Análise do Discurso Político Subjacente e a Terceira Dimensão do Poder. A Fala e a Escrita dos Grupos de Interesses.

July 24, 2017 | Autor: Herbert Schützer | Categoria: Politics
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Artigo






Análise do Discurso Político Subjacente e a Terceira Dimensão do Poder.
A Fala e a Escrita dos Grupos de Interesses.
(Lingüística e Política)














Gentil Tadeu Gomes & Herbert Schützer








2007






1. Introdução.


Uma teoria moderna da Democracia não deve prescindir dos
conceitos rigorosamente elaborados pelos cientistas políticos que se
debruçaram sobre o tema. Seus postulados fundamentam e dão sustentação
teórico-material àqueles que buscam respostas e caminhos às questões de
nosso tempo. Ou mesmo àqueles que desejam aprofundar-se em algum assunto
que perpasse, em maior ou menor escala, por ela, a Democracia.
Mas, afinal, o que é a Democracia? Qualquer manual de direito
constitucional nos ensina que a Democracia é "...a afirmação de certos
valores fundamentais da pessoa humana, bem como a exigência de organização
e funcionamento do Estado tendo em vista a proteção daqueles valores."
(Dallari, 1985, 127), ou de política, que a "...democracia se foi
entendendo um método ou um conjunto de regras de procedimento para a
constituição de Governo e para a formação das decisões políticas" (BOBBIO;
MATTEUCCI; PASQUINO, 1983, 326). Entretanto, aceitar definições como essa,
pura e simplesmente, corresponderia a não levar em conta a infinita
graduação de Estados com suas diferentes práticas democráticas existentes
no mundo atual.
Por isso, é preciso questionar e praticar a Democracia, para
não permitir que ela seja tão corrompida pelos poderes econômico e
financeiro. Principalmente dos grupos de pressão, que se formam
satelizando os governos, os quais não são nem eleitos pelo voto popular nem
controlados pelos cidadãos.
Então, como podemos definir suas ações?


" ...se a
atividade dos Grupos de pressão é possível apenas
nos sistemas democráticos e, em segundo lugar,
procurando avaliar o seu papel dentro dos
sistemas democráticos para saber se eles
representam uma degeneração destes sistemas ou se
não desenvolvem funções úteis à manutenção e
adaptação destes sistemas, em que condições e com
que riscos." (Bobbio, Matteucci e Pasquino, 1983,
569)

Os Grupos de Interesses, como se vê, constituem-se em
organizações próprias das democracias. (Bobbio, Matteucci e Pasquino, 1983,
570) E não se pretende aqui fazer qualquer juízo de valor desses Grupos
mas, ao contrário, analisar uma de suas formas de atuação.
Para os estudiosos, o fato de que a Democracia possa ser
definida com muita precisão não significa que ela realmente funcione da
mesma forma em todos os lugares. Uma breve incursão na história das idéias
políticas leva a duas observações, muitas vezes relegadas sob o pretexto de
que o mundo muda, é dinâmico:
I) A experiência confirma que uma democracia política que não
se baseie numa democracia econômica e cultural de pouco adiantará.
Desprezada e relegada a ser o depositário de fórmulas obsoletas, a idéia de
uma democracia econômica deu lugar a um mercado triunfante que beira a
obscenidade;
II) Os estrategistas políticos, de toda e qualquer filiação
partidária, impuseram um silêncio prudente para que ninguém ousasse
insinuar que continuamos cultivando a mentira e aceitamos ser seus
cúmplices de um sistema que distancia do modelo ideal.
O chamado sistema democrático parece, cada vez mais, um
governo dos ricos e, cada vez menos, um governo do povo, como percebemos na
matéria da revista VEJA. Impossível negar o óbvio: a massa de pobres
convocada a votar jamais é chamada a governar.
Os povos não elegeram seus governos para que estes os
"ofereçam" ao mercado. Idéia desenvolvida por Bobbitt (2001) quando
defendia a evolução[1] do Estado-Nação para o Estado-Mercado, em que o
mercado passa a ser o receptáculo de suas ações e o povo deve moldar-se a
ele - mercado. Assim o mercado condiciona os governos para que estes lhe
"ofereçam" seus povos.
As dificuldades de determinada sistematização teórica[2] são
muitas, porém, tal fato não se deve apresentar como inibidor de
investigação sobre a ação dos grupos de interesses. Vale ressaltar, ainda,
que esse estudo investigativo não elimina nem despreza a capacidade de
organização e eficácia desses grupos para a produção de políticas públicas
que atendam seus objetivos. Quando se busca, ademais, uma análise nos
padrões da escolha racional coletiva, os problemas, sobretudo práticos, se
avolumam. Anthony Downs, Olson, Dahl, Lukes e tantos outros os enfrentaram
e estabeleceram diretrizes que possibilitam uma análise racional dos
elementos constitutivos da escolha de grupos, sob a ótica do governo
democrático.
Mais ainda quando se busca um encadeamento lógico que
justifique um controle dessa mesma ação governamental, pois as dificuldades
se multiplicam, é aí que o pesquisador tem o dever de encontrar nas
instituições os pressupostos das práticas de uma nova postura diante de
novas realidades.
Nessa perspectiva, procurou-se, neste trabalho, descrever a
ação não-aparente dos grupos de interesses, que no Brasil alcançaram um
desenvolvimento tal a ponto de não serem percebidos, pois são articulados
por outros grupos que não permite que eles se exponham diretamente ao
público. Assim, objetivou-se demonstrar como essa ação é praticada, através
de um pequeno relato das teorias de ação de grupos de interesses, para
contextualizar o tema e a análise de um artigo de revista de circulação
nacional.



2. Onde estão as origens dos grupos de interesses no Brasil?



As origens da estrutura política brasileira estão, segundo
Faoro (1975), sedimentadas na História da formação de Portugal, Estado
constituído com base em uma estrutura patrimonial, que não desenvolveu o
sistema feudal como as outras unidades políticas da Europa, portanto sem a
constituição de uma nobreza autônoma. Esse fato deu origem a um
patriomonialismo estamental, por referência às características da nobreza
feudal, que passa a constituir o quadro administrativo do Estado. Por meio
desse quadro de controle burocrático, a nobreza busca honra social, para
alcançar e conservar a independência em relação ao soberano. Nesse tipo de
sistema, o soberano domina o território do país através desse corpo
administrativo. É o tipo de Estado que vai vigorar no Brasil-colônia e que,
posteriormente, será transformado no modelo pelo qual o país independente
se constituirá. Transplantado da metrópole, o modelo administrativo que
aqui se instala tem como característica a fusão do público ao privado, em
benefício do estamento que administra o Estado.
O modelo capitalista português, que foi transferido para o
Brasil, apresenta um padrão que é conduzido e determinado pela política, de
modo a não estimular o desenvolvimento econômico segundo os princípios
liberais que nortearam outras nações européias. Esse fator foi responsável
pelo atraso e dependência econômica que vão se verificar em Portugal,
deixando o Brasil como área de exploração mercantil, responsável pelo lucro
que o Estado lusitano retira para se manter. E se manter significa, em
última análise, saldar dívidas portuguesas através da transferência das
riquezas brasileiras para as nações que adotaram o liberalismo econômico,
as quais eram credoras de Portugal. Assim, no Brasil, o Estado português
implementará a colonização, cooptando comerciantes e agentes do capital,
que irão constituir o estamento burocrático que, por sua vez, envolverá o
setor privado, submetendo-o a seu rogo e esgotando-o em benefício de
poucos.
A centralização do poder, é o principal aspecto que a máquina
administrativa portuguesa vai instaurar no Brasil, na fase dos grandes
engenhos de cana-de-açúcar (Nordeste) e na fase da exploração das minas de
ouro e pedras preciosas (Minas Gerais, principalmente). Sob o pretexto do
estabelecimento de um controle para atender os interesses da coroa, o
estamento burocrático se fortalece na colônia. Na realidade, atendendo os
próprios interesses, através de um governo forte, com grande número de
funcionários para lhe dar supremacia sobre os senhores rurais. O aparato
administrativo que age em nome do rei (a favor dele [rei] e em interesse
próprio) exclui o povo de qualquer tipo de participação, servindo este
apenas e tão-somente para uso econômico e político.
A vinda da família real para a colônia transfere toda a
máquina burocrática que vai dar inicio à consolidação da estrutura
estamental-burocrática a ser implantada pelo Estado brasileiro
independente. A organização da nação vai ocorrer sob a lógica do
liberalismo, o que parece, pretensamente, ser o elemento modernizador do
país. No entanto, o liberalismo adquire um caráter contraditório, pois se
assenta na base de uma economia escravista. Acresce-se que a instituição do
poder moderador e as formas de organização do Estado brasileiro serão as
mesmas que se desenvolveram no período colonial, com um estamento
burocrático muito forte. Principalmente no segundo reinado, que alijou a
possibilidade de participação do povo. Limitado com base na renda, ele
permanece sob o controle do aparelho administrativo, que dá as diretrizes
do país imperial. Como se vê, desde os primórdios da formação do Estado
brasileiro se limitou a organização de grupos de interesses nas esferas
inferiores da sociedade.
Com a instauração da República, o modelo vai se reproduzir sob
novas formas. Primeiro, pelo poder dos militares. Depois, no período civil,
pela implantação da Política dos Governadores, momento máximo da ação do
estamento burocrático na privatização do lucro e socialização dos custos.
As características do Estado brasileiro, daí em diante, não irão se
alterar. Mudará apenas o regime do qual o estamento burocrático irá se
servir, mesclando–se momentos de maior distanciamento em relação ao povo a
momentos em que ele aparece mais próximo. (como, por exemplo, o Estado
Novo)
Em suma, O Estado brasileiro consolidou o patrimonialismo,
transferido pelo colonizador português, o qual, aplicando suas
características gestoras, construiu uma lacuna entre os interesses do
Estado e os da nação, atendendo, por fim, ao grupo que se apropriou do
aparelho administrativo do Estado. Geralmente esse grupo não fazia
distinção entre o público e o privado, submetendo a seu jugo, inclusive,
importantes setores da economia. Com isso, tais setores acabaram sendo
incorporados ao modelo capitalista vigente, perdendo suas características
naturais, o que inviabilizou qualquer possibilidade de crescimento em
termos sócio-econômicos. Quanto à nação, reproduz-se fora da esfera do
Estado, como mostram os modelos históricos, graças aos mecanismos de defesa
produzidos pelo estamento burocrático, para impedir o acesso dos interesses
públicos na esfera da ação do Estado. Neste caso, a formação política
brasileira caminha na direção da teoria de Andrew Mc Farland (1992), que
defendeu a idéia da "muitas elites", uma vez que o Brasil, após o processo
de industrialização, parece tê-la desenvolvido.


3. A Lógica da Ação Coletiva


Os grupos de interesse estão presentes nas democracias e
servem para que os interesses de partes da sociedade possam conseguir os
benefícios das políticas públicas. Geralmente, os grupos de interesses
podem ser conceituados pela lógica da ação coletiva.
A teoria da ação coletiva parte de uma constatação: diversas
vezes a interação de agentes com interesses comuns não gera resultados
coletivamente eficientes. Em outras palavras, sob certas condições,
indivíduos racionais são incapazes de, espontaneamente, alcançar resultados
que estejam de acordo com seus interesses. A análise de Olson (1999) busca
identificar quais são as circunstâncias em que a afirmativa anterior se
verifica, ou seja, quando a racionalidade individual não é suficiente para
a racionalidade coletiva.
Olson (1999) mostra que o fato dos benefícios conjuntos de uma
ação superarem os custos para um grupo não implica em sua efetivação. A
ação coletiva, geralmente, está voltada para a produção de bens públicos
para seus membros, pois bens privados podem ser produzidos através do
mercado. Ora, em tal caso, como não se podem excluir os não-contribuintes,
o grupo fracassa na produção de potenciais bens coletivos, visto que a
decisão racional de cada agente será a defecção. Exemplificando: os
trabalhadores recebem aumento salarial quer tenham contribuído ou não para
uma greve bem-sucedida, ou cada empresário de um determinado setor se
beneficia da imposição de uma tarifa de importação mesmo que não tenha
contribuído para o lobby[3].
De acordo com a análise de Olson (1999), o número de
participantes de um grupo é uma variável-chave para as questões da ação
coletiva. Utilizando um modelo formal, ele demonstrou que quanto menor o
grupo, maiores são as chances de um de seus membros arcar com todos os
custos do bem coletivo (Olson.1999). Já em grupos maiores, essa
possibilidade é mais restrita e a ação coletiva tem de ser obtida através
de incentivos seletivos (selective incentives), i.e., benefícios que se
aplicam apenas aos agentes que contribuíram para a provisão de um bem
público (Olson, 1999). Conhecidos casos de incentivos seletivos são os
descontos em planos de saúde para os membros de sindicatos e o fornecimento
de informações qualificadas para os componentes de um grupo de interesse
patronal. Existem ainda outros incentivos mais informais, mas não por isso
menos eficazes, que vão desde o ostracismo até a violência física contra,
por exemplo, os que "furam" uma greve ou rompem um cartel.
Mesmo levando-se em conta a possibilidade de recurso aos
incentivos seletivos, é fácil notar que grupos com poucos membros, cujos
benefícios prováveis estão concentrados, têm mais incentivos e facilidades
de organização e ação do que os grandes grupos pulverizados. Os resultados
são pequenos grupos ativos e uma maioria desorganizada inerte, apesar de
seus interesses comuns. Segundo Olson (1999), "pequenos grupos em uma
sociedade, geralmente, terão maior poder de lobby e de cartel per capita
(ou mesmo por dólar da renda agregada) do que grupos maiores" (Olson.1999).
Olson (1999) também argumentou que os pequenos grupos tendem a
incorrer em ações redistributivas em seu favor, em detrimento de práticas
que aumentariam a eficiência em geral. Um grupo pequeno é atingido apenas
por uma ínfima parte dos danos que porventura atinjam toda a sociedade, uma
vez que, por definição, sua participação nesta é deveras restrita. Logo,
mesmo que as ações redistributivas dos grupos com poucos membros piorem a
situação geral, seus participantes serão mais do que compensados pelos
"desvios" dos ganhos em seu favor. Sindicatos de trabalhadores e patronais,
associações profissionais, lobbies e cartéis, ou qualquer outro grupo que
vise à provisão de bens coletivos para seus membros, foram incluídos sob a
designação "coalizões distributivas" (distributional coalitions).







4. As práticas brasileiras



Para este trabalho procurou-se adotar os princípios
pluralistas defendidos por Dahl (1961), que parte da idéia de que as
democracias permitem, na sua dinâmica, um sistema de desigualdades não-
cumulativas. E que os recursos políticos num sistema pluralista apresentam-
se vários, sendo eles distribuídos desigualmente e por isso os atores
possuem um maior número de oportunidades para influenciar o poder público,
portanto há uma participação maior da sociedade, cada parte em um
determinado segmento.

Uma extensa guerra de interesses se trava no Brasil entre o
público e o privado. Isso não quer dizer que exista um conflito sistêmico
(pelo menos não se percebe isso), o que se desenrola é um conflito temático
(La Palombara, 1982, 291). Essa guerra tem no Estado um espaço
preferencial, embora ela cruze todos os cantos da nossa sociedade. É neste
sentido, que empreendemos nosso esforço elucidativo.
Os interesses privados lutam pela mais extensa e profunda
mercantilização da sociedade, isto é, pela transformação radical de tudo em
mercadoria. Em outras palavras, a sociedade deve ser um lugar onde tudo se
vende e tudo se compra. O setor privado luta para que o Estado: a) financie
seus interesses e não coloque nenhum entrave à circulação do capital; b)
perdoe seus impostos e degrade ainda mais os salários; c) gaste cada vez
menos com a atenção à massa da população. Em suma, que o Estado seja máximo
para o capital e mínimo para os que vivem do trabalho.
E a iniciativa privada tem conseguido grandes avanços nos
últimos tempos. O Estado está profundamente penetrado por seus interesses,
em especial pelos do capital especulativo, num verdadeiro processo de
financeirização do Estado. O conjunto das atividades estatais está definido
pelos compromissos financeiros assumidos pelas autoridades econômicas -
elas mesmas originárias de grandes empresas privadas, na maioria das vezes
organizadas em grupos representativos de caráter neocorporativista[4]
(Werneck Vianna.1994). O Banco Central, os Ministérios Econômicos, o
próprio Ministério do Trabalho, da Indústria e Comércio, da Agricultura e
Reforma Agrária, por exemplo, representam os interesses do grande capital
privado, prioritariamente os do capital especulativo, sobre cuja atração
repousa a modalidade de estabilização monetária do governo atual.
Se o Brasil é a sociedade mais injusta do mundo (segundo os
dados das Nações Unidas), é em grande parte devido a que o Capitalismo
Central influencia o Estado e a elite, fazendo com que cada vez menos sejam
universalizados os direitos da população. Ao mesmo tempo, o próprio Estado
subsidia o processo de acumulação privada de capital, favorecendo
principalmente grupos de interesses organizados, que possuem eficientes
canais de comunicação junto aos policy makers. Entre várias práticas
utilizadas para tal, uma delas é a difusão midiática da ideologia
dominante, que no presente trabalho será analisada num recorte – a mídia
impressa. Não bastasse isso, o mercado, para concentrar renda, produz
exclusão social e destrói empregos formais com seus respectivos direitos.
E, fechando o processo sócio-econômico, numa postura inegavelmente pró-
iniciativa privada, o Estado maximiza, até limites inéditos, a super-
exploração econômica, a destruição de direitos e a exclusão social.
O liberalismo busca legitimar esse processo mediante a
restrição do debate em torno do eixo estatal/privado. Desqualificando o
Estado, enfraquece a capacidade deste para regular as relações econômicas e
sociais, garantir direitos e servir de instrumento contra o processo de
maximização dos lucros das grandes empresas privadas. E não é difícil
desqualificar um Estado que arrecada apenas metade do que deveria (dos
assalariados, principalmente) e gasta mal, prestando serviços ruins à
população que dele necessita, sendo forte com os fracos e fraco com os
fortes, pagando mal a seus funcionários, gastando mais com o pagamento dos
juros das dívidas do que com educação e saúde.
Em suma, um Estado onde os grandes interesses privados se
manifestam, e que reproduz através das políticas públicas que atendem as
particularidades, independentemente do sistema de governo e do próprio
governante, através de um sistema pluralista (não no sentido apresentado
por Dahl, mas no apresentado por Lukes), que defende a idéia de uma
desigualdade de oportunidades em que o ator mais importante tem maior
proporção de sucessos.


5. A ação do 3º. Poder no Brasil


Apesar de Lukes(1992), que será melhor abordado no próximo
item, achar difícil empreender uma análise das ações dos grupos que
exercitam o poder na ausência de conflito, o artigo publicado pela revista
Veja, em 01 de novembro de 2001, nos permite tangenciar a questão sem nos
aprofundarmos, uma vez que este não é o objetivo deste trabalho. Mas nos
permite antever as ações para fazer seus objetivos.
Na matéria analisada[5], na verdade, há dois textos; portanto
há dois objetos: um aparente, um subjacente. Em outras palavras, existe um
texto dentro de outro texto.
O jornalista João Gabriel de Lima faz uma abordagem da Língua
Portuguesa como sendo uma das maiores dificuldades dos brasileiros,
impedindo que leiam e escrevam adequadamente. Há vários depoimentos de
pessoas com autoridade no assunto, comentando e avaliando o problema.
Destacam-se o Professor Pasquale Cipro Neto e o economista Reinaldo Polito,
dono de uma escola de expressão oral.
É o texto verdadeiro? É nele que se encontra o sentido real
que originou a matéria? É nele que se encontra a intencionalidade dos
interesses presentes?
O jornalista, associado a seus co-enunciadores, solicita à
Classe Média (os brasileiros) que vote em José Serra (o que fala a Língua
Correta), e não em Lula (o brasileiro que não sabe falar nem escrever) ou
em Enéias Carneiro (o da linguagem empolada) – conflito temático entre os
grupos. É como se houvesse uma união de personalidades da Classe Média (os
brasileiros que querem melhorar – e melhorar seria votar em José Serra)
tentando convencer uma outra parcela dessa classe de que o candidato do
PSDB é o único que deve, merece e possui condições de ocupar a cadeira
presidencial. Justifica isso apresentando a tese de que José Serra é o
único que fala a mesma língua da Classe Média. E falar a mesma língua
implica dizer, nesse contexto, ter os mesmos ideais, ter os mesmos anseios,
pensar da mesma maneira compartilhar a mesma ideologia. A partir desse
ponto, estabelece-se uma igualdade entre a Classe Média e José Serra; ambos
têm as mesmas origens, ambos são iguais, ambos falam a mesma Língua. E
assim é criada a identidade entre os pares Classe Média /José Serra.
O autor criou um silogismo: deve-se votar naquele que fala a
mesma língua do eleitor; José Serra é o único candidato que fala a língua
da Classe Média; logo a classe média deve votar em José Serra.
Dessa forma, a questão Língua funciona apenas como elo entre
iguais. Ela não é, como sugere o Texto Aparente, o cerne da
matéria/reportagem. A língua (Ideologia, no Texto Subjacente) é o meio de
convencimento, é a grande força de argumentação lógica para convencer a
porção da Classe Média que decidiu votar em Lula ou em Enéias Carneiro, ou
que está indecisa, a votar no PSDB de José Serra. O texto vai, do início ao
fim, demonstrando, por meio de depoimentos de co-enunciadores-pares da
Classe Média, entre eles Fernando Henrique Cardoso, Evanildo Bechara,
outros professores, empresários, altos executivos, e não-pares diretos,
como Sérgio Buarque de Holanda, o filósofo Ludwig Wittgenstein, utilizando
vivos e mortos, para confirmar a necessidade da Classe Média votar no
candidato do PSDB, porque: o Lula fala errado, a Língua do povão, ou seja,
governará para as classes menos favorecidas; e Enéias fala a língua do
passado, o que significará um retrocesso político.


5.1. Onde está Fernando Henrique Cardoso (FHC)?


Não se encontra, diretamente, no texto em palavras. Ele está
simbolizado nas imagens estilizadas do "homem tranqüilo e calmo que escreve
e fala com grande facilidade a Língua Correta – a Língua da Classe Média".
Aqui verificamos uma manipulação dos símbolos, já que se procura
desenvolver um sentimento de medo (avesso às mudanças) no público, para
impedi-lo de questionar as demandas das elites, legitimando-as, criando um
consenso em torno dos valores da classe dominante. (Hayes. 1981)
Na ocasião da matéria, FHC era o Presidente da República, e
pautou seus governos pelo favorecimento às classes sociais economicamente
superiores, ou seja, os setores da sociedade mais organizados fizeram valer
os seus interesses contra os interesses não-organizados. Por ser do PSDB,
sua imagem sugere a continuidade desse favorecimento no caso da vitória de
José Serra, que também era do PSDB e, portanto, falava e continuaria
falando a mesma Língua de FHC. A Língua Correta, a Língua da Classe Média.


5.2. Contextualizando a análise


A revista Veja, dirigida à Classe Média, publicou a matéria
num ano eleitoral, quando o cenário político apontava Lula como o principal
candidato, que recebia apoio de cantores ligados à elite intelectual
brasileira (Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, etc.) e de atores de
prestígio, o que provocava uma fuga de votos (da Classe Média) para o PT.
Signos icônicos são utilizados, primeiramente na capa, que
mostra um "Rapaz Bonito, Branco" (Classe Média) "sorridente" (alegria,
felicidade); de sua boca sai a expressão: "Falar bem". Complementando, o
fundo Amarelo une-se ao Azul da camisa do rapaz, sugerindo "a bandeira do
PSDB". Num segundo momento, signos são apresentados no decorrer da matéria
em si. Como se a Democracia, com alternância do poder, estivesse associada
aos baixos padrões culturais da população, abalando tanto o pensamento
conservador como o liberal na sociedade brasileira, principalmente na
Classe Média.
Outras pistas são dadas pelo texto, como: a diferença entre "o
brasileiro" (que não sabem falar nem escrever) e "os brasileiros" (que
querem melhorar). Existe um sentido pejorativo no termo "o brasileiro";
enquanto há um sentido positivo no termo "os brasileiros". Após a fala de
Suplicy (a reportagem diz que ele é um homem inteligente, mas não sabe se
expressar – pejorativo) abre o parágrafo dizendo que "A dificuldade do
brasileiro em falar e escrever...", o que sugere que Suplicy não sabe
falar, se expressar.
Isso demonstra a intenção de macular a imagem do brasileiro,
que é sempre associado a não falar e a não escrever bem. Como no texto
aponta que as escolas públicas não possuem quantidade suficiente de
professores de Língua Portuguesa capacitados adequadamente ao cargo, para a
maioria do povo, este por conseqüência não aprende a falar nem a escrever
direito. Estabelece-se, portanto, uma identidade entre ambos: brasileiro e
"povão". Percebe-se que os membros do PT falam a Língua do "povão". Assim,
pelo conceito de identidade/ideologia, todos do PT falam a mesma Língua que
o povão. Como a imagem do PT sempre esteve ligada a Luiz Inácio Lula da
Silva, temos que: Lula igual a povão. Portanto, "brasileiro" significa Lula
e por, extensão, PT e "povão". Claramente esse fato remete ao temor do
"governo do povo" em contraste com a plutocracia[6], defendida pela Classe
Média. Como se fosse possível, ao povo, governar da mesma forma que os
ricos (essencialmente em benefício próprio), quando na verdade se busca um
governo que atenda os desejos comuns da sociedade (Wollheim,1999, p. 97),
uma vez que se governa para todos (ou, pelo menos, é o que teoricamente
deveria acontecer).
Existe no texto um dialogismo constitutivo[7] que se dá pela
polifonia[8] existente, que fica, do início ao fim, retomando falas
direcionadas ao senso comum que justificam a idéia de que "Lula é
analfabeto, por isso não pode ser presidente". Essa polifonia dirigida é,
em grande parte, explicita e implícita ao mesmo tempo. Explícita, na medida
em que o co-enunciador é citado ou tem sua fala marcada pelas aspas.
Contudo, o enunciado não revela seu conteúdo real, verdadeiro; ele só é
percebido pelo analista no conjunto da análise, pois encontra-se submerso.
Assim, o explícito verdadeiro só existe pelo implícito, uma vez que seja
percebido e compreendido. De outra forma, o que existirá é um pseudo-
explícito residente na superfície do texto, que provocará inevitavelmente
uma não-apreensão do conteúdo intencional, projetado pela classe difusora
da ideologia política. O leitor ficará apenas no âmbito do Texto Aparente,
que é apenas um "merchandising". Mas ficará submetido ao papel político
desempenhado pela mídia.


"...Influencia a
formação de políticas ao gerar a atenção do
público e, através dela, a pressão política para
que certos atores passem a atuar sobre uma
questão particular. A cobertura da mídia, porém,
não apenas aumenta as percepções e atenção
públicas sobre várias questões, mas as constrói,
definindo-as como econômicas, ou políticas,
sociais ou pessoais, radicais ou conservadoras."
(Howlett, 2000, 186)


Em linhas gerais, a argumentação lógica de defesa do voto da
Classe Média em José Serra foi tecido a partir de dois patamares centrais:
i) criação da identidade ideológica entre PSDB/Classe Média, para esse
objetivo, a idéia de "falar a mesma Língua". Com isso, valorizaram a face
positiva (Teoria das Faces de P. Brown e S Levinson. 1987) do PSDB e, por
decorrência imanente, a de seu candidato à Presidência da República, José
Serra; ii) destruição profunda da imagem de Lula/PT e Enéias/PRONA,
desabilitando-os ao exercício de Presidente da República, utilizando, para
essa finalidade, a mesma arma anterior, a Língua, só que em sentido
iconoclasta. O mesmo elemento que habilita José Serra desabilita Lula e
Enéias Carneiro.


5.3. A apoteose


"A julgar pela máxima do filósofo Ludwig Wittgenstein – 'os
limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento' – os
brasileiros que tentam melhorar seu português estão também aprendendo a
pensar melhor." A coação final, trazendo o peso da palavra de um filósofo
austríaco, se liga aos brasileiros da Classe Média que votará em Serra
aprendendo a votar melhor, votar no PSDB.
É importante acrescentar, a título de elucidação, que existe
um grau de interpenetração entre os grupos de interesses e os partidos
políticos. Em alguns casos, interferem no recrutamento e formulação da
política a seguir e na elaboração dos programas, inviabilizando o
atendimento mais amplo dos interesses da sociedade.(Pasquino, 1982,13)
Há ainda, no texto subjacente, outros dialogismos
constitutivos, perceptíveis apenas dentro da analise do contexto profundo.
Um deles localiza-se logo na abertura do Texto Aparente, no primeiro
parágrafo: "Roberto Carlos, Romário, Silvio Santos, Carla Perez." A
referência a essas personalidades do meio artístico e esportivo, não se dá
casualmente, ela é planejada. Outras, poderiam estar ali, mas não estão.
Essas personalidades associam-se a Lula e ao PT, de modo pejorativo, pois
são populares (e de origem popular) e se destacaram esportiva ou
artisticamente, não intelectualmente. Isso faz parte de um sistema lógico-
coercitivo, que tem por objetivo induzir a Classe Média a votar em José
Serra. Por outro lado, em sentido oposto, aparecem, logo a seguir, duas
personalidades do mundo acadêmico e empresarial, o Professor Pasquale Cipro
Neto e o empresário e também professor Reinaldo Polito, representantes dos
brasileiros que querem melhorar (parte da Classe Média que vota no PSDB).
Opõe-se ao povo, por não falarem a mesma Língua. Em suma, temos a disputa:
Rico X Pobre. Os ricos representados pelo PSDB de José Serra, e os pobres,
representados pelo PT de Lula. Aqui, parece que somente numa plutocracia o
Brasil atingirá um estágio superior. Quando Péricles já tinha afirmado:
"que a democracia é perfeitamente compatível com as diferenças de riqueza,
o que não é compatível é que essas diferenças acarretem influência política
de grupos de interesses" (WOLLHEIM,1999, p. 94).
Pode-se verificar a intencionalidade das escolhas. Os nomes
ali colocados foram selecionados com o objetivo de serem atados e
entrelaçados, ao longo do enunciado global, à idéia de mediocridade, uma
vez que representam o gosto popular. E a lógica dessa relação vai sendo
construída com o "martelamento" de que o pobre não sabe falar nem escrever
direito, por isso não pensa de modo racional e articulado. Como Lula vem
dessa classe e é seu ícone, criou-se a identidade Lula/Povo a partir do
elemento de igualdade entre ambos: "ignorância", no sentido do
desconhecimento da Língua culta, que levaria a outros desconhecimentos.
Não se sabendo a Língua, não se articula o pensamento. Logo, a falta de
domínio lingüístico é uma barreira aos demais setores do saber humano. Isto
posto, não se justifica votar em alguém que não tenha capacidade de
raciocinar e de tomar decisões em nome de um país. Ainda mais por não falar
a "mesma Língua". Eis a lógica iconoclasta que é repetida ao longo do
texto. Dessa forma, se objetiva socialmente transmitir valores dos grupos
de interesses dominantes, para posterior subjetivização desta ideologia às
demais classes sociais.
Dentro dessa ótica, os indivíduos da Classe Média procuram
agir como racionais utilitaristas, uma vez que para atingir uma maior
compreensão da dinâmica política tem-se que investir maior quantidade de
recursos (Downs.1999) para manter-se informado. Assim, com poucos
investimentos, uma revista pode, aparentemente, lhes dar acesso à
informação. Entretanto acabam reféns desse meio de comunicação, o que os
torna elementos manipuláveis/capturáveis pelos grupos dominantes,
principalmente em períodos eleitorais. (Downs.1999).
Como Downs (1999) afirmou, as lideranças políticas sabem
utilizar os fatores dispostos no sistema e, como pode-se observar pela
análise anterior, no Brasil a prática é colocada em uso para favorecer o
grupo que tem acesso aos meios de comunicação; no que se refere a difusão
de seus valores. Isso livra alguns atores do conflito político por terem
maiores recursos políticos e econômicos (Dahl.1961).


6. A visão de Lukes. The Power - A Radical View


O cientista político britânico Steven Lukes foi responsável
pela criação da teoria da terceira dimensão da representação política, que
se denomina controle sobre as preferências. Ela está intrinsecamente
relacionada à discussão sobre os impasses e alternativas para a
representação política, sobre o foco da disputa do poder.
Essa teoria, em oposição às das outras duas antecessoras,
produzidas por R. Dahl, P. Bachrach e M. Baratz, que discutiram sobre os
sistemas políticos pluralista e elitista, contraria através de novas
propostas sobre a representatividade política. Isso aconteceu devido a onda
que arrastou a discussão nos últimos trinta anos sobre a democracia
eleitoral, principalmente procurando ocupar o espaço dos regimes
autoritário e totalitário deslegitimados diante da eficácia participativa
da democracia.
É sobre essas duas teorias que Lukes (1992) constrói sua
crítica de como o poder pode ser considerado a partir da visão
unidimensional e bidimensional. A análise conceitual do poder e sua relação
íntima entre os sentidos teóricos e políticos constituem questões
metodológicas e invocam ao limite o behaviourismo. As questões teóricas
procuram os limites do pluralismo, a consciência falsa e os interesses
verdadeiros. As raízes históricas do tema remontam a Weber e influenciaram
marcadamente Dahl e seus colegas americanos da década de 1960.
Sua grande crítica a essas duas teorias, elitista e
pluralista, é de que elas são limitadas, uma vez que só se referem às
formas observáveis do poder e a isso adicionou uma terceira dimensão que
remete à discussão apresentada anteriormente.
A visão unidimensional está centrada na questão do poder como
capacidade de tomada de decisão onde um ator A pode ou consegue fazer com
que um ator B faça algo que, sem a força coercitiva de A, não faria por si
só. Outro aspecto levado em conta nesta análise diz respeito a que este
poder (força) é exercido através de instituições formais. Além disso, na
medida em que este poder só se refere a exemplos observáveis, pode ser
medido por seus resultados nas decisões. Sobre isso Lukes(1982) afirma que:
"...one-dimensional, view of power involves a focus on behaviour in the
making of decisions on issues over which there is an observable conflict
of (subjective) interests, seen as express policy preferences revealed by
political participations."[9]
Na análise bidimensional, há também a questão do fato ou
conflito observável, real. Mas Bachrach e Baratz (1963) afirmam que além do
poder institucionalizado existe a influência informal. As duas dimensões
são a tomada de decisão e a não-tomada de decisão, sendo ambas as faces do
tomador de decisões. A não-tomada de decisão é ela mesma uma decisão. Além
da força da autoridade coercitiva pode-se observar a influência, indução,
persuasão, manipulação. Neste sentido, a análise do texto da revista Veja
demonstra como esse poder pode ser utilizado sem que se percebam os grupos
interessados na sua difusão. Voltando ao texto: ao procurar construir uma
identidade, hiperboliza-se[10] a necessidade da Classe Média não votar em
Lula, sob pena de se igualar ao "povo". Em outras palavras, diz que a
Classe Média é superior, e não ignorante como o "povo" e o PT, o que
justifica votar em José Serra, seu igual. A elaboração do enunciado traz,
de forma latente, uma ameaça à face positiva da Classe Média, caso ela vote
no PT, pois estaria registrando e autenticando que é ignorante. Por
oposição lógica, a face positiva será valorizada, caso essa classe vote no
PSDB.
Também na análise de Lukes (1992), há a presunção de que os
interesses são observáveis e conscientemente articulados pelo tomador de
decisão, desde que os indivíduos ou grupos tenham o capital cultural
necessário à sua apreensão. Aqui reside a mais importante diferença do que
tentamos demonstrar neste trabalho, pois o autor acredita que esses eventos
não possam ser observáveis (ou possam, mas de forma muito difícil) e que
esses mesmos eventos possam ser articulados, ou melhor, aconteçam de forma
inconsciente e, portanto, requeiram um exercício muito grande de abstração.
E como já apresentamos anteriormente, o objeto deste trabalho requer um
maior conhecimento que supera o senso comum.
A não-tomada de decisão, não observável e inconscientemente
articulada, pode nos dar uma pista de que haja uma superestrutura
perpassando (ou encobrindo) o centro de tomadas de decisão. Neste sentido,
procura-se não questionar o status quo, mas legitimá-lo, não politizando a
demanda (ela não passa pelo Congresso). Com este proceder, as reais
demandas populares adquirem o formato de ilegítimas, criando-se assim uma
pseudo-realidade, que vai de encontro aos interesses das classes dominantes
(Hayes. 1981). De fato, analisar um determinado evento não somente no
âmbito do indivíduo, mas na estrutura em que o indivíduo, país e/ou
organização estão envolvidos, é algo bastante complexo. Mas as dificuldades
podem ser transpassadas e certamente não requeiram de nós consignar a visão
da terceira dimensão do poder numa esfera metafísica ou ideológica. Esta
superestrutura impele algumas tomadas de decisão, ou uma não tomada de
decisão, que à luz da simples análise do indivíduo ou da organização, não
fariam sentido. Pode-se dizer, assim, que uma visão ou análise
tridimensional do poder deva levar em conta idéias, valores e normas em que
estejam inseridos os tomadores de decisão. E não se deve perder a dimensão
de que esses elementos influenciam os grupos não-organizados. Além disso,
as percepções (sentidos) de tais grupos sofrem a força do poder coercitivo
do Estado, que difere daquela exercida pelo terceiro poder, pois é aplicada
de forma inexorável quando a amplitude de suas conseqüências não atinge os
indivíduos ou grupos de interesses.
Em suma, Lukes contraria a idéia dos antecessores, propondo
que os indivíduos que não fazem parte de um determinado grupo social,
detentor de poder decisório, são deixados de lado e manipulados no que se
refere as suas propostas, não sendo considerados na agenda política. Como a
proposição apresentada neste trabalho, os grupos que dominam o poder se
utilizam dos meios disponíveis para continuar a reproduzir os seus
interesses. E isso pode ser comprovado por uma pequena parcela da
sociedade, uma vez que o conhecimento exigido é muito superior à média da
população e, consequentemente, devido a esse fato, no Brasil estas práticas
podem ser reproduzidas por longo tempo.
















Bibliografia

BACHRACH, Peter & BARATZ, Morton. Decisions and Nondecisions: Na Analytical
Framework, in American Political Science Review, Vol 57, N˚.3. 1963.

BARROS, D.L.P. de. "Contribuições de Bakhtin às teorias do discurso". In:
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DAHL, Robert. Who Governs? Democracy and Power in na American City – New
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Haven (USA) Yale University Press. 1982.

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Editora Saraiva. 1983.

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Editora Globo. 1975.

HAYES, Michael. Lobbyists and Legislators. New Brunswick (USA). Rutgers
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HOWLETT, Michael. A dialética da opinião pública: efeitos recíprocos da
política pública e da opinião pública em sociedades democráticas
contemporâneas. Opinião Pública, vol. VI, n˚ 2, p. 171-337. Campinas. 2000.

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Ciência Política, Unidade VI. Brasília. Editora Unb. 1982.

WERNECK VIANNA, Maria Lúcia. Lobismo: Um Novo Conceito para Analisar a
Articulação de Interesses no Brasil. Rio de Janeiro. Centro de Estudos de
Políticas Públicas, N˚. 25. 1994.


WOLLHEIM, Richard. Democracia. In: Ideologias Políticas. CRESPIGNY, Anthony
de; CRONIN, Jeremy (eds). Brasília. Editora Unb. 1999.


ANEXO I


Falar e escrever,
eis a questão

Edição 1 725 - 7 de novembro de 2001
Expressar-se em português com clareza e correção é uma das maiores
dificuldades dos brasileiros. A boa notícia é que muitos estão conscientes
disso e querem melhorar

João Gabriel de Lima
"Ilustração Orlando "
" "


Roberto Carlos, Romário, Silvio Santos, Vera Fischer, Carla Perez. Os
famosos no Brasil em geral jogam futebol, atuam na televisão ou cantam
música popular. O professor paulista Pasquale Cipro Neto, de 46 anos,
tornou-se um nome nacional de uma forma bem diferente: ensinando português.
Há duas semanas ele estreou um quadro no Fantástico, da Rede Globo. Já na
estréia, E Agora, Professor? (esse é o nome do quadro) recebeu uma
enxurrada de e-mails de telespectadores – cerca de 300 –, que queriam tirar
dúvidas sobre o uso do idioma. Pasquale é um fenômeno de mídia. Além de
levantar a audiência na TV, ele ajuda a vender publicações. Quando produziu
um encarte com exercícios de português para O Globo, provocou um aumento de
40% na circulação dominical do jornal carioca. Republicada mais tarde na
revista Época, pertencente à mesma empresa, a série fez com que a vendagem
em bancas do semanário quase dobrasse. Pasquale também é um sucesso no
rádio, em livros, em palestras e em CD-ROM. Ele não é o único que ficou
conhecido nacionalmente por ensinar os brasileiros a falar e escrever
melhor. Dono de uma escola de expressão oral, o economista Reinaldo Polito
também faz um sucesso impressionante. Tem 1.600 alunos por ano, já vendeu
mais de 570.000 livros e suas palestras estão cotadas em 9.500 reais.
Seria errado concluir, a partir desses dois exemplos, que a língua
portuguesa é uma paixão dos brasileiros, assim como o futebol, a televisão
e a música. A verdade é que as pessoas finalmente perceberam que precisam
dominar a norma culta do idioma. Principalmente na vida profissional.
Nunca, no mundo corporativo, houve tantas reuniões e apresentações. Quem
não consegue articular pensamentos com clareza e correção tem um grande
entrave à ascensão na carreira. A invenção do e-mail contribuiu para este
quadro, ao incrementar também a comunicação por escrito dentro das
empresas. Na Nestlé, por exemplo, o número de mensagens eletrônicas
trocadas entre os funcionários dobra a cada ano. Foram 2 milhões em 1999, 4
milhões em 2000 e, até o fim de 2001, esse número deve chegar a 8 milhões.
É óbvio que é péssimo para a imagem de alguém enviar a seu chefe um e-mail
confuso ou com erros de português. "O domínio da língua é importantíssimo
para qualquer profissional, tanto que, na hora de admitir novos
funcionários, costumamos fazer um teste de expressão escrita", informa
Carlos Faccina, diretor de recursos humanos da Nestlé. José Paulo Moreira
de Oliveira, especialista em português ligado à empresa de consultoria MVC,
estima que, em carreiras nas quais a internet é ferramenta de trabalho, os
profissionais despendam 25% de seu dia atualizando a correspondência
eletrônica. Fora do trabalho, o e-mail é também cada vez mais usado na vida
particular. A tendência é que sua utilização fique cada vez menos restrita
à parcela da população que tem computador em casa. Recentemente, os
Correios criaram um programa piloto de internet. No Rio de Janeiro e em São
Paulo, várias agências contam com terminais para quem quiser enviar e-mails
em vez de cartas. Quem não tiver endereço eletrônico pode obter um de
graça, aderindo ao programa. Os Correios prometem colocar esse equipamento
em todas as agências do país até 2003.


"AS ATIVIDADES DE PASQUALE "
" "
"Escreve colunas em jornais de"
"dez capitais brasileiras "
"Participa de programas de "
"treinamento no jornal Folha de S. "
"Paulo e na Rede Globo "
"Ancora o Nossa Língua "
"Portuguesa, na TV Cultura "
"Acaba de estrear um quadro no"
"Fantástico, da Rede Globo "
"Apresenta dois programas de "
"rádio "
"Coordena atividades especiais"
"numa das unidades do Curso Anglo "
"Tem sete livros publicados, "
"que totalizam 350 000 exemplares "
"vendidos "
"Seu CD-ROM Nossa Língua "
"Portuguesa vendeu "
"50 000 cópias "

As angústias dos brasileiros em relação ao português são de duas ordens.
Para uma parte da população, a que não teve acesso a uma boa escola e,
mesmo assim, conseguiu galgar posições, o problema é sobretudo com a
gramática. É esse o público que consome avidamente os fascículos e livros
do professor Pasquale, em que as regras básicas do idioma são apresentadas
de forma clara e bem-humorada. Para o segmento que teve a oportunidade de
estudar em bons colégios, a principal dificuldade é com a clareza. É para
satisfazer principalmente a essa demanda que um novo tipo de profissional
surgiu: o professor de português especializado em adestrar funcionários de
empresas. Antigamente, os cursos dados no escritório eram de gramática
básica e se destinavam principalmente a secretárias. De uns tempos para cá,
eles passaram a atender primordialmente gente de nível superior. Em geral,
os professores que atuam em firmas são acadêmicos que fazem esse tipo de
trabalho esporadicamente, para ganhar um dinheiro extra. "É fascinante,
porque deixamos de viver na teoria para enfrentar a língua do mundo real",
diz Antônio Suárez Abreu, livre-docente pela Universidade de São Paulo que
já deu cursos em empresas como a Mercedes-Benz, a Nortel e a Companhia
Paulista de Força e Luz. Abreu até lançou um livro voltado para esse
público, A Arte de Argumentar – Gerenciando Razão e Emoção, que está na
segunda edição.
Já existe no país até uma escola voltada para o ensino da língua para
profissionais. É o Curso Permanente de Português, de Porto Alegre. O CPP,
como é conhecido, foi fundado em 1976 por Édison de Oliveira, uma espécie
de precursor gaúcho de Pasquale Cipro Neto. Ele se notabilizou com aulas de
gramática no rádio e na televisão do Rio Grande do Sul. Até recentemente, o
CPP funcionava como um curso especializado em redação para o vestibular. Há
cinco anos, resolveu atacar o filão das empresas. "É um trabalho bastante
complexo, porque nós temos de entrar no universo das profissões para saber
os problemas específicos que cada uma apresenta", analisa a professora
Maria Elyse Bernd, diretora do CPP. O curso mescla aulas de gramática com
atividades práticas direcionadas para as diferentes carreiras. Médicos
aprendem a escrever laudos; advogados, petições; economistas, relatórios e
assim por diante (veja exemplos). O CPP tem como clientes bancos, tribunais
e até um hospital. Algumas empresas procuram o curso incentivadas pelos
próprios funcionários. "Fizemos uma pesquisa e descobrimos que conhecer
melhor as regras do idioma era uma demanda de todos os níveis
hierárquicos", diz Josué Vieira da Costa, da área de recursos humanos do
Banrisul, banco estatal gaúcho que contratou os serviços do CPP. Costa
lembra que as dificuldades com o português chegaram a entravar a burocracia
do banco. "Uma vez, um funcionário quase foi promovido erroneamente por
causa do parecer dúbio de um executivo. É incrível que esse tipo de coisa
atrapalhe o funcionamento de uma empresa."


"AS PROEZAS DE POLITO "
" "
"Tem 11 livros publicados, que"
"venderam 570 000 exemplares "
"O best-seller é Como Falar "
"Corretamente e sem Inibições, que "
"vendeu 300 000 exemplares "
"Por seu curso passam, em "
"média, 1 600 alunos por ano "
"Dá em média 3 palestras por "
"mês "
"Seu cachê por palestra é 9 "
"500 reais "
"Tem vários alunos famosos, "
"entre eles o senador Eduardo "
"Suplicy "
" "
"Ouça dicas do professor "
"Reinaldo Polito sobre como falar "
"bem em público. "

A dificuldade com a clareza é um traço cultural no Brasil. "Num país com
tantas carências educacionais, falar de maneira rebuscada é indicador de
status, mesmo que o falante não esteja dizendo coisa com coisa", afirma o
professor Francisco Platão Savioli, da Universidade de São Paulo, autor de
nove livros sobre o ensino do idioma. Esse amor pelas palavras difíceis tem
origem na época da transição do Império para a República, no fim do século
XIX. Conforme explica Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico Raízes do
Brasil, com o advento da República o curso superior passou a ser o
principal parâmetro de reconhecimento social. Na época, estavam em voga as
escolas de direito. Assim, para ser alguém na sociedade daquele tempo, era
necessário não apenas ser advogado, mas também falar como advogado. É daí
que surge, segundo Sérgio Buarque, a linguagem bacharelesca. Esse estilo
floresceu no começo do século XX e, a partir do modernismo, seu prestígio
foi decaindo. O português empolado persiste, no entanto, até hoje, em
formas degeneradas. Uma delas é o chamado "burocratês", a linguagem dos
memorandos das empresas, nos quais mesmo para solicitar a compra de uma
caixa de clipes são necessárias várias saudações e salamaleques. Outra é a
retórica de parte dos políticos. O linguajar pomposo também sobrevive nas
teses acadêmicas e, como era de esperar, no discurso dos advogados.
Há vários indícios, no entanto, de que essa tradição de rebuscamento está
fadada a ir para a lata de lixo da História. Na área do direito, por
exemplo, existe uma corrente que defende a simplificação da língua. Há duas
semanas, o desembargador João Wehbi Dib ganhou as manchetes de jornais pelo
tom com que redigiu seu voto num processo contra o escritor Ruy Castro,
acusado de difamar Garrincha no livro Estrela Solitária. Entre as provas
arroladas pelos advogados dos herdeiros do jogador, havia uma descrição
feita por Castro da anatomia íntima do craque. Para choque de muitos, o
desembargador Wehbi Dib discorreu sobre o assunto sem meias palavras. "As
novas gerações de advogados perceberam que o discurso empolado, muitas
vezes, atrapalha a argumentação lógica", diz Ester Kosovski, professora da
área de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Outro golpe no
barroquismo vem da própria popularização do e-mail. "A linguagem da
correspondência eletrônica, nas empresas, tem de ser mais concisa e mais
clara que a do memorando, porque em geral tem o objetivo de provocar uma
ação imediata", analisa o professor paranaense Artur Roman, autor de
dissertação de mestrado sobre o assunto e funcionário do setor de
treinamento do Banco do Brasil.

A clareza também se tornou a prioridade dos cursos de oratória. O professor
Reinaldo Polito, que há 26 anos tem em São Paulo uma escola de expressão
verbal para profissionais de várias áreas, constatou, ao longo de sua
carreira, uma mudança significativa. Segundo ele, até pouco tempo atrás a
maior parte de sua clientela era formada por executivos na faixa dos 45
anos, que se preocupavam, antes de tudo, com a impostação de voz e a
gestualidade. Recentemente, ele passou a ser procurado principalmente por
jovens em início de carreira que querem aprender a se expressar de forma
clara e simples. "Para atender esse pessoal, que hoje é o grosso do meu
público, tive de reorientar o curso. Passei a enfatizar o encadeamento das
idéias e a coerência da argumentação", conta Polito. A demanda é tanta que,
em março passado, ele inaugurou outra unidade de sua escola, no bairro
paulistano do Ipiranga. Nela, há auditórios de vários tamanhos para simular
diferentes tipos de conferências. Polito tem entre seus alunos o senador do
PT Eduardo Suplicy. "Ele é um homem inteligentíssimo, só precisa aprender a
se expressar melhor. É um grande desafio para mim", avalia Polito.
A dificuldade do brasileiro em falar e escrever de forma a se fazer
entender não é apenas conseqüência da tradição bacharelesca. Há outros
fatores. Para começar, lê-se pouco no Brasil. O parâmetro de comparação que
costuma ser utilizado nessa área é a média de livros publicados per capita,
que resulta da divisão do total da produção pela população do país. No
Brasil se produzem 2,4 livros por habitante, contra sete na França e onze
nos Estados Unidos. Esse indicador, no entanto, é imperfeito, porque ignora
a taxa de analfabetismo, a proporção de livros didáticos no universo
editorial e a quantidade de volumes que vai parar em bibliotecas. A Câmara
Brasileira do Livro divulgou recentemente um estudo que mostra que, na
verdade, os brasileiros lêem em média apenas 1,2 livro por ano. Não
cultivar a leitura é um desastre para quem deseja expressar-se bem. Ela é
condição essencial para melhorar a linguagem oral e escrita. Quem lê
interioriza as regras gramaticais básicas e aprende a organizar o
pensamento.
As escolas poderiam ensinar a escrever, mas não o fazem. Não que as aulas
de redação sejam em menor número do que o desejado. O problema é que essa
matéria é ensinada de forma errada, por meio de assuntos distantes da vida
real. "Em vez de escrever redações sobre temas vagos, como 'Minhas férias'
ou 'Meu cachorro', o aluno deveria ser adestrado nos diferentes gêneros da
escrita: a carta, o memorando, a ficção, a conferência e até o e-mail",
opina o professor Luiz Marcuschi, da Universidade Federal de Pernambuco.
Por último, há a questão do nível dos professores. "A maior parte da mão-de-
obra nessa área é de baixa qualificação", diz o professor Pasquale Cipro
Neto. "Como o aluno vai aprender a diferença entre sujeito e predicado se
nem o professor entende direito? Infelizmente, não existem bons professores
de português em número suficiente para atender à imensa demanda que o país
tem."
Pasquale conhece bem as carências nessa área. Ele percorre o Brasil para
dar palestras. Transformou-se em estrela de magnitude nacional depois de
atuar em comerciais da rede de lanchonetes McDonald's, em 1997. Pasquale,
no entanto, não é uma unanimidade. Esteja em São Paulo, Macapá ou Passo
Fundo, inevitavelmente ouve críticas. Elas ecoam o pensamento de uma certa
corrente relativista, que acha que os gramáticos preocupados com as regras
da norma culta prestam um desserviço à língua. De acordo com essa
tendência, o certo e o errado em português não são conceitos absolutos.
Quem aponta incorreções na fala popular estaria, na verdade, solapando a
inventividade e a auto-estima das classes menos abastadas. Isso
configuraria uma postura elitista. Trata-se de um raciocínio torto, baseado
num esquerdismo de meia-pataca, que idealiza tudo o que é popular –
inclusive a ignorância, como se ela fosse atributo, e não problema, do
"povo". O que esses acadêmicos preconizam é que os ignorantes continuem a
sê-lo. Que percam oportunidades de emprego e a conseqüente chance de subir
na vida por falar errado. "Ninguém defende que o sujeito comece a usar o
português castiço para discutir futebol com os amigos no bar", irrita-se
Pasquale. "Falar bem significa ser poliglota dentro da própria língua.
Saber utilizar o registro apropriado em qualquer situação. É preciso dar a
todos a chance de conhecer a norma culta, pois é ela que vai contar nas
situações decisivas, como uma entrevista para um novo trabalho."
Felizmente, a maior parte das pessoas não está nem aí para a conversa mole
dos relativistas. Quer saber, isso sim, de falar e escrever direito. A
julgar pela máxima do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein – "os limites
da minha linguagem são também os limites do meu pensamento" –, os
brasileiros que tentam melhorar seu português estão também aprendendo a
pensar melhor. 

-----------------------
[1] Dinâmica pela qual o Estado vem passando desde sua criação no século
XV, na qual Bobbitt acrescentou uma nova etapa.
[2] Existem várias definições sobre a Democracia, o que dá margem a
inúmeras interpretações. Além disso, as particularidades de cada sociedade
dão ensejo a diferentes práticas do sistema democrático.
[3] Grupo de pressão; grupo dos que freqüentam as antecâmaras dos
parlamentos com o objetivo de influenciar os deputados no sentido de
votarem de acordo com os seus interesses.

[4] As associações de interesse não são necessariamente entidades autônomas
que pressionam de fora do Estado, sendo também partidos políticos, podendo,
pelo menos em parte, ter caráter heterônimo face as autoridades
governamentais e agir como canais como canis seletivos na formação (e na
implementação) da política pública.
[5] Veja a matéria completa no Anexo I
[6] "
2Z\ ¡¢£¬­çèéöøùû
ð×ðïð?ðŽðtiti^iPiPF9hÛphbIäOJ[7]QJ[8]^J[9]hbIäOJ[10]QJ[11]^J[12]hÛ Governo
dos mais ricos.
[13] Conceito Bakhtiniano (Mikhail Bakhtin, pelo qual se forma um diálogo
"virtual! Entre aquilo que é dito no texto e alguma idéia a ele
relacionada, a qual pode ser indiretamente/subliminarmente percebida pelo
leitor)

[14] Conceito Bakhtiniano, que afirma a existência de várias "vozes"
(aquilo que ouvimos, vemos, lemos e reelaboramos consciente ou
inconscientemente, passando a afirmar como produto autêntico da nossa
reflexão) numa produção textual.
[15] LUKES, Steven. Power: A radical view. P. 15
[16] Figura de estilo que consiste em engrandecer ou diminuir
exageradamente a verdade das coisas.
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