Análise dos Padrões de Quebra em Espinhos de Peixes: Cerrito PSG02-Valverde Pelotas/RS

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Análise dos Padrões de Quebra em Espinhos de Peixes Cerrito PSG02-Valverde Pelotas/RS DOI 10.5281/zenodo.572327

Introdução

Discussão

Resultados

A análise dos espinhos possibilitou a identificação de duas espécies: a Micropogonias furnieri e o Genidens sp. Ademais, identificamos em alguns peixes a presença de lesões patológicas associadas à hiperostose. A identificação dessa na amostra, além de constituir uma contribuição para futuros trabalhos, aponta para a presença de peixes mais velhos e de dimensões maiores.

O presente trabalho tem por escopo propor um sistema de zonação para espinhos de peixe. A implementação desse sistema visa registrar a presença e a frequência de distintas quebras observadas durante as análises da arqueofauna do sítio PSG02. Ademais, a aplicação deste método tem por objetivo diferenciar os padrões de quebra e o grau de fragmentação dos elementos, buscando assim compreender melhor os processos tafonômicos naturais e culturais envolvidos.

O método desenvolvido neste trabalho demostrou ser bastante eficiente no registro e análise da distinção de tamanhos e zonas de fragmentação em espinhos de peixe (F.1). Assim, acreditamos que o método proposto possa contribuir para o desenvolvimento de futuros trabalhos de ictiofauna em sítios arqueológicos.

O sítio PSG02 é um dos 18 cerritos que compõem o complexo de sítios arqueológicos localizados no Pontal da Barra, Pelotas/RS. No ano de 2014 foram coletados durante escavações arqueológicas diversos fragmentos cerâmicos, líticos, remanescentes humanos e vestígios arqueofaunísticos [1]. Esse sítio foi datado entre 18291630 cal. AP e 898-757 cal. AP [2]. Os cerritos são estruturas monticulares em terra encontradas ao longo do bioma Pampa [3–5]. As populações construtoras de cerritos, no que tange a sua economia, são descritas como caçadoras-pescadoras-coletoras. Na região em estudo um dos vestígios arqueológicos mais abundantes nas escavações é a arqueofauna, em especial a ictiofauna [6]. Esse trabalho tem como foco a análise dos espinhos de peixes provenientes da quadrícula 999N/1000E e de seus 18 níveis artificiais (5 cm).

Métodos

F.2. Representação dos elementos F.3. Comprimento vs. largura (cm) por espécie e elemento. A ósseos por nível e espécie. representação das zonas é assinalada pela cor e pelo tamanho dos círculos.

Foram identificados 1525 fragmentos de espinhos de peixes nos 18 níveis analisados. O Genidens sp. é a espécie mais frequente na amostra, seguida da Micropogonias furnieri e dos indeterminados. A maioria dos espinhos aparece no nível 2. Na maior parte dos casos, a frequência dos espinhos diminui no decorrer dos níveis e é bastante reduzida no nível 15 e 18. (ver F.2). O Genidens sp. apresentou com frequência as zonas de articulação (Z1/Z4) e a zona mesial (Z2). Além de ser mais diagnóstico na amostra em comparação aos espinhos da Micropogonias furnieri. Apenas um espinho dorsal completo de corvina foi identificado. Entretanto, alguns fragmentos incompletos desta espécie apresentaram até 7 cm de comprimento. O Genidens sp. exibiu espinhos de tamanhos distintos de acordo com as zonas identificadas. As zonas de articulação (Z1/Z4) apresentaram larguras maiores e comprimentos menores do que a zona mesial (Z2) (ver F.3).

Ressaltamos que a análise de espinhos de peixe é uma opção de pesquisa importante. Os espinhos, assim como os otólitos também podem e devem ser empregados na identificação e diferenciação de espécies. Além disso, nem sempre contamos com a presença de elementos diagnósticos como os otólitos ou como no caso da amostra do PSG02, devido a razões tafonômicas diversas, esses não são adequados para análise. Uma vez compreendido onde e com que frequência as quebras ocorrem, o próximo passo é compreendermos melhor os motivos desses padrões de quebras. De maneira abrangente, a fragmentação de espinhos pode estar relacionada tanto a processos tafonômicos como ao processamento dos peixes. Um aspecto importante é a remoção deliberada de determinados espinhos para fins variados. Evidências da remoção de espinhos de peixes da ordem Siluriforme, tais como bagres são datadas de até 3900 AP no Egito Antigo no Túmulo de Ti, Saqqara (F.6) [9]

F.1. Zonação aplicada aos espinhos: Espinho Dorsal Genidens sp. (Esquerda); Espinho Peitoral Genidens sp. (Centro); Demais Espinhos (Direita).

Além dos métodos zooarqueológicos de identificação e quantificação, as autoras desenvolveram e implementaram um novo sistema de zonação conforme o proposto por Dobney e Reilly para mamíferos [7]. Ressaltamos que até o presente trabalho não contávamos na literatura com um sistema de zonação para vestígios de peixes [8]. O sistema de zonação tem por objetivo definir regiões ósseas identificáveis com base nas características anatômicas dos elementos e no local de recorrência das quebras. A aplicação desse método visa apoiar inferências relativas à presença de evidências de processamento e alterações tafonômicas. Espinhos de distintas espécies identificadas na amostra foram divididos em diferentes zonas conforme F.1. De modo geral, eles foram divididos em três zonas: a Zona 1 é referente a porção proximal da articulação do espinho, a Zona 2 compreende a parte mesial, já a Zona 3 abrange a parte distal e a ponta do espinho. A única exceção foi o espinho peitoral de Genidens sp., o qual foi dividido em Zonas 1 e 4, na região do processo dorso-lateral, devido ao padrão de quebra observado. Os fragmentos foram então identificados de acordo com as zonas préestabelecidas. Os dados relativos à espécie, ao elemento, a zona, a largura e ao comprimento foram registrados em fichas e usados na elaboração de comparações entre elementos e a representação das zonas versus o seu comprimento ver F.3.

F.6. Pinturas da Tumba de Ti mostrando a remoção de espinhos (Fonte: [9, fig 8] modificado de Von den Driesch 1983). Futuras etapas de trabalho (T.1.) 1

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F.4. Percentual do comprimento e percentual das zonas representadas por nível: espinhos dorsais e peitorais de Genidens sp.

F.5. Comprimento vs. largura (cm) por espécie e com evidências de hiperostose representadas por X.

O comprimento médio do espinho dorsal e do espinho peitoral de Genidens sp. varia entre 2,0 e 2,5 cm com exceções no nível 3, onde os peitorais apresentaram uma percentagem elevada de integridade e um comprimento médio de 3,0 cm. O menor comprimento médio pode ser observado no nível 13 em espinhos dorsais (± 2,0 cm) e no nível 14 em peitorais (± 1,7 cm) (ver F.4). Foram identificados na amostra espinhos com hiperostose. De maneira geral, essas lesões são pouco descritas e discutidas em sítios cerritos. Elas estão presentes principalmente em fragmentos indeterminados. Apesar do comprimento dos espinhos com hiperostose estar de acordo com a variação apresentada para os espinhos sem hiperostose, podemos observar claramente no F.5 que diversos fragmentos exibem uma largura superior (acima de 1,5 cm) à dos espinhos sem hiperostose.

Victória Ulguim, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS Priscilla Ulguim, Teesside University, Middlesbrough, UK | @priscillaulguim

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Analisar sistematicamente e microscopicamente as evidências de corte presentes nos espinhos Investigar em maiores detalhes a Zona 3 e verificar a presença de quebras e desgastes presentes na ponta de alguns espinhos com o objetivo de corroborar ou não a sua associação com a fabricação e uso de artefatos tais como: perfuradores, agulhas, arpões e anzóis Elaborar trabalhos de arqueologia experimental com o objetivo de replicar os padrões de quebra identificados e melhor compreender os aspectos tafonômicos naturais e culturais envolvidos

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Expandir o método proposto de zonação para outros elementos ósseos

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Realizar comparações com outros sítios e desenvolver análises que confirmem a significância estatística dos padrões de quebra em amostras mais amplas

Bibliografia 1. MILHEIRA, R. G. et al. Arqueologia dos Cerritos na Laguna dos Patos, Sul do Brasil: uma síntese da ocupação regional. Rev. Cad. do Ceom 29, 33 (2016). 2. MILHEIRA, R. G., et al. Archaeological earthen mound complex in Patos Lagoon,Southern Brazil: chronological model and freshwater influence. J. Environ. Radioact. (2017). 3. LOPEZ MAZZ, J. M. Las estructuras tumulares (cerritos) del litoral atlantico uruguayo. Lat. Am. Antiq. 12, 231–255 (2001). 4. BONOMO, M. et al. Montículos, Jerarquía Social y Horticultura en Las Sociedades Indígenas Del Delta Del Río Paraná (Argentina). Lat. Am. Antiq. 22, 297–333 (2011). 5. GIANOTTI, C. Paisajes Sociales, Monumentalidad y Territorio en las tierras bajas de Uruguay. (Santiago de Compostela, 2015). 6. ULGUIM, P. F. Zooarqueologia e o estudo dos grupos construtores de cerritos: um estudo de caso no litoral da Laguna dos Patos-RS, sítio PT-02 Cerrito da Sotéia. (Universidade Federal de Pelotas, 2010). doi:10.13140/RG.2.1.4118.7925 7. DOBNEY, K. & REILLY, K. A method for recording archaeological animal bones: the use of diagnostic zones. Circaea 5, 79–96 (1988). 8. BARRETT, J. H. et al. Archaeo-ichthyological Evidence for Long-term Socioeconomic Trends in Northern Scotland: 3500 BC to AD 1500. J. Archaeol. Sci. 26, 353–388 (1999). 9. IRVING, B. G. The pectoral fin spines of European catfish Siluris glanis; cultural artifacts or food remains? Int. J. Osteoarchaeol. 2, 189–197 (1992). Como citar esse trabalho: ULGUIM, V. F.; ULGUIM, P. F. Análise dos Padrões de Quebra em Espinhos de Peixes Cerrito PSG02-Valverde Pelotas/RS. Poster apresentado no V Semana Internacional de Arqueologia Discentes, MAE-USP, 8-12 Maio 2017, São Paulo, 2017. DOI 10.5281/zenodo.572327

V Semana Internacional de Arqueologia Discentes 8-12 Maio 2017 | MAE-USP

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