interesse histórico e cultural, além disso, demonstra ter aspecto particular como rochas e paisagens restritas. Ele tem mais de duzentos anos de existência e praticamente todas as construções existentes foram feitas pelos escravos. O primeiro morador do sítio foi o Tenente português José Clarindo de Sousa, que quando chegou trouxe consigo um importante empreendimento da época, a fábrica de cal, que era produzido através das cascas

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do sarnambi. A cal era utilizada na construção de casas. Boa parte da cal produzida na fábrica de José Clarindo era levada para o centro histórico (onde hoje é o projeto Reviver) para a o uso na construção de diversos casarões nesse local. Ele viveu no sítio por muitos anos até o seu falecimento, em 1863. Sobre a origem do nome Piranhenga, o Pe. João em entrevista a Aline Penha, explica: Piranhenga é porque, nosso sítio fica perto do Rio Bacanga com uma senzala onde moravam os escravos e dois fornos para recolher sarnambi da beira do mar. O sarnambi é um pequeno bichinho com casca branca afiado, colocado em cima do fogo suave durante 2 a 3 dias para dá o pó, que se chama cal, que era utilizado nas construções (grande parte da cidade velha foi construída com cal). Vem do grego Pyra que significa o local do fogo. (PENHA, 2005, p. 58).

Após a morte de José Clarindo, o Piranhenga passou a ser herança do seu neto Luís Eduardo Pires. Este por sua vez, deu continuidade à fábrica de cal, mas conseguiu expandir o negócio, vendendo o produto para alguns lugares como Manaus e Belém. O sítio foi cedido várias vezes pelo Luís Eduardo para a realização dos festejos culturais maranhenses, como tambor de crioula, tambor de mina. Só esses festejos trouxeram alguns problemas, como a depredação e destruição de várias partes e itens do sítio, inclusive os azulejos portugueses e franceses do século XVII. O Luís Eduardo Pires morreu em 1939, assim o sítio ficou para o restante de sua família, sobretudo para as mulheres que eram em maior número. A partir disso, o Piranhenga caiu no esquecimento. Por volta de 1945, chegou a São Luís um casal europeu, o Jean (francês) e a Virgínia (romena). Pouco tempo depois, sobrevoando a ilha de São Luís, os dois viram o sítio que estava em uma situação nada confortável, estava depredado e abandonado. Apesar disso, o casal comprou o sítio e a Senhora Virgínia, arquiteta e artista plástica, trouxe para o sítio a arte mosaica. Ela e seu marido moraram por muitos anos no local, e como artista plástica fez algumas intervenções no acervo arquitetônico, sobretudo fazendo a arte mosaica nas paredes. Em 1991, doente e separada a Senhora Virgínia quis vender o sítio. Na época, uma família rica da capital manifestou o desejo de comprar e transformá-lo em um prostíbulo. Mas, neste mesmo período apareceu o padre francês João de Fátima Maranhão do Brasil, amigo de Virgínia, que implorou a ela que o vendesse para a Ong CEPROMAR, cujo ele próprio foi o fundador. Sensibilizada pelo apelo do amigo padre, ela acabou vendendo as terras para a Ong por um preço bem acessível. Desta forma, o CEPROMAR acabou adquirindo a localidade que hoje tem uma área de aproximadamente 36 hectares. O CEPROMAR – Centro Educacional e Profissionalizante do Maranhão é uma Ong fundada pelo padre João de Fátima Maranhão do Brasil, de caráter filantrópico que vive de doações e existe em São Luís há aproximadamente 40 anos. Essa Ong visa ajudar as pessoas carentes, sobretudo jovens e adolescentes, educando-os e profissionalizando-s para inseri-los no mercado de trabalho com cursos profissionalizante de: marcenaria, serralheria, elétrica básica, mecânica, informática, gesso e cimento e corte e cabelo. Além das doações, o CEPROMAR tem algumas parcerias com o Sebrae, Senai, Senac, entre outras; que o ajudam a desenvolver suas atividades e projetos. Como forma de preservar e conservar o sítio, a Ong instituiu o chamado turismo solidário, que nada mais é do que uma taxa de apenas R$ 2,00, cobrada a todos os visitantes do local. Com isso, além de vislumbrar toda a sua beleza, o visitante também contribui com sua conservação, já que o mesmo não tem nenhum tipo de apoio, seja do governo federal, estadual ou municipal. Para adquirir mais recursos financeiros, o sítio é constantemente alugado para alguns eventos como, casamentos; confraternizações; reuniões; aniversários; batizados; etc.

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INFRAESTRUTURA FÍSICA E TURÍSTICA DO SÍTIO PIRANHENGA

O Sítio Piranhenga possui uma forte riqueza no turismo da cidade de São Luís, porém não é muito conhecido mesmo pela maioria da população e não recebe nenhum apoio do governo federal, estadual e municipal. Assim, o Sítio Piranhenga sobrevive graças a Ong CEPROMAR, que é a responsável pelo lugar. Como é uma ong de caráter filantropico, sobrevive através de doações, da ajuda de voluntariados e do uso do próprio Sítio Piranhenga, por meio do turismo solidario e realização de eventos. O pouco recurso financeiro obtido é investido nos cursos profissionalizantes para crianças e adolecentes de comunidades carentes, formando assim grandes pessoas. Desta forma, não resta recursos para investimentos na atividade turística do local. O CEPROMAR interessa-se pelo turismo, porém, luta por uma causa muito maior, a formação de grandes pessoas e profissionais, que vivem em um ambiente de muita pobreza e marginalização, e que necessitam de toda ajuda possivel. Por meio de pesquisas de campo constatamos que Sítio Piranhenga precisa desenvolver e melhorar a sua infraestrutura, se pretender fazer uso da atividade turística futuramente. Portanto, é nítido que precisa trabalhar a sua pontencialidade turistica. O Piranhenga possui um Casarão; a Capela de São Benedito do Rio Preto; a Senzala e as Casas de forno, onde eram produzido o cal. O casarão tem uma potencialidade muito forte como atrativo cultural, construido com uma arquitetura colonial muito elegante e com muita história. A casa-grande é constituida em estilo colonial português, com alpendre sustentado por várias colunas e pequenas escadarias em pedra de seixo. A fachada principal apresenta alterações no revestimento: azulejos artesanais inserio nas colônias. As janelas mantêm originalidade, bandeiras apresentam vitrais coloridos, as portas são revestidas com vidro e motivos florais em madeira. (PENHA, 2005, p. 46).

A capela de São Benedito do Rio Preto tem aparencia colonial, uma beleza caracteristica devido aos seus azulejos. Ainda de acordo com Penha: A capela de São Benedito do Rio Preto impressionando pelos detalhes dos Azulejos em alto relevo considerado em bom estado de conservação e assentamento no momento (1973) em que a capela estava sendo submetida a obras de conservação. Esse pequeno templo de configuração eclética possui no seu interior pedra de cantaria, púlpito os restos mortais dos seus ultimos proprietários José Clarindo e Virginia Romena antigos pescadores relatam que existiam festas em louvor à São Benedito. (PENHA, 2005, p. 46).

A senzala e as casas de fornos ficam na parte de baixo do sitio, pelo acesso a grande escadaria. Essa parte tem uma apelo historico enorme, foram lá que os escravos ficavam e onde era produzido o cal, na época do auge do Sítio Piranhenga em relação a economia. Penha ainda afirma que: Na parte baixa do sitio cujo acesso se dá através da estrada que faz bifurcação para essas opções de visitação localiza-se o poço antigo, com proteção de ferro fundido, duas casas de fornos (caldeiras) utilizados no processo de fabriação de cal. (PENHA, 2005, p. 47).

A trilha que existe no Piranhenga é bem escondida e sua entrada fica logo ao lado do rio, criando assim, no seu início, bastante lama, porém, com o decorrer da trilha a terra vai ficando dura. Os banheiros são coletivos e bem arrumados, o CEPROMAR sempre disponibiliza guias (a maioria vonlutários) para acompanhar o passeio dentro da região, informando aos visitantes a história e importancia do lugar. Além disso, eles também servem

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como fiscais, evitando que os visitantes degradem o local. O Piranhenga possui ainda um minizoo, com animais da região, é uma pequena area reservado aos animais aonde os visitantes podem ter acesso e tirar fotos, dando assim ao local mais uma atratividade turistica, pois São Luís não possui um grande zoologico. A presente área possui uma variedade de opções para o visitante, um pequeno zoologico, o casarão com a senzala e capela, o bosque e área verde do lugar, mas é preciso ainda melhorá-las, buscando uma melhor acessibilidade para os visitantes. 5

A IMPORTÂNCIA DO SÍTIO PIRANHENGA PARA A ATIVIDADE TURÍSTICA EM SÃO LUÍS

O Sítio Piranhenga se destaca e impressiona pela sua imensa beleza, tanto cultural quanto histórica e natural. Já possui mais de dois séculos de existência e está situado nas margens do rio Bacanga. Um local que chama a atenção de quem o visita, por toda a sua riqueza de manifestações culturais e artísticas, que demonstram serem frágeis e assim, precisam de ações que visem a sua preservação. É uma ótima opção de turismo na cidade de São Luís, por se caracterizar tanto como forma de turismo ecológico e rural, como também de turismo cultural. Conforme foi pesquisado, muitos turistas (principalmente estrangeiros) que visitam São Luís procuram conhecer o Piranhenga, em busca de trilhas que revelem as características naturais do local. Os turistas buscam novas opções de turismo, além das praias existentes na capital maranhense. Procuram ver e vivenciar novas atrações, que o Sítio Piranhenga pode disponibilizar, como os conjuntos arquitetônicos, a senzala, a capela, e toda a paisagem maravilhosa que possui. Ainda podem entrar em maior contato com a natureza através da visita ao minizoo. Lá podemos encontrar diversos animais, como: macacos, araras, quatis, gansos, jaguatiricas, papagaios, periquitos, tucanos e muitos outros que divertem ainda mais o visitante. É importante destacar que o Sítio Piranhenga apesar de ser uma alternativa muito viável para a atratividade e desenvolvimento turístico na capital, ainda não está no principal roteiro turístico de São Luís, isto é, não é considerado parada obrigatória para quem visita a capital. Isso não é raro de estranhar-se, já que muitos ludovicenses também sequer conhecem o lugar. Atualmente o sítio está mais adaptado e preparado para a prática do turismo ecológico, por abrigar um verdadeiro santuário ambiental, funcionando como um importante jardim botânico alternativo para São Luís. Sobre isso, Ruschmann diz: O contato com a natureza, atualmente é uma das maiores motivações das viagens de lazer. A inter-relação turismo e meio-ambiente é incontestável, sendo cada vez mais freqüente a fuga das cidades e a busca do verde nas sociedades globalizadas (RUSCHMANN, 1997, p. 1).

A certeza é que cada vez mais as pessoas estão querendo afastar-se por alguns dias dos centros urbanos em busca de paz e tranqüilidade, e assim recorrem à harmonia que o verde da natureza pode lhes proporcionar. Essas pessoas procuram esquecer-se dos seus problemas, mesmo que seja por pouco tempo, relaxar e livrarem-se do estresse rotineiro que estão acostumadas a sentir. Com e por tudo isso, o Sítio Piranhenga pode tornar-se uma excelente opção de lazer, para quem procura beleza natural, histórica, arquitetônica e cultural, mas para isso deve ser melhor trabalhado e interpretado para que possa atrair um número cada vez maior de visitantes, mas é de extrema importância que se desenvolva uma estratégia de turismo sustentável na área, para que não se degrade essa grande preciosidade.

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PONTOS FORTES E PONTOS FRACOS IDENTIFICADOS NO SÍTIO PIRANHENGA NO QUE SE REFERE A ATIVIDADE TURÍSTICA.

O Sítio Piranhenga é uma área de grande capacidade turística, com grande potencial em área verde e cultura com a Casa Grande, a Capela e a Senzala. Uma região que deve ser estudada e presevada para as gerações futuras, pois tem uma grande importância para a cidade de São Luís. Porém, é necessário indicar os seus aspectos positivos e negativos. É imprescindível identificar os pontos negativos, para criar meios de solucioná-los. A partri das pesquisas de campo, constatamos três aspectos positivos e três negativos principais, como exposto abaixo: PONTOS FORTES: 

BELEZA HISTORICA, NATURAL.

CULTURAL,

ARQUITETÔNICA

E

Com a Casa Grande, a Capela de São Benedito do Rio Preto, as Casas de forno e a Senzala, o Sítio Piranhenga possui uma beleza inconfundivel com a cultura maranhense, são mais de dois séculos de história às margens do rio Bacanga. O local onde fica a Casa Grande pode ser alugado para eventos como casamentos, batismos e etc. Porém não existem serviços de bar e restaurante, apenas uma cozinha, e possui uma piscina batismal. Não existem serviços de bar e restaurante na Casa Grande possui uma cozinha que pode ser utilizada pelos usuários. Os batizados realizados possuem uma característica peculiar, acontecem em uma piscina batismal.(PENHA, 2005, p. 50).

O sítio proporciona, além da sua caracteristica cultural, uma grande área verde. Essa área tem uma vista maravilhosa do centro histórico de São Luís, e outra do Rio Bacanga. Algumas trilhas ecológicas são encontradas no Sítio Piranhenga, e o pequeno zoológico proporciona um contato maior com a fauna da região, além de ser um atrativo especial, pois em São Luís não há um zoologico de grande porte. 

POTENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES TURÍSTICAS.

Por possuir uma grande área verde; a Casa Grande; a Capela e a Senzala, o Sítio Piranhenga pode desenvolver várias atividades turísticas, aumentando a capacidade de oferta do local. Já alugando a Casa Grande para eventos, se investisse em serviços de hospedagem e de bar e restaurante, poderia usar o local para camping e outras formas de hospedagem, proporcionando assim o visitante a pernoitar. Possui ainda belas vistas, uma da cidade de São Luís, e outra do rio Bacanga. Isso proporciona uma bela atratividade turística, principalmente daqueles que gostam da observação de pássaros, uma atividade que poderá ser explorada. Por ter um forte apelo cultural, pode ter um pequeno museu, caraterizando a cultura maranhense, utilizando peças que se encotram na Capela e na Casa Grande. Tudo isso possibilita ao Sítio Piranhenga ter uma grande variedade de ofertas, contribuindo para o desenvolvimento do turismo, sempre visando a sustentabilidade. 

LOCALIZAÇÃO PRIVILEGIADA.

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O Rio Bacanga é um rio muito importante para o município de São Luís em termos de natureza e cultura, nele e nas suas margens é possivel localizar vários tipos de espécies de plantas e animais e, as comunidades ao redor do rio, ainda necessitam dele para o próprio sustento. A impôrtancia dele é enorme, e o Sítio Piranhenga está localizado na margem do rio Bacanga, e recebe os benefícios desse rio, principalmente no ponto de vista do turismo. Várias atividades podem ser realizadas, como os passeios de barco, fazendo com que o visitante sinta a natureza do lugar. O rio Bacanga pode ser aproveitado para passeios de barco, onde poderá se deslumbrar da vista, da vegetação de manguezais que estão às margens e também presenciar a atividade pesqueira que acontece no rio. (PENHA, 2005, p. 54).

Nele poderá ser feita a pesca esportiva, sempre de forma sustentavel, limitando o numero de visitantes por dia ou por semana, sem que essa atividade possa agredir o meio ambiente e a comunidade local. O rio Bacanga deve ser preservado e atividades realizados nele poderão aumentar sua importância para a cidade, mostrando a todos que é necessário preservá-lo. Possui uma fauna rica, é uma área de manguezais e isso faz com que o local seja de muita importância para a fauna da região. Nos manguezais é possivel encontrar diversos tipos de espécies, caranguejos; peixes; passaros e outros animais. É essencial preservar o rio Bacanga, todas atividades realizadas nele deverão seguir as leis ambientais. O Sítio Piranhenga poderá ser uns dos prinicipais beneficiados com rio Bacanga. PONTOS FRACOS 

INEXISTÊNCIA DE DIVULGAÇÃO

Apesar de toda a sua importância cultural, arquitetônica e por possuir uma grande área verde que é dificil de se encontrar hoje em dia na cidade de São Luís, com um grande número de espécies de plantas e animais e que caracterizam a nossa região, o Sítio Piranhenga ainda não é conhecido pela grande maioria da população ludovicense, que mesmo morando na cidade, nunca ouviram falar do mesmo. Isso tudo dificulta a atividade turística na região. Seria necessário um investimento para a divulgação, mas como o CEPROMAR, o responsável, é uma ong de caráter filantrópico, não tem como fazer os investimentos imprescindíveis para desenvolver a atividade turística. Se o lugar recebesse mais visistantes, arrecadaria muito através do projeto turismo solidário, uma taxa de dois reais cobrada por pessoa para poder visitar o sítio. Contatos com trade turístico são necessários, isso poderá aumentar o número de visitantes, principalmente por meio de agências de viagens e operadoras de turismo, ajudando a aumentar o marketing boca-a-boca. E o marketing é a palavra-chave da divulgação, e tem um papel fundamental para aumentar a demanda. Ruschmann afirma que: A essência da atividade de marketing consiste na agregação de valores aos produtos com o intuito de atrair e satisfazer clientes. O turismo se apresenta como um importante setor econômico que precisa ser desenvolvido de forma planejada. O marketing e suas ferramentas podem ser aplicados no turismo para fomentar a comercialização dos produtos turísticos (RUSCHMANN, 1997).

Aumentando assim a demanda, o CEPROMAR poderá arrecadar mais dinheiro para investir no seus projetos de educação e cursos profissionalizantes para as crianças e adolescentes das comunidades carentes.

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De acordo com a entrevista do Pe. João de Fátima Maranhão feita por Aline Penha em 2005, ele relata que: Material para divulgação não temos, só artigos de jornais e equipe de turismo que vêm nos visitar e fazem fotos, filmes, documentos a respeito do sítio. Pois teria que haver mais informações, os grupos de turismo, cada um que vem apenas prometem e não fazem nada, acontecem eventos na cidade e o sítio não é incluido, estão esquecendo-o (PENHA, 2005, p. 58).

Isso mostra a falta de um relativo interesse desses grupos de turismo citado pelo padre. Nesse grupo de turismo está presente a sociedade acadêmica, os universitários, que um dia entrarão no mercado de trabalho. Eles tem um papel fundamental na divulgação, com a criação de projetos e artigos que poderão aumentar a divulgação do local. 

INSEGURANÇA.

Por se encontrar em uma área perigosa de São Luís, o Sítio Piranhenga vem sofrendo com a insegurança. É registrado muitos casos de furtos e assaltos dentro do sítio. Além disso, usuários de drogas às vezes invadem o lugar. Existem roubos tambem. Isso tudo piora a situação do Sítio Piranhenga, se planeja promover atividades turísticas, a segurança é essencial. Localizado em bairros como Bairro de Fátima e Coroadinho, faz com que o local fique perigoso. Esses bairros são conhecidos pela violência e o tráfico de drogas, e foi por isso que o padre João de Fátima Maranhão escolheu o Sítio Piranhenga para instalar a sua Ong, a CEPROMAR, para que por meio desta possa beneficiar todas essas comunidades, além do local ter um forte apelo cultural e natural. Porém, o sítio precisa ser todo murado, ter um maior número de vigias e assim aumentar a segurança, mas para isso precisa evidentemente precisa de recursos, e como não tem nenhuma ajuda do governo, isso fica cada vez mais dificil. A falta de segurança ajuda e muito a destruir a reputação do lugar a ser visitado, e o Sítio Piranhenga precisa resolver esse problema. Diante disto, Peter Tarlow, presidente da Tourism & More Inc, afirma exatamente que: Nada mais eficaz para destruir a reputação de um centro turístico do que a falta de segurança ou de proteção. As autoridades do turismo podem encontrar múltiplos exemplos de autodestruição no setor, devido à falta de segurança, desde o Pacífico Sul até a África, do Caribe até a América do Sul. (TARLOW, 2010, p. 44).



A FALTA DE APOIO DOS ORGÃOS PÚBLICOS.

Hoje em dia, o Sítio Piranhenga é de propriedade do CEPROMAR. O responsável pelo lugar é o Pe. João de Fátima Maranhão, que é francês e mora em São Luís há bastante tempo. A Ong sobrevive através de doações e dos passeios existentes na localidade, o chamado turismo solidário. Porém, a demanda é pouca e muitos moradores da cidade de São Luís nunca ouviram falar do lugar. E a falta do apoio do poder público proporciona essa falta de conhecimento da população, se o governo ajudasse a promover o turismo no Sítio Piranhenga ele seria mais divulgado e assim aumentaria a sua demanda. Poderia formular várias alternativas para colocar em definitivo o Sítio Piranhenga como atrativo turístico de São Luís, com a criação de roteiros onde o sítio poderia participar, tanto de caráter cultural como natural também. Sobre a potencialidade que a Capela e a Casa Grande tem de integrar um roteiro turístico. A Capela e a Casa Grande podem fazer parte de roteiros das igrejas históricas e roteiros de Casas de Sítios. Esses roteiros englobaram aspectos históricos,

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arquitetônicos e naturais, oferecendo ao visitante um passeio diversificado e seletivo. (PENHA, 2005, p. 54.

É possivel integrar o sítio em vários roteiros divulgados pela cidade, pois várias atividades turísticas poderiam ser realizados no mesmo. O abandono por parte dos orgãos públicos dificulta na preservação do Sítio Piranhenga, e o governo poderia ajudar com projetos para preservação e revitalização. Em relação a importância dos orgãos públicos para o turismo, Murta relata: A interpretação e seu correlato planejamento interpretativo, podem racionalizar o trabalho dos vários orgãos públicos responsáveis pela administração urbana, fomentando a atuação dos empresários, da comunidade e dos governos locais na formação de parceiros voltados para a recuperação, preservação e revitalização de areas e acervos para projetos turísticos. (MURTA, 1995, p. 24).

Sabe-se que o Pe. João de Fatima Maranhão vem tentando há alguns anos parcerias com o governo do Estado e com a Prefeitura de São Luís a fim de que o Sítio Piranhenga possa ser preservado, mas não vem obtendo resultados. 7

IDENTIFICAÇÃO DOS SEGMENTOS TURÍSTICOS JÁ IMPLEMENTADOS OU POSSÍVEIS DE SER IMPLEMENTADOS NO SÍTIO PIRANHENGA

No Sítio Piranhenga, a principal segmentação de turismo que é desenvolvida na área é o turismo ecológico, que é realizado através de trilhas ambientais existentes no sítio e seu pequeno zoológico, dividindo isso com o turismo cultural, que apresenta forte atratividade. O turismo de eventos também aparece como um tipo de segmentação implementados na região, pois sua linda área é alugada para casamentos, convenções e outros tipos de eventos. Porém, o turismo ecológico é o que mais poderá ser desenvolvido, o turismo ecológico ou ecoturismo, busca atender as necessidades dos turistas atuais sem comprometer a possibilidade do aproveitamento dos recursos para as gerações futuras. É uma segmentação interessante, pois alia a prática do turismo com a preservação da biodiversidade.. Pode-se aproveitar toda a riqueza natural do Sítio e desenvolver ainda mais esse tipo de turismo, através de divulgação e a busca por novos roteiros interessantes dentro do próprio Piranhenga. Ainda no turismo ecológico, poderia promover-se a modalidade denominada cavalgada para os turistas amantes de animais. Seria um passeio tranqüilo e assim o visitante aproveitaria além das belas paisagens, a sensação de um passeio sobre um cavalo. Outra modalidade dentro do turismo ecológico que poderia ser implementada, é a observação de aves, perfeitamente indicada para quem também gosta de animais e que possui uma forte consciência ambiental. É uma prática de cunho ecoturístico das áreas naturais, sem danos à natureza. Também se pode desenvolver na área o cicloturismo, um passeio pela trilha ecológica de bicicleta, perfeito para quem gosta de pedalar. Outra atividade que poderia ser implementada é o aproveitamento do Rio Bacanga, com uso de pedalinhos, além de não causarem poluição sonora e do ar, com uso de barcos a motores, o pedalinho ainda faz com que o visitante faça exercícios físicos, contribuindo para a qualidade de vida. A pesca esportiva também poderia ser implementada no Piranhenga, mas claro, com todo cuidado para não degrada o rio e nem prejudicar as comunidades na região do Rio Bacanga, alguns necessitam da pesca para sobreviver. Então é necessário formular um projeto de caráter sustentável para a realização da pesca esportiva. Contudo, o lugar tem no turismo cultural um de seus pontos fortes seu casarão, a senzala e a capela são atratividades para a cidade de São Luís. Porém, deverá haver mais

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empenho dos órgãos governamentais, acreditando na força cultural que o Piranhenga tem. A formulação de roteiros do centro histórico de São Luís com traslado direto ao Sítio Piranhenga, ajudaria assim a potencializá-lo. O turismo rural poderia perfeitamente ser desenvolvido, já que tem por objetivo permitir a todos um contato mais direto com a natureza, a agricultura e as tradições locais, através da hospitalidade privada em ambiente rural. Com isso, os gestores do Piranhenga poderiam diversificar e aumentar sua renda e ainda agregar mais valor aos seus produtos, aliando isso com a vontade dos moradores de centros urbanos de reencontar suas raízes, de conviver com a natureza, com os modos de vida, tradições, costumes e com as formas de vida e de produção das pessoas da zona rural. O turismo rural além do comprometimento com as atividades agropecuárias, caracteriza-se pela valorização do patrimônio cultural e natural como elementos da atratividade turística no meio rural. Assim, empresários, desse tipo de turismo, devem relevar bastante e de toda forma possível os fatores culturais, por meio do resgate das manifestações e práticas regionais (como o folclore, os trabalhos manuais,as histórias interioranas, a culinária), e lutar pela preservação do ambiente natural. Enfim, o turismo rural pode tornar-se uma atividade capaz de agregar valor aos produtos e serviços do Sítio Piranhenga e contribuir para a conservação ambiental do mesmo. Mas, para que ele consiga desenvolver e implementar esses segmentos de turismo é necessário criar técnicas de atratividade, que buquem chamar a atenção dos turistas e ao mesmo tempo despertar a curiosidade e vontade dos mesmos. Deve se criar um ambiente que o visitante aprecie com a criação de roteiros e paisagens, elaborados por pessoas que conhecem o local e estejam conscientes do valor do mesmo. A partir da criação de uma atmosfera local pode-se apresentar um ambiente onde um intérprete deve perceber a sua linguagem ao falar de um determinado objeto ou local, destacando-se os elementos essenciais. O local deve oferecer ainda uma variedade de percursos. Os sítios históricos devem ser divulgados de forma atraente, sem que a idéia de “atrações” seja confundida com entretenimento, sem preservação.(PENHA, 2005, p. 53).

O turismo rural tem sido considerado como a solução para os problemas de marginalização, desigualdade social, êxodo rural, falta de preservação ambiental e contribuição para a melhoria do desenvolvimento rural, como também alternativa da melhoria da qualidade de vida, pois este propõe a retirada do homem urbano da rotinas estressantes e dos diversos males causados pelas cidades, para um lugar tranquilo onde há a influência saudável da cultura, costumes e tradições rurais. 9

METODOLOGIA

O presente artigo teve como ponto de partida a pesquisa documental e bibliográfica. A pesquisa bibliográfica surgiu da necessidade do levantamento de referenciais teóricos que auxiliassem na seleção e definições de conceitos e de enfoques que contribuíssem com o tema investigado, pois o pesquisador precisa delinear as possíveis implicações teóricas, considerando os eventos julgados referente ao objeto investigado (THIOLLENTT, 1997). A importância da pesquisa documental é explicada por Becker (1999, p. 36). Para ele, “os documentos registram a nossa história” e também podem “propiciar um histórico útil, documentação necessária das condições de ação para um grupo (como um conjunto de regras codificadas) ou um registro conveniente de eventos e analises”. Após o levantamento bibliográfico, foi feita uma pesquisa de campo objetivando detectar o potencial da localidade, assim como seus problemas, os atores e os tipos de ações

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possíveis e necessárias, e isto foi essencial para obtenção de um numero significativo de informações que auxiliaram na elaboração deste artigo. Além disso, a pesquisa ainda contou com entrevistas de voluntários composta por perguntas abertas. 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse estudo toma como referência o patrimônio histórico-cultural do Sítio Piranhenga possibilitando uma abordagem sobre o local, informando sobre todas as suas caracteristicas turísticas. Vimos que a história do Sítio Piranhenga tem uma grande importância para a história de São Luís. Já foi um dos principais produtores de cal do Maranhão, e este era usado nas construções de alguns casarões do centro histórico de São Luís. Algum tempo depois ele foi comprado e revitalizado, sendo transformado em um espaço para a inclusão social. Verificamos que a infraestrutura é deficiente e que mesmo assim, a localidade tem grande potencialidade cultural, turística e ambiental. Percebemos a sua importância para o turismo em São Luís, e que ele se destaca e impressiona pela sua imensa beleza, tanto cultural quanto histórico-natural. O Piranhenga já possui mais de dois séculos de existência e está situado nas margens do rio Bacanga. Um local que chama a atenção de quem o visita, por toda a sua riqueza de manifestações culturais e artísticas, que demonstram serem frágeis e assim, precisam de ações que visem a sua preservação. É uma ótima opção de turismo na cidade de São Luís, por se caracterizar tanto como forma de turismo ecológico e rural, como também de turismo cultural. É importante destacar que o Sítio Piranhenga apesar de ser uma alternativa muito viável para a atratividade e desenvolvimento turístico na capital, ainda não está no principal roteiro turístico de São Luís, isto é, não é considerado parada obrigatória os turistas. Portanto, o Sítio Piranhenga tem grande valor cultural, histórico e natural para toda São Luís. E essa cidade que respira história e cultura não pode esquecer de um dos seus principais atrativos turísticos. O Sítio Piranhenga tem uma área verde de grande importância e beleza, e desta forma é necessário preservá-lo, para que gerações futuras possam usufruir do local e repassar para as próximas gerações.

REFERÊNCIAS BECKER, Howard S. Métodos de pesquisas em ciências sociais. 4 ed. São Paulo: Hucitec, 1999. MURTA,: Stella Maris e GOODEY Brian. Interpretação do patrimônio para o turismo sustentado: um guia. Belo Horizonte, SEBRAE (MG): Perffil, 1995. PENHA, Aline Ferreira. Fogo e Lugar: Sítio Piranhenga – desvendando, apreciando e preservando. Estudo do potencial turístico e de lazer do Sítio Piranhenga. São Luís, 2005 monografia. RUSCHMANN, Dóris Van de Meene. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas, SP: Papirus, 1997. THIOLLENT, Michel. Pesquisa-ação nas Organizações. Sao Paulo: Atlas, 1997.

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Turismo em Pauta. / Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – N. 3 (2010). Rio de Janeiro: CNC, 2010. Disponível em: < http://www.cnc.org.br/sites/default/files/arquivos/miolo_tur_pauta_03_web.pdf >. Acesso em: 26 out. 2011.

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OS IMPACTOS GERADOS PELO TURISMO A PRAIA DE ATALAIA – PI Maria Tércia Oliveira dos Santos79¹ RESUMO O presente trabalho tem como objetivo identificar os impactos ambientais causados na Praia de Atalaia em Luís Correia, decorrente da instalação do Porto de Luís Correia que se configura como uma arma propulsora de poluição ambiental, e, do grande fluxo de turistas nos períodos de alta sazonalidade. Além, de suas consequências ao meio ambiente através das poluições sejam elas provocadas por lixo, resíduos sólidos, sons, a quantidade de esgotos (in natura) lançados diretamente no mar e a presença de resíduos acumulados ao longo da costa. Para isso foi necessário, destacar a falta de planejamento e as consequências da expansão nos fluxos turísticos de forma desordenada. Além, da falta de políticas que trabalhe na forma de gestão participativa com a comunidade local e o Trade Turístico da região. O ambiente natural em questão configura-se como fonte receptora desses impactos ambientais oriundos de efluentes produzidos na cidade, construções e outros facilmente observados durante o período de alta sazonalidade, onde o fluxo de turistas aumenta. Palavras-chave: Praia de Atalaia, Impactos, Fluxo Turístico e Gestão Participativa.

INTRODUÇÃO O presente artigo caracteriza os impactos do Turismo sobre o meio ambiente na região de Luís Correia, mais especificamente na praia de Atalaia, por sofrer uma maior atuação da atividade turística. Dessa forma, procuramos identificar as possíveis modificações ocorridas em consequência da implementação do Porto de Luís Correia. Os impactos dos fluxos de turistas sobre a comunidade receptora através da poluição sonora e a necessidade de uma política de gestão voltada para a coleta de lixo e de uma rede coletora de esgoto. Para solucionar os problemas apresentados, uma das alternativas consiste no estudo da capacidade de carga; outra medida é a necessidade de uma gestão participativa que envolva todos os atores da sociedade e também campanhas voltadas para a educação ambiental, que sensibilize não apenas a comunidade receptora mais também os visitantes. Além de buscar desenvolver o turismo com base na sustentabilidade. Logo, para obtermos um melhor entendimento do objeto de estudo, serão apresentados inicialmente as características gerais do Município como também da praia de Atalaia, a explanação dos impactos e os caminhos a serem analisados para buscar resolver tal problemática. A CIDADE DE LUÍS CORREIA Teve sua origem de uma vila de pescadores que antes se chamava da amarração, em 1820. No inicio dos anos 70, com a construção da Rodovia 343, que integrou o sul do Estado ao litoral à cidade veraneio foi descoberta, conhecendo assim, a beleza e os segredos

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Turismóloga, formada pela [email protected].

Universidade

Estadual

do

Piauí



UESPI.

Email:

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do litoral piauiense. Luís Correia, hoje, é uma das referencias turísticas do Piauí e dos Estados vizinhos. Além de importante ponto de apoio turístico o Delta do Piauí. Nos seus aspectos Físicos, a cidade de Luís Correia esta localizada a 338 km de distância de Teresina. Encontra-se dentro da planície litorânea. Suas coordenadas geográfica são de 02°52’45’ de latitude sul e 41°40’01’ de longitude oeste. Em com altitude de aproximadamente 10 metros. Possui clima Tropical alternadamente úmido e seco, com duração do período seco de seis meses. Possui temperaturas médias entre 25°C e 32°C. Apresenta uma precipitação pluviométrica de 1.173,4 mm.Sua vegetação é formada pela restinga, vegetação de dunas e caatinga arbórea e arbustiva. Os recursos hídricos é formado pelo Oceano Atlântico, Rios Carpina, Portinho, São Miguel, Ubatuba e Lagoas das Mutucas, do Sobradinho, da Santana, e do Jabuti. Em relação aos aspectos Humanos, a cidade de Luís Correia possui uma área de 1.071,276 Km² e uma população de 28.422 habitantes. E uma densidade populacional de 26,52 hab./Km². E do total de habitantes 12.646 da população vive em área urbana e 15.776 em área rural. PRAIA DE ATALAIA A praia de Atalaia esta localizada a 370 Km da capital Teresina. Possui águas mornas e claras, amplamente urbanizada, é uma das mais famosas do litoral piauiense. Constitui um local de grande fluxo de turistas na alta temporada, geralmente em julho, final do ano e no período do carnaval. Suas águas são protegidas pelo molhe de pedras de 2km de extensão do Porto de Luís Correia. E possui um percurso de 9km de extensão total que leva ate a praia do coqueiro. Em relação à infraestrutura turística, a praia conta com uma Orla recém construída em 2011. Que conta com uma infraestrutura turística de aproximadamente 70 bares e restaurantes, com banheiros e sinalização turística adequadas para atender ao grande fluxo de turistas na alta sazonalidade. Esse tipo de segmento geralmente é formado por pessoas que buscam diversão. Os turistas que freqüentam a praia possuem um poder aquisitivo menor e não se importam muito com barulhos, mesas cheias e um ambiente com muito fluxo de pessoas. É uma praia caracterizada por um público familiar, extrovertido e gregário, que geralmente freqüenta a praia uma vez por ano. IMPACTOS AMBIENTAIS EXISTENTES Lixo e Resíduos sólidos: Consiste em um dos impactos mais preocupantes. O impacto causado pela concentração intensa da atividade turística que faz o lançamento impróprio de materiais que poluem o ambiente, como por exemplo: as latinhas de cerveja, garrafas pet, sacos plásticos, papéis e restos de casca de alimentos e outros que se configuram nos chamados resíduos sólidos que podem poluir não apenas o solo, mas também as águas superficiais ou subterrâneas, devido a sua biodegrabilidade. Tal fatalidade gera modificações na aparência física da área natural, além de trazer sérios riscos à vida de organismos aquáticos. Segundo Mariga (2010, p.48): “Resíduo sólido é todo resíduo não líquido considerado inútil, indesejável ou descartável”. No litoral piauiense, em especial na praia de Atalaia. O acúmulo de lixo é resultado da negligencia tanto de moradores como de visitantes. Pois, o lixo é descartado a céu aberto e possui uma carência de um sistema regular de coleta.

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Toda a sujeira traz repercussões negativas tanto para a saúde das pessoas como também para o turismo do local. Poluição Sonora: A praia é onde se concentra os paredões de som, em carro próprio e sem uma fiscalização adequada, os banhistas principalmente os jovens utilizam desse tipo de equipamento para se divertir na praia de Atalaia. A poluição sonora ocorre devido a concentração dos paredões que competem entre si, em tamanho e capacidade sonora variada. Isso, tudo causa desconforto não apenas aos outros banhistas que se encontram na praia para descansar, mas também a comunidade que vive próxima a ela. Nos períodos de alta sazonalidade, como nas férias e principalmente no período do carnaval os paredões de som aumentam e tiram o sossego das pessoas que buscam tranqüilidade. Sem duvida o público jovem, formado por turistas inexperientes que buscam apenas a diversão sem pensar nos sérios impactos que se pode trazer são os que mais produzem esse tipo de poluição ambiental. A lei do silêncio e a lei de crimes ambientais tem se configurado em um aliado importante para inibir a atuação excessiva do uso desses equipamentos em níveis máximos de som e ruídos. Mas, já existe um novo projeto de lei discutido pelo vereador Rodrigo Martins que tem como finalidade a proibição desses paredões em locais como praças, bares, postos de gasolina, restaurantes e outros. O prefeito de Luiz Correia, Kim do Caranguejo, também abraçou a causa e proibiu a entrada desses paredões em veículos automotivos, no período das férias. O enquadramento da poluição sonora como crime ambiental se encontra no Art. 54 da Lei nº 9.605 / 98. Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. Além da utilização desses carros de som, o turista também usufrui de outros equipamentos como Jet skis, jipes, bugs, motos e outros que também causam estresse, irritação e problemas de audição tanto para a comunidade local como também para os turistas que saem da vida de longos congestionamentos e barulhos de carros em busca de tranquilidade. Porto de Luís Correia:

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A construção do porto já dura há 62 anos, e é uma das obras do Governo Federal do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Nessa obra já foram gastos mais de 64 milhões. As obras de dragagem esta provocando grandes impactos principalmente a praia de atalaia que fica mais próxima do porto. Os efeitos são diversos, desde morte da vida marinha: peixes, algas e outros, como a mudança de cor da água do mar na região da praia. O porto ainda tem que passar pelo EIA – Estudos dos Impactos Ambientais que é realizado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a partir do estudo é que se pode dizer se a obra do porto é viável ou não. Porém, o que se observa é que as obras do porto já começaram, e, já encontra suas dificuldades entre elas a falta de viabilidade econômica, ambiental e técnica para construção do mesmo. Outro impacto que esse porto pode trazer é o fato da vinda de embarcações que trazem consigo as águas de lastros que servem para dá sustentação dos navios. Segundo a ONG Água de lastro Brasil, (2009, p. 9) “A água de lastro é uma técnica utilizada em que a água do mar é necessariamente carregada dentro do navio com o objetivo de assegurar a estabilidade, manobrabilidade e a integridade estrutural do mesmo”. Essas águas trazem consigo espécies exóticas, pelo fato de serem oriundas de outros territórios que possuem uma diversidade diferente do novo habitat em que estão inseridas. Esse fator pode trazer sérios riscos à diversidade característica da região próxima ao porto, devido ao fato da disseminação de novas espécies de animais e microorganismos que podem causar danos ao meio ambiente. Um exemplo é a extinção de espécies nativas que passa a ser substituída pela espécie invasora e acaba por gerar um desequilíbrio, visto que algumas outras espécies dependentes da espécie extinta venham também a sentir as consequências. As doenças na comunidade local e na sociedade também se configuram em um risco visto que já foram detectados casos em que agentes patogênicos já foram encontrados nas águas de lastro. Redes de esgotos: A água que é utilizada nas atividades domésticas e depois descartada se configura em um resíduo liquido chamado esgoto, que pode gerar danos ao meio ambiente e também a saúde das pessoas. Em Luís Correia, houve um grande crescimento de construções. O famoso Boom imobiliário que se estende próximo as praias, como casas, hotéis, pousadas e outros, que buscam atender o grande numeram de turistas que a cidade recebe em alta temporada. A maioria desses domicílios não possui redes coletoras de esgotos adequadas. Sendo assim, tal negligencia sob recai a praia, pois todo o esgoto proveniente dessas construções é lançado diretamente no mar, sem nenhum tratamento, o que poderá levar a uma possível proliferação de doenças e epidemias e grandes impactos ao meio ambiente. O saneamento é um elemento fundamental para que se possa desenvolver uma atividade turística. O percurso final para os esgotos, tratados ou não, é o ambiente que se configura no corpo receptor seja por meio de córregos, rios ou mares. Por isso é necessário que se desenvolva uma rede coletora e um tratamento adequado dos esgotos domésticos. Que deve ser feito com iniciativas do governo municipal, através da fiscalização e da conscientização de que a qualidade de vida da população esta diretamente ligada a condições de saneamento básico. CAMINHOS A SEREM EXPLANADOS

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Capacidade de Carga: A capacidade de carga nada mais é do que o estudo de uma área, com o objetivo de identificar os limites aceitáveis da presença de visitantes para que não haja uma degradação maior do meio ambiente onde existe uma intensa visitação. Dessa forma, o estudo deve estar ligado à prática da sustentabilidade com a preservação para que ele se perpetue sem afetar o valor da experiência do visitante. Segundo Dias (2008, p.81): “A capacidade de carga consiste no número de turistas que podem ser acomodados e atendidos em um ambiente turístico sem provocar alterações nos aspectos físico, social e na expectativa dos visitantes”. A determinação da capacidade de carga nas destinações turísticas se tornou algo muito complexo, pois envolve uma gama muito variada de informações a serem observadas, como: as modalidades de intervenção do espaço, regime das chuvas os tipos de lazer que são praticados e o comportamento dos indivíduos. A capacidade de carga quando relacionada com o turismo deve avaliar uma série de aspectos, dentre eles: - Físicos: que esta voltada para a criação de novas instalações que ajude na ampliação da capacidade de atendimento local. Como por exemplo, a criação de passarelas para pedestres, estacionamentos, banheiros públicos. Que aplicado a praia de Atalaia, já se tem notado algumas das medidas sendo efetuadas como a questão dos banheiros públicos; porém, há ainda uma necessidade maior de estacionamentos no período de alta sazonalidade, pois além do congestionamento que é gerado próximo a praia, muitos turistas que não tem como pagar altas taxas para estacionar seu carro em áreas privadas, acabam por estacionar o carro em locais impróprios. - Relacionados com os Residentes: esse aspecto esta voltado para a relação comunidade autóctone e visitante. A experiência vivida por ambas é muitas vezes diferente. - Social: a capacidade de carga social esta voltada principalmente pela deficiência de algumas instalações. Em Luís Correia como um todo, pode se observar esse fator nos períodos em que a cidade recebe um grande numero de turistas e isso provoca uma diminuição no abastecimento de água e falta de energia. Podemos encaixar nessa problemática a questão dos paredões que trazem problemas de saúde e o estresse. Todos esses acontecimentos interferem na vida social da população local, que a acaba por criar certa resistência a vinda de turistas para a região. - Temporal: a capacidade de carga temporal esta voltada para determinadas épocas do ano em que o consumo aumenta gerando problemas de distribuição entre a população residente e o visitante. Logo, o ideal é que o estudo da capacidade de carga seja utilizado juntamente com programas que visem o treinamento, identificação de perfis de turistas bem como no atendimento de suas necessidades e também na conservação. Dessa forma, ele se constitui em uma ferramenta de estratégia no desenvolvimento de planos de gerenciamento para o turismo, onde se busca a diminuição dos impactos da atividade. Campanhas de Educação Ambiental: A educação Ambiental consiste em um processo continuo de aprendizagem onde o individuo e a comunidade agrega conhecimento, valores e passa a agir a respeito da necessidade da preservação do meio ambiente.

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Mas para que esse individuo tenha consciência da problemática ambiental, é necessário que se estabeleça campanhas que incentivem a participação da comunidade através do processo de sensibilização. Para Neiman e Rabinovici, (2010, p.74): “A educação ambiental por meio da sensibilização pode iniciar a ampliação da percepção de que os atos da humanidade afetam diretamente o meio ambiente e da importância da preservação deste”. Em Luís Correia, as campanhas de educação ambiental teriam como objetivo a conscientização não apenas da comunidade local, mas também dos turistas a respeito da importância de se evitar a poluição e a degradação do patrimônio ambiental, que é fundamental para manter o fluxo turístico, visto que se configura em um dos principais atrativos. Dessa forma, procuram-se formas de combater aos principais impactos como o acumulo de lixo e resíduos nas praias, a falta de tratamento de esgotos e outros. Uma das alternativas seria a aplicação de técnicas de produção limpa, onde se prioriza a utilização de materiais não poluentes, sistemas de tratamento de esgotos mais eficientes e fontes de energia alternativas. Para Dias (2008, p. 99): “O consumo sustentável inclui o desenvolvimento de uma demanda de consumo por produtos de produção limpa, e por serviços que são oferecidos com o objetivo de diminuir os impactos ambientais.” Logo, o aumento da consciência ambiental, esta diretamente relacionada com a pratica da sustentabilidade. Modelo de Gestão Participativa: A gestão participativa se constitui hoje na principal ferramenta de ajuda na criação de políticas de turismo. Essa gestão deve envolver os três atores da sociedade: poder público, privado e a comunidade local, que juntos devem compartilhar as responsabilidades, buscando sempre a melhor forma de garantir a proteção do patrimônio natural em questão. Esse tipo de gestão tem como objetivo principal motivar a participação da comunidade no processo da tomada de decisões garantindo o acesso à informações e melhorando dessa forma a qualidade das ações a serem executadas. DESENVOLVIMENTO COM BASE EM UM TURISMO SUSTENTÁVEL Essa temática, “sustentabilidade” ganha destaque a partir do séc. XX quando se começou a discutir e levantar a problemática do esgotamento dos recursos não só naturais, mas também culturais e sociais. E o turismo como uma atividade que “explora” todos esses recursos, não poderia ficar de fora da discussão e na busca de um desenvolvimento sustentável. O processo de desenvolvimento econômico aliado às transformações tecnológicas e cientificas levaram a uma sociedade que visa o acúmulo de riquezas levando a uma exploração dos recursos naturais sem precedentes. Essa exploração ganhou mais importância quando se observou a necessidade de se explorar esses recursos sem torná-los escassos, a partir dessa ideia surge o papel do desenvolvimento sustentável. De acordo com Poles e Rabinovici (2010, p.18) o desenvolvimento sustentável pode ser entendido como: “aquele que busca uma harmonia entre o desenvolvimento econômico e conservação ambiental, fazendo uso consciente dos recursos naturais e com baixos impactos socioambientais”. Percebe-se que o turismo é colocado como instrumento de desenvolvimento, mas para que esse desenvolvimento aconteça de forma viável, é necessário que ele cresça com base nos princípios da sustentabilidade, ou seja, agindo sempre a favor de um ambiente preservado, que seja economicamente viável e justo no aspecto social e cultural de uma

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comunidade. Logo, a sustentabilidade é tratada no turismo sob três enfoques: o ambiental, o sociocultural e o econômico. E estes, devem estar em concordância para que se alcance o desenvolvimento sustentável da atividade. Segundo Dias (2005, p.108): A sustentabilidade econômica é conquistada quando este se desenvolve de forma eficiente e trás benefícios a todos os agentes envolvidos incluindo a comunidade receptora. A sustentabilidade sociocultural quando se consegue a diminuição das desigualdades sociais, a valorização, manutenção e preservação das culturas locais e dos patrimônios; e por ultimo a sustentabilidade ambiental que deve ser alcançada através da manutenção de todos os recursos naturais envolvidos.

Aplicando essa análise ao objeto de estudo, nota-se que para o desenrolar do turismo na praia de Atalaia se desenvolva com base na sustentabilidade, é necessário que as atividades econômicas realizadas a partir do turismo no destino, seja benéficas não apenas para o setor publico e para o trade turístico envolvido mais também para a comunidade local, onde o retorno econômico propicie melhorias na qualidade de vida da mesma. A atividade turística também deve proporcionar uma maior valorização do patrimônio natural que a praia representa para a comunidade despertando o interesse e buscando a preservação desse recurso natural levantando a questão da sustentabilidade ambiental não só para a comunidade receptora mais também para os turistas, destacando a importância da manutenção desse recurso, principalmente por se tratar de um recurso natural e por servir como base para a sustentação do turismo no destino. Beni (2006, p.98) propôs adotar uma estrutura de acordo com um conjunto de diretrizes que possuem como base dimensões de sustentabilidade, essas dimensões são divididas em duas categorias, são elas: dimensões objetivo e dimensões instrumento. As dimensões objetivos referem-se aos benefícios que a atividade turística é capaz de trazer para os municípios, como: ambientais, culturais, sociais, econômicos e político institucionais. As dimensões instrumento servem apenas para da suporte ao alcance das dimensões objetivos, refere-se a sustentabilidade mercadológica, espacial, financeira, política, administrativa, organizacional e jurídica.

No entanto, será dada maior importância às dimensões objetivo por envolver os aspectos, que estão diretamente relacionados com o que o turismo considera o tripé da sustentabilidade. Referindo-se a sustentabilidade ambiental, socioeconômica e cultural. Dessa forma, o autor, estabelece diretrizes, onde são expostas as potenciais linhas de ação para se conseguir a sustentabilidade e atingir um desenvolvimento de forma racional. Segundo Dias (2008, p.75): Para atingir a sustentabilidade de um destino, é necessário a participação de diversos atores no processo, como os já mencionados: residentes, turistas, governantes, empresários e outros, que juntos buscarão integrar os recursos naturais e culturais num processo de planejamento que estabeleça um desenvolvimento gradual e permanente sem que a atividade comprometa as gerações futuras, e privilegie-se apenas de ganhos econômicos e financeiros imediatos sobre uma base tecnológica prejudicial ao meio ambiente .

Logo, destaca-se que a busca da sustentabilidade nada mais é do que um planejamento necessário da atividade sob o ponto de vista econômico, sociocultural e ambiental, para que o turismo não venha a acabar com os recursos que na maioria das vezes constituem a base para a existência da atividade turística.

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Observando-se da necessidade de um planejamento prévio, a OMT (2005, p.16) destaca que: “(...) o turismo não pode ser planejado e nem ser gerido sem levar em conta o entorno, a economia e a comunidade que formam parte de um destino turístico”, ou seja, é necessário que o planejamento trace estratégias prévias que busquem atingir um desenvolvimento sustentável e que quando aplicado em um destino turístico especifico, solicite medidas com resoluções que sejam compatíveis com a realidade local levando em conta sempre o entorno, as expectativas econômicas e a comunidade autóctone.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos perceber que a praia de Atalaia, esta passando por um processo de degradação, devido à intensa atividade turística exercida na região. E que o poder público não se utiliza de mecanismos para evitar os impactos que são produzidos. Como por exemplo, na fiscalização e na aplicação de multas de veículos que provocam a poluição sonora na praia; e também, na falta de investimento em técnicas de produção limpa que visem o desenvolvimento da atividade através de materiais não poluentes, sistemas adequados de tratamento de esgotos, visto que a falta de tratamento desse resíduo doméstico são lançados diretamente na praia sem nenhum tratamento. Além é claro, do incentivo a participação da comunidade através de campanhas de educação ambiental. Porém, há casos em que o problema não depende exclusivamente do poder público, como por exemplo, na deposição de lixo e resíduos sólidos, esse fator deve partir da consciência de todos aqueles que produzem o lixo. Quanto ao porto, este deveria passar por uma análise através do EIA – Estudo dos Impactos Ambientais que em seguida teria a aprovação do IBAMA para que a obra inicia-se. Porém, o que se observa é que as obras já foram iniciadas e que repetitivamente são interrompidas por falta de viabilidade econômica, ambiental e técnica na sua construção. Logo, a praia de Atalaia fica submersa a todos esses impactos, necessitando de um aperfeiçoamento no planejamento e gerenciamento ambiental como também de medidas que visem o aumento da consciência ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENI, Mário Carlos. Política e Planejamento do Turismo no Brasil. São Paulo: Aleph, 2006. – (Série Turismo). BRASIL, Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/ 98, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividade lesivas ao meio ambiente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9605.htm Acesso em: 04 de junho de 2012. DIAS, Reinaldo. Introdução ao Turismo. São Paulo: Atlas, 2005. DIAS, REINALDO / Turismo Sustentável e Meio Ambiente/ -1.ed. -4. reimpr. –São Paulo: Atlas, 2008. FUNDAÇÃO CEPRO, Piauí em Números. Teresina, 2004/ Situação socioeconômica – Piauí.

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FUNDAÇÃO CEPRO. Guia Turístico de Estado do Piauí, 2002. GEERDINK, S.; NEIMAN, Z.; A Educação Ambiental pelo Turismo. In: Neiman, Z.;Rabinovici, A. (Orgs). Turismo e Meio Ambiente no Brasil. – Barueri, SP: Manole, 2010. MARIGA, JANDIRA / Desenvolvimento, implementação e avaliação de um programa de aprendizagem ambiental para condomínios residenciais: enfoque resíduos sólidos/ Cascavel: Edunioeste, 2010. Coleção Thésis. ONG Água de Lastro Brasil / A água de lastro e seus riscos ambientais / Cartilha de conhecimentos básicos. São Paulo, 2009. Disponível em: Acesso em: 26 de maio de 2012. ORGANIZACIÓN MUNDIAL DEL TURISMO (OMT). Indicadores de desarrollo sostenible para los destinos turísticos: Guía práctica. Madri: OMT, 2005. POLES, Gabriella & RABINOVICI, Andréa. O ambientalismo, o turismo e os dilemas do desenvolvimento sustentável. In: NEYMAN, Zysman & RABINOVICI, Andréa. (Orgs.)Turismo e meio ambiente no Brasil. – Barueri, SP: Manole, 2010, p.1-24. Revista Cidade Verde/ Ano 01. Edição 011. 31 de Julho de 2011.

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PLANEJAMENTO, PARTICIPAÇÃO E EMPODERAMENTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ELABORAÇÃO DO PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE ALAGOAS Daniel Arthur Lisboa de Vasconcelos80 Ándelli D’Mara Santos da Graça81 RESUMO Este artigo traz reflexões sobre a participação e o empoderamento dos stakeholders no processo de elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas. A participação pode ser entendida como o ter parte, tomar parte e o ser parte de algo, podendo esta ser ativa ou passiva. Quando essa dá-se de forma crítica e ativa, determina o empoderamento, definido como o aumento do poder e da autonomia individual e coletiva do ser frente às relações interpessoais e institucionais. Contudo, para o seu desenvolvimento, o empoderamento deve ser trabalhado por agentes externos. No percurso metodológico desse estudo, utilizou-se de entrevistas qualitativas semi-estruturadas, bem como de observação participante realizadas no acompanhamento de oficinas de elaboração do plano de turismo de Alagoas, entre os anos de 2012 e 2013. Nesta pesquisa, constatou-se que, para a participação ativa dos stakeholders em processos para o desenvolvimento do turismo, o que se deve ser trabalhado não é apenas a questão do empoderamento, mas também o papel que estes atores devem exercer como cidadãos. Palavras-chave: Participação; Empoderamento; Planejamento Turístico; Alagoas.

1.

INTRODUÇÃO

O turismo é uma das principais atividades econômicas da atualidade. Sua prática, observada desde os povos antigos, tem evoluído constantemente ao longo dos anos, tornando-se um importante colaborador para a economia mundial. De acordo com Coelho e Fernandes (2011, p. 04), a atividade turística tem crescido na área dos negócios, constituindo o segmento que apresenta maior crescimento nesta área. Com base nos dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo constitui, em escala mundial, 9% do Produto Interno Bruto, 30% do comércio de serviço e ocupa hoje a 5ª posição na lista dos principais produtos de exportação (MACHADO, 2013), sendo que um dos fatores que pode ter colaborado para o alcance destes indicadores foi a utilização eficaz do planejamento. De acordo com Molina (2005, p. 45), o planejamento consiste na utilização de métodos racionais que orientem a mudança da situação atual indesejada para um estado futuro desejável e realizável. Ou seja, planejar é projetar uma situação futura, é estabelecer um estado que se quer alcançar com a escolha responsável dos caminhos a percorrer para que se atinjam os objetivos e metas instituídos. Segundo Molina e Rodriguéz (2001, p. 13), o turismo se utiliza do planejamento como uma estratégia e um instrumento que orienta o seu desenvolvimento. Para Boiteux e 80

Doutorando em Cidades e Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Alagoas. Bacharel em Turismo pela Faculdade de Alagoas. Docente efetivo da Graduação em Turismo da Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected] 81 Graduanda em Turismo pela Universidade Federal de Alagoas. Contatos: [email protected]

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Werner (2003, p. 10) “planejar um destino turístico significa estruturá-lo para que a atividade possa gerar empregos, renda, consumo e, consequentemente, aumentar a qualidade de vida do município” ou de qualquer outra região. Para tal, o planejamento turístico deve ser desenvolvido a partir de um estudo preliminar da realidade a qual se quer modificar, considerando todos os elementos ligados a esta, seja de forma direta ou indireta. No entanto, para que o planejamento turístico produza impactos positivos, faz-se necessário, além de ser desenvolvido a partir da realidade local, que haja a participação da comunidade no processo de tomada de decisão e não apenas da intervenção de instituições públicas e privadas. Conforme Araujo (2008, p. 92), acredita-se que, com a participação de vários indivíduos envolvidos com a atividade turística no processo de desenvolvimento de um plano de turismo, o destino possa competir melhor com outras destinações turísticas que possuem produtos semelhantes. O objetivo deste artigo é realizar breves reflexões sobre a participação de stakeholders no processo de elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas. Para tal, buscou-se identificar as principais variáveis qualitativas que pudessem conceder uma análise da participação dos agentes interessados nesse processo, bem como o empoderamento destes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que se utilizou da observação participante em seis das dez oficinas destinadas à concepção do plano, realizadas em maio, junho, agosto, setembro, novembro e dezembro de 2012. A utilização da abordagem qualitativa se deu pelo fato desta possibilitar ao pesquisador o uso de diferentes métodos de investigação e interpretação, o que permite a construção de uma visão mais profunda das opiniões dos entrevistados. Para este estudo, foi realizado inicialmente um levantamento bibliográfico sobre os temas planejamento turístico participativo, participação e empoderamento, tendo como base estudos de autores como Araujo (2008), Beni (2006), Boiteux e Werner (2003), Bordenave (1983), Gohn (2004) e Horochovisk e Meirelles (2007). Concomitantemente, recorreu-se a observações participantes em reuniões de elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas através das quais pôde ser identificado o públicoalvo para a aplicação de entrevistas semi-estruturadas, quais sejam, alguns stakeholderschave no processo aqui estudado. Desta forma, foram entrevistados representantes da equipe técnica do plano, de secretarias municipais de turismo do estado, empresários, assim como representantes de instituição de ensino superior e associações de classe. A aplicação das entrevistas foi realizada em dezembro de 2012, momento em que o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas foi validado pelos atores sociais de todo o estado, e também entre dezembro de 2013 e março de 2014, totalizando cerca de dez entrevistas. Com isso, procurou-se coletar percepções em relação à participação, tanto no fim do processo de elaboração do plano de turismo do estado, quanto no início da sua efetiva implementação.

2.

PARTICIPAÇÃO E EMPODERAMENTO

Desde seus primórdios percebe-se que a humanidade tem por necessidade a participação, segmentando-se em diferentes grupos sociais, a exemplo das famílias, clãs, tribos, comunidades, associações, empresas, cooperativas, dentre outros. De acordo com Bordenave (1983, p. 17), a participação está intimamente ligada à natureza social do ser humano, sendo que a insatisfação desta necessidade se configura numa “mutilação do homem social”. Beni (2006, p. 139) afirma que participar é “tomar parte de ou fazer parte de, ou seja, indica envolvimento em algo”. Já Bordenave (1983, p. 22) vai mais além e também insere

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nesta definição o “ter parte”, sendo que a diferença destas três condições é que indica se a participação é ativa ou passiva. Ou seja, se um indivíduo apenas fizer parte, por exemplo, de uma empresa, sua participação será passiva, pois o cidadão segue imóvel, inerte, sem grandes contribuições para a tomada de decisão do grupo. Entretanto, quando o indivíduo também toma parte da empresa, sua participação será ativa, pois este assumirá uma parcela das decisões da organização. Já se o indivíduo apresentar, além destas duas características, o ter parte, sentir-se-á componente desta empresa, sua participação será ativa, mas com um grau maior de envolvimento e comprometimento. Os indivíduos que devem participar de processos são denominados stakeholders82, que são atores sociais que podem afetar ou ser afetados por ações que busquem atingir determinados objetivos. No entanto, a qualificação de um ator como stakeholder dependerá se este possui verdadeiro interesse em participar do processo no qual está inserido (BENI, 2006, p. 155). Sendo assim, observa-se que não é necessário apenas comparecer aos encontros, seminários ou outras formas de mobilização social, é imprescindível a participação ativa, caracterizando-se, desta forma, no empoderamento que, segundo Beni (2006, p. 74), presume uma participação crítica e ativa. Com isso, torna-se relevante fazer uma breve análise sobre empoderamento no processo de participação. Beni (2006, p. 80) afirma que o empoderamento está intimamente relacionado à participação, a qual possibilita que este se manifeste. Já para Horochovski e Meirelles (2007, p. 488), não só a participação, mas também o capital social83 são fatores que promovem o alcance do empoderamento. Outros fatores como, por exemplo, autoestima, autoconfiança, acesso à informação, dentre outros, também colaboram para o aumento do empoderamento. De acordo com Horochovski e Meirelles (2007, p. 486), o empoderamento “se refere à capacidade de os indivíduos e grupos poderem decidir sobre as questões que lhes dizem respeito”. Já Barbosa, Borba e Wendhausen (2006, p. 133), baseando-se nos estudos de Vasconcelos (2004), afirmam que o empoderamento é o “aumento do poder, da autonomia pessoal e coletiva de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais”. Procura-se, com o empoderamento dos atores sociais, alcançar o equilíbrio nas relações de poder na sociedade, sendo o processo de empoderamento uma busca pela equidade. Gohn (2004, p. 24) afirma que “o poder local de uma comunidade não existe a priori, tem que ser organizado, adensado em função de objetivos que respeitem as culturas e diversidades locais, que criem laços de pertencimento e identidade sociocultural e política”. Desta forma, faz-se necessário que haja o apoio de agentes externos – como o Governo, ONGs, entidades de ensino superior, dentre outros – para auxiliar no desenvolvimento do empoderamento nas comunidades desempoderadas (HOROCHOVSKI; MEIRELLES, 2007, p. 501). Entretanto, há comunidades que não aceitam a intervenção dos agentes externos, podendo acarretar, com tais resistências, na não obtenção do empoderamento (HOROCHOVSKI; MEIRELLES, 2007, p. 501). Segundo Horochovski e Meirelles (2007, p. 501), para o alcance dos resultados almejados, é importante que haja “uma postura de mediação, e não de determinação do que deve ser feito”. Ou seja, as decisões devem ser tomadas a partir de um consenso entre as partes, sendo que a imposição e o ceticismo não 82

Segundo Torres (2012), a epistemologia da palavra stakeholder vem da junção das palavras stake, que tem por tradução “pedaço, fatia”, e holder, que pode ser traduzida como “aquele que segura, possui”. Assim, stakeholder “é um indivíduo que, metaforicamente (em alguns casos também literalmente), possui uma parte do negócio” (TORRES, 2012, p. 05). 83 O capital social “é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter-reconhecimento ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns (passíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles mesmos), mas também são unidos por ligações permanentes e úteis” (BOURDIEU, 1999, p. 65).

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contribuem para o alcance dos benefícios comuns. Assim, Rich et al. (apud HOROCHOVSKI; MEIRELLES, 2007, p. 495) afirmam que, se o indivíduo é desprovido de empoderamento, a motivação para participar da tomada de decisão diminui, ao passo que este é consumido por um sentimento de frustração. Entretanto, a falta de empoderamento não é o único motivo que resulta na não participação dos atores sociais, em relação ao planejamento turístico. Araujo (2009, p. 35) comenta que, além dos custos com o planejamento, que aumentam consideravelmente quando há o envolvimento da comunidade, outro fator que também dificulta a participação de atores sociais é o ceticismo e a desconfiança neste tipo de processo ou mesmo nas instituições públicas, que muitas vezes iniciam o planejamento da atividade turística e não o concluem devido à corrupção existente, barreiras políticas, recursos escassos, dentre outros fatores. Já para Feliciano et. al. (2008, p. 05) outro ponto que também gera dificuldades para a participação dos indivíduos é a acomodação de muitos grupos que preferem esperar que outros tomem a iniciativa, pois não estão habituados a participar.

3.

BREVE CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ALAGOAS

O Estado de Alagoas está localizado no Leste da Região Nordeste do Brasil. O território alagoano limita-se, ao Norte, com o Estado de Pernambuco, ao Sul, com o Estado de Sergipe, ao Oeste, com o Estado da Bahia e, a Leste, com o Oceano Atlântico. O clima tropical é predominante na região, sendo observadas grandes extensões sob o domínio de clima semiárido, no chamado sertão alagoano (GOMES, 1997). Alagoas possui 102 municípios e tem como capital a cidade de Maceió. O estado ocupa uma área de 27.779,3 km² do território brasileiro e é povoado por 3.300.938 habitantes (ALAGOAS, 2013a). De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD ([201-]), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) por unidade da Federação, o Estado de Alagoas alcançou 0,631 em 2010, que foi considerado o mais baixo índice das unidades federativas do Brasil. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), em 2011, o PIB de Alagoas foi calculado em R$24.540 bilhões, obtendo um aumento de 6,7% em relação ao ano anterior (RODRIGUES, 2013). De acordo com Rodrigues (2013), neste mesmo ano, a maior parcela de contribuição no PIB alagoano foi do setor de serviços (68,7%), seguido pela indústria (25,2%) e a agropecuária (6,1%). Dentre os serviços ofertados em Alagoas está o turismo que, segundo Francisco ([201-]), é a atividade econômica que apresenta maior crescimento no estado. No que se refere ao segmento turístico, de forma mais específica, em 2012, foram contabilizados 408 empreendimentos hoteleiros em todo o estado, que somaram 11.714 unidades habitacionais, totalizando 30.330 leitos (ALAGOAS, 2013a). Em relação ao fluxo turístico, entre os anos de 1980 e 1990, Alagoas foi considerado um dos principais destinos turísticos da região Nordeste. Entretanto, nos anos seguintes o estado se transformou em um dos destinos menos visitados da região, segundo a Comissão de Turismo Integrada do Nordeste – CTI-NE (MARTINS, 2009, p. 85). Já na década entre 2000 e 2010, Alagoas foi o 5º estado nordestino que recebeu mais turistas. No entanto, em 2011, Alagoas assumiu a 6ª posição entre os estados nordestinos que mais receberam turistas (CTI-NE, [20--]). Com base nos dados divulgados pela CTI-NE ([20--]), em quase dez anos Alagoas teve um aumento de 45,88% no seu fluxo turístico, como é demonstrado na tabela a seguir.

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Crescimento do Fluxo Turístico nos Estados do Nordeste FLUXO FLUXO CRESCIMENTO NO FLUXO TURÍSTICO 2002 TURÍSTICO 2011 TURÍSTICO ENTRE 2002 E 2011 (%) 790 2049 159,37 Maranhão 1424 2754 93,39 Rio Grande do Norte 2685 4614 71,84 Ceará 621 883 61,19 Piauí 464 694 61,00 Sergipe 909 1360 55,01 Paraíba 4428 6279 48,90 Bahia 1334 1946 45,88 Alagoas 3277 4258 40,61 Pernambuco Fonte: Comissão de Turismo Integrada do Nordeste, [20--]. UNIDADE FEDERATIVA

Ao verificar os dados contidos na tabela acima, observa-se que o crescimento obtido por Alagoas em relação ao fluxo turístico no período entre os anos de 2002 e 2011 é considerado baixo quando comparado com o avanço ocorrido nos outros estados do Nordeste, sendo Alagoas o segundo estado que menos cresceu na preferência dos visitantes, superando apenas Pernambuco, que teve uma melhoria de aproximadamente 40,61% no fluxo turístico entre 2002 e 2011. 4. BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM ALAGOAS O primeiro órgão voltado para o desenvolvimento do turismo em Alagoas surgiu em 1968, quando o então Governador de Alagoas Antônio Semeão Lamenha Filho criou o Conselho Estadual de Turismo (CETUR), vinculado à Secretaria de Planejamento. A partir do CETUR, foram estabelecidas algumas parcerias com o SESC/AL, SENAC, Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra (PIPMO), Prefeitura de Maceió, dentre outros parceiros, para a realização de algumas iniciativas como, por exemplo, cursos voltados para o turismo e os concursos para a Rainha do Verão (ALAGOAS, [20--]). Em 1970, outro órgão de turismo foi criado para dar continuidade ao desenvolvimento da atividade. Surgiu então a Empresa Alagoana de Turismo (EMATUR), composta por uma diretoria, presidida pelo Secretário de Planejamento, e pelo CETUR. A EMATUR desenvolveu atividades de apoio e promoção de eventos, pesquisas de fluxo turístico, promoção do destino Alagoas para todo o país, dentre outros (ALAGOAS, [20--]). De acordo com Veras Filho (1991), a década de 1970 marca o início da expansão da atividade turística de Alagoas, quando houve avanços nas infraestruturas básica e turística do estado. Foram inaugurados restaurantes, hotéis de grande porte, ocorreu a realização de eventos importantes, não apenas na capital, mas também em outras partes do estado. Houve, também, a construção das pontes sobre as lagoas Mundaú e Manguaba e a pavimentação da Rodovia AL 101-Sul (ALAGOAS, [20--]). Em 1993 é criada a primeira secretaria de estado voltada exclusivamente para o turismo. A Secretaria de Turismo (SETUR) surgiu a partir da disjunção da Secretaria da Indústria, do Comércio e do Turismo e objetivou I – planejar, coordenar e executar a política estadual de fomento ao turismo; II – assistir ao Governador do Estado nos assuntos pertinentes ao estímulo e ao desenvolvimento das atividades turísticas; III – expedir instruções relativas à execução de leis e decretos relacionados a sua esfera de competência; IV – articular-se com órgãos e entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, objetivando a divulgação dos potenciais

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turísticos do Estado de Alagoas, bem assim a execução de programas e projetos ao incremento das atividades turísticas; V – compatibilizar as finalidades institucionais da EMATUR com as atribuições reservadas à Secretaria de Turismo, de conformidade com esta lei; VI – exercer outras ações indispensáveis ao cumprimento de suas finalidades (ALAGOAS, 1993, art. 2º).

Um dos grandes marcos do planejamento turístico de Alagoas ocorreu em 1997, quando foi apresentado o primeiro Plano Estadual de Turismo. O Plano Estadual de Turismo foi elaborado com base no Planejamento Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo no Estado de Alagoas, que foi organizado através da parceria do poder público e privado (ALAGOAS, [2005?]). Em 2000 ocorreu uma nova estruturação no Poder Executivo do estado. Com isso, a Secretaria de Turismo agregou também assuntos relacionados às atividades esportivas de Alagoas, denominando-se agora de Secretaria de Estado de Turismo e Esportes (ALAGOAS, 2000). Esta secretaria novamente sofreu modificações e, em 2003, surge uma nova Secretaria Executiva de Turismo – SETUR (ALAGOAS, 2003). Em 2005, uma nova versão do Plano Estadual de Turismo foi lançada pela Secretaria Executiva de Turismo, cujo período para a execução dos objetivos propostos estava previsto para 2005-2015. O documento teve por finalidade “nortear as ações de incremento e consolidação da indústria turística, levando em consideração os princípios básicos da sustentabilidade, no campo econômico, sociocultural, ambiental e espacial”, em consonância com o Plano Nacional de Turismo 2003-2007 (ALAGOAS, [2005?]). Nesta segunda versão do Plano Estadual de Turismo, Alagoas estava dividido em oito regiões turísticas, baseado no Programa de Regionalização do Turismo 2003-200784, a saber: Região Metropolitana, Região das Lagoas e Mares do Sul, Região Foz do Velho Chico, Região Costa dos Corais, Região dos Quilombos, Região Celeiro de Tradições, Região do Sertão Alagoano e Região do Canyon do São Francisco (ALAGOAS, [2005?]). Entretanto, em 2007 foi realizada uma nova classificação das regiões turísticas de Alagoas, com o objetivo de “hierarquizar as regiões turísticas e identificar seus respectivos destinos a partir do nível de desenvolvimento do turismo nos municípios” (ALAGOAS, 2011). Sendo assim, o território alagoano ficou dividido em sete regiões turísticas: Região Metropolitana, Região das Lagoas e Mares do Sul, Região Caminhos do São Francisco, Região Costa dos Corais, Região dos Quilombos, Região Celeiro de Tradições e Região do Sertão Alagoano. Esta nova organização e classificação das regiões turísticas se deram pela existência de duas regiões que detinham a mesma posição geográfica e características semelhantes, havendo a necessidade de uni-las. Desta forma, as regiões do Canyon do São Francisco e Foz do Velho Chico, foram agrupadas para formar a região Caminhos do São Francisco (SANTOS, 2012, p. 50). Nas últimas décadas, outras iniciativas para contribuir com o desenvolvimento do turismo também se desenvolveram em Alagoas. Pode-se citar como exemplos o Programa para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR-NE)85, os Arranjos 84

De acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, [20--]b), o Programa de Regionalização do Turismo “tem como objetivo organizar o território brasileiro em regiões turísticas, para fins de gestão, assim como identificar as necessidades das mesmas, orientando a atuação estratégica dos demais departamentos do Ministério do Turismo”. 85 O Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE) é um programa de crédito para o setor público (Estados e Municípios) que foi concebido tanto para criar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade da atividade turística na Região Nordeste, quanto para melhorar a qualidade de vida das populações residentes nas áreas beneficiadas. O PRODETUR/NE é financiado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e tem o Banco do Nordeste como Órgão Executor (BNB, [20--]).

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Produtivos Locais (APLs)86 e Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS)87. Atualmente, o planejamento turístico de Alagoas está baseado no Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas, documento que traz diretrizes para o desenvolvimento da atividade turística do estado em um prazo de dez anos (ALAGOAS, 2013b). Para os fins deste trabalho, faz-se imprescindível apresentar como se deu a elaboração deste documento.

5. O PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE ALAGOAS Desde a criação do Ministério do Turismo em 2003, o Governo Federal vem requerendo que o planejamento do turismo seja desenvolvido de forma descentralizada. Sendo assim, em 17 de novembro de 2008 foi sancionada a lei nº 11.771, que normatiza, dentre outras atribuições, a Política Nacional do Turismo, sendo um dos objetivos, desta política, descentralizar o planejamento da atividade turística, transformando-o em um instrumento de incentivo à participação e à cooperação entre os agentes do turismo. A Política Nacional do Turismo está presente no Plano Nacional de Turismo (PNT), documento que traz orientações para o desenvolvimento da atividade turística no Brasil (BRASIL, 2013, p. 05), sendo submetido à revisão a cada quatro anos (BRASIL, 2008, art. 6º, Parágrafo único). Atualmente, podem ser encontradas três versões do Plano Nacional de Turismo – PNT 2003/2007; PNT 2007/2010; PNT 2013/2016 – formuladas de forma participativa pelo Ministério do Turismo, o Conselho Nacional de Turismo e demais segmentos públicos e privados com interesse no planejamento da atividade turística (BRASIL, 2008, seção II, art. 6º). Alinhado ao PNT 2013/2016 foi desenvolvido o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas, também conhecido como Plano Estadual de Turismo, documento que tem por objetivo “descentralizar, de forma compartilhada, responsabilidades, esforços e o compromisso com o desenvolvimento do turismo sustentável no estado, nas diversas esferas públicas e entes do setor de turismo” (ALAGOAS, 2013b). O Plano Estadual de Turismo foi lançado em julho de 2013 e terá um prazo de dez anos para a execução de seus programas e projetos, como já mencionado anteriormente (ALAGOAS, 2013b). Para a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas foi estabelecido um termo de parceria entre a Secretaria de Turismo do Estado de Alagoas (SETUR) e o Instituto de Assessoria do Desenvolvimento Humano (IADH), instituição responsável pela sistematização do documento do plano. De acordo com o documento redigido, a coordenação do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas ficou sob a responsabilidade da SETUR, juntamente com o Fórum Estadual de Turismo

86

De acordo com Ramos (2009, p. 02) citando Petrochi (2004), os Arranjos Produtivos Locais “são aglomerações de empresas e de empreendedores localizados em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais tais como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa”. 87 De acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, [20--]a), o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável “é o instrumento de planejamento do turismo em uma área geográfica selecionada, que tem por objetivo principal orientar o crescimento do setor em bases sustentáveis, em curto, médio e longo prazo, estabelecendo as bases para a definição de ações, as prioridades e a tomada de decisão”.

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(FORETUR)88 e, para sua construção, contou também com a participação de atores de todo o estado (ALAGOAS, 2013c, p. 10). Sendo assim, foram realizados seminários e oficinas ministrados pelo IADH, nos quais os atores envolvidos com o turismo de Alagoas se fizeram presentes, além de algumas entrevistas qualitativas com representantes de todas as regiões turísticas de Alagoas. De acordo com o plano de trabalho, foi proposta a realização de três oficinas com a participação da equipe do IADH e o grupo de trabalho (ou grupo focal) – formado por representantes da SETUR, FORETUR, das regiões turísticas de Alagoas, acadêmicos e convidados (ALAGOAS, 2013c, p. 13) – e uma oficina com a participação apenas de grupo de trabalho. Além destas, mais dez encontros foram realizados a fim de proporcionar a reflexão de pontos relevantes do plano com a presença de atores de todo o estado. Dentre os encontros realizados com a participação de vários atores alagoanos, cinco oficinas foram realizadas nas cinco regiões turísticas de Alagoas (Região do São Francisco, Região das Lagoas e Mares do Sul, Região dos Quilombos, Região Costa dos Corais e Região Metropolitana) e cada ator participou da oficina destinada à sua região. Apesar de terem sido realizadas em cidades diferentes, as oficinas tiveram a mesma pauta, onde os participantes fizeram um diagnóstico rápido dos pontos positivos e negativos (SistemaAmbiente) do turismo do estado. Em outros dois encontros, foram solicitados que fossem apontados os componentes da Matriz de Marco Lógico e também a elaboração dos resultados, indicadores e metas do plano. O primeiro seminário realizado com os atores locais correspondeu à apresentação da proposta do plano e de conceitos e conteúdos relevantes para a formulação do documento, como também a apresentação da equipe técnica responsável pela formulação do mesmo. Já os dois últimos seminários ocorridos foram realizados para apresentar o Plano Nacional de Turismo, como se dá a gestão descentralizada do turismo no Brasil, além do seminário para a validação do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas.

6.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para realizar uma breve análise da participação no processo de elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas, avaliaram-se, a partir de entrevistas semi-estruturadas, diversas variáveis qualitativas, como a convocação dos atores sociais; processo de mobilização/sensibilização dos atores sociais; evasão dos atores sociais; participação dos stakeholders e consideração de suas opiniões no processo de tomada de decisão. A partir dos resultados das entrevistas com stakeholders-chave e por meio das observações presenciais feitas em algumas oficinas, foi percebido que, por meio da análise de cenários, puderam ser identificadas as lideranças de cada região turística alagoana, o que possibilitou um recorte dos stakeholders-chave da atividade turística nessas regiões, como se pode perceber na fala do representante da equipe técnica da elaboração do plano de turismo: [...] nós começamos primeiro com uma análise de cenário do Estado de Alagoas para poder identificar quais eram os elementos constitutivos do espaço justificavam a temática do turismo. [...] Num processo metodológico desse, que é mais amplo, a gente tem que verificar 88

O FORETUR é formado por representantes do trade turístico, setor público, instituições de ensino superior e demais órgãos de fomento do turismo, e “se constitui em uma organização e espaço social de gestão compartilhada de assuntos e programas de interesse público para o turismo sustentável” (ALAGOAS, 2012, p. 139-140).

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quem são os elementos, quais são os elementos que remetem ao turismo de cada uma dessas regiões. A partir disso, identificar quais são os atores que podem representar coletivamente esses elementos e, partir daí, convocá-los pra poder fazer discussão. Outro ponto que também foi contemplado na elaboração do Plano Estadual de Turismo foi a realização de uma oficina de sensibilização dos stakeholders para que, de acordo com o representante da equipe técnica do plano, estes se mobilizassem a participar do processo. Entretanto, esta etapa foi considerada insatisfatória, pois poucos foram os atores que realmente se mobilizaram a participar das oficinas. O empoderamento, que deveria ser trabalhado nesta etapa do processo, não foi estimulado, acarretando em diversas participações passíveis, como ilustrado na fala de representantes do setor privado e das associações, respectivamente: A maioria se fez só presente. [...] Porque as pessoas que estavam lá, muitos falavam: – ah, já teve tanta iniciativa que não deu em nada, então eu não tenho motivação para participar. [...]uma elaboração de um plano não depende só da dinâmica, depende da dinâmica e depende das pessoas se colocarem. [...] dava para perceber que tinham pessoas que estavam desmotivadas, pessoas que já tinham participado de outros processos de reuniões que visaram discutir o mesmo tema. [...] as que estavam motivadas eram a minoria. [...] eu acho que essa falta de participação se deu pela falta também de esclarecimento de qual era o papel de cada um ali. As pessoas mais atuantes eram as que estavam representando instituições educacionais, faculdades, empresários e algumas pessoas do governo. Mas população local de alguns lugares, representante de associações, de comunidades, poucos participavam [...]. Outro fator que também comprova a ineficácia desta etapa de sensibilização foi a desistência de parte dos atores sociais no comparecimento às oficinas, em decorrência de diversos fatores. Dentre estes, pode-se citar o desinteresse no processo de construção do plano, desmotivação dos atores sociais ou a não compreensão da importância do plano. Tal aspecto foi observado na fala do representante da equipe técnica do Plano Estadual de Turismo, bem como por um representante de um órgão público e de uma instituição de ensino superior, respectivamente: [...] se eu lhe disser que em toda convocação que a gente fez a gente teve uma participação efetiva de 30% eu to lhe sendo muito otimista porque, ou as pessoas não entendiam a importância ou não estavam interessadas em fazer construção participativa. Então, a gente trabalhou com quem quis. [...] em alguns momentos não teve a presença, teve a evasão de associações, de representações de classe, principalmente da sociedade civil organizada, não é? Geralmente vai no primeiro encontro vê do que se trata. Como se trata, muitas vezes, de um trabalho técnico ao longo do dia, que não deixa de ser um trabalho cansativo, geralmente em alguns processos as pessoas deixam de ir por vários motivos. Algumas pessoas que já são mais antigas dentro da atividade turística no estado elas já participaram de várias reuniões que visaram discutir o turismo dentro do estado e aí pouco se via, na prática, as coisas que eram discutidas nessas reuniões e [...] isso desmotiva com certeza a participação dessas pessoas nessas oficinas e em outras que venham a acontecer.

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[...] Isso acarreta com certeza a desistência de muitas pessoas na construção de novas políticas, de novas diretrizes, não só para o turismo, mas pra qualquer área dentro de um estado, qualquer área que vise discutir a questão econômica, principalmente dentro do estado. Outra questão que vale destacar é que as principais decisões do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas ficaram sob a responsabilidade de um grupo focal determinado pela Secretaria do Estado de Turismo, que definiram as principais ações e metas, como também os projetos, programas e os agentes responsáveis por desenvolver cada ação, como é esclarecido na fala do representante da equipe técnica do plano de turismo: A metodologia previa a eleição de um Grupo Focal para, a partir do tratamento dos dados, apresentar para o grupo maior para a validação. Então, quando a gente fez a coleta de dados, fez as oficinas, fez as entrevistas qualificadas, tratou essas informações e voltou para o grupo de trabalho, a gente voltou pra poder pensar em programas e projetos que tivessem a capacidade de responder a essas rupturas identificadas. Os demais atores contribuíram, principalmente, para a elaboração da análise situacional do turismo de Alagoas, Marco Lógico, alguns indicadores, resultados e metas do plano. Após o documento sintetizado, os stakeholders também puderam expressar suas opiniões quanto ao que estava sendo proposto no Plano Estadual de Turismo. Algumas das reivindicações expostas na oficina de validação do documento final foram consentidas e as modificações necessárias foram feitas no resumo executivo publicado, como explica o representante da equipe técnica do plano de turismo: [...] houve a oficina de validação com todos os atores do início do processo e ali era o momento de tomar a decisão do que é que precisava estar ajustado pra atender realmente o que foi identificado como problema ou falha de política institucional. E naquela oficina ficou validado o que tava sendo apresentado com alguns ajustes [...] a gente fez mudanças no documento. Na sequência, antes de fazer a publicação do documento, nós colocamos a disposição da sociedade em todos os veículos de comunicação, inclusive no portal da Secretaria, durante trinta dias pra consulta pública. Ou seja, qualquer cidadão podia entrar lá e fazer a contribuição. Parte das opiniões explicitadas nas oficinas de elaboração do Plano Estadual de Turismo também foi considerada no documento final, sendo esta opinião observada nos discursos de dois representantes do setor privado e um representante de associações, respectivamente: [...] eu acho que no bojo do plano ele contempla, pelo menos, o desejo sintetizado das pessoas. Eu tava presente nas oficinas e muitas coisas que eu vi presentes nas reuniões colocaram, mas de uma maneira muito abrangente, não foi nada muito específico. Algumas coisas que foram colocadas durante as oficinas foram sim consideradas e discutidas, compõem o documento. Mas outras coisas não. Infelizmente há um interesse também governamental e dos empresários e esse eles tentam casar com os interesses da população, da minoria. Mas o que predomina são os objetivos do governo.

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Percebe-se, com isso, que as etapas necessárias para o planejamento participativo do turismo de Alagoas foram contempladas, mesmo que algumas destas apresentem ineficácias em sua execução. Porém, cabe refletir aqui como os stakeholders se portaram perante o processo de elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas, sendo relevante destacar que não há como um documento, como este plano, apresentar os anseios de todas as classes envolvidas com o turismo, de forma equitativa, sem que estas tomem para si a responsabilidade de construir em conjunto tal documento. Esta deficiência pode ser corrigida por meio de processos que visem a desenvolver o empoderamento desses atores, havendo convocações para etapas de mobilização e sensibilização mais eficientes. Entretanto, esbarra-se também em uma dificuldade de nível mais abrangente, que é a questão do stakeholder sentir-se parte da atividade turística de Alagoas. As pessoas não se preocuparam em comparecer aos encontros e, com isso, os agentes externos não têm como desenvolver trabalhos para o empoderamento destes atores. A partir daí, percebe-se um favorecimento para o surgimento de fatores negativos que podem ser gerados devido a não participação ou a participação passiva dos atores sociais, a exemplo a manipulação dos benefícios do planejamento turístico e o descumprimento do que está no plano, sendo estes fatores empecilhos para um desenvolvimento que almeja resultados mais equitativos.

7.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das reflexões expostas nos limites desse texto, pode-se observar que, para que o turismo possa ser gerido de forma satisfatória, proporcionando resultados positivos para determinada comunidade, e visando ao desenvolvimento das localidades receptoras, deve haver a participação das comunidades no processo de tomada de decisão. No entanto, como ilustrado no caso aqui estudado, apesar de ser uma exigência em projetos de planejamento turístico, a participação dos stakeholders ainda não vem sendo estimulada de forma satisfatória. O que se pode perceber é que, nos processos que se dizem participativos, a população, geralmente, fica à margem das decisões tomadas. Outro fator que também não pode ser desconsiderado é a falta de empoderamento dos atores sociais para com o desenvolvimento turístico que, mesmo que estes atores se façam presentes em processos participativos e estejam insatisfeitos com os projetos turísticos, muitos o ignoram, pois, além desta falta de interesse em se apoderar dos processos, estes não possuem autonomia suficiente para opinar, ter suas opiniões levadas em consideração e, em última instância, tomar decisões, dificultando ainda mais o desenvolvimento da atividade turística em bases mais democráticas. Isso pôde ser constatado no processo de elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo de Alagoas, no qual se percebeu que a participação da maioria dos stakeholders se configurou numa intervenção passiva, constatando-se ainda a ausência de estímulos dos agentes externos à obtenção do empoderamento destes atores sociais. Entretanto, mesmo com a necessidade desses incentivos direcionados ao alcance do empoderamento, os stakeholders envolvidos com o turismo de Alagoas ainda precisam sentir-se parte integrante da gestão da atividade turística do estado, tomando seu papel como agente planejador das ações destinadas a esta atividade. Desta forma, observa-se que para o alcance do empoderamento e, por conseguinte, de uma participação ativa dos stakeholders nos processos que se destinam ao desenvolvimento do turismo em Alagoas, deve-se proporcionar aos atores locais, a priori,o acesso à cidadania, no qual é exercido o direito de vez e voz, com o objetivo de formar cidadãos críticos em relação a sua própria realidade. Assim, expor aos atores sociais o seu

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papel enquanto cidadão pode ser o principal desafio para um desenvolvimento eficaz e equitativo da atividade turística em Alagoas. REFERÊNCIAS ALAGOAS, Lei Delegada n. 25, de 15 de abril de 2003. Dispõe sobre a estrutura da Secretaria Executiva de Turismo – SETUR, e dá outras providências. 2003. Disponível em: . Acesso em: 25 nov. 2013. ALAGOAS, Lei Ordinária n. 5517, de 15 de julho de 1993. Dispõe sobre a criação da Secretaria de Turismo e adota providências correlatas. 1993. Disponível em: . Acesso em: 25 nov. 2013. ALAGOAS, Lei Ordinária n. 6145, de 13 de janeiro de 2000. Dispõe sobre as diretrizes básicas para a reforma e organização do Poder Executivo do Estado de Alagoas, e dá outras providências. 2000. Disponível: . Acesso em: 25 nov. 2013. ALAGOAS, Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas. Alagoas em Números. 2013a. Disponível em: . Acesso em: 19 abr. 2014. ALAGOAS, Secretaria de Estado do Turismo de Alagoas. Cartilha de Regionalização. Regionalização e Critérios de Classificação dos Municípios Turísticos de Alagoas. Maceió. 2011. 30p. ALAGOAS, Secretaria de Estado do Turismo de Alagoas. Governo lança Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo. Diário Oficial de Alagoas, Maceió, 16 jul. 2013b. ALAGOAS. Secretaria de Estado do Turismo de Alagoas. História e Curiosidades do Turismo de Alagoas. [20--]. Disponível em: . Acesso em: 19 nov. 2013. ALAGOAS, Secretaria de Estado do Turismo de Alagoas. Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo2013-2023. Maceió, AL, 2013c. ALAGOAS, Secretaria de Estado do Turismo de Alagoas; Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano – IADH. Elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo no Estado de Alagoas – Versão Preliminar. Recife, PE, 2012. ALAGOAS, Secretaria Executiva de Turismo de Alagoas. Plano Estadual de Turismo de Alagoas 2005/2015. Maceió: [2005?]. 53 slides.

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PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS APLICADAS A EVENTOS: UMA REALIDADE POSSÍVEL Ana Rosa Cavalcanti da Silva89 Maria Helena Cavalcanti da Silva Belchior90. RESUMO É perceptível um novo movimento relativo ao setor de eventos nos dias atuais, ou seja, a concepção, o planejamento, a execução e o pós-evento relacionado a perspectivas sustentáveis. O presente trabalho propõe-se discutir de que maneira as práticas sustentáveis em suas distintas dimensões estão presentes no mercado de eventos. Ademais, como a criação de normas e certificações específicas a questões sustentáveis podem e estão sendo utilizadas pelo setor? Para o alcance dos objetivos do presente artigo destacam-se a pesquisa bibliográfica e documental como principais formas de obtenção de dados correlatos ao objeto de estudo. Entidades representativas do setor de eventos conhecidas nacional e internacionalmente também foram pesquisadas em busca de se coletar informações que trouxessem as relações entre os eventos e as práticas sustentáveis. Conclui-se que há uma expansão em termos de estudos cujo tema seja a sustentabilidade ou o desenvolvimento sustentável em si, porém, o estabelecimento de relações entre as questões que envolvem a sustentabilidade atrelada aos eventos carece de um maior aprofundamento. Em um movimento que tende a também crescer, a realização de eventos sustentáveis começa a ser mais conhecido e difundido globalmente. As ações, muitas vezes embrionárias, podem sucumbir por questões primordiais de falta de conhecimento e de um direcionamento coerente entre o equilíbrio do crescer e do desenvolver, porém o que se percebe são tentativas de aproximar a realidade dos eventos a questões básicas da sustentabilidade de forma que se alcancem as benesses, se mitiguem os impactos e se gerem dividendos aqueles envolvidos com a ação. Palavras- chave: eventos; sustentabilidade; Brasil; desenvolvimento sustentável. INTRODUÇÃO O Brasil, por possuir condições geográficas e climáticas especiais, se comparado a outros países, carrega consigo a imagem de país hospitaleiro. Com cenários primorosos, ampla rede de hospedagem com exemplares em padrão internacional, destinos turísticos conhecidos mundialmente e mão de obra vasta na Hotelaria e no Turismo, tem-se um dos pontos fundamentais para uma captação de eventos: a cadeia produtiva necessária para a consecução de um evento. Tratar de eventos no Brasil em um ano onde os chamados megaeventos serão vivenciados em sua plenitude no país traz consigo a observância de quão se está preparado para o desenvolvimento de eventos grandiosos para o público e menos impactantes não somente ao público espectador, mas também a comunidade do entorno, ao meio ambiente. As questões de ordem política e econômica também estão em pauta, afinal a ampliação de divisas, a chegada de estrangeiros, a expansão em termos de usos das unidades

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Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo). Professora da Faculdade Boa Viagem. E-mail: [email protected]. 90 Bacharel em Turismo. Professora do Departamento de Hotelaria e Turismo, Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: [email protected].

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habitacionais dos meios de hospedagem podem ser apontadas como parte dos benefícios atrelados à realização de eventos. Oliveira (2000) afirma que a realização de eventos traz para um destino a possibilidade da venda deste ser por atacado, ou seja, previamente se sabe quantas pessoas estarão em um destino, onde ficarão, qual a procedência, possibilidades de atrativos a serem visitados. A captação de eventos é uma tarefa benéfica a qualquer destino uma vez que o perfil do visitante de eventos difere sobremaneira dos demais. Pesquisas realizadas pelo Recife Convention & Visitors Bureau (2013) apontam um perfil bem específico relativo ao turista de eventos: um poder aquisitivo diferenciado em termos de salários mínimos, o equilíbrio entre homens e mulheres participantes de eventos no Estado, profissões relativas à área da saúde e mais de 40 % com idades superiores aos 40 anos, a escolaridade teve um maior percentual de pessoas com a graduação como nível escolar mínimo, observando-se ainda mestres e doutores. Um dado a ser destacado positivamente é a satisfação com o destino Pernambuco. Sendo assim, percebe-se que o turista de eventos ao chegar a um destino tende a não apenas permanecer com atividades específicas do evento. Há um consumo do espaço turístico que vai além do local onde o evento ocorre. É a partir deste consumo que se centralizará as discussões presentes neste documento. A sociedade – de forma geral – vem intensificando cada vez mais o debate acerca do consumo consciente. E aqui, mais uma vez, percebe-se uma nova relação dos eventos às questões sustentáveis. Tratar de consumo provoca uma troca econômica e é justamente a economia responsável por uma relação desigual provocada por um crescimento desordenado. Em sua obra Eco-economia, Brown (2003) aponta a possibilidade de um replanejamento na economia de forma que se equalize as questões de ordem ambiental em relação às econômicas proporcionando a continuidade do progresso econômico. Amplamente discutida, a temática da sustentabilidade vem com o passar dos tempos, especialmente no século XXI, estreitando seus laços com o setor de eventos. Pode-se apontar, por exemplo, dois acontecimentos que integraram estas tão distintas áreas. A primeira relaciona-se com a Olimpíada de Londres.Como parte dos preparativos para o evento, foi lançado em 2007 o plano intitulado Towards a One Planet 2012, que versava, a partir de cinco eixos prioritários, a saber: mudança climática, lixo, biodiversidade, inclusão e vida saudável (FELTRIN, 2013), as ações a serem implantadas pelo comitê organizador dos Jogos, bem como pelo demais envolvidos. A reboque das Olimpíadas surge, em 2012, a normalização ISO 20.121, intitulada “Sistema de Gestão da Sustentabilidade em Eventos”. Como exemplo de evento certificado com a ISO ABNT: 20121, o Rock in Rio foi o primeiro evento da América Latina a receber tal certificação por se encontrar devidamente adequado aos preceitos contidos na normalização ora citada. O prêmio foi um reconhecimento às ações promovidas pelo festival em prol de um mundo melhor, dentro e fora da Cidade do Rock. Dentre elas, está a geração de 138 mil empregos diretos e indiretos em todas as 13 edições do Rock in Rio, a destinação de mais de 16,5 milhões de dólares a causas socioambientais, entre outras.(Blog Rock in Rio, 2013. Acesso em 08 abr.2014).

O presente trabalho propõe-se a discutir de que maneira as práticas sustentáveis em suas distintas dimensões – econômica, social, ambiental, política, territorial e cultural estão presentes no mercado de eventos. É perceptível que os estudos relativos aos eventos sobre a égide da sustentabilidade ampliam-se consideravelmente. Daí decorre a importância de se analisar a produção existente sobre o tema, afinal, unir áreas tão distintas torna-se desafiador na medida em que se trata ações de ordem econômica em um primeiro plano, mas que

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também são sociais, políticas, culturais e ambientais, por exemplo. A propagação do desenvolvimento sustentável avança no cotidiano da população. No mundo do trabalho, os estudos tornam-se necessários no sentido de se criar um ambiente profícuo de discussões onde se possa aproximar de maneira real as ações sustentáveis, em especial, e sua aplicação no âmbito dos eventos.

O CENÁRIO PROMISSOR DO MERCADO DE EVENTOS Cotidianamente a expansão do setor de eventos é tratada com euforia por aqueles que atuam diretamente no segmento, afinal, a realização de um evento possui relação estreita junto aos demais entes da cadeia produtiva do turismo. Ademais, o efeito multiplicador atrelado à atividade faz com que ocorra um aporte considerável de recursos com vistas à captação de eventos. Para Britto e Fontes (2011, p.349): Os eventos são incontestavelmente, o maior e melhor meio de desenvolvimento nacional, de fomento da economia, de geração de empregos, juntamente com o desenvolvimento da infraesturutura turística, do turismo natural, rural e cultural e do segmento de negócios e eventos.

Corroborando com os dados informados pelas autoras, o aumento progressivo na realização de eventos, em seus distintos portes e tipos, faz com que o Brasil se configure hoje entre os dez maiores realizadores de eventos internacionais padrão ICCA (ICCA, 2013) além de ter obtido o quinto maior crescimento em termos de realização de eventos relativo ao ano de 2012 (ABEOC, 2013). “Portanto em termos econômicos, o turismo de eventos pode gerar muitos benefícios, como o incremento na receita global do local-sede do evento (um turista participante gasta três vezes mais que um comum [...]” (BRITTO ;FONTES, 2011, p.54). Um outro dado relevante que ratifica o setor de eventos é trazido por Martin ( 2008, p.18) apresentando a estreita relação entre os segmentos de negócios e eventos. O segmento que mais cresce dentro do turismo é o de negócios – turismo de eventos e de tecnologia : 9,9% do turismo mundial. Além disso, é considerado o que mais oferece retorno econômico e social . Também é o único setor de destino obrigatório e único para quem quiser participar de determinado evento [..].

Em se tratando da concepção em si do que seja Evento, a palavra, de origem latina, traz consigo a ideia básica relativa a um acontecimento, eventualidade ( MICHAELIS, 2009). O estudo da área é desenvolvido nos dias atuais com bastante afinco por pesquisadores, acadêmicos, instituições públicas e privadas, como por exemplo, a Associação Brasileira das Empresas Organizadoras de Eventos (ABEOC) e a International Congress & Convention Association. Essa última apresenta ao trade turístico um estudo aprofundado acerca da evolução do setor de eventos entre os anos de 1963 e 2012. Especialmente tratando-se da América Latina, a evolução em termos quantitativos de eventos realizados sobressai-se, pois, a quantidade de eventos realizados na década de 60 (especialmente a partir de 1963) em relação ao ano de 2012 evoluiu de 4,2 % para 10 % (ICCA, 2014; ABEOC, 2013). Ainda sobre o cenário promissor dos eventos, o Brasil de acordo com a ABEOC, vem passando por uma progressiva ascensão, pois: No início dos anos 60, o Brasil realizava em média 15 eventos a cada cinco anos, atualmente, realiza quase mil eventos a cada cinco anos. Isso significa sair de um

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market-share de 0,8% para 2,8% e também receber a cada cinco anos cerca de 536 mil. turistas estrangeiros para participar de eventos internacionais pelo critério da ICCA. (ABEOC, 2013)

A partir da forte expansão do setor de eventos, autores renomados no Brasil que estudam a área, como Martin (2008), Britto e Fontes (2011), Zanella (2006) e Giacaglia (2008), trazem em suas obras distintos conceitos acerca dos eventos. Dada a pluralidade do setor, busca-se através das palavras de Britto e Fontes (2011, p.121) apresentar as distintas concepções e, por conseguinte, abordagens relativas aos eventos. Nesse contexto de autonomia empresarial, o evento apresenta várias concepções que podem ser assim entendidas:  Quando representa a sua própria atividade comercial de cujos resultados a empresa depende para sobreviver e crescer no mercado. São eventos realizados pelas inúmeras empresas organizadoras que existem no mercado;  Como subproduto, ou seja, serve de apoio para comercializar ou divulgar os seus principais produtos ou atingir objetivos mercadológicos, que podem ser externos ou internos;  Quando os hotéis se utilizam da realização de eventos internos como uma das formas de garantir hospedagem, freqüência nos restaurantes, boates, entre outros;  Para angariar fundos, difundir atividades sociais, conhecimentos científicos, entre outros;  Como forma institucional: criando ou mantendo imagem positiva da empresa junto a vários públicos.

Todo este cenário promissor atrelado ao segmento eventos baseia-se prioritariamente no viés econômico, pois é sabido do aporte financeiro trazido para um evento em relação ao destino receptor. As ações desempenhadas pelos Conventions & Visitors Bureau, por exemplo, são de extrema valia a um destino pelo envolvimento junto aos prestadores de serviços turísticos relacionados ao setor. Um outro dado que corrobora ao contexto atual do mercado de eventos no Brasil é a Lei Geral do Turismo de 2008. Através deste documento elencam-se os prestadores de serviços turísticos que possuem relação com a atividade sendo as empresas organizadoras de eventos presentes na legislação. A partir da definição do que é uma empresa organizadora de eventos, direitos e deveres, a sociedade obteve a chancela do poder público quanto às empresas pertencentes ao trade turístico que estão em consonância com a legislação turística. É nesta perspectiva atual que as relações entre a sustentabilidade e os eventos ocorrem sendo o desenvolvimento sustentável a base para todas as ações conforme disposto a seguir. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UM RECORTE TEMPORAL O movimento relativo a causas sustentáveis começou a delinear-se fundamentalmente a partir da década de 1970. Antes vale abrir um parêntese acerca de todo o processo da industrialização vindo desde a Revolução Industrial, onde a economia era a mola propulsora da humanidade em detrimento às questões sociais e ambientais. Tomando um maior impulso, através da realização de eventos cujos objetivos centrais versavam sobre a discussão do crescimento atrelado a um desenvolvimento, o ano de 1972 marca a realização da Conferência de Estocolmo. É nesta que o desenvolvimento pautado em questões sustentáveis toma corpo tornando-se conhecido pela expressão desenvolvimento

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sustentável. Pautando-se na consecução de 26 princípios, aponta a necessidade de um melhoramento do meio ambiente humano e das relações das gerações atuais e das vindouras. Em 1968, quatro anos antes da realização da Conferência de Estocolmo, é lançado o documento intitulado “Limites do crescimento” (em sua versão original recebeu o nome de “Limits of growth”). Tal documento, na época em que foi apresentando trouxe consigo uma série de questionamentos, abordou a real necessidade de se equalizar o desenvolvimento econômico a questões ambientais, de forma que fossem gerados equilíbrios entre estas duas forças (CAMARGO, 2003). Na década de 80 ocorre uma proliferação em termos de eventos relativos à sustentabilidade. A Declaração de Manila de 1981, o Relatório Bruntland de 1987, também conhecido por “Nosso Futuro Comum”, podem ser citados como avanços desta década (CAMARGO, 2003). Ainda tratando do avanço quanto a discussões sobre desenvolvimento sustentável, os anos 1990 são marcados pela realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento também conhecida como Rio 92. Segundo dados constantes no documento intitulado “Rio + 20: Comitê Nacional de Organização”, Brasil (2012) foi no momento de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 que ocorreu a consolidação do conceito “desenvolvimento sustentável”, proferido no ano de 1987 através do Relatório de Bruntland. Em tal documento o conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado da seguinte maneira: “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades” (ONU, 2014,p.1). Ainda são ações importantes advindas da Rio 92 a preparação de um compêndio de informações acerca da eminente necessidade de tornar o desenvolvimento da humanidade pautado em questões sustentáveis chamado de Agenda 21, “ a Convenção – quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima, a Convenção sobre diversidade biológica, a Declaração de princípios sobre florestas e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente de Desenvolvimento” (ONU, 2014; RIO + 20, 2012, p. 4). O ano de 2002 é marcado pela realização da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável ocorrida na África do Sul. Ademais no ano de 2012 tem-se a realização da Rio + 20, em alusão aos vinte anos da realização da Rio 92. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável” teve como centro de discussão questões relativas à “erradicação da pobreza, à promoção da saúde, à expansão dos serviços de água e saneamento, à defesa da biodiversidade e à destinação de resíduos tóxicos e não tóxicos”. (BRASIL 2012, p.5). Questões relativas à responsabilidade ambiental das organizações e energia renovável também foram temas abordados nesta Conferência (BRASIL,2012). É diante deste contexto de grandes eventos cujo centro do debate são as relações do homem e do seu ambiente e os meios em se prover um desenvolvimento pautado em questões sustentáveis que ocorre a proliferação de estudos cujo tema central seja o desenvolvimento sustentável. Também é a partir da consecução de grandes discussões, cujo o cerne do debate tem relação com a sustentabilidade, que uma gama de definições e conceitos começam a ser expostas à sociedade. De acordo com a ONU (2014), o desenvolvimento sustentável é um “processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras”. Questões centrais entre o equilíbrio econômico e o ecológico permeiam as explanações de Brown. Para o referido autor: As políticas econômicas que geraram o crescimento extraordinário da economia mundial são as mesmas que estão destruindo seus sistemas de apoio. Por qualquer medida ecológica que se possa conceber, são políticas fracassadas. Um manejo

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inadequado está destruindo florestas, pradarias, pesqueiros e terras agrícolas, os quatro ecossistemas que fornecem nosso alimento e, com exceção dos minerais, toda nossa matéria-prima também. Embora muitos de nós vivamos numa sociedade urbana de alta tecnologia, dependemos dos sistemas naturais da Terra da mesma forma que nossos ancestrais caçadores-catadores dependiam. (BROWN, 2003, p.8)

É oportuno destacar que as sociedades em sua maioria enxergam a sustentabilidade apenas relativa a questões ambientais. Contudo, tratar de um desenvolvimento em padrões ditos sustentáveis abrange outros campos temáticos. A sustentabilidade pode, por exemplo, ter relações diretas com questões de ordem política e econômica bem como empresarial. Recorrendo ao cerne da discussão, a palavra sustentabilidade tem a ver com “característica ou condição do que é sustentável” (HOUAISS, 2009). Acerca da morfologia da palavra sustentável encontra-se: “que pode ser sustentado; passível de sustentação”. (HOUAISS, 2009). Diante do exposto objetiva-se demonstrar que a sustentabilidade é bem mais que questões puramente ambientais. Cada sociedade é que pode definir seus padrões de sustentabilidade baseado em condições próprias de organização, afinal, não é possível prover a sustentabilidade e, por conseguinte seu desenvolvimento sem o envolvimento dos indivíduos que a compõem. Não obstante, a criação dos pilares da sustentabilidade ou as dimensões para seu entendimento foram propostas por autores e entidades no sentido de prover um entendimento global da temática a partir da conceituação das partes que o compõem. Ainda não se existe um consenso acerca da quantidade de pilares ou dimensões da sustentabilidade, contudo, para fins deste estudo basear-se-á no disposto da Organização das Nações Unidas que compreende como pilares da sustentabilidade os relativos à economia (econômico), os relativos à sociedade (social) e os relativos ao ambiente (ambientais). (BRASIL, 2012) Desta feita, conclui-se a parte específica aos marcos teóricos que permeiam a discussão deste estudo, passando-se a seguir à apresentação dos procedimentos metodológicos utilizados na consecução da presente obra.

METODOLOGIA A partir da delimitação temática do presente estudo – as relações entre a sustentabilidade o setor de eventos, foram definidos os instrumentos de pesquisa mais apropriados para a consecução dos objetivos propostos e da problemática estudada. Ademais a definição do escopo da pesquisa foi fundamental na medida em que auxiliou as pesquisadoras quanto ao caminho a seguir no que concerne a escolha apropriada dos métodos presentes no estudo. Partindo-se do da escolha pelo tipo de pesquisa qualitativa, Alves (2011, p. 610 -611) pontua: Desse modo, as pesquisas qualitativas em turismo tendem a contribuir tanto para um exercício reflexivo de novos conhecimentos quanto para a sua aplicabilidade nas diversas esferas do social. Ao problematizar os condicionamentos sócioculturais de um determinado local, os pesquisadores lidam com metodologias que lhes possibilitam refletir sobre diferentes concepções da realidade. Com caráter interdisciplinar, lançam mão de diferentes abordagens teóricas e imprimem significados diversos conforme a tradição em que se inserem [..] .

A escolha por um estudo bibliográfico foi priorizada, pois, o objeto de pesquisa em si encontra-se em fase de maturação quanto a propostas já implantadas e em vigor, uma vez

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que, as relações existentes entre o setor de eventos e os princípios da sustentabilidade ganharam maior destaque no ano de 2012 com a publicação da norma ISO ABNT: 20121 intitulada “Sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos”. No Brasil, além da existência da referida norma também se encontra em atividade a “Certificação da Sustentabilidade em Eventos”, emitida através do Instituto Brasileiro de Eventos (IBEV). Também merece destaque o compêndio de informações da Global Reporting Initiative (GRI) a partir da metodologia disponível à realização de eventos que se enquadrem nos padrões sustentáveis definidos pela Organização através de seus relatórios setoriais. Em concomitância à pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental também foi utilizada para prover subsídios a esta pesquisa. Nos escritos de Oliveira (2000) encontramos que a pesquisa documental ou a análise documental fundamenta o pesquisador em relação a outros tipos de fontes utilizadas e podem enquadrar, por exemplo, a análise de tabelas, relatórios, projetos de leis, leis, dentre outros tipos documentais. Acerca deste item, fontes como Ministério do Turismo e International Congress & Convenion Association podem ser apontadas. Optando-se por ser uma pesquisa do tipo descritiva foi possível elencar as principais características do fato estudado. Na fala de Gil (2008) um aspecto a ser enaltecido neste tipo de pesquisa é a possibilidade dada ao autor do estudo de prover novas contribuições à temática ora estudada. Com a etapa de coleta de dados foi possível a partir das pesquisas realizadas ter acesso a uma vasta quantidade de materiais relativos às temáticas: eventos, sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e certificação. Como a base do estudo centrou-se nas relações existentes entre a sustentabilidade atrelada ao mercado de eventos, foi possível elencar dentre os materiais aqueles que seriam posteriormente aproveitados na construção do documento final. Por ser uma pesquisa do tipo descritiva, os dados constantes são apresentados em formato de levantamento, ou seja, de apresentação a partir de um recorte temático de informações que tenham relação direta com a proposta presente no estudo. É oportuno destacar que a interdisciplinaridade (JAFARI, 1981; 2005 apud LOHMANN ; PANOSSO NETTO 2008, p. 43) do Turismo se faz presente neste documento justamente por unir áreas aparentemente distintas, mas que podem prover àqueles que se debruçam sobre seus estudos plenas condições de integrá-los e entregar à sociedade novos modelos, documentos e esquemas teóricos atuais e relevantes à sociedade.

DISCUSSÃO: PRECEITOS DA SUSTENTABILIDADE APLICADO AOS EVENTOS Como tratado anteriormente, as questões que envolvem os debates acerca da sustentabilidade surgiram, com maior impulso, a partir da década de 1970 e cada vez mais ganham espaço entre pesquisadores, acadêmicos e sociedade em geral. No âmbito do turismo, o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade também se fazem presentes a partir da perspectiva de integração entre as áreas fazendo surgir o desenvolvimento sustentável da atividade turística em um destino. Especialmente se tratado do setor de evento, um dos entes da cadeia produtiva da atividade turística, percebe-se um movimento também relativo ao desenvolvimento de eventos apoiados nas questões sustentáveis. Sendo assim, a expansão em termos de normas e certificação quanto à realização de eventos sobre a chancela “sustentável” já faz parte do escopo dos eventos. Na consecução de pesquisas relativas aos eventos atrelados a questões sustentáveis, são utilizados como fonte de informações para o presente estudo: a metodologia proposta pela Global Reporting Initiative (GRI), a normalização 20.121 da International Organization for Standardization (ISO), a normalização oriunda da APEX/ASTM

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Internacional e a certificação proposta pelo Instituto Brasileiro de Eventos (IBEV) intitulada como “Certificação da Sustentabilidade em Eventos”. É a partir da emissão dos relatórios de sustentabilidade que a GRI apresenta à sociedade um compêndio de informações acerca da realização de um determinado evento (tipologias e portes podem variar). A adoção desta metodologia proporciona à organização contratante a possibilidade de publicitar a partir de quatro eixos temáticos (economia, ambiente, sociedade e governança), o desempenho de determinada entidade. De acordo com o sítio eletrônico da entidade no Brasil, elecam-se algumas das particularidades inerentes às organizações que optam pela construção de um relatório de sustentabilidade. São elas: • Aumentar a compreensão sobre os riscos e oportunidades que elas enfrentam • Melhorar a reputação e a fidelidade à marca • Ajudar seus stakeholders a compreender os impactos de sustentabilidade e desempenho • Enfatizar a relação entre o desempenho organizacional financeiro e o não financeiro • Influenciar na estratégia e política de gestão em longo prazo e planos de negócios • Servir como padrão de referência (Benchmarking) e avaliação de desempenho de sustentabilidade com respeito às leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias • Demonstrar como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas relativas ao desenvolvimento sustentável • Comparar o desempenho organizacional interno e entre outras organizações • Conformidade com os regulamentos nacionais ou com os requisitos referentes à bolsa de valores. (GRI, 2014)

Em especial ao setor de eventos, a GRI oferta a preparação de um relatório de cunho técnico pautado nas diretrizes setoriais para os eventos, ou seja, a partir da criação de suplementos setoriais, a entidade auxilia “as organizações na elaboração de seus relatórios de sustentabilidade endereçando os impactos específicos de forma internacionalmente comparável” (GRI, 2014). Atrelado à metodologia GRI, o Festival SWU em suas edições ocorridas no Brasil teve seu relatório de Sustentabilidade apresentado à sociedade e auditado por organizações chanceladas pela GRI, de forma que, ao final do evento foi possível encontrar em um único documento, a partir dos eixos de trabalho definidos pela GRI, o que foi feito pelo Festival quanto aos impactos ocorridos nos locais sede do Evento. Amplamente difundida globalmente, a metodologia GRI é empregada em organizações de diversos setores da sociedade que tenham o interesse em informar àqueles interessados acerca do seu comportamento perante áreas fins de execução. Outro desdobramento oriundo dos relatórios que utilizam a metodologia adotada pela GRI é a possibilidade de se comparar relatórios entre instituições, de forma que se observem, a partir de parâmetros previamente definidos, o desempenho destas em relação ao alcance dos objetivos previamente dispostos. No ano de 2012, a ISO publicou sua norma relativa à consecução de eventos sob a perspectiva da sustentabilidade. Intitulada no Brasil como “Sistemas de gestão para a sustentabilidade de eventos – requisitos com orientação de uso” traz consigo tal qual a metodologia GRI, a possibilidade de organizações de qualquer porte que trabalhem diretamente com eventos poderem seguir suas diretrizes. A norma, de fácil entendimento, está organizada a partir das diretrizes do ciclo PDCA (em português: planejar, executar, checar e agir). Informação de bastante relevância contida nesta norma diz respeito à conformidade ou não em relação à sustentabilidade de um evento sendo o seu sistema (de forma geral) dito como conforme ou não aos preceitos da norma. Pode-se afirmar que a preparação desta

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norma tem relação direta com as Olimpíadas de Londres e seu intento em ser lembrada pela presença das questões sustentáveis desde sua concepção até o momento após o megaevento. Para tanto uma equipe multidisciplinar foi envolvida no que concerne à preparação do documento utilizado em diversos países assim como no Brasil. O evento Rock in Rio recebeu a certificação ISO 20.121 no ano de 2013, por estar em conformidade com os preceitos contidos na referida norma. No sítio eletrônico do evento é possível encontrar a informação que o evento é o primeiro da América Latina a receber a conformidade em relação à norma. Outra norma em vigor relativa aos eventos e a relação destes com os pilares da sustentabilidade é a norma internacional apresentada pela APEX (Accepted Pratices Exchange) / ASTM International). A partir de nove áreas relativas aos eventos, são dispostas normas inerentes a cada uma destas, é possível aferir os índices relativos à sustentabilidade e os objetivos alcançados pela organização. A norma, de caráter voluntário, tal qual a metodologia proposta pela GRI bem como a constante na ISO 20.121 atende a qualquer porte de evento em suas distintas tipologias trabalhadas. Abaixo apresenta-se um diagrama das áreas mensuradas pela norma proposta pela APEX/ASTM International:

Figura 01: setores e suas normas APEX ASTM Fonte: Convention Industry Council, 2010.

Pode-se perceber a heterogeneidade de áreas correlatas abarcadas pelo setor de eventos que possuem normas específicas APEX/ASTM International. A partir da delimitação de critérios que possuem relações a questões sustentáveis, é possível mensurar com a emissão de relatórios referentes ao evento auditado a sua adequação ou não à norma. No sítio eletrônico da instituição é possível ser ter informações de cunho geral sobre cada uma das normas de modo que o interessado possa previamente visualizar qual/quais necessitará adquirir para receber a chancela da instituição. Uma entidade, desta vez brasileira, que possui em seu escopo de serviços a certificação relativa à sustentabilidade é o Instituto Brasileiro de Eventos ( IBEV). Intitulada como “Certificação Ibev de Sustentabilidade de Eventos”, busca certificar a empresa interessada quanto à realização de eventos sustentáveis. Alinhada ao disposto na ISO: 20121, todo o processo de auditoria e, por conseguinte, certificação é acompanhado pela entidade de modo que ocorra a adequação da empresa aos eixos temáticos instituídos pelo IBEV. É oportuno destacar que da mesma forma que as demais entidades detentoras de normas relativas aos eventos e a relação destes com a sustentabilidade, é possível a

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certificação de empresas de qualquer porte e que desenvolvam distintas tipologias de eventos. O que se pode perceber a partir de uma análise síntese das relações existentes entre o setor de eventos e as questões relativas à sustentabilidade é a possibilidade de abrangência de organizações que percebam a necessidade quanto à adequação de sua prestação de serviços aos pilares da sustentabilidade. É mister destacar que as instituições pesquisadas em termos de provimento de normas procuram proporcionar aos interessados a possibilidade de declarar à sociedade à anuência relativa à sustentabilidade. Ademais, a certificação proporciona às entidades avaliadas a condição de se colocar perante a sociedade como uma empresa coerente e sensível à sustentabilidade e ao desenvolvimento do setor de eventos de uma maneira também sustentável. Isto é o que se espera de um ente da cadeia produtiva do turismo que produz aos destinos turísticos ganhos econômicos volumosos. Espera-se que as empresas ligadas ao setor de eventos percebam os lucros também oriundos a partir das certificações disponíveis ao mercado corporativo de forma que, se equilibrem os ganhos aos envolvidos no setor pautados em valores condizentes ao que se espera de um desenvolvimento sustentável. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos anos 2000 a integração da pauta sustentabilidade sobre perspectivas econômicas, sociais, ambientais e políticas ganhou mais impulso. Seja pela forte necessidade de mudanças de paradigmas, seja pela eminência de distúrbios de ordem social ou ambiental, o fato é que temos uma maior atenção à pauta sustentabilidade em extratos da sociedade. Em especial no âmbito turístico, a necessidade de destinos salutares aos olhos do visitante, se fazem essenciais para à sua sobrevivência e consolidação, como preceitua Butler (2006) através do “Ciclo de vida dos destinos turísticos”. Por fazer parte da cadeia produtiva do turismo, o setor de eventos traz consigo responsabilidades inerentes ao desenvolvimento de atividades que congreguem dividendos a um destino, a seus idealizadores e realizadores e a comunidade que o recebe. Assim, os efeitos multiplicadores originários das atividades serão suficientemente plausíveis acerca das benesses oriundas destes. A integração da sustentabilidade aos eventos é uma realidade à disposição do trade atuante no setor. A concepção, planejamento e disponibilização de normas, certificações e demais documentos relativos a questões sustentáveis centradas nas especificidades dos eventos se fazem presentes como visto no decorrer do estudo. A partir do elenco de áreas fins diretamente impactadas com a estruturação de um evento, seja esta de qualquer tipo e porte, planejado por organizações que atuem com eventos, é possível perceber que existem disponíveis aqueles interessados pela questão certificações, normalizações, relatórios e diretrizes que agregam a sustentabilidade em medidas palpáveis de serem implantadas no escopo de um evento. A partir das pesquisas realizadas para a consecução do estudo, foi possível perceber uma gama de materiais disponíveis que versem sobre as temáticas eventos e sustentabilidade. A junção destas pode ser mais percebida em textos comerciais, como por exemplo, a apresentação de um evento que recebeu a certificação ISO ABNT NBR:20121. O que não deixa de ser errado ou equivocado, afinal, o marketing social, a publicidade atrelada à sustentabilidade já possui um público consolidado e sedento por novidades adequadas a seu estilo de vida. Percebe-se que no Brasil, com a inclusão dos preceitos originários da normalização “Sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos” e atrelando-se ao momento atual de realização de mega eventos, a pauta “eventos sustentáveis” vem ganhando fôlego nas

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discussões presentes na sociedade. Palavras como legado, mitigação e benefícios podem ser algumas das mais presentes em discursos sobre a temática. É preciso destacar que todo o evento traz impactos. Isto é fato consumado. O que o fará ter uma importância singular a um destino é que tipo de impactos estes causarão e que esferas da sociedade serão diretamente afetadas. A observância de documentos nacionais e internacionais relativos aos eventos sustentáveis traz consigo a necessidade daqueles envolvidos na atividade terem ciência do como, porquê, para que e para quem foram concebidas por exemplo, as diretrizes instituídas pela Global Reporting Initiative, os preceitos contidos na normalização proposta pelo ISO e intitulada no Brasil como “Sistemas de Gestão para Sustentabilidade de Eventos”, a certificação em eventos sustentáveis emitida pelo Instituto Brasileiro de Eventos. É mister destacar também a presença da APEX/ASTM International como mais uma entidade envolvida com a criação de instrumentos avaliativos voltados à certificação quanto a eventos sustentáveis. Em comum, todos os instrumentos ora avaliados neste estudo trazem consigo semelhanças no que diz respeito ao escopo de atuação para um evento ser do tipo sustentável. São elencadas áreas fins a serem analisadas sendo estas em ámbito geral relativas a pilares da sustentabilidade, como apontas Sachs (2000). A escolha de uma organizadora de eventos em passar pelo proceso de certificação ainda carece de expansão no Brasil. De forma tímida, nota-se um início de movimento quanto à ação de se submeter a análises e adequações em se realizar eventos sustentáveis chancelados por entidades representativas que atuem com certificação. Trata-se, em um primeiro momento, de um movimento de sensibilização do trade. É a partir desta que tornar-se-á possível ampliar os conhecimentos dos envolvidos no setor sobre os conceitos relativos à sustentabilidade e a um desenvolvimento entendido como sustentável. Já se percebe parte do setor atuando em prol da realização de eventos sustentáveis. Um dos grandes exemplos ocorreu em 2012 com a realização das Olimpíadas de Londres, definida a partir de eixos temáticos e que possuíam diretrizes definidas e relativas a questões sustentáveis. O Brasil possui plenas condições de no ano de 2014 promover um mega evento sustentável e assim ser lembrado pelo legado deixado à comunidade receptora. O que se necesita é saber a relevância da sustentabilidade e a necessidade de se crescer sustentavelmente. Todo o desenvolvimento virá em seguida a partir de organizações sensíveis à ação e coerentes entre o equilibrio necessário do crescimento e do desenvolvimento. Ademais, urge a necessidade de estudos no Brasil que congreguem os eventos à sustentabilidade uma vez que, a temática é recorrente e suas discussões carecem de novas olhares e contribuições sendo o Brasil um local com plenas posibilidades de alavancar novas discussões relativas à área em tela. REFERÊNCIAS ALVES, M.L.B. Reflexões Sobre a Pesquisa Qualitativa Aplicada ao Turismo. São Paulo: Turismo em Análise. V.22.n.3 dez.2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS ORGANIZADORAS DE EVENTOS. ICCA – International Congress & Convention Association:”A Modern History of International Association Meetings .(2013). Disponível em: . Acesso em 11 abr.2014.

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TURISMO GRISALHO DA FELIZ-IDADE – ESTÍMULO ÀS EXPERIÊNCIAS A FAVOR DE NOVOS TEMPOS, UM ESTUDO DE CASO Ana Angélica Fonseca Costa91 Maria Tércia Oliveira dos Santos92 RESUMO Ações de responsabilidade social são as propostas principais do programa Turismo Grisalhas da Feliz-idade, desenvolvido junto a Universidade Estadual do Piauí – UESPI, através do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Projetos em Turismo – NETUR e faz parte do PIBEU Programa Institucional de Bolsas em Extensão Universitária. Iniciado em 2012, este programa envolve um público-alvo de pessoas da melhor idade da cidade de Teresina – Piauí e tem como objetivo promover, através do saber-fazer turístico, uma “viagem” ao mundo das descobertas e da troca de experiências, culturas, emoções, sabores, encantos e sentimentos, estimulando, através de minicursos, oficinas, palestras e viagens experimentais um maior estimulo a qualidade de vida, além da aquisição de novos conhecimentos em busca de novas oportunidades que qualifique e reintegre a vida social de forma saudável, mantendo os idosos mais pró-ativos em suas rotinas. A cada semestre, o programa realiza oficinas de sensibilização e capacitação, além de city tur sobre os aspectos culturais, ambientais e turísticos da cidade de Teresina. Essa experiência oportuniza conhecer o significado da velhice no contexto social e psicossocial, e a constatar as necessidades que as pessoas idosas sentem de continuarem ativas e valorizadas como serem humanos e pessoas capazes de envelhecerem, aprendendo, ensinando e especialmente encorajando-se e estimulando outros a se encorajaram para uma vida onde haverá sempre tempo para novos desafios. Palavras-chave: Responsabilidade Social. Melhor Idade. Turismo Social. Turismo Grisalho. VIAJAR NÃO TEM IDADE! – BREVE DISCUSSÃO O turismo além de ser uma atividade econômica que envolve deslocamento de pessoas de sua região de origem para outra, envolve também o âmbito social, buscando atingir todos os públicos de forma democrática, promovendo o intercâmbio de culturas, proporcionando-lhes novas experiências e bem estar. Atualmente um dos públicos que mais cresce no turismo é o da terceira idade, uma vez que eles se utilizam do turismo como alternativa para preencher o tempo livre que lhes dispõem, especialmente por usufruírem do momento que estão livres da obrigação fatigante do trabalho do dia-a-dia e desfrutam de suas aposentadorias. O turismo para a terceira idade consiste em um turismo planejado para atender as necessidades e os desejos desse público específico, servindo como instrumento no melhor aproveitamento do tempo livre, estimulando o conhecimento de novas culturas, oferecendo91

Turismóloga (UNIFOR, Mestre em Gestão de Negócios Turísticos (UECE/UB), Doutoranda em Turismo Integral e Desarrollo Sostenible (ULPGC), Professora do Curso de Turismo – UESPI e coordenadora geral do NETUR-UESPI. Coordenadora e Orientadora do Programa Turismo Grisalho da Feliz-idade. [email protected]. 92 Turismóloga, ex-bolsita do programa, formada pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Email: [email protected].

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lhes a oportunidade de realização experiências, e participação em atividades recreativas, contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida. No Brasil o turismo na terceira idade vem crescendo significativamente, principalmente devido ao incentivo que o Ministério do Turismo têm dado, quando da promoção a inclusão da terceira idade em viagens domésticas pelo país através do programa “Viaja Mais Melhor Idade”. Além de ser um incentivo de aproveitamento do tempo livre com o lazer, o turismo torna-se também uma oportunidade de mantê-los ativos na sociedade, mantendo-se antenados com os novos tempos, contrapondo-se a entrega ao sedentarismo. Entendendo a importância do idoso na sociedade moderna e o destaque das transformações ocorridas no campo social, foi que o projeto “Turismo Grisalho da Feliz Idade” foi idealizado como uma nova forma de desenvolver a responsabilidade social junto ao idoso, através de práticas que buscam estimular o resgate de aptidões, estimulados através da realização de oficinas que envolvem ativamente o participante, o qual o denominando neste projeto como o público da feliz-idade, pois acreditamos que esta fase da vida do ser humano deve ser tratada com muito respeito, considerando seus conhecimentos e experiências, comportamentos e habilidades, fatores que devem ser considerado como privilégios por terem usufruindo dos seus tempos de vida. Assim, as atividades desenvolvidas neste programa vêm trabalhando o estímulo do exercício da memória, da sensibilização sensorial e motora e lhes proporcionando a cada dia a inclusão na sociedade e um aumento da sua autoestima e qualidade de vida. Dessa forma, o presente artigo irá se detiver a figura da feliz-idade, como ator principal da experiência e dos resultados do programa Turismo Grisalho da Feliz-idade, o qual apresentado com mais detalhes no decorrer deste artigo, onde também iremos 3relacionar as experiências dos resultados com as ações de responsabilidade social deste programa. Então, tenham todos uma boa viagem ao encantado mundo da feliz-idade!

TURISMO SOCIAL E A FELIZ-IDADE Sabe-se que a expectativa de vida está aumentando anualmente e o envelhecimento populacional está ocorrendo em quase todos os países do mundo, o que modifica a estrutura etária do Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2013), cerca de 600 milhões de pessoas no mundo já completaram 60 anos. Em 2025 esse número dobrará, e em 2050 serão aproximadamente dois bilhões de idosos - tal crescimento é maior nos países em desenvolvimento e essa realidade faz com que o mercado se aqueça às novas demandas que se formam em torno das necessidades do público da melhor idade, especialmente na área do turismo. Dentre os fatores que possibilitam essa longevidade populacional estão os avanços da medicina, além de conquistas sociais. Estas, por sua vez, foram possibilitadas por leis e estatutos que visam garantir e promover o bem estar da população idosa, tratada, muitas vezes, de forma marginalizada. O termo velho e envelhecimento são muito confundidos, na realidade velha refere-se à fase a qual o indivíduo passa, e envelhecimento está ligado ao estado de espírito do ser humano. Existem ainda vários mitos relacionados ao envelhecimento e um deles é de que o velho está mais perto da morte, quando na realidade, na sociedade atual, todos estão, em razão de doenças contagiosas, acidentes, violência, etc. (SOUZA. 2002) Dada essa perspectiva, a autora afirma que “a invenção da terceira idade pode ser compreendida como fruto do processo de socialização da gestão da velhice, que se transformou em uma questão pública, mas que durante muito tempo foi considerada um

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problema privado e familiar, de previdência individual ou de associações filantrópicas”. Um dos fatores que proporcionou e ainda proporciona a participação de idosos em grupos da terceira idade foi a universalização do direito à aposentadoria, que garantiu uma remuneração na última etapa da vida. Para estes, a aposentadoria deixou de ser um momento de descanso e recolhimento e passou a ser um período de práticas de atividades de lazer, inclusive de turismo. De acordo com Debert (1997), a terceira idade pode ser encarada como um agente de combate à velhice, através de programas que visam transformar o envelhecimento em uma experiência mais gratificante, ou seja, um período propício para a satisfação pessoal, o prazer e a realização de sonhos adiados ao longo da vida. Nestes programas está englobado um conjunto bem diversificado de iniciativas por parte de agências públicas e privadas voltadas aos mais idosos, como, por exemplo, as escolas e universidades para a terceira idade, os grupos de convivência de idosos, clubes da terceira idade etc., todos com o objetivo de proporcionar um convívio social aos participantes. Essa discussão é para mostrar como é ampla e complexa essa visão do envelhecimento, e que cada vez mais se precisa de profissionais aptos para lidar com o público da terceira idade, não só no âmbito do turismo, mas, também, de outras áreas. O profissional do turismo, por exemplo, deve atuar, tendo sempre presente, na definição de produtos e serviços para terceira idade, que o envelhecer é uma experiência individual, que o turismo pode contribuir para que o envelhecimento possa ser uma experiência enriquecedora. Por esta razão, acredita-se que o setor do turismo vem estimulando a elaboração de novos produtos específicos ao mercado da melhor idade, por constatar que o turismo e outras atividades de lazer são as práticas preferidas quando se chega à faixa etária da melhor idade. As opções de diversão e conhecimento que o turismo proporciona podem propiciar ao idoso, interações sociais e a conquista de novas amizades, minimizando a solidão e melhorando a sua qualidade de vida. Essa ideia é expressa por muitos estudiosos do assunto, como Diogo (1999), que afirma que o convívio social tão importante ao ser humano em qualquer idade assume uma relevância significativa na velhice e que a prática do turismo e outras formas de lazer são como incentivos para prevenir a solidão e o isolamento. Foster (1992), também destaca que o turismo é um estímulo às necessidades de mudança, excitação e novidade que o ser humano sente, pois ajuda as pessoas a libertaremse da vida normal e monótona. Sendo assim, o turismo cria uma expectativa que vai de uma simples fuga à concretização de um sonho, tornando-se uma atividade relevante e de extrema importância para os idosos. De acordo ainda com o autor, são vários os motivos que levam um indivíduo a viajar como a busca de descanso, aventura, prazer, recreação, esportes, culturas diferentes, negócios, dentre outros e estes dependem muito da idade, disponibilidade e poder aquisitivo de cada um. Desse modo, cada idoso, em particular, poderá obter uma satisfação diferente com o turismo, que irá suprir suas necessidades individuais. O turismo para a terceira idade é um dos refúgios que alivia o “peso do tempo” o qual nem sempre é aceito com naturalidade pelas pessoas idosas, por sentir-se velho e, por vezes, já no fim da vida. Viajar é uma atividade que proporciona naturalmente uma sensação de bem-estar e alívio, capaz de fazer com que o turista interaja com outros povos, promovendo dessa forma, uma interação com novas experiências, sabores, sensações e sentimentos. Por esta razão, deve-se trabalhar a questão da inclusão social dessa parcela da população que cresce a cada ano e que em muito pode colaborar com a sociedade. Na concepção de Foster (1992): A ideia de inclusão social aponta para a construção de uma sociedade que se

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organiza de forma a abrir as suas oportunidades para todos, sem distinção de idade, gênero, nacionalidade, religião, etnia, etc. Ou seja, a inclusão social tem o intuito de quebrar visões preestabelecidas que reforçam de sobremaneira as exclusões, pois todos possuem os mesmos direitos, e a concretização desses direitos sociais é essencial para o exercício da cidadania, uma vez que são imprescindíveis para uma vida digna e dotada de bem estar. O Turismo Social lida diretamente com questões relacionadas à cidadania, direito, inclusão, visto que, esta é uma atividade prevista na Constituição, portanto, direito de todos. De acordo com o Ministério do Turismo: “Turismo Social é a forma de conduzir e praticar a atividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão”. (Marcos Conceituais – MTur). Assim, o Turismo Social não é visto apenas como um segmento da atividade turística, mas como uma forma de praticá-la com o objetivo de obter benefícios sociais. O turismo pode ser pensado e trabalhado, não só no sentido de viagem, mas também no sentido de conhecer e valorizar seu município, através da cultura, da história, dos atrativos existentes, dentre outros. As experiências de turismo e de lazer possuem uma estreita relação, e devem ser concebidas e vivenciadas como fenômenos socioculturais capazes de mobilizar descobertas de pessoas, lugares, culturas, natureza e vivências lúdicas em contínuo e significativo processo de reflexão, conhecimento, partilha e transformação, assumem, assim, um papel fundamental no exercício da cidadania, devendo integrar a vida cotidiana de todos, principalmente dos idosos. Assim também comenta Junior Martins (2005), que “o turismo social assegura condições para que todos tenham as necessidades humanas de recreação, descanso e diversão atendidas, além da oportunidade de conhecer outros ambientes e culturas diferentes”. É um tipo de turismo moderno, que além de proporcionar muitas vezes o primeiro contato de pessoas com os equipamentos turísticos, proporciona também a divulgação e promoção do turismo em seus aspectos ambientais, sociais, econômicas, culturais, enfim, todo um conhecimento engrandecedor para quem tem a oportunidade de usufruir desse tipo de turismo. Para o Serviço Social do Comercio - SESC (DN, 2012): “o turismo social é uma atividade que visa proporcionar integração social, novas oportunidade de lazer, enriquecimento cultural, exercício da cidadania, acessibilidade e diversão às pessoas.” O SESC democratiza o acesso às viagens e a outras formas de lazer a seus clientes, como trabalhadores do comercio de bens, serviços e turismo além de seus dependentes, dando oportunidade para conhecer os patrimônios e riquezas das localidades. Dentro desse tipo de turismo podem ser listados algumas organizações que se preocupam em trabalhar o turismo social juntamente com a melhor idade, como é o caso do programa do governo Federal “Viaja Mais Melhor Idade” onde os idosos têm a oportunidade de usufruírem de serviços especiais disponibilizados pelas agências, onde elas elaborarão pacotes para esse público, com cuidados especiais como: equipamentos turísticos adequados; profissional capacitado para aplicar atividades recreativas com os idosos; cuidados com a alimentação; descontos e formas de pagamentos especiais. Existem ainda os centros de grupos de convivência de idosos que também realizam atividades de lazer, culturais, educacionais e outros. Para Dal Rio (2009, p.17): Os centros de grupos de convivência de idosos são como alternativas de convivência e participação de idosos saudáveis que viviam isolados, sobretudo em decorrência da diminuição do numero de membros da família, dos baixos rendimentos da aposentadoria e da inexistência de politicas públicas de proteção.

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Um exemplo desses centros de grupo de convivência está entre as atividades que o SESC oferece, proporcionando condições para viver a terceira idade de forma mais prazerosa. Segundo Miranda (2009, p.38): O SESC tem como objetivo efetivar a inclusão e a valorização social, por meio da melhoria da qualidade de vida em seus diversos aspectos e ao exercício pleno da cidadania, entendendo seus direitos e deveres junto à coletividade. Esperando atingir dessa foram, os seguintes resultados: socialização, conhecimento atualizado, desenvolvimento de novas habilidades, reflexão sobre o envelhecimento, desenvolvimento de novos projetos de vida e a integração com as demais gerações.

Dessa forma, observa-se que o SESC se preocupa com todo o bem estar e por isso conta com profissionais de diversas áreas para atender as necessidades do idoso. É um centro que se destaca em referencia em projetos voltados para o lado social não só do idoso, mas de todos os envolvidos. O SESC também possui a sua relação com o turismo: “A missão do SESC é promover o turismo para todos, como uma atividade geradora de ampla gama de recursos e benefícios para as cidades visitadas, que podem investir seu potencial turístico e, assim, movimentar a economia local.” (SESC, 2012) Ações como estas são de extrema relevância para dar oportunidades ao idoso usufruírem de atividades de lazer, esportes e turismo, proporcionando uma maior valorização de sua condição social, estimulando que estes tenham uma melhor qualidade de vida, aumentando ainda mais sua expectativa de vida saudável.

PROGRAMA TURISMO GRISALHO DA FELIZ-IDADE: UMA EXPERIÊNCIA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL Sabe-se que embora as pessoas em determinada época de suas vidas se aposentam das atividades profissionais por tempo de serviço, muitos ainda desejam manter-se ativos, por considerarem que a aposentadoria não significa o fim da vida profissional ou da vida útil, mas o marco inicial para uma nova etapa de vida. Acredita-se também que o início da aposentadoria é também um marco inicial de mais tempo livre para a realização de atividades que continuem proporcionando prazer e ao mesmo tempo o convívio social, além de atividades que lhes façam sentir capazes de continuar pró-ativos e úteis para si e para a sociedade, fazendo com que essa nova etapa da vida tenha um novo significado e um novo começo. A participação dos idosos no mundo do trabalho é uma realidade que o mercado já aponta como vantagem, pois possibilita perspectivas de contar com a vivência, experiência e conhecimento acumulado, podendo ser reaproveitados para assumirem posições que só a experiência é capaz de atender o mercado atual, como um diferencial competitivo, especialmente nas áreas que exigem um conhecimento adquirido ao longo do tempo e em áreas especializadas. Com base nesses e em outros fatos que relacionam as necessidades do idoso em continuar com a sua vida ativa e continuar a fazer parte do mundo socializado foi que o programa batizado de Turismo Grisalho da Feliz-idade - estímulo à experiências a favor dos novos tempos foi idealizado como proposta de promover, através do saber-fazer turístico, uma “viagem” ao encantador mundo das descobertas e da troca de experiências, culturas, emoções, sabores, encantos e sentimentos estimulando a participação do idoso em atividades

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diversas, tais como: mini-cursos, oficinas, palestras e viagens experimentais para estimular uma melhor qualidade de vida e despertá-los para adquirir novos conhecimentos em busca de novas oportunidades que o qualifiquem e os reintegrem ao mercado de trabalho, os mantendo ou estimulando a serem competitivos nessa nova fase de suas vidas. Acredita-se que desta forma, o público da feliz-idade participante deste programa tenha sua autoestima mais valorizada por ser o ator da própria construção das atividades propostas nesse programa, lhes dando a oportunidade de produzir, desenvolver e sugerir atividades que o façam se sentir mais úteis na sua vida social familiar e profissional. Foi com esta perspectiva que o programa Turismo Grisalho na Feliz-Idade foi idealizado em 2013 pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos em Turismo – NETUR, da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, no campus de Teresina-Piauí, o qual vem revelando-se como uma experiência integradora para o idoso residente na região metropolitana da cidade, atendendo de forma indiscriminada grupos que buscam nas atividades uma maior socialização. Os objetivos propostos pelo programa: Desenvolver atividades lúdicas e passeios turísticos, proporcionado um espaço de interação, destinado à orientação, qualificação e capacitação do Idoso para que este se reintegre socialmente através de atividades que também os proporcionem uma melhor qualidade de vida e bem-estar. -cursos e oficinas que estimulem os idosos a se reintegrarem ao mercado de trabalho; -as interativas e educativas; o ambiente e a cultura local, através da realização de visitas-técnicas experienciais, sendo estes motivados a terem um “novo olhar” dos destinos turísticos; científicas, realize diagnósticos e análises sobre dados e fatos relevantes a respeito do segmento do turismo na melhor idade; oficinas, cursos, orientações e palestras sobre o mercado que o possa absorver. O programa atende cerca de 30 idosos por cada 3 oficinas e 1 atividades de city tur que oferece a cada semestre, totalizando 120 idosos por semestre. As oficinas são realizadas na estrutura que dispõem a Universidade Estadual do Piauí – UESPI e tem em sua equipe técnica e de apoio: 3 bolsistas, 2 colaboradores e 1 professora orientadora/coordenadora do programa, todos do curso de Bacharelado em Turismo, o qual tem como laboratório prático o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos em Turismo – NETUR, executor do programa. A metodologia utilizada foi a participativa, durante as oficinas os métodos e técnicas, utilizados consideravam o perfil socioeconômico e cultural do participante, trabalhando o contexto cotidiano o qual estavam inseridos, fazendo com que suas participações fossem expressas para contextualizar o conteúdo. Sendo utilizados recursos audiovisuais, instrumentos musicais (violão) para as oficinas de cantigas de rodas e brinquedos antigos, , fazendo com que o resgate da memória e o discurso dos participantes foram um dos mecanismo utilizados com construção das discussões, temáticas e conteúdos. O PAPEL SOCIAL DO PROGRAMA TURISMO GRISALHO DA FELIZ-IDADE

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O Programa Turismo Grisalho da Feliz-idade tem como função o envolvimento da população idosa de continuar a ter participação ativa no seu meio, para que não fiquem a mercê do abandono de seus familiares ou amigos, nem sejam excluídos da sociedade como um ser incapaz, pelo simples fato de lhes julgarem “velho. Dessa forma, o papel social do programa é de ocupar o idoso com atividades de recreação, informação e informação, tornálos mais participativos na sociedade através de oficinas que possibilitem a troca de conhecimento e experiência, além de estimular a autoconfiança e elevar a autoestima desse público O Projeto envolve ações de responsabilidade social, proporcionado pelo NETUR e busca atingir indivíduos que muitas vezes são destratados pela sociedade De acordo com Ashley (apud MACHADO, CARLOS 2003, p.6-7) a definição de responsabilidade social pode ser compreendida como: [...] o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo pro-ativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela. Assim acreditamos que o compromisso social da UESPI, através deste programa criado e executado pelo NETUR é de além de formar turismólogos capazes de atuarem no mercado de trabalho de forma ética e capacitados, mas estimular com que estes também possam despertar o seu compromisso social como cidadão e profissionais. 10 ALGUNS DOS PRINCIPAIS RESULTADOS DO PROGRAMA: Embora o programa caminhe para o seu segundo ano de execução, este já possui uma variedade de atividades que são ofertadas semestralmente para os idosos. No seu primeiro ano foram feitas oficinas e palestras com temáticas voltadas para a área de informática; oficinas de brincadeiras e lembranças antigas; oficinas de histórias e causos; além de oficinas sobre cultura e costumes da cidade. Daremos destaque as experiências vivenciadas nas oficinas e atividades mais procuradas pelos participantes, vejamos: OFICINA DE INFORMÁTICA: Esta oficina teve como resultado a promoção do conhecimento básico de internet, ensinando também as noções básicas de utilização do computador e os seus recursos para a busca de informações de lugares turísticos, estimulando assim que cada participante pudesse realizar uma viagem virtual e conhecer novas culturas e lugares espalhados pelo mundo. O método de ensino utilizado foi à exposição de aulas teóricas e práticas, em laboratório de informática com acesso a internet, permitindo o manuseio individualizado do computador (mouse, teclado, monitor, noções básicas de sistemas operacionais de edição de texto (Word) e navegação na Internet).

Foto 1. Oficina de Informática

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Fonte: Acervo do pesquisador

Foto 2. Oficina de Cantigas e Brincadeiras

Fonte: Acervo do pesquisador Estas atividades tiveram como base o turismo, buscando relacionar o idoso a uma viagem ao resgate do passado relembrando culturas, histórias e momentos vividos por eles, trazendo dessa forma a troca de experiências e culturas na qual o turismo, em seu sentido amplo, busca proporcionar. REALIZAÇÃO DE CITY TUR: No seu segundo ano de existência, o projeto se ateve a realização de city tours pela cidade de Teresina, este mais relacionado à atividade cultural, proporcionando aos participantes o conhecimento a cerca dos pontos e atrativos turísticos, culturais e naturais da cidade, estimulando especialmente o resgate dos momentos históricos que marcaram a cidade, fazendo também com que o participante revivesse em suas memórias os acontecimentos de suas infâncias e juventude vivenciados especialmente nos espaços culturais tradicionais de Teresina que ainda trazem nas marcas do tempo toda a melancolia

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cultural de décadas passadas, tais como o primeiro cinema da cidade, a coreto da Praça Pedro II, o Teatro 4 de Setembro, o Clube dos Diários, a antiga cadeia pública da cidade, hoje transformada em um centro de artesanato, dentre outros que fizeram com que os participantes relembrassem bons momentos vivenciados ali. Foto 3. Vista ao Museu do Piauí em Teresina durante city tour

Fonte: Acervo do pesquisador

Foto 4. Grupo de participantes do programa realizando city tur em Teresina.

Fonte: Acervo do pesquisador. Os city turs incluíram ainda visitas à museus, parques ambientais e recreativos, trabalhando-se os aspectos culturais, sociais e ambientais de acordo com cada lugar visitado. Assim, buscou-se desenvolver um passeio turístico pela cidade de Teresina com o objetivo de resgatar algumas lembranças da cidade bem como também aumentar o conhecimento desses idosos a cerca da cultura e história, além de informá-los sobre os pontos de interesse turístico presentes na cidade. Também foi realizada durante os city turs atividades de animação turística, com dinâmicas que promoviam o resgate a memória cultural dos lugares visitados, além das brincadeiras para interagir e socializar o grupo. Fazendo desta forma com que os participantes se sentissem mais integrados e envolvidos na atividade. 12

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CONSIDERAÇÕES As ações de responsabilidade social realizadas com o público da feliz-idade durante este programa trouxeram grandes ensinamentos, tanto para seus colaboradores como diretamente para os participantes, pois houve trocas de informações e experiências durante todas as atividades. E dessa forma, foi possível identificar qual o significado da vida para os participantes, quando, por exemplo: visitaram lugares que lhes traziam boas lembranças ou quando realizaram atividades que faziam se sentir pró-ativos, produtivos e valorizados, dando-lhes novas perspectivas e bem–estar para o seu cotidiano. A mensuração destes resultados foi realizada através de enquetes e depoimentos dos participantes que expuseram suas avaliações sobre cada atividade desenvolvidas e relataram seu contentamento e vivacidade em poder atuar como participante de um grupo social de privilégio, pois estavam ali também para contribuir uns com os outros, sugerindo para os próximos encontros outras novas oficinas que pudessem ser trabalhados conteúdos que continuassem a estimular a criatividade, a busca de informações referentes a cultura, gastronomia, sustentabilidade e a educação ambiental. Constatou-se também que tais ações de responsabilidade social inseridas no programa Turismo Grisalho da Feliz-idade foram ferramentas muito importantes no desenvolvimento do ensino e aprendizagem do aluno de turismo da UESPI que é o principal realizador das atividades deste programa, participando como bolsista do projeto de extensão, o programa faz com que estes possam trabalhar melhor suas habilidades, permitindo um aprimoramento de técnicas e fontes de conhecimentos para a futura profissão de turismólogo. Pois, através do programa foi possível colocar em prática toda informação e conhecimento obtido ao longo de sua jornada acadêmica, além de ter a oportunidade de trabalhar com uma das segmentações crescentes no mercado de turismo, referente ao público da melhor idade. Possibilitando ainda o estimulo a criatividade em criar diversas metodologias de ensino, prática importante também para a docência, um dos mercados que também devem ser preparados os bacharéis em turismo. Assim, acredita-se que as ações realizadas durante este programa trouxeram não só a oportunidade de aplicar o conhecimento na prática da responsabilidade social, mas especialmente de obter novas experiências a cerca da relação turismo com a melhor idade. Essa experiência trouxe ainda oportunidade de conhecer o significado da velhice no contexto social e psicossocial, e a constatar as necessidades que as pessoas idosas sentem de continuarem ativas e valorizadas como serem humanos e pessoas capazes de envelhecerem aprendendo, ensinando e especialmente encorajando-se e estimulando a outros a se encorajaram para uma vida onde haverá sempre tempo para novos desafios. 13

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PROPOSTA DO ESTALEIRO ESCOLA COMO ATRATIVO TURÍSTICO PARA A CIDADE DE SÃO LUÍS: UM ESTUDO DE CASO Lucyana da Silva Rocha93 Tamires Souza de Moura94 Ludmilla Silveira de Jesus95 Agda Matias da Costa96 Profª Drª Conceição Belfort Carvalho97 RESUMO O Estaleiro-escola, localizado no Sítio do Tamancão, na capital maranhense, constitui-se de uma série de antigos armazéns e casa-grande construídos no século XIX, localizados próximos a uma rampa de embarque, às margens de um complexo sistema de canais e comportas destinadas ao aproveitamento do potencial hidráulico das marés. O sítio possui grande valor histórico, pois guarda os vestígios de uma usina de marés, utilizada no século XIX, para beneficiamento de arroz. Esse complexo abriga o Centro Vocacional Tecnológico, onde funciona um estaleiro-escola. O Estaleiro-escola (EE) busca consolidar-se num centro de treinamento para a construção naval por meio de oficinas e projetos com o uso da técnica artesanal valorizando o conhecimento de velhos mestres carpinteiros que transmitem seus conhecimentos à nova geração. O objetivo deste trabalho é apontar as potencialidades geográfico-turísticas do local, destacando o papel da comunidade e sua participação nos projetos de capacitação, apresentação de bens naturais e preservação do patrimônio cultural. Para desenvolver o estudo aplica-se uma metodologia de pesquisa analítica por meio de visita técnica orientada pela disciplina Cultura Popular, oferecida pelo curso de Turismo, com abordagem qualitativa, com respaldo em literatura científica especializada nas áreas naval, histórica, geográfico-turística, particularmente aquelas que apresentam um estudo sobre o Estaleiro-escola e a região do Sítio do Tamancão. Palavras- chave: Sítio Tamancão. Atrativo Turístico. Turismo. Estaleiro-escola.

1 INTRODUÇÃO Utilizando como objeto de estudo o Sitio do Tamancão e o Estaleiro Escola, o trabalho abordará as potencialidades turísticas do local, envolvendo a comunidade e a sua participação nos projetos de capacitação, apresentação de bens naturais e preservação do patrimônio cultural. Abordando antigos armazéns do século XIX, casarões com arquitetura colonial portuguesa, herança cultural, desenvolvimento econômico, oficinas e projetos, como Centro Vocacional Tecnológico (CVT) Estaleiro escola, que tem por objetivo um centro de treinamento para construção naval, valorizando velhos mestres carpinteiros e torná-los professores para resgatar identidade cultural daquela região. Destaca-se também a parcerias com a Universidade Virtual do Maranhão (UNIVIMA), criando primeiro Curso Técnico de Nível Médio em Construção de 93

Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. [email protected]. Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. [email protected]. 95 Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. [email protected]. 96 Discente do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. [email protected]. 97 Orientadora/Professora Dr.ª do Departamento de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão. [email protected]. 94

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Embarcações Artesanais no Maranhão no CVT Estaleiro Escola, abrangendo vários pólos por meio do projeto de educação a distância e tornando-se o único no Brasil a trabalhar com característica da técnica artesanal. O trabalho mostra de uma maneira clara e objetiva as características de patrimônio cultural do Sitio do Tamancão, estimulando atividades econômicas e de desenvolvimento econômico na comunidade, evidenciando a importância cultural do Sítio do Tamancão, remetendo à história mercadológica da Cidade de São Luís, enfatizando que facilmente pode ser uma oferta turística urbana em potencial, agregadora de valores. Além do detalhamento dos ponto apresentado por meio diversos autores, fotos e perspectivas de crescimento da região com a ajuda da comunidade, beneficiando a inclusão social. 2 SÍTIO DO TAMANCÃO: resgate histórico O Sítio do Tamancão se constitui num conjunto de antigos armazéns do século XIX, localizado na área Itaqui, às margens do estuário do rio Bacanga de onde o lugar é possível se ter uma visão da ponta do Desterro. O grande casarão pode ser visualizado na fotografia a seguir, uma imagem panorâmica da composição do Estaleiro Escola.

Fonte: Embarcações no Brasil98

O Sítio compõe por um grande casarão na qual possui uma rampa de embarque às margens do Rio Bacanga, onde funcionou uma indústria de beneficiamento de arroz. A casa possuía um sistema de canais e comportas, conhecido como "moinho de maré", que aproveitava o potencial hidráulico das marés, o mesmo possuía uma grande roda de ferro, com aproximadamente 1 ( um ) metro e meio de raio, movida pela força da água aprisionada em um lago artificial formado pela grande amplitude da maré, que pode chegar até 7 metros. As comportas eram abertas na maré baixa e a força da água movimentava polias que proporcionavam o funcionamento da indústria. O casarão forma um dos mais belos exemplares da arquitetura colonial portuguesa, com paredes revestidas de azulejos portugueses, inclusive as que delimitam o pátio interno. E encontra-se localizado numa praça totalmente calçada em pedra, formando um desenho em leque, cujos raios convergem para o eixo da grande escada de acesso ao casarão. 2.1 História do Estaleiro Escola 98

Imagem retirada do Site Embarcações do Brasil sobre o Sitio do Tamancão. Dísponível em: .

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O Estaleiro Escola do Maranhão foi inaugurado em dezembro de 2006 onde se originou do projeto “Embarcações do Maranhão”, iniciado em 1977, na qual o Sítio Tamancão foi escolhido para abrigar o Centro Vocacional Tecnológico, onde está funcionando um Estaleiro Escola, exclusivamente para embarcações artesanais. Esse projeto tem o intuito de valorizar os velhos mestres carpinteiros e torná-los professores de jovens carentes de comunidades que vivem próximas ao local. A criação desse centro de treinamento para a construção naval é criada como uma importante alternativa para a preservação das técnicas, através da valorização do mestre artesão que passa a contar com remuneração adequada para a transmissão de seus conhecimentos, tornando o Estaleiro Escola uma importante unidade de ensino e profissionalização em técnicas de carpintaria naval entre outros cursos e oficinas. Além de atividades pedagógicas, o Estaleiro Escola realizará atividades de prestação de serviços de manutenção da frota existente, além de contar com um setor de pesquisas e documentação, oficina de modelismo naval e setor museográfico, com salão de exposições. O estaleiro é o único no Brasil a trabalhar com característica da técnica artesanal. No Sítio do Tamancão, no século XIX, funcionou uma indústria movida por moinhos de maré que passou por obras de restauração onde o sistema de canais, o eixo e a roda foram encontrados e ainda estão à mostra com painéis explicativos. Por meio dessas obras o casarão foi totalmente restaurado e adaptado para o funcionamento do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) Estaleiro escola. Além do oferecimento dos cursos para a produção naval, o CVT Estaleiro Escola também contará como um roteiro turístico de São Luís. Durante o roteiro o turista poderá conhecer também toda a história da construção naval artesanal no estado e saber detalhes sobre cada tipo de embarcação genuinamente maranhense, através de grandes painéis localizados por toda a área de visitação. O projeto CVT Estaleiro Escola também se constitui hoje de um importante conjunto de ferramentas utilizadas durante séculos na carpintaria naval do estado. Muitas delas produzidas pelos próprios artesãos, as peças contam com detalhes o desenvolvimento e o envolvimento do povo com a produção de barcos em todas as regiões do Maranhão. Esse acervo foi adquirido através de doações dos profissionais ou por meio de suas famílias, esses materiais estão sendo preparados para compor parte das exposições do de Arte Naval Maranhense que funcionará e um dos pisos do prédio do Sítio Tamancão. Outro projeto desenvolvido pelo CVT Estaleiro Escola consiste na parceria com a Universidade Virtual do Maranhão (UNIVIMA), na qual promoverá o primeiro Curso Técnico de Nível Médio em Construção de Embarcações Artesanais no Maranhão no CVT Estaleiro Escola. O objetivo do curso está na formação de um profissional para exercer a prática da construção de embarcações tradicionais maranhenses. Com este conhecimento, o técnico será capaz de dominar todas as etapas, desde a construção até a manutenção, utilizando conceitos modernos de materiais e segurança. O projeto de capacitação também visa uma integração com as comunidades vizinhas ao Estaleiro que contara também com um pólo de Educação a Distância, onde as comunidades e bairros vizinhos receberão também todo um leque de projetos desenvolvidos pela Universidade Virtual em seus outros pólos. Projetos como o Cinema Popular, Vestibular da Cidadania, entre outros poderão ser oferecidos para os moradores da região através dessa tecnologia implantada pelo projeto.

3 A IMPORTÂNCIA CULTURAL DO SÍTIO DO TAMANCÃO

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Entende-se como importância cultural a necessidade de valoração e valorização do patrimônio seja ele material ou imaterial. Nesse sentido, o patrimônio pode ser visto como um instrumento de mediação entre o passado e o presente uma vez que é o símbolo de memória de cultura, de uma sociedade. Um patrimônio cultural é visto como uma herança cultural de uma determinada civilização, pois uma comunidade que matem a memória desse passado e vivência essa memória preservando e se identificando como resultado cultural desse patrimônio leva o individuo a uma vivencia continua da cultura local. Nesse contexto, observa-se que o patrimônio do Sítio do Tamancão deve ser explanado como uma interpretação de cultura momentaneamente um meio de sustentabilidade como atrativo turístico, uma vez que, o patrimônio cultural de uma sociedade dispõe sua existência e sua forma de participação na vida dos moradores da cidade de São Luís. (MENESES, 2006, p.49) Em vista dessa interpretação de cultura e a relação como atrativo turístico, o Sítio do Tamancão na visão do turismo precisa ser um estimulador de atividades econômicas e de desenvolvimento econômico na comunidade que o abrange, sendo que hoje esses locais para área turística buscam fazer um planejamento caracterizado pela inclusão social que “[...] seguramente, preservará o seu substrato maior que é a cultura e o patrimônio cultural.” como afirma Meneses (2006, p.49) A interpretação de cultura ou histórica com elemento contribuidor de uma nova perspectiva para o turismo cultural permite possibilidades de objetos de interpretação e de formas de interpretar culturas passadas na possibilidade de transformação dessas culturas em atrativos a serem problematizados e valorizados pelo visitante. (MENESES, 2006, p.48) Dessa forma, a interpretação do patrimônio está diretamente voltada para uma sustentabilidade racional desse patrimônio como atrativo turístico sendo um processo onde O turista que não esquece recomenda a outros e que volta é aquele que teve prazer na apreensão problematizadora. Enquanto o atrativo for uma peça de curiosidade apenas momentânea, ele será imediatamente esquecido após o seu consumo. São assim os produtos massificados: consumidos e esquecidos. A sustentabilidade do atrativo é dada, de outra forma, pela possibilidade de nele se incorporar amplos significados. E isso pode ser feito com leveza. A construção cultural de outro tempo continua sendo viva e vivida, e a sua memória a projeta para a contemporaneidade. (MENESES, 2006, p.22-23).

A importância cultural do Sítio do Tamancão remete a história mercadológica da Cidade de São Luís, visto que a cidade por ter uma costa marítima valorizada dispunha de veículos náuticos, essencialmente importantes para a escoação das mercadorias e abastecimento da cidade com maior ênfase no período de desenvolvimento de comércio da capital maranhense. No espaço onde se localiza o Sítio do Tamancão encontra-se um Estaleiro Escola que mostra modelos em réplicas de embarcações que eram utilizadas costumamente pelos povos colonizadores e posteriormente pelos civis que aqui habitavam. Portanto, o Sítio do Tamancão possui requisito de atrativo turístico potencial em relação à história de locomoção e abastecimento da cidade ludovicense e, dessa forma, um bem turístico a ser ofertado ao visitante de modo integrado ao turismo urbano e mais um recurso para a sustentabilidade da área turística local. A sustentabilidade do atrativo turístico precisa ter uma integração entre a pesquisa histórica, as instituições museológicas e arquivísticas e as instituições de ensino, para uma integração interinstitucional e interdisciplinar em um processo que visaria à democratização da informação sobre as pesquisas efetuadas no interior dos ambientes universitários para uma ampliação e conexão de disseminação informacional com apoio da função dos arquivos e dos museus públicos para além de suas atividades básicas de colecionar, conservar,

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preservar, expor e ordenar o acervo cultural de um povo. Assim como esse contexto é encontrado no Sítio do Tamancão, mais precisamente no Estaleiro Escola que aporta o Museu das replicas de embarcações, um Centro de Pesquisa e Documentação Amyr Klink para pesquisas avançadas sobre veículos náuticos, Auditório preparado para Encontros Científicos elaborados pela instituição além das salas reservadas para cursos e oficinas abertas a comunidade. . (MENESES, 2006, p.95) Com isso, o Sítio do Tamancão precisa ser visualizado no foco do turismo urbano onde a percepção de uma verdadeira leitura de movimentos físicos e cognitivos do individuo leva a um aprendizado de conhecimento cultural distinto de uma determinada localidade fazendo o visitante perceber a singularidade da cultura expressa ali. Pois o turista busca um verdadeiro experimento para cativar a sua memória sobre o local visitado com menos velocidade a atenção, a percepção, os sentidos e a memória do patrimônio visitado fixam de modo prazeroso e agradável ao longo do roteiro. O turista busca, por isso mesmo, os elementos da paisagem, os espaços construídos e o movimento da vida. É este fator de estranheza de como a vizinhança vive diferentemente e realiza a proeza da sobrevivência com sentido, que atrai e estimula o movimento do visitante. (WAINBERG, 2001, p.15)

Há, portanto, uma visualização do patrimônio turístico a ser denotado como “um passado imaginado para o uso corrente e que precisa ser legado a um imaginado futuro.” Essa afirmação remete a experimentação da construção do patrimônio ofertado, bem turístico, e cujos inventários dos recursos turísticos são elaborações e construções de recursos ambientais disponibilizados aos visitantes. A atração turística deve dimensionar a identidade do patrimônio cultural permitindo uma compreensão dos seus significados de forma flexível também aos espaços multifuncionais construídos compativelmente para acessibilizar produtos e serviços ao bem turístico. (WAINBERG, 2001, p.17-18) Por isso, a leitura turística do visitante sobre o patrimônio ou bem turístico envolve um ambiente “totalmente visível” com significados e sentidos atrelados as emoções do individuo que a imagem da paisagem do Sítio do Tamancão coloca nas percepções e desejos das atividades turísticas influenciando a construção dos roteiros pelo patrimônio material e imaterial. (CASTROGIOVANNI, 2001) Para se constituir uma imagem do Sítio do Tamancão como atrativo turístico ou bem ofertado para o visitante precisa-se de uma elaboração de um plano de oferta turística voltada para o turismo urbano que componha um cenário constante de territorialidade de memória e identidade em conjunto com a cidade de São Luís impressa ao longo do processo histórico de formação do Município e assim elevar o Sítio ao patamar como parte de uma ordenação urbana voltada para o Turismo, uma oferta turística urbana. (CASTROGIOVANNI, 2001) 3.1 Inclusão Social: importância para a comunidade O assunto inclusão social vincula-se diretamente ao acesso ou inserção de uma comunidade a um trabalho, a uma participação em cursos de qualificação e capacitação de um determinado programa social ou atividades extensionistas de uma determinada instituição. As instituições contemporâneas com missão de inclusão social oferecem espaços de recepção de indivíduos interessados no aprendizado oferecido por essas instituições que geralmente abrem suas portas a comunidade onde estão inseridas, e ainda poder captar a atenção de visitantes na cidade para a imagem do trabalho social desempenhado por uma instituição como o Centro Vocacional Tecnológico (CVT) Estaleiro Escola no Sítio do

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Tamancão que recebe pessoas da comunidade local e está apto para recepcionar mais visitantes de outras regiões e países. Nesse sentido, Meneses (2006, p.78) explana em “Estruturas de recepção e de interpretação” do Turismo sobre os centros de recepção como espaço que almeja criar condições materiais de aproximar o visitante do local de sua visita, dando-lhe conforto e possibilitando-lhe o acesso a lembranças, livros, reproduções, produtos que prolonguem o seu prazer da visita com uma visão de planejamento de roteiro turístico. Também foca essas estruturas de recepção num meio de estímulo desse planejamento para a economia local e que se tornem viabilizadoras de sustentabilidade a uma atividade turística estimuladora econômica. (MENESES, 2006, p.78) Experiência única no país, o Estaleiro Escola do Maranhão agrega o ensino acadêmico ao conhecimento dos mestres carpinteiros navais, em seu curso técnico de nível médio em construções de embarcações artesanais. Os profissionais formados pelo curso terão o domínio das etapas de construção e manutenção das embarcações. E dentre as disciplinas ministradas estão incluídas: ecologia, materiais e geografia, veleria, velejador, marcenaria, construção naval, receptivo para turismo instrução para guias de turismo, entre outras. A instituição oferece também oficinas de biojóias, reciclagem de garrafas pet e de papel (ver fotografias 1 e 2) e reaproveitamento de madeira resultante das construções de embarcações da escola (ver fotografia 3).

Fotografia 1: Objetos feitos de Reciclagem de papel no Estaleiro Escola.

Fotografia 2 : Objetos da oficina de Reciclagem de Garrafas Pet oferecidas pelo Estaleiro Escola.

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Fotografia 3: Objetos feitos na Oficina de Madeira do Estaleiro Escola

O Centro Vocacional Tecnológico (CVT) Estaleiro Escola também oferece cursos na área de Informática, Educação Ambiental, Turismo e Eletrotécnica, além de ser também um pólo de Educação a Distância, com projetos desenvolvidos pela Universidade online Virtual do Maranhão e transmitidos por satélite aos outros pólos educacionais, em dezoito municípios no estado e mais quatro em outras regiões do país. Ainda o CVT Estaleiro Escola apresenta também uma interessante exposição permanente sobre a história do “Projeto Embarcações do Maranhão” e os resultados dessa pesquisa, além de um conjunto de réplicas de ferramentas utilizadas no ofício da carpintaria naval. Nessa visão do Estaleiro Escola se obtêm mais que uma simples imagem de atrativo cultural passando para um atrativo social com inserção participativa da comunidade e agregando valor de importância histórica e contemporânea viva de um patrimônio ou bem cultural com identidade e memória, sentidos e significados com base de uma leitura real da atuação da instituição.

4 PROPOSTA DO ESTALEIRO ESCOLA COMO ATRATIVO PARA A CIDADE O Estaleiro Escola possui um rico contexto histórico, sua construção data do século XIX, onde funcionou por muito tempo uma indústria de beneficiamento de arroz para exportação, para em seguida servir como deposito de inflamáveis do Maranhão. (EMBARCAÇÕES no Brasil documentário, 2013). A proposta de tornar o Sítio Tamancão como atrativo para a cidade já existe, pois o local está disponível para a visitação, e já existe um projeto para que se possa torná-lo um ponto de visitação turística. No momento, como constatamos em uma visita técnica, o local oferece várias oficinas para integração da comunidade, uma delas a oficina para “guia de turismo”, onde os alunos ao concluírem o curso podem estagiar no Sítio, auxiliando grupos que chegam para visitar o local, onde podemos também perceber a preocupação da administração do Sítio em integrar a comunidade aos projetos, o que viabiliza uma proposta de turismo sendo executada de maneira correta. 4.1 Importância do Estaleiro Escola para o Turismo Como já citado anteriormente, existe um projeto que visa tornar o Sítio Tamancão em um ponto turístico, no momento já recebem grupos que visitam o local com intuito de conhecer os projetos ali desenvolvidos, apesar da divulgação do local ser precária, pois a

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maior parte desta desenvolve-se pela comunicação “boca-a-boca”, ou seja, pessoas que comentam com outras pessoas, e indicam o local para visitação. No Sitio há vários pontos que podem ser destacados como atrativos para transformar o local em ponto turístico, o próprio espaço encontra-se propício devido a sua estrutura e história, além de alguns artefatos serem conservados ali desde o século XIX, conta também com monitores preparados para receber, auxiliar e guiar pessoas que desejam conhecer o local. Há ainda um projeto que está em tramite, para a reforma de um casarão localizado no sítio, que está em ruínas para que nele seja instalada uma escola de pesca, com intuito de dar continuidade ao projeto desenvolvido pelo Estaleiro Escola. Este projeto pautou-se na ideia de uma opção de lazer para o turista que venha visitar o sítio. Além disto, há o interesse em restaurar uma embarcação para que se possa oferecer aos turistas passeios pela orla, culminando com a visitação do Estaleiro Escola. Assim, tendo-se como base o tempo necessário à visitação das instalações, superior a 3 (três) horas (divididas entre palestras, apresentações de vídeos e passeio monitorado pelas instalações) surge à necessidade de se criar um espaço. Pensou-se também em após os turistas e visitantes concluírem as oficinas, ou mesmo no intervalo de uma para outra, possam fazer lanches rápidos ou mesmo refeições completas, saboreando uma culinária tipicamente maranhense o que viria a ser o fechamento da visitação. Neste contexto, surge a ideia de se criar um bar e restaurante aproveitando-se um ambiente do casarão a ser reconstruído. Para viabilizar o acesso ao local foi trabalhada a ideia, que ainda estão aguardando autorização, para que se possa construir uma ponte que ligará a saída da barragem do Bacanga com o Estaleiro Escola. Tornando o trajeto mais rápido ao local.

5 CONCLUSÃO A pesquisa proporciona uma verificação sobre a potencialidade e objetivo principal do Estaleiro que é ajuda a comunidade local no qual participa ativamente no desenvolvimento, nos projetos e oficinas que geram além de renda interação e inclusão social. Para esta premissa necessita-se de estabelecer um planejamento como definição de objetivos, com conteúdos que possibilite uma interatividade de todos ali envolvidos, ou seja, cada atividade expande o propósito do desenvolvimento que visa oferecer capacitação por meio dos curso como meio ambiente no qual os alunos passam a cuidar dos entorno do próprio local, reaproveitamento de madeira onde todas as sobras de materiais da construção dos barcos tenha um outro destino que a continuidade da arte . Cabe ressaltar a importância do estaleiro escola pela sua proposta de resgate de técnicas de fabricação artesanal de barcos, onde mantém viva essa arte com ajuda de humildes profissionais que ajudaram a construir a historia do lugar, pessoas simples e de caráter forte que alem de fazer da pesca seu meio de sustendo e de ganhar a vida também uma forma de educar e preservar tanto a natureza como também transferir uma arte que já passa de geração a geração. A montagem de um roteiro turístico para conhecer o local já existe, no sitio Tamancão é oferecido o curso de receptivo de turismo, desta forma vai de encontro com as possibilidades e potencialidades locais onde há um projeto de restauração de embarcações e transformá-los em barcos temáticos para transportar visitantes no qual possam conhecer tanto os recursos locais como também a historia fascinante do Sitio Tamancão. A possibilidade de criação de outro acesso para o local faz com que aumente ainda mais essa

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potencialidade do local, pois quem vem do centro da cidade poderá ter uma chegada mais rápida não passando pelo transtorno do transito da área Itaqui-Bacanga.

REFERÊNCIAS CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Turismo e ordenação no espaço urbano. São Paulo – SP. Ed. Contexto, 2001. Cap. 3. p. 23-31. EBAH. Sítio do Tamancão-casarão de Ana Jansen. Postado por Patrícia Martins. Arquivo no curso de Arquitetura e Urbanismo na UNICEUMA. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABS0sAL/sitio-tamancao-casarao-ana-jansen#. Acesso em: 11 fev. 2013. EMBARCAÇÕES NO BRASIL DOCUMENTÁRIO. Sítio Tamancão. Disponívelem:http://www.embarcacoesdobrasil.com.br/site/mostra_secao.php?secao=3&ma teria=10. Acesso em: 11 fev. 2013. MENESES, José Newton Coelho. História & Turismo Cultural. Belo Horizonte – MG: Autêntica, 2006. WAINBERG, Jacques. Cidades como sites de excitação turística. São Paulo – SP. Ed. Contexto, 2001. Cap. 2. p. 11-21.

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SINALIZAÇÃO TURÍSTICA: ANÁLISE E PROPOSTA PARA O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DA CIDADE DE MORROS- MA. Wilson de Carvalho R. Filho99 Gisley Ribeiro Pimentel Ana Jéssica Corrêa Santos Nagelângela Gomes RESUMO A sinalização turística é um instrumento participativo que facilita a acessibilidade e o fluxo entre as pessoas, agregando valor aos atrativos turísticos. O presente artigo visa analisar a atual situação da sinalização e informações turísticas existentes no município de Morros, assim como apresentar uma proposta de solução para as deficiências de comunicação dos pontos turísticos, buscando auxiliar os visitantes quanto ao destino com clareza e objetividade, facilitando a visita à região, e favorecendo a dinamização do turismo e a economia local. Palavras-chave: Sinalização turística; Acessibilidade; Morros.

1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA REGIÃO ALVO DO ESTUDO O Município de Morros está localizado à margem direita do rio Munim, a 2º57’10” de latitude sul; 43º54’15” de longitude a oeste de Greenwich; com 40m de altitude acima do nível do mar, pertencente à Mesorregião Norte Maranhense, como também a Microrregião de Rosário. Morros está diante 60 km em linha reta da cidade de São Luis, assim como a 90,7 km por via rodoviária. Atualmente possui uma extensão territorial que compreende uma área de 1.715,17 km², e limita-se com Icatú, Humberto de Campos, Belágua, São Benedito do Rio Preto, com Cachoeira Grande e Axixá (Rocha, 2011). Morros têm clima predominantemente tropical, com temperaturas altas durante todo ano. A vegetação na sua maioria é de restinga, o relevo é de planície com predominância de morros e dunas. Hidrograficamente pertence à bacia do Munim, cujo rio principal nasce nos tabuleiros da região de Chapadinha e desemboca no golfo Maranhense, na Baía de São José de Ribamar. Seus afluentes são o rio Preto, o rio Guará e o Munim Mirim, o rio Pirangí e o rio Una. As únicas atividades econômicas hoje no município são; lavouras de cultivo da mandioca e o comércio local, com a venda de produtos como; roupas, calçados, medicamentos, artesanato, etc. O solo do município não possui condições favoráveis à agricultura, devido o mesmo ter baixa fertilidade. Esse problema se agrava com a agricultura extensiva, sem orientação, a população usa o solo de forma incorreta. Quanto à pesca, os peixes de água doce comercializados no município vêm dos campos alagados sendo estes: traíras, jacundá, piaba, sarapó, acará, surubim. Já o pescado da água salgada, é retirado da Baía de São José de Ribamar, e transportados pelos pescadores através do Rio Munim, que tem ligação com a baía. O município de Morros tem um forte apelo ao ecoturismo, devido ao grande número 99

Alun@s do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão - UFMA

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de atrativos naturais que possui. A natureza ainda está bem preservada e praticamente todos os seus pontos turísticos estão localizados às margens do rio Una, que tem seu leito formado de areia fina, alguns trechos de rochas e pedras; e as margens são compostas de vegetação de mata fechada com grande quantidade de juçarais. Além disso, possui águas transparentes e frias, onde os visitantes e moradores podem se deleitar, pois este rio corta toda a extensão do município de Morros. O Rio Una recebe uma denominação diferente de acordo com as regiões por onde ele passa, sendo estas:  Una Grande: Local com bastante afluência de pessoas, com grande parte das margens coberta de areia.  Una do Mato Grosso: Um belo local para banho, com águas limpas e juçarais. Para alcançar o rio há um pequeno declive, em forma de fenda, de aproximadamente 10 metros, mas de inclinação suave.  Una dos Paulinos: Local também apropriado para banho. Possui águas bastante limpas com areia fina no fundo. Está localizado próximo às pousadas.  Una dos Moraes: Um dos locais mais visitados em Morros, onde acontece o encontro do Rio Una com o Rio Munim. Oferece um trajeto por juçarais e coqueiros até um determinado ponto para banho. Ocorrem passeios de canoas, sendo um lugar tranquilo para visitas.  Una das Pedras: Possui inúmeras pedras na margem, algumas com 3 metros de altura. Além disso, existem algumas trilhas bastante interessantes no local.  Una das Mulheres: Apresenta condições favoráveis para o banho, e recebe esse nome, por que antigamente era destinado ao banho somente de mulheres, que utilizavam a região para lavar roupas e tomar banho.  Una dos Escoteiros: Tem esse nome devido a ser utilizado antigamente como local de acampamento para escoteiros e desbravadores, por ser um lugar ainda bem rústico, extremamente propício para tal atividade. Atualmente os escoteiros não o frequentam mais, devido ao constante fluxo de pessoas na região.

2. A SINALIZAÇÃO TURÍSTICA O turismo atualmente é considerado como a atividade econômica que mais cresce no mundo. Isso se deve principalmente pelo seu potencial gerador de trabalho e renda, a quantidade de recursos financeiros trazidos pelos viajantes para a localidade visitada, o número crescente de pessoas que sentem desejos e/ou necessidades de viajar, além de tal atividade impulsionar o empreendedorismo. Todos esses fatores juntos servem para demonstrar a força desse setor (Bursztyn, 2005). No cenário mundial contemporâneo, a importância da atividade turística está sendo considerada incontestável, devido aos altos índices de geração de divisas e renda. Contudo, sua importância vai muito além do fator econômico. É interessante pensar o turismo como ferramenta transformadora, um instrumento de resgate da tradição e cultura local, assim como um meio eficaz de desenvolver e estimular nas pessoas a conscientização ambiental. Segundo Garabini (2008, p. 38) “o turismo tem potencial para gerar emprego e renda, integrar áreas marginais e estagnadas a uma nova dinâmica e promover o desenvolvimento local com a preservação socioambiental e cultural”. Detentor de um enorme potencial turístico principalmente no âmbito natural devido sua extensa área ambiental e ainda possuidor de riquezas históricas e culturais, o município de Morros dispõe de atrativos suficientes para o desenvolvimento de atividades turísticas.

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O desenvolvimento do turismo no município seria importante pelo fato desta atividade oferecer grandes possibilidades de promover o aquecimento da economia, podendo especialmente fazer melhorias significativas à infraestrutura local, promovendo desta forma uma melhor qualidade de vida para sua população. Além disso, o turismo também pode ser um fator fundamental para a amenização das desigualdades sociais do município, gerando emprego e renda, além de diversificar a economia e contribuir para a conservação do patrimônio natural e cultural. A sinalização turística contribuiria de forma bastante significativa no norteamento dos turistas dentro do município, sem contar que também seria de fundamental importância para o completo desenvolvimento e organização da atividade turística na presente localidade, pois o turismo acontece devido ao deslocamento de pessoas durante suas viagens, e estas por sua vez, por desconhecerem a localidade visitada precisam de formas de sinalização que atendam às suas atuais necessidades de direcionamento, proporcionando o pleno entendimento da localização de todos os pontos turísticos existentes. Contudo, a sinalização de cunho turístico faz parte da infraestrutura turística de uma localidade, e serve como uma ferramenta de organização do turismo em uma determinada região, já que auxilia os turistas a se posicionarem dentro da mesma. Da mesma forma, contribui de maneira relevante para a valorização da localidade receptora, já que esta por sua vez proporciona aos visitantes uma ferramenta de comunicação fundamental que facilita a mobilidade urbana. O GBST (2001) considera que o deslocamento do turista a uma área que não faça parte do seu cotidiano requer observação mais detalhada devido à perda de referências habituais às quais já está acostumado em seus fluxos rotineiros. Os signos, placas informativas e símbolos facilitam e garantem a velocidade de transferências de mensagens fundamentais para a segurança e comodidade do visitante, tornando a viagem mais tranquila e prazerosa. Desta forma, a sinalização colabora para a mobilidade urbana e o acesso mais rápido e seguro aos destinos pretendidos. O acesso é um dos elementos essenciais para o desenvolvimento da atividade turística, pois facilita o fluxo de visitantes em uma determinada região. Ao mesmo tempo, funciona como uma maneira de atração de investimentos privados e valorização da oferta turística. Muitas organizações empresariais precisam de vias de acesso em um bom estado de conservação para serem localizadas mais facilmente pelos consumidores, e partir disso, se manterem e crescerem em um mercado cada vez mais competitivo (Silva e Melo, 2012). A partir do exposto, Fernandes, Goveia e Maganhotto (2010, p. 06 apud Silva e Melo 2012) comentam que “sem a acessibilidade não existe turismo, uma vez que a atividade turística está diretamente relacionada ao deslocamento de indivíduos ou grupos de indivíduos”. Desta forma, é bastante evidente que a sinalização turística é uma forma bastante eficaz no processo de acessibilidade aos pontos turísticos e à própria localidade onde está inserida. Mas para melhor entendermos como funciona a sinalização turística, o GBST (2001, p. 14) afirma: Ocorre por meio de placas, deve se dar da forma mais abrangente possível e estar em total conformidade com os demais sistemas de circulação e sinalização viária local. Deve ainda ser integrada aos espaços urbano e rural de forma harmônica, com o mínimo de interferência sobre o meio, compondo com o ambiente de modo a não causar impactos indesejáveis, nem tornar-se obstáculo de qualquer natureza, especialmente os visuais e os relacionados à livre circulação de pedestres e veículos.

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Devido a possuir atrativos distribuídos por toda sua extensão territorial de 1.715,17 km², inclusive em povoados distantes da zona urbana, percebemos em Morros a necessidade de implantação de um sistema de sinalização turística para melhor orientar e direcionar os turistas em relação aos atrativos, pois há uma completa falta de informações sobre como fazer para se chegar ao destino pretendido. A partir disso, em experiências empíricas realizadas durante a elaboração deste artigo, foi constatado que não existe nenhum tipo de sinalização turística que atenda aos visitantes e a comunidade local, ou seja, há uma enorme deficiência de informação turística na cidade. Não existe sequer um posto de informações turísticas para ajudar no acesso dos visitantes e da comunidade local a se locomoverem na localidade. Sobre a importância e finalidades da sinalização turística em um município, Silva e Melo (2012, p. 02) afirmam que esta ferramenta de orientação: Tem como finalidade garantir o acesso fácil às informações sobre quaisquer atrativos turísticos e por sua vez, possibilitar um deslocamento acessível. Assim, a acessibilidade turística necessita estar presente em qualquer etapa do planejamento turístico sendo fator pertinente no processo de desenvolvimento local.

3. A SINALIZAÇÃO TURÍSTICA DESENVOLVIMENTO LOCAL

COMO

FERRAMENTA

DE

A sinalização turística, com mensagens que contribuem para a difusão da comunicação dos atrativos de uma localidade, pode estimular o desenvolvimento da atividade turística, ter função educativa e indicativa, e de dinamizar o setor turístico e unificar o visitante com a cidade frequentada, pois como já citado anteriormente, organiza a atividade turística de uma região, e ainda pode promover atrativos que não sejam tão conhecidos e visitados pelos turistas, isto é, que não estão incluídos no roteiro turístico local. Vale ressaltar que a informação de âmbito turístico, é um dos elementos primordiais para o crescimento do turismo, pois cria um sistema de comunicação eficiente e direto com o turista, facilitando desta forma o entendimento e interpretação do atrativo. Para Silva e Melo (2012) a informação de cunho turístico é importante para a promoção e conhecimento dos pontos turísticos, e que em conjunto com outros serviços do respectivo setor podem agregar mais valor aos atrativos locais. Portanto, a informação é considerada como um dos principais fatores para o crescimento do turismo, pois influencia na compreensão do atrativo, assim como na orientação do percurso. Além disso, a partir de um bom sistema de sinalização turística, a informação sobre os atrativos torna-se um meio fundamental no aumento da demanda turística, pois promove o destino e facilita o deslocamento dos turistas, que por sua vez tem informações detalhadas dos pontos turísticos da cidade e consequentemente ficam satisfeitos por poderem utilizar-se de um sistema de informações e sinalizações turísticas bem estruturado, tornando desta forma a viagem prazerosa, e com isso a própria localidade ganha em prestação de serviços e gera demanda e oferta, induzindo o desenvolvimento do turismo regional. Quando a atividade turística se transforma em modelo de veiculação da informação para os visitantes, torna-se um mecanismo dinâmico na otimização da demanda turística, já que proporciona maior satisfação da viagem, e estabelece uma maior e mais eficiente divulgação do destino, incitando o turista a conhecer a região e seus atrativos. Sobre a relação da sinalização turística com o desenvolvimento local, Silva e Melo (2012, p. 05) comentam:

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A utilização da informação no turismo revela a grande potencialidade dessa ferramenta no desenvolvimento turístico local, possibilitando a difusão de informações sobre os serviços, equipamentos e principalmente dos atrativos turísticos. Assim, a sinalização turística torna-se importante no processo de desenvolvimento turístico no qual fortalece a atividade turística tanto no seu fluxo turístico como no conhecimento dos destinos turísticos, pois facilita a localização de diversos atrativos ao longo daquele corredor turístico ou zona turística.

Podemos enfatizar que com a sinalização turística a região estará melhor preparada para receber um fluxo maior de turistas, facilitando assim a interação dos turistas com os atrativos turísticos da região. E também, a sinalização turística ajuda não somente os turistas a saberem como se deslocar na região, mas também a população local no processo de valorização da sua região de seus atrativos turísticos. Acontecendo um processo de desenvolvimento turístico local.

4. METODOLOGIA Segundo GIL (2002, p. 17) a pesquisa é “o procedimento racional e sistemático que tem por objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos”. O presente artigo caracterizou-se como descritivo, pois descrevemos a realidade encontrada na região alvo do estudo, e de cunho qualitativo, já que as pessoas foram entrevistadas através de conversas informais, onde foram estimuladas a pensarem livremente sobre o tema em pauta. Para a elaboração deste artigo, primeiramente foi realizado um levantamento de dados e informações referentes a todos os aspectos relacionados ao município pesquisado e sua relação com a atividade turística. Este levantamento aconteceu a partir da pesquisa e análise bibliográfica, que se deu através de livros, artigos, e outras ferramentas de pesquisa, buscando informações importantes para a construção do referencial teórico do artigo. Em seguida foram realizadas visitas técnicas para se levantar dados in loco; a execução de entrevistas semiestruturadas com pessoas ligadas à área; levantamento fotográfico de todos os pontos julgados pela equipe como fundamentais para a colocação de placas indicativas de sinalização. Portanto, o presente trabalho se caracterizou como uma pesquisa de abordagem qualitativa. Além disso, também houve pesquisa de campo objetivando ter contato direto com a região estudada para observação e avaliação de todos os atrativos naturais, culturais e estruturais (equipamentos) que precisariam possuir algum tipo de sinalização para que desta forma facilitasse o acesso. Contudo, é importante afirmar que este artigo, assim como a nossa proposta de Sinalização Turística, foi pautado principalmente no Guia Brasileiro de Sinalização Turística, com base em todos os critérios nele expostos.

5. PROPOSTA DE SINALIZAÇÃO TURÍSTICA PARA O MUNICÍPIO DE MORROS Por ser possuidor de inúmeros atrativos turísticos, principalmente os atrativos naturais, Morros tem um grande potencial para desenvolver a atividade turística em seu território. Após análises feitas no município, os principais pontos urbanos onde poderia existir

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uma sinalização foram identificados. A partir disso, apresentaremos uma sugestão de sinalização turística que poderia ser implementada na cidade. Segundo Pietrochinski (2008, p. 47) “a sinalização deve ser feita de modo que cause um impacto positivo sobre o visitante, com uma visibilidade que lhe chame atenção, mas que não se sobressaia ao ambiente”. Sugerimos que para uma futura realização do projeto, seja importante o estabelecimento de estratégias de marketing que visem a ação conjunto entre poder público e privado. E isto pode ocorrer através do planejamento técnico da secretaria de turismo de Morros, a partir do estudo da necessidade e dos benefícios da implantação do sistema de sinalização e da análise do diagnóstico atual referente aos sistemas da locomoção no município. Contudo, são de extrema importância a participação das políticas públicas de turismo municipal no processo de planejamento, desenvolvimento, coordenação, fiscalização e atração de investimentos vindos da iniciativa privada. Visando obter recursos financeiros para a implantação do Projeto é necessário o apoio do setor privado, que poderia financiá-lo através de concessões fiscais cedidas pela administração pública municipal. Com a participação conjunta do setor público e privado, seria bastante viável o processo de implementação da sinalização turística municipal. Portanto, o empresariado local, representado principalmente pelas pousadas, que atualmente são os empreendimentos que mais obtém vantagens com a atividade turística na região, responsabilizar-se-ia pela confecção das placas, painéis, mapas e desenhos que serviriam para orientar e posicionar o visitante no município, isto é, custearia todos os gastos gerados pela produção das ferramentas de sinalização turística. Quanto ao setor público caberia a função de organizar, ordenar e colocar em prática o projeto em questão, sem falar que este também teria a função de conservar e valorizar as placas, painéis, mapas e desenhos de informação turística. Para atrair os investimentos da iniciativa privada, poderiam ser oferecidos incentivos fiscais, isto é, concessão da diminuição de impostos pagos pelas empresas patrocinadoras do projeto, e ainda por estratégias de marketing social que o governo municipal poderá promover em outros de seus eventos e programas desenvolvidos. Alem de divulgação das empresas parceiras no mapa implantado na cidade. A colocação das logomarcas das empresas parceiras nas placas de sinalização, que poderia garantir o retorno financeiro investido em ações de publicidade, é inviável, pois, de acordo com o Governo Federal diante da Lei nº 9.503 (1997) que em seu artigo 81 retrata especificamente “nas vias públicas e nos imóveis é proibido colocar luzes, publicidade, inscrições, vegetação e mobiliário que possam gerar confusão, interferir na visibilidade da sinalização e comprometer a segurança do trânsito”. Ainda conforme este mesmo código em seu artigo 82 ressalva que “é proibido afixar sobre a sinalização de trânsito e respectivos suportes, ou junto a ambos, qualquer tipo de publicidade, inscrições, legendas e símbolos que não se relacionem com a mensagem da sinalização”. Portanto, a fim de seguir as normas do Código Brasileiro de Trânsito, a qual a sinalização turística está inserida e subordinada, o Projeto de Sinalização Turística de Morros buscará outros meios de indução de investimentos do empresariado local, como por exemplo, os incentivos fiscais, já citados acima. As placas de atrativos turísticos indicam aos turistas e residentes os locais onde os mesmos podem dispor de atrativos turísticos existentes na cidade, orientando sobre sua direção ou identificando estes pontos de interesse. A dimensão da placa e do suporte segue as normas indicadas pelo Guia Brasileiro de Sinalização Turística (BRASIL). A implantação de um sistema de sinalização turística na cidade de Morros – MA aconteceria da seguinte forma:

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SINALIZAÇÃO RELIGIOSA:

Esse tipo de placa indica a existência de igrejas, capelas, templos, catedrais, basílicas, sinagogas, mesquitas, santuários, conventos, seminários, mosteiros, reconhecidos como interesse de preservação. No caso do município de Morros – MA, seria colocada uma placa de sinalização religiosa na Igreja Nossa Senhora Aparecida, que se localiza na Avenida Principal. (foto da placa abaixo com sua dimensão, e o local onde ela seria implantada).

Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_THC-01.html Wilson de Carvalho Rosa Filho

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa terá largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE ATRATIVO NATURAL CACHOEIRA:

Essa placa indica a existência de cachoeiras e quedas d’água. Seria implementada em Morros - MA para a indicação da cachoeira do Arruda, que se localiza à aproximadamente 5 km do centro da cidade. (foto da placa abaixo com sua dimensão, e o local onde ela seria implantada).

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Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_TNA-05.html Wilson de Carvalho Rosa Filho

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa terá largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE PRAÇAS:

Essa placa serviria para indicar a existência de praças ou largos. No município de Morros – MA ela indicaria algumas praças, como a Praça São Bernardo que se localiza próximo do centro da cidade. (foto da placa abaixo com sua dimensão e o local a qual ela sinalizaria).

Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_TAR-01.html Diego Ribeiro Guimarães

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa terá largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE RESTAURANTES:

Esse tipo de placa tem como finalidade indicar a existência de restaurante, lanchonetes ou praças de alimentação. Em Morros – MA ela indicaria os restaurantes e lanchonetes da cidade, como por exemplo, o restaurante que a pousada Pedra Grande possui. (foto da placa abaixo com sua dimensão e o local onde seria instalada).

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Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_SVA-12.html Diego Ribeiro Guimarães

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa terá largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE POUSADAS E HOTÉIS:

Essa placa indica a existência de locais com serviços hoteleiros. Os hotéis e pousadas localizada na cidade de Morros – MA seriam indicados por esse tipo de placa, como por exemplo, a pousada Pedra Grande. (foto da placa abaixo com sua dimensão)

Fonte: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_SVA-13.html

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa terá largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS:

A placa tem como finalidade indicar um local de informações a turistas. Em Morros – MA essa tipo de placa seria implantada no terminal rodoviário, lembrando que este terá

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que passar por uma reforma para melhorar a suas instalações. (foto da placa abaixo com sua dimensão e o local onde seria instalada).

Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_SVA-02.html Wilson de Carvalho Rosa Filho

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa terá largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE TERMINAL RODOVIÁRIO:

A placa serviria para indicar a localização do Terminal Rodoviário de Morros. Como foi citado acima, ele deverá melhorar as suas instalações para atender melhor o público. (foto da placa abaixo com sua dimensão e o local onde seria instalada).

Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_STR-01.html Wilson de Carvalho Rosa Filho

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa terá largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área

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máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE HOSPITAIS (PRONTO SOCORRO):

Esse tipo de placa tem como finalidade indicar a existência de hospitais, prontos socorros ou casas de saúde. Na cidade de Morros – MA essas placas seriam implantadas em hospitais e prontos socorros, como por exemplo, no Hospital de Morros. (foto da placa abaixo com a sua dimensão e o local onde seria implantada).

Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Turistico_SVA-10.html Gisley Ribeiro Pimentel

Essa placa seria instalada com o suporte de coluna simples, com altura mínima de 2,8 metros. A placa largura máxima de 2,15 metros, altura máxima de 1,4 metros e área máxima 2,4 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE ORIENTAÇÃO DE DESTINO:

Essa placa tem como finalidade indicar locais na cidade. No caso de Morros – MA seria implantada na Avenida José Lopes de Sousa. (foto abaixo com sua dimensão e a localidade onde seria implantada).

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Fontes: http://aimore.net/placas/placa_Atr_tur_compat_2.html Diego Ribeiro Guimarães

Essa placa seria instalada com o suporte conhecido como semipórtico simples, com altura mínima de 5,5 metros. A placa terá largura máxima de 6 metros, altura máxima de 3,5 metros e área máxima 18 metros quadrado. 

SINALIZAÇÃO DE BOAS VINDAS À CIDADE:

Essa placa, instalada na entrada da cidade serviria para dar boas vindas para quem chega ao município. A placa demonstrada abaixo é um exemplo de como seria a placa de boas vindas em Morros – Ma, no caso o nome da cidade que está como Jaguarão mudaria para Morros.

Fontes: http://aimore.net/placas/placas_atrativos_turisticos_aimore.html Diego Ribeiro Guimarães

Em sentido restrito, a sinalização turística de Morros, seguiria os princípios e normas pré-estabelecidos no Guia Brasileiro de Sinalização Turística (GBST), que pretende direcionar, ajudar, e referenciar os turistas usuários das vias urbanas e rurais a atingirem com segurança os destinos pretendidos, já que eles ao viajarem acabam se afastando das proximidades de sua residência e começam a se deparar com situações que estão fora do seu cotidiano, pois acabam perdendo referências rotineiras com as quais já estão familiarizados, como paisagens; ruas; praças; edificações; equipamentos urbanos e elementos de sinalização. Contudo a sinalização turística colaboraria no planejamento e melhoria do desenvolvimento turístico Morruense, servindo também, sobretudo para a valorização do patrimônio cultural e natural do município.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A sinalização turística serviria para organizar a atividade turística no município de Morros, oferecendo aos turistas a garantia de segurança e melhor aproveitamento do tempo enquanto estiveram exercendo visitas aos pontos turísticos deste município. Dentre os benefícios, podemos destacar a melhora da logística do fluxo turístico no município de Morros, a partir do momento em que existirão placas em todos os pontos turísticos, indicando aos visitantes o próximo ponto a ser visitado. Outro fator de destaque consiste na melhor identificação através da sinalização, de equipamentos primários (hotéis, pousadas, restaurantes) e secundários (delegacias, postos de saúde) que prestam serviços ao turista. A instalação da sinalização também visa integrar os roteiros turísticos do município, criando oportunidades para o estabelecimento de roteiros novos que possam ser explorados em Morros e também o surgimento de rotas turísticas que permitam conhecer o maior número de atrativos sequencialmente. É importante destacar que a sinalização do município também serviria para difundir e promover os atrativos existentes em sua localidade, agregando valor ao produto como um todo. Além disso, percebemos por meio da pesquisa de campo, que o município de Morros possui uma extrema carência de sinalização e de informações turísticas. Isso prejudica o desenvolvimento do turismo Morruense e faz com que os turistas percam tempo procurando os destinos pretendidos. Para tentar solucionar esta deficiência da estrutura turística, apresentamos neste artigo uma proposta de projeto de implementação de uma sinalização, sobretudo, apontando meios de como buscar recursos financeiros para a execução do projeto.Portanto, de uma forma geral, a sinalização turística contribui para uma melhor acessibilidade dos turistas e da própria população residente aos atrativos locais, fazendo com que facilite o acesso de ambos à informação, isso sem contar que agrega valor aos atrativos e ao próprio município, propiciando o maior crescimento da atividade turística.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Turismo. Guia Brasileiro de Sinalização Turística. Brasília: DF. Disponível em:. Acessado em 25 fev. 2013. BURSZTYN, Ivan. Políticas Públicas de turismo visando a inclusão social. 2005. 110 f. Tese (Mestrado em Engenharia de Produção) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro. 2005. Disponível em: < http://www.ivt-rj.net/ivt/bibli/Ivan%20Bursztyn%20%20tese%20completa.pdf>. Acesso em: 08 fev. 2012. GARABINI, Patrícia. Turismo, Sustentabilidade e Meio Ambiente: o gerenciamento dos resíduos sólidos dos meios de hospedagem em área rural – o caso de Caeté/MG. 2008. 177f. Dissertação (Mestrado em Turismo e Meio Ambiente) – Centro Universitário UMA, Belo Horizonte. 2008. Disponível em: < http://www.mestradoemtma.com.br/wpcontent/uploads/2010/06/TURISMO-SUSTENTABILIDADE-E-MEIO-AMBIENTE.pdf >.

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Acesso em: 08 nov. 2012. GIL, Antonio. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. (1997). Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Brasília: DF. Disponível em: . Acessado em: 12 dez. 2012. PIETROCHINSKI, Alan; SILVA, Vívian. PROPOSTA DE SINALIZAÇÃO TURÍSTICA DAS TRILHAS DO PARQUE ESTADUAL DO GUARTELÁ. 2008. 56 f. Monografia. Faculdade Telêmaco Borba, Paraná. 2008. ROCHA, Francisco Rogério Araújo. Morros: história e memória de um povo. Morros (MA): Gráfica Santa Clara, 2011. SILVA, Francimilo; MELO, Rodrigo. A Contibuição da Sinalização Turística para o desenvolvimento da cidade de Parnaíba. In: Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. São Paulo, n. 6 mai./ago. 2012.

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SINALIZAÇÃO TURÍSTICA: AVALIAÇÃO DA COMPREENSÃO DOS PICTOGRAMAS Marcos Feder100 Helena Beatriz Bettella Cybis101 RESUMO As placas indicativas de sinalização de trânsito fornecem indicações de trajetos, identificação da via, distâncias até os destinos, entre outras. Um tipo particular de sinalização indicativa é a sinalização turística, que possui algumas peculiaridades em relação às demais. Estas placas possuem a cor de fundo marrom e pictogramas associados às informações. Os pictogramas são desenhos especialmente projetados para gerar uma associação imediata com um local ou situação, e facilitam a comunicação, pois apresentam algumas vantagens em relação às mensagens textuais. A eficiência de um pictograma está diretamente relacionada com o grau de compreensão que proporciona nos condutores, por isso, o ideal é que sejam claros e facilmente compreendidos. Entretanto, alguns pictogramas apresentam desenhos complexos e entendimento não é o esperado. Para melhorar o desempenho dos pictogramas, antes de mais nada, é necessário saber quais apresentam um baixo grau de compreensão. Neste sentido, este trabalho buscou avaliar a compreensão dos pictogramas de sinalização turística usados no Brasil. Para a verificação da compreensão foi utilizado o método proposto pela norma ISO 9186-1:2007, com aplicação de testes para condutores habilitados de Porto Alegre. No final da pesquisa, após a análise dos resultados, foi possível identificar que dos 37 pictogramas testados, 16 atenderam ao critério mínimo de 66% de compreensão e foram considerados adequados, e 21 não atingiram o índice mínimo de compreensão, e deveriam ter seu desenho revisado. O índice médio de compreensão do conjunto de todos os pictogramas foi de 55,51%.

1 INTRODUÇÃO As placas indicativas são aquelas relativas à navegação, ou seja, fornecem indicações de trajetos, identificação da via, distâncias até os destinos e direções principais para orientação dos condutores. Neste grupo incluem-se ainda as placas de sinalização turística que, normalmente, estão associadas a um pictograma, que nada mais é do que um desenho estilizado, que deve gerar uma associação imediata com um local, objeto, idéia ou situação. Os pictogramas são utilizados para facilitar a comunicação com condutores estrangeiros que desconhecem a língua oficial do país e, portanto, não podem se orientar pelas placas com textos. Além disso, mesmo para os motoristas que sabem o idioma, os 100

Especialista em Engenharia de Trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre – EPTC Rua João Neves da Fontoura, n.º 7 Bairro Azenha Porto Alegre – RS CEP: 90050-030 E-mail: [email protected]. 101 Professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Departamento de Engenharia de Produção e Transportes Av Osvaldo Aranha, 99 5 andar Bairro Centro Histórico Porto Alegre – RS CEP: 90035-190 E-mail: [email protected].

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pictogramas facilitam a compreensão, pois podem ser identificados à distância, mais rapidamente e com maior exatidão, quando vistos de relance e podem ser vistos melhores em condições de visibilidade adversa (FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION, 1997, p. 5). No entanto, para que os pictogramas sejam eficientes eles precisam ser facilmente compreendidos pelos condutores, mas nem sempre isso acontece. Muitas vezes, os pictogramas são complexos e não conseguem fazer com que a associação ocorra. Dentro deste contexto, o tema deste trabalho é a sinalização turística. Através de testes aplicados aos condutores busca-se verificar se os pictogramas definidos pelo Guia Brasileiro de Sinalização Turística (EMPRESA BRASILEIRA DE TURISMO, 2001) proporcionam um grau adequado de compreensão. A justificativa deste trabalho está associada ao enorme número de turistas que deve chegar ao Brasil em função dos grandes eventos: Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016. Além disso, o crescimento do segmento do turismo no Brasil vem aumentando nos últimos anos e uma das principais carências é a falta de sinalização turística. Para melhorar esta situação, muitas cidades, inclusive Porto Alegre, estão investindo em projetos de sinalização turística. Assim, justifica-se a importância do estudo para verificar se os pictogramas cumprem adequadamente sua função e se contribuem para melhor orientar os usuários. Ademais, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) está elaborando um novo manual de sinalização indicativa e colhendo sugestões de melhorias. Os resultados deste estudo podem contribuir para esse manual. Quanto melhor for a compreensão dos pictogramas, menor será o número de condutores perdidos, que costumam trafegar em baixas velocidades, diminuindo a capacidade das vias e colaborando para aumentar os congestionamentos, que atualmente já estão presentes em todas as cidades brasileiras. Além disso, outro comportamento associado aos motoristas nestas condições, são as manobras bruscas para mudança de direção, que podem ocasionar acidentes. Assim, uma sinalização eficiente e facilmente compreensível é essencial para evitar estes prejuízos ao trânsito, o que serve, também, para justificar a realização deste trabalho.

2 PICTOGRAMAS A comunicação gráfica é aquela que vem através de símbolos, desenhos, ícones, plantas ou gráficos. É o caso da maioria das placas de trânsito, em que um único símbolo tenta traduzir o que a placa representa, de forma rápida e eficaz. Usualmente, nas placas de regulamentação e advertência os símbolos são chamados de sinais, e nas placas indicativas, os símbolos são chamados de pictogramas. Os pictogramas são desenhos estilizados que representam ideias, locais ou situações, e devem levar o leitor a fazer associações rapidamente (TIJUS et al., 2007, [p.1]). Eles fazem parte do nosso dia-a-dia em função do seu uso em bulas de remédios, manuais de instrução de equipamentos eletrônicos, meios de transporte, computadores, etc. No âmbito da sinalização de trânsito, os pictogramas são elementos característicos da sinalização indicativa de serviços auxiliares e de atrativos turísticos. A figura 1 apresenta um exemplo de pictograma, no qual o desenho de um elefante é utilizada para indicar um Jardim Zoológico.

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Figura 1 – Exemplo de pictograma, referente ao Jardim Zoológico

Se bem utilizados e elaborados, os pictogramas podem atrair a atenção e serem usados para transmitir grande quantidade de informações de maneira concisa (DUARTE et al., 2009, [p. 1]). Esta é uma vantagem economicamente interessante, pois, em alguns casos, eles podem substituir mensagens textuais, diminuindo o espaço a ser utilizado pela informação. Com isso, o custo da sinalização diminui. Conforme a Federal Highway Administration (1997, p.5), as vantagens dos símbolos sobre as mensagens de textos são: podem ser identificados à distância; podem ser identificados mais rapidamente e com maior exatidão quando vistos de relance; podem ser melhor vistos em condições de visibilidade adversa e podem ainda ser entendidos por pessoas que não conhecem o idioma do país em que o sinal é usado. Segundo Tijus et al. (2007, [p. 2-3]), os pictogramas são usados em inúmeras situações nas quais mensagens verbais não são possíveis ou adequadas. Os autores também apontam como vantagens, a possibilidade de serem compreendidos por pessoas com baixo grau de instrução, por idosos e pessoas com deficiência visual. Ressaltam ainda, que os pictogramas podem ser percebidos a uma distância maior do que os textos, porém isto depende se for um ícone explicito ou um símbolo abstrato. Siebenhandl et al. (2007, p.2) afirmam que “[...] quando os condutores estão familiarizados tanto com os pictogramas quanto com as mensagens textuais, eles conseguem extrair a informação mais rapidamente dos pictogramas [...]”. Os autores também destacam que os pictogramas facilitam a compreensão no caso de textos com abreviaturas em língua estrangeira, que são difíceis de entender. De acordo com a Federal Highway Administration (1997, p. 5), “O maior problema com os símbolos é que seu significado nem sempre é óbvio para quem o vê. Apesar de muitos serem relativamente fáceis de entender [...], outros apresentam problemas, até mesmo para motoristas experientes.”. Em muitos casos, uma má interpretação pode gerar riscos adicionais. No caso específico da sinalização de trânsito, um pictograma mal compreendido pode conduzir os turistas para trajetos equivocados, ou então, deixar o condutor em dúvida sujeito a efetuar manobras bruscas. Poucos pictogramas tem compreensão universal, ou seja, podem não ser interpretados por todos os grupos de usuários ou por culturas diferentes. Além disso, são necessários anos para um pictograma atingir sua máxima eficiência (TIJUS et al., 2007, [p. 3]). Deve-se considerar ainda que a evolução da sociedade é um processo dinâmico e natural, consequentemente, um pictograma pode se tornar obsoleto com o tempo. É recomendável, portanto, que sejam feitas avaliações periódicas para verificar se algum pictograma precisa ser readequado (FIORI, 2010, p. 388). 2.1 HISTÓRICO

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Alguns historiadores consideram que os primeiros pictogramas foram criados por Charles Estienne, que em 1552 publicou um guia cartográfico da França. Neste guia, ele utilizou símbolos para indicar os locais de referência como torres e pontes (WORLD TOURISM ORGANIZATION, 2001, p. 8). Entre os anos de 1840 e 1850, as ferrovias tiveram grande desenvolvimento na Europa e, gradualmente, surgiu a necessidade de implantar sinalização ao longo das vias férreas e nas estações ferroviárias. O primeiro sinal fixo foi implantado em 1835. No entanto, a sinalização turística teve seu grande avanço com a Revolução Industrial, com a intensificação do comércio e das viagens para outros países. Os primeiros pictogramas modernos surgiram em 1895 e representavam o setor de transportes. Na segunda metade do século XX, alguns designers desenvolveram conjuntos de símbolos para os jogos olímpicos, além de grandes aeroportos como os de Frankfurt e Paris (FIORI, 2010, p. 383). Segundo Souza e Matos (2009, p. 12-13), “[...] foi a experiência dos Jogos Olímpicos de 1964, em Tóquio, que disseminou a utilidade dos pictogramas no cenário internacional como sistema de comunicação visual para a sinalização pública.”. Nas Olimpíadas de 1972 e 1976 foram utilizados sistemas similares de comunicação gráfica. A eficiência dos pictogramas foi reconhecida e serviu de impulso para o surgimento de outros sistemas. Entretanto, “[...] muitos dos sistemas para sinalização pública [...] não apresentavam a mesma eficiência e qualidade gráfica daqueles observados nos Jogos, pois desconsideravam a necessidade de testes ou pesquisas para o seu desenvolvimento.”. A partir de 1973, a International Organization for Standardization (ISO) assumiu a responsabilidade de tratar da questão da padronização e pesquisa para o desenvolvimento de símbolos gráficos internacionais. Foi criado um comitê técnico específico (ISO TC 145) para fornecer recomendações e elaborar métodos para avaliação da compreensão. No Brasil, os pictogramas de sinalização turística foram introduzidos oficialmente na legislação de trânsito através da Resolução n. 791 do Conselho Nacional de Trânsito (BRASIL, 1994), ainda durante a vigência do Código Nacional de Trânsito de 1974. A justificativa considerava a necessidade de ampliar a sinalização de trânsito ao interesse do turismo, de modo a proporcionar facilidades a todos que viajam ou visitam lugares. Esta Resolução estabelecia 32 pictogramas de locais e atrativos turísticos. Posteriormente, através da Resolução n. 807 (BRASIL, 1995), foi incluído também o pictograma relativo às Informações Turísticas. Na figura 2 é apresentado o histórico da sinalização turística no Brasil de forma esquemática.

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Aprovação do Código Nacional de Trânsito

1974

Inclusão dos pictogramas turísticos no Manual de Sinalização Vertical

1982

Publicação do Manual de Sinalização Vertical

1994

Aprovação do Código de Trânsito Brasileiro

1995

Inclusão do pictograma de “Informações Turísticas”

1997

Publicação do Manual de Sinalização Indicativa

2001

2013?

Publicação do Guia Brasileiro de Sinalização Turística

Figura 2 – Histórico da sinalização turística no Brasil

Em 23 de setembro de 1997, foi promulgada pelo Congresso Nacional a Lei n. 9.503 que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997), sancionada pela Presidência da República, entrando em vigor em 22 de janeiro de 1998. O Código anterior e todas suas alterações posteriores foram revogados pela nova Lei. Em 2001, foi publicado o Guia Brasileiro de Sinalização Turística (EMPRESA BRASILEIRA DE TURISMO, 2001, p. 15), que tem por objetivo “[...] orientar os estados e municípios quanto à forma de sinalização adequada para identificar destinos, locais e atrativos de interesse turístico, resguardando-se a diversidade cultural do país.”. Tem por objetivo também alcançar uma padronização deste tipo de sinalização, garantindo sua unidade em todo o País. Neste Guia são apresentados 76 pictogramas, reproduzidos na figura 6, divididos nos seguintes grupos: (i) atrativos turísticos naturais; (ii) atrativos históricos e culturais; (iii) áreas para prática de esporte; (iv) áreas de recreação; (v) locais para atividades de interesse turístico; (vi) serviços de transportes e (vii)serviços variados. Na ausência de uma legislação oficial, publicada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), os órgãos de trânsito adotaram o Guia Brasileiro de Sinalização Turística como base para a elaboração dos novos projetos. Cabe ressaltar, que um novo manual de sinalização indicativa está sendo elaborado pelo Denatran, já tendo sido divulgada uma versão preliminar para avaliação dos órgãos de trânsito e demais entidades da sociedade civil. As sugestões recebidas serão avaliadas e poderão ser adotadas na versão definitiva do manual. 2.2 CONCEPÇÃO

283

Segundo World Tourism Organization (2001, p. 4-6), “[...] sinais e símbolos turísticos devem expressar seu significado numa linguagem simples e da forma mais universal possível.”. Destaca ainda que “[...] devem ser heterogêneos, mas não díspares.”. Em resumo, os símbolos não devem ser decifrados somente por pessoas treinadas, e sim, devem ser capazes de levar facilmente o usuário a, pelo menos, ter uma idéia aproximada da real intenção a ser comunicada. Assim, para facilitar sua compreensão, os pictogramas devem ser elaborados a partir de imagens percebidas inicialmente na realidade concreta. Segundo Siebenhandl et al. (2007, p. 2), os motoristas tem que lidar com um ambiente viário cada vez mais complexo, incluindo sinalização vertical e horizontal. A crescente variedade de pictogramas e mensagens de texto podem acabar desviando a atenção dos motoristas da direção. Assim, existe uma forte necessidade de auxiliar os motoristas com pictogramas homogêneos. No entanto, a elaboração de novos pictogramas não é uma tarefa fácil. Fiori (2010, p. 398-399) menciona que em alguns casos as situações são muito semelhantes em qualquer cidade do mundo, como por exemplo, as bombas de combustível. Logo, a utilização de uma figura de bomba de combustível remete facilmente ao condutor a idéia de posto de gasolina. O autor também ressalta que o aspecto cultural tem forte influência na compreensão dos pictogramas e deve ser levado em conta no momento de sua elaboração. Por exemplo, para um cidadão árabe a representação de um templo religioso estaria associado à imagem de uma mesquita ou luar crescente. Para os cristãos ocidentais, a imagem de um templo religioso é caracterizada por uma igreja, com torre do sino e uma cruz. Da mesma forma, para atividades turísticas ou esportivas, conhecidas somente em regiões específicas, a utilização de pictogramas se torna pouco eficiente. Por exemplo, no Brasil, para esportes como badminton, punhobol ou curling, será difícil encontrar um pictograma adequado, pois os condutores não possuem conhecimento suficiente para fazer a associação. Em seu estudo Tijus et al. (2007, [p. 18]), listaram algumas recomendações para a concepção de pictogramas: a) deve ter níveis adequados de complexidade e detalhamento para maximizar a visibilidade e compreensão; um bom pictograma deve conter poucos detalhes e deve ser facilmente distinguido; excessiva representação da realidade não deve ser utilizada; objetos não devem ser desenhados meramente com contornos; sombreamentos e nuances de cor não devem ser utilizados com objetos finos ou chatos; representações 3D devem ser usados para objetos com várias dimensões; b) um pictograma deve ser facilmente distinguido quando comparado com outros; c) legibilidade: o tamanho dos elementos, os níveis de contraste e conteúdo familiar facilitam a legibilidade e compreensão.

Klohn e Ferreira (2011, p. 4), após analisarem as teorias de autores consagrados na área de representação gráfica através de formas sintetizadas, concluíram que as principais características que devem ser consideradas para que um pictograma seja bem percebido e compreendido são: a) formas simplificadas e sintetizadas são fáceis de visualizar, pois adquirem um caráter genérico; b) quando os tipos de traço e as formas utilizadas se assemelham percebe-se uma unidade entre os pictogramas facilitando a sua percepção dentro de um sistema de informações específico;

284

c) a assimilação geralmente é a forma de identificação com o significado mais utilizada, porém o contraste também pode trazer ótimos resultados se for bem projetado; d) o contraste figura-fundo deve ser cuidadosamente trabalhado para não gerar ambiguidade ou desconforto visual; e) geralmente os pictogramas necessitam um aprendizado anterior para que sejam reconhecidos e interpretados adequadamente.

Mesmo que sejam seguidas todas as orientações descritas na literatura, não existe garantia de que o pictograma elaborado seja adequado. 2.3 AVALIAÇÃO Pelo exposto, é fácil perceber que se um pictograma não pode ser compreendido pelos motoristas ele perde a sua função, pois não consegue cumprir seu objetivo primordial: a comunicação. Assim, torna-se essencial que, após a elaboração do pictograma, seu grau de compreensão seja verificado. Para suprir esta necessidade foi elaborada a norma ISO 9186-1:2007, que apresenta um método de avaliação de símbolos gráficos para locais públicos. A justificativa da Norma está associada ao aumento das viagens, turismo e comércio em todo o mundo. A avaliação é feita através de testes com vários usuários, nos quais os símbolos podem ser apresentados tanto na forma de cartões, quanto na tela de um computador. Os símbolos devem ser em preto e branco, em dimensões específicas. Antes do teste, deve ser fornecida uma frase para contextualizar o respondente, como por exemplo: “Estando em um aeroporto.”. Em seguida, o símbolo é apresentado ao respondente, que deve responder a seguinte questão: “O que você pensa que este símbolo significa?”. Um júri então classifica as respostas, utilizando também um repertório de respostas corretas para cada pictograma, elaborado previamente. Após transformar as respostas em percentuais, verifica-se o grau de compreensão de cada símbolo. Se, pelo menos, 67% forem corretas, o grau de compreensão do símbolo é considerado aceitável. 3 METODOLOGIA DO LEVANTAMENTO DE DADOS O levantamento de dados consistiu na aplicação de testes de compreensão para condutores de veículos habilitados. Foram avaliados os 37 pictogramas de sinalização turística que referem-se aos atrativos turísticos naturais, aos atrativos históricos e culturais, às áreas de recreação e aos locais para atividades de interesse turístico. Os testes foram aplicados conforme determina a norma ISO 9186-1:2007. O objetivo foi verificar quais são os pictogramas que não proporcionam um grau adequado de compreensão. O procedimento de coleta de dados foi dividido em 6 etapas: definição da amostra, preparação dos questionários, definição dos locais de aplicação, coleta de dados, correção dos questionários e tabulação dos dados. Nos itens a seguir essas etapas serão detalhadas. 3.1 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA O tamanho da amostra foi definido considerando uma população infinita e o modelo de distribuição amostral das proporções, conforme a fórmula a seguir:

285

n = Z2 . p (1-p) / e2 Onde: n = tamanho da amostra; Z = número de unidades de desvio padrão de acordo com a probabilidade de que o erro não ultrapasse o valor de “e” especificado; e = margem de erro especificada; p = proporção populacional dos indivíduos que pertencem a cada grupo estudado. Como essa proporção é desconhecida, adotou-se p=0,5, correspondente ao caso geral. Assim, considerando uma margem de erro de 6,7%, com nível de confiança de 95,44% (Z=2), o tamanho da amostra foi calculado em 223. Em outras palavras, cada pictograma deve ser avaliado por, no mínimo, 223 condutores. 3.2 PREPARAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS Segundo a norma ISO 9186-1:2007, no máximo cada entrevistado deve avaliar 10 pictogramas. Desta forma, os 37 pictogramas a serem testados foram divididos em quatro grupos. A distribuição nos grupos foi feita uniformemente, considerando somente o tipo de pictograma, e não seu grau de dificuldade de compreensão. Para cada grupo foi elaborado um caderno contendo os pictogramas e um formulário de respostas específico. No final, obteve-se um total de no mínimo 892 questionários a serem aplicados, sendo, no mínimo, 223 para cada grupo. Ainda, para evitar que a ordem de disposição dos pictogramas no questionário influenciasse o resultado, pois poderia se supor que nos últimos pictogramas o nível de atenção do entrevistado fosse menor do que no início do teste, teve-se o cuidado de elaborar dois modelos de questionários para cada grupo, invertendo-se a ordem de apresentação dos pictogramas. 3.3 PROCEDIMENTO DE TESTE Os testes foram aplicados pelos pesquisadores da Equipe de Pesquisas de Trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) de Porto Alegre. Os pesquisadores utilizados possuem bastante experiência e realizam todo o tipo de pesquisas relacionadas ao trânsito. Antes do início do trabalho de campo foi feito um treinamento específico para esta pesquisa no qual foi esclarecido o objetivo da pesquisa, detalhado o procedimento de teste e reforçadas algumas orientações para evitar erros. 3.4 LOCAIS DE APLICAÇÃO Os locais para aplicação dos testes foram distribuídos por toda a cidade de Porto Alegre visando coletar dados de todas as camadas sociais e abranger as zonas geográficas da cidade. Além disso, foram escolhidos locais com grande volume de circulação de pessoas, para otimizar o levantamento. 3.5 CORREÇÃO DOS TESTES

286

A correção dos testes foi feita em três etapas. Na primeira etapa foram listadas todas as respostas dadas para cada pictograma. Na segunda etapa cada resposta da lista foi avaliada por três julgadores, técnicos da EPTC, que fazem parte da equipe responsável por todos os projetos de sinalização turística e de orientação de Porto Alegre. As avaliações foram feitas individualmente, de forma independente, utilizando como base o Guia Brasileiro de Sinalização Turística para definir as respostas corretas. As respostas que foram consideradas corretas por no mínimo dois avaliadores foram aprovadas e serviram para compor o gabarito dos testes. Na terceira e última etapa, os testes foram corrigidos um a um a partir do gabarito. 4 ANÁLISE DOS DADOS Os testes foram aplicados para 1021 condutores, sendo 407 motoristas profissionais e 614 não-profissionais, com idades entra 18 e 82 anos, e com experiência ao volante de 2 meses até 64 anos. O percentual de compreensão de cada pictograma foi determinado a partir do quociente da quantidade de respostas corretas pela quantidade total de pessoas que avaliaram o pictograma. O percentual médio de compreensão dos pictogramas foi calculado em 55,51%, e foi obtido fazendo-se a média de todos os pictogramas. Conforme a norma ISO 9186-1:2007, para ser considerado adequado um pictograma deve ser compreendido corretamente por pelo menos 66% dos entrevistados. Assim, dos 37 pictogramas avaliados, somente 16 atendem este requisito, conforme mostrado nas tabelas 1 e 2. Tabela 1 – Avaliação da compreensão dos pictogramas. ATRATIVOS TURÍSTICOS NATURAIS

CÓDIGO

PICTOGRAMA

DEFINIÇÃO

ÁREAS DE RECREAÇÃO

% COMPREENSÃO

RESULTADO

CÓDIGO

PICTOGRAMA

DEFINIÇÃO

% COMPREENSÃO

TAN-01

MONTANHA

86%

TAR-01

PRAÇA

98%

TAN-02

PRAIA

89%

TAR-02

BARCO DE PASSEIO

77%

TAN-03

ILHA

52%

TAR-03

PARQUE URBANO

73%

TAN-04

RIO, LAGO ou LAGOA

40%

TAR-04

REPRESA

31%

TAN-05

CACHOEIRA

59%

TAR-05

TELEFÉRICO

66%

TAN-06

PATRIMÔNIO NATURAL

50%

TAR-06

MIRANTE

25%

TAN-07

GRUTA

51%

TAR-07

PARQUE DE DIVERSÕES

94%

TAN-08

TURISMO RURAL

61%

TAN-09

ESTÂNCIA HIDROMINERAL

16%

RESULTADO

287

Tabela 2 – Avaliação da compreensão dos pictogramas. ATRATIVOS HISTÓRICOS E CULTURAIS

CÓDIGO

PICTOGRAMA

DEFINIÇÃO

% COMPREENSÃO

LOCAIS PARA ATIVIDADES DE INTERESSE TURÍSTICO

RESULTADO

CÓDIGO

PICTOGRAMA

DEFINIÇÃO

% COMPREENSÃO

THC-01

ARQUITETURA RELIGIOSA

95%

TIT-01

FESTAS POPULARES

87%

THC-02

ARQUITETURA MILITAR

10%

TIT-02

TEATRO

38%

THC-03

ARQUITETURA HISTÓRICA

37%

TIT-03

CONVENÇÕES

75%

THC-04

MONUMENTO

39%

TIT-04

ARTESANATO

38%

THC-05

MUSEU

35%

TIT-05

ZOOLÓGICO

56%

THC-06

RUÍNA

31%

TIT-06

PLANETÁRIO

80%

THC-07

PATRIMÔNIO CULTURAL

12%

TIT-07

FEIRA TÍPICA

73%

21%

TIT-08

EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA

36%

THC-08

SÍTIO ARQUEOLÓGICO

THC-09

FAROL

77%

TIT-09

RODEIO

76%

THC-10

CENTRO CULTURAL

78%

TIT-10

PAVILHÃO DE FEIRAS E EXPOSIÇÕES

12%

THC-11

BIBLIOTECA

RESULTADO

78%

Além disso, também foram identificados os pictogramas que foram interpretados de maneira equivocada pelos condutores, conforme mostrado na tabela 3. Nesses casos, depreende-se que a representação gráfica adotada para o pictograma gera interpretações diferentes daquela para qual foi projetado e, portanto, deve ser revista.

288

Tabela 3 – Pictogramas com compreensão equivocada.

ATRATIVOS TURÍSTICOS NATURAIS

CÓDIGO

THC-02

TAN-09

PICTOGRAMA

DEFINIÇÃO

ARQUITETURA MILITAR

ESTÂNCIA HIDROMINERAL

SIGNIFICADO EQUIVOCADO

QUANTIDADE DE RESPOSTAS

FAROL

153

IGREJA

37

CHAFARIZ

140

PALMEIRA

16

TIT-02

TEATRO

SAMBÓDROMO

81

TAN-07

GRUTA

TÚNEL

54

IGREJA PATRIMÔNIO CULTURAL

44

THC-07

ARTESANATO

10

THC-05

MUSEU

FAIXA DE PEDESTRES

35

TAR-03

PARQUE URBANO

PESCARIA

27

CUIDADO:FRÁGIL

22

TIT-04

ARTESANATO VIDENTE

TAR-05

TAN-04

THC-09

8

HELIPONTO

22

ANTENA

14

TELEFÉRICO

RIO, LAGO ou LAGOA

FAROL

PISTA IRREGULAR

16

ÁGUA NA PISTA

7

CATAVENTO

6

289

5 CONCLUSÕES A sinalização de trânsito é essencial para transmitir informações aos motoristas de forma que possam circular de forma organizada e com segurança. Quanto melhor e mais rapidamente as mensagens forem compreendidas, melhor será o benefício para o trânsito em geral. No caso da sinalização turística, as informações são transmitidas através de textos e sinais gráficos pré-determinados, denominados pictogramas. Conforme a literatura, os pictogramas bem elaborados apresentam vantagens que podem auxiliam na comunicação com os condutores. No presente trabalho, os pictogramas da sinalização turística brasileira foram avaliados através do método proposto pela norma ISO-9186:2007. Foram testados os 37 pictogramas relativos aos atrativos turísticos naturais, aos atrativos históricos e culturais, às áreas de recreação e aos locais para atividades de interesse turístico. Destes, 16 atenderam ao critério mínimo de 66% de compreensão e foram considerados adequados. Entre os demais, 6 tiveram percentual de compreensão entre 50% e 66% e talvez pudessem se tornar adequados após ajustes. Por fim, 15 pictogramas apresentaram grau de compreensão abaixo de 50% e foram considerados inadequados. O índice médio de compreensão do conjunto de todos os pictogramas foi de 55,51%. Os testes foram aplicados aos condutores de forma estática e com os pictogramas distantes cerca de 50cm. Numa situação real, os pictogramas seriam avistados a distâncias muito superiores e com o veículo em movimento. Assim, seria interessante avaliar se os resultados sob estas condições são os mesmos que os encontrados no presente estudo. Considerando que o Manual de Sinalização Indicativa está em fase de elaboração no DENATRAN, as conclusões do presente estudo podem ser encaminhadas a este órgão, como forma de contribuir para a melhoria da sinalização turística. No âmbito estadual e municipal, o estudo pode ser útil para levantar o debate sobre o tema, e estimular ações que contribuam com a formação dos condutores e divulgação dos pictogramas junto à sociedade. Por fim, sugere-se fazer estudo comparativo da compreensão dos pictogramas de sinalização turística com a dos sinais de regulamentação e advertência, para verificar se os fatores avaliados neste trabalho influenciam também a compreensão dos demais sinais de trânsito. REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Trânsito. Resolução n. 599, de 28 de julho de 1982. Dispõe sobre a interpretação, o uso e a colocação da sinalização vertical de trânsito, nas vias públicas. Brasília, DF, 1982. Disponível em: . Acesso em: 14 abr. 2012.

_____. Conselho Nacional de Trânsito. Resolução n. 791, de 13 de dezembro de 1994. Acrescenta à sinalização de trânsito, placas de indicação de atrativos turísticos. Brasília, DF, 1994. Disponível em: . Acesso em: 14 abr. AVALIAÇÃO DA COMPREENSÃO DOS PICTOGRAMAS - RESU 2012. _____. Conselho Nacional de Trânsito. Resolução n. 807, de 14 de novembro de 1995. Acrescenta à Resolução n. 791/94 a placa de informações turísticas. Brasília, DF, 1995. LOCAIS PARA ATIVIDADES DE INTERESSE TURÍSTICO

PICTOGRAMA

PERCENTUAL DE COMPREENSÃO

PICTOGRAMA

290

Disponível em: . Acesso em: 17 abr. 2012. _____. Ministério da Justiça. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Brasília, DF, 1997. Disponível em: . Acesso em: 3 jun. 2012. DUARTE, M. E. C.; ROSA, C.; REBELO, F.; DUARTE, C. Design of pictograms: a comparison between iterative and non-iterative design methodologies. In: TRIENNIAL CONGRESS OF THE INTERNATIONAL ERGONOMICS ASSOCIATION, 17th, 2009, Beijing. Proceedings… Beijing: IEA, 2009. Não paginado. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2012. EMPRESA BRASILEIRA DE TURISMO. Guia brasileiro de sinalização turística. Brasília, DF, 2001. FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION. Symbol signing design for older drivers. Washington DC, 1997. Disponível em: . Acesso em: 2 abr. 2012. FIORI, S. R. Os símbolos de informação pública nos setores do lazer e turismo: resultados empíricos. Turismo em Análise: São Paulo, v. 21, n. 2, p. 381-405, ago. 2010. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2012. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 9186-1: graphical symbols – test methods – part 1: methods for testing comprehensibility. Genebra, 2007. KLOHN, S. C.; FERREIRA, N. F. Critérios de análise de pictogramas. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM DESIGN, 6., 2011, Lisboa. Anais... Lisboa: CIAUD, 2011. Não paginado. 1 CD-ROM. SIEBENHANDL, K.; RISKU, H.; BRUGGER, C.; SIMLINGER, P.; EGGER, S. Evaluating the comprehensibility of visualized information for the trans-european road network (TERN). In: INTERNATIONAL TECHNICAL CONFERENCE ON THE ENHANCED SAFETY OF VEHICLES, 20th, 2007, Lyon. Proceedings… Lyon: ESV, 2007. Não paginado. Disponível em: . Acesso em: 27 abr. 2012. SOUZA, S.; MATOS, C. R. Usos de sistemas de símbolos gráficos na educação, comunicação e meio ambiente: do funcional ao estético. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 32., 2009, Curitiba. Anais Eletrônicos... São Paulo: INTERCOM, 2009. Não paginado. Disponível em: . Acesso em: 14 maio 2012.

291

TIJUS, C.; BARCENILLA, J.; LAVALETTE, B. C.; MEUNIER, J. The design, understanding and usage of pictograms. Saint Denis/FR, 2007. Disponível em: . Acesso em: 12 jul. 2012. WORLD TOURISM ORGANIZATION. Tourism signs & symbols. Spain: WTO, 2001. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2012.

292

SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NO SEGMENTO DA HOTELARIA Denise Costa102 Denuilce Campos103 Flôr de Maria104 Mayara Bentes105 Vauiza Costa106 RESUMO Nos dias de hoje, é crescente a demanda por produtos e serviços ambientalmente corretos. No turismo, cada vez mais nota-se a busca por destinos e empreendimentos que possuam sistemas de gestão ambiental. A hotelaria, em particular está trazendo para o dia-a-dia de seus negócios o gerenciamento ambiental, pois os recursos naturais ameaçados são base da manutenção das atividades no setor turístico. Dessa forma, o presente estudo objetiva verificar a adaptação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), baseado na Norma ISO 14001, ao gerenciamento de uma empresa do segmento da hotelaria localizado em Barreirinhas-MA. O estudo se justifica pela necessidade e importância do SGA em colaborar para a obtenção da sustentabilidade através de uma gestão ecologicamente correta do segmento da hotelaria, que pode valer-se de uma posterior certificação ambiental como instrumento de competitividade. Palavras-chave: Sistema de Gestão Ambiental; Norma ISO 14001; Turismo; Hotelaria.

1. INTRODUÇÃO O acelerado processo de globalização tem feito da questão ambiental um objeto de grande atenção mundial. Tal preocupação é notória, visto a quantidade de leis pertinentes ao assunto, formações de organizações visando trabalhos relacionados à preservação do meio ambiente, preocupação da comunidade, clientes a procura de produtos e serviços ecologicamente corretos, gestões ambientais nas organizações. O segmento organizacional produtivo é considerado como o principal causador de impactos no meio ambiente, mas os recursos naturais são utilizados por todos e, desta forma, todos tem responsabilidade ética com o meio ambiente. Sendo responsabilidade de todos, pessoas cada vez mais conscientes dos problemas ambientais utilizam produtos e serviços que venham a causar mínimos impactos. Não obstante disso, organizações, até como forma de sobrevivência e competitividade, vem trabalhando através de gestões e operações ambientalmente responsáveis. Os hotéis também usam recursos naturais e, ao utilizá-los, provocam sua redução, representando significativo impacto ambiental. Impactos também decorrentes do lixo gerado, dos equipamentos, dos produtos de uso diário, de efluentes líquidos misturados com detergentes e outros dejetos orgânicos lançados em mares e rios. Tendo consciência da variedade e dimensão dos impactos causados por essa atividade e afetando diretamente esse 102

Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected]. 103 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected]. 104 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected]. 105 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão.E-mail: [email protected]. 106 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected].

293

próprio segmento, a utilização de um sistema de gestão ambiental nos hotéis surge como garantia futura de grandes retornos. A implantação de um SGA – Sistema de Gestão Ambiental, especialmente o que atenda a ISO 14001, representa importante passo para a organização hoteleira, principalmente porque passa a ser vantagem competitiva em um mercado onde as organizações apenas atuam nos limites das conformidades de Leis Ambientais. Dessa forma, os estudos feitos para a implementação de um SGA na hotelaria, serão conduzidos com base às questões contidas nas normas oficiais, que atenda as exigências da ISO 14001 visando à certificação. Nesse sentido, este artigo possibilitará a adequação das etapas da norma a especificidade de atuação da hotelaria. Um Sistema de Gestão Ambiental, bem implantado, tende a proporcionar significantes melhorias nos custos das empresas; consegue racionalizar a aquisição e utilização de insumos e matérias-primas, contratação de serviços e o uso de recursos naturais. Atenua significativamente o impacto ambiental, além de gerar bons resultados para o empreendimento. Como justificativa deste estudo, a implementação de um SGA na hotelaria oferece significativa contribuição para a solução de problemas ambientais, além de tornar-se infalível instrumento para conquista de clientes que valorizam o meio ambiente, já que no segmento da hotelaria os hóspedes preocupam-se em saber se o hotel possui além de algum Sistema de Gestão da Qualidade a intenção de implementar ou se, até mesmo, já possui um Sistema de Gestão Ambiental. 1.1 Objetivos O desenvolvimento desse artigo tem como objetivo apresentar estudos no SGA – Sistema de gestão ambiental, relativo ao segmento da hotelaria, para conhecer ações e procedimentos de gerenciamento em conformidade com a Norma ABNT – ISO 14001. 2. SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA HOTELARIA 2.2 Metodologia A presente pesquisa consiste na adaptação do modelo de Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da norma ISO 14001 a organizações turísticas de hotelaria. Para realizar essa adaptação, inicialmente foram levantadas as informações presentes na literatura pertinente, a fim de fornecer subsídios teóricos para os pesquisadores. Em seguida, procurou-se identificar quais as especificidades que o segmento da hotelaria exige para que o modelo de SGA proposto seja implantado. Para a realização desta proposta, foram seguidas as etapas estabelecidas pela Norma ISO 14001, buscando-se adequar esse modelo de SGA a um empreendimento turístico no ramo da hotelaria. Em sequência, foi realizado estudo de caso em uma organização do segmento da hotelaria, localizada em BarreirinhasMA, e, que, por motivos éticos, não terá seu nome identificado. Para que os objetivos propostos por este trabalho sejam alcançados, esta pesquisa foi caracterizada como qualitativa, já que a realização deste estudo baseou-se na opinião de pessoas relacionadas diretamente com o trabalho desenvolvido, sem nenhum tipo de dado numérico e estatístico que fundamentem seus pressupostos. Nesta pesquisa a preocupação foi com o nível de realidade que não pode ser padronizado nem quantificado; como motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. As pesquisas qualitativas encaixam-se perfeitamente em situações como o estudo de funcionamento das organizações.

294

2.2 Resultados Obtidos De acordo com a norma ISO 14001 os principais passos do Sistema de Gestão Ambiental – SGA são constituídos por: política ambiental; planejamento; implantação e operação; monitoramento e ações corretivas; análise crítica pela alta administração; e melhoria contínua. Cajazeiras (1997) propõem que este ciclo inicie-se por uma Revisão Ambiental Inicial, ou seja, o diagnóstico ambiental da empresa. Os dirigentes de uma empresa geralmente desconhecem os aspectos ambientais que a constituem e, portanto dificultaria a elaboração da definição da Política Ambiental. Maicon (1996, P.73) define política ambiental como: “declaração quanto aos princípios e compromissos assumidos em relação ao meio ambiente.” A decisão de qual política a ser adotada é uma definição que a alta administração deverá tomar e disseminar por toda a organização, como também divulgar para seus fornecedores, investidores, clientes e comunidade em geral. Martins e Nascimento (1998, p.7) destacam que essa fase tem importância, pois a mesma norteará os passos seguintes do SGA, além de mostrar “o pensamento, visão e o comprometimento da empresa com o meio ambiente”. Ao se elaborar a revisão inicial vislumbrando o diagnóstico das condições ambientais antes da implantação do empreendimento, ou antes, da adoção do SGA, recomenda-se observar quatro pontos importantes: 1. Requisito e requerimentos legais; 2. Avaliação e registro dos aspectos ambientais significativos; 3. Exame das práticas e procedimentos do sistema de gerenciamento ambiental já existente; e 4. Avaliação e investigação de acidentes ambientais passados e não-conformidades em relação a legislação, regulamentos, políticas e práticas anteriores a revisão. Ainda, no diagnóstico inicial do ambiente onde está ou será localizado o empreendimento hoteleiro, deverá examinar as práticas e procedimentos existentes de SGA, e avaliar e investigar acidentes ambientais passados. Todos estes dados deverão estar devidamente documentados, pois servirão de fontes importantes para a definição da política ambiental a ser adotada pelo hotel futuramente. A adoção de uma política voltada para a conservação do ecossistema e o desenvolvimento sustentável é a primeira fase do sistema de gestão ambiental descrita na Norma ISO 14001. Para que uma empresa hoteleira possa definir a sua política ambiental, a administração do hotel deverá investigar os seguintes tópicos: a) legislação ambiente vigente; b) aspiração de seus hospedes em potencial; c) anseio da comunidade da circunvizinhança; d) reação da comunidade organizada; e e) expectativa dos colaboradores. A norma ISO 14001 recomenda a administração que ao se definir a política, deverá também contemplar os seguintes requisitos: a) ser apropriada ao tamanho e a natureza dos impactos causados pelo hotel; b) ser de proteção ao meio ambiente e redutora dos impactos negativos causados pela atividade da empresa; c) atender aos requisitos legais e ter o compromisso com a melhoria contínua;

295

d) ser documentada, divulgada e a documentação ser colocada à disposição dos interessados; e) ser compatível com outras políticas e normas internas, como as de qualidade, saúde do trabalhador e segurança; e f) forneça a estrutura para o estabelecimento e revisão dos objetivos e metas ambientais. É importante que após a elaboração da política ambiental exista o comprometimento de todos os níveis hierárquicos da empresa, sem o comprometimento, o sistema estará comprometido ao fracasso. O planejamento é um elemento de grande relevância em uma empresa. No caso do SGA outros quatro aspectos também devem ser considerados conforme a norma. São eles: aspectos ambientais; legislação e outros requisitos legais; objetivos e metas ambientais; programa de gestão ambiental. Os aspectos ambientais, conforme Cajazeira (1997) são todos os elementos pertencentes às atividades, produtos e serviços da organização, que podem interagir com o meio ambiente. O hotel deve estabelecer processos para identificar a influência de suas atividades no meio ambiente, quer sejam diretas ou indiretamente. O segmento hoteleiro deve investigar e documentar toda legislação pertinente, tais como códigos, acordos com órgãos ambientais e correspondências correlatas. Os principais documentos são formados pela Constituição Federal e Estadual, Leis e Decretos Federais e Estaduais, Portarias e Normas do IBAMA, EMBRATUR e órgãos estaduais fiscalizadores. Os objetivos do hotel relacionados com o meio ambiente devem ser bem definidos, além de vislumbrar o desenvolvimento sustentável, deverá proporcionar a redução dos impactos ambientais negativos e o aumento dos impactos positivos. As metas devem também ser consistentes com a política ambiental definida, incluindo o compromisso com o desenvolvimento sustentável e quantificadas com prazos através de indicadores específicos. Ao estabelecer os indicadores, é possível acompanhar o cumprimento dos objetivos e metas ambientais do hotel, ilustrados no quadro 01: Quadro 01- Exemplos de Objetivos e Metas Ambientais de um Hotel. METAS

INDICADORES 3

Diminuir o consumo de 25% no prazo de nove meses. Atender aos padrões de qualidade dos efluentes ao serem lançados no corpo receptor num prazo de doze meses.

Consumo de água em m por dia.

Quantidade de DBO, DQO, OD e P total por ml de efluente ao ser lançado no corpo receptor.

Diminuir o consumo em 15% em um prazo Kilowatts/hora de energia elétrica consumida. de seis meses. Fonte: Adaptado da Norma ISO 14001 (1996).

Para que os objetivos e metas ambientais do hotel sejam alcançados é, necessário respeita, no mínimo, os seguintes fundamentos:  Reconhecer que o gerenciamento ambiental está entre as prioridades mais altas das empresas;  Estabelecer e manter as comunicações com partes interessadas (internas e externas);

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       

Determinar os requisitos legais e os aspectos ambientais associados comas atividades, produtos e serviços da organização; Desenvolver o gerenciamento e o comprometimento dos funcionários coma proteção do meio ambiente, com clara designação de responsabilidade; Estimular o planejamento ambiental através do ciclo de vida do produto e do processo de produção; Estabelecer um método gerencial disciplinado para atingir determinados níveis de desempenho; Providenciar recursos adequados e suficientes – incluindo treinamento –para realizar os níveis-alvo de desempenho numa base contínua; Avaliar o desempenho ambiental em relação às políticas, objetivos e alvos adequados, e procurar melhorar onde necessário; Estabelecer um processo de melhoria para revisar e auditar o SGA e identificar oportunidades para melhorar o sistema e o desempenho ambiental resultante; Estimular terceiros e fornecedores a estabelecerem um SGA. (GOMES, 2007, p.27)

O programa de gestão ambiental é definido de acordo com os objetivos e metas do hotel, sendo designados os responsáveis para sua implementação em cada setor do hotel, fornecendo-lhes os meios necessários para que o cronograma estabelecido seja cumprido. Para isto, cada setor do hotel deverá ter alguém responsável para cumprir o programa decorrente do plano de ação, estabelecido na fase do planejamento ambiental. O objetivo do programa de gestão ambiental é controlar os impactos ambientais identificados. A quarta etapa do SGA é o da implantação e operação, ou seja, esta etapa vai colocar em prática todas as ações previamente definidas, usando todos os recursos físicos, humanos e os estudos, que incluem os procedimentos, normas e regras, colocadas à disposição do SGA. Para que se alcance a eficácia do SGA é imprescindível que haja a integração de todos os setores e responsáveis com os outros programas de gestão ambiental, permitindo desta forma que cada integrante participe e tenha uma visão mais abrangente de todo o sistema. Essa etapa está subdividida em: 1. Recursos, funções, responsabilidades e autoridades: Definição de recursos financeiros, tecnológicos, infraestrutura dentre outros. Também são realizadas as atribuições de responsabilidades as pessoas envolvidas no sistema. 2. Competência, treinamento e conscientização: Desenvolve atividades com o corpo funcional da organização, como: treinamentos das atividades potencialmente impactantes, programas de conscientização e conhecimento da política ambiental da empresa. Este requisito visa desenvolver o comprometimento dos funcionários com a gestão ambiental promovida pela organização. 3. Comunicação: Procura definir como se dará à troca de informações da organização com seu ambiente externo (fornecedores, clientes, partes interessadas e etc.) e interno (colaboradores e prestadores de serviço). 4. Controle de documentos: A organização deve estabelecer mecanismos de controle sobre os documentos referentes ao SGA. 5. Controle operacional: Definir mecanismos de controle sobre os aspectos considerados significativos. 6. Preparação e resposta à emergências: A organização deverá estabelecer planos para situações emergenciais. Quadro 02 - Programas de Gestão Ambiental e suas Ações

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PROGRAMAS

AÇÕES 1. Inventário dos efluentes líquidos.

Gestão da qualidade da água

2. Separação e identificação das redes hidráulicas (lavatórios, esgotos, sanitários, águas pluviais).

3. Controle dos efluentes líquidos através de monitoramento, redução das cargas poluidoras nas fontes e implantação de sistema de tratamento.

4. Controle da qualidade da água no corpo receptor.

5. Minimização do consumo de água através do reuso.

6. Treinamento e implementação de procedimentos e instruções de trabalhos específicos.

1. Inventário das fontes de consumo.

2. Priorização de uso.

3. Utilização de fontes hidroelétrica, eólica).

alternativas

(aquecimento

solar,

4. Troca de equipamentos eletro-intensivos. Gestão da energia elétrica 5. Colocação de células fotoelétricas, termostatos, temporizadores e sensores de presença.

6. Controle do consumo por unidade habitacional e áreas comuns. 7. Treinamento e implementação de procedimentos e instruções.

1. Inventário de resíduos

2. Mapeamento das fontes de geração, seleção, estocagem e

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disposição dos resíduos. 3. Programa de minimização de resíduos: reuso – reciclagem – redução – recuperação.

Gestão dos resíduos sólidos

4. Coleta, tratamento e disposição final adequados.

5. Treinamentos e implementação de procedimentos e instruções de trabalhos específicos.

1. Inventários dos produtos fornecidos (produtos acabados ou matéria prima) ao hotel.

2. Classificação e seleção das embalagens ecologicamente corretas (reusável, reciclável e reduzida).

3. Cadastro e seleção dos fornecedores.

Gestão dos produtos fornecidos por terceiros

4. Análise do ciclo de vida dos produtos adquiridos.

5. Programa de esclarecimento aos hóspedes e substituição dos fornecedores visando diminuir os impactos ambientais na fonte. 6. Treinamento de trabalhos específicos.

Fonte: Adaptado da Norma ISO 14001 (1996).

A partir do momento em que o SGA é implantado, ele deverá ser monitorado para que sejam elaboradas as ações corretivas quando as operações e atividades ambientais não estiverem de acordo com o planejamento. Para isto, se faz necessário que exista o monitoramento constante através de registros conforme os objetivos e metas do hotel. O acompanhamento de cada programa de gestão ambiental deve ser monitorado através de dados concretos e objetivos. Para que seja possível avaliar os critérios de desempenho ambiental é importante que se utilize alguns indicadores de avaliação, tais como: 1. Indicador do consumo de água no hotel, que pode ser calculado como: Índice de utilização de água = consumo de água tratada/número de usuários no hotel 2. Indicador de geração de resíduos, que pode ser medido da seguinte maneira: Índice de geração de resíduos = quantidade de resíduos/número de usuários no hotel

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3. Indicador de consumo de energia no hotel, o qual pode ser determinado como: Índice de consumo de energia = consumo de energia em Kwh/número de usuários no hotel Quando forem detectadas não-conformidades, o hotel deverá adotar ações no sentido de estabelecer a regularidade. Para isto, é necessário que o hotel já tenha definido anteriormente os procedimentos e as responsabilidades para cada ação preventiva. A auditoria interna tem como objetivo investigar se as especificações estão de acordo com a ISO 14001 e se realmente estão sendo implementadas atendendo as necessidades do hotel. Para Cajazeiras (1997), recomenda-se que cada setor faça uma auditoria interna anual considerando a importância dos aspectos ambientais identificados. A administração do hotel deve elaborar o seu plano de auditoria interna para todos os setores, informando-os do seu conteúdo e fazendo as devidas atualizações. A administração do hotel, em período pré-determinado deverá fazer avaliações do SGA implementado. Baseados nestas avaliações poderão ser agregados melhorias nos processos, melhorando desta forma a eficácia do SGA. Esta é a última fase do processo, chamado de melhoria contínua, ou seja, toda vez que o ciclo é alterado para um nível superior ao anterior com melhores técnicas e procedimentos, aumenta também as exigências da melhoria contínua do SGA.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com estudos bibliográficos e do desenvolvimento de um SGA para a hotelaria, é possível a aplicação da ISO 14001 no setor hoteleiro. A implementação de um sistema de gestão ambiental objetiva a melhoria do desempenho ambiental da empresa, prevenção da poluição e o cumprimento da legislação ambiental aplicável, tratando-se de um processo cíclico, onde tal sistema é revisto e avaliado de forma a identificar periodicamente oportunidades de melhorias. Com a preocupação no meio ambiente, a implantação da SGA na hotelaria traz inúmeras vantagens para todos os envolvidos, direta e indiretamente, ou seja, para o meio ambiente, que se beneficia diretamente pelos recursos naturais conservados e preservados; para a gestão financeira, pois é possível diminuir os custos operacionais, introduzindo princípios de redução, reutilização e reciclagem, evitando o desperdício; para o município pela redução da quantidade de resíduos sólidos e líquidos enviados diretamente ao aterro sanitário ou lançados ao mar ou redes públicas, e protegendo as águas superficiais e subterrâneas; para a sociedade, introduzindo a consciência ecológica; para a comunidade com a geração de emprego e renda e para o hotel que cria e mantém uma boa imagem com sua política ambiental. A inserção de um SGA para hotéis não acontece de forma imediata. Para que um hotel consiga a certificação da ISO 14001, é imprescindível que exista a reorganização da empresa, conjugada com o comprometimento da alta administração, a participação de todos os colaboradores, profissionalismo, infraestrutura adequada, mão-de-obra qualificada, e a coordenação de todas as atividades propostas pela ISO 14001. Com a disseminação da responsabilidade ambiental a cada setor da organização, quando todos passam a ver as questões ambientais sob a mesma ótica, soluções criativas começam a surgir de toda a empresa. A certificação da norma ISO 14001 em um hotel depende, também, da comunidade, dos órgãos governamentais, da própria estrutura do hotel, da capacidade de investimento, da infraestrutura local e da característica do estabelecimento. A visibilidade de um certificado

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perante as exigências de certos mercados influenciam fortemente a decisão das organizações. O gerenciamento ambiental para hotéis é um tema recente e inovador, no entanto, tem promovido transformações significativas na consciência coletiva, aparecendo, assim, como fenômeno de singular importância para a sustentabilidade. Por fim, recomenda-se que todas as empresas hoteleiras comecem a adotar dentro de seu empreendimento atitudes ambientais, de preferência as orientações propostas pela norma ISO 14001. Uma empresa existe e se mantém viva enquanto estiver atendendo a uma demanda da sociedade. Cessando a demanda, ou se essa não for atendida, a empresa perde a razão de existir.

REFERÊNCIAS _________ ABNT – ISO 14000: rumo à certificação verde. Revista ABNT, Rio de Janeiro, v.1, n.0, p. 22-24, jan/fev, 1996. CAJAZEIRA, Jorge. E.R. ISO 14001: Manual de implantação. Rio de Janeiro: Quality mark, 1997. GOMES, Gustavo Schaefer. Empresas e meio ambiente: uma visão crítica.Monografia apresentada ao curso de Geografia do instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2007. MAIMON, D. Passaporte verde: gestão ambiental e competitividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996. MARTINS, G. M.; NASCIMENTO, L. F. TQEM – A introdução da variável ambiental na qualidade total.1998. Disponível em: www.portalga.ea.ufrgs.br - acesso em: 25 de Janeiro de 2013.

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THEATRO JOSÉ DE ALENCAR – O CASO DO EVENTO DIA 17 NO TEATRO Francion dos Santos Costa107 Jacqueline Holanda Tomaz de Oliveira108 Mansueto da Silva Brilhante109

Paula Roberta de Oliveira Leite110 RESUMO O turismo ao longo dos anos passou por várias transformações devido à segmentação de mercado. Atualmente o turismo cultural é, na atividade turística, responsável por uma demanda significativa. Com ênfase neste assunto é necessário que seja feito uma retrospectiva sobre o turismo, suas origens, evolução e conceitos, bem como, um estudo de caso. Esse estudo permitirá a descoberta e origem do teatro no Brasil e no estado do Ceará, assim com o seu atual momento diante da sociedade, público local e turistas. O objetivo geral desse estudo compreende a necessidade de analisar se o evento que ocorre no teatro esta sendo explorado de maneira satisfatória pelo turismo cultural da cidade. A metodologia utilizada é bibliográfica e documentada. Somente através desse estudo, foi possível se confirmar que ainda existe a necessidade de se evidenciar o evento ocorrido no Theatro José de Alencar. Palavras-chave: Turismo, Teatro, Cultura.

1 INTRODUÇÃO

Dentre as relevantes atividades relacionadas ao setor Turístico, existe o Turismo Cultural e com ele seus patrimônios e monumentos que, se explorados de maneira coerente, trarão méritos e referências para cidades, como é caso dos teatros e seus eventos culturais. No Ceará, a história do Teatro é antiga, sendo ainda pouco conhecida por seu público. Seria importante verificar que, em Fortaleza, existem inúmeros grupos e companhias de teatro e espaços como teatros centenários e outros recém-inaugurados, esperando a receptividade do público cearense. Assim sendo, para justificar a elaboração deste trabalho, o objetivo geral se desenvolve em analisar como está sendo explorado hoje o potencial turístico cultural do Theatro José de Alencar durante a realização do evento “Dia 17 no Teatro” em suas dependências. Os objetivos específicos que serão abordados são: observar como se encontra no momento, o reconhecimento e apoio ao turismo cultural em Fortaleza, a partir de um de seus equipamentos culturais urbanos mais importantes; apresentar a história do teatro no 107

Bacharel em Turismo pela Faculdade Cearense. Professor de teatro do Projeto ABC (Governo do Estado do Ceará). [email protected]. 108 Mestre em Educação (UECE). Especialista em Metodologia do Ensino da Arte (UECE). Graduação em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), professora do Curso de Turismo da Faculdade Cearense (FAC). [email protected]. 109 Especialista em Políticas Públicas de Turismo (IFCE) e Bacharel em Turismo (UNICAP). Coordenador do curso de Bacharelado em Turismo da Faculdade Cearense e Docente do Instituto Centro Tecnológico do Ceará (CENTEC) e Aluno Especial do curso de Mestrado em Gestão . [email protected]. 110 Especialista em Políticas Públicas de Turismo (IFCE) e Bacharela em Turismo (FACE). Servidora Pública do Município de Aquiraz-CE, professora do Curso de Turismo da Faculdade Cearense-CE. [email protected].

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Ceará, uma vez que esta é uma referência básica para a própria edificação do Teatro José de Alencar e o evento pesquisado e colaborar para o conhecimento relativo ao potencial do turismo cultural no Ceará. Questionamos então, se podemos dizer que o potencial turístico do Theatro José de Alencar está sendo adequadamente explorado hoje em dia, tomando como objeto de análise um de seus eventos mais atrativos que é o “Dia 17 no Teatro”. A metodologia empregada para a realização desse trabalho foi o estudo de caso. Realizado entre frequentadores assíduos e os esporádicos do TJA e do Evento neste trabalho abordado. Foram utilizados como fonte de pesquisas revistas, sites, publicações envolvendo o tema e livros de autores, como Barreto, Andrade, Moletta e Costa, que referenciam a história do teatro no Ceará. 2 TURISMO CULTURAL A história do turismo vem de longe, mais especificamente do século XVIII, quando milhares de pessoas se deslocavam de suas cidades natais para visitarem outras localidades a fim de contemplar ruínas de antigas civilizações (BARRETO, 2010). Em 1991, a Organização Mundial do Turismo (OMT) lança uma nova definição para o Turismo, introduzindo esclarecimentos de todos os aspectos da atividade turística. Essa definição diz que o Turismo inclui tanto o deslocamento e as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas bem como as relações que surgem entre eles, em lugares distintos de seu ambiente habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano e mínimo de 24 horas (pernoite no destino), principalmente com fins de lazer, negócios e outros (OMT, 2010, p. 5). Ao longo dos tempos a população se habituou a conviver com variadas formas de se fazer Turismo, como, por exemplo, Turismo de Aventura, Ecoturismo, Eventos e Negócios, Gastronômico, Religioso, Sol e Praia, Turismo Cultural, dentre outros. Neste trabalho será abordado sobre o Turismo Cultural, cujo conceito é extremamente amplo. Para o Ministério do Turismo (2010, p. 13): compreende o Turismo Cultural ‘as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura.’

Já segundo Andrade (1976), Turismo Cultural restringe-se a uma modalidade de turismo cuja motivação do deslocamento se dá com o objetivo de encontros artísticos, científicos, de formação e de informação. Com base nisso, o mesmo autor segue dando uma das características, que, para ele, é a de maior importância para classificar essa modalidade de turismo: o turismo cultural tem, como característica principal, a permanência prolongada e um contato mais íntimo da comunidade com a arte, o que possibilita uma experiência de aprendizado profundo com relação aquela cultura, ou seja, o público sai satisfeito com o que viu e presenciou (ANDRADE,1976, p.13).

Desse modo este autor também fundamenta a prática do Turismo Cultural. Nomeando como sendo as práticas de conhecer, pesquisar e analisar dados, obras ou fatos, em suas variadas manifestações, os alicerces do turismo cultural (Andrade 1976). Santos e Antonini (2003) declaram que: A ‘cultura como atrativo turístico é considerada uma atividade econômica de importância global, que abarca elementos econômicos, sociais, culturais e

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ambientais’. Para eles, ‘é um dos fenômenos mais importantes dos últimos tempos, pois propicia o contato entre diferentes culturas, a experiência de diferentes situações, e passa por diferentes ambientes, e a observação de diferentes paisagens. Isto possibilita a globalização da cultura’. (SANTOS E ANTONINO, 2003, p.101).

Uma pesquisa111 dentro do nosso país foi realizada em 2008 pela EMBRATUR112 e pela UNESCO113 e traçou um perfil dos chamados Turistas Culturais, que são aqueles que vem de outros países para apreciar a nossa cultura, por isso se costuma dizer que, esse tipo de turista se diferencia dos demais. Como disse Rabahy (2000, p.93): a educação é primordial para o aprimoramento e a propensão dos viajantes a fazer turismo. O grau de escolaridade tem uma correlação positiva com altos níveis de renda. Isso significa a mesma correlação positiva com o turismo, ou seja, níveis de renda mais elevados revelam maiores propensões a viajar do que níveis de renda mais baixos. O mesmo se relaciona diretamente o turismo com o grau de escolaridade.

De acordo com a pesquisa realizada pelo mesmo órgão, esse turista tem alto índice de escolaridade, se utiliza principalmente dos meios de hospedagem convencional e viaja sempre acompanhados de amigos, familiares, ou são um casal que decide viajar em lua de mel ou férias. Para essas pessoas, a cultura é o fator de motivação da viagem e elas se reconhecem como turistas culturais, com hábitos de consumo próprios do segmento. Com relação ao Turismo Interno, baseado nas palavras de Gastal (2000), o turismo interno se caracteriza por: para fins da sua ação, serão considerados turistas mesmo os moradores locais, quando esses ‘saiam de suas rotinas espaciais e temporais’. Ou seja, embora eles estejam dentro de seu próprio habitat natural, no dado momento em que saem de suas rotinas diárias e busquem ter outras experiências, como ir ao teatro, cinema, festivais de músicas ou dança e etc, eles estão praticando o turismo interno, e consequentemente, o turismo cultural (GASTAL, 2010, p.36).

Percebe-se que uma pessoa, mesmo moradora da própria cidade, ao sair de seus afazeres cotidianos e se envolver em uma atividade da qual não esteja habituada, por um certo período de tempo, também pode se denominar como turista cultural. Conforme Moletta (2010), de todo o modo, uma forma de turismo que seja realizado dentro da própria cidade mereceria um mérito de se desenvolver diante da população local com ênfase e notoriedade dignas daquela comunidade, pois as pessoas que residem nas localidades onde a atividade se instala merecem o respeito e todas as benfeitorias trazidas pelo setor. Essa é uma maneira, até mais viável, que algumas pessoas encontram para não deixar de participar de atividades que propiciem lazer e diversão, que, em alguns casos, não estaria dentro da sua realidade e para que possam acessar de maneira em muitos casos de forma gratuita ou com valores mais acessíveis, visto que determinadas famílias não participam de

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BRASIL, Embratur & UNESCO. Estudo do Comportamento do Turista Cultural Internacional. Brasília: Embratur, 2009. 112 Instituto Brasileiro de Turismo é uma autarquia do Ministério do Turismo do Brasil, responsável pela execução da Política Nacional de Turismo do governo brasileiro. Fonte:http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20111221-4.html. 113 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Seu principal objetivo é reduzir o analfabetismo no mundo. Fonte: www.unesco.org.br.

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atividades culturais por não terem poder aquisitivo suficiente para se inserir nessas atividades. Conforme Meneses (2006), cada região do país tem o seu tipo de cultura, de artes individuas, de meios de se inserir na cultura particular e peculiar a cada uma delas, e por isso devem ser respeitadas e mantidas em constantes difusões para que sejam repassadas. É muito importante que o poder público também se interesse por preservar os centros históricos para que possa existir a demanda que se faz necessária no Turismo Cultural. Em algumas regiões do país, os responsáveis legais, que são prefeituras e governos regionais, percebendo a importância que se faz de preservar e resgatar sua história fazem questão de tentar manter e preservar esses locais, com isso contribuem para o Turismo Cultural. Conforme Trigo (1993, p. 112), No Brasil, cidades como Ouro Preto, Salvador, Olinda e centros históricos importantes de capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba são parcialmente preservados. Em Curitiba o Largo da Ordem manteve seu estilo do século XIX e ao mesmo tempo transformou-se em uma área de lazer e entretenimento noturno de boa qualidade.

Com costumes diferentes, os povos das regiões do nosso país se diferenciam e ao mesmo tempo se tornam iguais, pois a cultura e a arte os torna igualmente ligados pelo fato de, em seus modos e costumes, estarem sempre querendo repassar a sua vivência e aprendizado para todos ou para o maior número possível de pessoas ou lugares. 2.1 Turismo Cultural no Brasil e no Ceará No Brasil, no ano de 2011, o Governo Federal, através do Ministério da Cultura, lança uma cartilha intitulada METAS DO PLANO NACIONAL DE CULTURA. Essa cartilha visa em longo prazo estabelecer metas a serem cumpridas na próxima década com propostas de sustentabilidade e inclusão de todos os cidadãos no meio cultural. Segundo a Cartilha, o Plano Nacional de Cultura, trata-se de texto escrito por milhares de mãos, por diversos sujeitos e grupos, por meio de diferentes instâncias e espaços de experimentação e participação. Um plano que reflete o esforço coletivo para assegurar o total exercício dos direitos culturais dos brasileiros e brasileiras de todas as situações econômicas, localizações, origens étnicas e faixas etárias. (BRASIL, 2011, p. 9).

Dados do MinC, sobre o Turismo Cultural no Brasil, na cartilha de Orientações Básicas de Turismo Cultural 3° Edição, para a melhoria nesse serviço é proposta a seguinte orientação: a segmentação como uma estratégia para estruturação e comercialização de destinos e roteiros turísticos brasileiros. Assim, para que a segmentação do turismo seja efetiva, é necessário conhecer profundamente as características do destino: a oferta (atrativos, infraestrutura, serviços e produtos turísticos) e a demanda (as especificidades dos grupos de turistas que já o visitam ou que virão a visitá-lo) (BRASIL, 2010, p.9).

Segmentar a atividade em que se quer investir requer estratégias para se manter no mercado e fidelizar a clientela. Dessa forma, transformar a atividade em algo lucrativo e de qualidade, pois a melhoria nos serviços é um dos fatores que são levados em consideração por grande parte dos turistas.

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Segundo Beni (2001), existe no incremento do Turismo Cultural algumas vantagens que podem ser percebidas como o crescimento da economia das empresas turísticas, bem como no aumento da concorrência no mercado, na criação de políticas de preços e de propagandas especializadas e, ainda, na promoção de pesquisas científicas sobre o assunto. Com o apoio e o investimento dos governantes, da comunidade local, dos empresários e da sociedade em geral, valorizando os seus bens culturais e transformando-os em atrativos merecedores de respeito e zelo, o turista se motiva a visitar e ainda recomenda para seu ciclo familiar e de amizades, assim trazendo respostas positivas para a atividade turística. No Ceará o marco para que as atividades turísticas se desenvolvessem e se tornassem o que se tornaram hoje em dia, ou seja, mundialmente conhecidas, conceituadas e recomendadas por todos que visitam nosso Estado só veio a se desenvolver com alguns programas de apoio e incentivo a partir da década de 1980, obtendo continuidade e desenvolvimento a partir desta época, embora o foco seja o turismo voltado para atividades de veraneio, a partir do clima e do litoral. Ainda temos muitas dificuldades no que diz respeito às artes e ao Turismo Cultural em geral no Estado do Ceará, fato esse que vemos no nosso cotidiano em diversos lugares do estado, estando presente inclusive na capital. Ainda se observa falta de incentivo e investimento ao segmento. A matéria publicada no Jornal Diário do Nordeste114, do dia 19 de julho de 2010, afirma que o Turismo Cultural foi esquecido na capital cearense. Como nossa cidade tem um vasto litoral e belas praias, isso torna outros tipos de atrativos como a história riquíssima de nossa Fortaleza, Capital do Estado, como locais secundários e às vezes nem lembrados, visitados ou conhecidos pelos turistas, visto que os mesmos se interessam apenas pelo roteiro traçado pelos guias de turismo, ficando refém dos locais que estes lhes apresentam. Segundo o mesmo jornal, “os usuários tendem a se render aos apelos das praias, poucos descobrem a possibilidade de relaxar diante das belezas existentes dos patrimônios’.” (DIÁRIO DO NORDESTE, 2010), assim o Turismo Cultural fica em segundo plano e não é valorizado da maneira que deveria. Exemplo maior desse fato é o centro de Fortaleza, que ampara em suas ruas e avenidas centenárias a própria história viva do nascimento da capital, com seus prédios históricos, igrejas antigas e casarões de barões que fizeram as primeiras moradias naquele local e que hoje estão praticamente esquecidos tanto dos morados locais quanto dos turistas e visitantes. Enfim, saber o que aconteceu e como chegamos aos dias atuais é resgatar a história da cidade e também é um dos deveres do Turismo Cultural. A matéria, ainda diz que, Com o turismo cultural, em pontos históricos, pode-se conhecer cada localidade. Na verdade, só se conhece de verdade um lugar ao se entrar em contato com os patrimônios históricos. Sem esse turismo, não se sabe nem como se formou a cidade (DIÁRIO DO NORDESTE, 2010).

Conhecer a história de um local não é somente saber como chegar as suas praias e sim entender e informar-se sobre a história que conta a fundação da cidade e seu patrimônio histórico. De acordo com a mesma matéria do jornal, existe uma solução para esse problema cultural: 114

Matéria completa do jornal vide Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia 816610, acesso em 05 de maio de 2013.

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Para os especialistas, um das maneiras de reverter o "descaso" com os patrimônios históricos do Centro seria o investimento em políticas públicas de incentivo ou, até mesmo, a criação de estruturas, como estacionamentos e mais segurança para o local.

No momento em que as pessoas que residem na cidade não se sentem seguras em visitar determinados locais, não se pode exigir ou garantir que os turistas possam vir a fazer esse tipo de visitação. A Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) reconhece, conforme a matéria, que o hábito dos fortalezenses de optar pelo turismo cultural no Centro da cidade ainda não é o desejado, mas que os turistas de outros estados praticam esse turismo e com isso, para incrementá-lo, mudanças, parcerias e políticas públicas são previstas para o futuro com o intuito de melhorar esse setor e essa parte da nossa cidade que conta com seus prédios históricos como o Forte Nossa Senhora da Assunção115o nascimento da capital do Estado (DIÁRIO DO NORDESTE, 2010).

3 O TEATRO NO BRASIL E NO CEARÁ A história do teatro no Brasil, segundo Magaldi (2004,) surgiu com os jesuítas que trouxeram as artes cênicas como forma de catequizar os índios. Quando o jovem Padre Anchieta recebeu a incumbência de encenar um auto com propósitos de estabelecer fé e a crença na Igreja Católica. Uma das atividades da chamada Companhia de Jesus era catequizar e encenar com os colonizados as histórias da Bíblia. No livro História Concisa do Teatro Brasileiro, Décio de Almeida Prado (2003) nomeia o Padre José de Anchieta (1534-1597) como o primeiro autor de peças de teatro no Brasil. A história do Teatro no Ceará teve início em 1830, segundo conta o livro Didascália, de Marcelo Farias Costa (2007), com a sua primeira casa de espetáculos chamada de Teatro Concórdia, que se localizava na Rua Guilherme Rocha esquina com General Sampaio. Durante essa mesma década, a capital do Brasil, Rio de Janeiro, já contava com algumas apresentações de produções e companhias vindas da França, Itália e de Portugal, juntamente com a Corte para se apresentar na cidade. A capital fortalezense nessa época assemelhava-se a uma vila, pois apenas contava com iluminação feita à base de lampiões de azeite de peixe, sem sobrados e considerada pobre. Portanto jamais se podia imaginar que haveria aqui alguma atividade artística capaz de chamar mais atenção do que na Capital Federal. Os pequenos grupos de teatro existentes na cidade ainda não se faziam reconhecer diante das transformações pelas quais a cidade passava. E uma das dificuldades encontradas em trazer companhias de fora do estado para a Fortaleza era a grande dificuldade de se desembarcar no porto, e isso só fazia com que as companhias de teatro que iam se apresentar nas cidades de Belém e Manaus fugissem de temporadas na capital cearense. Outra dificuldade que contribuía para afugentar as companhias teatrais era a falta de uma casa de espetáculos que fizesse jus às apresentações dessas companhias. Nessa época já existia o Teatro São Luiz que, segundo Costa (2007), para as grandes companhias teatrais não era suficiente.

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A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção localiza-se à margem esquerda da foz do riacho Pajeú sobre o monte Marajaitiba, na cidade de Fortaleza, no litoral do estado do Ceará. Atualmente abriga a sede da 10ª Região Militar do Exército Brasileiro. A primitiva estrutura no local da atual fortaleza remonta à época da segunda guerra e da invasão dos holandeses no Brasil e foi erguida em 1649.O Forte de Schoonenborch foi rebatizado como Forte de Nossa Senhora da Assunção, após a expulsão dos invasores pela coroa portuguesa.

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O Teatro na Terra da Luz veio a florescer com a chegada do Século XX. Na capital já residiam mais de 48.000 habitantes e essa manifestação artística cresceu em importância com o movimento amador Recreio Dramático Familiar no ano de 1903. O Teatro São Luiz recebia o status de ser o mais respeitável palco das artes no estado até aquele momento. Porém, com a inauguração do Theatro José de Alencar que contava com uma estrutura moderna e bastante eficaz, este título se transferiu para o recém-inaugurado teatro da cidade. Os principais nomes para o Teatro do Ceará nessa fase foram Paurilo Barroso, fundador do Teatro Universitário, responsável pela modernização dessa arte no estado; Nadir Papi Sabóia, criadora do Grupo Teatro-Escola do Ceará; Marcos Miranda; B. de Paiva; Hugo Bianchi, que também se destacava como bailarino; Haroldo Serra; Emiliano Queiroz; e Aderbal Júnior que mais tarde adotaria o nome artístico de Aderbal Freire Filho, conforme Costa (2007). As artes teatrais e os atores de Fortaleza ganharam destaque na sua carreira e alguns nomes continuam atuando até os dias presentes, tanto no teatro quanto na televisão, como é o caso de Emiliano Queiroz, contratado por uma emissora nacional, atuando em diversas novelas e seriados e Haroldo Serra, fundador do Grupo Comédia Cearense no ano de 1957 que atua em diversas montagens teatrais na cidade de Fortaleza. De acordo com Joca e Ess (1999), a lua de mel do teatro cearense com seu público termina com o fim dessa década com a chegada do cinema falado, pois o teatro musicado já não tinha mais o mesmo apelo, perdendo, com isso, a vantagem que tinha em relação ao cinema e, em virtude desse fato, o universo teatral no Ceará decai mais uma vez. Com o CAD e com o Teatro Universitário atuando surge também uma nova geração de atores para as artes cênicas no estado, nomes como Gracinha Soares, João Falcão, Teresa Bittencourt, Hiramisa Serra, Antonieta Noronha, Walden Luiz e Marcelo Costa, autor do livro consultado para essa pesquisa. Alguns desses nomes continuam atuantes firmemente no teatro do Estado e pelo Brasil com peças de destaque e seus grupos teatrais. Conforme Costa (2007) pode-se dizer que a fase atual do teatro cearense teve início a partir do ano de 95. Já existem em nosso Estado o Festival de Teatro de Guaramiranga, o Centro Cultural Dragão do Mar Cultural de Arte com seus cursos e montagens, a fundação do Sindicato dos Artistas, a casa de artes da Escola Técnica Federal do Ceará, o curso Princípios Básicos de Teatro do TJA, além de inúmeros grupos amadores e semi profissionais por todos os cantos de estado. Percebe-se que, mesmo com todo esse tempo de atuação e de importantes conquistas, o teatro no estado ainda passa por constantes desafios sendo ainda visto como tendo a maioria de sua produção amadora. Apesar disso, nunca se deixou de fazer teatro no Ceará, mesmo com todos os fatos ao redor dizendo para que se faça o contrário, haja vista que um estado marcado pela seca e pela falta de investimentos na visão dos mais radicais não teria condições de possuir um movimento teatral importante. Nos últimos anos novas e modernas casas foram inauguradas no estado e principalmente na capital. Alguns exemplos dessas casas segundo Costa ( 2007), são: Teatro SESC Emiliano Queiroz – Av. Duque de Caxias, Teatro Chico Anysio – Av. da Universidade, bairro Benfica, Teatro do Centro Cultural Banco do Nordeste, Teatro do Centro Cultural Bom Jardim – no bairro de mesmo nome, Teatro Celina Queiroz – na Universidade de Fortaleza – UNIFOR. 3.1 Theatro José de Alencar – O Caso do Evento Dia 17

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A cidade de Fortaleza precisava de um teatro para receber as grandes companhias, como já foi explanado, por isso a ideia da construção de um teatro que atendesse a essas expectativas. A inauguração do Theatro José de Alencar aconteceu em 17 de junho de 1910. De acordo com Costa (2007), a primeira representação teatral a realizar-se no palco da mais nova casa de espetáculos da cidade foi da Companhia Lucília Perez com O Dote, de Arthur Azevedo no dia 23 de setembro do mesmo ano. O Theatro José de Alencar está localizado no Centro da capital cearense, na Rua Liberato Barroso, número 275, na Praça José de Alencar e apresenta arquitetura eclética. Sua sala principal de espetáculos tem estilo art nouveau e conta com 750 assentos. Segundo dados da Secult-ce, o equipamento conta ainda com um auditório de 120 lugares conhecido como foyer, espaço cênico a céu aberto e o prédio anexo, com dois mil metros quadrados, que sedia o Centro de Artes Cênicas – CENA; o Teatro Morro do Ouro, com capacidade para 90 pessoas; a praça Mestre Pedro Boca Rica, com palco ao ar livre e capacidade para 600 pessoas; a Biblioteca Carlos Câmara; a Galeria Ramos Cotôco; um teatro-jardim a céu aberto projetado pelo paisagista Burle Marx116, quatro salas de estudos e ensaios; oficinas de cenotécnica, de figurino e de iluminação; o Colégio de Dança do Ceará e o Colégio de Direção Teatral, do Instituto Dragão do Mar; a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho; e o Curso Princípios Básicos de Teatro. O TJA, segundo consta, é a maior casa de espetáculos do estado e também um ponto de visitação turística, o que o torna apenas mais um equipamento em meio a tantos outros, buscando se tornar tão atrativo para os moradores locais e turistas quanto as belas praias da cidade. O mesmo foi tombado como Monumento Nacional de belas artes em agosto de 1964. Para comemorar a data de Inauguração do TJA, desde 1999 existe no local um Evento Intitulado DIA 17 NO TEATRO, pois, na celebração dos 89 anos do Teatro, o evento contou com uma demanda superior a expectativa esperada, e assim, o mesmo foi incluído na grade de programação fixa do TJA. Este evento acontece mensalmente no decorrer de todo o ano e vem sendo desenvolvido desde as gestões passadas. O “Todo dia 17” em 2013 comemorou 14 anos de existência. O objetivo desse evento é comemorar o desaniversário do TJA. Nesses dias 17, o teatro é mostrado em sua multiplicidade: de espaços, de atividades, de ações, de potencial e de público. A cada dia 17, a programação começa as 7h. “Há várias pessoas que nos perguntam por que tão cedo.” Há várias cidades e modos de vida abrigados em Fortaleza. As 7h, o centro tem um fluxo intenso. São pessoas que chegam às 7h no teatro e podem usufruir da programação até o seu horário de trabalho. “Daí a diversidade de programação ao longo do dia.” Segundo Fernando Piancó 117, diretor geral do TJA na ocasião.

Essa é uma das alternativas criadas pelos diretores do TJA e da Secult na tentativa de atrair visitantes, turistas nacionais e internacionais a este equipamento de cultura e lazer, contando, além disso, com sua arquitetura e edificação secular. Nos dias 17, são utilizados vários espaços do TJA, como, por exemplo, os espaços cênicos da calçada voltada para a Praça José de Alencar; o saguão e o pátio interno. 116

Paisagista premiado internacionalmente por desenvolver seu talento como desenhista, pintor, ceramista, etc. Fonte: site da empresa do paisagista. Disponível em: http://www.burlemarx.com.br/historico.htm. Acessado em: 10 de novembro de 2013. 117 Matéria publicada no Jornal Diário do Nordeste em 11 de dezembro de 2001. Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/2001/12/11/0500586.htm. Acesso em 15 de novembro de 2013.

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Outra particularidade referente ao evento diz respeito ao bailarino Hugo Bianchi que guia um percurso pelas dependências internas e externas do TJA. As visitas que acontecem a cada duas horas durante todo o dia 17, acontecem de forma gratuita. Sobre o evento foi entrevistada a Coordenadora de Assessoria e Apoio do TJA. A importância deste evento para o TJA, segundo a Coordenadora, se dá, pois, Os dias 17 se revestem de grande relevância para o teatro, para a cidade e para as artes, pois nessas datas, toda a programação da casa é gratuita, o que oportuniza o livre acesso do público em geral, o dia todo ao TJA. A programação é diversificada, constando de apresentações de teatro, dança, música, circo e visita guiada.

Conforme informações cedidas, o evento não tem um público alvo, pois, como se trata de uma programação gratuita, o acesso é livre para todos. O público é diversificado e existe uma presença maior nos dias 17 de junho de cada ano, pois esta é à data de comemoração do aniversário do TJA e como ocorreu no ano de 2000 e no centenário em 2010 esses dias contam com bastante público. Nessas duas ocasiões o público estimado presente no teatro foi em média de 5.000 pessoas. Quando questionada se o potencial turístico do equipamento e do evento Dia 17 no Teatro está sendo satisfatório e se considera este evento como mais um atrativo cultural da cidade de Fortaleza, a mesma respondeu que sim, o evento responde bem as tentativas de atrair o público para dentro do Teatro com a finalidade de conhecer as suas instalações e até mesmo de saber um pouco mais da história desse centenário monumento turístico da cidade. Complementou dizendo que nos dias do evento acontece um momento que encanta todos os espectadores, há por exemplo, a “hora do Ângelus” que acontece nos dias 17, às 18h em ponto, quando um tenor canta na porta principal do teatro uma versão da Ave Maria e os funcionário do TJA jogam pétalas de rosas ao público. Este é um momento muito especial da festa e atrai turistas e o público da cidade.

Foi perguntado se a Direção do TJA tem tido resultados em números de visitantes locais e turistas de fora, que satisfaçam as necessidades em manter um evento funcionando, já que a grande maioria dos cidadãos da cidade não tem informações do funcionamento, do mesmo, e foi respondido que o TJA tem seus frequentadores cativos e que, embora o alcance do evento não atinja a maioria dos fortalezenses, o público que prestigia o evento sempre volta levando consigo algum familiar ou amigo. Com relação ao momento de maior importância do evento Dia 17 no Teatro, para ela, esse momento aconteceu no dia da festa dos 90 anos do TJA no ano de 2000 e o segundo momento foi à data do Centenário do Teatro no ano de 2010. Também foi aplicado questionário aos visitantes presentes no “Dia 17 no Teatro” na data da visitação do elaborador deste trabalho: dias 17 de outubro e 17 de novembro de 2013, quinta-feira e sábado, respectivamente, para abordagem aos visitantes e preenchimento da pesquisa. A maioria do público que se encontrava no evento era composta por moradores da cidade Fortaleza. 95% dos Frequentadores residem em Fortaleza e Região Metropolitana em cidades como Maracanaú e Caucaia, e 5% residem em ou Estados como Rio de Janeiro e São Paulo. Quanto ao grau de escolaridade dos frequentadores, o próximo gráfico mostra que a maioria do público possui o ensino superior incompleto. 60% dos frequentadores possuem o ensino superior incompleto, 15% possuem o ensino médio, 10% possuem o ensino fundamental, 10% outros (não sabem ler e nem escrever) e 5% possuem o ensino superior completo. Quanto à ocupação dos entrevistados. Constatou-se que a maioria deles,

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70%, são estudantes. 15% são funcionários públicos, 10% não tem profissão definida e 5% são funcionários de empresas particulares. Quanto à satisfação sobre o Evento Dia 17 no TJA. A grande maioria dos entrevistados respondeu que estão satisfeitos com o que foi visto e que o mesmo correspondeu as suas expectativas. 80% disseram que as apresentações do Evento corresponderam suas expectativas, 15% disseram que as apresentações superaram suas expectativas e 5% disseram que a apresentação vista no dia do evento ficou abaixo das suas expectativas. 85% disseram que recomendariam esse evento para seus familiares e amigos e 15% disseram que não recomendariam. Com todas essas informações, foi constatado que, embora o Teatro não seja valorizado como deve, pelo menos para os seus frequentadores, ele ainda é considerado como um atrativo de lazer e cultura, que todos os que lá têm a oportunidade de estar, consideram o mesmo como um local de lazer, cultura e entretenimento, que, diante disso, sempre que podem se fazem presentes aos eventos nele apresentados e que repassam boas informações para seus conhecidos, o que faz crer que as artes cênicas e o evento Dia 17 no Teatro ainda terá vida longa pelo menos se depender de seu público. Ainda de acordo com a pesquisa realizada, na opinião dos frequentadores quando questionados sobre os equipamentos, serviços e infra-estrutura do TJA como acesso/localização, banheiros/elevadores, informações aos frequentadores e dias e horários das apresentações teatrais, todos disseram que acham ótimo ou bom.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Turismo Cultural depende de vários fatores para que possa ser realizado, correspondendo às expectativas de seus idealizadores, colaboradores e usuários, pois diferente dos outros segmentos do Turismo, a exemplo do turismo de sol e praia, que ainda é o mais procurado, necessita que existam lugares apropriados, bem como patrimônios e um acervo de informações, imagens e objetos para que se torne uma realidade. O Turismo Cultural ainda é considerado como uma atividade de minorias no Estado do Ceará, pois as pessoas que o procuram deseja entrar em contato com a história, tradições e hábitos locais. A edificação centenária do Theatro José de Alencar, que oferece ao público o Evento “Dia 17 no TJA”, representa para a cidade de Fortaleza e para o Estado do Ceará, um marco da história e da cultura ao longo dos seus atuais 103 anos, completados em 2013, que enriquece, enche de orgulho as artes cênicas e seus principais fomentadores e usuários. Esse Evento possui como uma das características principais a comemoração de desaniversário do Theatro José de Alencar. Ocorre nas dependências do mesmo, é considerado de fundamental importância como atrativo turístico para os Fortalezenses e turistas em geral. O objetivo principal desenvolvido nesse trabalho que buscou analisar como está sendo explorado hoje o potencial turístico cultural do Theatro José de Alencar durante a realização do evento “Dia 17 no Teatro” em suas dependências, foi alcançado, pois, o mesmo se encontra em plena atividade e funcionamento. Desta forma, certificou-se a importância do Evento “Dia 17 no TJA” para a sociedade fortalezense, turistas em geral e todos os demais interessados em qualidade artística cultural e turística desta tipologia de evento, não importando se são oferecidos de forma paga ou gratuita a todos que procuram programas que correspondam as suas expectativas quanto à apreciação das artes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, José Vicente, Fundamentos e Dimensões do Turismo, Belo horizonte. Editora Ática, 8 ed, 1976. BARRETO, Margarita. Cultura e turismo: Discussões contemporâneas - Campinas, SP: Papirus, 2007 BENI, Mario Carlos. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC, 2001. BRASIL, Ministério do Turismo. Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Cultural. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. BRASIL. Ministério da Cultura. Meta do Plano Nacional de Cultura, Disponível: http://www.cultura.gov.br> Acessado em 10 de novembro de 2013. COSTA, Marcelo Farias. História do Teatro Cearense. Fortaleza: Artes Cênicas-CEFETCE, 2007. COSTA, Marcelo Farias. Didascália - Anais do Teatro em Fortaleza / Marcelo Farias Costa.- Fortaleza: Casa da Memória Equatorial, 2007. GASTAL, Susana. – “Turismo & cultura por uma relação sem diletantismos”. In: 9 propostas para um saber-fazer, Porto Alegre: EDIPUC, 2000. JOCA, João Andrade e ESS, Paulo. Curso Princípios Básicos de Teatro. Theatro José de Alencar, Secult. Fortaleza: 1999. MAGALDI, Sabato, 1927. Panorama do Teatro Brasileiro – 6ª Ed. São Paulo: Global, 2004. Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=816610> Acessado em 05 de maio de 2013. MENESES, José Newton Coelho, História & Turismo cultural – José Newton Coelho Meneses. – 1 ed. ,1 reimp. –Belo Horizonte: Autêntica, 2006. 128 p – (História & Reflexões, 8) MOLETTA, Vânia Florentino. Turismo Cultural. Porto Alegre: SEBRAE/RS. 1998. PRADO, Décio de Almeida, 1997 - História Concisa do Teatro Brasileiro: 15701908/1ª.ed. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo-2003. RABAHY, Wilson A. Planejamento do turismo. Estudos econômicos e fundamentos econométricos. Barueri-SP. Loyola. 2000. SANTOS, Roselys I. Correa & ANTONINI, Bianca Oliveira. LA GASTRONOMIA TÍPICA DE LA ISLA DE SANTA CATARINA - Brasil. Su identidad como atrativo para el turismo cultura. In. Estudios y Perspectivas en turismo. Vol.13. Números 1 y 2 2004. Centro de investigaciones y Estudios Turísticos. Buenos Aires. Argentina.

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TRIGO, Luiz Gonzaga Godoy. Turismo e qualidade: Tendências contemporâneas. Campinas, SP: Papirus, 1993. (Coleção Turismo)

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TURISMO DE EXPERIÊNCIA: INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE NA FEIRA DA PRAIA GRANDE EM SÃO LUÍS - MA Ana Jéssica Corrêa Santos118 Gisley Ribeiro Pimentel Ildenéia Borges Rayanne Pereira Pedro Henrique Corrêa Santos119 RESUMO O Turismo de Experiência, dentre vários segmentos da cadeia turística vem se consolidando atualmente no Brasil, sendo que as pessoas estão em busca de vivenciar experiências novas e autênticas. Diante desta realidade, este trabalho buscou verificar a potencialidade de aplicar o Turismo de Experiência na Feira da Praia Grande em São Luís - MA, sendo que está é detentora de uma rica história e de grande importância para a Cidade. Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, pesquisa in loco, com a aplicação de questionários. Palavras-chave: Turismo; São Luís; Praia Grande. 1 INTRODUÇÃO Abordaremos, neste trabalho, uma visão literária relacionada à Economia da Experiência e Turismo de Experiência, além de expor como esses dois segmentos se relacionam e como se encontram no cenário atual. Em virtude da globalização, avanços tecnológicos em diversos setores, dentre outros fatores, podemos perceber que atualmente, o turista não busca somente lugares pela questão da cultura, muito menos somente para fugir do dia-a-dia ou por questões de status social, ele busca experiências autênticas que possam ficar marcadas em suas vidas. Esse turista, também conhecido como o homem “pós-moderno”, encontra-se em uma crise de valores, no modo de vida, nas relações sociais e econômicas, muito devido às mudanças na sociedade moderna decorrentes da globalização. Portanto esse turista busca se encontrar em meio a uma crise de valores como já supracitado. Este procura por momentos memoráveis, pelas especificidades de um lugar visitado. É necessário ressaltar que hoje em dia o turista está cada vem mais ativo, criativo, bem-informado, mais autônomo, com isso, quando o mesmo chega a uma cidade, ele já possui informações básicas sobre o local, sendo assim, ele está atrás não mais de uma simples contemplação de paisagem, mas realmente de passar por algo, que supere as suas expectativas, onde somente através da inovação, que se dará uma vivencia única e original, onde pode ser através do lúdico ou simplesmente uma narração de história, ou a participação em um processo de fabricação de algum produto, enfim, algo que proporcione lembranças fantásticas.

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Alun@s do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Aluno do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Maranhão – UFMA

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2 TURISMO DE EXPERIÊNCIA Com a globalização, avanços tecnológicos em diversos setores, dentre outros fatores, podemos perceber que atualmente, o turista não busca somente lugares por motivo da cultura, muito menos somente para fugir do dia-a-dia ou por questões de status social, ele busca experiências autênticas que possam ficar marcadas em suas vidas. Esse turista, também conhecido como o homem “pós-moderno”, encontra-se em uma crise de valores, no modo de vida, nas relações sociais e econômicas, muito devido às mudanças na sociedade moderna decorrentes da globalização. Portanto esse turista busca se encontrar em meio a uma crise de valores como já supracitado, este procura por momentos memoráveis, pelas especificidades de um lugar visitado. É necessário ressaltar que hoje em dia o turista está cada vem mais ativo, criativo, bem informado, mais autônomo, com isso, quando o mesmo chega a uma cidade, ele já possui informações básicas sobre o local, sendo assim, ele está atrás não mais de uma simples contemplação de paisagem, mas realmente de passar por algo, que supere as suas expectativas, onde somente através da inovação, que se dará uma vivencia única e original, onde pode ser através do lúdico ou simplesmente uma narração de história, ou a participação em um processo de fabricação de algum produto, enfim, algo que proporcione lembranças fantásticas. Observamos que, atualmente, as pessoas estão cada vez mais dispostas a se deslocarem de um local para outro, seja por motivo de negócio, entretenimento, cientifico, realização social e pessoal, profissional ou por lazer, haja vista, que independente da motivação, o indivíduo tem procurado vivenciar momentos únicos em sua vida. Com a globalização e com o surgimento de novas tecnologias surge a Economia de Experiência que se caracterizado por trabalhar com os cinco sentidos, onde quem está consumindo o produto fará parte do contexto em que está inserido, como ser humano ativo. Portanto nessa tendência da Economia da Experiência, os produtos são ofertados com uma nova formatação, relacionados não só aos cincos sentidos, mas diretamente ao lado emocional. Sendo assim, através da Economia de Experiência, aparece o Turismo de Experiência com o objetivo de fazer com que as pessoas interajam com os costumes locais, assim como, os moradores, além de poder ter a percepção de identificar as singularidades da localidade e conforme (SOARES, 2001, p. 32) Turismo de Experiência surge então como um reflexo dos novos anseios e buscas da sociedade pós-moderna. A sede por conhecimentos racionais dá agora lugar à busca por sensações, emoções e espiritualidade em experiências únicas. O que significa dizer que o novo turista não quer apenas contemplar belas paisagens e reconhecer suas informações gerais, mas sim, que ele agora pretende vivenciar o novo/ diferente, sentir a sutileza, interagir, se emocionar e experimentar sensações inesquecíveis.

Através dessa busca por novos sentimentos, observa-se que as pessoas estão em a procura incessante por valores imateriais, emocionais, com o intuito de ter melhor qualidade de vida, pois em decorrência das características do mundo capitalista que vivemos, faz com que os indivíduos estejam mais estressados, em contrapartida, o ser humano, vem tentar minimizar essa situação, ao se preocupar mais com a sua saúde, o emocional e o mental. Com isso, há a procura por novas sensações, sentimentos, momentos de prazer,

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conhecimentos, com o objetivo de sair da rotina, no qual proporcionará novas experiências, sendo elas únicas e originais. De acordo com (BENI, 2004) A viagem exerce, no turista, muitas influências que no aspecto subjetivo liberará o conteúdo de seus sonhos, seus desejos, sua imaginação projetiva e aumentará suas experiências existenciais. No aspecto material, por outro lado, crescerá seu acervo de conhecimentos profissionais e seus negócios poderão expandir-se ou transformar-se em novos empreendimentos. Em virtude disso, os empreendedores, agências ou serviços prestados que se ligam diretamente ou indiretamente com o turismo, já estão começando a sensibilizar-se para que ocorram mudanças, no sentido de alcançar a satisfação do cliente, buscando conhecer os gostos e preferências do mesmo, de forma que aconteça a harmonização entre o que o destino tem a oferecer a ele e a expectativa do turista. Nesse sentido (GOODEY, 2002, p.50) [...] a mídia internacional tem funcionado de forma a mercantilizar a experiência do visitante- tornando tanto a imagem quanto a realidade do produto muito semelhante em todos os países e continentes, por outro lado, a maior fonte de diferenciação continua sendo a contribuição específica dos aspectos naturais, físicos e humanos de uma localidade. Algumas características centrais da comunidade local são exatamente o que o visitante quer ver, experimentar, compartilhar e talvez levar consigo. O visitante gosta de entrar em um mundo diferente do seu e de experimentar coisas e produtos desconhecidos, até mesmo atitudes em relação à sociedade e ao meio ambiente.

Em suma, podemos dizer que os turistas estão em busca de experiências que compreendem: sabor, odor, visão, tato, cor, som, entre outros, proporcionarão lembranças de momentos agradáveis obtidos da destinação, sendo que ao logo dessa vivência, onde possam vivenciar e sentir novas coisas, com isso, pode-se perceber a importância desse segmento para a vida do indivíduo, onde através dessas vivências a viagem poderá tornar-se muito mais prazerosa, basta que formatemos o produto a ser vendido. 2.2 TURISMO DE EXPERIÊNCIA NO BRASIL O Projeto “Economia da Experiência: Continuidade e abrangência de novos destinos”, foi uma iniciativa inovadora do Ministério do Turismo e o SEBRAE Nacional, foi realizado sob a gestão do Instituto Marca Brasil e SEBRAE dos estados envolvidos, e com o apoio dos órgãos envolvidos no turismo das respectivas localidades. Essa iniciativa foi pioneira na Região da Uva e Vinho (RS) em 2006, a partir de então o projeto expandiu-se para quatro destinos brasileiros. O turismo de experiência visa à oferta de atividades diferenciadas – que despertem a emoção, o prazer, a inspiração e a satisfação dos turistas, de modo que esses turistas superem as expectativas de suas viagens. O Projeto tem como meta suprema a aplicação do conceito Economia da Experiência junto a uma série de empreendimentos turísticos brasileiros (de micro e pequeno portes), auxiliando-os, assim, na inovação de seus atrativos, no intuito de agregar à suas ofertas toda a potencialidade emotiva que as vivências relacionadas às culturas regionais são capazes de proporcionar ao turista. (TOUR DA EXPERIÊNCIA, 2010, p.20)

Durante a execução do projeto foram realizados Cursos de Capacitação para os empreendimentos que atuam no setor turístico, Palestras, Oficinas, Consultorias, Workshops, encontros adaptados ou realizados somente no destino especifico e viagem técnica para benchmarking, campanhas de sensibilização, dentre outros. Sendo assim, temos exemplos já consolidados, como:.

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 REGIÃO DA UVA E VINHO (RS)–O projeto foi implantado a partir de 2006, contemplava vários destinos, foi gerenciado pelo Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região da Uva e Vinho,teve o apoio do SEBRAE - RS e das secretarias de turismo dos municípios envolvidos (Cotiporã, Veranópolis,Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Nova Prata, Vila Flores,).

Fonte: www.google.com/imagens

 BELÉM-PA- Em Belém o projeto foi implantado pelo SEBRAE - PA, com o apoio da Companhia Paraense de Turismo (PARATUR), Secretaria Municipal de Turismo (Belemtur), Convention Bureau, ABIH,COMTUR, ABAV, ABRASEL, Associação de Artesãos. Foi realizado a parti de agosto de 2008. Durante o projeto foi implantodo pela Belemtur uma série de projetos para o desenvolvimento turístico do destino, como: Projeto Conhecer Belém (incentivar os moradores a conhecer Belém), Capacitação para Feirantes do Ver-oPeso, Criação dos novos Mapas Turísticos de Belém e Distritos, criação do Fundo Municipal para Apoio ao Desenvolvimento do Turismo, sob gestão do Conselho Municipal Turismo (COMTUR), Inventário da Oferta Fonte: www.google.com/imagens Turística de Belém, entre outros.  BONITO-MS - o projeto foi implantado pelo SEBRAE MS, como o apoio da Fundação de Turismo do Estado do Mato Grosso do Sul, Secretario Municipal de Turismo, Indústria e Comércio. Convention Bureau, ABIH, COMTUR, ABAV, ABRASEL, Associaçãodas Agências de Viagens e Fundação de Esportes e Cultura de Bonito. A execução do projeto deu-se a parti de Julho de 2008. O objetivo é oferecer um encontro com a natureza e a magia das águas cristalinas, aliada à cultura, de modo que os turistas tivessem vivências inesquecíveis. Fonte: www.google.com/imagens

 COSTA DO DESCOBRIMENTO - BA– o projeto teve gerenciamento local do SEBRAE BA, com o Apoio da Secretaria de Turismo de Porto Seguro e Porto, Conventionand Visitors Bureau, artesãos e artistas. O projeto contempla a exuberante beleza natural e a relevância histórica do destino.

Fonte: www.google.com/imagens

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Berço da história e matriz da própria noção de identidade do povo brasileiro, a região da Costa do Descobrimento, ao extremo sul da Bahia, contempla os municípios de Santa Cruz de Cabrália, Belmonte e Porto Seguro, uma área que encanta pelos seus monumentos, igrejase casarios, e também por sua belíssima paisagem, que viu passar a esquadra de Cabrale evoca a história. (tour da experiência, 2010, p. 78)

 PETRÓPOLIS - RJ– o projeto foi gerenciado pelo SEBRAE RJ, com o apoio da Fundação de Turismo, Petrópolis Convention and VisitorsBureau. Realizado a parti de julho de 2008 o projeto comtempla a história dos costumes do Império, acultura marcada pela histórica presença da Família Real nas regiões das serras do Rio de Janeiro.

Fonte: www.google.com/imagens

Dentre suas principais atrações, destacam-se as coroas de Dom Pedro II e Dom Pedro I, o cetro em ouro, além de outras relíquias. A atração mais recente é a de receber os visitantes para uma tarde de música, poesias e conversa com alguns dos mais importantes personagens da história do Brasil, como a Princesa Isabel, a Condessa de Barrale a Baronesa de Loreto, que abordam assuntos sociais, econômicos e culturais da época, envolvendo a platéia através de comparações com os dias atuais. (tour da experiência, 2010, P. 106)

A partir desses exemplos, podemos verificar como esse segmento vem crescendo, além de vim ganhando importância no Brasil, pois como já bastante ressaltado, o turista busca muito mais do o conhecimento de outro estado ou cidade, mas sim, passar por momentos únicas, que venham marcar a viagem, sendo assim, todas essas propostas visam isso. 5 A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E CAPACITAÇÃO COMO FERRAMENTA ESSENCIAL PARA A PRÁTICA DO TURISMO DE EXPERIÊNCIA. Toda e qualquer atividade profissional requer um treinamento específico para que se obtenha, desta forma, tarefas executadas de maneira correta, com profissionalismo, e obtendo portando bons desempenhos. No turismo, a preparação de todo o trade, das redes hoteleiras, dos bares e restaurantes, das lojas de souvenir, é fator chave para o sucesso de cada negócio, sendo essencial para que se obtenha bons retornos econômicos e portanto satisfação de seus clientes. A preparação a qual fora referida, para que se obtenha êxito e bons retornos financeiros em todo e qualquer negócio, inclusivo no turismo, trata-se da qualificação profissional. A proposta de implantação do Turismo de Experiência ao qual trata este presente trabalho requer como toda execução de serviços e segmentação turística, uma preparação, um treinamento, uma qualificação profissional, com objetivo único de transformar meros vendedores em profissionais capacitados e aptos para vender seus produtos e serviços garantindo a seus clientes atendimento de qualidade e gerando, portanto, a satisfação destes. De acordo com RUSCHMANN (2001), já se reconhece em todo o mundo, que a qualidade dos recursos humanos na prestação dos serviços turísticos se constitui na chave do sucesso dos empreendimentos e, que os destinos turísticos devem oferecer, além de

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infraestrutura e atrativos, uma gama de profissionais competentes que ajudem o visitante na sua busca por interação com o meio ambiente. Com isso, atrelando a qualificação da mão de obra destinada a trabalhar com o turismo tornar-se-á como um grande diferencial na oferta de produtos e serviços de qualidade, garantindo então a fidelização dos visitantes e possíveis retornos à destinação. O turismo de experiência, assim como todas as demais atividades e práticas ligadas ao turismo, necessitam de pessoas capacitadas, aptas a desempenhar suas funções, oferecendo serviços de qualidade aos turistas e visitantes que por determinado destino passam, desta maneira possibilitando experiências únicas, momentos ímpares aos quais o turismo de experiência poderá realmente oferecer, bastando somente uma adequada capacitação e profissionalização de todos aqueles que fazem parte da prática turística.

4 A FEIRA DA PRAIA GRANDE E SUA IMPORTANCIA PARA O TURISMO NA CIDADE DE SÃO LUIS Feira da Praia Grande, uma edificação erguida em meados do século XVIII, ocupa a área de um quarteirão e fica situada no “coração” do Centro Histórico de São Luis, próxima de órgãos públicos, avenidas movimentadas, de um terminal de ônibus e do centro comercial da cidade. O prédio possui quatro entradas, uma para cada rua, sendo a principal e mais movimentada delas a da Rua da Estrela. A princípio, a feira que era popularmente conhecida como Casa das Tulhas, foi construída para servir como uma espécie de celeiro para armazenar mercadorias, hoje funciona como uma feira de produtos tipicamente maranhenses, tendo em seu interior lojinhas onde são vendidos produtos variados, tais como: camarão, doces, farinha de mandioca, ervas medicinais, bebidas, dentre outros. A parte da área externa do mercado é dedicada às lojas comerciais que vendem, principalmente, artesanato, artigos de vestuário e acessórios. Na parte interna da feira funcionam inúmeros boxes, bancadas e barracas que se dedicam à venda de produtos ligados à cultura e a gastronomia local. No interior da feira também podem ser encontrados bares e restaurantes que servem o melhor da culinária maranhense. A Feira da Praia Grande dispõem ainda de espaços para apresentações culturais. Essas atrações acontecem frequentemente às sextas feiras e podem ser constituídas por apresentações de grupos de pagode, rodas de samba, ou grupos de tambor de criola – dança de origem africana incorporada à cultura maranhense. As manifestações culturais que acontecem nas dependências da feira são variações do patrimônio imaterial que surge com o intuito de agregar valor aos produtos e serviços oferecidos na feira, com isso o turismo na cidade de São Luís só tem a ganhar. E quando falamos em ganhar não falamos somente em números, mas também na satisfação dos usuários, sejam eles turistas ou não. Quando um destino oferece ao turista produtos bem estruturados e diferenciados ele tem grandes chances de se destacar no mercado turístico. A cidade de São Luis tem, na Feira da Praia Grande, um enorme potencial que pode ser trabalhado no sentido dar destaque ao destino com o segmento turismo de experiência, fazendo com que a cidade possa se consolidar no cenário turístico nacional.

6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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Segundo o Glossário-metodologia Científica VIII “a palavra método deriva do grego e quer dizer caminho. Método então, no nosso caso, é a ordenação de um conjunto de etapas a serem cumprias no estudo de uma ciência, na busca de uma verdade ou para se chegar a um determinado conhecimento”. O presente estudo é descritivo. A pesquisa descritiva objetiva a descrição de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Esse tipo de estudo tem como característica mais significativa a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática (PONTE. M. R. ET AL. s/d). Com uma abordagem quali-quant, sendo que foi realizada uma pesquisa de campo na Feira da Praia Grande, localizada no Centro Histórico de São Luís, onde foram aplicados questionários contendo perguntas abertas e fechadas, sendo 20 (vinte) questionários com os comerciantes, com o objetivo de identificar o perfil do profissional que atua naquela localidade, a partir de dados como a qualificação, a renda obtida com a comercialização de produtos, se os mesmos já possuíam conhecimento acerca do Turismo de Experiência. Também foram aplicados 14 (quatorze) questionários com os frequentadores da Feira, entre estes, a comunidade local e os turistas, com o objetivo de identificar o potencial da Feira da Praia Grande, a partir da satisfação e da opinião dos mesmos em relação aos produtos e serviços oferecidos. A coleta de dados deu-se a partir dos procedimentos primários, como os questionários, entrevista e observação em in loco, e utilizou-se a coleta de dados secundários, a partir da análise bibliográfica e documental, sendo estas através de livros, jornais antigos, artigos científicos, monografias, documentos pertencentes ao Arquivo Público Estadual, entre outros. As técnicas utilizadas para a interpretação dos dados foram a qualitativa no que diz respeito a análise do conteúdo, e as técnicas quantitativa no que respeito aos dados estatísticos, e gráficos obtidos a partir de softwares específicos como o Excel. 7 ANÁLISE DOS DADOS A seguir serão apresentados os dados coletados a partir da pesquisa de campo, sendo apresentados em forma de gráficos os dados obtidos com as perguntas fechadas, enquanto os dados das perguntas abertas, entrevistas e observação in loco serão inseridos no contexto do trabalho. 7. 1 ANÁLISE DOS DADOS REFERENTES AOS COMERCIANTES DA FEIRA DA PRAIA GRANDE No universo de 20 (vinte) comerciantes entrevistados, obtivemos uma totalidades de 65% (sessenta e cinco) homens o que corresponde a 13 (treze) entrevistados, e 35% (trinta e cinco) mulheres, correspondendo a 7 (sete) entrevistadas.

Gráfico 01: Variável SEXO Fonte: Dados da Pesquisa

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Quanto a variável escolaridade percebe-se que 60% dos comerciantes possui escolaridade até o ensino fundamental ou médio incompleto. Enquanto 40% (quarenta por cento) responderam que possuem pelo menos ensino médio completo. Encontramos uma variação significativa em relação à faixa etária dos comerciantes como podemos ver no gráfico 3 (três), há comerciantes com idade de até 25 anos (vinte e cinco) e cerca de 15% (quinze por cento) dos comerciantes com mais de 56 anos. Sendo que pelo menos 55% (cinquenta e cinco por cento) dos comerciantes está na faixa etária de até 45 anos (quarenta e cinco), ou seja, há um numero relevante de jovens entre os comerciantes, e a maioria desses jovens revelou que trabalham no boxe da própria família como ajudante, ou no boxe herdado.

Gráfico 02: Escolaridade Fonte: Dados da Pesquisa

Gráfico0 3: Faixa Etária Fonte: Dados da Pesquisa

Quanto a renda auferida, percebe-se grande variação, por ser um local tradicional de São Luís há diversos produtos típicos, vai desde o camarão, que é um produto mais caro, passando pelas ervas e hortaliças, artesanato autêntico, até aos bares e restaurantes que oferecem a comida típica maranhense. Observamos no gráfico 4 (quatro), que 24% ( vinte e quatro) não declarou sua renda mensal obtida com a comercialização lá na feira , muitos justificaram que não sabem ao certo, ou seja, o que reforça a falta de controle contábeis e administrativos. Onde 35% (trinta e cinco) dos entrevistados responderam que ainda não fizeram cursos profissionalizantes, como podemos ver no gráfico 5 (cinco), e 65% (sessenta

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e cinco) já fizeram cursos profissionalizantes, sendo que a maioria fez os cursos oferecidos por órgãos públicos ou entidades.

Gráfico 04: Renda Mensal

Gráfico 05: Já fez Curso de profissionalizante Fonte: Dados da Pesquisa

Fonte: Dados da Pesquisa

Quanto ao trabalho, 35% (trinta e cinco) possui ajudantes remunerados, e 65% (sessenta e cinco) dos estabelecimentos são administrados pelo dono, incluindo os familiares. Quanto ao perfil dos clientes percebe-se que 15% (quinze) dos entrevistados dependem exclusivamente dos turistas, como as lojas de artesanatos, e 55% (cinquenta e cinco) têm entre seus clientes, turistas e a comunidade local. Portanto, pelo menos 70% (setenta) dos estabelecimentos comercializam produtos de interesse turístico, o que reforça a necessidade de cursos voltados para capacitação desses comerciantes, assim como, maior atenção por parte do setor público.

Gráfico 06: Comerciantes que possuem ajudantes Fonte: Dados da Pesquisa

Gráficos 07: Perfil dos Clientes Fonte: Dados da Pesquisa

Em relação ao turismo de experiência 10% (dez) já tinha ouvido falar em turismo de experiência, porém não possuíam informações técnicas. Enquanto 90% (noventa) nunca tinham ouvido falar em turismo de experiência. Mas todos gostaram da possibilidade da implantação do turismo de experiência na Feira da Praia Grande, especialmente na possibilidade de um projeto voltado para qualificação e preparo para que este segmento turístico seja implantado naquele estabelecimento. Pois muitos reconhecem que precisam fazer cursos profissionalizantes, mas alegam falta de disponibilidade, ou de recursos financeiros.

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Gráfico 08: Já ouviu falar do turismo de

experiência

Fonte: Dados da Pesquisa

Os comerciantes reconhecem o potencial da feira. Porém, fizeram algumas reclamações, como a falta de investimentos na localidade: segurança, limpeza pública, como a feira é municipal, eles dependem da prefeitura para manter a infraestrutura, às vezes, as solicitações demoram muito a ser atendida. 7.2 ANÁLISE DOS DADOS REFERENTES AOS FREQUENTADORES DA FEIRA DA PRAIA GRANDE - COMUNIDADE E TURISTAS No universo de 14 (quatorze) clientes efetivos ou potencias, entre eles comunidade residente e os turistas, fez-se uma pesquisa com o objetivo de identificar, as potencialidades da Feira da Praia Grande, e o estado atual no que diz respeito aos produtos e serviços oferecidos. Pois, esta feira comercializa produtos autênticos maranhenses, o que a torna um atrativo a mais para a cidade de São Luís. Na variável sexo identificou-se 43% (quarenta e três) dos entrevistos identificaramse como sendo do sexo do masculino e 57% (cinquenta e sete) do sexo feminino. Percebe-se na faixa etária que o local é bastante visitado por jovens, pois 86% (oitenta e seis) dos visitantes responderam possuir idade de até 45 anos (quarenta e cinco), entre esses jovens muitos são estudantes secundaristas ou universitários. O local é muito frequentado por funcionários públicos, pois existem muitos órgãos públicos nas proximidades da feira.

Gráfico 8: Sexo

Gráfico 09: Sexo Fonte: Dados da Pesquisa

Gráfico 10: Faixa Etária Fonte: Dados da Pesquisa

Quanto a escolaridade percebe-se que 71% (setenta e um) dos entrevistados possuem pelo menos o ensino médio completo, sendo que entre estes, 35% (trinta e cinco) ou possuem ensino superior completo ou está cursando. Quanto a renda 21% (vinte e um) declarou-se como autônomo, 14% (quatorze) não declarou ou não soube responder, 29% (vinte e nove) possui renda entre 1 a 2 ( um a dois), e 36% ( trinta e seis) declararam possuir

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renda entre 3 a 5 (três a cinco) salários mínimos. Logo, em relação à renda, pode-se concluir que existe um público muito diversificado entre os frequentadores.

Gráfico 11: Escolaridade dos frequentadores Fonte: Dados da Pesquisa

Gráfico 12: Renda dos Frequentadores Fonte: Dados da Pesquisa

Em relação às visitas a Feira da Praia Grande 71% (setenta e um) responderam que já tinham frequentado a feira antes, e 29% (vinte e nove) responderam ser a sua primeira visita à feira, ressaltando que o local é muito frequentado por turistas. Quanto à higiene local 36% (trinta e seis) consideraram-se insatisfeitos, pois classificaram a higiene do local como ruim ou péssima, 43% (quarenta e três) considera regular, e 21 % (vinte e um) consideraram como bom. Percebemos que há muito que melhorar, na infraestrutura da localidade .

Gráfico 13: Já tinha visitado a Feira antes Fonte: Dados da Pesquisa

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos que a Feira da Praia Grande possui um grande potencial como ponto turístico de São Luís, tanto pelo caráter grandioso de sua construção como por seus produtos comercializados, por sua história e tudo que representa para a população ludovicense. A singularidade de suas manifestações são a grande estratégia do turismo. A busca cada vez mais por lugares diferentes fugindo das viagens que trazem pouca experiência intelectual só tem aumentado nos últimos anos. Com a implementação de estratégias e ferramentas de marketing é possivel que a Casa das Tulhas e a Feira da Praia Grande sejam cada vez mais

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valorizadas e sejam contempladas nos circuitos oficiais de visitação da cidade de São Luís, tornando-se ponto de referência para a cultura, gastronomia e compras de quem visita a cidade. Sendo assim, a Feira da Praia Grande possuiria uma outra identidade, uma outra linguagem, se o turismo fosse mais consolidado, mas para que isso aconteça, é necessário o incentivo das autoridades. Todavia enquanto isso não acontece os vendendores, vão levando como podem, onde o que poderia ser um lugar arejado, além de proporcionar um bem-estar, está sendo representado por um local que não possui cuidados periodicamente, mas apesar dessa realidade, os turistas ainda visitam o local, e este é visto como parte da história de São Luís, e cabe aos moradores e aos visitantes, preservar essa história e fazer com que este último tenha a sensação de entrar em um mundo diferente do seu e de experimentar coisas e produtos desconhecido, e que possam vivenciar até mesmo atitudes diferentes, através do turismo de experiência. Como já enfatizamos, o turista atual busca algo mais que uma simples viagem onde ele possa guardar recordações impressasem fotos, ou através de objetos adquiridos ao do seu deslocamento. Ele procura por experiências autênticas que, mesmo que abstratas, possam ficar marcadas em sua memória. A partir dessa busca por algo novo na atividade turistica, criam-se novas demandas, novas expectativas que preciasm ser contempladas pela industria do turismo. Schmitt, citado por Gaeta diz que, “os consumidores não são meramente racionais; eles querem entretenimento, estimulo, emoções e desafios criativos, acrescentando valores emocionais às compras racionais”. O atendimento a essas expectativas torna-se condição necessária à sobrevivência da atividade turistica enquanto ofertante de serviços. Pensando na sobrevivência da atividade turistica na cidade de São Luis, e especificamente no Centro Histórico, e no atendimento a essa nova demanda, percebe-se que a Feira da Paria Grande, localizada no Centro Histórico, no bairro da Praia Grande tem um grande potencial para implementar o Turismo de Experiência. Para tanto utilizaremos a Economia da Experiência como fator principal, para que o turista vivencie um momento único ao visitar a Casa das Tulhas, desfrutando dos produtos regionais e locais tendo o prazer de acompanhar o processo de produção desses produtos, bem como descobrindo as histórias que os envolve.

REFERÊNCIAS DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo. São Paulo: Futura, 1998. FREITAS. A. D. A questão do Método em Turismo. Método e Técnicas de Pesquisa em Turismo. São Paulo: Futura, 2008. Cap.:2. GLOSSÁRIO - Metodologia Científica VIII Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met10.htm - acesso: 20 de maio de 2011 PONTE. M. R. et al. Análise das metodologias e técnicas de pesquisas adotadas nos estudos brasileiros sobre balanced scorecard: um estudo dos artigos publicados no período de 1999 a 2006. Disponível :http://www.anpcont.com.br/site/docs/congressoI/03/EPC079.pdf Acesso em 25 de junho de 2012

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BENI, Mario Carlos Beni. Turismo: da economia de serviços a economia da experiência. Disponível na revista: Turismo Visão e Ação. Vol 6- n.03-set/dez, 2004. SOARES, Tamara Coelho. Características do Turismo de Experiência: Estudo de Caso em Belo Horizonte e Sabará sobre Inovação e Diversidade na Valorização dos Clientes. 2009. 99f. Monografia (Turismo) – Instituto de Geociência da Universidade Federal de Minas Gerais. Tour da experiência Ministério do Turismo. Disponível em: www.turismo.gov.br/.../Estudo_de_Caso_Tour_Experiencia.pdf Acessado em 01 de outubro de 2011. Instituto Marca Brasil. Projeto Economia de Experiência, 2010. DIAS, Reinaldo. Introdução ao turismo -1. ed,- 2 reimpr.- São Paulo: Atlas, 2008. GOODEY, Brian. Interpretação e comunidade local. In: MURTA, Stela Maris, ALBANO, Celina. ( Org). Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território Brasilis, 2002. RUSCHMANN, Doris Vande Meene. Turismo Sustentável: a proteção do meio ambiente. 8ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. (Coleção Turismo).

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TURISMO E IMPACTO SOCIOCULTURAL: ANÁLISE SOBRE O TAMBOR DE CRIOULA DO MARANHÃO Denise Costa120 Denuilce Campos121 Mayara Bentes122 Vauiza Costa123 RESUMO O Tambor de Crioula é uma dança popular maranhense de origem africana que incorporou elementos da religiosidade católica e hoje é praticada especialmente em louvor a São Benedito. O crescimento da atividade turística corroborou para o surgimento de novos grupos, pois a mesma tornou-se um dos atrativos culturais do Maranhão, após tornar-se patrimônio imaterial brasileiro. O objetivo deste artigo é apontar os impactos socioculturais positivos e negativos nos grupos de tambor de crioula, causados pelas mudanças que vem ocorrendo ao longo do tempo, comprometendo a essência da sua singularidade. A sustentabilidade sociocultural dessa forma, contribui para minimizar os impactos negativos decorrentes do turismo na manifestação cultural. Para a obtenção dos dados, realizou-se pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos e sítios da internet, bem como visita in loco na área de estudo para obter mais informações. A pesquisa apontou que o turismo é um dos agentes de transformação da expressão popular do Maranhão. Por outro lado, o Turismo contribui para o incentivo do surgimento de novos grupos e afirmação da etnicidade afrobrasileira, além da valorização da identidade cultural. Palavras-chave: Tambor de Crioula, Impactos Socioculturais, Turismo Cultural.

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo realizar uma investigação sobre o Tambor de Crioula enquanto atrativo turístico sociocultural e patrimônio cultural, enfatizando as mudanças que vêem ocorrendo principalmente entre os grupos de São Luís – MA. O Tambor de Crioula é uma dança popular maranhense de origem africana que incorporou elementos da religiosidade católica e hoje é praticada especialmente em louvor a São Benedito. No Brasil, adquiriu também características do folclore brasileiro ocorrendo uma homogeneização entre as culturas africana e brasileira. Esta dança foi trazida pelos africanos de diversas regiões da África sendo que as principais foram: Benin, Costa do Marfim, Gana, Guiné, Nigéria e Sudão que desembarcaram em terras maranhenses entre os séculos XVIII e XIX e trouxeram consigo seus costumes, crenças, danças, cultos, manifestações, saberes e fazeres, bem como seu modo de vida que apesar da forte repressão sofrida, conseguiram preservar seus hábitos e valores culturais, mantendo a dança enquanto lazer e resistência ao

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Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected]. 121 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected]. 122 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected]. 123 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected].

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contexto opressivo já que eram impostos a trabalhar na condição de mão de obra escrava durante a colonização. Portanto, convêm ressaltar que, [...] o regime do trabalho escravocrata implantado no período colonial brasileiro era baseado na mão de obra africana, configura uma complexa estrutura de dominação cujos mecanismos básicos tinham a finalidade de reprimir, de todas as maneiras e em todos os níveis, as manifestações culturais dos dominados. 124

Até 1978, havia menos de vinte grupos de Tambor de Crioula na cidade. A partir do expressivo fluxo migratório do interior do Estado em direção à capital, novos grupos foram criados, aumentando assim o contingente de brincantes. Hoje existem mais de oitenta grupos cadastrados nos órgãos de registros da cultura popular na capital maranhense. O crescimento da atividade turística também contribuiu para o surgimento de novos grupos, pois esta dança popular tornou-se um dos atrativos culturais do Maranhão, principalmente após tornar-se Patrimônio Imaterial Brasileiro em 2007 ganhando certificação em 2012, sendo documentado no livro de Registro das Formas de Expressão. Nessa perspectiva, o desenvolvimento local e regional por meio do turismo contribuiu para uma grande preocupação com a cultura local, isto é, estar centrado na promoção de mudanças e transformações sociais, faz-se necessário a conservação do turismo cultural que está associado às compensações com a criação de projetos como no caso do Tambor de Crioula que já foi contemplado com ação de sustentabilidade sociocultural através da implantação do Projeto de Salvaguarda, que teve como objetivo fortalecer a prática cultural dessa forma de expressão. A partir dessas considerações, realizaremos algumas abordagens acerca do turismo cultural, seus impactos socioculturais positivos e negativos, além disso, apresentaremos algumas considerações acerca do Tambor de Crioula de São Luís – MA, levantadas durante a pesquisa.

2. METODOLOGIA Para a obtenção dos dados, realizou-se primeiramente pesquisa bibliográfica em livros voltados para o Turismo Cultural, artigos científicos e sítios da internet sobre cultura popular e, mais especificamente, sobre a temática principal desta investigação. Em seguida realizou-se visita à área de estudo, para obter informações mais precisas sobre o assunto, bem como as mudanças que vem ocorrendo ao longo do tempo nos grupos de tambor de crioula no Maranhão. 3. TURISMO E PATRIMÔNIO CULTURAL De acordo com a Cartilha da Segmentação (p.13), “Turismo Cultural compreende as atividades relacionadas a vivencia do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura.”

124

FERRETTI, S. Tambor de Crioula: ritual e espetáculo. 3ª ed. São Luís: Comissão Maranhense de Folclore, 2002, p.32.

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O turismo é abordado neste trabalho como um processo sociocultural. Onde o homem possui o papel de nortear ideias, comportamentos, estilos de vida, formas de pensar, agir e sentir. Daí a importância de se resgatar a trajetória humana. Conforme Barretto (2006), “o turismo é motivador da manutenção da identidade local, traz benefícios para a população residente e impulsiona a conservação do Patrimônio Cultural, mas com uma proposta que inclua as necessidades dos visitantes e visitados” 125. Atualmente o Turismo Cultural é um dos segmentos turísticos mais promissores, do ponto de vista em que estreita as relações culturais e desperta a vontade de vivenciar a cultura do outro, do qual caráter motivacional dos visitantes convive na possibilidade de estabelecer um contato com as diferentes interconexões presentes nas práticas socioculturais vivenciadas pelos diversos grupos humanos, apresentados em seus elementos tangíveis e intangíveis. “Ressalta-se que o Turismo Cultural deve ser visto pelos órgãos de preservação como um meio de arrecadar recursos para a manutenção de lugares e manifestações, bem como instrumentos de informação ao público visitante” 126. O Turismo é uma atividade notoriamente econômica, com alusões mercadológicas sem considerar sua estrutura social. É preciso despertar a consciência de que muito antes dos reflexos econômicos, o turismo deve fazer sobressair à importância do inter-relacionamento entre as pessoas, dentro de uma consciência de respeito de todos os elementos que formam a cultura de um povo. (CASTELLI, 1990, p. 123).

Quando a atividade turística não corrobora para um planejamento equilibrado e que mudanças de hábitos acarretam prejuízos aos seus aspectos identitários, a mesma deixa de ser uma aliança pautada do inter-relacionamento entre pessoas, pois o fator cultural que possui desperta interesse em vivenciar novas experiências. Assim, a história do turismo sempre procurou certa legitimidade, ao colocar a cultura como uma das suas finalidades, ideia hoje amplamente reforçada enquanto alternativa a trivialização da viagem, perante a perspectiva meramente consumista de outras formas de turismo. Trata-se, de produtos industrializados – produtos brancos -, transformando a experiência turística enquanto expressão da pesquisa da autenticidade típica do homem moderno. 127

Desse modo, o Turismo por ser uma atividade mercantilista, vai além dos aspectos econômicos, em virtudes de suas relações socioeconômicos e socioculturais, refletem positivamente e negativamente ao Tambor de Crioula, pois, com o advento do Turismo, tornou-se um importante atrativo cultural por ser uma manifestação singular, com características fortes oriunda dos africanos. 4. O TAMBOR DE CRIOULA EM SÃO LUÍS-MA O Tambor de Crioula é uma dança que faz parte do folclore maranhense e da cultura popular e sua origem é africana, ou seja, de negros onde é praticado, sobretudo pelos afros descendentes enquanto lazer e resistência ao contexto opressivo do regime escravocrata e 125

BARRETO, M. Turismo, cultura e sociedade. Caxias do Sul – RS. EDUCS, 2006, p.33. GOODEY, Brian. A interpretação do sítio turístico: desenho e sequencia. In: MURTA, Stela Maris; ALBANO, Celina (orgs.). Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: EDUFMG; território Brasilis, 2002, p.13 126

127

LIMA apud CASTROVANE; GASTAL, 2003, p. 61.

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principalmente em louvação aos santos católicos São Benedito, São Gonçalo Garcia, São Raimundo, Nossa Senhora das Mercês. “Entretanto, a santa que mais despertou a devoção dos negros, ao lado de São Benedito – considerado o advogado dos negros – foi Nossa Senhora do Rosário” (Ferretti, 2002, p.35). Em São Luís assim como em outras localidades o festejo de São Benedito que é comemorado durante o mês de Agosto é realizado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (Patrimônio Histórico Cultural), localizada na Rua do Egito no Centro da cidade. Segundo Ferretti (2002, p. 60), “no Maranhão as festas populares para São Benedito não tem data fixa, embora atualmente a Arquidiocese de São Luís tenha estabelecido o dia de São Benedito, no segundo domingo de Agosto [...]”. É interessante lembrar que a data em que é celebrado o dia do santo é a mesma em que se comemora anualmente o dia dos pais, o qual é no segundo domingo de Agosto, portanto, daí a importância de São Benedito para a Igreja e, sobretudo para a comunidade, os devotos e fiéis. A dança é uma manifestação popular com caráter de divertimento, comemoração, lazer, alegria, descontração, mas costuma ser realizada com intuito de pagamento de promessa especialmente em homenagem a São Benedito e obrigação a entidades sobrenaturais cultuadas no Tambor Mina e na Umbanda – religiões de matriz africana praticadas no Maranhão – principalmente aos Pretos Velhos no dia 13 de Maio, no qual é comemorada a libertação dos escravos no Brasil e ao vodum daomeano Toi Averequeti que representa São Benedito. “Embora seja dança eminentemente festiva, não se caracterizando pela ocorrência do transe com entidades sobrenaturais, apresenta vinculações com o catolicismo popular e com religiões de origem africana.”128 Cabe aqui ressaltar que o Tambor de Crioula como foi exposto acima, é apenas uma dança popular, embora tenha alguma relação com a religiosidade, não é um culto religioso como muitas pessoas pensam que seja, apenas, apresenta em alguns momentos vínculos com os santos católicos e entidades sobrenaturais. Os grupos de tambor de crioula são formados pelas mulheres – dançantes chamadas de “coureiras” e pelos homens – tocadores e cantadores, que são os “coureiros”. A principal característica da dança é a coreografia (realizada pelas mulheres), livre e variada apresentando-se em forma de roda ou círculo e ao meio ficam duas solistas para realizar o momento do ápice que é a “punga” ou “pungada” (umbigada), onde representa saudação e convite, bem como a fertilidade da mulher no encontro em que tocam os ventres uma das outras diante dos tambores. Além disso, quando o tambor é realizado como pagamento de promessa em festejo a São Benedito – considerado o padroeiro do Tambor de Crioula e protetor dos negros – as mulheres dançam com a imagem do santo nos braços ou na cabeça diante do altar. “Neste espaço, a punga é dada com a passagem da imagem de uma para outra das dançantes.” (Ferretti, 2002, p. 67). Ainda em relação à punga que é o ritual e momento mais importante da dança Ferretti ressalta: A punga é muito importante na dança do Tambor de Crioula e é vista com muito respeito, principalmente pelos brincantes mais antigos [...] Atualmente, é fácil constatar a entrada de “coureiras” na roda, sem a prática da punga. Verificamos, entretanto que este fato é visto por brincantes mais velhos como descaracterização da dança [...] As dançantes mais idosas costumam preservar e cumprir todo este ritual da punga. (2002, p.67-68).

Pode-se observar que a punga tem um significado muito importante na dança, além de muito respeito, principalmente por partes dos mais antigos e experientes, o que torna fundamental repassar esse valioso conhecimento aos mais jovens que fazem parte dos grupos de tambor de crioula. 128

FERRETTI, S. Boletim Comissão Maranhense de Folclore. São Luís, 1995, nº 03.

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Em relação às vestimentas usadas atualmente, as “coureiras”129 usam saias coloridas, longas, de tecido de chita, blusas brancas rendadas e bordadas, torso na cabeça de renda branca ou colorido, além de muitos colares e pulseiras de cores variadas.Por outro lado, os “coureiros” 130 usam calça jeans, camisa colorida de chita e chapéu. Segundo a tradição oral dos brincantes mais antigos, anteriormente quando os negros se encontravam com intenção de refúgio da escravidão para brincar esta dança, os homens e mulheres se vestiam com suas roupas simples de uso cotidiano, diferentemente do que se pode observar hoje em dia no que diz respeito às mudanças com padronização da roupa (ou farda). Os instrumentos utilizados são três tambores – grande, meião e crivador131 (cada um tem uma função) –, além das matracas (duas varetas de madeira que acompanha o tambor grande), os tambores tradicionais são feitos de madeira com tronco de árvore e oco por dentro, sendo coberto com couro de animal em uma das extremidades e afinados no calor do fogo (e das fogueiras). O livro Os Tambores da Ilha, nos apresenta algumas características referente à importância e “papel” de cada um dos tambores: Trazendo uma marcha solitária, o meião inicia os toques com seu ritmo marcado. Seguido do som agudo ou “repicado” do crivador. Por último, o tambor grande se apresenta “rufando” a liberdade e o improviso. Coureiros e tambores parecem um só. Cada movimento e inflexão são devorados pelos que observam. Tocados com as mãos, os tambores compõem uma combinação rítmica envolvente. [...] O meião e o crivador são assentados no chão, lado a lado, e o tambor grande é amarrado, por uma corda, junto à cintura do tocador, ambos são tocados nessas posições. A maioria dos grupos também utiliza a matraca, um par de pequenos pedaços de madeira batidos no corpo do tambor grande. O toque das matracas acrescenta “um tom especial” às toadas. (RAMASSOTE, 2006, p. 92)

Hoje em dia, poucos são os grupos que ainda utilizam os tambores tradicionais, pois, a partir do advento do turismo na década de 1970, o tambor de crioula começou a ser valorizado como atrativo turístico (produto de mercado), o tambor passou assim a ser confeccionado de materiais sintéticos (cano de PVC) o que ocasiona a perda da sua originalidade, pois, antes os materiais usados eram de madeira e couro de animal (geralmente de cabra) na cobertura. Em se tratando das apresentações do tambor de crioula, a dança não tem data fixa pré-estabelecida no calendário, porém é possível encontrar em maior número nos períodos do Carnaval e São João, mas acontece também em fins de semana, feriados, festas de santos, entre outros. Também não existe local definido podendo ser em áreas livres, dentro e fora de casas, praças, pátios, etc. Outro aspecto importante diz respeito às motivações que podem ser variadas como, festa de aniversário, promessa para São Benedito, ritual de morte de bumba-meu-boi. Por intuito das mudanças causadas pela atividade turística em São Luís, as manifestações culturais transformaram-se com a intenção de agradar turistas e visitantes e com o Tambor de Crioula não foi diferente passando a descaracterizar suas vestimentas, locais e épocas nas apresentações, bem como as motivações que antes eram bem diferentes como proporcionar divertimento as pessoas e hoje são as mais variadas tornando-se espetáculos programados e ensaiados. 129

“Coureiras” – como são chamadas as brincantes ou dançantes. “Coureiros” – como são chamados os tocadores e cantadores. 131 O tambor grande é também chamado “roncador” ou “rufador”, o meião de “socador” ou “chamador” e o crivador é chamado de “pequeno”, “pererengo” ou “mererengo”. Os tambores são conhecidos também como grande, médio e pequeno. 130

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Sobre os motivos, épocas e locais de apresentação dessa apreciada manifestação popular maranhense, o antropólogo Sérgio Ferretti no livro intitulado Tambor de Crioula: ritual e espetáculo, aborda que: Vários são os motivos das promessas para São Benedito. Nas entrevistas realizadas colhemos alguns como, pedido para um filho passar de ano no colégio, doença, um bom parto para uma filha, parenta ou pessoa amiga, regresso de um parente ou amigo distante, emprego e muitos outros [...] (pag. 55)

Mais adiante ele informa: Tradicionalmente, o Tambor de Crioula também costuma ser realizado nos dias de sábado de Aleluia, 13 de maio, dia de Nossa Senhora do Rosário e alguns outros Santos ou ainda em qualquer outra época conforme as conveniências [...] Quanto ao local para apresentação da dança, há preferência pelas áreas livres, como terreiros e pátios com piso, sem pedras, para não prejudicar o deslocamento e os pés descalços dos brincantes [...] Nas apresentações programadas para turistas, tão freqüentes hoje em dia, o Tambor de Crioula é dançado em qualquer local como praças públicas, hotéis, residências, à noite ou mesmo durante o dia. (p. 60)

O Tambor de Crioula é uma manifestação cultural de raiz africana que possui uma herança cultural de um passado sofrido. Atualmente constitui importante elemento de organização social e cultural, pois ganhou o título de Patrimônio Imaterial Brasileiro, tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2007 e ganhou sua certificação no ano de 2012 na cidade de São Luis - MA em um evento realizado no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho. 5. IMPACTOS SOCIOCULTURAIS NO TAMBOR DE CRIOULA A pesquisa apontou que a atividade turística é um dos agentes de transformação da manifestação, pois para apresentar-se aos turistas modificam as vestimentas tradicionais, a configuração da dança e da própria apresentação como os locais e épocas, padronizando-as para esteticamente satisfazer aos turistas e visitantes. Entre os impactos positivos, o Turismo contribui para o incentivo do surgimento de novos grupos e afirmação da etnicidade, bem como a valorização da cultura popular maranhense e o reconhecimento intitulado Patrimônio Imaterial. O surgimento de novos grupos obteve influência do crescimento da atividade turística, que observou a dança popular na época como oferta turística, formatando-a atualmente para a comercialização como atrativo turístico de São Luís do Maranhão. Apresenta-se abaixo um quadro cronológico do livro Os Tambores da Ilha (RAMASSOTE, 2006, p. 21) referente às mudanças ocorridas nos grupos de Tambor de Crioula de São Luís desde a década de 30 até 2000.

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QUADRO CRONOLÓGICO Considerado pelos entrevistados como período marcado pela importância da Décadas 30, 40, 50 e 60 tradição coletiva e compromisso autêntico com o Tambor de Crioula. Existência de poucos grupos na Ilha de São Luís.

Década de 70

Década de 80

Década de 90

Década de 2000

Advento do processo de valorização do Tambor de Crioula como atração turística em São Luís. Fase inicial do processo de substituição dos tambores de madeira por aqueles confeccionados a partir de materiais sintéticos (PVC). Na pesquisa de Sergio Ferretti, são contabilizados 18 grupos em atividade. A partir do expressivo fluxo migratório do interior do Estado em direção à capital, novos grupos são criados, aumentando assim o contingente de brincantes em São Luís. Expansão acentuada dos grupos, registrados em cerca de 40. Crescente substituição dos tambores confeccionados com madeira por aqueles de materiais sintéticos (PVC). Fundação da Associação de Tambor de Crioula. Aproximação dos grupos com órgãos governamentais de cultura. No cadastro, comparecem mais de 61 grupos. Redação e publicação de novos estudos sobre Tambor de Crioula.

Quadro 01: Os Tambores da Ilha (RAMASSOTE, 2006, p. 21).

Conforme apresentado acima, há algum tempo os grupos de tambor de crioula vêm sofrendo com os impactos socioculturais advindos, sobretudo do turismo, uma vez que a atividade deu-se de uma forma espontânea em São Luis, no entanto, atualmente a manifestação é produzida visando quase que exclusivamente o turismo. Apontamos a seguir objetivamente alguns desses impactos socioculturais: Impactos Negativos  Descaracterização da vestimenta, padronizando-as para as apresentações; holística estética;  Adaptação dos instrumentos (antes de madeira e couro, hoje de cano PVC);  Descaracterização da dança; espetáculo / ensaio, apelo sensual, comprometendo a espontaneidade;  Limitação do número de brincantes (estabelecendo a quantidade);  Mudanças de local e apresentações fora de época.

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Entretanto, alguns benefícios advindos com a atividade turística são comumente apontados pelos representantes dos grupos de Tambor de Crioula em São Luís, quais sejam: Impactos Positivos  Aumento do fluxo de turistas motivado pelo atrativo cultural;  Valorização étnica e cultural; sentimento de pertencimento;  Surgimento de novos grupos;  Aumento no número de apresentações;  Título de Patrimônio Cultural Brasileiro. Em contrapartida aos impactos socioculturais, a sustentabilidade sociocultural é considerada um elemento fundamental para a melhoria da qualidade de vida e diminuição das desigualdades sociais existentes na sociedade. O termo sustentabilidade sociocultural estar relacionado com o conjunto de ações que proporciona melhores condições socioculturais, garantindo o direito a todos. Para a atividade turística a sustentabilidade sociocultural é vista como uma das formas de integração da comunidade e visitantes, pois esta possibilita a troca de valores culturais. No tambor de crioula a sustentabilidade sociocultural, se dar por meio do projeto de Salvaguarda que foi criado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado e o apoio do Comitê Gestor composto pelos representantes do grupos. O projeto de Salvaguarda foi lançado com oficinas de incentivos à Formação de Grupos Mirins, destinada a crianças e jovens, dentre elas: de canto e toque de tambor de crioula, abordando também a dança, com carga horária de 40hs/aula. A ação do projeto teve como objetivo possibilitar às crianças e jovens adolescentes a compreensão da importância do Tambor de Crioula, proporcionando aprendizagem dos fundamentos técnicos, das disposições corporais e da percepção do lúdico e do religioso, o fortalecimento da prática dessa manifestação cultural, tendo em vista, sua promoção através do registro audiovisual, da divulgação, por meio de seminários e cursos, além de capacitação das comunidades onde possuem brincantes do Tambor de Crioula, gerando assim a transmissão de valores culturais por meio da conservação e características da manifestação folclórica. De acordo com o exposto acima, para o coordenador do Comitê Gestor, Neto de Azile, o título representa a garantia de valorização e preservação da manifestação cultual Tambor de Crioula e, em especial, desencadeia mecanismos públicos e privados para manutenção da tradição dos modos de fazer dos grupos, além de viabilizar a sustentabilidade desse bem cultural, ações estruturantes do processo de salvaguarda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o advento do Turismo pode-se observar relevantes impactos socioculturais no Tambor de Crioula comprometendo a essência da sua singularidade devido à exigência do mercado turístico de São Luís, a tese da estética é de certa forma mais interessante do que a espontaneidade da dança. Ainda que precisem se adaptar às mudanças decorrentes da própria dinâmica da sociedade capitalista, é importante que os brincantes do Tambor de Crioula preservem as raízes dessa manifestação popular dando continuidade à tradição para que futuras gerações possam apreciá-la. Para isso devem-se realizar ações de vivência cultural voltadas para a comunidade e também aos turistas e visitantes, com o propósito de conservar o bem cultural, além disso, minimizar as mudanças que vem ocorrendo ao longo do tempo.

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Em relação às ações de conservação há um Projeto de Salvaguarda do Tambor de Crioula, cujo objetivo é fortalecer a prática nas mais variadas formas de expressão, por meio da transmissão do saber fazer incentivando às crianças e jovens da comunidade a compreender a relevância dessa manifestação cultural e valorização da identidade cultural. Tais colocações nos levam a perceber que o Turismo Cultural não é um segmento estático, passa por um processo de mudanças contínuas que se dinamiza e reiventa-se, a partir das exigências da contemporaneidade, vem sofrendo adaptações que desencadeia uma série de impactos socioculturais e uma desconstrução da identidade local. Contudo, a importância de discorrer sobre esses impactos é uma forma de colocar em questão se o turismo é uma ameaça ou um fator de preservação, pois, a atividade também colaborou para um forte crescimento dos grupos de Tambor de Crioula e para o sentimento de pertencimento da etnicidade cultural, que anteriormente era desconhecido por muitos e hoje nos leva a refletir o quanto a preservação é importante para dar continuidade a gerações futuras e devidas providências devem ser tomadas para que não fique esquecido, assim valorizar e fomentar com afinco a tradição remanescente de nossos antepassados. REFERÊNCIAS ALVARENGA, Oneyda. Tambor de mina e tambor de crioula. Registros sonoros do folclore musical brasileiro. São Paulo: Discoteca Pública Municipal, 1948. BARRETO, Margarita. Turismo, cultura e sociedade. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2006. Disponível em: http://www.cmfolclore.ufma.br/. Acesso em: 16 de Setembro de 2013. Disponível em: http://www.seppir.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/12/tambor-decrioula-recebe-titulo-de-patrimonio-cultural-do-brasil. Acesso em: 15 de Outubro de 2013. Disponível em: http://turismogov.com.br. Acesso em: 20 de Outubro de 2013. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=18033&sigla=Noticia&retor no=detalheNoticia. Acesso em: 20 de Outubro de 2013. Disponível em: http://www.cultura.ma.gov.br/portal/sede/index.php?page=noticia_extend&loc=scp&id=31. Acesso em: 15 de Outubro de 2013. FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Tambor de crioula. Ritual e espetáculo. 3ª ed. São Luís: SECMA/CMF, 2002. _________. Religiosidade popular no Tambor de Crioula. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, nº 03, São Luís, Agosto 1995. _________. SANDLER, Patrícia. Tambor de crioula. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, nº 03, São Luís, Agosto 1995. GOODEY, Brian. A interpretação do sítio turístico: desenho e sequencia. In: MURTA, Stela Maris; ALBANO, Celina (orgs.). Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: EDUFMG; território Brasilis, 2002.

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LIMA, Carlos de. Tambor de Crioula – Memória. In: Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, nº 03, São Luís, Agosto de 1995. _____________. Turismo Cultural: que formação? In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; GASTAL, Susana (Org.). Turismo na pós-modernidade: (des) inquietações. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. RAMASSOTE, Rodrigo M. (coord.). Os Tambores da Ilha. Brasília: IPHAN, 2006. ____________. Tambor de Crioula – 1979: uma proposta de leitura.Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, nº 47, São Luís, Agosto de 2010. SANTOS, Rosário. Tambor de Crioula no Maranhão: um rito de alegria. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, nº 26, São Luís, Agosto de 2003.

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TURISMO E SUSTENTABILIDADE: INVESTIGAÇÃO SOBRE A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL NA PRAIA DA GUIA EM SÃO LUÍS – MA Denise Costa132 Denuilce Campos133 Mayara Bentes134 Vauiza Costa135 Rosélis Câmara136 RESUMO O turismo é uma atividade que utiliza os recursos naturais como matéria prima indispensável para desenvolver-se. São Luís possui além de um patrimônio histórico cultural, um patrimônio natural – representado principalmente pelas praias –. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo identificar a problemática ambiental da Praia da Guia. Localizada a 13 km do Centro de São Luís, e nos últimos anos tem sofrido danos ambientais decorrentes de ações antrópicas. A metodologia utilizada foi através de pesquisas realizadas em bibliografias, artigos, sítios da internet, bem como visita na área de estudo. Observou-se que os principais impactos ambientais são resultantes da falta de destinação adequada do lixo, como: sacolas, garrafas plásticas, preservativos e objetos de vidros, que ficam presos na vegetação rasteira e no mangue. Além do esgoto que é lançado na Praia. Apesar dos impactos ambientais negativos, a praia é adequada à atividades como o Ecoturismo, e a contemplação de belas vistas de São Luís. Palavras-chave: Impactos ambientais; Turismo; Praia da Guia.

1. INTRODUÇÃO A sociedade atual é considerada consumista, e no século XXI o homem está extraindo e consumindo cada vez mais os produtos naturais do Planeta Terra, para atender suas necessidades que são cada vez mais crescentes e insustentáveis. Além disso, os recursos são explorados, muitas vezes, sem planejamento que minimize as graves consequências para o meio ambiente e a manutenção dos ecossistemas. O homem sempre usou os recursos naturais para atender suas necessidades básicas e, vem daí os problemas ambientais que só aumentam com o passar do tempo e comprometem a qualidade de vida dos seres vivos em geral: homem, animais e plantas. O principal problema encontra-se no fato de como o homem encara o mundo e seu lugar nele – ele não é superior a nenhum outro ser vivo deste planeta, entretanto, sabemos que é a única espécie capaz de promover sensíveis alterações 132

Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected] 133 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected] 134 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected] 135 Acadêmica do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: [email protected] 136 Orientadora Professora do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP/Araraquara). E-mail: [email protected]

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no equilíbrio do ambiente. Como consequência, devemos agir com mais responsabilidade em relação a tudo que não for humano. O homem iniciou o processo de devastação ambiental desde antiguidade, porém as primeiras preocupações surgiram no século XX, embora tenha começado durante a primeira Revolução Industrial. Com o advento da Revolução Industrial, que teve início no século XVIII na Inglaterra, percebeu-se que o homem começou a se preocupar com as questões ambientais e consequentemente o crescimento econômico mundial desordenado, o aumento da população urbana e a maior utilização dos recursos naturais acentuaram ainda mais os problemas que vão desde a falta de recursos naturais à degradação ambiental dos ecossistemas naturais. Ao longo dos anos a sociedade adotou um estilo de vida, que esta desencadeando uma série de problemas ao meio ambiente. O assunto em relação ao meio natural tem crescido significativamente nos últimos tempos, pois os impactos negativos causados contra a natureza são provenientes de um desenvolvimento tecnológico desenfreado e mal planejado ocasionando assim um desequilíbrio ecológico para toda espécie humana. Podemos perceber que atualmente um dos temas mais debatidos pela sociedade é o relacionado aos problemas ambientais decorrentes, principalmente, da ação humana. O turismo é uma das atividades que utiliza os recursos naturais como matéria prima e depende de um ambiente natural equilibrado para desenvolver-se. São Luís, capital do estado do Maranhão é uma cidade com grande potencial turístico e que atrai turistas e visitantes de diversas partes do mundo que vêm conhecer as manifestações culturais, o patrimônio histórico cultural e natural. Dentre os principais atrativos naturais da ilha de São Luís, merecem destaque as praias. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo identificar as problemáticas ambientais que ocorrem na Praia da Guia. Localizada no bairro da Vila Nova, a 13 km do Centro de São Luís – MA, esta praia é frequentada por moradores e turistas e nos últimos anos tem sofrido danos ambientais decorrentes de ação humana. O presente artigo tem como finalidade um maior aprofundamento na relação Turismo – Impactos Ambientais, de um modo geral e especialmente na Praia da Guia em São Luís-MA.

2. METODOLOGIA A metodologia utilizada no trabalho refere-se ao método de pesquisa bibliográfica com utilização de livros voltados para Turismo Sustentável, Impactos Ambientais e Educação Ambiental. Em seguida foi feito a pesquisa de campo na Praia da Guia, cujo instrumento utilizado foi entrevista com o proprietário de um bar na beira da praia próximo ao Igarapé da Voadeira, que nos relatou que os principais impactos ambientais provocados são causados pela presença das pessoas, que ao visitarem a praia não tem preocupação com as questões ambientais, contribuindo para a descaracterização do espaço.

3. OS IMPACTOS AMBIENTAIS NO TURISMO O turismo pode causar impactos positivos ou negativos, depende da forma de como ele acontece. É responsabilidade de todos os envolvidos potencializarem os impactos positivos e buscar ações para mitigar ou compensar os negativos. São exemplos de impactos positivos:

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        

Aumento da consciência e da percepção, tanto das comunidades locais quanto dos visitantes para a importância da conservação e proteção dos recursos naturais; Aumentos dos investimentos públicos e privados para a conservação e proteção dos recursos naturais; Adoção de práticas de uso sustentável dos recursos ambientais da população; Melhoria das condições sanitárias relacionadas à infraestrutura básica; Geração de postos de trabalho e alternativa de renda; Uso de tecnologia limpas nas construções servindo para turistas e comunidades como modelo para outras construções; Melhoria da qualidade de vida do destino; Valorização da cultura e identidade local; Melhoria da auto-estima da população local; Como impactos negativos destacam-se:

     

Poluição gerada pelo Turismo; Uso não sustentável dos recursos; Degradação da paisagem; Alteração no comportamento da fauna; pelo excesso de visitantes ou falta de conduta consciente dos mesmos; Inserção de maus hábitos na comunidade pelos turistas como, por exemplo, o consumo de drogas; Estimulo a cultura da mendicância através de presentes ou ofertas de dinheiro fácil pelos turistas.

4. TURISMO E IMPACTOS AMBIENTAIS NA PRAIA DA GUIA EM SÃO LUÍSMA Por muito tempo o turismo foi considerado uma atividade econômica limpa, embora esse cenário tenha-se alterado nos anos recentes com vários estudos sobre os impactos ambientais decorrentes da atividade turística nas comunidades e ecossistemas. A atividade turística é formada por um conjunto de serviços que depende muito do ambiente natural para seu desenvolvimento, para a OMT: [...] o turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer; negócio ou outras. (SANCHO, 2001, p.38)

“O grande fluxo de turistas que procura afastar-se do estresse e da falta de áreas verdes, típico da vida urbana, o que pode resultar em um comportamento alienado em relação ao meio em que se visita.”.137 Os impactos ambientais advindos do turismo se dão devido às modificações e transformações que essa atividade ocasiona no meio natural, por meio do consumo excessivo e inadequado dos recursos naturais. Nos últimos anos podemos perceber que os ambientes naturais são os preferidos dos turistas/visitantes, em busca de lazer, descanso e deixar um pouco a vida cotidiana. A 137

RUSCHMANN (2003)

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grande preocupação no momento dos ecologistas, cientistas e pessoas ligadas ao conservacionismo é a questão do impacto ambiental que esse novo contingente de visitantes pode trazer à natureza. Essa preocupação justifica-se por um simples motivo: toda e qualquer criatura, não importa seu tamanho causa algum tipo de impacto no ambiente e recebe dele também uma resposta. Os seres humanos são os que mais afetam o ambiente natural, podendo também ser muito afetado, por doenças e outros acidentes e percursos. O impacto do turismo sobre o meio ambiente é inevitável. Mas é preciso mantê-lo dentro dos limites aceitáveis, para que não provoque modificações ambientais irreversíveis e não prejudique o prazer do visitante ao usufruir as belezas naturais do lugar. Tratando-se de impactos decorrentes da ocupação desordenada do litoral, são expressivos, pois o mesmo apresenta ecossistemas bastante frágeis e de difícil recuperação, pois se trata de ambiente envolto, muitas vezes por uma serra e o mar, constituindo-se de espaços menores e de fácil degradação como são os mangues. Na Praia da Guia, onde o espaço se caracteriza pela presença da duna, o mar e o mangue. São principalmente três tipos de impactos que os ecossistemas litorâneos sofrem:   

Ocupação desordenada: o turismo se apropria do uso do solo e paralelamente ocorre intenso compromisso urbano; Uso intenso dos recursos naturais: em muitas regiões litorâneas esse fator tem provocado profundas alterações ambientais; Contaminação: meio ambiente é invadido por um número grande de resíduos não recicláveis, tanto devido à intensidade do seu lançamento quanto às características físicas do resíduo. (DIAS, 2003, p.20)

Esses tipos de impactos são bastante comuns, sobretudo no turismo de massa, e provocam contaminação da água do mar pelo excesso de esgoto lançado sem tratamento; destruição de áreas de grande valor ambiental e paisagístico com a instalação da infraestrutura exigida para a recepção do visitante; eliminação de espécies animais e vegetais de grande valor ecológico em razão das atividades esportivas e lazer, entre outros. Segundo o Artigo 1º da Resolução n.º 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), Impacto Ambiental é: [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a saúde, a segurança, e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias ambientais; e a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986)

Os Impactos ambientais podem ser causados pela ação humana, e pelo próprio ambiente natural, este deve ser entendido como um desequilíbrio provocado por um choque da ação do homem resultante do descontrole com o ambiente natural. O mesmo pode ser ocasionado pelos acidentes naturais: explosão de vulcão, maremotos, terremotos, entre outros. O Brasil possui um extenso território, com cobertura vegetal, e outros recursos naturais como fauna e flora além das espécies e habitats variados. Todos são necessários a vida humana mais não há uma preocupação com a conservação desse patrimônio natural, pois constantemente este vem sofrendo ameaças como degradação que resultam em grandes impactos ambientais. Somente a partir de 1960 começaram as preocupações com os problemas ambientais, então iniciaram os grandes eventos direcionados para a conscientização do meio ambiente como a Convenção de Estocolmo em 1972 com o objetivo de discutir sobre os problemas ambientais da época.

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O Estado do Maranhão tem o segundo maior litoral do Brasil, com grandes belezas naturais em sua costa, a exemplo dos Lençóis Maranhenses e também de belas praias, onde a relação do homem com o meio ambiente a partir da percepção ambiental é notada de várias formas. Porém os problemas ambientais são evidentes em todo litoral brasileiro, inclusive, maranhense. No Maranhão os problemas ambientais são inúmeros: a devastação, exploração predatória dos recursos naturais como queimadas e desmatamentos, ou secamentos de lagoas, poluição dos rios com a contaminação de dejetos e lixos; mata ciliar destruída contribuindo assim para o assoreamento dos rios, destruição dos mangues, acarretam problemas na manutenção desse ecossistema natural, além de praias poluídas. A ilha de São Luís, naturalmente cercada de praias, todas elas belíssimas e hoje completamente transformadas por vários impactos ambientais que as deixam poluídas (cheias de lixos, esgotos), é impossível de uma permanência sadia ao residente e turistas/visitantes. Nesse sentido, o objeto de estudo será abordar os principais impactos ambientais na Praia da Guia, situada a 13 km do Centro de São Luís, localizada a Noroeste da Ilha entre as coordenadas 2°31’55.5’’S e 44°20’16.48’’. O seus limites são: ao Norte a Baia de São Marcos, ao Sul o bairro Vila Nova, ao Leste a Colônia do Bomfim e ao Oeste Área da Marinha, com vista panorâmica da cidade. É frequentada pela comunidade e turistas, porém, não dispõe de estrutura física e turística adequada para receber seus frequentadores. A Praia da Guia tem como vizinha a Ponta do Bonfim, de onde é possível admirar ainda o contraste entre os novos edifícios da Ponta d’Areia e dos velhos casarões do Centro Histórico. No local há muitas pedras e é necessário descer um penhasco para chegar até a água. À esquerda da Praia da Guia está a Praia do Amor, mais deserta e de acesso ainda mais difícil.

FIGURA 01: Vista da Praia da Guia em São Luís- MA

Durante a visita ao local observou-se que os principais impactos ambientais são resultantes da falta de cuidado com o destino do lixo. Além disso, mais resíduos são transportados para a praia pelas cheia das marés. No local há muito lixo inorgânico deixado pelos frequentadores, como: sacolas e garrafas plásticas de vários tipos, preservativos e objetos de vidros, que ficam presos na vegetação rasteira e no mangue.

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FIGURA 02: Excesso de lixo deixado pelos frequentadores na Praia da Guia.

“A principal causa da poluição é o lançamento de esgotos não tratados.” 138. São produzidos, diariamente, 45 toneladas de rejeitos líquidos in natura na cidade de São Luís, visto que, desse total, 34 toneladas contaminam o solo, manguezais, córregos, entre outros ambientes, e 11 toneladas são jogados nas praias. (IMIRANTE/JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, 2008).

FIGURA 03: Bar construído na beira da Praia da Guia

Existe uma urbanização mal planejada com a construção de bares próximos à Praia da Guia, gerando a perda da qualidade ambiental e disponibilizando efluentes líquidos e resíduos sólidos, contaminando o solo e a água. Além disso, vários pontos de despejo de esgoto são lançados na praia pelos próprios moradores. Os impactos causados pelo homem no meio ambiente, na Praia da Guia são inúmeros, porém são poucas as medidas tomadas para amenizar os problemas ambientais gerados, tanto pelos moradores como visitantes e turistas. Grande parte dos frequentadores afirmam que o poder público não faz campanhas para conscientizar ou informar os banhistas ou executa ações fiscalizadoras para inibir a contaminação e poluição da área.

138

MACEDO (2007).

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CONCLUSÃO A proteção dos atrativos turísticos naturais exige enorme esforço de vários atores- turistas, residentes, cientistas, organizações não governamentais, governos, agências de fomento e outros que devem contribuir para uma permanente vigilância dos ecossistemas visitados. Estes elevados à condição de atrativos turísticos tornam-se cada vez mais importantes preservados, do que consumidos predatoriamente. Se as atividades turísticas não forem devidamente planejadas podem trazer prejuízos e danos ambientais. Um estudo realizado pela Universidade Federal do Maranhão constatou um prejuízo causado à reprodução de aves migratórias que utilizam as praias um dos atrativos mais visados pelo turismo de massa. Uma dessas aves migratórias é o maçarico, que migra do Ártico Canadense, vive e procriam próximos aos manguezais ricos em alimentos enterrados na lama, sua população estar sendo enfraquecida ano a ano, devido à ocupação da orla maranhense pelo homem nas mais diversas formas. Podemos perceber que muito se tem falado sobre impactos ambientais, mas poucas são as atitudes a serem tomadas por parte da sociedade. É perceptível que à proporção que sociedade cresce, maiores são os impactos ocasionados pelo homem gerando uma destruição dos ecossistemas para as gerações posteriores, tendo em vista que os impactos ambientais são evidentes na Praia da Guia. Primeiramente é necessário que os próprios moradores sejam reeducados ambientalmente, além dos visitantes e turistas com o objetivo de manter a área conservada. É preciso que sejam desenvolvidas ações voltadas para a Educação Ambiental e manejo do lixo por meio das parcerias entre as Secretarias de Meio Ambiente Municipal e Estadual e Universidades públicas e privadas, com intuito de sensibilizar a sociedade sobre a importância de minimizar as problemáticas ambientais da área fazendo com que as futuras gerações possam usufruir dessa riqueza natural. Com a percepção dos problemas ambientais que estão ocorrendo de forma acelerada em todo o mundo, muitos pesquisadores e profissionais da área do meio ambiente propuserem que a educação ambiental será a melhor solução para essa problemática ambiental. Pois atualmente a educação ambiental é reconhecida como uma ferramenta capaz de sensibilizar, e conscientizar a sociedade acerca dos problemas ambientais com o objetivo de promover a sustentabilidade. Nesta perspectiva, Lima aborda que: [...] a educação ambiental assume a posição de promover conhecimento dos problemas ligados ao ambiente, vinculando-os a uma visão global; preconiza a ação educativa permanente, através da qual a comunidade toma consciência de sua realidade global, do tipo relações que os homens mantém entre si e com a natureza, dos problemas derivados destas relações e de suas causas profundas. (LIMA, 1984).

De acordo com a citação acima, a educação ambiental é considerada um elemento primordial para promover uma consciência ecológica, bem como, uma melhor relação do homem com ele mesmo, o meio ambiente e todas as esferas da sociedade. Sendo assim, só vamos compartilhar de um mundo sustentável com melhor qualidade de vida quando abrirmos mãos de alguns paradigmas que permeiam na sociedade, e especialmente a educação ambiental for um dos temas abordados com grande ênfase nas escolas, faculdades, comunidades, famílias e enfim todas as escalas da sociedade. Tornando assim um mundo com menores índices de impactos, e que a preservação ambiental esteja em primeiro lugar.

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Em relação ao Turismo a praia é adequada para desenvolvimento de várias atividades como o Ecoturismo, Trilhas, passeios náuticos no Igarapé da Voadeira com as marés cheias, a contemplação de belezas naturais como recifes, dunas, manguezais, observatório das aves e vista panorâmica da região. Os recifes são uma atração à parte, bem como a contemplação de uma das mais belas vistas da cidade de São Luís – MA. O importante, na relação turismo e natureza, é a compressão de que a atividade turística quando bem administrada, os principais impactos positivos são imensamente superiores aos negativos, contribuindo, decisivamente para a preservação dos ecossistemas promovendo assim a sustentabilidade socioambiental. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério. Turismo de Aventura: Orientações básicas./ Ministério do Turismo, Secretária Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico. Coordenação Geral de Segmentação. – Brasília: Ministério do Turismo, 2010. DIAS, Reinaldo. Turismo Sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas, 2007. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2004 – 9ª Edição. Disponível em: . Acesso em 05/10/2014. Disponível em: < http://www.unesco.org>. Acesso em 10/10/2013. Disponível em < http://ecoturismoufsm.blogspot.com.br>. Acesso em 17/10/2013. GUIA BRASIL AVENTURA. Editora Terra Vigem. 1994. LIMA, Maria A. J. _____ Ecologia humana, Petrópolis, Vozes, 1984. MEDONÇA, Danielly Jessyca Fernandes. Educação Ambiental em Unidades de Conservação: um estudo sobre projetos desenvolvidos na Apa do Maracanã. IX Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. MA, 2012. TELES, Thiago Sousa et al. Percepção Ambiental dos Frequentadores das Praias do Olho D’água e Araçagy, Ilha do Maranhão-MA. XIII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Viçosa-MG, 2009.

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