Análise A \"Martinho Lutero: Um Destino\"

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Análise a “Martinho Lutero: Um Destino” de Lucien Febvre por Bruno Filipe C. de Brito Martinho Lutero nasce, provavelmente, em 1483, na véspera do dia de São Martinho na vila de Eisleben, na Turíngia. Lutero passou uma triste infância, com pais pobres que o acabaram por rejeitar, maltratando-o ao longo da sua permanência no seio paternal. Procurou, então, o aconchego de familiares, mas o seu destino acabou por ser o mesmo. Encontra conforto, finalmente, em Ursula Cotta e em 1501, a mando do pai, vai para Erfurt onde a Universidade tem um certo renome. Em 1505, depois de muitos acontecimentos, que quase mataram Lutero, pessoa de espírito sensível, decide ingressar na ordem monástica dos agostinhos. Ficou, então, sobre a tutela do Dr. Stauplitz, vigário-geral dos agostinhos para toda a Alemanha, que lhe pregava um Deus de amor, de misericórdia e de amor. Dá aulas em Vitemberga e, depois de dar aulas sobre a Epístola de São Paulo aos Romanos (entre 1515-1516), dáse então a revolta mental sobre os dogmas ensinados pela Igreja. Revoltava-se contra os ensinamentos, que falavam de Deus como justiceiro, de uma forma cruel, revoltava-se contra o poder de bispos que acumulavam vários cargos e, contra as indulgências proclamadas pelos mesmos. Em 1517, Lutero surge perante o mundo. No século XIX, o padre Denifle, um medievalista bibliotecário do Vaticano, inicia um estudo sobre Martinho Lutero e, para desgosto dos luteranos que colocavam Lutero como um semideus, expondo factos que demonstravam um Lutero humano com vícios, alcoólico, que tratava a mulher com uma certa violência. Contrariamente à infância, supostamente, criada sobre a figura de Lutero, Denifle afirma que os pais do monge não eram pobres e não o maltratavam. Acusa-o, ainda, de só por ter lido a Bíblia quando estava já no seio da ordem dos agostinhos, de ter uma fixação na sexualidade, de ser contraditório e de se focar sempre na sua perspectiva. O facto de Martinho Lutero ter lido obras de Occam e Gabriel Biel, cruzando o conhecimento destas com os ensinamentos de Stauplitz, influenciaram-no a criar o pensamento que viria a ser o protestantismo. Lutero defendia o contacto com Deus. Segundo os factos apontam, dava demasiada importância aos pequenos pecados, preocupava-se muito em obter a salvação, a santidade. Entre 1512 e 1514, Lutero decide procurar a salvação através da meditação. Frustrado, acaba por se dar como vencido. É então que faz uma descoberta racional: é necessário um homem ser justo, mas é impossível sê-lo. Defende que o homem deve aceitar os seus pecados e pedir a Deus que lhe dê o necessário para ultrapassar esses mesmos. Segundo o pensamento de Lutero, Deus ama todos os seres por si criados. “Um amor que O inclina não a perdoar ao homem os seus pecados, mas a não lhos imputar”.

Entre 1505 e 1515, foca-se mais em si mesmo. Só em 1516 se foca em questões de reforma eclesiástica e doutrinal, apesar de existirem documentos datados de 1512 que expõem o profundo descontentamento com as doutrinas ensinadas por eclesiásticos contraditórios. O autor compara Lutero ao apóstolo Paulo, fundamentando a sua comparação com excertos sobre São Paulo, escritos por Friedrich Nietzsche. Tanto Lutero como São Paulo passaram por uma fase de rejeição dos valores morais, arrependimento e iluminação. Nos anos antecedentes à grande reforma, Alberto de Brandeburgo, acumulou vários cargos de alto prestígio. Eclesiasticamente, adquiriu dois arcebispados e um bispado. Surgem as indulgências e a venda de falsas relíquias. Tetzel surge então como um grande charlatão. Nasce então a teoria das indulgências que pregava que por cada moeda de prata que entrava na caixa das esmolas, assegurava-se um lugar no Céu. Na compra de uma indulgência, uma alma ia diretamente do Purgatório para o Paraíso. A Igreja justificava que o destino do dinheiro angariado seria para cobrir as despesas das obras na Igreja de São Pedro dos Santos. É em 1517 que, depois do longo período de reflexão, que a sua ideologia de fé se define finalmente. Não acorda que através de pagamentos monetários, mas sim com a confissão e arrependimento dos pecados, se atinge diretamente o reino celestial. Defende como legítimo o casamento dos padres e, afirma ainda que, até à data o Homem seguia Deus sempre de uma forma interesseira. Outros pensadores já se haviam oposto às doutrinas pregadas. Jean de Lallier, padre, mestre em Artes e licenciado em Teologia, proclamava que “o papa não tinha o poder de perdoar aos peregrinos, por meio de indulgências, a totalidade do castigo merecido por eles em razão dos seus pecados, mesmo se essas indulgências fossem outorgadas justa e salutarmente”. Dizia que os decretos e decretais dos papas eram nada mais que roubos e mentiras. Declarava que a Igreja de Roma não era chefe das outras igrejas. Foi preso, mas ao assumir os seus erros, libertaram-no. Catorze anos mais tarde, pessoa que viria a influenciar Erasmo, surge outra figura com o mesmo propósito, o franciscano Jean Vitrier. Vitrier proclamava, entre outras proposições, que: “não se deve dar qualquer dinheiro para as indulgências”; “as indulgências vêm do Inferno”; Vitrier, censurado, acabou a sua vida tranquilamente no Convento de Saint-Omer. Em setembro de 1517, Lutero escreve noventa e sete teses. Um mês mais tarde, no dia 31, Véspera de Todos os Santos, espalha as finais noventa e cinco teses. Teses essas não só contra as indulgências, mas também, sobre as doutrinas da religião. Enviou a noventa e sete teses para Gunther, e as noventa e cinco para o arcebispo de Mayence, Alberto de Brandeburgo, e deu a alguns amigos. Depois foram impressas e comercializadas publicamente. Entre as noventa e cinco pontos encontram-se: 40º - “A verdadeira contrição procura e deseja os sofrimentos; a indulgência, pelo contrário, afasta os sofrimentos e incute-nos uma repulsa contra eles”;

94º - “Quando disse: “Fazei penitência”, Nosso Senhor Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse uma penitência”; 95º - “É preciso exortar os cristãos a que sigam Cristo, seu chefe, ao longo de tormentos, da morte e do Inferno, e a entrar no Céu por meio de muitos sofrimentos de preferência, a repensar na segurança de uma falsa paz”; Martinho Lutero esperava que ninguém o apoiasse, esperava ser alvo de crítica ou desprezo, mas contrariamente ao que esperava acontecer, um grande número de pessoas se juntaram a ele. A Alemanha de Lutero, o Sacro Império Romano-Germânico, era um território sem unidade nos mais variados sectores. Não oferecia condições facilitadoras ao reformador. Não existia um imperador presente, de forte personalidade, o que levou ao grande aumento do poder dos príncipes do território. Estes entreajudavam-se em situações de guerra mas, mesmo assim, não formavam grupos unitários. O imperador era elegido através do voto de Príncipes Eleitores, sobre a aprovação do Estado Papal, contrariamente ao que se passava no resto da Europa, em que o monarca recebia o título hereditariamente. Muito raramente eram eleitos italianos para o cargo. Face ao avanço turco, o Império, que fica sem o controlo do comércio marítimo do Mediterrâneo e vê-se obrigado a voltar-se para outros pontos, significativamente para Antuérpia e Lisboa. O conhecimento adquirido dos métodos de navegação hispânicoportugueses permite ao império desenvolver-se na temática da navegação. Existiam muitas cidades autónomas, demasiadas. Príncipes e cidades combatiam o frágil poder do imperador, criando-se um clima de instabilidade. Com isto, surgem pessoas, descontentes com o clima instaurado, que pedem uma reforma social e religiosa. Vivia-se num clima anárquico nas formações políticas. Os burgueses enriqueciam cada vez mais, passam a preservar a sua riqueza e ganham grande importância a nível social. Estes pensam em si próprios apenas, gerando assim um aumento, talvez quase total, da desonestidade. Tornam-se inimigos da Igreja, como sendo uma instituição preservadora das tradições e da moral tradicional. Poderíamos dividir a Alemanha em duas: a Alemanha dos príncipes, nobres, burgueses e eclesiásticos, e a Alemanha dos camponeses e mercenários. [Nos dias de hoje poderíamos referir a esta Alemanha como uma Alemanha de eixo socioeconómico Norte-Sul acentuada.]. O Martinho Lutero apresentado até agora neste livro, é uma pessoa focada na sua consciencialização e, sobretudo em 1516, nos problemas das suas funções monásticas. É uma pessoa fraca em pensamento crítico, que ouve os ensinamentos eclesiásticos. Revolta-se então contra estes e contra quem os contradizia. É quando se liberta um pouco dos ensinamentos, e se revolta, que passa a autodenominar-se “iluminado”, formulando primeiro, em 1516, as teses para Alberto de Mayence e depois as teses de Vitemberga, em 1517. Dizia-se tocado por Deus. A doutrina que proclamava não era a

dele, mas sim a de Deus. Afirmava possuir a “verdade” porque, Deus habitava em si e fazia das palavras de Lutero as Suas. O agostinho é furtivamente combatido pelas instituições monásticas alemãs, mas segundo ele, quanto mais o tentavam atacar, mais progredia no seu trabalho de profeta. Segundo ele também, a sua doutrina era uma ideologia ainda inacabada. Apesar do contestamento eclesiástico, a população destas Alemanhas anárquicas encontrou nas palavras de Martinho Lutero um sentimento de esperança e unanimidade, este último inexistente no território. O que aconteceu em 1517 não foi algo preconcebido, mas sim a revolta contra os acontecimentos decorrentes. Lutero pretendia uma reforma religiosa de dentro para fora, ou seja, focar-se nas doutrinas apresentadas e ensinadas, e secundariamente uma focalização nos atos exteriores da Igreja. Os sábios, que hoje classificamos como humanistas, esperavam há muito tempo uma reforma religiosa. Uma reforma que humanizasse a “Igreja Primitiva” e lhe atribui-se um carácter mais altruísta. O mais admirado destes humanistas era Erasmo. Erasmo, apesar de pretender uma reforma religiosa, pretendia-o de forma diferente de Lutero. Erasmo desenvolvia a sua Filosofia de Cristo fundamentando-se no Antigo Testamento e nas tradições judaicas, enquanto, Lutero fundamentava-se nos ensinamentos dos agostinhos e em São Paulo. Ambos realizaram traduções da Biblia. Lutero criticava o facto de a Igreja construir doutrinas não existentes nos textos sagrados e de obrigar os fiéis a segui-las. Inicialmente rivais, Erasmo e Lutero trocaram cartas de crítica e difamação um para com o outro. Ganharam ambos muitos adeptos, não conseguindo muitos tomar partido por um, por admirarem os dois. Lutero começa a ser relacionado a Erasmo e este passa a protegê-lo, porque qualquer crítica a Lutero seria imediatamente uma crítica a Erasmo. Convence os monges e outras classes eclesiásticas de que Lutero não é um herege e, pela Europa, dignifica Lutero em palavras entre os governantes. Os anos de 1518 e 1519 são anos conturbados para a Alemanha. Morre Maximiliano, imperador do Sacro Império, e os votos dividem-se a dois candidatos à sucessão: Francisco de Valois e Carlos de Habsburgo. Surge então Ulrich de Hutten, que defende a vitória de Carlos. Surge então, consequentemente, uma vaga de nacionalistas que reunia burgueses, nobres e humanistas contra o rei de França. A 28 de Junho de 1919, Carlos de Habsburgo saiu vencedor na urna eleitoral como sacro imperador Carlos V. Nesta altura, Lutero tinha uma força de apoiantes tremenda. Huttem olhando para esta força contra Roma, também sua inimiga, prestigia o monge e encontra nele um apoio. Lutero torna-se, então, uma tremenda ameaça para Roma. Acusam-no de heresia e de tornar as pessoas heréticas com a sua doutrina. Lutero questiona-se: “Sou eu um herético por interpretar a Palavra de Deus? Sou um criminoso por isso? Os meus amigos também o são? Serei expulso da companhia do meu mestre Stauplitz e dos meus irmãos agostinhos? Frederico de Saxe vai-me proteger?”. Roma condena-o a servir na Cúria. Se recusasse era morto. Se fugisse era entregue pelos príncipes. Lutero apenas escreve:

“Sou aquele que perseguem, mas não contestam...”. Roma tinha o maior interesse em ver-se livre de Martinho Lutero porque este seria um impedimento, podendo mesmo determinar a extinção do poder de Roma sobre a Alemanha. A dada altura, Lutero escreve uma carta ao seu amigo Mélanchton, incitando-o a pecar. Lutero não pretende que o seu amigo leve uma vida desonesta, apenas põe em causa a sua teoria de que a graça dívina, sendo ela plena, perdoa tudo. Este episódio talvez seja resultado do facto de Lutero ter passado grande parte da sua vida num mosteiro, afastado da realidade e preso num mundo imaginário. Só quando saiu se apercebeu das dificuldades da vida, dos obstáculos e dos males reais. Só ai despertou para o mundo real. Em 1520, como resultado da força de apoiantes que tinha conseguido Lutero, Jean Eck, seu grande rival, vai a Roma e faz com que o papa Leão X emita uma bula contra o herético. Todas as suas obras deveriam ser queimadas e teria um prazo de sessenta dias para se arrepender. Lutero não se iria submeter. Perde então o apoio de Frederico de Saxe? Carlos, o imperador, aprova a bula papal “Exsurge Domine”. Apesar de tudo, a bula não excomunga Lutero. Erasmo intervém como protetor de Lutero, enviando cartas ao papa. Também Hutten o protege e incita cada vez mais o sentimento nacionalista contra Roma. Faz impressões da bula, alterando-a, e divulga-a pela população. As traduções alemãs da Bíblia são também divulgadas. Forma-se então, na Alemanha, uma onda de partidários a favor de Lutero: os seus seguidores juntamente com os inimigos de Roma. Lutero escreve um manifesto, tentando que os príncipes se aliem a si e aos seus, a Hutten e aos nacionalistas, para realizar um assalto a Roma. Roma tinha medo de perder o domínio sobre a Alemanha, esta que lhe pagava altíssimos impostos. Era, pois, um interesse meramente político. Roma era contraditória, era o poço dos pecados, não acreditava na justificação e banalizava esta de acordo com os seus interesses. Aos olhos do monge, o papa Leão X era a personificação do Anticristo. Martinho Lutero mostrava-se decidido a edificar uma Igreja Alemã, desvinculada da Igreja Romana. Uma Igreja em que a fé fosse livre, um direito e não um conjunto de obrigações, como por exemplo: a confissão. Devia ser composta por membros de igual importância, sem importância hierárquica. Pretendia uma reforma universal ou uma reforma no território alemão? [Talvez os dois, completando-se. Primeiro uma reforma alemã, que depois se alastraria a uma dimensão universal.]. O monge defende que o Homem deve sentir-se feliz pela vida que Deus lhe deu, dar importância às pequenas coisas da vida e desfrutar dos prazeres, desligando-se deles quando necessário. Não condena os pequenos pecados, pois a graça de Deus é grande. Retratos de Lutero, junto com retratos de Hutten, circulam pela Alemanha dando-lhes cada vez mais fama. Frederico de Saxe e Erasmo continuavam a apoiá-lo. O jovem, e invisível aos alemães, imperador Carlos não achava justa a condenação de Lutero sem este expor a sua palavra e convoca-o a apresentar-se diante dele em Worms. Isto passase no ano de 1521. Receando que Lutero tivesse o mesmo destino que Jan Huss, Bucer

envia um pedido para que o monge se dirija a Ebernburg, onde ficaria sobre proteção de Sickingen e Hutten. Recusa o pedido e confia a sua vida à vontade de Deus. Em Worms é confrontado com os seus escritos. Estes são de três tipos: Exposição da doutrina cristã; Ataques a fundo contra o papado e as práticas do papismo; Textos contra adversários que o tinham provocado; É questionado se rejeita as suas escrituras, ao que Lutero responde: “A menos que me convençam por testemunhos relativos à Sagrada Escritura ou por uma razão evidente (porque não creio nem no papa nem nos concílios apenas: é verdade que erraram muitas vezes e que a eles próprios se contradisseram), estou ligado aos textos que escrevi; a minha consciência está presa nas palavras de Deus. Anular o que quer que seja, não o posso, não o quero. Porque actuar contra a consciência, é, além de perigoso, desonesto. Que Deus me ajude. Amén!”. Após este ato heroico, todo o povo, e todos os príncipes da Alemanha, se uniram a Luterno na sua “luta”. Instala-se o caos na Alemanha e o sacro imperador declara o monge como sendo um fora-da-lei. Uma outra bula vem, também, condenar Lutero: a bula Decet Romanum Pontificem. Vive-se um clima de intenso nervosismo, com Hutten e os seus companheiros a crescerem cada vez mais. Sob ameaça, Lutero refugia-se em Wartburg, no castelo de Hans von Berlepsch, com a identidade falsa de “cavaleiro Georges”. Correm, então, rumores de que o monge havia falecido. No seu cativeiro, escreveu e publicou: “Magnificat”; os “Sermões”; o “Evangelho dos Dez Leprosos”; a “Paixão do Cristo e do Anticristo”; a tradução do “Novo Testamento” (iniciada em Dezembro de 1521 e terminada, e publicada, em Setembro de 1522); Apesar da sua ausência, mantém-se atento ao que se passa em Vitemberga. Troca correspondência com Spalatin e com o seu discípulo Filipe Mélanchton, nunca revelando a sua identidade. Na Alemanha importunavam-se eclesiásticos, pilhavam e saqueavam-lhes as casas e propriedades. Ideólogos extra-luteranos surgem, como Carlstadt e Zwilling. Lutero opõe-se à violência e mantém-se fiel à sua ideologia. Argumenta: “Eu: bispos, padres, papas e príncipes, combati-os só com a minha voz”. Sem saber, as despesas do seu cativeiro eram suportadas pelo príncipe-eleitor Frederico de Saxe. Contra a vontade de Frederico de Saxe, volta a Vitemberga. Depara-se com um completo caos. Todos o contestavam: os príncipes acusam-no como sendo um criminoso e, formaram-se grupos extremistas que o criticavam por não ter levado o seu pensamento mais além. Outros, ainda, acusavam-no de ter posto fim à paz. Príncipes guerreiam-se entre si e o povo ataca e pilha incessantemente os membros da Igreja. Lutero recusa-se a atuar perante estas contestações, mostra-se pacifista. Não é um político, é apenas um pensador. Retoma então os seus pensamentos sobre a Palavra e a moralidade. Entre 1524 e 1525, dá-se a revolta dos camponeses. Lutero fala-lhes, contestando o facto de os camponeses afirmarem serem os verdadeiros mensageiros da Palavra. Afirma-lhes que a mensagem de Cristo não pretende a revolta, mas sim a submissão,

logo, os seus argumentos não serviam de justificação para os seus atos. Perante isto, os ânimos contra Lutero levantaram-se ainda mais. Lutero vê-se contestado, com o número de seguidores reduzido e preso nos seus pensamentos. A solução que reside na sua mente para apaziguar o ambiente vivido e para pôr fim aos pensamentos extremistas, é a de fundar uma Igreja Luterana. Retoma então o confronto com o seu, na verdade, grande rival Erasmo. Acaba por abafar as palavras deste quando publica a obra “Do Servo Arbítrio” como resposta à publicação de Erasmo: “Do Livre Arbítrio”. Enquanto Erasmo defendia que o Homem toma as suas próprias escolhas, Lutero defendia que este já estava predestinado. Lutero choca o mundo quando se casa com uma antiga freira, Catarina de Bora. Ele que em tempos passados afirmava que nunca se iria casar. Teve filhos desta e optou por uma vida mais pacífica. Realizava trabalhos de oleiro, jardineiro e de relojoeiro. Teria o eloquente monge amolecido? Ele, que anteriormente atacava os príncipes, agora parecia ser o seu defensor. Todas estas mudanças levariam Mélanchton, o seu principal discípulo, a descrer em Lutero. Verificou-se isto essencialmente com a reação do discípulo aquando da negação do livre arbítrio por parte do seu mestre. Martinho Lutero acabaria por morrer em 1546. Conclusões : Este livro não expõe a Igreja Luterana em si, mas sim a vida do seu fundador e os acontecimentos que levaram à sua edificação. Não expõe apenas os acontecimentos da vida de Martinho Lutero, explora o seu foro psicológico e o que o levou a tomar determinadas atitudes. Lutero não é um herói por ter realizado uma reforma religiosa, é-lo sim por ter desafiado as duas entidades de autoridade máxima da sua época: o Papa e o imperador do Sacro Império Romano Germânico. O livro apresenta-nos Lutero como um autêntico ser humano, contrariamente à imagem semidivina apresentada pelos seus seguidores. Tem pensamentos e atitudes contraditórias como qualquer outro ser humano. É uma boa obra literária, com dificuldade de leitura razoável para alguém dentro da área da História. Lucien Febvre aplica o método de comparação de pontos de vista, história comparada, de forma eficaz. A única crítica que faço a esta obra é o facto de conter variadas frases escritas em latim e alemão, que não são entendidas por qualquer leitor.

Referência Bibliográfica: Febvre, Lucien, “Martinho Lutero: Um Destino”, (1976), Amadora, Livraria Bertrand

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