Análise da competitividade das exportações gaúchas de carne de frango: 1997 - 2011

June 28, 2017 | Autor: Nilson Luiz Costa | Categoria: Agribusiness, Competitiveness (Economics), Agricultural Economics
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ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DAS EXPORTAÇÕES GAÚCHAS DE CARNE DE FRANGO: 1997 - 2011 ANALYSIS OF THE COMPETITIVENESS OF CHICKEN MEAT EXPORTS FROM RIO GRANDE DO SUL/BRAZIL: 1997 - 2011 Autor(es): Lauana Rossetto LAZARETTI¹; Nilson Luiz COSTA¹; Antônio Cordeiro de SANTANA²; Antônio Joreci FLORES¹; Luciane Dittgen MIRITZ¹. Filiação: ¹Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); ²Universidade Federal Rural da Amazônia. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] Grupo de Pesquisa: GRUPO 3. COMÉRCIO INTERNACIONAL Resumo Nos últimos anos o mundo presenciou uma demanda crescente por proteínas de origem animal. Esta demanda contribuiu para o a ampliação de diversas cadeias produtivas em muitas regiões. Neste contexto, a cadeia produtiva de frangos de corte, presente no estado do Rio Grande do Sul, passou a ser uma das principais do agronegócio gaúcho e contribuir significativamente para a geração de empregos, renda e divisas internacionais. Em função disto, o objetivo da presente pesquisa foi analisar os níveis de competitividade do segmento de exportação de carne de frango do Rio Grande do Sul, uma vez que esta é uma das condições para a consolidação e ampliação do espaço que a cadeia ocupa atualmente. Calculou-se o Índice de Vantagem Comparativa Reveladas (IVCR), apresentado por Balassa (1965) e a partir dele analisou-se a estrutura das exportações de carne de frango, originadas no Rio Grande do Sul, no período 1997 – 2011. Confirmou-se a hipótese de que as exportações gaúchas são competitivas. Palavras-chave: Competitividade, Cadeia Produtiva de Frangos de Corte, Rio Grande do Sul Abstract In recent years the world has witnessed an increasing demand for animal protein. This demand contributed to the the expansion of various production chains in many regions. In this context, the production chain of broilers, present in the state of Rio Grande do Sul contribute significantly to the generation of jobs, income and international currencies. Because of this, the objective of this study was to analyze the levels of competitiveness of the export segment of chicken meat from Rio Grande do Sul. We calculated the Revealed Comparative Advantage (RCA), presented by Balassa (1965) and from it analyzed the structure of exports of chicken meat, originating in Rio Grande do Sul, in the period 1997 - 2011. It has been confirmed the hypothesis is that competitive Gaucho export. Keywords: Competitiveness, Supply Chain Broiler, Rio Grande do Sul/Brazil

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1. Introdução A crescente demanda por proteínas de origem animal em geral e de carne de frango em específico, resultou no fomento às atividades desenvolvidas ao longo de diversas cadeias produtivas de carne, ovos, leite, entre outros. A cadeia produtiva de frangos de corte é constituída por uma sequência de atividades que iniciam na produção de insumos para o avicultor, passam pelo processamento/preparação de produtos e chegam até o consumidor. Neste contexto, destaca-se a amplitude e importância econômica da atividade que está sendo desenvolvida na indústria de equipamentos, genética, medicamentos, transportes e rações, pois são elas quem ofertam os principais insumos para os avicultores, que podem ser independentes ou produzir em regime de integração. Os frigoríficos e abatedouros estão em uma posição destacada nesta cadeia, posicionados entre os avicultores e o mercado varejista doméstico e internacional, composto por grandes redes de supermercados, pelo pequeno varejo, açougue, avícolas, filiais de empresas brasileiras no exterior, tradings, entre outros. O mercado varejista se constitui como o principal canal de comercialização e é responsável por fazer chegar os produtos até os consumidores finais, sejam eles brasileiros ou estrangeiros. Os principais produtos desta cadeia são partes de frangos com e sem ossos, frangos inteiros com e sem miúdos, congelados ou refrigerados, elaborados temperados, empanados, reestruturados, grelhados, embutidos e cozidos em geral. Observa-se, portanto, que o portfólio de produtos é amplo e tem apelo mercadológico, mas as organizações deste segmento devem ser competitivas, dada a grande concorrência de mercados mais maduros, como o dos Estados Unidos. Diante disto, o problema da presente pesquisa é identificar se as exportações de carne de frango originadas no estado Rio Grande do Sul são competitivas quando comparadas com as exportações de outros países. O objetivo geral deste estudo é analisar a evolução competitiva desta que é uma das principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro e destina cerca de 31,6% da produção para o mercado externo (UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA, 2015). Para tanto, analisar-se-ão elementos de produção e competitividade da cadeia produtiva de frangos de corte no Brasil e Rio Grande do Sul, bem como a importância do Brasil no contexto de produção de carne de frango em nível internacional. Em geral, a competitividade é abordada de forma tradicional e está atrelada aos preços, custos, câmbio e eficiência econômica. Contudo, esta visão vem sendo questionada, principalmente por teóricos como Porter (1998, 1999), Henderson (1998), Ghemawat (1998) e Santana (2003), que consideram estas questões importantes, mas não suficientes para determinar conjunturas competitivas. A abordagem da competitividade sistêmica pode ser atribuída aos estudos desenvolvidos pela OCDE (1992), Esser et al. (1999) e Coutinho e Ferraz (1994), em um esforço pela ampliação das abordagens tradicionais, limitados por teorias que incluem poucas variáveis e em modelos limitados por poucas informações. Para Santana (2003), alguns elementos podem distinguir o conceito de competitividade sistêmica, a começar pela separação

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do conjunto de fatores que explicam a competitividade em quatro níveis analíticos: metanível, mesonível, macronível e micronível. No metanível posicionam-se os fatores socioculturais, padrões políticos, tecnológicos, a organização e governança de cadeias. O mesonível, composto pela política educacional, tecnológica, de infraestrutura industrial, ambiental e de desenvolvimento. Não menos importante, as políticas orçamentária, monetária, fiscal, comercial e cambial, que compõe o macronível, podem resultar em ganhos ou perdas competitivas para as atividades econômicas ao longo da cadeia produtiva de frangos de corte. O micronível contempla os elementos que estão sob o domínio das firmas e unidades de produção, pois agregam um conjunto de atributos que iniciam com a capacidade gerencial dos empresários, a formação de estratégias para os negócios, as políticas internas de fomento à inovação e processos de gestão, desenvolvimento, produção e marketing. Portanto, este conjunto de elementos influencia diretamente no ambiente econômico e condicionam os níveis de competitividade das organizações do setor (Figura 1). Figura 1. Cadeia Produtiva do Frango e Condicionantes da Competitivividade Internacional

Fonte: Elaboração própria, com base em Streeter et al. (1991), Canever et al. (1997) e Santana (2003).

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Analogamente, outro diferencial do conceito de competitividade sistêmica é a associação entre os elementos de inovação e de sociologia industrial, em que os estudos dos padrões de governança nas complexas redes de interconexões procuram entender o processo de formação de alianças que resultam em externalidades para os ambientes: econômico, social e institucional. Isto posto, o artigo está dividido em 5 seções, sendo a primeira está introdução, na segunda serão abordados os aspectos metodológicos, na terceira seção será explanado o referencial teórico, na quarta seção serão expostos os resultados e discussões e a última seção, compreende a conclusão do trabalho. 2. Material e Métodos A presente pesquisa pode ser classificada, do ponto de vista de sua natureza, como uma pesquisa aplicada, pois se constitui a partir de uma aplicação prática dirigida à solução do problema proposto. Quanto à forma de abordagem, a pesquisa é quantitativa e envolve o uso de técnicas matemáticas para a análise e interpretação de dados. O índice proposto para o trabalho foi apresentado por Balassa (1965) em estudo que buscou analisar os possíveis efeitos da liberalização comercial no balanço de pagamento de países participantes de negociações internacionais, a partir de comparações de dados oriundos de exportações. Para Coronel (2014), que também desenvolveu análise com esta metodologia, o Índice de Vantagens Comparativas Reveladas (IVCR) permite analisar a estrutura das exportações durante longos períodos e pode ser calculado através da equação 1. 𝑋𝑖𝑗 𝑋𝑖 𝐼𝑉𝐶𝑅 = 𝑋𝑤𝑗 𝑋𝑤

(1)

Onde: 𝑋𝑖𝑗 = valor das exportações de carne de frango do Rio Grande do Sul (em US$), NCM 02071100 - Carnes de galos/galinhas, não cortadas em pedaços, frescas/refrigeradas; 02071200 - Carnes de galos/galinhas, não cortadas em pedaços, congeladas; 02071300 - Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/galinhas, frescos/refrigerados e; 02071400 - Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/galinhas, congelados; 𝑋𝑖 = valor total das exportações do Rio Grande do Sul (em US$); 𝑋𝑤𝑗 = valor das exportações mundiais de carne de frango (em US$); 𝑋𝑤 = valor das exportações mundiais totais (em US$); i = exportações brasileiras; w = exportações mundiais; j = carne de frango. O IVCR tende a variar de zero ao infinito e para todo IVCR > 1 tem-se a constatação da existência de vantagem comparativa, ao passo que para todo IVCR < 1 o indicativo é de desvantagem comparativa. João Pessoa - PB, 26 a 29 de julho de 2015 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

Os dados utilizados estão disponíveis em MDIC (2015) e FAO (2015). A Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) utilizada foi 02071200 Carne de Galo/Galinha, não cortada em pedaços, congelada. O índice foi calculado para o período 1997 – 2011. Os dados utilizados na equação foram extraídos do Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (AliceWeb), vinculado a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (MDIC), entre os anos de 1997 à 2011. Os dados foram extraídos em dólares Estadunidenses. Subsequentemente.

3. Resultados e Discussões A cadeia produtiva de frangos de corte começou a se desenvolver a partir dos investimentos realizados na Região Sudeste e estendeu-se para a Região Sul logo em seguida. Atualmente, a região Sul do Brasil é a responsável pela maior parte da produção brasileira de frangos. Destaca-se, neste contexto, que entre 1990 e 2013 a produção brasileira cresceu 129% (IBGE, 2015) e no período compreendido entre 1991 e 2010 o Brasil aumentou sua representatividade de 5,4% para 6,2% do total mundial (FAOStat, 2014). Dadas às condições da competitividade, observa-se que o Brasil vem aumentando a produção e ganhando espaço neste segmento, conforme é possível observar na Figura 2.

0,064 0,062 0,06 0,058

5,4%

0,056 0,054 0,052

50

0,05 0

0,048

Anos

Fonte: Elaboração própria, com base em FAOstat (2014).

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Participação do Brasil

6,2%

6,3%

6,1% 5,7%

5,8%

5,6%

5,7%

5,7%

5,9%

5,9%

5,9%

5,6% 5,4%

5,4%

100

5,6%

150

5,5%

5,9%

200

5,4%

Estoque de Frangos (em 100.000.000 un)

250

6,3%

Figura 2. Produção mundial e brasileira de frangos: 1991 - 2010

A competitividade é resultado de um conjunto de fatores, entre os quais, a modernização pela qual passaram os aviários e os distintos segmentos que fornecem insumos para os avicultores, em especial, equipamentos, medicamentos e melhoramento genético dos pintos, através de um processo de seleção dos indivíduos com maior aptidão para a produção de carne. Estas condições tornaram o Brasil, ainda no ano de 2004, o maior exportador mundial de carne de Frango (FAO, 2014) e um dos principais concorrentes dos Estados Unidos, no que se refere à quantidade exportada de carne de frango. O desempenho brasileiro pode ser atribuído ao esforço realizado nos estados, em especial, nos principais produtores: Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais (Figura 3).

300

276

1990

250

1995

2000

2005

2010

2013

216

200 149

149

153 79

28

28 23

7

14

25

50

30 18

39

55

67

92

94 73

100

119

150

61

Milhões de cabeças

Figura 3. Produção brasileira de galináceos: 1990 - 2013

0

Fonte: IBGE(2014).

Atualmente, o maior destaque do setor é Paraná, que passou de 73 para 276 milhões de cabeças e os estados da região Centro-Oeste, principalmente Goiás e Mato Grosso, que criaram condições para o desenvolvimento desta atividade, seja pela redução de custos dos principais insumos utilizados na produção de ração (soja e milho) ou pelo modelo de alta tecnologia e larga escala adotado no sistema de integração entre a agroindústria e os avicultores. No Rio Grande do Sul, entre 1990 e 2013, a produção cresceu 90%, passando de 79 para 149 milhões de cabeças, mas entre 2010 e 2013 a produção ficou estagnada. Atualmente, as microrregiões Lajeado-Estrela, Passo Fundo, Caxias do Sul, Guaporé e Montenegro são responsáveis por mais de 75% da produção gaúcha (Figura 4). Porém, um revés de queda pode ser identificado em Lajeado-Estrela, Caxias do Sul e Guaporé, principalmente em função do

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aumento nos preços da soja, do farelo de soja, do milho e da redução de crédito (UBABEF, 2012).

60

1990

1995

2000

2005

2010

2013

50 40

12 2

2 0

3 2

2

6

6

10

11 3

5

4

10

7

10

15

20

16

24

30

25

31

32

Milhões de cabeças

Figura 4. Produção gaúcha de galináceos, por microrregiões: 1990 – 2013

0

Fonte: IBGE(2014).

É neste contexto de intensa expansão da cadeia produtiva de frangos de corte no estado do Rio Grande do Sul que identifica-se seu diferencial competitivo no mercado, tanto doméstico como internacional. Entre os anos 1997 – 2011, as exportações de carne de frango do Rio Grande do Sul evoluíram de US$ 219,8 milhões para US$ 1.278,5 milhões, o que representou um crescimento de 481%. No mesmo período, as exportações totais do Rio Grande do Sul cresceram 210%, as exportações mundiais de carne de frango aumentaram 221% e as exportações mundiais totais 228%. O desempenho do segmento, no Rio Grande do Sul, permitiu que as exportações de carne de frango aumentassem sua participação relativa, em relação ao total estadual, de 4% em 1997 para 7% em 2014 (Figura 5).

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Figura 5. Exportações Brasileiras e Gaúchas de carne de frango para a Arábia Saudita: 1997 – 2014 Exp. Carne de Frango RS

Exportações Totais RS

Part. %

Linear (Part. %)

25.000

0,09 8% 7%

20.000 6% 5%

15.000

6% 6%

5%

4%

3%

0,08 7%

0,07

6% 0,06 0,05

4% 10.000

7%

Part. % RS

Exportações (em US$ Milhões)

8%

0,04

3%

0,03 0,02

5.000

0,01 0

0

Anos

Fonte: Elaboração própria com base em MDIC (2015).

Por outro lado, existe um movimento de expansão desta cadeia para outras regiões, em especial o Centro-Oeste, onde o custo dos principais insumos (soja e milho para produção de ração) tende a serem inferiores. Para Lazzari (2004), a expansão da produção de grãos para a região Centro-Oeste a dotou de competitividade para as cadeias de carnes, em especial, de frango, uma vez que nestes locais as empresas podem obter economia considerável de custos e trabalhar com perspectiva de produção em larga escala. Junto com os novos investimentos em plantas mais atualizadas, as integradoras da Região Centro-Oeste adotam um novo modelo de integração com os produtores. O diagnóstico é de que o padrão tradicional de pequenos módulos baseados na propriedade familiar, na Região Sul, constitui obstáculo à adoção de tecnologias mais modernas e produtivas. Sendo assim, esse novo modelo baseia-se em poucos produtores de maior capacidade financeira, visando a economias de escala. A ideia básica é a construção de uma rede de suprimento de matéria-prima (frango vivo) a partir de um número reduzido de integrados, mas com grande capacidade de alojamento (LAZZARI, 2004. p. 279).

O resultado desta expansão já pode ser percebido também pela participação percentual dos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás na indústria de abate de frangos no ano de 2013, que chegou a 15% do total nacional. Por outro lado, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas ainda detêm 81% do Market share dos abates de frangos no Brasil (Figura 6).

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Figura 6. Abate de frangos nos estados brasileiros em 2013. Distrito Federal Outros 2%

Outros 3%

Mato Grosso do sul 3% Mato Grosso 5%

Paraná 31%

Goiás 7% Minas Gerais 7% São Paulo 11%

Santa Catarina 17%

Rio Grande do Sul 14%

Fonte: União Brasileira de Avicultura (2015).

De modo geral, é possível afirmar que não existe grande distinção no nível tecnológico das agroindústrias estabelecidas nas principais regiões produtoras do país (CUNHA, 2014). As principais exportadoras gaúchas do segmento, Agrodanieli Ind. e Comércio Ltda., Agrosul Agroavícola Industrial S/A., Brasil Foods S.A., Carrer Alimentos Ltda., Companhia Minuano de Alimentos, Cooperativa Languiru Ltda., Frigorifico Nicolini Ltda., JBS S/A. e Mais Frango Miraguaí Ltda. possuem plantas competitivas e autorizadas a operar no mercado internacional pelos órgãos competentes brasileiros. Neste contexto, o Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR) calculado para o período 1997 à 2011 representa o desempenho conjunto dos exportadores gaúchos para o mercado foco e os produtos selecionados. Após o cálculo da equação 1, identificou-se que as organizações atuantes no Rio Grande do Sul possuem vantagem competitiva nas exportações de carne de frango. Observa-se que para todo IVCR maior do que 1 (um) existe vantagem competitiva revelada. Para o período analisado, a média do IVCR das exportações de carne de frango foi 52,23, o valor mínimo foi 27,27 e o valor máximo chegou a 77,46. Portanto, mesmo considerando uma pequena queda no desempenho após 2005as exportações gaúchas ainda são muito competitivas (Figura 7).

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30

54,65

64,58

63,65

59,99

52,25

42,60 32,39

34,92

40

27,27

50

28,51

IVCR

60

50,83

70

55,77

68,09

80

70,55

90

77,46

Figura 7. IVCR das Exportações de carne de frango do Rio Grande do Sul: 1997 - 2011

20 10 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Anos

Fonte: Elaboração própria com base em MDIC(2015).

Esta vantagem pode ser atribuída às transformações e modernização vivenciada pelo setor nas últimas décadas, principalmente em âmbito organizacional e tecnológico, que resultou em maior eficiência econômica e consolidou o Rio Grande do Sul como um dos maiores produtores nacionais. Estes resultados estão de acordo com Canever et. al (1997), Carletti Filho (2005) e Cunha (2014). Na perspectiva analítica da competitividade sistêmica, desenvolvida pela OCDE (1992), trabalhada por Esser et al. (1999), adaptada à análise da indústria brasileira por Coutinho e Ferraz (1994) e descrita por Santana (2003), que separa o conjunto de fatores que explicam a competitividade em quatro níveis analíticos (metanível, mesonível, macronível e micronível) é possível observar que: a. A cultura de produção de alimentos que existe no Rio Grande do Sul desde o período de sua colonização, a estabilidade política brasileira, os avanços tecnológicos e a adaptação das práticas de manejo no segmento de avicultura e ao longo de toda a cadeia produtiva de frangos de corte e a governança exercida pela agroindústria contribuem para o bom desempenho do setor e tornam o metanível um dos pontos fortes da cadeia. b. As defasagens relativas no ambiente educacional como um todo, quando comparadas com as nações desenvolvidas e também nas políticas estatais de desenvolvimento tecnológico podem não se constituir como limitadores para a cadeia, mas não contribuem para a competitividade da mesma. A infraestrutura e logística, apesar de contar predominantemente com o modal rodoviário, dispõem de portos competitivos e rotas de comércio, o que se traduz como um aspecto que diferencia o estado dos demais, sobretudo do Centro-Oeste. A legislação ambiental não é um fator que impede a avicultura. Em função disso, o mesonível analítico João Pessoa - PB, 26 a 29 de julho de 2015 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

contam com elementos que favorecem a competitividade do setor e com outros que devem ser melhorados, sobretudo se o desejo é construir relações econômicas sustentadas ao longo dos anos. c. No cenário atual (primeiro semestre de 2015), as políticas econômicas estão caracterizadas pelo viés restricionista. Nos últimos anos, a política cambial não contribuiu para a competitividade, principalmente porque o Real mostrou-se sobrevalorizado por muitos períodos. A política fiscal, voltada à desoneração das exportações favoreceu o setor e a comercial, centrada na promoção de produtos brasileiros no exterior e na constante busca pela abertura de novos mercados foi um elemento importante. Por isso, o macronível também conta com elementos importantes e que podem explicar parte da conjuntura competitiva da cadeia produtiva de frangos de corte. d. O elevado grau de profissionalização das organizações exportadoras de carne de frango, aliado à capacidade gerencial dos empresários e o sucesso na formulação de estratégias comerciais é um dos principais elementos da competitividade da cadeia produtiva de frangos de corte. Do mesmo modo, a adoção de novas tecnologias e o desenvolvimento de novos produtos e processos é um dos destaques do micronível. Em função disso, o micronível contribuiu fortemente para o ambiente competitivo do setor. Portanto, a associação entre os elementos gerenciais, de mercado, de inovação e os aspectos que envolvem a cultura, as políticas e a aptidão do estado do Rio Grande do Sul criaram um ambiente capaz de resultar na conquista de mercados importantes e, sobretudo, no diferencial competitivo local. Mesmo assim, a cadeia produtiva deve ser estimulada e em função de sua capacidade de agregação de renda no campo, a formulação de arranjos produtivos deve considerar o potencial da agricultura familiar também. O Sistema de Integração, largamente difundido e presente na cadeia produtiva em análise, permite apoio aos avicultores familiares e possibilidades de ganho para a agroindústria, principalmente em um cenário onde os apelos social e ambiental tende a paulatinamente ser utilizado na decisão de compra dos consumidores finais. 4. Considerações Finais O estudo apresentou uma análise dos níveis de competitividade das exportações gaúchas de carne de frango. Buscou-se mensurar a competitividade através do Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR), calculado a partir das séries históricas do período 1997 2011. Os resultados indicam a existência de vantagem competitiva das exportações gaúchas e atribuem esta aos fatores presentes nos meta, meso, macro e microníveis analíticos da teoria da competitividade sistêmica. Dito isto, a resposta para o problema de pesquisa é sim, as organizações estabelecidas no Rio Grande do Sul estão mostrando Vantagem Comparativa Revelada em suas exportações para o mercado internacional. Em função deste desempenho, é possível afirmar que o setor está preparado para ampliar ainda mais a sua participação neste que é um dos principais mercados do ramo de alimentação humana.

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