Análise da representação literária de Pedro e Inês em Teorema, de Herberto Helder

May 31, 2017 | Autor: Pablo Rodrigues | Categoria: Portugal (History), Portugal, Literatura Portuguesa, Pedro e Inês
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2012
Aluno: Pablo Baptista Rodrigues DRE: 11120197 Turma: LED
Matéria: Cultura Portuguesa
Professor: Mônica Fagundes



Análise da representação literária de Pedro e Inês em Teorema, de Herberto
Helder.

Na busca de definir Portugal o que pode ser feito é se voltar ao
grande poeta português Fernando Pessoa que diz: "O mito é o nada que é
tudo" (PESSOA, 2012). Encontrar o limite entre o ficcional e o real,
especialmente no caso português envolve toda uma complexidade. A história
se apresenta como ficcional e o oposto também é verdade. Assim, ainda em
Fernando Pessoa, temos a forte relação de Portugal com sua a ficção e a
história:

"Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundá-la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre."

(PESSOA, 2012)




Em Ulisses, de Fernando Pessoa, temos a representação poética da
fundação de Lisboa, onde o personagem grego, na volta de Troia funda a
cidade portuguesa, declarando com isso, o grande e promissor futuro de
Portugal, mas também toda a relação que Portugal terá na sua formação e de
como ela será representada desde a sua fundação através da ficção. Da mesma
forma, a história de D. Pedro e Inês de Castro não será visto simplesmente
com fatos históricos, mas passarão também sobre o olhar literário das
épocas.

A história de D. Pedro e D. Inês não só representam a história de dois
integrantes da realeza portuguesa, mas também faz parte da formação da
identidade do português. Seja no viés político ou o do amor, a história do
filho de D. Afonso IV e a filha dos Castro, se imortalizou através de
novelas, poemas, esculturas etc.

Reinando de 1357 a 1367, D. Pedro I foi o oitavo rei de Portugal. Com
o cognome de justiceiro, por sua justiça exemplar, foi um dos Reis
imortalizados na história portuguesa. Como de costume da época as famílias
davam-se em casamento e na busca da permanência da linhagem os casamentos
eram tidos através de consórcios entre essas famílias. Neste caso D. Pedro
foi prometido a D. Constança, filha de D. João Manuel, infante de Castela.

A futura rainha, então, vai para Portugal como o combinado,
acompanhada de sua comitiva. Entre os acompanhantes de D. Beatriz estava
sua dama de companhia D. Inês de Castro, filha do fidalgo castelhano Pedro
Fernandez de Castro. Encantando-se por Inês, o príncipe então escolhe ir
contra o acordo das famílias, e mesmo se casando com D. Beatriz, mantém
Inês como sua amante. Só quando D. Beatriz morre o relacionamento do futuro
rei com a criada se torna mais livre.

Desde o inicio D. Afonso IV, ainda rei de Portugal, se mostrou contra
ao relacionamento do seu filho com Inês. O rei e seus conselheiros viam a
relação com Inês perigosa devido à possível influência de sua família,
colocando o Reino Português em perigo devido. Essa preocupação faz com que
o rei D. Afonso IV tome a atitude de matar (degolar) a amada de seu filho,
pondo um fim no perigo político ao reinado. Foi preferível essa atitude a
diminuição do estado Português com uma futura anexação.

D. Pedro chega a declarar guerra ao pai, mas só quando de fato se
torna rei de Portugal faz justiça à memória de Inês. Busca então, os três
criminosos que assinaram sua amada: Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho e o
terceiro, que consegui fugir disfarçado de mendigo, Diogo Pacheco. A
sentença aos dos dois prisioneiros capturados foi a retira do coração, o de
Pêro Coelho pelo peito e o de Álvaro Gonçalves pelas costas, a
interpretação possível é de ver o ato feito a Inês como realizado por
homens sem coração e também no olhar de Pedro como resposta ao roubo do seu
próprio coração.

Feito justiça à memória de Inês o rei decide transladar seu corpo, que
estava no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, para o Mosteiro de Alcobaça.
O rei declara que havia se casado com Inês antes de sua morte, em Coimbra
e, portanto ela é rainha, ainda que esteja morta. A dignidade e a realeza
de Inês não só, são comprovadas no casamento, como através do cortejo
presente no translado do corpo, como também na construção de seu túmulo.
Por fim, D. Pedro decide que ao morrer ficaria ao lado de sua amada
ordenando a construção de seu próprio túmulo em frente ao de Inês.

A essa grande história portuguesa temos inúmeras representações por
meio da literatura, entre elas a de Herberto Helder, em Teorema. Onde o
escritor português conta a história do julgamento e a sentença à morte de
Pêro Coelho pela visão do próprio réu. No conto teremos a afirmação de que
Pêro Coelho assassinou D. Inês, não por que era um patriota, mas para que o
amor de D. Pedro pela amada se perpetuasse.

O leitor encontrará desde o início do conto o estranhamento, a começar
pelo narrador. A observação inicial que se pode fazer é que Pêro narra a
sua própria morte, o que é humanamente impossível. Segundo a pesquisadora e
professora da Faculdade de Letras/UFRJ, Teresa Cristina Cerdeira, "a morte
é o único ato que não é passível de ser narrado, porque está justamente
fora da linguagem." (CERDEIRA, 2008). A possibilidade do individuo narrar a
própria morte, no conto de Helder, só se realiza graças ao discurso
ficcional, permitindo, então, ao assassino de Inês, narrar à vingança de D.
Pedro e ocasionando ao leitor o estranhamento.
O autor também faz com que a história do casal mostre toda uma
atemporalidade. Isso não ocorre somente na fala de Pêro buscando levar o
amor de seu rei a eternidade através de sua própria morte, e com isso
transportar o amor-real fora da influência temporal, mas na própria
construção do conto. Vemos uma "janela manuelina", "a monstruosa igreja do
Seminário", " a estátua municipal do marquês de Sá da Bandeira", "o cláxon
de um automóvel" entre outras marcas. A história de Inês está presente, mas
não há uma definição do tempo de sua ocorrência, a modernidade entra no
conto, entra na história.
Pêro Coelho ao dizer "Matei-a para salvar o amor", (HELDER, 1977),
mostra que sua intenção não era matar Inês por questões políticas geradas
pelo medo da influência castelhana, mas fazer com que o amor D. Pedro por
Inês fosse recebido "como alimento, de geração em geração". (HELDER, 1977).
Com isso temos um amor que só é conhecido e consagrado devido à morte de
Inês através da obediência de Pêro, deixando para os leitores que o ato
brutal não foi de todo ruim.
Temos no conto a relação de amor de D. Pedro e D. Inês, e a inserção
de outro individuo, o próprio Pêro Coelho formando então, uma relação
profunda entre os três. "E eu também irei crescendo na minha morte, irei
crescendo dentro do rei que comeu meu coração. D. Inês tomou conta de
nossas almas". (HELDER, 1977). Vemos nas palavras de Coelho, que o amor
condenado em vida juntamente com o seu próprio crime só atingiria a
consagração na morte. Não importa que o destino seja o inferno, para ele
nada é mais importante que salvar o amor do rei indo contra ao tradicional,
pois "No crisol do inferno manter-nos-emos os três perenemente límpidos".
(HELDER, 1977).
Vemos como a representação histórica é realizada de forma ficcional no
conto de Herberto Helder. O autor oferece a Literatura mais uma forma de
ler a história de Pedro e Inês, "uma outra via de eternização que passa
antes pelo logro, pela corrupção consciente e assumida da vida, em nome do
único estágio incorruptível que é a morte". (CERDEIRA, 2008). E com isso
não temos somente a história de D. Pedro e Inês de Castro, mas somam-se as
inúmeras leituras uma apresentação moderna, a visão do réu de Inês, indo
contra toda a expectativa dos leitores em afirmar que os assassinos de Inês
eram simples obedientes às ordens do rei D. Afonso. Pêro Coelho passa de
somente assassino para o agente principal dessa história.

































BIBLIOGRAFIA
CERDEIRA, Teresa C. Teorema: uma lógica moderna de sujeitos desejantes.
ABRIL Revista do Núcleo Estudos de Literaturas Portuguesa e Africanas da
UFF. v. 1, nº 1, p. 52-57, 2002. Disponível em: <
http://www.uff.br/revistaabril/revista-01/006_TereseCerdeira.pdf>. Acesso
em: 20 dez. 2012.

D'ARAÚJO, Fernando P. D. Pedro e Inês de Castro - uma história de amor.
Disponível em:
. Acesso em: 20 dez. 2012.

GARMES, Hélder; SIQUEIRA, José C. Inês de Castro na Literatura Portuguesa.
In: Cultura e memória na literatura portuguesa. Curitiba: IESDE Brasil
S.A., 2009. p. 13-33. Disponível em:
. Acesso em: 20 dez. 2012.

HELDER, Herberto. Teorema. In: ______________. Os passos em volta. Lisboa:
Assírio & Alvim, 1977. p 119-123.

PESSOA, Fernando. Ulisses. In: Mensagem. Disponível em:
. Acesso em
21 de Novembro de 2012
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