Análise da obra cinematográfica \"Barry Lyndon\" frente a Teoria Marxista

July 6, 2017 | Autor: T. Oliveira Januário | Categoria: Marxism, Barry Lyndon
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS MESTRADO EM DIREITO, RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DESENVOLVIMENTO TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS PROFESSOR MATHEUS HOFFMANN PFRIMER DISCENTE THALES OLIVEIRA JANUÁRIO

ANÁLISE DA OBRA CINEMATOGRÁFICA “BARRY LYNDON” FRENTE A TEORIA MARXISTA

GOIÂNIA 2014

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“Barry Lyndon” é uma obra cinematográfica lançada em 1975, conta com direção e roteiro do renomado cineasta Stanley Kubrick. É baseado na obra literária “The Luck of Barry Lyndon” de autoria de William Makepeace Thackeray, originalmente lançada em 1844. Em 1976, na 48º Premiação Anual da Academia, a obra foi indicada ao Óscar em sete categorias tendo vencido em quatro delas. Todavia, apesar do grande sucesso de crítica, é uma obra comercialmente pouco exitosa, ainda mais em comparação às demais obras de Stanley Kubrick. A narrativa se passa em meados do século XVIII, mais especificamente no período compreendido durante o reinado de Jorge III do Reino Unido sob a GrãBretanha e a Irlanda. O filme conta parte da história de vida do personagem principal, Redmont Barry, é um jovem irlandês criado tão somente por sua mãe, Belle, uma vez que seu pai, então promissor advogado, foi morto baleado em um duelo. Inicialmente, Redmont Barry se apaixona por Nora Brady, sua prima, que apesar de comprometida com um Capitão do Exército Britânico, John Quin, vive a provocá-lo. Com ciúmes diante da iminência do casamento entre Nora Brady e John Quin, Redmont Barry acaba por ofender o noivo em plena cerimônia de noivado, tal ofensa enseja a realização de um duelo proposto pelo próprio Barry. Na ocasião, Barry sai vencedor do duelo, e acreditando ter matado o Capitão John Quin se vê forçado a fugir para não ser apanhado pelas forças policiais, contudo, significativamente mais à frente no filme, é revelado que este não havia morrido, pois a arma que foi entregue a Redmont Barry possuía um projétil feito de estopa, e o Capitão acabou por se casar com Nora Brady. Barry junta todas suas economias e foge de seu vilarejo, infortunadamente acaba por ser assaltado no caminho e perder tudo; desta forma, sem muitas outras saídas, vê nas forças armadas uma grande oportunidade. Ele se alista e em pouco tempo consegue se destacar em meio a seu regimento, mas cansado de continuar a lutar na Guerra dos Sete Anos ganha uma grande oportunidade diante do descuido de um oficial, Barry consegue subtrair as vestes e documentos deste e segue em viagem agora imune pelas regras dos tratados militares.

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Em sua jornada Barry conhece uma camponesa cujo marido encontra-se na guerra, com ela passa a noite e segue viagem. Mais à frente é abordado pelo Capitão Potzdorf do Exército da Prússia, este convida Barry para seguir viagem junto com ele, uma vez que supostamente estariam indo ao mesmo lugar, e durante um jantar o deflagra. Barry se vê obrigado a se juntar ao Exército da Prússia, lá também consegue se destacar rapidamente, principalmente diante de uma ocasião em que salvou a vida do próprio Capitão Potzdorf. Desta forma, é condecorado e convidado a participar da Polícia em território prússico, lá é incumbido de investigar Chevalier du Balibari, um inglês que vivia de aplicar golpes. Barry todavia prefere se juntar ao Chevalier, juntos eles enganam as autoridades da Prússia e voltam ao Reino Unido, onde continuam suas vidas de golpes, principalmente contra nobres em jogos de cartas. Em meio a um jogo Barry conhece a Condessa de Lyndon e logo apaixonase, ela todavia, apesar de apaixonada também, era cada com Sir Charles Reginald Lyndon, um nobre muito importante mas já bastante velho. Barry e a Condessa passam a se encontrar às escondidas. Certa vez, com a clara intenção de provocar, Barry vai ao castelo de Sir Charles e lhe diz que está saindo com sua esposa, o nobre fica muitíssimo enfurecido, acaba por ter um ataque fulminante e morrer. A Condessa de Lyndon e Redmont Barry finalmente ficam juntos e se casam, este passa agora a se chamar Redmont Barry Lyndon. Lord Bullingdon, o jovem filho da Condessa e do falecido Sir Charles não gosta de Barry, tal desgosto cresce na medida em que Barry agora como frequentador da alta sociedade começa a trair sua mãe, gastar o patrimônio dela visando adquirir um título de nobreza e outras tantas atitudes reprováveis. Nasce então Bryan Parick Lyndon, filho da Condessa e de Barry, neste mesmo momento Belle, a mãe de Barry, vai morar juntamente com eles no castelo. Certa vez Lord Bullingdon se recusa a chamar Barry de pai, como a tradição pedia, e afirma que seu pai sempre será Sir Charles Reginald Lyndon. A partir deste momento Barry e Bullingdon começar uma guerra declarada porém velada, e Barry passa a castigá-lo com frequência. Muito embora os castigos não fossem tão dolorosos, eram extremamente ofensivos e humilhantes.

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Passam-se oito anos, Lord Bullingdon não mais era uma criança, embora ainda fosse demasiadamente frágil em relação a Barry. Certa vez, por ocasião de uma provocação de Bryan, Bullingdon o estapeia e é flagrado por Barry, este o castiga. Após ser açoitado Lord Bullingdon afirma que nunca mais iria admitir este tipo de ofensa por parte de Barry. Em atitude de provocação Bullingdon entra com Bryan fazendo barulho em meio a um recital de sua mãe, a Condessa, Barry fica enfurecido e o agride na frente de todos os convidados. Desta forma, Barry perde seu prestígio em meio a alta sociedade, bem como suas chances de conseguir um título de nobreza, Bullingdon por sua vez resolve sair de casa e só voltar quando tivesse condições de enfrentar Barry. Barry era um ótimo pai para Bryan, procurava sempre satisfazer seus anseios. O aniversário do garoto se aproximava, ele já havia deixado claro que queira ganhar um cavalo, Barry então foi e lhe comprou um, que todavia só seria entregue na data do aniversário. Ocorre que Bryan descobriu e foi até o estábulo quando ninguém o vigiava e montou ao cavalo, o bicho que ainda não havia sido amansado empinou e caiu junto com o garoto. Bryan foi resgatado e médicos foram chamados para tratá-lo, todavia a situação era irreversível. O garoto ainda sobreviveu dois dias acamado e sem dores, e em uma cena extremamente comovente é retratada sua morte diante dos olhos de seus pais. Barry agora estava inconsolável, se embriagava para tentar superar, a Condessa de Lyndon tentou suicídio mas a dose de veneno ingerida não foi suficiente para tanto. Belle agora passa a administração dos negócios do castelo, ela demite um importante empregado, o Reverendo Runt, este vai embora a contragosto e se encontra com Lord Bullingdon para lhe narrar a atual situação. Bullingdon volta a sua casa e desafia Barry para um duelo. No duelo, a regra é de que Bullingdon atiraria primeiro, sua inexperiência o fez desperdiçar o tiro de forma a sequer causar risco a Barry. Barry por sua vez desperdiça seu disparo propositalmente, os árbitros tentam dar por encerrado o duelo mas Bullingdon não aceita e insiste em continuar, em seu disparo seguinte ele acerta a perna de Barry que é levado ao hospital. Lá Barry tem sua perna amputada.

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Um emissário de Bullingdon informa Barry que aquele reassumiria sua posição no castelo e faz uma proposta para que este volte a Irlanda e nunca mais se aproxime da Condessa e em contraprestação receberia uma quantia significativa anual. Barry se vê obrigado a aceitar, uma vez que não teria condições de pleitear novamente uma condição privilegiada no castelo, bem como poderia acabar preso pelas dívidas que assumiu. Assim termina a narrativa da obra. A proposta aqui então é analisar a ascensão social conseguida por Barry em face dos dizeres da Teoria Marxista. Desta forma, é necessário abordar aqui em especial a primeira parte do filme, em que Redmont Barry consegue se tornar Barry Lyndon, uma vez que a segunda parte trata tão somente de seu declínio e volta a sua condição original sem ter conseguido ao final acumular quase nada. A Teoria Marxista, originalmente desenvolvida pelo filósofo que lhe dá nome, Karl Marx, juntamente com o também filósofo Friedrich Engels, ambos alemães, tem origem em meados do século XIX e como principal obra que a instrumentaliza “Das Kommunistische Manifest” ou “O Manifesto Comunista”, de 1848. Um dos elementos mais importantes constantes de tal teoria é a observância da chamada luta de classes, assim entendido o ímpeto de emancipação do proletariado em relação a dominação imposta pela burguesia detentora dos meios de produção. Muito embora tenha sido desenvolvida a partir da análise de todo o histórico pregresso, a Teoria Marxista destina-se precipuamente a análise de um contexto social significativamente distinto do presente na narrativa de “Barry Lyndon”. Ainda assim é possível traçar paralelos entre as ideias da referida teoria com a obra cinematográfica em questão, fazendo isto sob a ótica da luta de classes. Marx e Engels contam em sua obra que sempre houve ao longo de toda a história da humanidade a presença da luta de classes, esta por sua vez se manifestou de diversas formas em meio as diversas sociedades de diferentes épocas, a mudança dos atores deste panorama de contradição social e o desenvolvimento social culminou na dominação imposta pela burguesia em face do proletariado. Assim consta: A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classe. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em

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constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada. (MARX; ENGELS, 1999, pág. 7)

Assim como todas estas mencionadas pelos filósofos, Redmont Barry encontrava-se em meio a sua própria condição de luta de classes. O protagonista da obra de Kubrick inicialmente teria tido grandes oportunidades de se inserir na alta sociedade de maneira espontânea, uma vez que era filho de um promissor advogado, contudo, a morte de seu pai lhe impôs a condição de viver uma vida modesta como camponês. Por sua vez, tal condição lhe impôs uma vida cheia de enclaves, o primeiro destes narrado foi a impossibilidade de viver juntamente com a mulher para com quem era apaixonado, uma vez que a família desta tinha planos de casá-la com um indivíduo em melhores condições sociais. Barry teve então que desenhar a sua própria sorte, sem poder casar-se com a amada em condições normais, trabalhou para desenvolver o cenário em que isso lhe seria propício. Apesar de ter conseguido efetivar o meio para isto, não calculou bem as consequências e continuou a viver na condição desprivilegiada. Situação semelhante foi enfrentada pela classe burguesa, este grupo originado da Alta Idade Média foi por tempos sujeitada a dominação da nobreza e do clero, com perseverança reconhecida diversas vezes pelos próprios filósofos alemães, conseguiu em meio a ruína do sistema feudal e o advento do iluminismo ascender progressivamente a uma condição social e classista mais favorável. A história de Barry começou a mudar quando ingressou no Exército Bretão, lá pode demonstrar sua virtuosidade e aos poucos foi ascendendo. Contudo, tal ascensão era demasiadamente demorada para as pretensões de Barry, com isso decidiu que iria se valer de métodos escusos para a agilização desta. Falseando sua identidade quando ainda soldado passando-se por oficial, depois de deflagrado e obrigado a servir o outro Exército, passou a agir como agente duplo e enganar a Prússia, por fim, quando finalmente se tornou um frequentador da Corte, se fez um apostador profissional que enganava seus adversários, quando não pago os constrangia fisicamente para que recebesse. A burguesia por sua vez, apesar de todos seus méritos na ampliação da produção, também se valeu de meios eticamente dubitáveis para atingir a condição de classe dominadora. Marx e Engels contam que a partir do domínio dos meios de

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produção, passou a sujeitar o proletariado as condições que lhe entendessem mais propícias e fez seu lucro a partir da exploração do trabalho e obtenção da Mais-valia. Como se não bastasse, impôs, a partir do poder econômico obtido com a exploração do proletariado, seu modelo ao redor do mundo. Assim encontra-se consubstanciado na obra: Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia era acompanhada por um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada administrando-se a si própria na comuna; aqui, República urbana independente, ali, terceiro Estado, tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, pedra angular das grandes monarquias, a burguesia desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. (MARX; ENGELS, 1999, pág. 10)

E ainda: Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a torrente da civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destroi todas as muralhas da China e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama de civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança. (MARX; ENGELS, 1999, pág. 14)

Barry, ao finalmente ingressar na aristocracia bretã através de seu casamento, ao contrário do que se poderia imaginar por conta de tudo o quanto havia vivido até o momento, não se fez uma pessoa simples e contente com o que tinha. Agora na condição privilegiada, queria ele próprio impor sua dominação e continuar a aumentar seus potenciais. O mesmo ocorreu com a burguesia, ao invés de dar fim ao histórico de exploração do homem pelo homem, preferiu se valer dele. Conforme Marx e Engels “a sociedade burguesa moderna não suplantou os velhos antagonismos de classe. Ela colocou no lugar novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta” (1999, pág. 9). Assim sendo, concluímos que a luta de classes em seus diferentes níveis, seja individual conforme o narrado na obra “Barry Lyndon”, seja ao nível social como a da burguesia e proletariado presente na história e nos pensamentos marxistas, ou ainda a de nível global, conforme preceituada pela Teoria do Sistema Mundo, sempre

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existiu na história da humanidade, e os atuais contornos sociais não manifestam alguma perspectiva significativa para que tenha fim.

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REFERÊNCIAS KUBRICK, Stanley. Barry Lyndon. Produção e direção de Stanley Kubrick. Reino Unido; Estado Unidos da América, 1975. Arquivo de Videoclipe (.avi), 184 minutos. WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Barry Lyndon. Modificado pela última vez em: 27/05/2014. Disponível em: Acessado em: 01/06/2014. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Brasil: Editora Ridendo Castigat Mores, 1999.

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