ANÁLISE DO ENSAIO \"A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA\"

July 23, 2017 | Autor: Ivan Petry | Categoria: Walter Benjamin, Comunicação, Escola de Frankfurt, Teorias Da Comunicação
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FACULDADE DE TECNOLOGIA OPET
PRODUÇÃO MULTIMÍDIA



IVAN SEQUEIRA PETRY




ANÁLISE DO ENSAIO "A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA"







CURITIBA
ABRIL / 2013
IVAN SEQUEIRA PETRY






ANÁLISE DO ENSAIO "A OBRA DE ARTE NA ERA DE SUA REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA"
Trabalho apresentado à
disciplina "Teorias e História da Comunicação"
Faculdade de Tecnologia OPET
Professor Rodrigo Otavio dos Santos






CURITIBA
ABRIL / 2013
Análise do ensaio "A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica"

Introdução
Este trabalho irá sintetizar, analisar e complementar as ideias presentes no ensaio "A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica" publicado em 1935 e escrito por Walter Benjamin, um filósofo e intelectual alemão. A separação de tópicos usadas no ensaio será usada de forma semelhante neste trabalho com o intuito de esclarecer e trazer para os tempos atuais alguns aspectos abordados pelo autor no século XX, no qual se eminenciava o surgimento de uma indústria cultural de massa.
Reprodutibilidade técnica
Com o passar do tempo e o avanço da tecnologia, o homem descobre uma maneira de reproduzir imagens. Começando pela xilogravura, passando pela litografia e se estendendo até as impressoras mais modernas dos dias de hoje, o foco artístico acabou sofrendo consequências dessa reprodutibilidade técnica. Há décadas atrás, se você quisesse decorar sua casa com a imagem de uma bela paisagem, era necessário contratar um pintor com técnicas e dons suficientes para fazer um bom quadro. Além disso, você precisaria comprar as tintas certas e o quadro certo para que a obra ficasse impecável. Hoje em dia você tem uma opção, no mínimo, menos trabalhosa. Basta comprar uma máquina fotográfica razoável, ir a algum lugar com uma vista que lhe agrade e apertar o botão de tirar foto. Com esse exemplo, a mudança de foco da arte fica muito nítida. Assim podemos concluir de uma forma um pouco grotesca: o que antes necessitava de um grande pintor com talento, hoje só precisa de alguém com bom gosto para escolher uma paisagem. A execução se torna menos importante que o conteúdo da obra, logo, o olho do "artista" recebe mais valor do que a mão.
A verdade é que depois da invenção da fotografia, o aumento da reprodutibilidade se tornou inevitável. Isso não significa que as obras de arte de grandes artistas consagrados, como Monet e Picasso, tenham perdido seu valor. Muito pelo contrário, essa reprodução massiva de suas obras fez com que se tornassem ainda mais conhecidas e valorizadas em todo o mundo. Além disso, a reprodutibilidade técnica traz uma maior autonomia, uma maior liberdade para captar e transformar imagens de uma maneira que foge ao natural do olho humano. Basta abrir programas como o Photoshop para usufruir dessa autonomia.
Autenticidade e Destruição da Aura
A autenticidade de uma obra engloba principalmente sua existência única e sua história. Essas características são percebidas com a tradição e o peso que certas obras de arte trazem consigo ao longo do tempo. Pinturas famosas, como Monalisa e O Grito, trazem uma essência muito específica: uma energia que revela a aura (o "aqui e agora") da arte, a consciência de que aquilo foi pintado por um artista genial e nunca poderá ser reproduzido da mesma forma, nem passar pelas mesmas situações históricas vividas por ela. Esse sentimento da aura é um fenômeno muito mais interno que externo, sendo que cada indivíduo tem uma sensação diferente em relação a uma mesma obra. Isso depende do repertório gerado por experiências passadas, e, por conseguinte, da interpretação que esse repertório ocasiona em cada um.
O livro pode ser considerado uma das primeiras obras feitas para massa, ou seja, de forma reprodutível. A aura não é possível nos livros porque a reprodutibilidade técnica acaba com tal elemento. A grande característica da autenticidade é o fato da obra ser única, logo, como a essência de um livro são justamente as inúmeras impressões dele, a reprodução massiva faz com que a aura da obra se perca. Outro possível motivo para a não autenticidade de um livro é o fato dele ser adaptado para diversos idiomas diferentes. Basta ler um livro inglês na versão original e compará-lo com a versão em português para perceber a nítida diferença entre um e outro. A simples interpretação e mudança de uma língua para outra modifica a obra original. Isso faz com que a aura seja perdida, reforçando a ideia de que livros não carregam autenticidade.
Outro exemplo de deterioração da aura é o cinema. Ora, o cinema não existiria sem as diversas reproduções feitas por ele. Levando em conta que o custo para a produção de um filme é muito elevado, o número de espectadores para assistir a obra precisa ser igualmente grande para que tenha sentido fazê-la. É inimaginável produzir um filme e disponibilizar apenas uma única cópia dele. Com isso, esse conceito vai sendo destruído ao longo dessa revolução tecnológica da arte, mudando completamente as perspectivas da sociedade. Passando de uma apreciação mais sensível e individual da arte para algo mais massivo. Assim se dá o início da indústria cultural de massa.
Ritual e Política
As primeiras obras de artes produzidas pelo homem carregam uma grande importância teológica. Elas exprimem uma função de culto na forma de religião, na qual a obra de arte se apresenta como canal de comunicação com Deus. Além disso, desde os primórdios da igreja, o clero usava imagens para mostrar para a população um pouco mais sobre a religião e seus significados. Nesse contexto, a obra de arte é usada como um meio de comunicação para um ritual social. As obras de Michelangelo, como as várias pinturas presentes na Capela Sistina, exprimem muito bem a inserção da arte na época da Renascença.
Com o surgimento da fotografia, a arte toma um papel bem diferente na sociedade. Ela deixa a dependência ritualística de lado, para torna-se pura e dependente. Sua função agora é muito mais política do que religiosa. Nesse caso é necessário entender a palavra "política" em uma definição mais ampla; como comportamento, tendência ou até mesmo estilo de vida da sociedade. A reprodutibilidade técnica permite essa nova função na medida em que as obras de arte, como os filmes, começam a ditar comportamentos da coletividade social.
Durante seu ensaio, Walter Benjamin, cita algumas vezes o fascismo, já que o texto foi escrito durante a época que antecedeu a Segunda Guerra Mundial e o autor é alemão. Assim sendo, convém abordar como exemplo às propagandas cinematográficas elaboradas por Goebbles, o ministro da propaganda na Alemanha Nazista. Essas produções tinham o objetivo de implantar o ideal de Hitler, no qual a raça ariana era superior às demais raças, demonizando o povo judeu. E como a história mostrou, essas propagandas obtiveram sucesso. Com esse exemplo fica clara a função política que a arte passa a exercer sobre a sociedade. Nesse caso a função foi usada de forma mal intencionada, porém vale lembrar que ela também pode visar o bem estar social, como em propagandas governamentais que auxiliam e incentivam a população nas mais diversas áreas humanas.
Valor de culto e valor de exposição
As obras de arte carregam valores agregados a elas. Podemos citar dois deles que se opõem: os valores de culto e exposição. O primeiro manifesta o sentimento que às pessoas têm por alguma obra, ou seja, o vínculo emocional que cada indivíduo cria com a arte. Há alguns séculos atrás, muitas obras de arte religiosas só poderiam ser vistas por integrantes do clero. Para o resto da população a grande importância daquelas obras era que elas existiam. Mesmo que a maior parte da população não visse essas obras, apenas o fato de ela existir já tinha um grande significado religioso. Nos tempos atuais, podemos colocar como exemplo de valor de culto, o fato de algumas pessoas carregarem fotos de pessoas amadas dentro de uma carteira. O que está em jogo não são quantas pessoas irão ver aquela foto, e sim que ela existe e está lá representando a pessoa retratada.
Em contra partida, o valor de exposição traz características opostas ao valor de culto. Este revela o lado expositivo da obra, o qual a exibição se torna necessária e fica em primeiro plano no que diz respeito à função artística. Com a ascensão da reprodutibilidade técnica, seja por meio do cinema, seja pelas réplicas de pinturas famosas, o valor de exposição ganha mais espaço e vai ofuscando gradativamente o valor de culto. Podemos citar como estopim dessa ascensão, algumas fotos tiradas por Atget. Nelas ele retrata ruas de Paris totalmente vazias, sem nenhuma pessoa. Ao retirar o homem da foto (representante da afetividade e sentimento), pela primeira vez, o valor de exposição é mais importante que o de culto; bem como a função política da fotografia fica mais efetivada.
É verdade que nos tempos atuais podemos observar uma popularização massiva das redes sociais, por isso cada vez mais o valor de exposição está sendo hipervalorizado de tal forma que a linha divisória entre o que é público e privado se torna extremamente tênue. O que se percebe é a formação de uma sociedade que tem a necessidade de se expor.
Valor de eternidade
Na Grécia Antiga o fato de reproduzir algum objeto era totalmente desconhecido. O que hoje é algo totalmente natural para nós, era impensável para os gregos. Eles esculpiam um bloco de concreto que se tornava, sem escalas, uma bela estátua ou monumento. Naquela época, quando uma obra de arte era construída, ela era única e ninguém nem imaginava reproduzi-la. O valor de eternidade nada mais é do que esse ideal de unidade e não reprodutibilidade; ideal inevitável que trouxe as características tão especiais da arte grega.
Com o aparecimento da reprodutibilidade técnica esse valor é rapidamente destruído. A produção de um filme é complexa e passa por diversos processos diferentes, ou seja, há várias escalas para que o projeto final esteja concluído. Primeiro há todas as filmagens, para então todas as cenas serem montadas nas ordens específicas e da maneira correta, sem contar todos os processos de tratamento que a imagem passa. Mesmo as fotografias são frequentemente editadas de diversas formas. Dificilmente você vai encontrar uma revista com fotos de modelos que não tenham passado pela mão de um editor fotográfico. Dessa forma a obra de arte não traz mais o valor de eternidade, deixa de ser tão "crua" para alcançar a perfectibilidade.
O fim desse valor traz uma qualidade e liberdade às artes que nunca fora almejado antes. Graças a essa especialização podemos ver, por meio do cinema, personagens fictícios de quadrinhos se encaixarem em nosso mundo; e isso, segundo Franz Werfel, é a verdadeira função do cinema: "exprimir a dimensão do fantástico, do miraculoso e do sobrenatural". Por outro lado, a desestruturação do valor de eternidade tira um pouco da parte humana das obras de arte. Visto que os homens são imperfeitos, essa busca pela perfectibilidade nunca irá se concretizar.
Cinema e Teatro
Como visto no primeiro tópico deste trabalho, a invenção da fotografia abalou o mundo das artes e modificou de forma drástica o conceito de arte, dando mais valor ao olho do que à mão. Pois bem, essa afirmação, no que diz respeito à mão, também se encaixa nas produções cinematográficas. Um das principais características que torna um filme bom é a montagem dele, a arte por traz do cinema está em escolher em meio a tantas cenas: qual ordem elas devem ser colocas, que efeitos devem ser usados, quais músicas deverão tocar no fundo etc.
A interpretação do ator cinematográfico também tem um valor artístico, mas se torna pouco significante perto da montagem. O ator que faz cinema, além de fazer uma boa atuação de seu personagem, precisa interpreta na frente de diversos profissionais das mais variadas áreas, câmeras enormes e luzes extremamente fortes. Sem contar os filmes que usam cenários chroma-keys, nos quais os atores tem que imaginar uma situação ou personagem que não existe fisicamente e só será inseridos nas cenas após as gravações. Convenhamos, uma tarefa nem um pouco fácil. E é por esse motivo que atores de cinema não interpretam personagens, mas sim a si mesmos. Will Smith, Johnny Depp, Tom Cruise: basta pensar em alguns artistas famosos de Hollywood para perceber que eles sempre senguem um padrão em qualquer personagem que fazem, esse padrão é o lado humano que eles passam para a tela, o lado pessoal e individual de cada um deles.
A realidade na produção de teatros contrasta bastante com a do cinema. Em um teatro não há tanta pressão em cima do ator. Sem diretores, roteiristas e câmeras, ele se sente mais livre para fazer a interpretação de seu personagem. O teatro é arte do ator, pois o grande foco artístico é a interpretação. Pelo fato das peças serem ao vivo, elas sempre serão únicas porque nunca sairão da mesma forma, seja por um erro de fala, seja por um simples passo a mais no palco. Sendo assim, é possível concluir que o teatro é uma arte mais "humana" que o cinema.
Do ponto de vista do espectador também podemos notar algumas diferenças peculiares entre cinema e teatro. A principal delas é o enquadramento. Enquanto o cinema pode posicionar as câmeras em perspectivas variadas de imagem, no teatro é você que escolhe a "posição da câmera". Em uma peça de teatro há mais possibilidades para o espectador imaginar uma história, visto que nem todas as cenas são mostradas concretamente ou com exatidão, porém no cinema isso não ocorre, é tudo muito mais direto e concreto, sem muito espaço para a imaginação.
No começo da invenção do cinema, ele era muito vinculado com o teatro, logo sofreu influências teatrais, todavia ocorreram várias mudanças e aperfeiçoamentos durante os anos, sendo que hoje em dia podemos concluir que essas duas artes se distinguiram de tal maneira que se tornaram totalmente independentes uma da outra, trazendo características próprias e específicas. Sendo assim, um ator cinematográfico dificilmente consegue fazer teatro e vice-versa.
Exposição e Manipulação
O abalo que a reprodutibilidade técnica causou na vida de toda a sociedade é enorme. A política foi uma área que foi diretamente influenciada por esse novo advento. Vamos analisar uma questão importante: há algum tempo atrás, o parlamento era o grupo que fazia a democracia e todos reconheciam que o poder político estava concentrado naquele grupo como um todo. Com a possibilidade de transmitir mensagens por diversos meios, uma pessoa desse parlamento é escolhida para ser responsável por transmitir as informações e ideias de interesse político. Dessa forma, essa noção de grupo se dissolve para uma noção de líder individual. O orador dos discursos políticos passa a ser visto como o detentor de todo o poder.
O orador político normalmente tem muito carisma e sabe a maneira de transmitir ideias para um grande público, sendo assim a identificação de toda a população com a pessoa que estiver no poder é muito mais fácil. Logo, com a confiança da população, a manipulação das mensagens que são transmitidas é facilmente realizada. Para ter certeza de que essa mudança de noção acontece, basta perceber que quando você vota em algum político, normalmente, não conhece todos os membros do partido que estão por trás dele.
Ainda no que diz respeito ao contato da sociedade com a possibilidade de reprodução de mídias, podemos observar alguns outros fatores que se modificaram. Após a reprodutibilidade técnica, o número de informações que nós temos acesso tem crescido exponencialmente. Hoje em dia é possível saber sobre qualquer assunto, basta fazer uma breve pesquisa em sites de busca como o Google. Com essa grande gama de acesso a informações, as pessoas começam a ficar mais inteiradas nas mais diversas esferas do conhecimento, conseguindo dialogar mais facilmente. A consequência disso é a diminuição de distância entre o autor e o leitor, visto que agora o conhecimento é mais acessível. Assim, por meio de e-mails na seção "carta do leitor" em revistas ou jornais, todos podem expressar suas ideias em relação a algo que é publicado. Dessa forma, leitor e autor constroem, de maneira integrada, uma linha de raciocínio muito mais consistente e interessante.
É no cinema que essas participações e críticas começam a se apresentar de forma mais concreta. Ora, em uma arte coletiva, na qual as reações perante a obra também são sentidas coletivamente, já era de se esperar a participação das pessoas. A questão é que qualquer um tem capacidade de criticar um filme, porém é necessário ter certo estudo artístico para fazer a crítica de uma pintura. O cinegrafista possui muito mais recursos para a conclusão de seu filme, já o pintor só possui pincéis, tintas e sua própria técnica. O decesso das pinturas se dá por esse fator, mas também, especialmente, pelo fato delas serem obras não direcionadas para a recepção coletiva.
Essa possibilidade de interagir também traz alguns fatores negativos. Na medida em que as pessoas têm a possiblidade de interagir mais, a vontade de exposição também se torna maior. E essa excessiva necessidade de se expor é aproveitada pelas mais diversas áreas capitalistas. São inúmeros os exemplos desse aproveitamento: reality shows como Big Brother Brasil, vídeos publicados a todo o momento no Youtube, revistas e programas de fofoca sobre celebridades, etc. Ver pessoas sendo expostas e ser exposto acaba se tornando algo natural em nosso mundo contemporâneo.
A ascensão do onírico
O cinema tem um poder forte de mostrar o que nossos olhos não veem. Ele mostra tudo que está ao nosso redor sobre outra perspectiva e acaba por criar um novo mundo. As obras cinematográficas passam a nos dar mais liberdade, escapando do normal em busca do onírico. Os cineastas encontram a maneira de usar o cinema como uma ferramenta que faz com que os espectadores fugiam de seus dia-a-dias e vejam coisas inimagináveis se tornarem visíveis e "possíveis". Com o cinema, nosso espaço não é mais restrito até onde nossos olhos alcançam, e sim até onde uma câmera e toda sua tecnologia podem ir. Harry Potter, O senhor dos Anéis, Shrek: hoje em dia são inúmeros os filmes, incluindo animações, que retratam mundos novos e diversas perspectivas diferentes.
A tentativa de exibir esse onírico por meio de obras de arte também foi uma tentativa do movimento dadaísta. Esse tipo de arte tentou resgatar o significado das artes em meio à ascensão da reprodutibilidade técnica, dando um tom crítico social e de percepção tátil e onírica a suas obras. As obras dadaístas atingiam os espectadores pelo fato de trazerem consigo um novo conceito de arte, o qual ia em direção oposta à estética e beleza imposta por movimentos artísticos anteriores. A obra A Fonte de Marcel Duchamp, que é literalmente o que o título propõe: um urinol; dá uma boa ideia do que foi o movimento dadaísta.
Percepção e Recepção
A percepção que cada pessoa tem sobre uma obra de arte ou objeto é única e depender de fatores passados. Um estudioso da arte que vai a um museu tem uma interpretação e visão diferente do lugar do que uma pessoa leiga. O primeiro vê as obras de arte com recolhimento, ou seja, de uma maneira mais minuciosa e técnica. A pessoa que não tem tanto conhecimento vai ao museu buscando distração e entretenimento. Esse exemplo não se restringe só a obras de arte, mas a todas as áreas do conhecimento.
Um filme pode ser visto de forma descompromissada com o único objetivo de lazer, porém, o mesmo filme também pode ser assistido e analisado com mais profundidade e entendimento. E dentro dessa analise há várias leituras diferentes que podem ser feitas, tudo depende de quem assiste e do quanto conhecimento e cultura esse espectador possui.
Um folder pode ser considerado bonito e bem feito por qualquer pessoa, todavia só um designer pode dizer às teorias que estão por traz da arte daquele folder, explicando o porquê dele estar bonito. Enfim, a pessoa com recolhimento vê os objetos de seu estudo de uma forma mais profunda e intensa, dando muito valor a todas suas características; enquanto a pessoa com distração tem uma visão mais superficial e sem compromisso com o objeto.
Outro aspecto interessante no que diz respeito à percepção do mundo e suas artes são os dois tipos de recepções existentes. A recepção tátil faz referências às visões que nós já estamos acostumados, ou seja, cenas, objetos ou acontecimentos que vemos com frequência. A fachada de sua casa, a sala de aula onde você estuda e o quarto onde você dorme: todos esses são exemplos de recepções táteis. Em contrapartida, a recepção ótica engloba o que não é visto rotineiramente, objetos ou lugares vistos pela primeira vez ou com pouca frequência. Resumidamente, a recepção tátil é a visão acostumada ou de recolhimento enquanto a recepção ótica é a visão primária ou de distração.
Um prédio novo e com uma bonita arquitetura pode ser visto de duas formas. A primeira vez que você vê o prédio, há certo deslumbramento e admiração pela construção, mas a partir do momento que você começa morar lá, ele se torna tão habitual que a beleza anterior acaba se tornando menos importante. Ou seja, uma obra de arquitetura carrega as duas recepções, tanto a ótica quanto a tátil. O mesmo acontece no cinema, primeiramente ficamos impressionados com a qualidade e efeitos na tela, entretanto com o passar do filme aquilo se torna natural e a história do roteiro fica em primeiro plano. Essas duas recepções são nada mais, nada menos do que a transformação da visualização do novo no habitual.
A guerra e suas funções
Satélite e internet: duas das mais brilhantes tecnologias criadas graças à guerra. Apesar das diversas mortes ocasionadas pela guerra, ela manifesta a enorme capacidade que o ser humano tem de criar tecnologias novas. Uma guerra nada mais é do que o confronto entre o homem e a tecnologia, sendo que nesse confronto descobrimos nossos limites sobre o controle do que produzimos.
Não podemos negar que a evolução dos meios de comunicação proporcionou a evolução do mundo como um todo. Ora, essa evolução dos meios só foi possível pelas guerras. Além disso, ela serve para mostrar ao homem, de uma forma devastadora, seus limites perante a natureza. Nesse aspecto, a guerra, na qual as massas vestem uniformes, erguem bandeiras e se organizam de forma singular, revela seu lado estético, seu lado "artístico".
Conclusão
Apesar de ter sido escrito no século passado, o ensaio de Walter Benjamin continua aplicável à atualidade e expressa a revolução que a reprodutibilidade técnica causou nas artes e em todas as áreas da sociedade. É importante e muito interessante entender todos os processos pelos quais as artes e as mídias de todos os tipos passaram. Dessa forma, podemos ter uma visão mais ampla e correta do que está ocorrendo nos dias de hoje, bem como o que poderá acontecer no futuro em relação a todas as produções multimídias.
Referências
BENJAMIN, Walter. "Magia e técnica, arte e política". São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.


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