Análise do poema “Mar Bravo”, de Manuel Bandeira

July 5, 2017 | Autor: André Concetti | Categoria: Literatura brasileira, Letras
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRA E CIÊNCIAS HUMANAS




ANDRÉ SOUZA CONCETTI




Análise do poema "Mar Bravo", de Manuel Bandeira










SÃO PAULO, 2015
SUMÁRIO
1. Comentário.........................................................................................................3
2. Sobre metrificação, rimas e ritmo..................................................................................3
3. Corpo de análise............................................................................................................5
4. Bibliografia....................................................................................................................8
Anexo 1: O poema.................................................................................................7





















Comentário
O poema "Mar Bravo", exposto neste trabalho, foi escrito por M. Bandeira e é integrante do livro Estrela da Vida Inteira (1987). No poema, Bandeira trata da revolta de um mar e da inveja do eu-lírico quanto à impetuosidade do movimento incontido em revelar todos seus sentimentos e angústias perante as adversidades da vida.

Sobre a metrificação, rimas e ritmo
O poema é constituído de seis estrofes e essas estrofes contém cinco versos em cada uma. Os versos apresentam os seguintes esquemas de rimas:

Primeira estrofe - ABBAB
Segunda estrofe – ABBAB
Terceira estrofe – ABBAB
Quarta estrofe – ABBBA
Quinta estrofe – ABABA
Sexta estrofe – AABBA

Pode-se observar claramente que as estrofes possuem uma certa irregularidade em suas rimas pois na metade do poema elas são iguais (ABBAB), mas no restante, ela sofre várias modificações. Esse recurso de colocar uma certa irregularidade induzida nas rimas dá aos versos o sentido de um movimento não ordenado, que pode ser comparado à irregularidade de uma maré cheia, de um mar revolto. Para ilustrar a utilização desse recurso, segue abaixo uma imagem contendo um pedaço do poema (Fig. 1) e o gráfico de um registro da altura das marés da cidade de Ubatuba (Fig. 2):

Figura 1



Figura 2

Observando essas duas imagens, fica mais do que claro que o objetivo do poeta foi alcançado com êxito. O ritmo gráfico(que pode ser visto na figura 1) e sonoro que é conferido pela alternância do número de sílabas poéticas deu ao poema uma configuração única que pode ser atribuída como característica.
É visto no poema também que a acentuação dos versos se situa geralmente na sílaba de número quatro ou seis. Essa acentuação também contribui para a construção de um ritmo forte, envolvente, marcante, com muitas sílabas tônicas, assim como o poeta diz que é o mar bravo:
"Mar que arremetes, mas que não cansas,
Mar de blasfêmias e de vinganças"

Corpo de análise
Manuel Bandeira, poeta modernista e dono de uma variedade criadora mas ainda assim simples expõe, no poema que é alvo desta análise, um sentimento aprisionado que faz a angústia tomar seu coração e transformar sua vivência em um cotidiano repleto de doses de impotência diante do que lhe comove.
Um drama silencioso se engrandece dentro do eu-lírico mas o mesmo ainda se mostra extremamente tímido em transparecer e externalizar toda essa comoção. Essa se mostra a raiz do poema, quando o poeta demonstra uma explícita vontade de se deixar ser mais precipitado, repentino e impetuoso assim como um mar revolto que não se deixa influenciar por nada além de sua mais puro e verdadeiro sentimento.
A inveja da imponderada externalização é mostrada claramente nos versos abaixo:
"As minhas cóleras homicidas,
Meus velhos ódios de iconoclasta,
Quedam-se absortos diante da vasta,
Pérfida vaga que tudo arrasta,
Mar que intimidas!"
Quando o poeta diz "Quedam-se absortos..." entende-se que todas as suas raivas e descontentamentos ficam extasiados em observar a força intimidadora e que arrasta todas as deslealdades que provém do mar.
O eu-lírico mostra sofrer com a falta de uma ferramenta que permite mostrar e orientar o caminho de uma maior expressão de suas vontades e sentimentos. Essas vontades e sentimentos parecem estar sempre presas numa névoa densa e extremamente fora de seu alcance que faz com que ele esteja num estado constante de decepção consigo mesmo.
Essa luta constante do eu-lírico com o turbilhão de sentimentos que se apodera de seu corpo e mente pode ser relacionado claramente com a inconstância do movimento das marés, que ora estão calmas, acuadas e retidas e ora podem estar no extremo oposto: livre, quebrando com violência na praia e tomada por uma raiva incontrolável que a leva a arrastar tudo e todos que ousem entrar em seu caminho.

O poema em si é dotado de um movimento próprio que remete ao movimento brusco e violento de um mar bravo. Esse movimento é posto quando no verso 4 da primeira, terceira e quinta estrofe e também no verso 5 da segunda, quarta e sexta estrofe o número de sílabas poéticas é drasticamente reduzido, assim como a maré que as vezes pode atingir a areia da praia com suavidade e calma ou tomar conta de tudo numa fração mínima de tempo.


















Anexo 1: O poema
MAR BRAVO
Mar que ouvi sempre cantar murmúrios
Na doce queixa das elegias,
Como se fosses, nas tardes frias
De tons purpúreos,
A voz das minhas melancolias:

Com que delícia neste infortúnio,
Com que selvagem, profundo gozo,
Hoje te vejo bater raivoso,
Na maré-cheia de novilúnio,
Mar rumoroso!

Com que amargura mordes a areia,
Cuspindo a baba da acre salsugem,
No torvelinho de ondes que rugem
Na maré-cheia,
Mar de sargaços e de amarugem!

As minhas cóleras homicidas,
Meus velhos ódios de iconoclasta,
Quedam-se absortos diante da vasta,
Pérfida vaga que tudo arrasta,
Mar que intimidas!

Em tuas ondas precipitadas,
Onde flamejam lampejos ruivos,
Gemem sereias despedaçadas,
Em longos uivos
Multiplicados pelas quebradas.

Mar que arremetes, mas que não cansas,
Mar de blasfêmias e de vinganças,
Como te invejo! Dentro em meu peito
Eu trago um pântano insatisfeito
De corrompidas desesperanças!...



Bibliografia
http://www.mares.io.usp.br/sudeste/sudeste.html [Acesso em 20/06/2015 as 15:00]
CÂNDIDO, Antônio. O Estudo Analítico do Poema. São Paulo: Humanitas Publicações, 1996
Revista Iberoamericana, Vol. LXXXI, Núm. 250, Janeiro-Março 2015







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