ANÁLISE COMPARATIVA DOS COMPONENTES CANÔNICOS DOS DICIONÁRIOS SEMASIOLÓGICOS MONOLÍNGUES AURÉLIO E MICHAELIS

June 14, 2017 | Autor: A. Bueno Santa Maria | Categoria: Languages and Linguistics, Lexicography, Lexicografia, Lexicografía didáctica, Lexicografia Pedagógica
Share Embed


Descrição do Produto

26





ALEXANDRE BUENO SANTA MARIA





ANÁLISE COMPARATIVA DOS COMPONENTES CANÔNICOS DOS DICIONÁRIOS SEMASIOLÓGICOS MONOLÍNGUES AURÉLIO E MICHAELIS



Trabalho apresentado à Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Araraquara da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" como requerimento parcial da disciplina Lexicografia e Lexicologia, ministrada pela professora Profª Drª Clotilde A. A. Murakawa no programa de pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa, na linha de pesquisa de Análise Fonológica, Morfossintática, Semântica e Pragmática.



ARARAQUARA
2015

Introdução

O presente trabalho conduz uma análise descritivo-comparativa da prática lexicográfica adotada em dois dicionários semasiológicos monolíngues da língua portuguesa. Ambos são distribuídos em versão eletrônica e têm uso no Brasil, sobretudo no meio escolar. As obras analisadas são:
Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0, disponível em CD-ROM, cujo conteúdo corresponde ao Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3ª. edição, 1ª impressão da Editora Positivo, revista e atualizada do Aurélio Século XXI, publicado em 2004, doravante, Aurélio;
Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, com acesso disponível gratuitamente na internet junto com outras versões bilíngues.
A investigação desenvolvida aborda, com o auxílio de exemplos, aspectos relacionados aos elementos canônicos dos dicionários: macroestrutura, Outside Matter, microestrutura, medioestrutura.
Para a análise da microestrutura, foram selecionados dez verbetes de classes gramaticais distintas para consulta em ambos os dicionários.

Macroestrutura

A macroestrutura de um dicionário, de acordo com Bugueño Miranda (2007), corresponde ao total de palavras-entrada presentes no dicionário e ao critério de sua seleção. O autor apresenta como parâmetros a seleção macroestrutural quantitativa (pautada a partir de um critério de frequência) e a seleção macroestrutural qualitativa (pautada a partir de critérios como a distinção type/token, por exemplo). É possível visualizar um exemplo desse componente no dicionário Michaelis, por meio intervalo lemático reproduzido abaixo:
ca.ca1
ca.ca2
ca.ça1
ca.sa
cas.ca
cas.sa

Do ponto de vista macroestrutural, o dicionário Aurélio informa que seu conteúdo corresponde ao da primeira impressão da Editora Positivo, revista e atualizada do Aurélio Século XXI, O Dicionário da Língua Portuguesa, contendo 435 mil verbetes, locuções e definições. Não há quaisquer informações acerca dos critérios utilizados na seleção lemática e nem a respeito do público a quem a obra se destina.
O Michaelis, por sua vez, traz uma apresentação da macroestrutura mais rica. Ele informa que possui mais de 200 mil verbetes e subverbetes e que seu corpus é o banco de dados lexicográficos da editora Melhoramentos, que recebeu contribuições de especialistas em várias áreas do saber. Ele ainda explica que a obra contou com a colaboração de oitenta e quatro profissionais especializados e que houve preocupação em registrar o maior número possível de vocábulos tanto em linguagem escrita quanto em oral. Ademais, de acordo com este dicionário, especial ênfase foi dada ao registro de novas palavras que surgiram com o desenvolvimento das ciências e da tecnologia, além da inclusão dos neologismos da linguagem padrão, dos regionalismos, da gíria e do baixo calão. Ele menciona também que se desenvolveu um trabalho para registrar a etimologia das palavras. Há uma menção sobre a utilização de recursos da informática na uniformização de informações e na sistematização de remissões. Por fim, ele informa que a grafia das palavras segue o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de março de 2009, respeitando as modificações introduzidas pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.
Colocando os elementos macroestruturais de ambos os dicionários em contraste, fica evidente que o Michaelis teve maior preocupação em informar ao usuário os critérios adotados em sua construção. Apesar de apresentar menos da metade dos verbetes do Aurélio, isso não significa que ele seja, necessariamente, melhor ou pior. O que é possível constatar é que o detalhamento de sua apresentação macroestrutural dá indícios de um grau mais elevado de rigor lexicográfico do que o do Aurélio.

Outside Matter

Denomina-se Outside Matter o conjunto de textos externos à nominata de um dicionário: Front Matter, Middle Matter e Back Matter. O Front Matter se encontra antes da nominata serve de mediador entre o dicionário e o seu usuário. Seu objetivo é dar ao consulente a oportunidade de aproveitar os recursos disponíveis na obra (FORNARI, 2008). O Middle Matter está localizado entre a macro e microestruturas. Ela se apresenta por meio de interrupções entre esses elementos para a inserção de figuras ou explicações históricas, por exemplo. O Back Matter, por fim, está localizado após a nominata e traz informações como conjugação verbal, compêndios gramaticais etc., sob a forma de apêndices.
No caso dos dois dicionários analisados, como eles são distribuídos em suporte eletrônico, os componentes do Outside Matter são acessados por meio de menus.

3.1. Outside Matter no Aurélio

O Aurélio apresenta o Outside Matter logo que iniciado. É possível acessá-lo também pelo menu 'arquivo>página inicial'. Assim, visualizamos os seguintes itens:
Como usar – manual do dicionário;
Verbete – entenda sua estrutura;
Biografia de Aurélio Buarque de Holanda;
Professor – o Aurélio na escola;
Créditos.

3.1.1. Como usar – manual do dicionário

Na seção 'como usar', o dicionário apresenta um guia interativo com vários hiperlinks que levam às instruções de uso em cada uma das situações, de acordo com a figura 1.

Fig. 1

Os textos presentes nas páginas correspondentes a seus respectivos subtítulos são do gênero instrucional e apresentam imagens que orientam o usuário. A linguagem é clara, concisa, objetiva e apresenta um registro próximo ao informal, de acordo com o exemplo a seguir:

Pesquisa avançada
Para acessar outras opções de pesquisa do Dicionário Eletrônico Aurélio, utilize a Pesquisa avançada. Veja como funciona:
Ao se clicar em Pesquisa avançada, vai se abrir a seguinte janela.

As opções são as seguintes:
 
 
 
 


Palavras iniciadas por
Você pode usar esse recurso para encontrar todas as palavras que se iniciam por determinada(s) letra(s) ou sílaba(s). Marque essa opção clicando no quadrado que aparece à esquerda do item Palavras iniciadas por, digite a(s) letra(s) com que deseja que as palavras se iniciem e clique em Buscar. A lista de resultados aparecerá em Resultados da pesquisa. (...)
Fig. 2
Para alguns itens, o dicionário oferece um recurso tecnológico que enriquece as explicações dadas nos textos instrucionais. Tratam-se de animações em que são mostrados os procedimentos na prática, ao estilo de vídeos tutoriais que são comuns atualmente na internet.
Tendo em vista o suporte em que o Aurélio é distribuído, o formato de suas instruções de uso e os tópicos que ele aborda parecem razoáveis.

3.1.2. Verbete – entenda sua estrutura

Esta seção se encarrega de explicar ao consulente como a obra apresenta sua microestrutura. Ela também se ocupa de conceptualizar cada item presente na microestrutura do dicionário. O Aurélio discorre, dessa forma, sobre os seguintes elementos: verbete; cabeça do verbete; ortoépia; etimologia; categoria gramatical; regência; número de definição; definição; rubrica; remissiva; achega; exemplo; abonação; locução e índice.
Para cada um dos itens mencionados, o Aurélio apresenta uma subpágina com descrições e exemplos de aplicação retirados do próprio dicionário.
A apresentação de conceitos e terminologia do domínio da lexicografia ao leitor leigo, mesmo que de forma simplificada, dá vestígios de uma preocupação do corpo editorial em posicionar sua obra no mercado como um dicionário que tem seriedade quanto ao fazer lexicográfico.

3.1.3. Biografia de Aurélio Buarque de Holanda

Esta seção apresenta, de forma sucinta, a biografia de Aurélio Buarque de Holanda, autor da primeira edição do dicionário Aurélio, em 1975, sob o título de Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
Como este dicionário é muito conhecido e utilizado no Brasil, a biografia do autor aparece como uma espécie de homenagem. Apesar de mencionar a publicação do Minidicionário da Língua Portuguesa (1977) e do Dicionário Aurélio Infantil da Língua Portuguesa (1989), seu foco é no autor e não há, dessa forma, qualquer alusão à evolução da obra ao longo dos anos.

3.1.4. Professor – o Aurélio na escola

Sob o pretexto de ajudar o professor por meio da sugestão de atividades pedagógicas envolvendo o dicionário, o Aurélio traz textos informativos sobre elementos caros à lexicologia e à lexicografia.
Esta parte parece mais uma tentativa de prover ao professor conteúdo sobre lexicografia do que um banco de atividades para alunos, especialmente porque não descreve o tipo de professor nem de aluno a que se destina. Conhecendo a atual condição dos cursos de formação de professores de português no Brasil, é possível especular que uma razão para existência desta seção no dicionário seja o tratamento deficitário que se dispensa ao binômio lexicologia-lexicografia nos cursos de letras no país. Nas universidades privadas, sobretudo, que são responsáveis pela formação da maior parte da força de trabalho docente das escolas de educação básica, esta área da linguística é praticamente suprimida. Portanto, considero válida a iniciativa do dicionário em abordar esse tema.

3.1.5. Créditos

Esta parte apenas se ocupa de apresentar os nomes de todas as pessoas envolvidas no trabalho de produção lexicográfica, revisão e edição.

3.2. Outside Matter no Michaelis

O Michaelis apresenta o Outside Matter por meio de um menu lateral abaixo do título do dicionário em seu sítio na internet. Ele nos dá acesso aos seguintes itens:
Sobre o dicionário;
Gramática e curiosidades;
Guia prático da nova ortografia.

3.2.1. Sobre o dicionário

Esta parte se subdivide m três outras: organização do dicionário; abreviaturas e créditos.
O item 'organização do dicionário' se ocupa de explicar ao usuário como a obra se apresenta do ponto de vista microestrutural. Dessa forma, ele define e exemplifica entrada, classe gramatical, etimologia, registro, acepções, exemplificação, subverbetes, expressões, formas irregulares e remissões, como mostra o exemplo abaixo:
1. Entrada

A entrada do verbete está em negrito e com indicação da divisão silábica.

Ex.: ho.mi.li.a sf (lat homilia) 1 Prática religiosa sobre...

A divisão silábica das palavras de origem estrangeira já integradas ao léxico segue as regras do português. Entre parênteses, está indicada a pronúncia corrente.1. Entrada

A entrada do verbete está em negrito e com indicação da divisão silábica.

Ex.: ho.mi.li.a sf (lat homilia) 1 Prática religiosa sobre...

A divisão silábica das palavras de origem estrangeira já integradas ao léxico segue as regras do português. Entre parênteses, está indicada a pronúncia corrente.Fig. 3Fig. 3
1. Entrada

A entrada do verbete está em negrito e com indicação da divisão silábica.

Ex.: ho.mi.li.a sf (lat homilia) 1 Prática religiosa sobre...

A divisão silábica das palavras de origem estrangeira já integradas ao léxico segue as regras do português. Entre parênteses, está indicada a pronúncia corrente.
1. Entrada

A entrada do verbete está em negrito e com indicação da divisão silábica.

Ex.: ho.mi.li.a sf (lat homilia) 1 Prática religiosa sobre...

A divisão silábica das palavras de origem estrangeira já integradas ao léxico segue as regras do português. Entre parênteses, está indicada a pronúncia corrente.
Fig. 3
Fig. 3







3.2.2. Abreviaturas

As abreviaturas presentes no Michaelis são apresentadas por meio de uma lista, como o exemplo a seguir.

Fig. 4
A localização e a forma de apresentação das abreviaturas dão ao consulente a oportunidade de consultar os itens de forma ágil e eficaz, pois elas estão todas na mesma página, o que permite o uso da função 'busca' (Ctrl+F) do navegador da internet.

3.2.3. Créditos

Do mesmo modo que no Aurélio, esta parte apenas apresenta os nomes das pessoas envolvidas no trabalho de produção lexicográfica, revisão e edição.

Análise comparativa: o Outside Matter do Aurélio frente à do Michaelis

Após observação dos componentes do Outside Matter de ambos os dicionários, é possível perceber que ambos são muito parecidos.
Todavia, o Aurélio, possivelmente por ser distribuído em CD-ROM e tratar-se uma versão paga, faz uso de elementos tecnológicos como tutoriais animados, em certa medida, mais sofisticados, para exemplificar a prática de uso do dicionário. O Michaelis, em versão gratuita disponível na internet, por outro lado, se utiliza apenas de textos instrucionais e exemplos literais.
Nenhum dos dicionários observados apresenta qualquer tipo de Middle Matter em seus intervalos lemáticos.

Microestrutura

Este componente está relacionado ao conjunto de informações presentes em cada verbete. Cada segmento informativo do verbete é classificado de acordo com dois tipos de comentários: de forma e semântico. O primeiro corresponde aos segmentos que se relacionam à palavra-entrada enquanto significante (ortografia, divisão silábica, categoria morfológica, entre outros). O segundo corresponde aos segmentos que se relacionam à palavra-entrada enquanto significado (definição, sinônimos, exemplos, entre outros). Pode-se observar todos esses componentes no exemplo abaixo, retirado do Aurélio:
Fig. 5Fig. 5humano
[Do lat. humanu.]
Adjetivo.
1.Pertencente ou relativo ao homem:
natureza humana;
gênero humano.
2.Bondoso, humanitário. ~ V. calor —, capital —, ciências —as, comunicação —a, formigueiro —, gênero —, geografia —a, litologia —a, natureza —a, paleontologia —a, recursos —s, relíquias —as, respeito — e humanos.humano
[Do lat. humanu.]
Adjetivo.
1.Pertencente ou relativo ao homem:
natureza humana;
gênero humano.
2.Bondoso, humanitário. ~ V. calor —, capital —, ciências —as, comunicação —a, formigueiro —, gênero —, geografia —a, litologia —a, natureza —a, paleontologia —a, recursos —s, relíquias —as, respeito — e humanos.
Fig. 5
Fig. 5
humano
[Do lat. humanu.]
Adjetivo.
1.Pertencente ou relativo ao homem:
natureza humana;
gênero humano.
2.Bondoso, humanitário. ~ V. calor —, capital —, ciências —as, comunicação —a, formigueiro —, gênero —, geografia —a, litologia —a, natureza —a, paleontologia —a, recursos —s, relíquias —as, respeito — e humanos.
humano
[Do lat. humanu.]
Adjetivo.
1.Pertencente ou relativo ao homem:
natureza humana;
gênero humano.
2.Bondoso, humanitário. ~ V. calor —, capital —, ciências —as, comunicação —a, formigueiro —, gênero —, geografia —a, litologia —a, natureza —a, paleontologia —a, recursos —s, relíquias —as, respeito — e humanos.






A análise microestrutural dos dicionários conduzida neste trabalho partiu da seleção aleatória de dez verbetes. O único cuidado tomado na escolha foi o de dar priorizar a variação de classes gramaticais às quais os lemas pertencem.
Os verbetes selecionados são: casa, mesa, amarrado, cacetinho, vermelho, jabuticaba, chuva, vadiar, bem e onde.
A transcrição dos verbetes aqui é feita mantendo-se a formatação que os dicionários apresentam.

4.1. Casa

4.1.1. Casa no Aurélio

casa
[Do lat. casa.]
Substantivo feminino.
1.Edifício (2) de um ou poucos andares, destinado, geralmente, a habitação; morada, vivenda, moradia, residência. [Aum.: casão, casarão, casaréu; dim.: casinha, casita, casucha, casebre, casinhola, casinholo, casinhota, casinhoto, podendo as cinco últimas formas ter caráter depreciativo.]
2.Cada uma das divisões de uma habitação; dependência, quarto, sala:
O porão tem três casas.
3.Lar; família.
4.Conjunto dos bens e/ou negócios domésticos:
o governo da casa.
5.O conjunto dos membros de uma família; instituição familiar:
a casa dos Andradas; A Ilustre Casa de Ramires (título de romance de Eça de Queirós).
6.Local destinado a reuniões ou até à moradia de certos grupos de pessoas:
Casa do Minho;
casa do estudante.
7.Estabelecimento, firma, empresa:
casa comercial;
casa bancária.
8.Repartição pública:
a Casa da Moeda.
9.Conjunto de auxiliares adjuntos a um chefe de Estado:
casa civil;
casa militar.
10.Cada uma das subdivisões duma caixa, prateleira, colmeia, etc.
11.Espaço separado por linhas nas tabelas, tabuadas, mapas, tabuleiros, formulários, etc.:
as casas do xadrez;
a casa dos nove;
casa para observações.
12.Abertura por onde passa o botão; botoeira.
13.Grupo de 10 anos, começado por 10 ou múltiplo desse número, na idade de uma pessoa:
"Camilo escreveu O Bem e o Mal .... bem longe da casa dos vinte" (Mário Casassanta, O Bem e o Mal, p. 33).
14.Vaga nos registros de distribuição de feitos forenses, escrituras, etc.
15.Mat. Casa decimal.
16.Mat. Numa tabela, interseção de uma linha e uma coluna.
17.Teatr. Cin. Assistência a um espetáculo:
Os mímicos só tiveram meia casa.
18.Encad. Bras. V. entrenervo.
19.Lus. Constr. Nav. V. praça (9).

Casa bancária. 1. Estabelecimento autorizado a realizar operações de crédito ou comércio de câmbio.
Casa brejada. 1. Bras. CE Casa de chão úmido.
Casa civil. 1. V. casa (9). 2. Bras. Joc. A família constituída legalmente; o lar:
"com os estipêndios de juiz de direito mal chegando para a família legalmente constituída, para a casa civil, como pensar em amásia, em amante, amiga, casa militar?" (Jorge Amado, Teresa Batista Cansada de Guerra, p. 62). [Cf. casa militar.]
Casa comercial. 1. Estabelecimento destinado ao comércio de mercadorias.
Casa da misericórdia. 1. V. santa casa.
Casa da Moeda. 1. Estabelecimento onde são cunhadas as moedas e impressos os papéis-moedas, por conta do governo ou nação.
Casa de alça. 1. Aselha (2).
Casa de aviamento. 1. Bras. S. Telheiro, alpendre ou simples puxado, lateral à moradia do pescador, e onde fica o forno, se limpa o peixe e se executam outros serviços.
Casa de bagaço. 1. Bras. N.E. Parte do engenho de açúcar onde se guarda, depois de seco ao sol, o bagaço de cana moída, que serve como combustível.
Casa de banho. 1. Lus. V. banheiro (1).
Casa de Câmara e Cadeia. 1. Ant. Sede municipal da administração e da justiça. [No Brasil, termo us. até o advento da República.]
Casa de câmbio. 1. Estabelecimento bancário que compra, vende e troca moedas estrangeiras.
Casa de campo. 1. Casa fora das cidades, em que se passam férias ou fins de semana.
Casa decimal. 1. Mat. Na expressão decimal de um número, posição de um algarismo à direita da vírgula. [Tb. se diz apenas casa.]
Casa de cômodos. 1. V. cortiço (2).
Casa de correção. 1. Estabelecimento penitenciário onde se recolhem, para serem corrigidos, menores delinqüentes ou desocupados, e marginais. [Tb. se diz apenas correção.]
Casa de despejo. 1. V. despejo (4).
Casa de detenção. 1. Estabelecimento oficial onde ficam detidos os réus que aguardam julgamento. 2. P. ext. Prisão, cárcere.
Casa de escoteiro. 1. Bras. MG Quarto de fácil acesso destinado a viajantes escoteiros.
Casa de farinha. 1. Bras. Telheiro ou abrigo destinado ao preparo de farinha de mandioca:
"A casa de farinha, o pai, os três irmãos, gente que plantava mandioca e vendia farinha feita." (Adonias Filho, Luanda Beira Bahia, p. 10.)
Casa de jantar. 1. Sala de jantar.
Casa de máquinas. 1. Espaço situado num dos extremos do poço de elevador, onde se colocam as máquinas ou motores e a aparelhagem que controla o movimento do ascensor.
Casa de obras. 1. Tip. Oficina tipográfica, em contraposição a casa de jornal. [V. obra (9).]
Casa de orates. 1. Casa sem ordem; casa onde ninguém se entende.
Casa de passe. 1. Lus. V. prostíbulo.
Casa de pasto. 1. Restaurante onde se servem refeições a baixo preço.
Casa de penhor. 1. Estabelecimento onde se empresta dinheiro deixando como garantia jóias e/ou outros objetos. [Sin.: prego, (bras., BA) macaco, e (lus.) gancho.]
Casa de purgar. 1. Bras. Dependência do engenho bangüê, onde o açúcar é posto para escorrer o mel e alvejar.
Casa de recurso. 1. Bras. N.E. V. casa de tolerância.
Casa de saúde. 1. Hospital particular ou de economia privada, em que o tratamento e as diárias são pagos pelo cliente, ou, mediante convênio, por entidade privada ou governamental; clínica.
Casa de tavolagem. 1. Casa de jogo.
Casa de tolerância. 1. Casa onde se alugam quartos para encontros amorosos:
"antiga mulher de amor, gasta e repelida, abriu casa de tolerância, seduziu mulheres honestas" (Lúcio de Mendonça, Horas do Bom Tempo, p. 207). [Sin.: casa de recurso ou apenas recurso (N. E.) e rendez-vous (fr.). Cf. prostíbulo.]
Casa do alçado. 1. Tip. Dependência da oficina de encadernação onde se contam e dobram as folhas impressas e alçam os cadernos. [Tb. se diz apenas alçado.]
Casa do leme. 1. Constr. Nav. Camarim de governo.
Casa dos contos. 1. Ant. A casa de administração do erário.
Casa dos entas. 1. Bras. Casa (13) que principia por um número que termine em enta (dos quarenta aos noventa):
Tem 38 anos: breve estará na casa dos entas.
Casa dos milagres. 1. V. sala dos milagres.
Casa editora. 1. Empresa privada ou pública cuja principal atividade é a edição de publicações impressas; editora. [Sin. lus.: editorial.]
Casa funerária. 1. Bras. Estabelecimento comercial que se encarrega de pompas fúnebres. [Tb. se diz apenas funerária.]
Casa matriz. 1. V. matriz (18).
Casa militar. 1. V. casa (9). 2. Bras. Joc. A amante, a amásia; a família não legalmente constituída:
"com os estipêndios de juiz de direito mal chegando para a família legalmente constituída, para a casa civil, como pensar em amásia, em amante, amiga, casa militar?" (Jorge Amado, Teresa Batista Cansada de Guerra, p. 62). [Cf. casa civil.]
Casa noturna. 1. Bras. Boate.
Casa popular. 1. Bras. A que é construída por órgão de assistência social, para moradia de famílias de baixo poder aquisitivo.
Casas geminadas. 1. Casas de paredes-meias, construídas duas a duas, normalmente com as mesmas divisões, porém invertidas.
Bulir em casa de marimbondo(s). 1. V. mexer em casa de marimbondo(s).
Fazer casa. 1. Juntar haveres; amealhar.
Mexer em casa de marimbondo(s). 1. Bras. Provocar, com palavras ou atos, situação ou reação desagradável, insuportável, perigosa, etc.; bulir em casa de marimbondo(s).
Ó de casa. 1. Bras. Palavras com que alguém, à porta de uma casa, geralmente batendo palmas, chama quem está ou se espera estar no interior dela; ô de casa:
"(Chega à janela). Ó mulher da casa! olá! ó de casa!" (Álvares de Azevedo, Obras Completas, II, p. 13.)
Ô de casa. 1. Bras. Ó de casa:
"um caboclo .... quebrava o silêncio nostálgico do crepúsculo avocando: " — ô de casa!" (Herman Lima, Tijipió, p. 114).
Santa casa. 1. Instituição pia para tratamento de enfermos pobres e outras obras de beneficência; casa da misericórdia; misericórdia.
Ser de casa. 1. Ser familiar; não ser de cerimônia (3).
Ser uma casa cheia. 1. Ser muito animado, muito conversador, muito alegre.

4.1.2. Casa no Michaelis

casa 
ca.sa 
sf (lat casa) 1 Nome comum a todas as construções destinadas a moradia. 2Moradia, residência, vivenda. Col: casaria, casario, taba (para casas de índios). 3 Estabelecimento, firma comercial. 4 Família: Casa de Bragança. 5Subdivisão de uma caixa, tabuleiro etc. 6 Repartição pública: Casa da Moeda.7 Abertura em que entram os botões do vestuário. 8 Cada um dos espaços separados por traços em uma tabela ou mapa. 9 Alvéolo dos favos das abelhas.10 Lugar ocupado por um algarismo em relação a outros do mesmo número. 11Cada uma das divisões de uma tabuada: A casa dos quatro, a casa dos sete.12 Sala que aloja máquinas motrizes grandes: Casa das máquinas de um navio. Casa das caldeiras. 13 Com relação a idade de pessoas, década seguinte ao número de anos, múltiplo de dez, ao qual se faz alusão: Andar(estar) na casa dos cinquenta. Aproximar-se da casa dos cinquenta. 14Assistência, frequência: Este cinema tem sempre boas casas. C. brejada:casa de chão úmido. C. da festa, Folc: casa onde se instala o Império do Divino Espírito Santo, por ocasião das respectivas festas. C. da mãe joana: a) bordel, casa de tolerância; b) local em desordem, onde reina a bagunça. C. da Misericórdia: santa casa. C. da moeda: estabelecimento onde se cunha a moeda por conta da nação. C. da sogra: casa onde não há ordem, disciplina ou boa educação. C. de bagaço: depósito do bagaço nos engenhos de açúcar; bagaceira. C. de câmbio: estabelecimento bancário que se dedica exclusivamente à compra, venda ou troca de moedas estrangeiras. C. de campo: habitação fora da cidade, para recreio. C. de cômodos: casa em que se alugam quartos. C. de correção: estabelecimento público onde se encerram vadios, ou condenados por algum delito, para se tentar, pela educação, a sua reforma moral. C. de detenção: casa para prisão ou guarda de menores abandonados ou loucos transviados, ébrios, indivíduos suspeitos de crimes ou incursos em delitos correcionais, ou de testemunhas para averiguações. C. de orates: casa onde ninguém se entende; casa sem ordem. C. de pasto: hotel, pensão, restaurante. C. de penhor: estabelecimento comercial que empresta dinheiro a juros, recebendo como garantia joias, objetos de valor ou mercadorias. C. de prego: casa de penhor. C. de prisão: casa de detenção. C. de purgar: departamento nos engenhos de açúcar onde se purifica o caldo de cana. C. de saúde: hospital particular em que os doentes pagam o tratamento.C. de sobrado: a) aposentos superiores aos térreos; b) prédio de vários andares; c) sobrado. C. de sochão: casa subtérrea. C. de tafularia: casa de jogo. C. de tatu: chapéu de palha de carnaúba. C. de tavolagem: casa de jogo.C. de telha-vã: casa coberta de telha mas não forrada. C. de tolerância: a que aluga quartos a casais para estes terem relações sexuais. C. do zodíaco:cada uma das doze divisões do zodíaco e das constelações zodiacais. C. dos negros: senzala. C.-forte: casa de paredes espessas e portas de ferro, para guardar dinheiro, documentos e objetos de valor. C.-grande: casarão em que morava o proprietário da fazenda ou engenho. C. lotérica: loja onde podem ser feitas apostas nos diversos tipos de loterias, comprar bilhetes, conferir resultados de sorteios etc.; loja lotérica. C. real: a) a família do rei; b) conjunto de empregados, funcionários e famulagem às ordens do rei; c) bens pertencentes ao rei como chefe da família real. C. santa: santa casa, instituição pia para tratamento de enfermos pobres. C. térrea: prédio que tem só o pavimento ao rés do chão. Ganhar o lado das casas, Reg (Sul): escapar-se, por medo ou comodismo, de situação monótona ou difícil, no trabalho ou em luta (alusão à fuga para casa dos fracos ou medrosos). Na casa do sem jeito: sem solução.

4.1.3. Análise comparativa: verbete casa

Ambos os dicionários apresentam, no início do verbete, a classe gramatical e a marcação etimológica da palavra. Nos dois casos é possível observar numerosas acepções, mas não há datação alguma. Em ambos os dicionários, percebe-se que as acepções são ordenadas do uso mais comum para o menos comum. A primeira acepção, em ambas as obras, é aquela que representa o significado mais universalmente prototípico e é iniciada por um hiperônimo apenas no Aurélio.
O Aurélio se preocupa em indicar as formas aumentativa e diminutiva do substantivo, fato que não é verificado no Michaelis.
Nos dois dicionários o aspecto fraseológico é abordado por meio de uma lista de expressões que têm a palavra 'casa' como núcleo semântico. O Aurélio traz rubricas 'Bras.', 'Bras. N. E.', 'Bras. MG' e 'Lus.' para marcar regionalismos. O mesmo sistema de rubricas é utilizado para marcar a assunto, disciplina ou área do conhecimento em que a palavra é empregada, como é observado, por exemplo, na rubrica 'Mat.', que acompanha a locução 'casa decimal'. O Michaelis não apresenta procedimento similar.
O trabalho lexicográfico desenvolvido em ambos os dicionários apresenta rigor satisfatório, entretanto, o Aurélio parece se preocupar mais com o aspecto ergonômico visual do verbete por separar cada um dos componentes microestruturais de forma mais clara do que o Michaelis. Isso se verifica pela escolha de cores diferentes e pela apresentação das unidades fraseológicas separadas por um espaço, posteriormente às acepções. Ele ainda se preocupa em mostrar exemplos não apenas nas acepções, mas também nas unidades fraseológicas.

4.2. Mesa

4.2.1 Mesa no Aurélio

mesa
(ê) [Do lat. mensa.]
Substantivo feminino.
1.Móvel, comumente de madeira, sobre o qual se come, escreve, trabalha, joga, etc.
2.Conjunto do presidente e secretários de uma assembléia:
a mesa da câmara.
3.A alimentação, o passadio, o sustento:
casa de mesa farta.
4.O conjunto dos que estão à mesa para a refeição.
5.Quantia fixa ou cumulativa de apostas, em certos jogos de azar.
6.Designação comum a várias repartições pelas quais está dividido o serviço nas alfândegas.
7.Grade ou altar para comunhão.
8.Balcão de atendimento ao público, ou local onde se concentram os operadores de serviços telefônicos, de interfones, etc.
9.Cin. Son. Telev. Equipamento dotado de recursos para edição ou execução de efeitos, como mixagem, equalização, variação de intensidade, etc.:
mesa de mixagem, mesa de corte, mesa de som, mesa de edição, mesa de controle. [Cf., nesta acepç.: painel1.]
10.Geol. Camada horizontal limitada por todos os lados por escarpas em geral abruptas. [Dim.: mesinha. Cf. mezinha.]
11.Bras. Estrado de madeira, pentagonal, que constitui a parte principal de um carro de bois:
"Carros de bois que levavam nas mesas e nos rebequéns as moças do engenho às festas da vila, com toldos vistosos de colchas das ilhas." (A. S. de Mendonça Júnior, Jornal da Província, p. 30.)
12.Bras. Amaz. V. comedia (3).
13.Bras. Rel. Na cabula, sessão ritual ao ar livre.
14.Bras. Rel. Na cabula, o altar e seus elementos.
15.Bras. RJ Rel. Cerimônia ritual da macumba; linha.

Mesa da enxárcia. 1. Ant. Constr. Nav. Prancha de madeira presa ao costado, horizontalmente, na altura do trincaniz, e onde se apóiam as bigotas superiores, por meio das quais se tesam os ovéns.
Mesa de distribuição. 1. Art. Gráf. Mesa de tintagem.
Mesa de fabricação. 1. Ind. Pap. Máquina plana (q. v.).
Mesa de pé de galo. 1. A que tem um único pé, que se alarga junto à base.
Mesa de tintagem. 1. Art. Gráf. Superfície onde se faz a distribuição da tinta, nas prensas plano-cilíndricas; mesa de distribuição.
Mesa digitalizadora. 1. Inform. Equipamento semelhante a uma prancheta (3), us. para digitalizar desenhos técnicos e de precisão, como, p. ex., projetos, plantas, mapas, etc.
Mesa equatorial. 1. Astr. Superfície plana, instalada sobre uma montagem equatorial, na qual podemos instalar diferentes aparelhos astronômicos.
Mesa retroiluminada. 1. Art. Gráf. Fotograv. Mesa com tampo de acrílico ou vidro translúcido, sob o qual há uma fonte de luz, us. na montagem de fotolitos, cópia de desenhos, seleção de cromos, etc.
À mesa. 1. Durante a refeição:
"Pois a maravilha / Do batizado foi causa aparente / Da noite que passei em claro, doente / Não do vinho de Gaia, essa fineza / Que o mesmo Cristo beberia à mesa / Na derradeira ceia!" (Domingos Carvalho da Silva, Liberdade embora Tarde, p. 14.)
Botar a mesa. 1. Pôr a mesa.
Levantar a mesa. 1. Tirar a mesa.
Pôr a mesa. 1. Prepará-la para as refeições; botar a mesa. [Opõe-se a tirar a mesa.]
Tirar a mesa. 1. Retirar dela os elementos que sobre ela haviam sido postos para a refeição; levantar a mesa. [Opõe-se a pôr a mesa.]
Virar a mesa. Bras. Pop. 1. V. descer o morro. 2. Mudar radical e abruptamente de comportamento ou de atitude.

4.2.2 Mesa no Michaelis

mesa 
me.sa 
(ê) sf (lat mensa) 1 Móvel que, além de outras aplicações, serve para sobre ele se porem as iguarias, na ocasião da refeição, e se executarem ou prepararem certos trabalhos artísticos ou mecânicos. 2 Qualquer superfície lisa e horizontal. 3 Modo como se vive relativamente à comida; passadio. 4 Conjunto do presidente e secretários de uma assembleia. 5 Conjunto das pessoas que dirigem uma associação. 6 Nome genérico por que na alfândega são designadas diversas repartições. 7 As tábuas ou caixilho, sobre que assenta o pano do bilhar. 8 A parte da máquina de impressão onde se distribui a tinta. 9 Planura onde se empilha o barro, depois de amassado e posto em forma piramidal o bolo de que se faz a telha. 10 Leito do carro, onde se coloca a carga. 11 O bolo nos jogos de vasa. 12 Nas espingardas de percussão, a parte superior da chaminé, onde assenta a cápsula e bate a boca do cão, para produzir a explosão. 13Sessão de catimbó, de espiritismo. 14 Terra plana, coberta por um estrato mais resistente, que conserva o topo chato, porque aí a erosão é mais retardada que nos lados. M. da comunhão: grade ou altar para comunhão. M. da moenda:tábuas a par das gargantas, onde se colocam as canas-de-açúcar, nos engenhos.M. de cabeceira: pequeno móvel, junto da cama, sobre o qual se colocam os objetos de que se pode precisar durante a noite. M. de obragem: aquela em que os oficiais de uma arte trabalham e têm as suas ferramentas. M. de pé de galo: mesa pequena, com pé central e tripartido na base. M. de safra: a superfície plana da bigorna, sobre que se malham e amoldam metais. M. de trabalho, Inform: em certos tipos de computadores, arquivo do sistema utilizado para armazenar informações sobre todos os arquivos, como versão, data, dimensões, num só disco ou volume; arquivo de área. M.-redonda:reunião de pessoas que, em pé de igualdade, discutem ou deliberam sobre assuntos importantes. M. travessa: mesa em que tomam lugar, no topo dos refeitórios, as pessoas de mais distinção. À mesa: durante as refeições. Fazer mesa, Espir: presidir a sessão. Passar por baixo da mesa: a) chegar depois da refeição; b) perder tudo, no jogo de cartas.

4.2.3. Análise comparativa: verbete mesa

Na parte inicial do verbete, os dois dicionários apresentam a classe gramatical e a marcação etimológica da palavra. É possível observar várias acepções, mas não há datação alguma. A primeira acepção é iniciada por um hiperônimo e é representa o significado mais universalmente prototípico nas duas obras. Em ambos os dicionários, percebe-se que as acepções são ordenadas do uso mais comum para o menos comum.
Nos dois dicionários o aspecto fraseológico é abordado por meio de uma lista de expressões que têm a palavra 'mesa' como núcleo semântico. O Aurélio traz rubricas para marcar regionalismos, assunto, disciplina ou área do conhecimento em que a palavra é empregada. O Michaelis apresenta procedimento similar ao indicar a rubrica 'Inform', referente à informática, na unidade fraseológica 'mesa de trabalho'.
O trabalho lexicográfico desenvolvido em ambos os dicionários apresenta rigor satisfatório, entretanto, o Aurélio parece se preocupar mais com o aspecto ergonômico visual do verbete por separar cada um dos componentes microestruturais de forma mais clara do que o Michaelis. A escolha de cores diferentes e a apresentação das unidades fraseológicas separadas por um espaço, posteriormente às acepções evidencia a isso. Diferentemente do Michaelis, o Aurélio se preocupa em mostrar exemplos não apenas nas acepções, mas também nas unidades fraseológicas.

4.3. Verbete amarrado

4.3.1 Amarrado no Aurélio

amarrado
[Part. de amarrar.]
Adjetivo.
1.Preso, atado:
A gravura representava um escravo amarrado.
2.Preso com amarra (3).
3.Fig. Preso por obrigação ou promessa.
4.Diz-se do semblante carrancudo, fechado.
5.Fam. Comprometido (por ligação amorosa); noivo, casado ou amigado.
6.Bras. RS Sem desembaraço; acanhado, tímido, atado.
7.Bras. MG V. avaro (1). ~ V. cara —a e rabo-de-arraia —.
Substantivo masculino.
8.Bras. Mato enredado de cipós; cipoal.
9.Bras. Angu ou pirão seco, engrolado.
10.Bras. Embrulho ou volume atado.
11.Bras. Apanhado de coisas atadas (vassouras, flores, canas, ervas, etc.).
12.Bras. MG. V. avaro (3).

4.3.2 Amarrado no Michaelis

amarrado 
a.mar.ra.do 
adj (part de amarrar) 1 Ligado ou preso com amarra. 2 Seguro, fixo com corda, cordel, arame etc. 3 Atado, cingido com cordel: Pacote mal amarrado.4 Fundeado, atracado. 5 Diz-se da caça descoberta pelo cão, que para e nela fixa a vista até que o caçador se aproxime. 6 Aplica-se ao mato atravancado de cipós. 7 Diz-se do pirão ou angu que ficou muito seco ou engrolado por ter levado farinha ou fubá demais. 8 Ajustado, apostado, pactuado. 9 Hum Casado.10 Apreensivo, de feições carregadas, carrancudo. 11 Que sofreu a ação de amarrar, acepção 6. 12 Acanhado, sem desembaraço. sm 1 Embrulho, volume.2 Lenço atado pelas quatro pontas. 3 Coisas ligadas com amarra: Amarrado de vassouras.

4.3.3. Análise comparativa: verbete amarrado

A marcação de particípio aparece no início do verbete em ambos os casos. Esta palavra pode pertencer a duas categorias gramaticais, portanto, os dois dicionários separaram as acepções pela classe gramatical. Nos dois casos é possível observar numerosas acepções, mas não há datação alguma. Em ambos os dicionários, percebe-se que as acepções são ordenadas do uso mais comum para o menos comum.
O Aurélio dá especial atenção ao aspecto regionalista, fato que não fica tão claro no Michaelis quando, por exemplo, opta por não apresentar a acepção 'avaro', característica do estado brasileiro de Minas Gerais, de acordo com o Aurélio.
Nenhum dos dicionários proveu unidades fraseológicas com a palavra 'amarrado'. Apenas o Aurélio trouxe um exemplo de uso.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nos verbetes anteriormente analisados.

4.4. Verbete cacetinho

4.4.1. Cacetinho no Aurélio

cacetinho
[De cacete + -inho1.]
Substantivo masculino.
1.Bras. AL Biscoito que tem mais ou menos o tamanho e feitio de um dedo.

4.4.2. Cacetinho no Michaelis

cacetinho 
ca.ce.ti.nho 
sm (cacete+inho) 1 Diminutivo de cacete. 2 Reg (Alagoas) Biscoito em forma de dedo.

4.4.3. Análise comparativa: verbete cacetinho

A marcação de diminutivo aparece no início do verbete em ambos os casos, seguida pela classe gramatica.
Os dois dicionários apresentam o verbete como um regionalismo característico do estado brasileiro de Alagoas. O Aurélio trata a palavra com uma única acepção, ao passo que o Michaelis considera o diminutivo de 'cacete' uma acepção independente.
Nenhum dos dicionários proveu unidades fraseológicas com a palavra 'cacetinho' e tampouco exemplos de uso.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nos verbetes anteriormente analisados.
Apesar de extremamente simples, a apresentação desse verbete em ambos os dicionários parece eficaz ao consulente.

4.5. Verbete vermelho

4.5.1. Vermelho no Aurélio

vermelho1
(ê) [Do lat. vermiculu, 'pequeno vermezinho (a cochonilha)' (q. v.).]
Adjetivo.
1.Da cor do sangue, da papoula, do rubi.
2.Diz-se dessa cor:
manto de cor vermelha.
3.Afogueado, corado, rubro:
Ficou vermelho de cólera.
4.Diz-se das partes externas do corpo incidentalmente sujeitas a maior afluxo sanguíneo; congestionado:
olhos vermelhos.
5.Diz-se de cantiga ou anedota picante, obscena.
6.Pertencente ou relativo à ex-U. R.S. S.:
o exército vermelho.
7.P. ext. Fig. Comunista, marxista, ou socialista. ~ V. açafrão —, anã —a, bode —, cota —a, cruz —a, lama —a, latão —, mancha —a, naipes —s, planeta — e sinal —.
Substantivo masculino.
8.A cor vermelha [v. cor (3)].
9.Indivíduo vermelho1 (6 e 7).
10.Verniz de resina de sangue-de-drago e álcool.
11.Fís. No espectro visível (q. v.), a cor da radiação eletromagnética com os mais longos comprimentos de onda, situados, aproximadamente, entre 620 e 790 nanômetros.
12.Pop. Condição de prejuízo (de indivíduo, empresa, etc.):
estar no vermelho; sair do vermelho.

4.5.2. Vermelho no Michaelis

vermelho 
ver.me.lho 
adj (lat vermiculu) 1 Que tem cor encarnada muito viva; rubro. 2Revolucionário. 3 Que emprega palavras obscenas (canto). 4 Diz-se da raça dos índios da América. 5 Diz-se da cor da pele dos indivíduos dessa raça. sm 1 A cor encarnada viva. 2 Verniz composto de resina e sangue de frango dissolvidos em álcool. 3 Ictiol Peixe marinho da família dos Lutjanídeos (Lutjanus aya); acaraiá, acarapitanga, carapitanga, dentão. 4 Comunista. V. cereja: que tem a cor vermelha da cereja. V.-herinque, Ictiol: pexe marinho, da família dos Lutjanídeos (Lutjanus synagris); ariocó, caranho, caranho-verdadeiro. Estar no vermelho: estar em déficit. Fazer-se vermelho: corar de pejo, envergonhar-se.

4.5.3. Análise comparativa: verbete vermelho

O procedimento de marcação de classe gramatical é similar ao padrão descrito nos verbetes anteriormente analisados.
O Aurélio apresenta a primeira acepção do verbete 'vermelho' por meio de exemplos. O Michaelis, por sua vez, o faz por definição e sinônimo. Os dois dicionários apresentam unidades fraseológicas com a palavra 'vermelho', mas apenas o Aurélio traz exemplos.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nos verbetes anteriormente discutidos.
Percebe-se que a definição de uma cor configura especial desafio aos lexicógrafos, por isso evocam-se os exemplos e sinônimos nas acepções iniciais.

4.6. Verbete jabuticaba

4.6.1. Jabuticaba no Aurélio

jabuticaba
[Do tupi = 'frutas em botão'.]
Substantivo feminino.
1.Bras. O fruto da jabuticabeira. [Sin. pop. (em SP): fruita.]

4.6.2. Jabuticaba no Michaelis

jabuticaba 
ja.bu.ti.ca.ba 
sf (tupi iauotikáua) 1 Fruto da jabuticabeira. 2 O mesmo que jabuticabeira.3 Crioula nova e solteira. Sin pop (São Paulo e Minas Gerais): fruita. Var: jaboticaba.

4.6.3. Análise comparativa: verbete jabuticaba

O verbete 'jabuticaba' tem sua primeira acepção iniciada por um hiperônimo, parece adequado, pois dá ao usuário acesso direto ao campo semântico ao qual a palavra pertence.
A primeira acepção nos dois dicionários é exatamente a mesma. Entretanto, o Michaelis vai além, apresentando mais duas, ao passo que o Aurélio indica apenas uma. O Michaelis também marca uma forma variante (jaboticaba), fato que não aparece no Aurélio. O procedimento de marcação de classe gramatical é similar ao comentado nos verbetes anteriormente analisados.
Nas duas obras, a etimologia indica a língua de origem. O Aurélio trabalha com tradução ou equivalência em português, ao passo que o Michaelis indica a palavra na língua tupi.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nos verbetes anteriormente discutidos.

4.7. Verbete chuva
4.7.1. Chuva no Aurélio

chuva
[Do lat. pluvia.]
Substantivo feminino.
1.Precipitação atmosférica formada de gotas de água cujas dimensões variam entre 1 e 3mm, por efeito da condensação do vapor de água contido na atmosfera.
2.P. ext. Tudo o que cai ou parece cair como chuva (1):
"Das janelas e dos terraços cai uma chuva de flores" (Eugênio de Castro, Obras Poéticas, II, p. 179);
chuva de balas;
chuva de papel picado.
3.V. quantidade (3):
Crivou-o com uma chuva de perguntas.
4.Bras. V. bebedeira (1).
5.Guin. Ano de idade, de existência:
"Djena dezassete chuvas/ Djena uma vida por viver" (Tony Tcheka, Noites de Insónia na Terra Adormecida, p. 49).
Substantivo masculino.
6.Bras. Pop. V. ébrio (8).

Chuva ácida. 1. Met. Precipitação contaminada por elementos gasosos que poluem a atmosfera, como o dióxido de enxofre e o óxido de nitrogênio, provenientes dos combustíveis fósseis.
Chuva artificial. 1. Chuva resultante da projeção numa nuvem de substâncias, tais como o iodeto de prata e o cloreto de cálcio, capazes de promover a multiplicação de cristais de gelo ou a solidificação de gotas de água evaporadas.
Chuva ciclonal. 1. Tipo de chuva característico das áreas de baixa pressão, em virtude da constante ascensão das massas de ar.
Chuva de convecção. 1. Tipo de chuva oriunda do movimento ascendente diurno das massas de ar, freqüente na região equatorial e nas montanhas.
Chuva de estrelas. 1. Astr. V. chuva de meteoros.
Chuva de meteoros. 1. Astr. Conjunto dos meteoros que surgem no mesmo dia e parecem provir da mesma região do céu; corrente de meteoros, enxame de meteoros, chuva de estrelas.
Chuva de ouro. 1. Expl. V. chuva pirotécnica. [Cf. chuva-de-ouro.]
Chuva de pedra. 1. V. granizo (1).
Chuva de prata. 1. Expl. V. chuva pirotécnica.
Chuva de relevo. 1. Chuva típica das encostas das montanhas ou escarpas de planaltos, devida à mais baixa temperatura reinante nos trechos de maiores altitudes.
Chuva no roçado. 1. Bras. Negócio proveitoso, vantajoso.
Chuva pirotécnica. 1. Expl. Efeito, em dispositivos pirotécnicos, que produz chuveiros luminosos e contínuos, quer em peças adrede preparadas, quer como remate de foguetes; chuva de ouro, chuva de prata, chuva veneziana.
Chuva veneziana. 1. Expl. V. chuva pirotécnica.
Estar na chuva. 1. Bras. Pop. Estar embriagado.

4.7.2. Chuva no Michaelis

chuva 
chu.va 
sf (lat pluvia) 1 Meteor Vapor d'água, condensada na atmosfera, que se precipita sobre a terra em forma de gotas. 2 Água que cai das nuvens. 3 Tudo que cai do ar em abundância: Chuva de cinzas. 4 Abundância, ocorrência simultânea e sucessiva de muitas coisas: Chuva de pedidos. 5 Bebedeira, embriaguez. sm gír Indivíduo que se embriaga com frequência. C.-criadeira, Reg (Nordeste): chuva miúda e contínua. C. de caju ou c. de rama: chuvas que, no Norte do Brasil, caem em setembro e outubro e favorecem a maturescência dos cajus. C.-de-ouro, Bot: a) planta orquidácea (Oncidium flexuosum), também chamada de canafístula-verdadeira; b) planta ornamental, da família das Leguminosas, subfamília das Papilionáceas (Laburnum vulgare ou Cytisus laburnum). C. de pedra, Meteor:precipitação de granizo; saraiva, saraivada, granizada. C.-dos-imbus: o mesmo que camboeira. Estar na chuva: estar embriagado.

4.7.3. Análise comparativa: verbete chuva

As definições apresentadas por ambos os dicionários para o verbete 'chuva' são semelhantes. Entretanto, o Michaelis prioriza os itens da área da botânica um regionalismo. O Aurélio contém uma lista de unidades fraseológicas mais extensa, por outro lado. Nas duas obras, a etimologia indica a língua de origem, neste caso o latim.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nas análises anteriores.
Em análise mais detalhada, parece que a maior extensão da lista de unidades fraseológicas do Aurélio denota uma preocupação do corpo lexicográfico em tornar seu verbete mais completo.

4.8. Verbete vadiar

4.8.1. Vadiar no Aurélio

vadiar
[De vadio + -ar2.]
Verbo intransitivo.
1.V. vaguear1 (1 e 2).
2.Levar vida ociosa; viver na ociosidade; não trabalhar; vagabundear. [Sin., bras., S. (nesta acepç.): muquinhar.]
3.Não estudar; vagabundear, vagabundar.
4.Bras. Andar em pagodes; brincar, divertir-se.
5.Bras. N.E. Pop. Fornicar:
"— Vem aqui, Flor, vem deitar junto de mim, vamos vadiar um pinguinho." (Jorge Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos, p. 433.)
6.Bras. BA Dançar no candomblé de caboclo. [Pres. ind.: vadio, vadias, vadia, vadiamos, vadiais, vadiam. Cf. vadear, vadio, adj., e vadia, s. f.]

4.8.2. Vadiar no Michaelis

vadiar 
va.di.ar 
(vadio+ar2) vint 1 Andar ociosamente de uma parte para outra; andar à tuna:Vamos, deixemos de vadiar! vint 2 Levar vida ociosa, de vadio: Esse homem sempre vadiou. vint 3 Brincar, divertir-se: Quando crianças só cuidávamos de vadiar. vti 4 Reg e pop (Nordeste) Fornicar (aplica-se especialmente a mulheres de má fama, casadas ou solteiras): "Esse negócio de vadiar com mulher não quer dizer nada" (José Lins do Rego).

4.8.3. Análise comparativa: verbete vadiar

Tanto o Aurélio quanto o Michaelis marcam a nominalização que dá origem ao verbo 'vadiar' no início do verbete. Ambos os dicionários também trazem rubricas de regionalismo e registro, assim como exemplos.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nas análises anteriores retirados da literatura brasileira.
Apesar da acepção 5 do Aurélio e da 4 do Michaelis conterem definições pejorativas, nenhum dos dicionários apresentou rubrica a esse respeito.

4.9. Verbete bem

4.9.1. Bem no Aurélio

bem
[Do lat. bene.]
Substantivo masculino.
1.Ét. Qualidade atribuída a ações e a obras humanas que lhes confere um caráter moral. [Esta qualidade se anuncia através de fatores subjetivos (o sentimento de aprovação, o sentimento de dever) que levam à busca e à definição de um fundamento que os possa explicar. Cf. ética.]
2.Austeridade moral; virtude:
Tem uma disposição inata para o bem.
3.Felicidade; ventura:
Aconselhava-o para seu próprio bem;
"Se és feliz e o não sabes, tens na mão / O maior bem entre os mais bens terrenos" (Raul de Leoni, Luz Mediterrânea, p. 71).
4.Favor, benefício:
"Faze o bem sem olhar a quem" (prov.).
5.Utilidade, vantagem, proveito:
— Afinal, que bem lhe adveio com ação tão discutível?
6.Pessoa muito querida, amada:
"eu quero a rosa mais linda que houver, / quero a primeira estrela que vier, / para enfeitar a noite do meu bem." (Dolores Duran, no samba-canção A Noite do Meu Bem).
7.Econ. Mercadoria ou serviço que pode satisfazer uma necessidade humana. ~ V. bens.
Advérbio.
8.Muito; bastante:
"Marocas despediu todos os seus namorados, e creio que não perdeu pouco; tinha alguns capitalistas bem bons." (Machado de Assis, Histórias sem Data, p. 47);
Mesmo devagar, conseguiu ir bem longe.
9.Convenientemente:
Portou-se bem.
10.Com afeição:
A esposa trata-o bem.
11.Com saúde:
Após uma semana de repouso, estava bem.
12.Com perfeição; lindamente:
O flautista toca bem.
13.Acertadamente:
O júri decidiu bem.
14.Claramente, nitidamente, distintamente:
Dali se via bem.
15.Seguramente, certamente:
"Era bem meio-dia quando chegaram." (O. G. Rego de Carvalho, Somos Todos Inocentes, p. 103.)
16.Exatamente, precisamente:
O tiro foi bem no coração;
"Os olhos dela não eram bem negros, mas escuros" (Machado de Assis, Páginas Recolhidas, p. 83).
Pronome indefinido.
17.Muito; bastante:
"E com bem mágoa / Pedi a Deus / Um pingo de água / Dos olhos seus." (João de Deus, Campo de Flores, I, p. 16); "Bem vezes revoltavam-lhe a alma as indignidades de que era vítima" (José de Alencar, Senhora, p. 227); "A mão fina, ideal, calçada em luva clara, .... bem vezes, também, me alvoroça e agita o sangue." (Cruz e Sousa, Obra Completa, p. 407).
Adjetivo de dois gêneros e de dois números.
18.Pertencente à alta sociedade:
É uma moça bem;
"Ter brasão era ser nobre. Era ser gente bem." (P.e Antônio Vieira, Sertão Brabo, p. 16).

Bem como. 1. Assim como; da mesma forma que:
Naquele dia, bem como nos seguintes, esteve mal.
Bem comum. 1. Conjunto de condições sociais que possibilitam a felicidade coletiva.
Bem cultural. 1. Bem, material ou não, significativo como produto e testemunho de tradição artística e/ou histórica, ou como manifestação da dinâmica cultural de um povo ou de uma região. [Podem-se considerar como bens culturais obras arquitetônicas, ou plásticas, ou literárias, ou musicais, conjuntos urbanos, sítios arqueológicos, manifestações folclóricas, etc.]
Bem de capital. 1. Econ. Bem de produção (máquinas e equipamentos, mas não matérias-primas) não consumido no processo produtivo.
Bem de consumo. 1. Econ. Bem econômico que se destina ao consumo individual (como alimentos, roupas, eletrodomésticos).
Bem de consumo durável. 1. Econ. Bem de consumo que é us. durante certo período de tempo (como um automóvel ou um eletrodoméstico).
Bem de consumo não-durável. 1. Econ. Bem de consumo que é gasto no ato do consumo (como alimentos).
Bem de família. 1. Prédio destinado por chefes de família para domicílio desta, e que está isento de execução por dívidas (salvo as fiscais a ele referentes) no decorrer da vida dos cônjuges e até a maioridade dos filhos.
Bem de produção. 1. Econ. Bem econômico que se destina a produzir outros bens (como máquinas e matérias-primas de uma fábrica).
Bem de salário. 1. Econ. Bem de consumo típico do dispêndio de um trabalhador assalariado.
Bem econômico. 1. Econ. Bem escasso, em geral produzido com esforço humano, e que é objeto de compra e venda.
Bem feito. 1. Interj. de aplauso us. ironicamente; exprime satisfação por algo de mau ocorrido a outrem:
Bem feito! Todos te avisaram para não correr. [Cf. bem-feito.]
Bem integrado. 1. Arquit. Art. Plást. Elemento artístico que, por sua natureza, se integra à obra arquitetônica, não devendo, portanto, ser desmembrado desta (p. ex., a pia batismal de uma igreja; retábulos; pinturas murais e de forro, lápides tumulares ou comemorativas).
Bem intermediário. 1. Econ. Bem manufaturado us. na produção de outros bens.
Bem livre. 1. Econ. Bem disponível sem custo, como o ar que se respira.
Bem natural. 1. Obra da natureza, de excepcional valor do ponto de vista estético e/ou científico. [Podem-se considerar como bens naturais as formações físicas, ou biológicas, ou geológicas, ou o hábitat de espécies animais e/ou vegetais ameaçadas, etc.: p. ex., a serra do Mar, tombada em SP como tal.]
Bem público. 1. Econ. Bem econômico consumido e custeado de forma coletiva (como os serviços da polícia e do sistema judiciário).
Bem que. 1. Ainda que; posto que; se bem que:
"tenho visto que a audácia acaba muitas vezes por dar na cabeça, bem que em alguns casos seja uma virtude preciosa." (Machado de Assis, Crônicas, I, p. 118).
A bem da verdade. 1. Para não faltar à verdade; por respeito a ela.
De bem com. 1. Em relações amistosas com:
F. está de bem com o Paulo.
Falar bem de. 1. Falar favoravelmente de; elogiar.
Nem bem. 1. Logo que, assim que; mal:
"Nem bem as primeiras árvores começaram a ser podadas, levantou-se um agudo protesto popular, que os jornais apoiaram." (Maria Julieta Drummond de Andrade, O Valor da Vida, p. 68.)
Querer bem a. 1. Ter afeição a; gostar de; amar.
Se bem que. 1. V. bem que.

4.9.2. Bem no Michaelis

bem1
bem1
sm (lat bene) 1 Tudo o que é bom ou conforme à moral. 2 Benefício. 3 Virtude.4 Pessoa amada. 5 Proveito, utilidade. 6 Propriedade, domínio. Bem de família: prédio que o chefe de família destina a domicílio desta, enquanto viverem os cônjuges e até que os filhos completem sua maioridade, com a cláusula de ficar isento de execução por dívidas, salvo as que provierem de impostos relativos ao mesmo imóvel.
bem2
bem2
adv (lat bene) 1 De modo bom e conveniente. 2 Assaz, extremamente, muito.3 Com afeição. 4 Com saúde. 5 Com certeza, quase com certeza. Bem como:assim como, do mesmo modo que. Bem entendido: certamente, sem dúvida.Bem entendido que: com a condição de que, decerto que.


4.9.3. Análise comparativa: verbete bem

O dicionário Aurélio considerou a palavra 'bem' polissêmica, reservando a ela apenas uma entrada contendo uma parte destinada a seu papel como substantivo masculino, e outra a seu uso como advérbio. O dicionário Michaelis, por sua vez, considerou a palavra 'bem' um caso de homonímia, destinando a ela duas entradas distintas.
A etimologia latina é marcada no início dos dois verbetes. As definições do Aurélio para 'bem' como substantivo masculino sempre trazem consigo um exemplo, fato que não é observado no Michaelis. Este, por sua vez, se fundamenta na sinonímia para tecer suas definições e traz uma unidade fraseológica entre elas.
Os dois dicionários analisam o lexema também como advérbio, mas apenas o Aurélio o apresenta como pronome indefinido e adjetivo de dois gêneros e dois números. Essa característica do Aurélio pode ser útil a usuários que necessitem uma visão mais detalhada acerca desta palavra, especialmente no que se refere ao uso, devido a sua abundância de exemplos.
A fraseologia também é visivelmente mais explorada no Aurélio do que no Michaelis.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nas análises anteriores.
Colocando os dois dicionários em perspectiva, constatamos um forte contraste metodológico na prática lexicográfica de seus editores. O Aurélio evidencia a preocupação em ser completo, ainda que possa parecer repetitivo em alguns momentos, enquanto o Michaelis busca prezar pela concisão.

4.10. Verbete onde

4.10.1. Onde no Aurélio

onde
[Do lat. unde, 'donde'.]
Advérbio.
1.Em que lugar; no qual lugar.
2.Bras. N.E. Prov. port. Quando, enquanto.
Pronome.
3.Em que:
Gosto da casa onde moro. [Cf. aonde.]

Onde quer que. 1. Em qualquer lugar onde.
De onde. 1. De que lugar; do lugar em que.
De onde a onde. 1. De tempos a tempos; de onde em onde:
"na rua, havia o silêncio das horas mortas: somente, de onde a onde, se ouviam os tamancos de algum raro noctívago, batendo no lajedo da calçada" (Antero de Figueiredo, Jornadas em Portugal, p. 291).
De onde em onde. 1. V. de quando em quando:
"De onde em onde ia de férias a Lourenço Marques." (Antônio Silva Graça, A Viagem ao Fim da História, p. 107.) 2. Aqui e ali:
De onde em onde via-se o campo queimado.
Por onde. 1. Pelo qual lugar; pelo lugar em que.

4.10.2. Onde no Michaelis

onde 
on.de 
adv (lat unde) 1 Em que lugar, no lugar em que, em qual lugar. 2 Usa-se interrogativamente para exprimir: em que parte? em que sítio? em que lugar?: Onde está a felicidade?. 3 Emprega-se algumas vezes com antecedente elíptico: Cada qual vai por onde quer. De onde a onde ou de onde em onde: aqui e ali; de espaço a espaço; de tempos a tempos. O. o diabo perdeu as botas: em lugar remoto ou desconhecido. O. quer que: em qualquer lugar em que, em qualquer parte em que. pron Em que.

4.10.3. Análise comparativa: verbete onde

A etimologia latina é marcada no início dos dois verbetes. As definições do Aurélio e do Michaelis para 'onde' passam pelas categorias gramaticais do advérbio e do pronome.
As definições, entretanto, diferem no que se refere às alusões à gramática da língua portuguesa. A acepção 3 do Michaelis, por exemplo, menciona um uso como antecedente elíptico. Apesar de ele não ter clareza quanto ao seu público alvo, usuários menos atentos poderão encontrar obstáculos nesta acepção. O Aurélio, por outro lado, apresenta definições demasiadamente simplistas, baseadas apenas em sinônimos. Ele deixa a cargo ados exemplos presentes na parte fraseológica parte da explicação que teria sido melhor acomodada junto às acepções.
Mais uma vez, a fraseologia é mais explorada no Aurélio do que no Michaelis.
A apresentação visual dos verbetes segue os mesmos padrões mencionados nas análises anteriores no que se refere ao espaçamento e ao uso de cores diferentes para marcar os componentes microestruturais no Aurélio, ao passo que o Michaelis traz todo seu conteúdo em preto, com exceção da cabeça do verbete, que se apresenta em azul.
Mais uma vez constatamos que o Aurélio busca ser completo, ainda que possa parecer repetitivo em alguns momentos, enquanto o Michaelis prioriza a concisão em seus verbetes.

Considerações finais

A análise apresentada representa uma observação do ponto de vista lexicográfico dos aspectos metodológicos envolvidos na construção dos dicionários para uso geral Aurélio e Michaelis. Apesar de as duas obras terem perfis semelhantes, concentramos as considerações finais nos contrastes percebidos.
O fato que mais chamou atenção foi o de que o Michaelis, apesar de não sofrer imposições de limitação de espaço comuns a dicionários em suporte impresso, preza, na maior parte das vezes, pela concisão em suas definições. Isso fica muito visível no que se refere a sua pouca quantidade de unidades fraseológicas e exemplos em relação ao Aurélio.
O dicionário Aurélio, por sua vez, deixa transparecer uma preocupação em ser mais completo. Essa característica fica marcada pela quantidade notadamente maior unidades fraseológicas e exemplos que traz. Isso também evidencia um cuidado mais elevado em relação ao caráter pragmático de suas entradas.
Constata-se que os dois dicionários, apesar de se prestarem à mesma tarefa, apresentam características bem distintas, e que a escolha entre um ou o outro deve ser pautada pelo objetivo do usuário.

Referências

FERREIRA, A. B. H. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. Curitiba: Editora Positivo, 2004. Versão 5.0. CD-ROM.

FORNARI, M. K. Concepção e desenho do Front Matter do dicionário de falsos amigos espanhol-português. Voz das Letras. Concórdia, n. 9, s-p, 2008.

MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: . Acesso em: 2 nov. 2015.

MIRANDA, F. B.; BORBA, L. C. Análise de cinco dicionários semasiológicos de língua espanhola: a correlação entre o Front Matter e a Macro e Microestrutura. Extensio: Revista Eletrônica de Extensão, v. 9, n. 14, p. 32-43, 2013.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.