ANÁLISE DAS TEORIAS DA DECISÃO DE VOTO E COMPORTAMENTO DO ELEITOR
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Universidade Candido Mendes Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro Graduação em Relações Internacionais
PEDRO HENRIQUE GIARDINI
ANÁLISE DAS TEORIAS DA DECISÃO DE VOTO E COMPORTAMENTO DO ELEITOR 1
Pedro Henrique Giardini
ANÁLISE DAS TEORIAS DE DECISÃO DO VOTO E COMPORTAMENTO DO ELEITOR Monografia apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro da Universidade Candido Mendes como prérequisito para obtenção do título acadêmico de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Marcelo Simas Pedro Henrique Giardini
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ANÁLISE DAS TEORIAS DE DECISÃO DO VOTO E COMPORTAMENTO DO ELEITOR Monografia apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro da Universidade Candido Mendes como prérequisito para obtenção do título acadêmico de Bacharel em Relações Internacionais sob orientação do Prof. Marcelo Simas..
__________________________________________ Prof. Marcelo Simas. – IUPERJ
__________________________________________ Prof. Antônio Botelho – IUPERJ Leitor crítico
Rio de Janeiro 3
Dedico esse trabalho aos amigos que ajudaram, aos professores que orientaram, aos familiares que aturaram e a instituição que permitiu.
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“Raros são aqueles que decidem após madura reflexão; os outros andam ao sabor das ondas e longe de se conduzirem deixamse levar pelos primeiros.”
Sêneca
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SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO……………………………………………………………..8
TEORIA SOCIOLÓGICA………………………………………………....10
MODELO MICHIGAN……………………………………………………..16
TEORIA RACIONAL……………………………………………………....23
TEORIA COGNITIVA……………………………………………………...29
PSICOLOGIA E VOTO……………………………………………………34
CONCLUSÃO………………………………………………………………41
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO……………………………………....43
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RESUMO: Essa pesquisa tem como objetivo analisar as quatro principais teorias de voto, a teoria sociológica de Lazarsfeld, o modelo Michigan de Campbell, a teoria racional de Downs e a teoria cognitiva de Heider e Festinger. O trabalho foi feito através da leitura de artigos e teses acerca do tema, buscando uma abordagem não só histórica, mas analítica, através de autores contemporâneos. Em conclusão, observase uma análise do próprio trabalho, apontando as relações entre o ser humano, o poder e a política.
ABSTRACT: This paper has a goal to analyze the four main voting theories. The Lazarsfeld’s sociological theory, the Campbell’s Michigan Model, Down’s rational theory and Heider’s and Festinger’s cognitive theory. This work was done by reading of articles and thesis, having an historical and analitical approach through contemporary authors. In conclusion, an analysis of the paper itself, pointing the relations between the human being, power and politics.
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INTRODUÇÃO: O poder sempre foi o alvo e ambição do homem. Os meios para adquirir esse poder variaram com o tempo, mas desde a criação da república grega, que o mundo começou a estudar como ser o representante de um povo. Cícero, para ser eleito Consul de Roma, recebeu uma carta de seu irmão com ensinamentos de como conseguir seus votos. A busca pela eleição é tão antiga quanto as fundações do conhecimento ocidental. Maquiavel, filósofo e um dos pais da ciência política, tem como seu trabalho mais famoso O Príncipe. Livro com ensinamentos e prescrições sobre como ser um governante mais eficiente e de como se manter no poder. Destaco um trecho demonstrativo, de como Maquiavel via a realidade. Deve, pois, um príncipe não ter outro objetivo nem outro pensamento, nem tomar qualquer outra coisa por fazer, senão a guerra e a sua organização e disciplina, pois que é essa a única arte que compete a quem comanda. E é ela de tanta virtude, que não só mantém aqueles que nasceram príncipes, como também muitas vezes faz os homens de condição privada subirem àquele posto; ao contrário, vêse que, quando os príncipes pensam mais nas delicadezas do que nas armas, perdem o seu Estado. A primeira causa que te faz perder o governo é negligenciar dessa arte, enquanto que a razão que te permite conquistálo é o ser professo da mesma. (Maquiavel, pg. 86, 2010)
Com democracias mais estáveis surgindo, o detentor de poder passou a ser o que era mais votado pela população de um estado, e dessa forma, o estudo de como vencer guerras e batalhas deu espaço para o estudo de como vencer eleições. Este trabalho começa nesse ponto, analisando as principais teorias do voto. Começando na década de 1940, com Paul Lazarsfeld e sua teoria sociológica, onde cada indivíduo vota de acordo com seu ambiente. Após essa analise, abordamos o modelo Michigan e Angus Campbell, seu principal teórico. O modelo Michigan dizia que 8
sim, os eleitores são afetados pelo ambiente, mas, o maior impacto decisório provém dos acontecimentos passados e presentes na vida do indivíduo. Em terceiro momento, olhamos sobre a teoria econômica do voto e seu principal autor Downs. A teoria racional, por sua vez, aponta que o indivíduo não decide através da sua classe ou dos acontecimentos da sua vida, mas sim, de quanto vai ganhar ao votar em candidato A ou B. Ele faz sua escolha de forma a maximizar seu ganho pessoal. Por último, observamos a teoria cognitiva do voto, e sua relação de consistência e dissonância. Essa teoria afirma que os indivíduos buscam a consistência e coesão de atitudes e pensamentos, e tendem sempre a manifestar seus interesses de forma a fazer sentido com suas ações passadas. O estudo dessas 4 principais teorias tenta demonstrar ao eleitor a vastidão de conhecimento na área e também pretende explicar de forma concisa o que cada uma defende. Esse trabalho, porém, está longe de ser completo sobre o assunto, pois, não aborda ramificações e mutações das dadas teorias. Além disso, o ramo de comportamento do eleitor nos dias de hoje está fortemente baseado na teoria econômica do voto e, por isso, muitas ramificações desta aparecem. Mas novas ideias e teorias surgem. A teoria psicodinâmica e a teoria dos jogos evolutiva são só dois exemplos do grande leque de novos estudos.
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1. TEORIA SOCIOLÓGICA: A Teoria Sociológica, estabelecida na Universidade de Columbia nas décadas de 1940 e 1950, por Paul Lazarsfeld, que baseia sua teoria na Escola de Würzburg da psicologia, afirma que eleitores tomam atitudes políticas já de acordo com suas predisposições políticas, sociais, econômicas e religiosas. Pela primeira vez os questionários foram utilizados como técnica de investigação da corrida eleitoral presidencial. Essa investigação tinha como uma das metas identificar como os eleitores chegam ao seu voto (Antunes, 2010). Essa investigação usava uma série de questionários durante diversos momentos. Esse “painel” foi desenvolvido de uma forma que é possível medir mudanças de opinião conforme o tempo (Bartels, 2008). O trabalho de Lazarsfeld, “The People’s Choice” pode ser resumido em duas sentenças, “as pessoas votam em grupos” e, “uma pessoa pensa politicamente da forma como ela é socialmente”. Com o intuito de demonstrar como a mídia pode afetar a decisão do voto, a equipe pesquisadora surpreende ao demonstrar no estudo “The People’s Choice”, de 1944, que uma minoria, 9% dos eleitores apenas, muda seu voto com o passar do tempo, contradizendo sua hipótese inicial. Essa observação permitiu isolar melhor as variáveis, surgindo então a categorização do eleitor em três dimensões, Estado SocioEconômico, Religião e Área de Residência.
1.1 Escola de Würzburg: Na virada do século 20, a psicologia experimental ainda estava na sua infância e um grupo de estudiosos se reuniram na universidade de Würzburg. Pegando influência das primeiras escolas de psicologia, como apontado por Visser (1998), os pesquisadores mantinham 3 princípios. Sensacionismo, que é o entendimento que todos os elementos da consciência são afetados por acontecimentos, experiências e sensações. Associacionismo, todos os pensamentos complexos são fruto de combinações de elementos mais simples. Já no terceiro princípio, a escola de Würzburg
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discorda de Wundt, pioneiro da psicologia. Wundt diz que processos complexos, como pensamento e vontade, não podem ser mensurados. Já os estudiosos de Würzburg, liderados por Külpe, acreditam que sim, é possivel mensurar processos complexos. Bühler, um Würzburgueano, argumenta que nenhuma das 3 correntes mais famosas de análise na época, a Würzburgueana, a Behaviorista e a `Geisteswissenschaftlich’, seriam sozinhas, capazes de compreender o pensamento do indivíduo. Mas sim todas aplicadas de forma simultânea. O método de estudo de Bühler consistia em entrevistas em profundidade ao longo de um grande período de tempo. Ele, então, se muda para a universidade de Vienna e trabalha junto a um de seus alunos, Lazarsfeld (Visser, 1998).
1.2 Homogeinização do eleitorado: Um dos maiores achados de Lazarsfeld (1944) foi de que poucos eleitores mudam de opinião durante a campanha. De 600 indivíduos, apenas 54 mudaram de opinião. A associação do eleitor com o grupo social a qual pertencia era tão grande, que a divisão do mesmo em 3 categorias era fácil. Onde ele se encontrava socioeconomicamente, qual era a sua religião e onde morava prediz como irá votar com grande precisão (Antunes, 2010). “Características sociais determinam preferências políticas” (Lazarsfeld, Berelson e Gaudet, 1968). Com essa afirmação podemos observar como a teoria sociológica do voto, como é chamada, se baseia exclusivamente no conceito de eleitor prisioneiro, como apontado por Figueiredo em 1968. No qual coloca o eleitor, no modelo sociológico de voto, como prisioneiro a sua classe social e, consequentemente, as escolhas inerentes a esse grupo. Isso significa que, de acordo com o modelo proposto por Lazarsfeld, o eleitor irá votar de acordo com sua classe social, de acordo com as pessoas que moram, que vivem ou que trabalham com ele, como é possível notar nas figuras a seguir.
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Figura 1 Estudo demográfico dos votos nos Estados Unidos
Homens, Mulheres, Brancos, Negros e Hispânicos tendem a votar da mesma maneira apesar do passar do tempo.
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Figura 2 Estudo demográfico dos votos nos Estados Unidos
A escolaridade e religião também são fatores decisivos para a decisão do voto, e se mostram regulares com o passar do tempo
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http://pt.slideshare.net/christopherrice/votingandelections43202 http://pt.slideshare.net/christopherrice/votingandelections43202
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Com a maioria dos eleitores tomando sua decisão eleitoral utilizando sua base social e econômica, temos então uma possível homogeneização de grupos eleitorais, podendo prever, até certo nível, em quem cada grupo eleitoral vai votar.
1.3 Clivagem Política:
A separação entre classes é chamada de clivagem, conceito proposto por Lipset e Rokkan (1967) e Rokkan (1970). Essa separação é relevante, pois, como aponta Sarlamanov e Jovanoski (2014), toda energia política da sociedade é canalizada através dos sujeitos políticos, sujeitos esses que são os defensores dos interesses de seus grupos sociais, “Desta forma, política é um assunto sobre interesses de grupos” (SARLAMANOV e JOVANOSKI, pg. 18, 2014). Como grupos sociais não são atores políticos, eles são representados por partidos e indivíduos. Lipset e Rokkan fazem sua abordagem sobre a clivagem baseados na teoria de conflito. Eles identificam três formas. Conflito é baseado em diferenças socioeconômicas. Conflitos possuem consequências ideológicas. Conflitos não são previamente institucionalizados. Esses critérios ajudaram os pesquisadores a demonstrar que, conflitos tem base social, que esses conflitos se identificam com grupos sociais, partidos políticos e sujeitos políticos e identificar quais possíveis instituições podem resolver tal conflito (Sarlamanov e Jovanoski, 2014). As clivagens relevantes são aquelas que dividem os grupos sobre temas políticos de relevância. Essas clivagens, porém, podem se modificar conforme a história e o tempo (Sarlamanov e Jovanoski, 2014). Lipset e Rokkan (1967), porém, definem quatro grandes clivagens, sendo elas, a divisão entre periferia e centro, igreja e estado, urbano e rural, e capital e trabalho. Essas divisões são de grande importância, principalmente, depois da percepção da mesma pelos sujeitos políticos (Antunes, 2010). Essas clivagens primárias exercem muita força política para mobilização, pois, todas as quatro possuem raízes sociais profundas, e podem surgir ao ser discutido outros temas de relevância pelos sujeitos políticos. O caso mais comum, como apontam
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Sarlamanov e Jovanoski (2014), é marcar essas clivagens em outras já existentes no cenário político de interesse do sujeito, para ganhar mais força e relevância.
1.4 Interesse público, mídia e comunicação política: O trabalho da teoria sociológica do voto é extremamente baseada na aquisição da informação como vetor de mudança. Informação essa que vem através do convívio com o seu ambiente. Esse vetor de mudança aparece como mecanismo gerador de decisão. O estudo de Lazarsfeld propõe 3 possíveis efeitos: ativação dos indiferentes, fortalecimento dos laços com seu partido e conversão dos indecisos. Foi observado grande impacto da propaganda em eleitores já prédispostos a votar em tal candidato (Antunes, 2010). “Isso é o que a campanha faz: reforço 53%; ativação de uma predisposição 14%; reconversão 3%; conversão parcial 6%; conversão 8%; sem efeito 16%” (Lazarsfeld, Berelson e Gaudet, pg. 103, 1968). Esses dados demonstram, portanto, uma estabilidade dos eleitores, com poucas mudanças da decisão do voto, mas isso, no entanto, não significa que a comunicação não tem propósito. O uso da comunicação política serve, nesse contexto, para ativação e reforço das predisposições partidárias (Mundim, 2010). Esse resultado é atribuído a um fenômeno de atenção seletiva por parte dos eleitores, como aponta Antunes (2010), em que os eleitores que mais prestam atenção a comunicação política, normalmente, são os mesmos que já tem sua opinião políticopartidária formada. “O poder de influência dos apelos momentâneos de campanha eram fortemente inibidos pelas identidades políticas e pelo ambiente social dos eleitores” (Mundim, 2010). Esses dois fatores tornam a aquisição de informação algo muito seletivo, em que só irá chamar a atenção do eleitor, só chegará a ser informado a ele, coisas que se alinham com o pensamento das pessoas a sua volta. Seja através de formadores de opinião em seus grupos sociais, dos jornais lidos por seus iguais ou da rádio e televisão ligada nos bares e nos vizinhos. A teoria sociológica mostra que a decisão do voto não é algo individualizado, mas sim, uma construção
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social, que influencia, e em algum nível impõe, certo tipo de pensamento. A decisão é um elemento de coesão do grupo, e não uma decisão individualizada. (Antunes, 2010). Em 1954 os pesquisadores da teoria sociológica do voto identificaram 3 novas dimensões de estudo. A primeira é a diferenciação social, que baseada na condição socioeconômica, religião, cor e lugar de residência, gera discordância e afastamento político. A segunda dimensão é que existam condições para melhor transmissão dessas précondições de geração para geração. A terceira dimensão diz que existe muito maior proximidade entre membros do mesmo grupo que entre membros de grupos opostos. Essas três dimensões, diferenciação, transmissão e proximidade tornam os grupos sociais vetores cada vez mais fortes de influência e decisão política (Antunes, pg. 150, 2010). O estudo de 1954 mostrou, ainda, que os principais temas de discordância eram os econômicos, apresentando uma grande diferença entre os grupos socioeconômicos, afiliações partidárias e nível de interesse nas eleições. Os eleitores inconsistentes preferem ignorar as diferenças do que mudar de candidato ou de partido (Antunes, 2010).
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2. MODELO MICHIGAN: O trabalho de Lazarsfeld na universidade de Columbia demonstrou o potencial das pesquisas para entendimento dos resultados eleitorais. O modelo Michigan, cujo principal teórico é Angus Campbell, nasceu em uma pesquisa sobre políticas internacionais realizada em outubro de 1948, com resultados publicados em 1952 (Bartels, 2008). Sua base psicológica é a escola de Gestalt (Visser, 1998). Os trabalhos da escola de Michigan se diferem em dois pontos dos de Lazarsfeld e dos pesquisadores da Columbia. A escola de Michigan baseia seus dados em pesquisas nacionais, já Columbia em painéis em determinadas cidades. Como apontado por Mundim (2010), além disso, para os pesquisadores de Michigan o modelo psicológico, ou seja, as motivações, inclinações e predisposições psicológicas, são fatos fundamentais de análise, diferentemente do estudo de Columbia, que se foca em classes, regiões, cor, religião e afins. Depois da primeira pesquisa ter sido um sucesso, chamando atenção do público e da mídia, os pesquisadores de Michigan decidiram fazer nova pesquisa para “analisar a influência de vários fatores psicológicos, sociológicos, e políticos na decisão do voto” (Campbell e Kahn, 1952). Essa pesquisa iniciou uma série de replicações, ano após ano, utilizando do modelo Michigan para identificar e entender a eleição nos Estados Unidos.
2.1 Escola de Gestalt: A escola de Gestalt se opunha fortemente a Würzburguiana, dizendo que o processo de sensacionismo e o associacionismo não acontecem de forma isolada, mas sim, por inteiros, e seus inteiros possuem suas próprias regras de impacto no indivíduo. Pedaços de acontecimentos normalmente são partes do todo. A teoria Gestalt, portanto, como aponta Visser (1998), se preocupa na estrutura dos “Todos” e a sua interação com seus “Pedaços”. Além disso, os Todos tendem a se organizar de forma “boa”, sendo que “bom” pode significar simples, simetria, ou regularidade, por exemplo.
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Lewin, um Gestaltiano que se mudou para os Estados Unidos, começou a moldar e se distanciar do modelo Gestalt clássico. Ele propunha outra análise para identificar as ações dos indivíduos. Enquanto a escola de Gestalt separava o indivíduo de seu ambiente, ou campo, Lewin propôs que tanto indivíduo quanto ambiente fazem parte de uma constelação de fatores interdependentes. Para a possibilidade de compreensão ou previsão é necessário aplicar vetores de decisão para o indivíduo nessa constelação. Acontecimentos e necessidades no seu ambiente exercem forças positivas e negativas. O indivíduo tenta, então, se mover na direção da soma dessas forças. A inclusão do indivíduo na constelação de fatores decisórios e a análise não só dos acontecimentos, mas também, de vontades e desejos como vetores de ação, se distancia da visão Gestaltiana clássica. Lewin foi um dos psicólogos europeus com maior influência fora da Europa. Seus trabalhos foram a base da criação do centro de pesquisa de dinâmicas de grupo, na universidade de Michigan (Visser, 1998).
2.2 Afinidade Política: O conceito base do modelo Michigan é a afinidade política, que se traduz como afinidade psicológica, relacionamento estável e duradouro com o partido ou candidato, que não necessariamente se traduz em tomada de ação por parte dos eleitores, como voto, afiliação ou até militância no partido (Antunes, 2010). O processo de afinidade política se dá com o tempo, como aponta Green, Palmquist e Schickler (2002) “cidadãos tem um duradouro senso de quais tipos de pessoas pertencem a quais grupos sociais, e com qual eles mais se identificam”. As interações sociais moldam os grupos e a identificação com eles ou não fazem as pessoas se unirem. Dessa forma, podemos observar que o indivíduo não necessariamente pensa como seu colega de trabalho, como sua classe, como apontado por Lazarsfeld, mas sim, com suas predisposições, crenças e seu ambiente, juntandose a quem pensa de forma similar. (Antunes, 2010) Como Campbell e Kahn (1954) apontam, a identidade política molda a interação 17
dos eleitores com a política e, portanto, tem grande impacto na recepção das diferentes mensagens eleitorais, principalmente, aquelas contrárias a suas predisposições psicológicas, como, por exemplo, um eleitor que acredita que um feto possui vida e tem tanta importância quanto a vida da mãe, não vai aceitar facilmente um discurso próescolha ou um candidato que apóie essa causa. 3
Figura 3 Identificação partidária e opinião política
Essa tabela demonstra claramente preferências políticas e seu relacionamento com os partidos.
Bertels (2008) aponta que o termo usado por Campbell “aderência persistente” é fundamental para entendermos a formação do voto, pois, descreve que o eleitor, que já possui afinidade a certos preceitos, dificilmente irá mudar de opinião. Como o próprio Campbell afirma em seu trabalho, as opiniões não são imutáveis, porém, tendem a a se modificar muito lentamente. Essa “aderência persistente” nos permite pensar em previsão de voto, já que permite limitar dão segmento de “mudança de opinião” na
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http://slideplayer.com/slide/5121073/
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análise eleitoral. A “aderência persistente”, portanto, peça fundamental na análise, é uma das bases para o modelo explicativo do funil de causalidade, que tenta demonstrar que todas as variáveis distais e proximais, conforme definido à seguir, se misturam com a afinidade política. Delas surge o voto.
2.3 Funil de causalidade: O modelo explicatório do funil de causalidade utilizase de diversas ferramentas de análise, entre elas a afinidade política e sua previsibilidade através do conceito de “aderência persistente”, fatores distais, como fatores socioeconômicos e históricos, e fatores proximais, como problemas atuais, opinião dos representantes e influência dos pares (Antunes, 2010). O funil funciona de forma metafórica, onde em uma ponta colocamos todos os fatores distais e proximais, depois disso aparece a afinidade política, fruto desses dois fatores. Por fim, sai na outra ponta do funil, o voto. 4
Figura 4 Funil de Causalidade
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http://www.popularsocialscience.com/2013/01/07/researchonelectoralbehaviorahistory/
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O funil deixa claro, portanto, que para uma mudança do voto é necessária uma mudança à longo prazo, que pode afetar um fator distal, ou um acontecimento muito impactante, que possa alterar algum fator proximal. Estudos apontados por Antunes (2010) mostram, ainda, que mudanças políticas ocorrem no indivíduo quando ele altera seu estado social, como entrar em uma universidade, casamento, morar em outra cidade ou mudar de emprego, por exemplo. Como sabemos, o indivíduo com alguma raridade muda seu estado social. Green e Palmquist (1990) indicam que uma mudança à longo prazo pode mudar sim a afinidade política, porém, mudanças de curto prazo afetam apenas o voto e não a afinidade do individuo. Essa mudança pode ser vista através do voto em um candidato similar ao previamente escolhido, por exemplo. As mudanças de curto prazo podem, portanto, impactar substancialmente uma eleição. Simultaneamente, com os fatores distais e proximais, podemos analisar como o eleitor se relaciona com o candidato. Um discurso ou um candidato que foge as expectativas, por exemplo, pode fazer com que o indivíduo vote em outro candidato, até mesmo em outro partido, sem afetar sua lealdade aos seus ideais, sem afetar sua afinidade política (Antunes, 2010).
2.4 Percepção e mídia: Com a possibilidade de mudar o voto mesmo sem alterar sua fidelidade partidária ou sua afinidade política, o estudo da percepção do eleitor e como o candidato se comunica se mostra importante, pois, é o principal fator de mudança de voto de acordo com o modelo Michigan (Bertels, 2006). A pesquisa de Michigan mostra que “muitas pessoas sabem muito pouco sobre importantes questões políticas” (Mundim, pg. 351, 2010). Converse (1962) mostra que apenas uma pequena parte dos eleitores se interessa por política e tem discernimento entre ações políticas. E justamente essa minoria que se interessa em comunicação política, em conhecer mais sobre o sistema político, que vive a política. Devido a essa maior interação, normalmente, são indivíduos com afinidades políticas já bem definidas e pouco dispostos a mudar de opinião. Por sua vez, como aponta Mundim (2010), os
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indivíduos mais abertos a influência da comunicação política são os que não buscam esse tipo de informação. Esse cenário exemplifica o modelo de Michigan. Uma análise psicológica do indivíduo, levando em conta de onde veio (fatores distais) e como interage (fatores proximais) consegue identificar a afinidade política. Esses fatores já conseguem te dizer qual o provável voto desse indivíduo. O fator de curto prazo, que realmente pode afetar seu voto, é a percepção que ele tem do seu candidato. Se o eleitor não acreditar no discurso do candidato com qual mais tem afinidade, ele pode mudar o voto. Por isso, os proponentes do modelo Michigan estudaram a comunicação política e constataram um cenário curioso. Os mais interessados já tem muita afinidade política, portanto, são difíceis de mudar de opinião. Em contra partida, os mais suscetíveis as informações políticas, com baixa afinidade, são os que menos se interessam em obter tais informações. Isso forma um cenário de previsibilidade, onde os votos só mudam caso algo extraordinário, de alto impacto, aconteça.
2.5 Modelo Michigan e expansão do campo: Dois anos após a publicação das ideias do modelo Michigan, como aponta Visser (1998), houve um grande crescimento da influência desses estudos nas áreas de pesquisas sobre a decisão do voto nos Estados Unidos e na Europa. Tanto que se tornou a teoria mais bem aceita pela maioria. Nas primeiras etapas, as pesquisas replicaram o funil de causalidade em outras democracias. “Foi logo descoberto que uma variável centrar no funil, a identificação partidária, não tinha o mesmo peso e efeito nos países europeus como tinham nos Estados Unidos” (Visser, 1998). Quando testado fora das normas em que fora concebido, se mostrava com muitas falhas, provenientes das diferenças nos sistemas de partidários e eleitorais. (Visser, 1998) As consequências desses achados não afetaram o desenvolvimento e o crescimento do modelo Michigan, como aponta Visser (1998). Os estudos de Michigan produziram a junção entre fatores sociais e atitudinais na decisão do voto em futuras
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pesquisas. A identificação partidária, uma das bases do modelo, não era mais uma informação de tanta relevância. O que fez os estudiosos buscarem novas formas de perceber essas preferências, novos meios de basear o modelo. A principal mudança foi o entendimento de que as preferências partidárias podem sim sofrer mudanças de curto prazo (Visser, 1998). “Outro assunto de pesquisa que chamou a atenção de forma crescente foi a necessidade de entender as estruturas cognitivas do campo sociopolítico, especialmente o papel das crenças e ideologias” (Visser, 1998). Essas diferenças nas pesquisas começaram a trazer questionamentos, como apontado por Antunes (2010), em que os estudiosos da época se perguntaram se essa afinidade política poderia ser, por exemplo, um atalho cognitivo, e não uma identidade. Atalho esse que pode permitir o eleitor se munir de mais informação na hora da decisão, mas ainda assim, uma ferramenta cognitiva, e não uma identidade.
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3. TEORIA RACIONAL DO VOTO: O principal trabalho da teoria econômica do voto surge com Downs em 1957, no trabalho “An Economic Theory of Democracy”. A teoria econômica do voto, também conhecida como a teoria da escolha racional,aparece como tentativa de explicar o comportamento eleitoral, da mesma forma que é explicado o comportamento econômico dos indivíduos. O princípio é simples, se a escolha racional pode explicar o comportamento do mercado, a escolha racional pode explicar o comportamento político. “Estabelece uma analogia direta entre consumidores e eleitores e entre empresas e partidos políticos” (Antunes, 2010). Através dessa analogia, podemos supor que, se as empresas visam maximizar lucros e os compradores visam maximizar utilidade, podemos teorizar que os eleitores visam maximizar a utilidade de seu voto e os partidos visam maximizar o ganho político (Antunes, 2010) (Bertels, 2006). A teoria racional se baseia em 3 premissas, como aponta Antunes (2010): toda decisão é racional, guiada pelo próprio interesse e reforçada de acordo com o princípio de maximização da utilidade. O sistema político democrático é confiável, sendo possível identificar possíveis decisões que todos os atores tomarão e, portanto, permite certo nível de previsibilidade. O sistema político, apesar da previsibilidade, possui alguns fatores de imprevisibilidade, situações em que ocorrem mudanças de opinião, por exemplo. Comparativamente, a teoria racional propõe um modelo mais formal, matemático, que os outros modelos e tenta apontar com precisão os resultados dos pleitos e o comportamento dos eleitores (Mundim, 2010).
3.1 Voto estratégico: Para Downs (1957), o termo racionalidade equiparase com eficácia. Sua teoria econômica, ao tratar de “decisão racional”, trata de “decisão com maior eficácia”. Portanto, eleitores e partidos racionais agem de acordo seus próprios interesses.
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Com a racionalidade da política temos portanto, uma Interpretação cínica das eleições.Os partidos buscam ganhar eleições, não necessariamente para implementar políticas, mas, para ganhos próprios e para aquisição de poder. Como a vitória eleitoral é a forma de atingir o poder, os partidos, portanto, buscam ganhar eleições. Temos, então, que a decisão racional dos partidos é ganhar mais votos que o concorrente. Nessa análise, é mais eficaz formular políticas para ganhar eleições, que ganhar eleições para formar políticas (Antunes, 2010). A racionalidade do sistema político provém do fato de que eleitores e partidos possuem múltiplas escolhas, da menos a mais preferível. Nesse cenário temos duas possibilidades. O eleitor calcula o benefício para a vitória de cada candidato e assim decide seu voto. Se ele observa uma diferença perto da nula, ele se abstêm do voto (Antunes, pg 162, 2010). “A teoria racional pressupõe não só a possibilidade de previsão do cenário político, mas também a possível comparação entre candidatos.” (Antunes, 2010). A questão que surge, portanto, é como o indivíduo faz o calculo do valor que ele irá obter em cada opção. A forma mais utilizada para identificar como os indivíduos estão se relacionando com as decisões dos partidos, como estão reagindo as informações políticas e a mídia, é a pesquisa eleitoral, que tenta quantificar índices de aprovação, desaprovação e opinião da população em geral. Questionários, entrevistas e grupos de foco são ferramentas largamente utilizadas para servir como termômetro de aprovação ou não de candidatos, políticas ou partidos, e assim, quem os eleitores estão escolhendo como melhor opção. Os partidos, de uma forma simplista, tomariam as políticas que mais agradassem a maioria. Mas fazendo uma análise de “mercado”, podemos observar porque existem tantas políticas diferentes. Imaginemos que o mercado esteja dominado por uma marca, as concorrentes não vão conseguir crescer fazendo exatamente a mesma coisa que o dominante, então, apostam em mercados de nicho, que possam não estar satisfeitos com a marca dominante. Esse dinamismo social faz com que os eleitores não se sintam
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sempre representados pelo governo no poder e busquem alternativas. E é nesse momento que os partidos diferentes se mostram como opções viáveis (Bertels, 2006).
3.2 Modelo espacial: Para demonstrar como os partidos e candidatos se posicionam ideologicamente, o modelo espacial foi usado por Downs. Uma linha unidimensional, onde de cada lado estaria uma política, preferência ou ideologia. Os partidos seriam postos em valores de 0 a 100, de acordo com a proximidade a cada uma das extremidades. Desse modo, os eleitores racionais escolheriam sempre o candidato ou partido que mais próximo estivesse dos seus ideais e ideologias. O modelo espacial que Downs trouxe à tona, apesar de não ser inovador, gerou inúmeros estudos sobre (Antunes, 2010). 5
Figura 5 Modelo espacial
Modelo espacial. A posição afeta a área de influência no espectro, por exemplo, político. Quanto mais próximo ao centro, mais influência.
De acordo com o modelo, a decisão do voto é apoiada por uma crença irracional sobre o impacto dessa ação. Como a eleição é focada em indicar governantes e não manifestar preferências, o eleitor avalia, portanto, as chances do partido e candidato de ganharem a eleição de fato. (Antunes, 2010). Outro fator de relevância na hora da decisão do voto, é a possibilidade de vitória de um partido não desejável. O eleitor, portanto, vota no candidato que tem mais chances de eliminar o partido não desejável.
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Figura do autor
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Antunes (2010) ainda aponta que, o modelo de escolha racional também prevê quanto mais o eleitor percebe que seu voto é crítico para a decisão, maior chance de adesão, de participação do pleito e, consequentemente, os possíveis benefícios das suas opções. 6
Figura 6 Presença do eleitor e importância da eleição
3.3 Voto útil e presença: Como aponta Antunes (2008), o eleitor decide se vai votar ou não em um pleito, baseado na crença irracional da eficácia desse ato. Como, por natureza, as eleições não
são o palco da escolha das preferências, mas sim a escolha do governante, o
eleitor também avalia se seu voto pode trazer a vitória para tal partido. Esta decisão pelo voto útil depende, não apenas da avaliação sobre as possibilidades de vitória do partido preferido, mas também da avaliação do risco de as eleições serem vencidas por um partido político tido como indesejável. A decisão pelo voto útil dependerá em larga medida da importância que o sujeito der à necessidade de manter determinado partido fora do governo (Antunes, 2008).
Conforme a teoria econômica do voto, mais indivíduos tendem a votar se a percepção de importância para o pleito for grande e os benefícios esperados do ato forem maiores que o custo de ir votar. Conforme Antunes (2008), quando o eleitor for posto perante
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EDLIN, Aaron; GELMAN, Andrew; KAPLAN, Noah. Voting as a rational choice: the effect of preferences regarding the wellbeing of others. Unpublished manuscript, University of California, Berkeley, 2005.
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várias candidaturas, deverá determinar qual a diferença entre elas, para os seus interesses, e a possibilidade de vitória ou derrota dos diversos candidatos. Se o indivíduo não identificar possibilidade de mudança através do seu voto, a chance do mesmo não votar aumenta. Blais (2000) descobre, porém, que a maioria dos eleitores vota, e não necessariamente pensando em custobenefício, mas, por sentido de dever com o país. O modelo racional, portanto, na visão de Blais, não explica bem porque e em quem o eleitor vota. Também observa que os eleitores aderem mais ao sentir que seu voto importa, mas, o modelo racional superestima a importância do custobeneficio.
3.4 Modelo de crescimento de renda Uma análise, baseada na teoria econômica do voto e em Downs, é o modelo de crescimento de renda, exposto aqui através do trabalho de De Neve (2013). O modelo relaciona crescimento ou estagnação/redução de renda com a decisão eleitoral. O argumento de De Neve é que cada partido ou candidato defende mais ou menos gastos públicos, maior abertura econômica ou mais protecionismo e ações afins. Além disso, ele afirma que, o eleitor, ao ter um aumento de renda em uma economia própera, votará em candidatos da esquerda (esquerda americana, estudo de análise de De Neve, 2013), enquanto em uma economia estagnada, a tendência seria no voto conservador, buscando uma possível preservação de bens. Em essência, aponta De Neve (2013), o modelo de crescimento de renda é a comparação entre taxação e gastos públicos, com aumento ou estagnação de renda. Se a renda aumentar, o eleitor não teria problemas em votar pelo aumento de taxas e gastos públicos. O contrário também é válido, com uma renda estagnada ou reduzida, o eleitor vai votar em quem vai cortar gastos públicos e reduzir impostos. “O eleitor médio americano tende a aprovar mais políticas liberais quando a economia vai bem e se torna mais conservador quando a situação deteriora” (De Neve, 2013). 27
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Figura 7 Renda e escolha do voto
O gráfico mostra que, quanto maior a renda, maior porcentagem de voto na direita americana.
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http://www.newgeography.com/files/imagecache/Chart_fullnodeview/chartimages/2004presbyHincome1.png
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4. TEORIA COGNITIVA DO VOTO: Modelos de escolha de voto variam bastante e o conceito sempre é que o eleitor decide com base nas suas preferências ou crenças. Seja o desejo do eleitor moldar o resultado das eleições para algo mais próximo da sua vontade ou tenham vontade de expressar suas crenças e convicções. Psicólogos, diferenciando os modelos de preferências ou crenças, assumem que ações passadas influenciam as atitudes futuras (Mullainathan e Washington, 2009). Economistas tendem a pensar que preferências são estáveis e determinam o comportamento dos indivíduos. Em contraste, psicólogos sociais sugerem que comportamentos influenciam preferências e atitudes. A teoria cognitiva surge como um desenvolvimento mais proeminente entre esses pensamentos. (ELINDER, M, 2012)
Um dos exemplos em que se baseia a teoria cognitiva é a dissonância cognitiva, que é o desejo interno do indivíduo pela consistência. Como aponta Mullainathan e Washington (2009), esse desejo é tão grande que, se o indivíduo toma alguma atitude que contraria sua consistência, ele normalmente muda suas crenças para se adequar a nova atitude. A partir disso, a teoria cognitiva mostra que, o ato de votar torna as pessoas mais propensas a confirmar suas crenças e votar novamente no mesmo partido ou candidato, o que traz alguma previsibilidade para as eleições futuras (Elinder, 2012).
4.1 Balanço e dissonância: Ao lado de Lewin, Heider, como aponta Visser (1998), foi um dos mais importantes psicólogos imigrantes que moldaram o campo da psicologia social, derivando da escola de Gestalt. A teoria do balanço de Heider assume que, uma pessoa (P) pode ter uma relação com outra pessoa (O) e outra entidade nãopessoal X (uma ideia, um objeto, por exemplo). Quando todas as relações tiverem vetor positivo,
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forem de acordo com as preferências e crenças do indivíduo, ou dois negativos e um positivo, a relação tende ao equilíbrio. Quando a relação POX não possuir esses vetores, as ações dos indivíduos irão se moldar, tendendo ao equilíbrio, ou seja, tentando modificar os membros (O ou X), ou a relação para eles. Se através de mudanças de relacionamento ou de posicionamento para alguma das partes o equilíbrio não for atingido, a relação gera tensão. 8
Figura 8 Vetores de equilibrio e desequilibrio
Festinger, aluno de Lewin, formula uma teoria de dissonância, que, após uma tentativa de solução de alguma tensão gerada por POX, a pessoa (P) tende a valorizar essa decisão e reafirmála. Basicamente, a teoria de Festinger diz que o organismo humano busca a harmonia, consistência ou, ao menos, congruência com suas crenças e atitudes. O surgimento de dissonância é combatida com pressões para serem solucionadas, esclarecidas. Quanto mais forte a dissonância, mais forte a pressão. As tentativas de solucionar essas dissonâncias incluem uma mudança nos elementos cognitivos, adição de novos elementos ou uma queda na importância desses elementos (Visser, 1998) Existe então, uma diferença clara entre balanço e dissonância. Heider leva em consideração não só os elementos cognitivos, como Festinger faz, mas também as intenções do indivíduo. Já Festinger coloca o papel da cognição como principal e quase único motivador de ação (Visser, 1998).
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4.2 Crescimento da teoria cognitiva: Após a segunda guerra mundial, o mundo começou a dar mais atenção aos computadores, e com a vinda deles, à inteligência artificial. Em pouco tempo, os estudos de inteligência artificial estavam tentando descobrir a forma como um indivíduo toma uma decisão. Essa pesquisa, como aponta Visser (1998), foi benéfica para os psicólogos sociais e cognitivos, e esses profissionais foram úteis para os engenheiros criarem a inteligência artificial. Enquanto a eficácia da inteligência artificial é duvidosa, a forma de pensar o indivíduo como uma máquina ajudou, e muito, a pesquisa da psicologia cognitiva. Ver a pessoa como uma receptora de dados, percepção, processando esses dados, pensamento, e convertendo em ação, decisão. Em pouco tempo, a teoria cognitiva passou a ser compreendida como “o estudo do conhecimento e como as pessoas o usam” (Glass; Holyoke, 1986). Sua aplicação, comumente, é em como o indivíduo percebe outras pessoas e a si mesmos. Hastie, em 1986, tenta expor 7 características do processamento de informação. A primeira característica é a informação. Através dela que se inicia todo o processo de análise e decisão. A segunda característica é que toda informação é armazenada em memória. Terceira, é que informação armazenada se torna disponível, através de ações ou estímulos do indivíduo. Já a quarta característica é que o pensamento sofre mutação simbólica, se confundindo e se misturando com outros símbolos. A quinta característica é que o processo do pensamento é controlado e enviesado para atingir metas e desejos. Sexta, é que o processo do pensar é uma mistura de memórias de longo prazo, de curto prazo, sensações e memórias singulares. A sétimas e ultima característica é que o processo de pensamento atua com economia de energia (Visser, 1998). 31
4.3 Voto e cognição: A teoria cognitiva do voto possui um alto grau de relevância, visto que consegue ser flexível, analisando poucos ou muitos dados, onde o indivíduo pode ter muitas interações (memórias curtas, longas, sensações e memórias singulares) diferentes, e escolher qual desses esquemas de interações deve ser utilizado para determinado momento, como para escolher seu voto, por exemplo. Um dos fatores para análise das decisões é o uso dos esquemas e a vinda de novas informações. Quando certo indivíduo recebe uma informação, o esquema que está ativado processa e define sua reação. Uma das definições de esquema, objeto central da teoria cognitiva, é uma estrutura de conhecimentos variados acerca de um tema específico. Conhecimentos esses que podem ser memórias de curto ou longo prazo, afetando de forma positiva, negativa ou nula (Hammil, Lodge e Blake, 1985).
Como aponta Visser (1998), cada esquema pode ser ativado dependendo do que
o indivíduo vê como necessário. E, além de ser flexível, consegue ser aplicável e reduzida a um só indivíduo. Através da teoria cognitiva, conseguese analisar porque dois indivíduos aparentemente iguais tomam atitudes diferentes. Com pequenas diferenças em estímulos, dois indivíduos podem ativar esquemas de interações diferentes. Como observamos, os esquemas influenciam muito a decisão do indivíduo, e por esse motivo os estudos cognitivos se focaram em identificar esquemas específicos. O primeiro foi o esquema partidário, onde o indivíduo se utiliza de memórias e sensações acerca de um partido ou candidato para, então, absorver novas informações. Esse esquema foi e ainda é muito poderoso, principalmente em países onde os partidos são polarizados, diferentes entre si (Visser, 1998). Outro esquema de alta relevância, estudado também por Visser, foi o ideológico. Nesse caso, o esquema simplifica e afunila decisões, orienta seus pensamentos. O processamento de informação nesse esquema funciona de forma binária, ou o indivíduo acredita que a nova informação é benéfica ou não. Outro acontecimento é o valor simbólico de cada nova informação processada por esse esquema. 32
Além do estudo dos esquemas, os psicólogos cognitivos, como aponta Visser (1998), estudam também como os esquemas são trazidos à tona. Em várias análises, duas alternativas aparecem, a primeira, baseada em memória. Eleitores tendem a usar a memória para tomar sua decisão. Evidências e memórias são vistas como fonte de realidade, e por isso são comumente usadas para processar informação. A segunda alternativa é através da impressão causada pelo outro indivíduo. Essas impressões são armazenadas e misturadas nas memórias de curto prazo e ajudam a processar rapidamente novas informações. Normalmente, são informações distorcidas, pois, a impressão de alguém pode ser afetada por preconceitos ou atitudes raras do outro (Visser, 1998).
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5 PSICOLOGIA E VOTO: No capítulo cinco mudo a dinâmica de apresentação das teorias. Ao invés de tratálas de forma separada, uni a teoria psicodinâmica e a humanística em um mesmo capítulo, pois as duas foram poucas estudadas na história, e se baseiam exclusivamente em conceitos vindos da psicologia, diferentes das teorias já demonstradas previamente neste trabalho.
5.1 Teoria psicodinâmica do voto: Visser (1998) faz um estudo profundo sobre as escolas da psicologia e sua aplicação na escolha do voto. A teoria psicodinâmica é abordada por ele fazendo uma análise da teoria de Freud de motivação inconsciente com um estudo das forças sociais, econômicas e políticas. Como o próprio autor aponta, os principais estudiosos dessa área estavam preocupados com a ascensão do fascismo e do nazismo, portanto, focaram seus estudos nas relações de autoridade. Os dados empíricos foram construídos depois, através de uma junção entre Alemanha e Estados Unidos. Antes, portanto, de analisar a visão de Visser sobre a aplicação da teoria psicodinâmica no voto, iremos estudar a teoria freudiana de motivação inconsciente.
5.1.2 Freud e motivação inconsciente: “Para Freud, todo comportamento humano e atividade mental era motivado por impulsos básicos” (Visser, 1998). Esses impulsos são o sexual e o agressivo. Esses instintos portam poder mental, que podem excitar ou causar tensão, coisas que compelem o indivíduo a agir. Objetos alvos dessa ação são estimulados e quanto maior o estímulo, mais psicologicamente importante o objeto é (Visser, 1998). Freud, porém, como aponta Visser (1998), contrasta proibições e inibições que a sociedade impõe, com as necessidades de excitação e agressividade. Por conta dessa opressão, as necessidades do indivíduo ficam reprimidas, longe da consciência. “É o
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desenvolvimento dos impulsos básicos e suas adaptações para as demandas externas que é o centro de estudo da psicanálise” (Visser, 1998). O conflito entre impulsos básicos e proibições e inibições externas que causa o pensamento e a ação humana. É através dessa análise que Freud propõe os conceitos de Id, Ego e Superego. Id sendo os impulsos básicos do ser humano, Ego sendo o presente, o equilibrio entre ID e Superego. Superego sendo os conceitos morais e éticos, ou a pressão externa sobre o indivíduo. Fromm, Reich e Maslow foram os maiores contribuintes da aplicação dos conceitos freudianos ao estudo sociológico, com a tese desenvolvendose sobre os impulsos e suas adaptações socioeconômicas. Essa vertente se modificou, não presumindo um impulso agressivo, mas sim, os impulsos de autopreservação e, novamente, o sexual (Visser, 1998). O impulso de autopreservação, que pode vir em forma de fome, sede ou fadiga, requer sempre uma resposta imediata (Visser, 1998). Esses autores também analisam as possibilidades de realização dos impulsos e as possibilidades de cada classe socioeconômica de se satisfazer. A diferença mais clara, como aponta Visser (1998) é a possibilidade da classe mais rica realizar mais e melhor seus impulsos sexuais e as mais pobres serem mais inibidas e reprimidas.
5.1.3 Autoritarismo e voto: O autoritarismo foi amplamente estudado pelos freudianos, suas abordagens também variaram com o tempo, porém, o mais relevante ao estudo do voto é o autoritarismo como variável isolada, podendo prever votos e ações de indivíduos e candidatos de extrema direita (Visser, 1998). O autoritarismo e seu impacto na tomada de decisão dos indivíduos se deve a dez características que o sujeito autoritário possui, influencia e impõe. Convencionalismo, ato de aparente pertencimento do mesmo grupo. Submissão autoritária, vontade do indivíduo de ser submisso, Agressão autoritária, onde os que
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não pertencem ao seu grupo são hostilizados. Rejeição a vida emocional livre. Superstição, onde sua vida esta a cargo de outrem (sobrenatural ou não). Esteriotipação, onde só existem certos e errados. Contradição ao poder, o sujeito ao mesmo tempo teme e almeja. Cinismo, o indivíduo direciona sua agressão aos outros indivíduos. Projeção, ato de espelhar seus impulsos reprimidos em indivíduos fora do seu grupo como forma de separação e rejeição. Inibição sexual, onde o sujeito se sente extremamente indignado com atos sexuais alheios (Visser, 1998, citando Adorno et al 1950 e Sanford 1973). Lipset (1981) se utiliza dessa categorização para analisar as tendências de voto das diferentes classes sociais e descobre que as classes mais pobres são muito mais conservadores no espectro social, e tendem a serem mais submissas aos sujeitos autoritários. Alguns motivos para isso surgiram nos estudos de Lipset, como aponta Visser (1998). As famílias das classes mais pobres tendem a ser menos estruturadas, dificultando a formação de estruturas distais e proximais na psique da criança, tornandoa menos sensível a observação do passado e menos empática aos acontecimentos do presente. Outra observação de Lipset foi que em famílias menos estruturadas a educação é feita através de punição e recompensas arbitrárias, a violência é encontrada de forma natural (Visser, 1998). Essa predisposição a autoridade encontrada pelos psicanalistas mostra que, quanto maior for a classe pobre, maior a chance de se eleger uma figura autoritária, enquanto o contrário também é verdadeiro, quanto menor a classe pobre for, menor as chances de surgir um regime autoritário.
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5.2 Teoria humanística do voto: Da mesma forma que analisamos teorias proveniente de outros campos de pesquisa, como a teoria cognitiva e a teoria racional, a teoria humanística também provém de outro campo de conhecimento. Como aponta Visser (1998), as bases da teoria humanística do voto vem do trabalho de Ronald Inglehart, a teoria do valor materialista e pósmaterialista. Esse estudo parte de trabalhos importantes, como o de Bühler da escola de Vienna e de Goldstein, da Gestalt (Visser, 1998). Portanto, irei analisar as raízes da teoria humanística para depois explanar sua interação com a decisão do voto. 5.2.1 Escola de Viena e psicologia: A escola de Viena foi importante raíz que fez surgir inúmeras pesquisas na área de bemestar humano, e é dessa forma que ele contribui para essa teoria do voto. A escola de Viena, já abordada nesse trabalho, tem como base Bühler, grande influenciador na formação da teoria sociológica do voto. Bühler concentrou seus estudos, como aponta Visser (1998), no campo da psicologia desenvolvimentista, tentando um esquema unitário de pensamento. Bühler cria três categorias de desenvolvimento mental, saciação, jogo e realização. E as corresponde com três níveis de atividade, reflexo, aprender por tentativa e erro e inteligência criativa (Visser, 1998). Por fim, Bühler elabora quatro necessidades básicas do ser humano. Necessidade de prazer, necessidade de pertencer, necessidade de criar e necessidade de integridade interna. Essas necessidades estão presentes desde o início da vida, mas, cada uma tem uma função ao correr da vida (Visser, 1998).
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5.2.2 Escola Gestalt e análise de Goldstein: A escola de Gestalt foi outra importante influência na teoria humanística, especialmente os trabalhos executados por Goldstein. Já ao fim de carreira, ele funda a Associação de psicologia humanística, junto de Bühler e outros teóricos importantes (Visser, 1998). De acordo com Goldstein, o corpo produz reações neurológicas essencialmente iguais a estímulos iguais, e sempre tende a constância e coesão de reações. Para isso acontecer, no entanto, o organismo precisa estar saudável. Esse fator de consistência acontece, principalmente, porque o corpo saudável não reage a estímulos inadequados, a não ser os que são extremamente fortes e daí vem a consistência de resultados (Visser, 1998). Além disso, Goldstein analisou que o ser humano tende a se atualizar se for exposto a estímulos de forma repetida, sejam estímulos bons, que se alinham com o sujeito, ou estímulos ruins, que causam desconforto. Essa atualização de estímulos é uma das principais teses da a teoria Michigan e também é fundamental para a compreensão da teoria humanística (Visser, 1998). 5.2.3 Hierarquia das necessidades: Maslow, como apontado por Visser (1998), foi um pesquisador relevante na análise do “persona” autoritária, apontada nos tópicos anteriores. Ele, porém, ao invés de seguir mais pesquisas na área, buscou o estudo da persona democrática e esse estudo foi influenciado por todas as grandes linhas de pesquisa da psicologia.
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Na sua teoria, Maslow distingue cinco necessidades básicas. As necessidades fisiológicas, que é a necessidade mais forte e rege o corpo e a mente. Com elas satisfeitas, outras necessidades aparecem e com essas outras necessidades satisfeitas, mais necessidades aparecem e assim por diante (Visser, 1998). Após as necessidades fisiológicas estarem satisfeitas, surge então a necessidade de segurança. Caso ela seja satisfeita, surge então a necessidade de pertencer e de amor. Como aponta Visser (1998), a má satisfação ou não satisfação dessa necessidade é a causa mais comum de patologias mentais. A quarta necessidade é a de apreço. Ela surge como autoestima e apreço pelas realizações do próximo. Por fim, é a necessidade de completude, em que o sujeito se sente realizado por ser uma pessoa completa. Maslow varia essa definição durante sua carreira, entre ser feliz momentaneamente por tudo que se fez e atualizar as futuras necessidades, ou ser feliz em um estágio da vida final, se sentindo completo por tudo que foi feito (Visser, 1998, citando Maslow, 1954). Apesar de ser baseado em testes clínicos, Maslow foi bem sucedido em testes empíricos, em que foi possível demonstrar que pessoas com melhor saúde mental, como consequência das necessidades saciadas, tendiam mais a liberdade e a democracia. A não saciedade da necessidade de segurança, por exemplo, leva as pessoas a serem subservientes, a não saciedade das necessidades afetivas e de amor leva ao preconceito e hostilidade, por exemplo (Visser, 1998). 5.2.4 Necessidades e voto: Inglehart, no fim da década de 1960, percebe processos de mudança na sociedade e decide avaliálos empiricamente. Para isso desenvolveu duas hipóteses. A
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primeira é que indivíduos vão atrás das suas necessidades em ordem hierárquica, como proposto por Maslow. Com o passar dos anos, Inglehart propôs uma alteração. Os indivíduos não buscariam satisfazer as necessidades hierarquicamente e introduziu o conceito de escassez. O sujeito dá mais valor às necessidades que ele considera mais escassas, de maior dificuldade de obtenção (Visser, 1998 citando Inglehart, 1977). A segunda hipótese, de acordo com Visser (1998), é que os principais valores do indivíduo vêm dos valores com maior escassez durante sua formação. Essa hipótese traz a análise de Inglehart para a população que cresceu antes da segunda guerra mundial e a compara com a que nasceu depois. Ele percebe que, devido às dificuldades financeiras e de segurança que os nascidos na década de 1930 sofrerem, eles tendem a agir e votar de forma a maximizar a segurança financeira e material. Já a população pósguerra, em que não existia tamanha escassez financeira ou de segurança, se importava menos com esses valores (Visser, 1998, citando Inglehart 1971). Essa tendência a valorizar a escassez e diminuir a importância do que tem em excesso, gera movimento na hora do voto. Uma população com alta renda, não vai dar importância para o candidato que quer proteger esse fator, por exemplo.
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CONCLUSÃO: Este trabalho estudou a forma contemporânea de obtenção de poder, a eleição e o voto. Quatro formas de tentar descobrir como um indivíduo toma sua decisão de votar, e assim, dá poder a uma elite. Na primeira etapa, vimos como o modelo sociológico categoriza o eleitor em 3 dimensões, a socioeconômica, a religiosa e onde mora. Essa categorização auxilia no processo de identificação dos grupos a qual esses indivíduos pertencem. Observamos, também, que Lazarsfeld fui um aluno da escola de Wurzburg, e empregava os questionários em profundidade, de longa duração, para tentar descobrir como esses grupos tomam decisão. Esse fator do indivíduo pertencer a um grupo determinado é denominado “eleitor prisioneiro”. Por fim, a teoria sociológica de Lazarsfeld aborda a relação da mídia e o eleitor e demonstra que o indivíduo só se interessa por notícias que lhe convém e, portanto, a mídia pouco afeta a decisão do voto. A abordagem contemporâneo mais vista como sucessora a Lazarsfeld, o modelo Michigan, também trabalha com o conceito de ambiente afetando a decisão do indivíduo, mas, acredita que as motivações e predisposições falam mais alto do que quanto o sujeito ganha por mês ou onde ele mora. Essa ideia de motivações e passado afetarem as decisões surgiu na escola de Gestalt, em que o indivíduo era o ator principal na tomada de decisão e, portanto, foco de estudo. E, foi através desse foco que podese observar as motivações, em conjunto com o passado, formando afinidades políticas. Essas afinidades, geradas com o tempo, causam outro efeito, chamado de “aderência persistente”. Que é a atitude do indivíduo sempre tentar tomar ações de acordo com sua afinidade política. Todo esse estudo do modelo Michigan fez surgir uma ferramenta de análise chamada “funil de causalidade”, onde o ambiente e toda a
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vivência e preferências do indivíduo entram de um lado e do outro surge a decisão do voto. Um pouco mais avançada, cronologicamente, a teoria econômica do voto, ou teoria racional do voto, surge através de teorias sobre comércio e administração. Onde o eleitor é visto como consumidor e o candidato visto como empresa. Nessa teoria, o eleitor é completamente racional, e faz suas escolhas tentando maximizar os benefícios e a eficácia da sua ação. Essa atitude gera efeitos como o “voto estratégico”, onde o indivíduo pensa em qual candidato vai votar e não só relaciona quem ele quer que seja eleito, mas também, leva em conta em a probabilidade de seu candidato vencer. A teoria racional nos traz mais um modelo de análise, chamado “modelo espacial”, que demonstra o posicionamento dos candidatos em relação aos eleitores e como eles podem se posicionar ideologicamente para abranger a maior quantidade de votantes. Essa tentativa gera o efeito de centralismo em disputas com dois candidatos, onde cada um busca o centro para poder abraçar os dois lados do espectro. A teoria cognitiva do indivíduo afirman que ações passadas influenciam atitudes futuras, pois, os indivíduos sempre buscam fazer sentido em suas atitudes. Por isso Heider demonstra que a busca por ser coerente com suas atitudes prévias, molda suas ações futuras. Além disso, a teoria cognitiva demonstra a “dissonância”, em que ações não fazem sentido e como o indivíduo, ao se deparar com essa situação, vai lentamente, se direcionando a coesão entre suas atitudes e percepções. Por fim, a teoria cognitiva versa sobre como o ser humano gera esquemas de raciocínio e que cada esquema se aplica a diferentes situações. Quando, por exemplo, o indivíduo pensar em eleições, ele vai trazer a tona certas memórias e pensamentos que vão guiar suas ações e decisões sobre esse tema.
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Por ultimo, observamos algumas teorias psicológicas aplicadas ao voto. Em primeiro lugar temos a psicodinâmica e Freud, com a análise da autoridade, e da tendência dos grupos menos favorecidos serem mais sujeitos a essa influência e como funcionam os métodos autoritários. Depois, analisamos a teoria humanística do voto, onde ao contrário da psicodinâmica, é o estudo dos sujeitos democráticos, e como uma pessoa saudável tende a escolher liberdade e democracia. Essas teorias tentam desmistificar, em última análise, o pensamento humano. Tarefa essa abordada através da história, por inúmeros pensadores. E por esse motivo o fascínio tão grande pelo tema. Aliar esse estudo, de como o indivíduo toma decisões, com o ato de eleger um representante, em corroborar um poder, mostra o quão fascinante e imprevisível é a política, o ser humano, e o poder.
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