Análise Documental Agoniza mas não morre, Nelson Sargento.docx

May 28, 2017 | Autor: Anna Karolina | Categoria: Samba, Nelson Sargento, análise documental
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SARGENTO, Nelson. Sonho de um sambista. Rio de Janeiro: Eldorado, 1979.
A G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro foi fundada em 05 de Março de 1953, e atualmente se sedia na Rua Silva Teles, número 104, no bairro do Andaraí, vizinho do bairro da Tijuca. Atualmente possui nove títulos do carnaval carioca, sendo, o último em 2009 com o enredo "Tambor".
Tradicional escola de samba carioca, a G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira foi fundada em 28 de abril de 1928. É atual campeã do carnaval carioca (2016) e possui 19 títulos. Seu "Presidente de Honra" é Nelson Sargento e a Mangueira, como popularmente é chamada, é a escola madrinha da Acadêmicos do Salgueiro.
GRANJA, Patrick. Nelson Sargento: A história do bom samba. A nova democracia. Rio de Janeiro, Ano VI, n. 41, mar. 2008. Disponível em: http://anovademocracia.com.br/no-41/1564-nelson-sargento-a-historia-do-bom-samba. Acesso em 15 de outubro de 2016.
BARBOSA, Juliana dos Santos. Nelson Sargento e a cultura do samba: aspectos da criação artística. 22 de fevereiro de 2013. 167 folhas. Tese de doutorado. Londrina, PR: Universidade Estadual de Londrina, 2013.
Agoniza mas não morre – Nelson Sargento: https://www.youtube.com/watch?v=GaSfqESq50w.
SARGENTO, Nelson apud. BARBOSA, Juliana dos Santos. Nelson Sargento e a cultura do samba: aspectos da criação artística. 22 de fevereiro de 2013. 167 folhas. Tese de doutorado. Londrina, PR: Universidade Estadual de Londrina, 2013.
CUNHA, Maria Clementina Pereira. Não tá sopa [recurso eletrônico]: Sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930. Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2015.
LISBOA, Larissa. O samba como resistência e reafirmação. Revista África e Africanidades [on-line]. Ano 2 , n. 8, fev. 2010. Disponível em: http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/Samba_resistencia_reafirmacao.pdf.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e a filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: HUCITEC, 2006.
Léxico – dicionário online de português. Disponível em: https://www.dicio.com.br/lexico/.
LISBOA, Larissa. O samba como resistência e reafirmação. Revista África e Africanidades [on-line]. Ano 2 , n. 8, fev. 2010. Disponível em: http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/Samba_resistencia_reafirmacao.pdf.
BARROSO, Ary. Aquarela do Brasil. Intérprete: Gal Costa. S/L: Polygram/Philips, 1980.
VIOLA, Paulinho da. Paulinho da Viola. Rio de Janeiro: Odeon, 1975.
GAVIÃO, Adilson; GUIMARÃES, Robson; SERENO. A Batucada dos Nossos Tantãs. Intérprete: Grupo Fundo de Quintal. Rio de Janeiro: Som Livre, 1993.
CONCEIÇÃO, Edson; SILVA, Aloísio. A voz do samba. Intérprete: Alcione. S/L: Philips, 1975.
NOGUEIRA, Diogo; RIOS, Inácio. Ao vivo. Intérprete: Diogo Nogueira. Rio de Janeiro: EMI Music, 2007.
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ


Anna Karolina de Souza Carvalho



Análise documental da música "Agoniza mas não morre", de Nelson Sargento






TAUBATÉ
2016
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo analisar a canção "Agoniza mas não morre" de Nelson Sargento, do ano de 1978. Na música, o compositor conta a história da marginalização e também a história desenraizamento do gênero musical samba, de ritmo negro e marginalizado à ritmo branco, ou de todas as etnias, e elitizado, fazendo crítica à mudança de estrutura instrumental e a nova roupagem que é imposta ao gênero.
Samba,
Agoniza mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro.

Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro.

Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu.


Nelson Mattos, conhecido como Nelson Sargento, nasceu em 25 de julho de 1924, apenas 8 anos depois do primeiro samba a ser registrado na Biblioteca Nacional, "Pelo Telefone", de Donga. Foi morar na Tijuca, na casa que sua mãe, Rosa Maria, empregada doméstica, trabalhava. Nelson foi morar no Morro do Salgueiro quando sua mãe saiu do emprego. O Morro do Salgueiro, assim como a maioria das favelas do Rio de Janeiro, se localiza em um relevo na Zona Norte da cidade, em parte suburbana e mais precisamente, no bairro da Tijuca. Era parte de uma plantação de café no final do século XIX e, por isso, foi também um dos primeiros lugares a serem ocupados por ex-escravos no início do século XX. É conhecido por ser o berço da tradicional escola de samba Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Contudo, a escola de samba é uma junção das extintas "Azul-e-Branco", "Unidos do Salgueiro" e "Depois eu digo". É por isso que Nelson Sargento é fruto do samba desde pequeno, conviveu com os sambistas da primeira geração no Salgueiro e, mais tardiamente, no Morro da Mangueira, local que foi morar após o falecimento de seu padrasto. Rosa Maria e Nelson se mudaram para a casa de Alfredo Português – letrista que em 1947 passou a integrar a ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira. Foi Alfredo quem descobriu o talento de Nelson para a música. Segundo Nelson, em entrevista para a revista A Nova Democracia, em 2008, Alfredo era ótimo letrista, mas não sabia fazer música, enquanto ele, sabia. Nelson passa então a ser parceiro de composição de Alfredo Português, escrevendo junto com ele o que foi considerado um dos sambas-enredo da Mangueira mais bonitos de todos os tempos: Primavera, de 1955. Além de Alfredo, Nelson compôs com Cartola, Darcy da Mangueira, Paulinho da Viola, Carlos Cachaça, entre outros nomes notórios do samba carioca. Ele diz, em entrevista concedida a Juliana dos Santos Barbosa, doutora em Linguagem que defendeu sua tese de doutorado sobre Nelson em 2013,

[...] sua casa era um "Butantan Musical": cheio de cobras como Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Zé com Fome, Geraldo Pereira, Gradim, Babaú, Malvadeza e Aniceto, que se reuniam aos sábados e domingos para bater papo, trocar ideias, tocar e cantar.

Nelson Mattos ingressou no exército em 1944, e rapidamente foi promovido a sargento, a patente lhe rendeu o nome artístico, que já carrega há 70 anos.
Em 1978, Nelson Sargento compõe "Agoniza mas não morre", que se eternizou nas rodas de samba após ser gravada pela cantora Beth Carvalho, no LP "De pé no chão", do mesmo ano. E é a partir dessa composição que o trabalho se desenvolve, pretendendo analisar como fonte documental para a compreensão da descaracterização do samba.
A canção de Sargento pode ser encontrada no LP "De pé no chão", de Beth Carvalho, do ano de 1978 na faixa 12, e no seu LP "Sonho de um Sambista", de 1979, na faixa 3. Atualmente a veiculação na internet é grande, sendo possível encontrar a música para download em mp3 e acessá-la em vídeos no site YouTube, como pode ser visto no link presente na nota de rodapé. Sendo assim, é um documento de fácil acesso e uma música reproduzida constantemente nas rodas de samba ao longo do país. É considerada um hino de resistência do samba de raiz.
No momento da composição, havia forte censura do Estado brasileiro, sob domínio militar, aos meios de comunicação e às manifestações artísticas. Contudo, o samba estava em momento de ascensão. Donga e a Velha Guarda já vinham se afirmando desde os anos 1950 no cenário sambista, e continuaram, até a sua morte em 1974. Cartola, no Rio de Janeiro, fazia apresentações realizadas pela UNE (União Nacional dos Estudantes) em 1970, e em 1974 gravou seu primeiro disco solo, consagrando-se como um dos maiores sambistas que já existiu. Em 1976, lançou mais um disco e em 1978 lançou o icônico "Verde que te quero rosa". E posterior à composição de Nelson Sargento, em 1979, João Nogueira fundou o "Clube do Samba". Então, encontramos o questionamento do porquê de Nelson Sargento suplicar pela salvação do samba em sua composição e a tentativa de reafirmação do gênero mesmo com um cenário musical movimentado.
Por isso, para analisar a música de Nelson Sargento é necessário recorrer à História do samba e sua trajetória como música popular: dos batuques à bossa nova, de pretos a brancos. E como base para a história do gênero, que aqui estamos contextualizando com canções e a própria História do Brasil, podemos recorrer às obras de José Ramos Tinhorão: Música popular de índios, negros e mestiços e Pequena história da música popular: da modinha à canção de protesto.
Sargento afirmou, em 2010, durante uma palestra na Pontifícia Universidade Católica que seu tempo era um tempo em que o "samba era divertimento de uma classe pobre". Maria Clementina Pereira Cunha, em seu e-book "Não tá sopa", de 2015, afirma que o samba, em toda sua totalidade, como gênero musical e estilo de vida, se confunde com a própria alma do carioca e do brasileiro. Para ela, o samba, na memória do brasileiro, é uma composição de diversas figuras que moldaram a imagem de samba que temos hoje, por meio da resistência e até mesmo da apropriação. Entre essas figuras destacam-se as baianas, os pais de santos, os malandros, os letristas, os ritmistas, os versadores e, até mesmo o que ela chama de "figuras quase elitizadas", como literatos e figuras do rádio.

Como resultado dessa síntese redutora, o samba, afinal, evoca, para a maioria dos nossos contemporâneos, a ideia de "origem" ou, o que dá no mesmo, uma concepção finalista de resultado da formação brasileira da qual ele seria a melhor expressão.

Por meio de ambas as afirmações, podemos analisar que o ideal cenário sambista de Nelson Sargento, ainda que reconhecendo o prestígio de estar no rádio e na boca do povo, era muito diferente do que vinha acontecendo no Brasil desde os anos 1930, em que o samba deixa de ser cultura marginal e não passa a ser erudito, mas passa a ser consumido pelas classes sociais altas e pelos próprios músicos eruditos. Para Larissa Lisboa, em artigo publicado na Revista África e Africanidades, "O chamado embranquecimento do samba foi a estratégia das classes dominantes em usar um gênero popular para reafirmar um discurso racista, mesmo após a Abolição.", para tal afirmação a graduanda em Letras pela UNICAMP se baseia em Bakhtin e a ideia de que enquanto a classe desfavorecida utiliza-se da linguagem (nesse caso, o samba) para se afirmar como resistência, a classe dominante também utiliza da linguagem para reafirmar seu poder. Portanto, é além de possível, quase óbvio que Nelson Sargento em "Agoniza mas não morre" fala sobre essa relação de poder entre negros e brancos, antes e depois da abolição, durante a marginalização do samba e depois de seu embranquecimento. A composição de Nelson Sargento é explícita no sentido de deixar esclarecido para quem ouve, ou lê, os processos históricos – ainda que não detalhadamente.

Análise
Nelson Sargento inicia sua canção relatando uma salvação do samba quando está prestes a dar o que o cantor chama de suspiro derradeiro. Em seguida, o autor escreveu: "samba / negro, forte, destemido / foi duramente perseguido / na esquina, no botequim, no terreiro". Na estrofe apresentada, Sargento trabalha com o início do samba nos anos 1910-20, e a sua representação cultural enquanto música marginal. É possível analisar, no escrito, logo nas quatro primeiras palavras a relação entre resistência racial e o ritmo – samba, negro, forte e destemido, as duas últimas sendo conceitos que tenta-se trabalhar nos negros até os dias atuais.
O samba, de origem baiana, que construiu seu império no Rio de Janeiro, lutou concomitantemente às ocupações de ex-escravos por espaço. Ao mesmo tempo, as rodas de samba foram inclusas como atividade considerada vadia, o que não as impediam de acontecer, mas, impediam que se realizassem publicamente e fossem marginalizadas como parte da tentativa de limpeza social que se realizava no Brasil nas primeiras décadas do século XX. Ainda nesse segmento de limpeza social e embranquecimento da população, a expressão da fé nos orixás era expressamente proibida, como fora na colônia e no império, considerada feitiçaria. Portanto, havia a perseguição contínua aos negros, candomblecistas ou não, que nos próprios terreiros e casas de pais e mães de santo adaptaram os batuques realizados com atabaques e outros tambores, para o samba – que ganhou o pandeiro, o agogô, o tamborim, o violão, entre outros instrumentos. Nelson Sargento consegue, em uma única estrofe e utilizando poucos conceitos, descrever a realidade do sambista carioca de raiz.
Na terceira estrofe da canção, Sargento aborda o que podemos chamar de atual situação do samba. "Samba / inocente, pé-no-chão / a fidalguia do salão / te abraçou, te envolveu / mudaram toda a sua estrutura / te impuseram outra cultura / e você não percebeu". Ao descrever o samba como "inocente" e "pé-no-chão", com certeza o compositor fala do "samba de gente pobre" que ele conheceu e viveu, e logo em seguida trabalha com o conceito de uma "fidalguia" que abraçou e envolveu o ritmo nos salões. A fidalguia, segundo o dicionário Léxico, seria a aristocracia, a nobreza ou, até mesmo, a elegância e o refinamento. O samba, como gênero, passa por esse processo de elegância e refinamento quando, na década de 1930, a ideia de falar sobre a negritude e a malandragem entra em contradição com a ideologia de Getúlio Vargas e, o samba começa a diluir-se.
A mudança de estrutura e a imposição cultural que o samba como gênero deixa passar despercebido e é chamada atenção por Nelson Sargento, nada mais é do que a estratégia elitista de transformar o ritmo e as letras, como já apontou Lisboa em seu artigo, para se sobressair às camadas pobres e negras da época. A popularidade do samba, da maneira que ele era – falando sobre ser negro, sobre ser malandro, sobre fazer samba com os amigos – incomodava, pois, parecia imoral diante dos discursos de embranquecimento e fortalecimento do trabalho como bem maior. Para isso, era mais satisfatório, tanto para o governo quanto para as elites, "acolher" o samba e transformá-lo em identidade nacional – descaracterizando-o como identidade de uma etnia própria. Vale salientar que brancos já faziam samba desde os primórdios do gênero, entretanto, ele continuava focado em ser parte da cultura da diáspora africana.
O acolhimento do samba como gênero de identidade nacional na década de 1930 pode ser observado por meio de algumas composições, como, por exemplo, Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, lançada em 1939. Na canção, que se popularizou na voz de Gal Costa na década de 1980, e foi interpretada por muitos outros artistas como Carmen Miranda e Caetano Veloso, é possível ver que havia por parte dos compositores a necessidade de incorporar a realidade do negro como realidade de todo e qualquer outro brasileiro – entretanto, não há a fuga dos termos racistas e eufemistas como "mulato" para falar de homens negros ou "morena" para falar sobre mulheres negras. Há também extrema necessidade de falar sobre o Brasil, como um todo, mesclado, miscigenado, mas um todo. "Terra de samba e pandeiro", ou seja, o samba agora, não é mais do negro, não é parte da cultura da diáspora africana, o samba é do Brasil e é do brasileiro – e de preferência do branco, rico, que enxerga aquela batucada como algo "exótico".
Brasil, meu Brasil Brasileiro
Meu mulato inzoneiro,
Vou cantar-te nos meus versos:
O Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil do meu amor,
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil! Prá mim! Prá mim...
Ô, abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Brasil
Deixa cantar de novo o trovador
À merencória à luz da lua
Toda canção do meu amor
Quero ver essa Dona caminhando
Pelos salões, arrastando
O seu vestido rendado
Brasil! Brasil! Prá mim! Prá mim...
Brasil, terra boa e gostosa
Da moreninha sestrosa
De olhar indiferente
O Brasil, verde que dá
Para o mundo admira.
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil... Prá mim... Prá mim...
Esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Ô! Estas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar.
Ô! Esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil Brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil!... Brasil!

Essa apropriação e mudança temática que ocorre na década de 1930 é trabalhada por Nelson Sargento como a imposição de cultura, a estrutura em relação à letra não é um dado que se pode afirmar, mas é uma hipótese de crítica que o compositor possa estar fazendo em sua canção. Assim como, pode ser uma crítica à mudança estrutural do samba na década de 1950 com o surgimento da Bossa Nova. Crítica essa que Paulinho da Viola fez em "Argumento", de 1975.

Tá legal
Eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro
Ou de um tamborim [...]

Portanto, a crítica de Nelson Sargento às mudanças estruturais e culturais do samba são validadas por outros artistas, seus contemporâneos, que já vinham compondo, ou comporiam posteriormente, sobre as tentativas de apagamento da identidade do samba. Tomo como exemplo, não só Paulinho em 1975 com Argumento, mas em 1993 o Fundo de Quintal com A batucada dos nossos tantãs, em que diziam:

Samba, a gente não perde o prazer de cantar
E fazem de tudo pra silenciar
A batucada dos nossos tantãs

No seu ecoar, o samba se refez
Seu canto se faz reluzir
Podemos sorrir outra vez.

Conclusões
Podemos concluir por meio dessa análise que, a canção de Nelson Sargento é um documento que permite a compreensão de como os sambistas enxergam os fenômenos de embranquecimento e elitização do samba. O documento nos permite também perceber que ainda há as composições que buscam contar a história da resistência negra – social e cultural – e que em meio às mudanças estruturais e culturais que o gênero musical sofre, tentam resistir fazendo samba de raiz – passando por Paulinho, em 1975, Nelson, em 1978 e o Fundo de Quintal, em 1993, ainda podemos encontrar essa temática em Não deixa o samba morrer, de Edson Conceição e Aloísio Silva, interpretada por Alcione em 1975 e Samba pros Poetas, de Diogo Nogueira em 2007. Vale ressaltar que dos artistas citados aqui nas conclusões, Diogo é o único branco. O Fundo de Quintal, único grupo citado, tem uma formação inteiramente negra.
Mesmo com todas essas canções de temática resistente às mudanças estruturais do samba, a composição de Sargento é importante pois, entre todas as aqui citadas, é a única que apresenta conteúdo histórico em sua integridade – conta a história do gênero e de sua descaracterização de maneira resumida, nos mostrando explicitamente porque o medo da morte do samba e a súplica pela sua salvação em outras diversas composições. É uma crítica social e cultural que se popularizou e é cantada nas rodas de samba até hoje – pelo menos nas rodas de samba que ainda prezam pela identidade do gênero.
























Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e a filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: HUCITEC, 2006.

BARBOSA, Juliana dos Santos. Nelson Sargento e a cultura do samba: aspectos da criação artística. 22 de fevereiro de 2013. 167 folhas. Tese de doutorado. Londrina, PR: Universidade Estadual de Londrina, 2013.

BARROSO, Ary. Aquarela do Brasil. Intérprete: Gal Costa. S/L: Polygram/Philips, 1980.

CONCEIÇÃO, Edson; SILVA, Aloísio. A voz do samba. Intérprete: Alcione. S/L: Philips, 1975.

CUNHA, Maria Clementina Pereira. Não tá sopa [recurso eletrônico]: Sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930. Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2015.

GAVIÃO, Adilson; GUIMARÃES, Robson; SERENO. A Batucada dos Nossos Tantãs. Intérprete: Grupo Fundo de Quintal. Rio de Janeiro: Som Livre, 1993.

GRANJA, Patrick. Nelson Sargento: A história do bom samba. A nova democracia. Rio de Janeiro, Ano VI, n. 41, mar. 2008. Disponível em: . Acesso em 15 de outubro de 2016.
LISBOA, Larissa. O samba como resistência e reafirmação. Revista África e Africanidades [on-line]. Ano 2 , n. 8, fev. 2010. Disponível em:
. Acesso em 15 de outubro de 2016.

NOGUEIRA, Diogo; RIOS, Inácio. Ao vivo. Intérprete: Diogo Nogueira. Rio de Janeiro: EMI Music, 2007.


SARGENTO, Nelson. Sonho de um sambista. Rio de Janeiro: Eldorado, 1979.

TINHORÃO, José Ramos. Música popular de índios, negros e mestiços. Petrópolis: Vozes, 1972.
______.Pequena história da música popular: da modinha à canção de protesto. Petrópolis: Vozes, 1974.
VIOLA, Paulinho da. Paulinho da Viola. Rio de Janeiro: Odeon, 1975.



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