ANÁLISE DA PAISAGEM DE APUCARANA COMO RECURSO TURÍSTICO E SUA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

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I Encontro Regional de Geografia XXII e Semana de Geografia “A geografia a construção da cidadania no Brasil” Universidade Estadual de Maringá-UEM

Maringá, 21 a 24 de outubro de 2014 p. 539 ISBN: 978-85-87884-31-2

ANÁLISE DA PAISAGEM DE APUCARANA COMO RECURSO TURÍSTICO E SUA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Natalia Fernanda Ramos de Oliveira Programa de Pós-graduação em Geografia – Universidade Estadual de Maringá [email protected] Eduardo Simões Flório de Oliveira Programa de Pós-graduação em Geografia – Universidade Estadual de Maringá [email protected] Maria Eugenia Moreira da Costa Ferreira Docente do Departamento de Geografia – Universidade Estadual de Maringá [email protected] RESUMO O município de Apucarana se encontra em uma área de elevada altitude e que divide três bacias hidrográficas distintas e esse fator, somado à forma de ocupação desordenada ambientalmente do território, causou uma série de problemas ambientais à cidade. Partindo dessa problemática e da falta de atrativos turísticos ao município, as gestões administrativas recentes tentaram reverter a situação através da construção de parques para amenizar esses problemas e, ainda, criar atrações turísticas que fariam parte de um projeto maior denominado “Circuito das Águas”. Porém, a administração municipal fez um forte investimento em um projeto que não houve um estudo mais aprofundado das áreas em questão e não continuou a investir após a conclusão desses parques. Deste modo, nem todos são muito utilizados pela população ou mesmo conhecidos, e também não atendem aos requisitos exigidos para sua categoria, seja de parque municipal, estadual ou nacional. Portanto, este trabalho busca compreender a forma como se investiu em tais parques e se obtiveram o retorno esperado, além de entender como a própria população vivencia esses espaços e se existe uma manutenção mínima dos mesmos, se o ambiente foi efetivamente preservado ou restaurado como se pretendia. Por fim, a partir desta análise é possível permitir um diagnóstico mais efetivo de suas potencialidades paisagísticas e, assim, confrontar com a realidade social, ambiental e econômica da cidade. Palavras-chave: conservação ambiental, parques, circuito das águas. ABSTRACT The city of Apucarana is in an elevated area which divides three different basins and this factor, coupled with the form of environmentally irregular occupation of the territory, has caused a number of environmental problems to the city. Starting with this issue and the lack of tourist attractions to the city, recent administrations have tried to reverse the situation by building parks to alleviate these problems and also create tourist attractions that would be part of a larger project called "Water Circuit". However, the municipal administration has made a strong investment in a project that there was no a deeper study of the areas in question and not has continued to invest after the conclusion of these parks. Therefore, not all are often used by the population or even known, and also do not serve the conditions required for their category, be it local, state or national park. Therefore, this paper aims to understand the way they has invested in such parks and have obtained the expected return, in addition to understanding how the population experiences such spaces and if there is a minimum maintenance thereof, whether the environment has been effectively preserved or restored as it was intended . At last, based on this analysis it is possible to provide a more effective diagnosis of its landscape potentialities and thereby confront the social, environmental and economic reality of the city. Keywords: Environmental Conservation, Parks, Water Circuit. ____________________________________________________________________________

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1. Introdução O município de Apucarana localiza-se em uma área de elevada altitude, com aproximadamente 988 metros de altitude e 558,389 km² de área. Atualmente conta com uma população estimada em 129.265 habitantes, de acordo com o censo do IBGE de 2010. Sua temperatura média é de 20,3°C, com média pluviométrica de 1.545 milímetros e média de umidade relativa do ar de 69,8% (IAPAR, 2014). Está inserida quase que integralmente no contexto da Formação Serra Geral, constituída pelos extensos derrames de rochas vulcânicas básicas que ocupam cerca de 53,0% do território paranaense (EMBRAPA, 1984). Por estar em elevada altitude, o município serve como divisor de bacias hidrográficas, como a dos Rios Ivaí (região sul), Tibagi (região leste) e Pirapó (região norte) (MANOSSO, 2005). O município apresenta algumas paisagens reorganizadas em função das condições político-sociais e econômicas da população apucaranense, enquanto outras guardam vestígios de condições passadas através da resistência do setor rural frente ao modelo de exploração agrícola atual. Além disso, a área urbana do município expandiu-se horizontalmente de forma acelerada, sobretudo quando a cidade começou a receber um contingente maior de pessoas vindas do campo. Os loteamentos construídos para atender essa demanda não tiveram a atenção que mereciam em termos de planejamento urbano e ambiental, e causaram uma série de impactos socioambientais (EMATER, 2002). Por estar localizada sobre um grande esporão, tríplice divisor de águas, quando a área urbana da cidade se expandiu em direção as cabeceiras de drenagem, comprometeu a qualidade e a quantidade de nascentes existentes. Isso tem provocado, além da contaminação e soterramento, uma preocupação com o abastecimento de água da cidade, realizado cada vez mais distante do centro pela falta de qualidade dessas. Portanto, a paisagem de Apucarana revela vários atributos que podem servir de base para o entendimento da atual condição que se encontra, e que foi utilizada de certa forma principalmente para o turismo e lazer na cidade. Frades (1994) interpreta o potencial ecológico das paisagens, representado pelas condições climáticas e características edáficas, como integrante do processo produtivo agrário e por isso também responsável pela organização das paisagens. O que vai ao encontro às afirmativas de Bolós (1992) quando indica a diversidade das paisagens rurais como fruto da forma de ocupação e exploração do território e em definitivo, do tratamento concedido aos

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recursos naturais. E que a diversidade espacial da paisagem rural se baseia igualmente nas diferentes formas de uso e exploração própria de cada cultura e nas características naturais climáticas e físicas das paisagens. Ou seja, a partir de uma concepção geossistêmica, concebe o sistema agrário como uma interface entre os sistemas abiótico, biótico e sócio econômico. (FERREIRA, 1997). A bacia do Rio Pirapó compreende uma área de 5.076 Km² de drenagem e está inserido no Terceiro Planalto Paranaense. A nascente deste rio localiza-se a 853 metros de altitude no perímetro urbano do município de Apucarana e percorre uma extensão de 168 km até sua foz, no rio Paranapanema, cidade de Jardim Olinda, a 300 m de altitude. Apucarana, localizada na região centro-norte do Estado, também é conhecida como a Cidade das Águas, pois possui um enorme potencial em recursos hídricos. Estima-se que existem mais de 100 cursos d’água, entre nascentes, córregos, rios e lagos. Nos perímetros rural e urbano existem dezenas de nascentes, córregos e rios. As águas do Rio Pirapó ainda estão presentes nas atividades agropecuárias e no turismo ecológico das cidades da região. No Bairro Marigilda, em Apucarana, a nascente fica debaixo de uma velha casa, propriedade de Hirochi Fukumoto, sem a proteção exigida por lei. E isso, desde 1949, quando a família dele se mudou para a área.

2. Material e Método Essa pesquisa é um estudo de caso na cidade de Apucarana-PR sobre os parques que esta apresenta. Foi feito de maneira qualitativa, ou seja, por observação direta e sistemática de cada um desses parques sob a perspectiva da paisagem como uma categoria de análise geográfica. Foram feitos dois dias de campo com visita à todos os parques da cidade e, em cada um deles, foi realizado as anotações de suas principais características no que se refere à forma de uso do espaço, sua paisagem, sua localização, o perfil do parque que poderia ser mais religioso, de lazer, de experimentação com a natureza ou mesmo histórico. Também foi feito um intenso registro fotográfico desses espaços para complementar o trabalho e as análises posteriores à pesquisa in loco porém, devido à limitação própria exigida pelo presente evento, foram selecionadas apenas algumas das fotos para exemplificar cada caso. Partindo das informações coletadas em campo, foi complementado depois com estudos acadêmicos mais aprofundados já existentes sobre os mesmo locais, documentos

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oficiais da prefeitura de Apucarana, bibliografia sobre o tema e ainda através de comparação dos dados para constatar algumas mudanças ocorridas nos parques desde sua criação.

3. Parque para Conservação e Restauração Ambiental A ideia de Parque de Conservação é antiga. Há muito tempo existe certa preocupação no sentido de se preservar espaços verdes, com o intuito de proporcionar lazer a uma seleta camada de pessoas. A primeira conceituação de Parque se deu, em 1872, com a criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Esta realização foi resultado de articulações de pessoas preocupadas em proteger, da exploração e da destruição, as belezas naturais de maneira que garantisse o direito dos habitantes em usufruir lazeres, bem como apreciar as paisagens. Com 8.991 km² de área, em sua maior parte pertencente ao estado americano de Wyoming, o primeiro Parque Nacional dos Estados Unidos e do mundo compreende uma grande parte das montanhas rochosas e do vale do rio Yellowstone. (COSTA, 2002). Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e com base em dados estatísticos apresentados por este órgão, em 1994 havia em todo o mundo mais de 8.500 áreas protegidas e, além destas, outras 40.000 áreas protegidas não se enquadravam nas categorias propostas pela UICN. Este órgão informa ainda que em 1998 a quantidade de áreas protegidas saltou para 9.869 unidades. Com a criação de Parques em todo o planeta, observou-se que não se adotou uma terminologia universal para se conceituar o que seria um Parque, neste caso a UICN entende que os Parques são áreas naturais protegidas e recebem o nome de Unidade de Conservação (UC). Segundo a UICN uma unidade de conservação é: “Superfície de terra ou mar consagrada à proteção e manutenção da diversidade biológica, assim como dos recursos naturais e culturais associados, e manejada por meio de meios jurídicos e outros eficazes”. Somente com o Código Florestal Brasileiro de 1934 foram estabelecidos os primeiros conceitos para Parques e Florestas Nacionais protegidas (COSTA, 2002). O aspecto mais significativo para as pessoas, em relação aos parques, diz respeito ao lazer, neste caso pode-se até dizer que todo parque é de lazer, não importa se está na área urbana ou a vários quilômetros da população. Os parques de lazer, precisamente os da área urbana, estão intimamente relacionados às políticas de infraestrutura e urbanização, pois estas realizações remetem aos anseios da população que tem o direito a uma qualidade de vida

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plena, de maneira que as crianças e os jovens possam desenvolver suas potencialidades e valorizar a natureza.

3.1 Parques e Nascentes Analisadas em Apucarana-PR Parque da Raposa: coordenadas: 23°32'04,4''S - 51°24'29,6''O / altitude: 730m. A preocupação com a preservação de áreas florestais, principalmente em áreas urbanas, tem sido foco das Unidades de Conservação, como é caso da Unidade de Conservação Parque Ecológico da Raposa, inaugurado em 1989 (Figura 3). Localizada no município de Apucarana, esta Unidade possui uma área de 290.000m (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2012) dispostas em 101 alqueires. Constituída por dois lagos, (Lago do Shimit e Lago da Raposa), uma cascata artificial, uma piscina natural, vários quiosques e um deck sobre um dos lagos, circundados por uma reserva florestal de aproximadamente 44,53 alqueires, encontrando-se a uma distância de 8 km da área central da cidade (APUCARANA, 2013).

Figura 1 - Imagem de satélite das delimitações do Parque da Raposa. Fonte: Imagem de satélite Google

Este panorama agro comercial enfatiza a necessidade de preservação de áreas florestais, como a do Parque Ecológico da Raposa, que além de Unidade de Conservação da fauna e da flora, constitui-se de local de visitação pública, conservação de diferentes espécies de peixes, aves, como gansos, tucanos e garças, ainda macacos-prego, foco de estudos acadêmicos na região (APUCARANA, 2013). A Unidade de Conservação Parque da Raposa é composta por vários fragmentos florestais dentro de suas delimitações, com floresta de mata atlântica nativa. Observa-se uma área de cobertura vegetal densa (CVD), caracterizada por fragmentos compostos visualmente

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por árvores de grande porte, observadas pelas copas; área de cobertura vegetal suave (CVS), caracterizada visualmente por gramíneas e arbustos; área sem cobertura vegetal (SCV), correspondendo a áreas desmatadas, com residências, ou ruas e, área alagada (AL), formada por lagos e córregos (SOUZA e KLEPKA, 2013)

Figura 2 - Agricultura dentro da Unidade de Conservação. Fonte: Foto da autora

Figura 3 - Casas com atividades pecuaristas na Unidade de Conservação Parque da Raposa. Fonte: Foto da autora

Cabe destacar ainda, que os fragmentos florestais do Parque da Raposa são isolados por barreiras de ação antrópica como áreas de cultivo, pastagens e urbanização. Parque Natural Municipal das Araucárias: coordenadas: 23º31'21,2'' S - 51º26'29,6'' O / altitude: 793m. O Parque das Araucárias se localiza no lote de terras sob nº 62-B, subdivisão do lote nº 62-REM da Colonização da Fazenda Gaúcha, Gleba Três Bocas em Apucarana. A Prefeitura Municipal de Apucarana criou o Parque através da Lei Municipal nº 097/03, com o objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, pesquisa científica, educação ambiental e lazer ecológico com a finalidade especial, conciliar a proteção da flora, da fauna, da água e dos demais recursos naturais e

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ambientais com a utilização para objetivos educacionais, recreativos e científicos de forma a proporcionar aos cidadãos do município e região, o lazer, o descanso, o turismo e condições para uma sadia qualidade de vida. O Parque tem uma área total de 84.923,30 m², composta por Floresta Nativa e áreas alteradas pelo ser humano, onde existe uma residência, estrada, terreiro para secar café, e outras benfeitorias. A alameda de acesso é cercada por Araucárias adultas, onde existe um processo erosivo que deveria ser contido. A mata nativa é representada pelo contato entre a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária). Esta área tem sido utilizada indevidamente por pessoas das vizinhanças tendo sido observado, em algumas ocasiões, a existência de armadilhas, corte de árvores, queimadas, abrigo de produtos de furtos, local para uso de drogas e etc.

Figura 4 - Araucárias dispostas em filas, pois o parque foi bastante antropizado. Fonte: Foto da autora

No local existe a nascente do córrego Tarumã, Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi, ladeada pela mata, protetora, onde existem belíssimos exemplares arbóreos tais como Peroba Rosa, Araucárias, Paineiras, Gurucaias, Ipês, etc., Xaxim, Bambu, Beijinhos e plantas diversas, as quais devem ser preservadas e regeneradas. Parque Biguaçú (Parque da Bíblia): coordenadas: 23º56'30,7'' S - 51º31'14,9'' O / altitude: 785m. O Parque Biguaçú é parte de um projeto de urbanização realizado na administração do então prefeito municipal, Voldimir Maistrovicz, e não há uma data precisa de sua inauguração. Segundo o ex-prefeito afirmou, as obras de recuperação daquela área foram iniciadas em 1979 e entregues á população no ano seguinte, ou seja, 1980 (FERREIRA, 2006).

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Cabe destacar também outro aspecto importante, o fato de que há uma nascente na área do Parque e trata-se do córrego Biguaçú que foi canalizado em função de problemas no fundo de vale no final dos anos 70. A urbanização do vale do Biguaçú iniciou-se a partir do programa de combate á erosão, pois uma das ruas que dá acesso ao atual Parque Biguaçú, a Rua João Antonio Braga Cortes, nas imediações do Country Club, era tomada por uma enorme erosão que ficou conhecida como “Buracão do Country Club”. Esta situação causava incomodo aos moradores daquela região, pois para chegarem ao outro lado do vale tinham que mudar o percurso para chegar até o outro ponto da cidade (APUCARANA, 1980).

Figura 5 - Planta do Parque Biguaçú. Escala aproximada: 1:4.300 Fonte: APUCARANA, 2003.

Para solucionar o problema da erosão, foi executado um projeto de canalização do córrego Biguaçú, o ajardinamento da área com a implantação de campos de futebol, instalação de churrasqueira, plantio de pomar público, criação de um pequeno zoológico e a arborização de todo aquele espaço. Este projeto visava trazer uma saudável opção de recreação e lazer para os moradores daquela região. A realização do projeto se deu graças a recursos captados junto ao Banco Nacional de Habitação (BNH), através de financiamentos do Projeto CURA (Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada). Por fim, o Parque do Biguaçú também foi contemplado pelo plano de desenvolvimento integrado criado pelo município visando a preservação do ambiente e a melhor utilização dos recursos naturais de Apucarana e, ainda, integrando as crenças e cultura

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da população. Trata-se de uma interligação entre as áreas verdes e águas fluviais aliado a um sentimento religioso, denominado “Caminho das Águas: Circuito da Fé”, buscando também projetar o turismo na cidade. O projeto caminho das águas foi um Plano Diretor do Turismo, para o qual foram levantadas as potencialidades turísticas da cidade. Algumas praças e parques foram urbanizados conforme a disponibilidade de recursos, e a administração municipal pretendeu realizar o projeto no sentido de fomentar atividades em parceria com a população, transformando cada apucaranense em divulgador das belezas naturais do município. O Parque Biguaçú faz parte de um grande anel que conecta os parques às principais praças da cidade, projetando os fundos de vale que cortam a malha urbana. Os parques são utilizados como pontos de congregação e meditação e, a população, pode realizar suas caminhadas em contato com a natureza e desenvolver sua espiritualidade (APUCARANA, 2003). Parque das Aves: coordenadas: 23° 33 42'' S - 51° 27' 12'' W / altitude: 827m. Este parque está localizado na área urbana da cidade de Apucarana, o que facilita seu uso e acesso. É um dos parques mais populares da cidade, e tem por objetivo em teoria trabalhar a questões ambientais, pois é um parque ambiental temático com algumas espécies da flora nativa em preservação, além de outras espécies exóticas. Observamos também um componente cultural histórico dentro do Parque das Aves, com uma casa de um pioneiro que data de 1938, feita de madeira e bem pequena, pois naquele período as casas serviam quase que unicamente para dormir. Sobre a fauna em cativeiro, é uma questão problemática devido as condições pouco adequadas que os animais se encontram, pois constata-se que as jaulas eram pequenas e sem uma distância segura entre as pessoas e os animais, deixando-os estressados constantemente. Mesmo o Parque tendo a pretensão de tratar temas ambientais, a forma como os animais são expostos é no mínimo questionável, e não tratam esses animais como deveriam. Esse parque tem diversos usos, como já descrito, e se caracteriza como um ponto turístico, ponto histórico cultural e também como área de lazer. Já sobre a legislação desse Parque ele é considerado uma Área de Preservação Permanente (APP). Parque de Santo Expedito: coordenadas: 23° 34’ 04’’ S e 51° 27’ 44’’ W / altitude: 797m. Este se localiza na zona urbana da cidade e faz parte do circuito de parques religiosos de Apucarana sua área é pequena, mas vem cumprido sua função atrativa para um turismo

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religioso, principalmente nas datas religiosas dos cristãos, sobretudo no dia de Santo Expedito quando ocorre uma grande procissão em agradecimento as graças alcançadas.

Figura 6 - Deste ângulo é possível ver vertentes íngremes por todo o Parque. Fonte: Foto do autor

Sobre o histórico recente dessa área que, antes apresentava problemas de erosão, costumavam ser mais intensos antes da construção do parque, em parte devido ao relevo acentuado da área e por estar no meio do espaço urbano, que intensifica a velocidade e quantidade do escoamento superficial. Mas com a instalação do Parque e um remanejo do local esses problemas foram amenizados na área em questão, porém no córrego que passa atrás do Parque o problema da erosão se manteve e, somado ao descarte de lixo, o problema persiste e ainda necessita de atenção e manejo especial nesse local. Por fim podemos caracterizar esse parque como religioso, mas por sua beleza também é usado pelos munícipes como uma área de lazer. Sobre a legislação esse parque se enquadra como uma APP pela lei no 4.771/65. Lago Jaboti: coordenadas: 23° 34' 10'' S 51° 28' 26'' W / altitude: 756m. Este Lago localiza-se na área urbana de Apucarana em um bairro de classe média ou média alta. Diferente dos outros espaços visitados na saída de campo é um lago artificial e tem como principal uso o lazer. Essa é uma paisagem criada "artificialmente" com árvores plantadas em sua volta e todo um paisagismo pode ser observado, além ter a função de refúgio aos animais dos mais diversos, aves e muitas capivaras, entre outros. Contudo, como é usado como lazer pelas pessoas, vimos muito lixo espalhado pelo local, que além de desagradável e uma falta de educação ainda representa um risco aos animais que ali habitam, pois podem confundir alguns lixos com alimento. Um processo de ocupação baseado no interesse imobiliário de apropriação de áreas que tiveram sua paisagem natural modificada para um ambiente que pode ser entendido como

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uma “pseudonatureza”, que surge da necessidade da sociedade em manter vínculos com a paisagem natural, desde que esta atenda a valores da organização social humana moderna. (DAMAS, 2005, p. 13) Essa paisagem criada tem por interesse atender as demandas da sociedade atual e exclui do seu planejamento a questão ambiental e, neste nesse caso em específico, a fauna que corre risco por conta do lixo no local e das condições de habitat inadequado. Esse local é uma Área de Preservação Permanente, o que faz com que as contradições se acentuem, pois mesmo sendo habitat de alguns animais que se instalaram ali, apresenta uma quantidade de lixo elevada, além de que a noite é um ponto de encontro onde as pessoas ouvem música alta e fazem bagunça, o que não é muito compatível para uma APP. Parque da Redenção: coordenadas: 23° 31' 00'' S 51° 29' 20.3'' W / altitude: 686m. Este parque foi construído na gestão municipal em que um Padre foi prefeito, e faz parte do circuito religioso que a cidade busca oferecer e difere dos demais parques porque não se encontra na área urbana de Apucarana. A paisagem do local é interessante, quando chegamos logo avistamos um lago e uma floresta ao fundo e uma passarela onde vimos muitas esculturas que relatavam os doze estágios da crucificação de Jesus Cristo, até sua ressurreição em uma gruta. O local também conta com uma lanchonete para os turistas, mas devido a sua distância com a cidade o número de visitantes não é muito elevado, sobretudo durante a semana.

Figura 7 - Passarela com as esculturas dos estágios da crucificação de Cristo. Fonte: Foto do autor

4. Resultados e Discussões Analisando a atual conjuntura das diferentes unidades de paisagem da cidade de Apucarana e comparando com os dados iniciais e, até mesmo, anteriores à criação dos parques, é possível perceber que boa parte da fragilidade ambiental do município permanece.

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Além disso, a falta de manutenção desses parques e de uma política pública de fomento ao uso do espaço público, de uma educação ambiental consolidada pela prefeitura e, ainda, de um projeto consistente e permanente para esses espaços enquanto recursos turísticos e para preservação ambiental, agravam a situação na qual se encontram. É fato que as administrações municipais responsáveis tanto pelo projeto quanto pela execução destes, estavam preocupadas em conservar e restaurar os ambientes em degradação na cidade. Porém, não se preocuparam com a manutenção dos mesmos ou com a conscientização e educação da população de Apucarana sobre o uso dos espaços e a forma mais adequada de ocupação e uso do solo, como foi o caso do Lago Jaboti já discutido. Seria necessário, além do já citado anteriormente, uma readequação de cada parque para que sejam enquadrados na categoria de parque mais adequada ao seu potencial paisagístico e ambiental. Ou seja, é necessário repensar se todos os parques existentes possuem mesmo perfil turístico ou se poderiam ser readaptados para uma reserva sem acesso ao público, enquanto os demais que tenham esse perfil turístico sejam adequados para receber a população de forma a conscientizá-las sobre os recursos naturais além de haver uma política pública de educação ambiental e manutenção permanente destes parques. 5. Considerações Finais Os parques na cidade de Apucarana foram muito bem projetados, de forma a atender os anseios da população e, ainda, recuperar as áreas degradas ambientalmente. Contudo, apesar desse projeto bem delineado, ao que tudo indica o poder público não fez uma campanha educativa simultaneamente com a criação dos parques, e também não criou uma política de manutenção desses parques, o que acabou levando a situação que os mesmos se encontram atualmente. Há um investimento no projeto de caracterizar a cidade de Apucarana como um circuito religioso e turístico da região e que foi denominado de "Caminho das águas: Circuito da fé". Isso fica claro quando observa-se a quantidade de parque temáticos religiosos como: Parque da Bíblia, Parque Santo Expedito e Parque da Redenção. Essas localidades já tem o potencial bem delineado para esse tipo de turismo, mas ainda falta uma divulgação maior desse circuito, melhor infraestrutura dos parques e informação sobre eles pelo município. Apucarana apresenta um grande potencial paisagístico e hídrico e muito interessante, que poderia ser melhor explorado, mas respeitando os limites desse sistema, pois em alguns lugares da cidade ainda apresentam problemas ambientais como, por exemplo, a utilização da

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microbacia do Ribeirão Barra Nova que está sendo muito explorada sem medidas de conservação (DAMAS, 2005). Pois bem, assim como são com os grandes parques nacionais no país, e as reservas biológicas, os parques e lagos de Apucarana também tem a mesma importância para a população da cidade, uma vez que está relacionado com o processo de desenvolvimento dela e ainda, esta área tem um grande significado para a conservação do meio ambiente, bem como trata-se de uma opção de lazer para os moradores da cidade. Com isso, fica evidente que é fundamental existir parques ou áreas de lazer, entretanto é muito importante que as pessoas despertem para a real situação em que se encontram os parques urbanos. Não é possível aceitar estes espaços como depósitos de entulhos e lixos domésticos, uma vez que esta situação é, às vezes, comum em parques localizados nas periferias e mesmo nas áreas centrais das cidades como acontece em Apucarana.

6. Referências APUCARANA. Parque Biguaçú. Projeto Urbanístico: Diretrizes do Plano de Ação, Prefeitura de Apucarana, 1980. APUCARANA. Prefeitura Municipal. Plano diretor de desenvolvimento. Apucarana: SEPLIN – Secretaria de Planejamento e Infraestrutura, 2003. APUCARANA. Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável: 2013 - 2016. Apucarana: Secretaria da Agricultura de Apucarana, 2013. 31p. BÓLOS, M. Manual de Ciencia del Paisaje, Teoria, Métodos y Aplicaciones. Barcelona: Alev, 1992. 273 p. COSTA, P. C. Unidades de Conservação. São Paulo: Aleph, 2002. Série Turismo. DAMAS, T. Expansão urbana e a problemática ambiental: estudo de caso do lago Jaboti, Apucarana (PR). Caminhos de Geografia. V.10, N. 15, P. 93-107, 2005. EMBRAPA. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Paraná. In: Embrapa Solos - Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. Projeto Especial Levantamento de Solos. Londrina: EMBRAPA-SNLCS/IAPAR, 1984. N.16, 791 p. EMATER – EMPRESA PARANAENSE DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL. Realidade Municipal, Apucarana. 2002. FERREIRA, J. Parque Biguaçú: uma proposta de educação ambiental na escola de tempo integral em Apucarana. Londrina, UEL. 2006.

I Encontro Regional de Geografia XXII e Semana de Geografia “A geografia a construção da cidadania no Brasil” Universidade Estadual de Maringá-UEM

Maringá, 21 a 24 de outubro de 2014 p. 552 ISBN: 978-85-87884-31-2

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