Análise das condições facilitadoras e dificuldades na construção de uma Linha do Tempo para sistematização de experiências em Economia Solidária. Caso: Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária da Universidade Federal de São Carlos, SP.

Share Embed


Descrição do Produto

Análise das condições facilitadoras e dificuldades na construção de uma Linha do Tempo para sistematização de experiências em Economia Solidária. Caso: Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária da Universidade Federal de São Carlos, SP Eixo Temático III: ITCPs e Metodologias de Incubação Danilo Malta Ferreira – UFSCar ([email protected] – (16) 9-8101-1816) Ioshiaqui Shimbo – UFSCar

Resumo: Entre as experiências no campo da Economia Solidária está a Universidade Pública, em particular as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs). A sistematização das experiências das ITCPs é uma lacuna de conhecimento. A sistematização de experiências é entendida como reconstrução ordenada de fatos, teorização da pratica via processo participativo que visa o protagonismo dos sujeitos das experiências. O objetivo geral desta pesquisa é analisar o processo coletivo de sistematização, em especial quando utilizado a ferramenta linha de tempo. A estratégia geral é de caracterização pós-fato, levantamento exploratório, descritivo e documental, com o estudo de um caso: a experiência da atuação do NuMI-EcoSol. A partir da sistematização desta ITCP é possível identificar variáveis que interferem, mudanças percebidas na experiência, destacar lacunas, propostas de continuidade e novas questões. Palavras-chave: Sistematização de Experiências; Linha do Tempo; Incubadora de Cooperativas

Eixo Temático III: ITCPs e Metodologias de Incubação GT 15: Estruturas e metodologias de funcionamento das incubadoras: Processos de autogestão das incubadoras; metodologias de seleção de empreendimentos para incubação; metodologias de seleção para extensionistas (professores, técnicos ou estudantes) e processos formativos; metodologias de avaliação de processos de incubação; participação das incubadoras em fóruns e outras instâncias; institucionalização das ITCPs; Rede de ITCPs etc.

1. Economia Solidária: Abordagens conceituais, teóricas e iniciativas econômicas solidárias Há diferentes perspectivas e abordagens conceituais e teóricas sobre Economia Solidária (EcoSol) e também, diferentes experiências e iniciativas econômicas solidárias em andamento. Este fenômeno contemporâneo constitui um movimento com diversos atores sociais e tem sido objeto de muitos estudos. Em relação às perspectivas e abordagens conceituais, na literatura sobre Economia Solidária é possível encontrar descrições, análise e debates sobre seus princípios e valores fundamentais, principalmente a autogestão, a cooperação e a solidariedade. A autogestão pressupõe que os trabalhadores de um empreendimento tenham a posse dos meios de produção, tenham um processo de tomada de decisão democrática, com a busca do consenso e o voto (um voto por pessoa) quando houver necessidade, tenham divisão de trabalho mais equilibrada, compartilhamento dos ganhos e das perdas, entre outros. Já o princípio de cooperação contrapõe a noção de competição. Ao cooperar, os trabalhadores se associam em torno de objetivos comuns e deixam de competir entre si. A solidariedade é um conceito que, fora do âmbito da EcoSol, costuma ser entendido com viés caritativo, pressupondo a manutenção da relação entre desiguais. Mas no âmbito da EcoSol assume carga simbólica e subjetiva, destacando o princípio da igualdade entre as pessoas, com respeito a diversidade e passa a remeter a ideia de co-depêndencia social (AMORIM, 2010). Outros conceitos como participação, centralidade no trabalho e no se humano, cooperativismo popular e muitos outros são debatidos na literatura sobre Economia Solidária. Em relação às perspectivas e abordagens teóricas sobre Economia Solidária é possível encontrar na literatura, tanto entre os autores favoráveis quanto entre os autores críticos, diversas compreensões sobre este fenômeno. Singer e Souza (2000) afirma que a economia solidária surge como modo de produção e distribuição alternativa ao capitalismo e que a primeira se parece com um híbrido entre o capitalismo e a pequena produção de mercadorias, mas é uma síntese de ambas que as superam. Para Singer (2002), a economia solidária é outro modo de produção, com princípios como propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual. O termo Economia Solidária, não é utilizado por Tiriba (1997), mas a autora afirma ser a produção associada representante em potencial da célula de um novo modo de produção. Gaiger (2003) discorda ao afirmar que se trata de uma transformação social de longo prazo e não um novo modo de produção, defendendo que a possível papel da EcoSol está em comprovar que em termos de desenvolvimento das forças produtivas, a autogestão não é inferior à gestão capitalista. Laville (1994) apresenta, quanto a sua compreensão de Economia Solidária, três modalidades de economia: 1. Mercantil que se dá em função do preço que é autorregulado pela oferta e pela demanda, propiciando relações mais impessoais e utilitaristas; 2. Não Mercantil em que o Estado concentra e distribui riquezas, mantendo assim uma relação verticalizada e; 3. Não Monetário que é a lógica da

2

dádiva com relações horizontalizadas e que contribui para a melhoria dos laços sociais. Este autor defende que a Economia Solidária articula estas três modalidades na perspectiva de uma Economia Plural, nos termos de Polanyi (1957). França-Filho (2006) apresenta uma concepção de Economia Solidária como via de sustentável-solidária de desenvolvimento em detrimento de uma via insercional-competitiva. Para este autor a Economia Solidária está pautada na construção de estratégias territoriais de desenvolvimento em torno do fomento de outra dinâmica econômica. Já em outra vertente de compreensão, Pinto (2004), afirma que a Economia Solidária tem origem entre os trabalhadores que, ao ingressaram em empreendimentos agregando recursos próprios, o fazem devido às restrições impostas pelo mercado capitalista. Os autores Pitaguari e Câmara (2010) tem compreensão similar, afirmando que a Economia Solidária aparece como resposta às contradições do modo de produção capitalista que priva os trabalhadores de meios para produção e os submetem ao assalariamento ou ao desemprego. Afirmam ainda que considerando que o mundo está sobre uma das maiores crises cíclicas da história e que esta amplia a indignação da população e sua desesperança em se inserir no mercado capitalista, entidades do poder público e da sociedade civil vem desenvolvendo árduo trabalho para geração de trabalho e renda para a população excluída dentro do que se chama de Economia Solidária. Estes autores entendem a EcoSol como compensação das crises do sistema capitalista, diferentemente de outros autores que a entendem como uma das alternativas possíveis para superação deste sistema. Em uma terceira vertente, autores apresentam críticas a Economia Solidária baseados principalmente nos escritos de Marx. Germer (2009), afirma que a Economia Solidária é um sintoma de recesso momentâneo da consciência de classe do proletariado que tem espaço ocupado por ideologias pequeno-burguesas, visto como fenômeno positivo por organismos internacionais, devido seu potencial em neutralizar o ímpeto revolucionário desta classe. De acordo com Menezes (2007), a Economia Solidária tem sido formulada por expressivos intelectuais da esquerda, que por mais que tenham participado da resistência contra a ditadura militar, são agora participantes (do que a autora considera) de um projeto político conciliador e funcional a lógica neoliberal. Este debate em torno da Economia Solidária é recente, de grande complexidade e com relevante grau de diferenças entre as opiniões dos diferentes autores. Além dos conceitos e teorias, existe grande diversidade de experiências de Economia Solidária em andamento. Com um rápido levantamento da literatura é possível perceber que as inciativas econômicas solidárias estão em diferentes etapas de uma cadeia produtiva como produção, distribuição, comercialização, consumo e iniciativas de finanças solidárias. A Economia Solidária se constitui como um movimento que vem se fortalecendo nestes últimos 20 anos através da organização popular que reúne diversos atores sociais, que podem ser classificados em: Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), gestores públicos e entidades de

3

fomento (EAF) (CORTEGOSO e SHIMBO, 2005). Existem diversos tipos de EES: cooperativas de trabalho que podem ser de produção ou de serviços (as cooperativas constituem a principal forma de EES existente), coletivos informais e associações que não necessariamente mantêm relações comerciais. Entre os gestores públicos na esfera federal conta com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES/MTE) que tem o objetivo de promover diversas atividades de apoio a Economia Solidária em toda nação. As esferas estaduais e municipais contam com setores, departamentos ou mesmo secretariais, porém cada localidade de uma forma dependendo do projeto político e da importância dada a Economia Solidária em cada região.

As

EAF

à

Economia

Solidária são organizações civis sem fins lucrativos, público ou privadas, que realiza ações de apoio e fomento direto aos EES, seja através de capacitação, assessoria técnica e de gestão. Existem os articuladores em EcoSol que consistem em estruturas de coordenação de redes, centrais de cooperativas, feiras e fóruns de Economia Solidária (CORTEGOSO E SHIMBO, 2005). Entre as EAF existem as Universidades que tem com expoente de fomento à Economia Solidária as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs). O objeto empírico deste trabalho é uma ITCP, hoje institucionalizado como Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária na Universidade Federal de São Carlos. Os debates relacionados aos conceitos, abordagens teóricas e experiências em andamento de EcoSol sugerem várias questões. Uma destas questões se refere às possíveis contribuições da Sistematização de Experiências para a EcoSol.

2. Sistematização de experiências como reflexão de práticas, princípio educativo e processo de construção coletiva de conhecimento científico. É possível sistematizar experiências para realizar reflexão sobre práticas, utilizar a sistematização como princípio educativo e sistematizar conhecimento como parte do processo de produção de conhecimento científico. A sistematização de experiências vem sendo objeto de estudo de autores, os quais vêm sendo estudados pelo movimento de EcoSol 1. Holiday (2006) faz algumas constatações básicas quanto ao tema da sistematização de experiências. A princípio, afirma que efetivamente existe uma prática específica que merece o nome próprio de “sistematização”. Esta se diferencia de outras formas de lidar com o conhecimento, como a investigação ou a avaliação. Outra constatação é que o termo sistematização é utilizado de forma ambígua por atores sociais e mesmo entre os autores que se dedicam ao estudo deste fenômeno não há consenso quanto ao seu conteúdo. Falkembach (2007) aponta que a Sistematização de Experiências tem sido objeto de discussão, nas últimas décadas, de intelectuais latino-americanos ligados a experiências de 1

Ver, por exemplo, CFES (2012) que apresenta estudos de Oscar Jara Holiday, Elza Falkembach, João Francisco Souza, Erika Santibañez e María Eugenia Cárcamo entre outros.

4

Educação Popular. A origem da proposta de Sistematização de Experiências surgiu na área de Serviço Social na década de 50, um campo profissional, que tinha como concepção na época, de atendimento a população empobrecida. Neste campo surge uma modalidade de investigação social, com inspiração norte-americana, com intuito de “recuperar, ordenar, precisar e classificar” as ações profissionais para mudar as práticas e saberes dos pobres. Na década de 70, surge uma corrente crítica a este modelo, com nova concepção: sistematização como recuperação de práticas e reflexão sobre as mesmas, como fonte de conhecimento para transformação da realidade. Dois autores importantes destes processos são Paulo Freire e Orlando Fals Borda. Segundo Souza (2014), a sistematização permite aos próprios sujeitos de uma experiência a interpretação de problemas e suas causas, com a possibilidade de obter novos elementos, fazer reinterpretações e poder atuar coletivamente frente aos problemas existentes. Experiências reais são dinâmicas (estão em permanente mudança), complexas, com diversos elementos que se inter-relacionam e repletas de contradições. O ato de sistematizar está em compreender as diversas condições, situações, ações, percepções, interpretações, intenções, resultados esperados e inesperados, relações e reações de uma dada experiência para extrair ensinamentos e comunicá-las. O ideal é que este processo seja realizado de forma coletiva e com a participação de todos os atores de dada experiência. Para sistematizar uma experiência, existem diversas propostas. Holiday (2006) apresenta uma proposta em cinco etapas: 1. O ponto de partida em que se faz necessário ter participado da experiência e ter algum registro sobre ela; 2.As perguntas iniciais em que se define objetivo, objeto e eixo de sistematização; 3.Recuperação do processo vivido em que se reconstrói a historia, se ordena e classifica a informação; 4.A reflexão de fundo em que se analisa, sintetiza e interpreta criticamente o que aconteceu; 5.Os pontos de chegada em que se formulam conclusões e se comunica a aprendizagem da experiência. (CFES, 2012). Percebe-se que o tema da sistematização de experiência também sugere diversas questões. O movimento de Economia Solidária vem debatendo o tema da sistematização em um conjunto de eventos e têm produzido documentos e publicações a este respeito, como apresentado a seguir.

3. O debate sobre Sistematização de Experiências no movimento de Economia Solidária São diversos os eventos do movimento de Economia Solidária que tem o tema da sistematização como objeto de estudo e debate. Alguns exemplos são: Oficinas Nacionais de Formação/Educação em Economia Solidária, Plenárias Nacionais de Economia Solidária (PNES) e também via Conferência Temática de Formação e Assessoria Técnica (CTFAT) e Centro de Formação em Economia Solidária (CFES).

5

A I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária2, para analisarmos um exemplo, aborda o tema da sistematização como um dos elementos centrais. No primeiro momento do evento, foram abordados dois eixos: a formação de formadores em Economia Solidária e experiências de formação para empreendimentos econômicos solidários (EES). O documento publicado sobre oficina apresenta uma lista de tópicos referente a cada um desses dois eixos. Em ambos, o tema da sistematização é apontado. No eixo de formação de formadores foi indicada a importância da sistematização das experiências em conjunto com os empreendimentos, a partir de registros, organização e classificação das informações na cadeia produtiva. Quanto às experiências de formação de EES, foi indicada a importância da sistematização e disseminação do conhecimento construído. No segundo momento do evento, os participantes se organizaram em grupos de trabalho em torno de cinco temas, sendo que um deles foi “Princípios da educação/formação em Economia Solidária”. Em relação à sistematização, este item apresenta que “... a persistência deste processo coletivo que vai do registro, organização, classificação das experiências e conteúdos produzidos, validação das práticas, sensibilização de outros atores e concretização das aprendizagens é fundamento para construção da cultura e da história, ou seja, de um novo sentido de viver em sociedade.” (SENAES e FBES, 2006)

Alguns eventos trabalharam o tema da sistematização de forma mais superficial. É possível realizar uma análise da evolução que o tema foi tendo nestes eventos, no entanto isto ainda não foi realizado por este autor e este não tem conhecimento se este conhecimento está disponibilizado na literatura. Sabe-se, no entanto, que o documento “Diretrizes políticas metodológicas para educação em Economia Solidária” (SENAES/CNES/MCT, 2012) sintetiza os objetivos da sistematização em Economia Solidária: 1. Promover a reflexão crítica sobre a prática visando aprimorá-la; 2. Disseminar as experiências e os conhecimentos produzidos de forma a inspirar outras experiências; 3. Contribuir para identificar e referenciar os campos de pesquisa; 4. Validar coletivamente o conhecimento e as práticas formativas; 5. Construir instrumentos técnicos e simbólicos, visando incorporar indicadores qualitativos e quantitativos (de sustentabilidade socioeconômica, política, cultural, ambiental etc.) que apontem para uma avaliação da educação em Economia Solidária; 6. Construir processos coletivos de formação, consolidando redes, cadeias e trocas de experiências. Existem diversas instrumentos e ferramentas de apoio a sistematização de experiências. O Centro de Nacional de Formação em Economia Solidária (CFES – Nacional, 2012) identificou alguns como linha de tempo, mapa mental, diário de campo e entrevista, entre outras. A linha do tempo, detalhada a seguir por ser instrumento utilizado neste trabalho, é um instrumento didático através do qual é possível reconstituir e apresentar uma sucessão de fatos e processos que possibilitam a compreensão da trajetória das experiências vivenciadas coletivamente 2

Evento ocorrido entre 26 e 28 de Outubro de 2005.

6

ao longo de um período de tempo. A reconstituição de fatos e processos ocorridos é fundamental para a sistematização de uma experiência, principalmente se ela não vem sendo realizada de forma contínua e permanente. Sem esta reconstituição ficará difícil a re-apropriação critica da experiência vivida. A linha de tempo é uma ferramenta que possibilita esta reconstituição. Originária dos estudos em História, esta ferramenta passou por variações metodológicas e de visualização e tem sido utilizada em processos de sistematização de experiências em Economia Solidária. A ferramenta linha do tempo contribui na etapa 3 da proposta de sistematização de Jara Holiday(2006), apresentada no item 1.3, como forma de reconstrução da história, ordenação e classificação da informação. Para ser utilizada de forma efetiva, esta ferramenta necessita seguir alguns princípios e orientações metodológicas como: 1. estabelecimento de uma periodização, para que seja possível identificar períodos na história da experiência; 2. Diferenciar “texto” de “contexto” da experiência, em que o “texto” é o conteúdo propriamente dito da experiência e o “contexto” o universo mais amplo em que o “texto” se insere; 3. Construção coletiva da linha de tempo, que facilitará a reapropriação crítica pelo grupo com objetivo de fortalecer sua identidade, aprimorar sua prática, gerar novos conhecimentos entre outros. (CFES – Nacional, 2012) Qual o caminho a ser percorrido por quem tem interesse em iniciar um processo de sistematização? A literatura apresentada até aqui e outras existentes são suficientes para conduzir um processo eficiente de sistematização? O objetivo geral deste trabalho consiste em aumentar a compreensão sobre processos coletivos de sistematização, em especial quando utilizado a ferramenta linha de tempo. Os objetivos específicos consistem em identificar variáveis que interferem em um processo de sistematização coletiva, realizado no Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária (NuMI-EcoSol).

4. Estratégias gerais de pesquisa, planejamento de coleta e análise dos dados e caracterização do objeto empírico. A estratégia geral desta pesquisa é de caracterização pós-fato, levantamento exploratório, descritivo e documental, com o estudo de um caso: a sistematização de experiência da atuação do NuMI-EcoSol. O Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária (NuMI-EcoSol), objeto de estudo do presente trabalho, é sucessor de uma Incubadora de Cooperativas Populares (INCOOP) de uma universidade pública, a Universidade Federal de São Carlos. Trata-se de uma Incubadora Tecnológica de Cooperativa Populares (ITCP) similar a diversas outras ITCPs existentes em diversas universidades brasileiras. As incubadoras surgiram nas universidades brasileiras a fim de apoiar as atividades iniciais

7

de cooperativas populares de trabalhadores associados. Atualmente o País possui mais de 100 Universidades e aproximadamente 80 incubadoras de cooperativas populares que trabalham em redes. As incubadoras vêm contribuindo através de diferentes experiências para a viabilização econômica de iniciativas econômicas solidárias, para a sustentabilidade dessas iniciativas e para o desenvolvimento social local e a capacitação de pessoas. Há mais de 10 anos, as ITCPs aperfeiçoaram o chamado método de incubação, contribuindo para consolidação dos EES, para a produção de conhecimento na área e para educação dos diversos atores envolvidos. Entretanto, mais importante é o fato das incubadoras terem ampliado seu escopo de atuação, deixando de atuar somente no campo do cooperativismo e passando a discutir a economia solidária mais amplamente. A partir de então, as ITCPs passaram a incubar redes, grupos informais, associações etc., a trabalhar com perspectiva multidimensional, incorpora a perspectiva do desenvolvimento territorial. A referida Incubadora (hoje NuMI-EcoSol) foi inaugurada em 1998, desde então se dedicando a atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma articulada, relevantes para a Economia Solidária, dentre as quais se destacam as que se referem a processos de incubação de empreendimentos econômicos solidários, em várias atividades econômicas e em diversas localidades. Em sua atuação conta com a participação de docentes e alunos de diferentes áreas do conhecimento para desenvolver projetos de incubação de empreendimentos solidários. No ano de 2012, esta Incubadora se institucionalizou como uma unidade acadêmica, o NuMI-EcoSol, que procura produzir o conhecimento simultaneamente a ação na realidade social e na educação em Economia Solidária em diferentes espaços educativos. Doravante será utilizado para se referir a esta unidade acadêmica apenas o termo NuMI-EcoSol, apesar de anteriormente a 2012 ela ainda não existir e estar se referindo a INCOOP. A partir da elaboração de uma linha tempo para aumentar a compreensão do processo coletivo de sistematização do NuMI-EcoSol, foi possível identificar variáveis que interferem neste processo. Para construção desta linha de tempo consultou-se registros pessoais, documentos do NuMI-EcoSol como relatório de projetos executados e relatos de reunião. Também foram utilizados relatos dos autores e dados de observação direta. O NuMI-EcoSol optou pela elaboração de uma linha tempo para sistematização de sua atuação. Porém, para esta escolha não foi feita uma análise coletiva dos tipos de ferramentas existente para uma possível comparação entre elas, o que seria desejável.

5. O processo de construção da Linha de tempo como ferramenta de sistematização coletiva de experiências: Etapas gerais, condições essenciais do processo coletivo de sistematização da INCOOP/NuMI-EcoSol A sistematização da atuação do NuMI-EcoSol vem ocorrendo de forma coletiva, permanente

8

e com a utilização de ferramentas de sistematização. O produto obtido desta sistematização é uma linha de tempo da atuação do NuMI-EcoSol desde sua origem até abril de 2013. O processo de sistematização realizado também está sendo sistematizado, porém pela comissão de sistematização. Os produtos obtidos são: 1. Linha de tempo deste processo; 2. Identificação das variáveis favorecedoras e condições essenciais do processo de sistematização; 3. Identificação das dificuldades deste processo e; 4. Perspectivas de continuidade. A seguir, serão apresentados, primeiramente a linha de tempo do processo de sistematização, seguido da linha de tempo de atuação do NuMI-EcoSol para aumento da compreensão do processo ocorrido e do produto coletivo obtido com a sistematização realizada. Em seguida serão apresentadas as variáveis favorecedoras, condições essenciais, dificuldades e perspectivas de continuidade do processo de sistematização.

5.1 Linha de tempo do processo de sistematização coletiva da experiência de atuação do NuMI-EcoSol Para aumento da compreensão do processo de sistematização da atuação do NuMI-EcoSol optou-se, pela elaboração de outra linha de tempo deste processo. É possível observar, na Figura 1, esta linha de tempo com indicação de acontecimentos antecedentes e o processo de sistematização em si, ocorrido a partir de 2011. Para o eixo de sistematização “Processos de Sistematização Coletiva da experiência do NuMI-EcoSol” foram definidos os sub-eixos “Composição da Comissão de sistematização”, “Instâncias e momentos de sensibilização e decisão”, “atividades realizadas”, “produtos obtidos” e “Antecedentes”.

Fonte: Elaborado pelos autores Figura 1 – Linha de tempo do processo de sistematização do NuMI-EcoSol

9

Anteriormente a 2011, ocorreram sistematizações de alguns empreendimentos incubados e projetos executados pelo NuMI-EcoSol. Foram recuperadas dois momentos da atuação do NuMIEcoSol em que se utilizou a ferramenta linha de tempo para sistematizar experiências: a sistematização do EES MADEIRATE e sistematização de experiências de incubação de EES na cidade de Rio Claro, SP. Também nos acontecimentos antecedentes, vinha ocorrendo, no âmbito do movimento de Economia Solidária, um acúmulo de estudos e experiências sobre sistematização. A partir de 2011, foi criada uma comissão de sistematização composta por um docente “A”, dois coordenadores executivos (profissionais graduados) “B” e “C” e um aluno de graduação “D”. Entre os integrantes da comissão, um deles, o docente, vinha participando de instâncias do movimento de Economia Solidária e acompanhando a discussão sobre sistematização que vinha ocorrendo. Esta comissão se reuniu para definição de eixos e sub-eixos de sistematização e elaboração da primeira versão de uma linha de tempo, elaborada para o período entre 2008 e 2011. A definição de eixos e sub-eixos é um etapa importante na construção de uma linha de tempo. É através dele que se torna possível sistematizar aspectos mais relevantes da experiência e não tudo o que acontece. Na experiência do NuMI-EcoSol, definiram-se primeiramente os eixos de sistematização que foram definidos tendo como referência o aspecto que se queria ter como resultado do processo de sistematização.

A equipe do NuMI-EcoSol tem a consciência, em

diferentes graus entre seus membros, de que o Núcleo realiza produção de conhecimento, educação/formação em Economia Solidária e ação na realidade social de forma indissociável desde sua origem. A partir desta percepção do consciente coletivo e diante da necessidade de evidenciar este fato para diversos parceiros, principalmente acadêmicos, pensou-se em utilizar este três tipos de atividades em eixos da linha de tempo. Como em qualquer coletivo existe o aspecto da organização, da gestão e da estrutura e funcionamento do grupo que também se tornou um eixo. Por fim pensou-se em sistematizar as fontes que financiam as atividades do NuMI-EcoSol. Neste momento, final de 2011, havia a demanda para inserção desta linha de tempo em um relatório de um projeto em execução pelo NuMI-EcoSol. Então esta primeira versão foi sintetizada e digitalizada para inserção em tal relatório. Em 2012, de acordo com a Figura 1, o coordenador executivo “B” deixou de participar da comissão de sistematização, que continuou com três membros. A partir deste momento a comissão propôs a construção coletiva da sistematização da atuação do NuMI-EcoSol, por meio da utilização da ferramenta “Linha de tempo”. A comissão realizou um revisão da versão 1 da linha de tempo que vinha sendo elaborada, redefiniu os eixos e sub-eixos de sistematização e elaborou a segunda versão. Esta versão foi apresentada em reunião geral da equipe do NuMI-EcoSol, do dia 31 de agosto de 2012, para toda sua equipe, que revisou 10

eixos e sugeriu a inserção de alguns sub-eixos. Por falta de uma estratégia mais sistemática de sensibilização, não foram apresentados questionamento quanto ao objetivo ou finalidade da linha tempo. Tampouco se percebe que os integrantes compreendem esta atividade como algo importante. Nesta reunião ficou acordado, segundo relato, que “em todas as reuniões gerais essa linha do tempo será avaliada para sugestões e alterações”. Em seguida, a comissão estabeleceu critérios para localização, alternativas de materiais e layout para a fixação de um painel para construção da linha de tempo. Elaborou-se então uma quarta versão da linha do tempo fixando um painel em um das paredes da sede do NuMI-EcoSol, que pode ser observado na Figura 2 (que é apresentada com intuito de mostrar a dimensão da ferramenta, já que não é possível visualizar seu conteúdo). Este painel foi elaborado com a intenção de possibilitar a construção coletiva da linha de tempo que foi realizada até março de 2013.

Figura 2 – Linha de tempo em grande painel fixada na parede da sede do NuMI-EcoSol

Entre as estratégias adotadas para o preenchimento da linha de tempo estão convites que foram feitos à ex-integrantes do NuMI-EcoSol e membros de empreendimentos para que com o apoio de um membro da comissão de sistematização realize o preenchimento. A partir desta estratégia duas ex-integrantes e uma participante de um EES contribuíram no preenchimento da linha de tempo. Em abril de 2013, após sucessivas quedas do painel, este foi recolhido pela comissão de sistematização que tirou fotos e o digitalizou dando origem à versão atual da linha de tempo.

11

5.2 Indissociabilidade entre produção de conhecimento, educação e ação na realidade social explicitada por uma linha de tempo da atuação do NuMI-EcoSol A versão atual da linha de tempo, mesmo sendo a quarta versão da linha do tempo ainda está bastante incompleta em relação ao conjunto de ações realizadas pelo NuMI-EcoSol. As principais fontes consultadas foram relatórios de projetos executados. O produto a que se chegou trata-se ainda de um primeiro exercício de um processo de envolvimento da equipe para sistematização coletiva de sua própria atuação. A linha de tempo, desde suas primeiras versões, é de grande dimensão, o que dificulta a sua apresentação. A redução para caber em um artigo, o torna ilegível. De qualquer forma, o foco deste trabalho não é tanto o conteúdo da linha de tempo, mas o processo para construção desta. Neste sentido, será apresentada uma explicitação de sínteses por eixo de sistematização da linha de tempo. Para tanto a última versão da linha de tempo, foi digitalizada e destacada eixo a eixo como pode ser observado na Figura 3.

Fonte: Elaborado pelos autores Figura 3 – Divisão da linha de tempo em eixos

O primeiro eixo da linha de tempo refere-se a produção de conhecimento. O Quadro 2 apresenta a síntese da Produção Científica do NuMI-EcoSol realizada desde sua origem.

12

Quadro 2 - Síntese da Produção Científica na linha de tempo

Fonte: Elaborado pelos autores

Desde o início de sua atuação, o NuMI-EcoSol vem produzindo artigos, monografias e dissertações enfatizando diferentes aspectos da Economia Solidária, com envolvimento de alunos de graduação de diferentes cursos para a realização de monografias, estudantes de diversos cursos de mestrado. Para aumentar as possibilidades de divulgação das experiências desenvolvidas e dos resultados para diferentes tipos de públicos como possibilidade de replicação de suas ações em outros territórios, o NuMI-EcoSol realiza: 1) sistematização contínua de suas experiências; 2) produção de meios para divulgação dos resultados de sua atuação; 3) organização de eventos de avaliação e divulgação das condições favorecedoras e dos obstáculos, para aumentar as possibilidades de transferência para outros grupos e territórios. O NuMI-EcoSol elaborou e procura manter atualizada uma lista de produções científicas desde o início de sua atuação. Uma síntese, agrupando as produções por tipos, é o conteúdo deste eixo na linha de tempo. Além das quantidades foram inseridos os nomes dos eventos. O Quadro 3 apresenta a síntese do segundo eixo, referente a Formação/Educação em EcoSol realizada pelo NuMI-EcoSol entre 1999 e 2013. Quadro 3 - Síntese da Formação/Educação em Economia Solidária na linha de tempo

Fonte: Elaborado pelos autores

13

Devido à inserção do NuMI-EcoSol no contexto universitário, suas ações contam com a participação de alunos de graduação e pós-graduação de diversas áreas, servindo como condição relevante para a difusão da Economia Solidária e para a formação de profissionais com maior potencial de atuar de modo a contribuir para iniciativas do âmbito da EcoSol. Estes alunos se inserem nos projetos como estagiários, bolsistas de diversas modalidades e discentes da disciplina “Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão (ACIEPE) – Cooperativismo popular e Economia Solidária”. A inserção da temática da Economia Solidária nos cursos de graduação e pós-graduação ainda é limitada, por meio de estágios, iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso e mestrado e doutorado. Não há, até o momento, nas universidades de São Carlos um programa de pós-graduação especificamente relacionado à Economia Solidária. Além destas atividades formativas, a equipe do NuMI-EcoSol oferece palestras, minicursos e oficinas. Neste eixo, o único sub-eixo que foi preenchido de forma mais completa foi o sub-eixo “Formação de alunos de Graduação” em que foram inseridos cada oferta da disciplina ACIEPE com quantidade e cursos dos alunos. A síntese das mudanças ocorridas nas ações na realidade social pode ser observada no Quadro 4. Quadro 4 - Síntese das mudanças ocorridas nas ações na realidade social na linha de tempo

Fonte: Elaborado pelos autores

Quanto a “Ação na realidade social”, é dada centralidade na assessoria a empreendimentos e 14

grupos para constituição de iniciativa de Economia Solidária na forma de incubação. Até 2007 incubava apenas cooperativas localizadas na região de São Carlos. A partir de 2007 a INCOOP passa a atuar em dois territórios (urbano e rural) com a perspectiva de promover o desenvolvimento territorial. Passa então, a assessorar grupos para constituírem além de empreendimentos econômicos, outras iniciativas de Economia Solidária, como feiras de trocas, cadeias produtivas e redes, com foco em apenas dois territórios, sendo um rural e um urbano. A partir de 2011 a atuação preferencial centrou-se apenas no território urbano, um bairro periférico da cidade de São Carlos. Também foram realizadas ações educativas de promoção ao acesso a direitos de cidadania como saúde, cultura, lazer, educação matemática, entre outros. São diversos os parceiros de atuação do NuMI-EcoSol, sendo que até 2007 eram predominantemente de prefeituras das cidades em que o NuMI-EcoSol atuava. A partir de 2007 os parceiros foram predominantemente aqueles com atuação nos territórios-alvo no NuMI-EcoSol, entre eles, ONGs, grupos religioso, secretarias municipais, grupos de pesquisa, entre outros. O Núcleo também realiza atuação no movimento de Economia Solidária trata-se da participação do NuMI-EcoSol nas diversas instâncias deste movimento. Quanto à síntese da organização, gestão, estrutura e funcionamento do NuMI-EcoSol, ver Quadro 5. Quadro 5 – Síntese da organização, gestão, estrutura e funcionamento do NuMI-EcoSol na linha de tempo

Fonte: Elaborados pelos autores

Quanto a este eixo, foram preenchidos dois sub-eixos, “Processos de Formalização” e “Instâncias de decisão”. Como já apresentado anteriormente a antiga INCOOP se institucionalizou como NuMI-EcoSol. No sub-eixo “Instâncias de decisão” foram sendo inseridos as diferentes formas em que o NuMI-EcoSol se organizou quanto ao processo de tomada de decisão. Inicialmente, até 2007, com reuniões gerais semanais , a partir de 2007 com reuniões específicas sobre o projeto de Desenvolvimento territorial a cada 15 dias, intercalado com as reuniões gerais e a partir de 2011 com 3 reuniões gerais mensais e um para tratar sobre o andamento da estruturação das linhas de ação, constitutivas de toda unidade acadêmica da UFSCar. 15

E por fim, no Quadro 6 é possível observar a síntese da organização, gestão, estrutura e funcionamento do NuMI-EcoSol. Quadro 6 - Síntese das fontes de financiamento na linha de tempo

Fonte: Elaborado pelos autores

Por fim, o eixo “Fonte de Financiamento" tentou resgatar as diferentes fontes que financiam as atividades do NuMI-EcoSol. A primeira fonte foi oriunda do orçamento da UFSCar. Depois, a equipe começou a captar recurso por meio de participação em editais e também recebeu prêmios. Outra fonte para financiamento das atividades do Núcleo foi a constituição de um fundo coletivo composto principalmente por doação do pró-labore de docentes. Percebe-se que o NuMI-EcoSol está apenas iniciando seu processo coletivo de sistematização, sendo que o esforço empreendido para construção de uma linha do tempo ainda pode avançar consideravelmente. A reflexão crítica em relação a sua prática por meio da linha de tempo está sendo realizada, porém não de forma coletiva, mas apenas por membros da comissão de sistematização. Parte deste processo está na identificação de variáveis favorecedoras e dificuldades que surgem na construção de uma linha de tempo.

5.3 Identificação das variáveis favorecedoras do processo de sistematização coletiva da atuação do NuMI-EcoSol Foram identificadas como variáveis favorecedoras para a sistematização coletiva da experiência do NuMI-EcoSol, em especial a construção de um linha de tempo: 1. integrante da equipe com participação em instância do movimento de EcoSol que vem realizando discussão sobre sistematização; 2. existência de uma pessoa ou grupo de pessoas com conhecimento e habilidade em sistematização; 3. demandas por sistematização; 4. criação de uma comissão de sistematização e que tenha atuação contínua e permanente; 5. existência de uma estratégia de sensibilização, desde o início do processo de sistematização; 6. pessoas motivadas; 7. apropriação das pessoas quanto ao objetivo da linha de tempo; 8. participação de pessoas que vivenciaram a experiência; 9. definição de eixos e sub-eixos feito de forma coletiva desde o início; 10. acesso a fontes de informações sobre a experiência sistematizada; 11. presença e apoio de alguém da comissão de sistematização no momento de preenchimento da linha de tempo por parte de qualquer pessoa. 16

A participação de um docente na I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária contribui para que este tema começasse a ser discutido no NuMI-EcoSol. Considera-se como favorecedor a participação, de pelo menos uma pessoa, em instância do movimento de EcoSol que vem realizando discussão sobre sistematização. Na experiência do NuMI-EcoSol, o fato de uma pessoa com conhecimento e habilidade em sistematização, foi favorável para a realização do processo de sistematização. Sem esta pessoa este processo teria menor chance de ser iniciado e sido levado adiante. No entanto, o fato de haver apenas uma pessoa é identificado como desfavorecedor (ver item 5.4). Outro fator que contribuiu para que se mantivesse na agenda das pessoas a construção da linha de tempo foram demandas por sistematização presente no coletivo. A redação de um livro sobre 10 anos de atuação do NuMI-EcoSol, a inauguração da sede com a visita do prof. Paul Singer e a redação de relatórios de pesquisa são exemplos dessas demandas. No caso estudado, mesmo com a existência de uma comissão de sistematização houve baixa participação do coletivo. Se a atuação desta comissão fosse mais contínua e permanente aumentaria a possibilidade de maior participação. Nesta experiência, não houve uma estratégia sistemática e permanente de sensibilização das pessoas para o preenchimento da linha de tempo. Apenas houve uma apresentação da linha de tempo em reunião geral e o encaminhamento de que esta seria preenchida de forma contínua, reservando para isto um tempo nas reuniões. No entanto isto não foi o suficiente para um preenchimento desejável. A participação de pessoas motivadas é considerada variável favorecedora para realização de qualquer atividade. Uma variável que favorece a motivação das pessoas é a apropriação delas quanto ao objetivo do processo de sistematização, em especial da linha de tempo. Outra variável favorável identificada é a participação de pessoas que vivenciaram a experiência em seu processo de sistematização. A alta rotatividade de pessoas no NuMI-EcoSol faz com que a maioria da equipe atual esteja nela a menos de dois anos. A definição de eixos e sub-eixos se feito de forma coletiva, desde o início do processo de sistematização contribui para a apropriação das pessoas e motivação. Sistematizar aspectos que foram definidos por outra pessoa, mesmo sendo alguém de sua equipe de trabalho, aumenta o grau de aversão pela atividade. O acesso a fontes de informações sobre a experiência sistematizada, seja de depoimento de pessoas que vivenciaram a experiência, como ex-integrantes e uma participante de EES, ou registros de qualidade sobre a experiência é favorecedora para a sistematização de experiências. Grande parte das demais informações foram obtidas por membros da comissão de sistematização em relatórios de projeto executados pelo NuMI-EcoSol. No momento do preenchimento da linha de tempo por parte de qualquer pessoa, a presença e apoio de alguém da comissão de sistematização contribui positivamente. Percebeu-se que praticamente nenhuma 17

contribuição foi feita sem a presença deste apoio.

5.4 Identificação das variáveis desfavorecedoras do processo de sistematização coletiva da atuação do NuMI-EcoSol As variáveis desfavorecedoras identificadas foram: 1. Ausência de estudo sobre alternativas de visualização da ferramenta de sistematização utilizada; 2. Fontes de informações precárias; 3. Apenas uma pessoa com maior conhecimento e habilidade em sistematização; 4. Alta rotatividade das pessoas da equipe; 5. Baixa motivação, tempo e repertório das pessoas. O tamanho do painel elaborado pela comissão de sistematização (ver Figura 3), tanto como o tamanho das cartelas, o tamanho da fonte utilizada para o preenchimento não foi devidamente analisado. O painel caiu diversas vezes devido ao peso. Houve desperdiço de espaço entre as cartelas por falta de análise quanto ao tamanho destas e o tamanho da fonte impossibilitou a visualização em reproduções escala menores. A Fonte informação principal para o preenchimento da linha tempo, os relatórios de pesquisa estão sem padronização, com informações com gruas de detalhamento diferentes, informações incompletas e insuficientes em relação as atividades realizadas. Outro fato desfavorável foi apenas uma pessoa deter este conhecimento e devido a proposta de construção coletiva da sistematização, esta ficou prejudicada. É desejável a apropriação de fundamentos conceituais, teóricos e metodológicos sobre sistematização. Como já citado anteriormente a alta rotatividade das pessoas da equipe desfavorece o processo de sistematização visto que as pessoas recém ingressas na equipe ficam com dificuldade em contribuir com uma atividade de reconstrução do que elas não participaram. Por fim baixa motivação, tempo de dedicação e ausência de repertório das pessoas também foi prejudicial para o processo.

6. Conclusões e perspectivas de continuidade É possível observar que a partir da elaboração da linha de tempo é possível identificar variáveis que interferem, mudanças percebidas na experiência sistematizada, destacar lacunas, propostas de continuidade e novas questões. Constata-se também que o processo de sistematização de experiências é importante para melhoria das práticas de grupo que nem precisam ser de Economia Solidária. Como continuidade do processo de sistematização pretende-se realiza a sensibilização de pessoas com perfil desejável, levando em consideração as variáveis indicadas, como por exemplo, alguém que tenha participado da experiência há bastante tempo, tenha consciência da importância desta ação. Outra proposta consiste em realizar preenchimento com pequeno grupo de pessoas que 18

tenha participado de uma experiência comum, por exemplo, membros de um mesmo EES. Este processo favorece a troca de percepções entre os participantes e contribui para que haja mais informações, pois a informação de contribui para a memória de outra. Também contribui com a validação das informações, que podem se complementar ou até se contradizer. Através do diálogo entre as pessoas presentes podem-se superar os pontos em contradição. Quanto ao conjunto dos eixos e sub-eixos pretende-se realizar revisões constantes. Até o momento verificou-se a possibilidade de inserção de alguns sub-eixos. No eixo “Formação em Economia Solidária”: número de pessoas formadas (graduação, pós-graduação, trabalhadores associados, etc.) e egressos da INCOOP. No eixo “Fontes de Financiamento”: recursos Financiados. No eixo “Organização, gestão, estrutura e funcionamento”: gestão administrativa e estrutura e funcionamento. Pretende-se ainda melhorar as ferramentas utilizadas, elaborar um de painel mais definitivo para, por exemplo, evitar quedas, além de realizar atividades formativas para aprofundar os conceitos. Está em elaboração um projeto de pesquisa de doutorado que começará a ser executado ainda este ano.

Referências Bibliográficas AMORIM, A. N. Economia Solidária – princípios e contradições. Dissertação (Mestrado) em Política Social pelo Programa de Pós-graduação em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010. CENTRO NACIONAL DE FORMAÇÃO EM ECONOMIA SOLIDÁRIA. Sistematização de experiências da Economia Solidária: referenciais, etapas e ferramentas para o processo de sistematização. Brasília, DF, 2012 CORTEGOSO, A. L. e SHIMBO, I. Emprendimentos solidários, universidades, movimentos sociais e gestores públicos: articulação de esforços na promoção da Economia Solidária no Brasil de hoje. In: 2ª Jornada Universitaria sobre Cooperativismo, Economía Solidaria y Procesos Asociativos. Montevidéo, 2005. FALKEMBACH, E. M. F. Sistematização em educação popular: uma história, um debate... In: Reunião Anual da ANPED, 30., Caxambu, 2007. p. 18. FRANÇA FILHO, G. C. (Org.) et al. Ação pública e economia solidária: uma perspectiva internacional. Salvador: EDUFBA; Editora da UFRGS, 2006. 326 p. (Série Sociedade e Solidariedade). ISBN 85-7025-859-3. GAIGER, L. I. A Economia Solidária diante do modo de produção capitalista. Disponível em: . Acesso em: set. de 2003. GERMER, C. A “Economia Solidária”: Uma crítica Marxista. In: Estudos de Direito Cooperativo e Cidadania, Curitiba, 2009. JARA HOLIDAY O. Para sistematizar experiências. tradução de: Maria Viviana V. Resende. 2. ed., revista. – Brasília: MMA, 2006. 128 p. ; (Série Monitoramento e Avaliação, 2) LAVILLE, J.L.(org.), L_économie solidaire: une perspective internationale. Paris, Desclée de Brouwer, 1994. 19

MENEZES, M. T. C. G. Economia Solidária: elementos para uma crítica marxista. Rio de Janeiro, Gramma, 2007. PINTO, J. L. R. Economia Solidária: um elogio à associação em tempos de crise. Tese de Doutorado. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, IUPERJ, Rio de Janeiro, RJ, 2004. POLANYI, K. The Great Transformation. Foreword by Robert M. MacIver. Boston: Beacon Press, 1957. PITAGUARI S. O. E CÂMARA M. R. G., As motivações e desafios para a consolidação da Economia solidária. In:BORINELLI B., SANTOS L. M. L. E PITAGUARI S. O. (Org.). Economia Solidária m Londrina, aspectos conceituais e a experiência institucional. Londrina: UEL, 2010. SECRETARIA NACIONAL DE APOIO A ECONOMIA SOLIDÁRIA e FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA. I Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária: documento final. – Brasília: MTE, SENAES, SPPE, DEQ, 2006. SECRETARIA NACIONAL DE APOIO A ECONOMIA SOLIDÁRIA e FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA. II Oficina Nacional de Formação/Educação em Economia Solidária: documento final. – Brasília: MTE, SENAES, SPPE, DEQ, 2007. SINGER, P. e SOUZA, A. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000. SINGER, P. Introdução a Economia Solidária. São Paulo: Contexto. 2002. SOUZA, J. F. Sistematização: um instrumento pedagógico nos projetos de desenvolvimento sustentável. Disponível em: . Acesso em: Dezembro de 2014. TIRIBA, L. Los trabajadores, el capitalismo y la propiedad colectiva como estratégia de supervivencia y de sociedad: rastreando el debate histórico. Contexto e Educação, Ijuí, 46, 1997.

20

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.