ANÁLISE DO LIVRO \" A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS \" DE THOMAS KUHN

May 27, 2017 | Autor: Alexandre de Jesus | Categoria: Thomas S. Kuhn, Historia da Ciência, Filosofia da Ciência, Paradigmas
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ANÁLISE DO LIVRO “A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS” DE THOMAS KUHN Alexandre de Jesus dos Prazeres

INTRODUÇÃO Este texto desenvolve uma análise do livro “A estrutura das revoluções científicas”, escrito por Thomas Kuhn originalmente em inglês, The Structure of Scientific Revoluntions, cuja primeira edição apareceu em 1962. Thomas Kuhn nasceu em 18 de Julho de 1922 em Cincinnati, Ohio, Estado Unidos. Graduou-se em Física em 1943 pela Universidade de Harvard. Recebeu desta mesma instituição o grau de Mestre em 1946 e o grau de Doutor em 1949, ambos na área de Física. Após ter concluído o doutorado, Kuhn tornou-se professor em Harvard. Lecionou uma disciplina de Ciências para alunos de Ciências Humanas. A estrutura desta disciplina baseavase nos casos mais famosos da história da ciência, devido a isso Kuhn foi obrigado a familiarizar-se com este tema. Este fato foi determinante para o desenvolvimento da sua obra. Em 1956, Kuhn foi lecionar História da Ciência na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Tornou-se professor efetivo desta instituição em 1961. Em 1964, tornou-se professor de Filosofia e História das Ciências na Universidade de Princeton. Em 1971, Kuhn começa a lecionar no Massachusetts Institute of Technology – MIT, onde permaneceu até terminar a sua carreira acadêmica. Kuhn morreu em 17 de Junho de 1996, vítima de câncer. Em “A estrutura das revoluções científicas”, Kuhn observa que as pesquisas sobre a História da Ciência tendem a gradativamente abandonar o conceito de desenvolvimento por acumulação, lançando dúvida sobre o que se compreendia até então sobre o desenvolvimento do conhecimento científico. Ele propôs que “talvez a ciência não se desenvolva pela acumulação de descobertas e invenções individuais” (KUNH, 2011, p.21). Deste modo, os historiadores da ciência gradualmente passaram a propor, muitas vezes sem se aperceberem do que estavam fazendo, novas espécies de questões e a traçar linhas diferentes de desenvolvimento para as ciências, frequentemente não-cumulativas. Isto conduz tais pesquisas a buscar respostas para perguntas diferentes.

Em vez de procurar as contribuições permanentes de uma ciência mais antiga para nossa perspectiva privilegiada, eles procuram apresentar a integridade histórica daquela ciência, a partir de sua própria época. Por

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exemplo, perguntam não pela relação das concepções de Galileu e as da ciência moderna, mas antes pela relação entre as concepções de Galileu e aquelas partilhadas por seu grupo, isto é, seus professores, contemporâneos e sucessores imediatos nas ciências. Além disso, insistem em estudar as opiniões desse grupo e de outros similares a partir da perspectiva – usualmente muito diversa daquela da ciência moderna – que dá a essas opiniões o máximo de coerência interna e a maior adequação possível à natureza (KUHN, 2011, p.22).

Para compreensão da tese proposta por Kuhn, necessita-se observar o modo como ele concebe o desenvolvimento típico de uma disciplina científica. Ele concebe a seguinte estrutura aberta: Estabelecimento de um paradigma; Ciência normal; Anomalia e Crise; Revolução científica; Novo paradigma.

1 ESTABELECIMENTO DE UM PARADIGMA

Esta fase pode ser entendida como um período de indefinições para uma determinada disciplina científica. É o estágio de desenvolvimento das diversas ciências que se caracteriza pela contínua competição entre diversas concepções de natureza distintas. É uma fase na qual várias escolas ou correntes teóricas coexistem e competem entre si com o intuito de alcançar uma posição modelar ou de referência para determinada ciência. Todas essas escolas mantém certa relação com os ditames da “observação” e do “método científico”, não sendo um ou outro insucesso do método o que as diferenciou, mas o que Kuhn irá chamar de incomensurabilidade de suas maneiras de ver o mundo e nele praticar a ciência. As escolas características desta fase do desenvolvimento de uma ciência, persistindo na fase paradigmática, criam uma situação na qual predominam pelo menos algum corpo implícito de crenças metodológicas e teóricas interligadas que permita seleção, avaliação e crítica. Esse corpo de crenças está implícito na coleção de fatos, sendo suprido externamente por uma metafísica em voga, por outra ciência ou por um acidente pessoal e histórico. Nesta fase, cientistas diferentes confrontados com a mesma gama de fenômenos – mas em geral não com os mesmos fenômenos particulares – os descrevem e interpretam de maneiras diversas (KUHN, 2011, p.37). Trata-se de um período de estabelecimento no qual a ciência não alcançou o status de “ciência normal”, que é caracterizada pelo surgimento de um “paradigma”, termo estreitamento relacionado com a “ciência normal” (KUHN, 2011, p.31). No tocante ao que significa “paradigma”, Kuhn (2011, p.13) afirma o seguinte: “Considero ‘paradigmas’ as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante

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algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência.” Neste sentido, “paradigma” é um modelo que os cientistas seguem num determinado período histórico e que é constituído por teorias, formas de procedimento, métodos e certos princípios metafísicos. Quando, pela primeira vez no desenvolvimento de uma ciência, um indivíduo ou grupo produz uma síntese capaz de atrair a maioria dos praticantes de ciência da geração seguinte, as escolas mais antigas começam a desaparecer gradualmente. Seu desaparecimento é em parte causado pela conversão de seus adeptos ao novo paradigma, mas sempre existem alguns que se aferram a uma ou outra das concepções mais antigas e são simplesmente excluídos da profissão e seus trabalhos ignorados. O novo paradigma implica uma definição nova e mais rígida do campo de estudos (KUHN, 2011, p.39).

2 CIÊNCIA NORMAL Por “ciência normal” Kuhn compreende a fase na qual o modelo proposto por um dos grupos de pesquisadores em competição prevalece sobre os demais, constituindo-se em paradigma para determinada ciência. Na explanação kuhniana, a “ciência normal” forma um binômio indissociável com o paradigma. A ciência entra em uma fase normal justamente quando é guiada sob a égide de um paradigma. Nas palavras de Kuhn (2011, p.29):

[...] ciência normal significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas (paradigmas). Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para a sua prática posterior.

Além disso, essas realizações científicas desempenham o papel de um exemplar, sentido primevo e etimológico de paradigma. O “paradigma” é a ciência normal em atividade, serve para definir implicitamente os problemas e métodos legítimos de um campo de pesquisa para as gerações posteriores de praticantes da ciência. Isto ocorre quando uma terminada escola científica apresenta as seguintes características essenciais: suas realizações foram suficientemente sem precedentes para atrair um grupo duradouro de partidários, afastando-se de outras formas de atividades científicas dissimilares e, simultaneamente, suas realizações eram suficientemente abertas para deixar toda a espécie de problemas para serem resolvidos pelo grupo redefinido de praticantes da ciência.

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O que concede ao paradigma o seu status, segundo Kuhn (2011, p.44), é o fato do paradigma ser mais bem sucedido que seus competidores na resolução de alguns problemas que o grupo de cientistas reconhece como graves. O sucesso de um paradigma é, a princípio, em grande parte, uma promessa de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e ainda incompletos. A ciência normal consiste na atualização dessa promessa, atualização que se obtém ampliando-se o conhecimento daqueles fatos que o paradigma apresenta como particularmente relevantes, aumentando-se a correlação entre esses fatos e as predições do paradigma e articulando-se ainda mais o próprio paradigma. Neste sentido, o trabalho da ciência normal, compreendida enquanto ciência amadurecida, é realizar acabamentos ou resoluções de questões deixadas em aberto após o estabelecimento do paradigma. Isto faz com que a maioria dos cientistas, durante toda sua carreira, ocupe-se com operações de acabamento do paradigma.

A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécie de fenômeno; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma frequentemente nem são vistos. Os cientistas também não estão constantemente procurando inventar novas teorias; frequentemente mostramse intolerantes com aquelas inventadas por outros. Em vez disso, a pesquisa científica normal está dirigida para a articulação daqueles fenômenos e teorias já fornecidos pelo paradigma (KUHN, 2011, p.44-45).

O trabalho da ciência normal não é produzir grandes novidades, mas aumentar o alcance e a precisão com os quais o paradigma pode ser aplicado, algo obtido através da eliminação de ambiguidades que ainda persistem no paradigma desde a sua versão original. O paradigma, ao ser abraçado pela comunidade científica, traz consigo os critérios para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, podem ser considerados como dotados de uma solução possível.

3 ANOMALIA E CRISE

Como pode ser observado, a ciência normal consiste na atividade de solucionar quebra-cabeças, buscando ser bem sucedida no empreendimento de ampliação contínua do alcance e da precisão do conhecimento científico dentro dos limites do paradigma. E, segundo Kuhn (2011, p.77), “a ciência normal não se propõe descobrir novidades no terreno dos fatos ou da teoria; quando é bem sucedida, não as encontra. Entretanto, fenômenos novos e insuspeitados são periodicamente descobertos pela pesquisa científica.”

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Tais descobertas, ou novidades, relativas aos fatos e que culminam na alteração das teorias científicas, são denominadas anomalias no interior do paradigma. E sua descoberta começa com a consciência da anomalia, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal (KUHN, 2011, p.78). Segundo Kuhn (2011, p.89), os traços de todas as descobertas das quais emergem novos tipos de fenômenos incluem essas características: a consciência prévia da anomalia, a emergência gradual e simultânea de um reconhecimento tanto no plano conceitual como no plano da observação e a consequente mudança das categorias e procedimentos paradigmáticos – mudança muitas vezes acompanhada por resistência. As mudanças nas quais essas descobertas de novidades ou anomalias estão implicadas são tanto construtivas como destrutivas. Isto devido ao fato de que depois da assimilação da descoberta, os cientistas encontrarem-se em condições de dar conta de um número maior de fenômenos ou explicar mais precisamente alguns dos fenômenos previamente conhecidos. Tal avanço somente foi possível porque algumas crenças ou procedimentos anteriormente aceitos foram descartados e, simultaneamente, substituídos por outros (KUHN, 2011, p.93). É a consciência da anomalia que desempenha um papel na emergência de novos tipos de fenômenos, consciência que em nível mais profundo torna-se pré-requisito para todas as mudanças aceitáveis de teoria (KUHN, 2011, p.94). A persistência dessa consciência da anomalia por muito tempo penetrará tão profundamente na comunidade científica que é possível descrever os campos por ela afetados como em estado de crise crescente. A emergência de novas teorias é geralmente precedida por um período de insegurança profissional pronunciada, pois exige a destruição em larga escala de paradigmas e grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência normal. Como seria de esperar, essa insegurança é gerada pelo fracasso constante dos quebra-cabeças da ciência normal em produzir os resultados esperados. O fracasso das regras existentes é o prelúdio para uma busca de novas regras (KUHN, 2011, p.95). Kuhn (2011, p.105), porém, chama a atenção para fato que enquanto os instrumentos proporcionados por um paradigma continuam capazes de resolver os problemas que este define, a ciência move-se com maior rapidez e aprofunda-se ainda mais através da utilização confiante desses instrumentos. A razão é clara. Na manufatura, como na ciência – a produção de novos instrumentos é uma extravagância reservada para as ocasiões que a exigem. O significado das crises consiste exatamente no fato de que indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos.

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Todas as crises iniciam com o obscurecimento de um paradigma e o consequente relaxamento das regras que orientam a pesquisa normal. As crises podem terminar de três maneiras. Primeira, algumas vezes a ciência normal acaba revelando-se capaz de tratar do problema que provoca crise, apesar do desespero daqueles que o viam como o fim do paradigma existente. Segunda, em outras ocasiões, o problema resiste até mesmo a novas abordagens aparentemente radicais. Nesse caso, os cientistas podem concluir que nenhuma solução para o problema poderá surgir no estado atual da área de estudo. O problema recebe então um rótulo e é posto de lado para ser resolvido por uma futura geração que disponha de instrumentos mais elaborados. Terceira, finalmente, a crise pode terminar com a emergência de um novo candidato a paradigma e com uma consequente batalha por sua aceitação (KUHN, 2011, p.115-116). A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através de uma articulação do velho paradigma. É antes uma reconstrução da área de estudos a partir de novos princípios, reconstrução que altera algumas das generalizações teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e aplicações. Durante o período de transição haverá uma grande coincidência entre os problemas que podem ser resolvidos pelo antigo paradigma e os que podem ser resolvidos pelo novo. Haverá igualmente uma diferença decisiva no tocante aos modos de solucionar os problemas. Completada a transição, os cientistas terão modificado a sua concepção da área de estudos, de seus métodos e de seus objetivos (KUHN, 2011, p.116). Frequentemente, um novo paradigma emerge – ao menos embrionariamente – antes que uma crise esteja bem desenvolvida ou tenha sido explicitamente reconhecida. Contudo, em outros casos decorre um tempo considerável entre a primeira consciência do fracasso do paradigma e a emergência de um novo. A ciência neste período pode ser chamada de ciência extraordinária (KUHN, 2011, p.117-118).

4 REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E NOVO PARADIGMA Por revolução científica, Kuhn (2011, p.125) considera “aqueles episódios de desenvolvimento não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior.” Em seguida, explicando o paralelismo existente entre revoluções políticas e científicas, reconhecendo grandes e essenciais diferenças que separam o desenvolvimento político do

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científico, mas com a pretensão de justificar o uso do termo “revolução” como uma metáfora presente tanto num contexto quanto noutro, Kuhn (2011, p.126) afirma:

De forma muito semelhante, as revoluções científicas iniciam-se com um sentimento crescente, também seguidamente restrito a uma pequena subdivisão da comunidade científica, de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na exploração de um aspecto da natureza, cuja exploração fora anteriormente dirigida pelo paradigma. Tanto no desenvolvimento político como no científico, o sentimento de funcionamento defeituoso, que pode levar à crise, é um pré-requisito para a revolução.

Ainda no tocante a metáfora contida no termo “revolução”, Kuhn (2011, p.126-127) explicita que as revoluções políticas visam realizar mudanças nas instituições políticas, mudanças

essas proibidas

por essas mesmas instituições

que se quer mudar.

Consequentemente o êxito das revoluções requer o abandono parcial de um conjunto de instituições em favor de outro. E, nesse interim, a sociedade não é integralmente governada por nenhuma instituição. De início, é somente a crise que atenua o papel dos paradigmas. Em números crescentes, os indivíduos alheiam-se cada vez mais da vida política e comportam-se sempre mais excentricamente no interior dela. Então na medida que a crise se aprofunda, muitos desses indivíduos comprometem-se com algum projeto concreto para a reconstrução da sociedade de acordo com uma nova estrutura institucional. A essa altura, a sociedade está dividida em campos ou partidos em competição, um deles procurando defender a velha constelação institucional, o outro tentando estabelecer uma nova. Quando ocorre essa polarização, os recursos de natureza política fracassam. Por discordarem quanto à matriz institucional a partir da qual a mudança política deverá ser atingida e avaliada, por não reconhecerem nenhuma estrutura supra-institucional competente para julgar as diferenças revolucionárias, os partidos envolvidos em um conflito revolucionário devem recorrer finalmente às técnicas de persuasão de massa, que seguidamente incluem a força. O estudo histórico da mudança de paradigmas científicos revela características muito semelhantes a essas, ao longo da evolução da ciência. Tal como a escolha entre duas instituições políticas em competição, a escolha entre paradigmas em competição demonstra ser uma escolha entre modos incompatíveis de vida comunitária. Por isso a escolha de um novo paradigma não ocorre apenas devido ao impacto gerado por questões da natureza e da lógica no interior das pesquisas científicas. A escolha do paradigma não pode ser resolvida de forma inequívoca empregando-se tão somente a lógica e os experimentos. Não se trata de novos conhecimentos que surgem em substituição a

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ignorância, num processo cumulativo, mas como resultado da eficácia das técnicas de argumentação persuasiva no interior dos grupos muito especiais que constituem a comunidade dos cientistas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frank Usarski (2008, p.69-77), discorrendo sobre a teoria de paradigmas como paradigma metateórico, reconhece na abordagem de Thomas Kuhn três dimensões da integridade de uma ciência: a filosófica, sociológica, e histórica. Na dimensão filosófica, a aceitação de uma “realização científica passada” como paradigma efetua uma padronização do pensamento dentro de uma disciplina. Na fase préparadigmática, várias escolas coexistem lado a lado. Contudo, com a aceitação do paradigma, a multiplicidade de abordagens dá espaço a convicções uniformes sobre o campo de estudo, os métodos de investigação e a terminologia técnica que direciona a comunicação científica. Depois que um paradigma é aceito, as discussões sobre problemas axiomáticos desaparecem, pois um paradigma surge como se fosse uma solução plausível daqueles problemas. A partir daí o trabalho disciplinar é caracterizado pela aplicação e pelo aperfeiçoamento do instrumental teórico e metodológico oferecido pelo paradigma, tais atividades constituem tarefa da “ciência normal”. Quanto à dimensão sociológica, nesta dimensão, o paradigma dá surgimento a uma comunidade científica que defende certa visão do campo de estudo, um conjunto de conceitos, teorias, termos, métodos e instrumentos de pesquisa. A realização científica influencia a relação entre membros de um grupo de cientistas, possibilitando a existência de um corpo social aderente aos pressupostos e convicções inerentes a dimensão filosófica do paradigma.

Quando, pela primeira vez no desenvolvimento de uma ciência da natureza, um indivíduo ou grupo produz uma síntese capaz de atrair a maioria dos praticantes de ciência da geração seguinte, as escolas mais antigas começam a desaparecer gradualmente. Seu desaparecimento é em parte causado pela conversão de seus adeptos ao novo paradigma. Mas sempre existem alguns que se aferram a uma ou outra das concepções mais antigas; são simplesmente excluídos da profissão e seus trabalhos são ignorados.” (KUHN, 2011, p.39)

Em outras palavras, um paradigma produz um efeito homogeneizador tanto na dimensão filosófica de uma disciplina quanto no sentido sociológico, pois a aceitação de um paradigma é seguida de um grau crescente de institucionalização da comunidade científica

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correspondente, por exemplo, pelo lançamento de revistas especializadas, pela fundação de sociedades de especialistas e por uma reivindicação de um lugar especial no mundo universitário. No tocante à dimensão histórica do paradigma, deve-se considerar que este possui uma dinâmica que se desenvolve no decorrer do tempo. Kuhn propõe como uma regra que a disciplina passe por movimentos cíclicos de três fases: subida de um paradigma, a fase da ciência normal rotineira e o declínio da validade de um paradigma até uma revolução científica mediante a qual um novo paradigma se impõe como sujeito do mesmo processo histórico. Por outro lado, atua certa força de inércia no meio da comunidade científica preocupada com a manutenção do paradigma estabelecido. Isto é assegurado através da elaboração de currículos universitários e materiais de ensino que tornem as novas gerações de estudantes comprometidos com o paradigma no qual nos membros mais velhos da disciplina já vivem. Isto evidencia uma resistência no tocante a mudanças. Estas só ocorrerão forçadas por uma crise que culmine numa revolução, que por sua vez, terá o papel de alterar a ordem das coisas. Diante disto tudo, nota-se uma noção implícita de realidade objetiva, concreta. Em outros termos, a crise produzida no paradigma é decorrente do fato deste não conseguir mais solucionar problemas oriundos da realidade concreta. Neste sentido, a ciência lida com um objeto que existe na realidade e cujos problemas podem ser detectados objetivamente por vários indivíduos. Desta maneira, os problemas não solucionados e oriundos da realidade servem como critério para se julgar quem está certo ou errado na forma como está interpretando os fatos do mundo.

REFERÊNCIAS

KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2011. USARSKI, Frank. Perfil paradigmático da ciência da religião na Alemanha. In: TEIXEIRA, Faustino (Org.). A(s) ciência(s) da religião no Brasil: afirmação de uma área acadêmica. São Paulo: Paulinas, 2008. p.67-101.

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