Análise Factorial Confirmatória Da Versão Portuguesa Do CSAI-2

June 13, 2017 | Autor: José Pinto-gouveia | Categoria: Motricidade humana
Share Embed


Descrição do Produto

Análise Factorial Confirmatória da Versão Portuguesa da Perceived Threat Scale (PTS) do Deployment Risk and Resilience Inventory (DRRI): um Estudo Preliminar Teresa Carvalho (1,2), ([email protected])

Marina Cunha (1,2),

&

José Pinto-Gouveia (1)

([email protected])

([email protected])

1 - CINEICC – Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra 2 - Instituto Superior Miguel Torga

Análise Factorial Confirmatória: A forma como o ser humano e cada indivíduo vivencia e representa o confronto com eventos potencialmente traumáticos e como, posteriormente, estes aspectos são chamados a atribuir significado às experiências pessoais e se tornam responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção de sintomas psicopatológicos, têm sido uma das áreas de interesse da teoria e da prática científica (Ehlers & Clark, 2000; Foa, & Kozak, 1986; Foa, Steketee, & Rothbaum, 1989; Foa & Riggs, 1993; Walser & Westrup, 2007). No contexto da Perturbação Pós-stress Traumático (PTSD) em populações de veteranos de guerra, a ameaça apercebida durante a exposição aos teatros de operações, particularmente à zona de combate, tem demostrado ser um importante preditor no desenvolvimento de sintomas físicos e psicopatológicos (King, King, Gudanowski, & Vreven, 1995; King, King, Foy, Keane, & Fairban1999; Schnurr, Lunney, Sengupta, 2004). Na avaliação deste constructo é frequentemente usada a Perceived Threat Scale (PTS) do Deployment Risk and Resilience Inventory (DRRI; King, King, & Vogt, 2003; King, King, Vogt, Knight, & Samper, 2006).

O presente estudo propôs-se analisar a estrutura latente da versão modificada da PTS (PTS-VM), adaptada à população de combatentes da Guerra Colonial Portuguesa. Esta é composta por duas dimensões (Ameaças de Combate e Ameaças de Não Combate), previamente obtidas através da Análise Factorial Exploratória (AFE). Será também estudada a consistência interna e a capacidade discriminante deste instrumento de auto-resposta. .

Modelo bidimensional de Primeira Ordem (Modelo 1) Foi inicialmente analisado o modelo de primeira ordem composto por dois factores, obtidos através na AFE num estudo prévio (carvalho et al., 2011). Concretamente, a dimensão “Ameaças de Combate”, composta por 8 itens, mede a percepção de ameaça resultante da potencial exposição a situações diretamente relacionadas com as operações de combate (emprego das forças na zona de combate). O segundo factor, intitulado “Ameaças de Nãocombate”, integra 7 itens que avaliam o medo face à eventual exposição a situações ou circunstâncias potencialmente ameaçadoras não directamente relacionadas com as operações de combate, mas passíveis de ocorrer nas fases de preparação, deslocação e emprego das forças durante a Guerra Colonial Portuguesa (ex.: acidentes, ingestão de águas impróprias para consumo. etc.). O Modelo exibe um valor significativo de !2(89) = 353.16, p < .001, resultante da grande dimensão da amostra. Como recomendado, foram calculados outros índices de ajustamento global. Nomeadamente, o GFI = .86, o TLI = .81 e o CFI = .84 indicam valores sofríveis de ajustamento, enquanto o RMSA = .10 e o PCFI = .71, sugerem a presença de um bom ajustamento. Os valores de AIC e ECVI foram, respectivamente, de 415.14 e de 1.37. Os itens apresentam valores de % situados para o factor Ameaças de Combate entre .44 e .77 (R2 compreendidos entre .19 e .69) e para o factor Ameaças de Não-Combate entre .54 e .72 (R2 compreendidos entre .29 e .51). O valor da correlação entre os dois factores é de .61. O Fraco ajustamento global e local do presente modelo determinou a sua rectificação (Modelo2), com base nos índices de modificação. Modelo Bi-factorial de Primeira Ordem Modificado (Modelo 2) De acordo com o valor mais elevado (p < .001) disponibilizado pelos Índices de Modificação do Modelo 1, procedeu-se à rectificação deste modelo (Modelo 2; Figura 1) através da correlação dos resíduos correspondentes aos itens 9 e 10 que integram o factor Ameaças de Não-combate.

PARTICIPANTES

.

A amostra é constituída por 310 homens da população geral de combatentes da Guerra Colonial Portuguesa, recrutados através de contactos pessoais. Os subsequentes contactos foram obtidos em rede, por indicação dos veteranos previamente contactados (amostragem Bola de Neve). As características da amostra são apresentadas na Tabela 1.

•  O Modelo 2 possui bons indicadores de ajustamento global (GFI = .92; TLI = .93; CFI = .94; RMSEA = . 06; PCFI = .79) com excepção do Qui-quadrado (!2(88) = 186.56, p < .000), pela razão descrita.

INSTRUMENTOS

•  Apresenta ainda validade factorial e valores de fiabilidade individual adequados (Figura 1).

Perceived Threat Scale-Versão Modificada (PTS-VM; King et al., 2003, 2006; Carvalho, Cunha, & Pinto-Gouveia, 2011): este instrumento de auto-resposta mede a ameaça à segurança e bem-estar pessoais percepcionada durante a exposição aos teatros de operações militares. Os seus 15 itens descrevem avaliações emocionais e cognitivas associadas a situações que podem ou não traduzir realidades objectivas ou factuais. Com a autorização dos autores originais, a versão Portuguesa da PTS foi adaptada ao contexto da Guerra Colonial, tendo sido modificados os conteúdos dos itens, 3, 11, 12, 13 e 14 por não se aplicarem aos respectivos teatros de operações. Num estudo preliminar prévio (Carvalho et al., 2011), esta versão exibiu uma adequada consistência interna, com valores de alpha de Cronbach de .82 para os dois factores (Ameaças de Combate e Ameaças de Não-Combate) e de .87 para a escala global. PTSD Checklist-Military Version (PCL-M; Weathers, Litz, Huska,, & Keane, 1994; versão Portuguesa de Carvalho, Cunha, & Pinto-Gouveia, não publicado): composta por 17 itens que avaliam, numa escala de resposta de 5 pontos, a severidade dos sintomas da PTSD de acordo com a DSM-IV. Neste estudo, a consistência interna deste instrumento de auto-resposta é de .96. Beck Depression Inventory (BDI; Beck, Ward, Mendelson, Mock, & Erbaugh, 1961; versão Portuguesa de Vaz Serra & Abreu, 1973): questionário de auto-resposta composto por 21 itens que medem sintomas depressivos. Obteve-se para a amostra utilizada no presente estudo uma consistência interna de .94. Anxiety and Stress Scales of DASS-21 (Lovibond & Lovibond, 1995; versão Portuguesa de PaisRibeiro, Honrado, & Leal, 2004): o DASS-21 é um instrumento de auto-resposta composto por tês dimensões que avaliam sintomas psicopatológicos de depressão, ansiedade e stress. Os seus 21 itens são respondidos numa escala de resposta de 4 pontos. As Escalas de Ansiedade e de Stress utilizadas neste estudo apresentam uma adequada consistência interna (Escala de ansiedade. alpha de Cronbach =.89; Escala de Stress alpha de Cronbach =.93). PROCEDIMENTOS Procedimentos Metodológicos: O Protocolo de avaliação foi distribuído, pessoalmente e via correio. A participação dos sujeitos foi voluntária, foi obtido o consentimento informado por parte destes e os princípios éticos da investigação científica foram respeitados. Procedimentos Analíticos: A estrutura factorial da PTS-VM foi avaliada através da Análise Factorial Confirmatória (AFC). Empregou-se o Modelo das Equações Estruturais (MEE), por recurso ao método de máxima verosimilhança. A normalidade dos itens foi analisada através dos coeficientes de assimetria (Sk) e achatamento (Ku). Segundo Kline (2005), valores de Sk >|3| e Ku >|10| indicam desvios severos à distribuição normal. Na identificação de outliers utilizou䇳se a distância quadrática de Mahalanobis (DM2). Na avaliação da qualidade do ajustamento global dos modelos foram tidos em consideração os seguintes índices: Chi-square (!2) e respectivo p-value, Goodness of Fit Index (GFI), Tucker-Lewis Index (TLI), Comparative Fit Index (CFI), Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA) e o Parsimony CFI (PCFI). Utilizaram-como valores de referência de um bom ajustamento os seguintes: o !2 quanto menor, melhor, com p-value > .05; CFI, GFI e TLI " .90; RMSEA # .10; PCFI " .06 (Marôco, 2010). Os índices Alkaike Information Criterion (AIC) e o Expected Cross-Validation Index (ECVI) permitiram comparar a qualidade de ajustamento dos modelos em comparação, sendo considerado o melhor modelo ajustado aquele que apresenta valores inferiores. Mais, o Teste da Diferença do Quiquadrado foi utilizado na análise das diferenças estatísticas entre o ajustamento dos modelos concorrentes. A qualidade do ajustamento local foi estimado através dos pesos factoriais padronizados (!) e das fiabilidades individuais (R2) dos itens: ! " .50 e R2 " .25 para todos os itens do factor indicam a presença de uma validade factorial e fiabilidade individual adequadas. O refinamento do modelo foi feito a partir dos Índices de Modificação para multiplicadores de Lagrange superiores a 11 (p < .001). Para o modelo final, foi ainda analisada a consistência interna (alpha de Cronbach) e a capacidade discriminante da PTS, esta última através do teste t-Studet para amostras independentes, após garantido o pressuposto da normalidade. Quando não se verificou a homogeneidade das variâncias, este teste foi utilizado com a com a correcção de Welch.

Na Tabela 1 estão representadas as características gerais da amostra Tabela 1. Características da Amostra (n = 660) M

DP

Mínimo

Máximo

Idade

63.54

5.07

55

83

Anos de escolaridade

7.81

4.34

2

22

Meses de exposição à guerra

29.74

21.09

1

172

Nº de missões cumpridas

1.19

0.72

1

5

•  Os valores de AIC = 250.56 e ECVI = 0.82 são inferiores aos do Modelo 1 (AICdiff = 164.58; ECVIdiff = 0.55), sendo o seu nível de ajustamento significativamente melhor (!2diff = 348.60, gldiff = 1, p < .001). •  A correlação entre os dois factores é de .65 (Figura1).

Figura 1. Modelo Bi-factorial de Primeira Ordem Modificado da PTS-VM (Modelo 2)

Consistência Interna Obteve-se uma adequada consistência interna na presente amostra, caracterizada por um $ = .82 para o factor Ameaças de Combate, um $ = .83 para o factor Ameaças de Não-Combate e um $ = .86 para a escala global. Validade Discriminante Para analisar a capacidade discriminante da PTS-VM, foram constituídos dois sub-grupos de participantes para a escala total e para cada factor, recorrendo aos valores da mediana. Os sujeitos com um somatório igual à mediana foram excluídos. O Teste t de Student mostrou a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os sub-grupos com baixa e alta percepção de ameaça (respectivamente, com valores abaixo e acima da mediana) na escala total e nas suas duas dimensões da PTS-VM relativamente aos sintomas da PTSD, de depressão, de ansiedade e de stress. Os veteranos de guerra com elevados valores de ameaça apercebida apresentam mais sintomas psicopatológicos, comparativamente aos que exibem baixos valores (Tabela 2). Tabela 2. Comparação da Média do PCL-M, do BDI e da DASS-21 nos Sub-grupos da PTS-VM Escala Total (PTS-VM)

Medidas Baixa (n=151)

Ameaças de Combate (PTS-VM)

Alta (n=149)

Baixa (n=141) t

df

p

Ameaças de Não-Combate (PTS-VM)

Alta (n=149)

M

DP

M

DP

Baixa (n=142) t

df

p

Alta (n=151)

M

DP

M

DP

t

df

p

M

DP

M

DP

PCL-M

30.81

15.24

45.93

16.91

-8.14

298

. 000

30.97

15.16

44.87

17.52

-7.24

285.75

. 000

31.98

15.45

44.70

17.53

-6.57

291

.000

BDI

7.88

8.22

14.33

10.03

-6.09

285.5 4

. 000

8.60

9.00

13.44

9.70

-4.40

2.88

. 000

7.74

7.22

14.44

10.65

-6.34

265.07

.000

DASS-21 Ansiedade

2.94

4.04

5.90

4.78

-5.78

288.6 3

. 000

3.05

3.93

5.47

4.19

-4.65

280.33

. 000

3.02

3.80

5.68

4.94

-5.17

280.33

.000

DASS-21 Stress

4.59

5.01

8.22

5.24

-6.13

298

. 000

4.56

4.88

7.94

5.27

-5.65

288

. 000

4.71

4.66

8.09

5.47

-5.69

288.31

.000

Os resultados da AFC demostram que a versão portuguesa da PTS adaptada a veteranos da Guerra Colonial Portuguesa (PTS-VM) confirma a estrutura composta por dois factores, obtida num estudo prévio sobre a sua AFE (Carvalho et al., 2011). Desconhecem-se estudos de outros autores sobre a estrutura factorial da PTS, tendo a unidimensionalidade da versão original resultado do consenso de peritos (King et al., 2003, 2006). A obtenção de uma adequada consistência interna corrobora os resultados para a PTS-VM obtidos por Carvalho e colaboradores (2011). Para a escala total, os valores do alpha de Cronbach são semelhantes aos obtidos por King e colaboradores (2006) de $ = .86 e $ = .89. A PTS-VM apresenta ainda a capacidade para discriminar combatentes com e sem sintomas psicopatológicos, particularmente os relacionados com a PTSD de guerra/combate.

Beck, A. T., Ward, C. M., Mendelson, M., Mock, J., & Erbaugh, J. (1961). An Inventory for measuring depression. Archives General Psychiatry, 4, 561–571 Carvalho, T., Pinto-Gouveia, J., & M Cunha, M. (2011). Portuguese version of the Difficult Living and Working Environment Scale of the Deployment Risk and Resilience Inventory (DRRI): a study with Portuguese colonial war veterans, Psychomed, 3 Special Issue: “Clinical science”, ISSN: 1828-1516. URL: www.crpitalia.eu/psychomedeng.html Carvalho, T. J., Cunha, M. A., Pinto–Gouveia, J. A., & Duarte, J. M. (2013). Portuguese version of the PTSD Checklist–Military Version (PCL–M) — I: Confirmatory Factor Analysis and Reliability. Manuscript submitted for publication. Ehlers, A., & Clark, D. M. (2000). A cognitive model of posttraumatic stress disorder. Behav Res Ther, 38(4), 319-345. Foa, E. B., & Kozak, M. J. (1986). Emotional processing of fear: exposure to corrective information. Psychol Bull, 99(1), 20-35. Foa, E. B., & Riggs, D. S. (1993). Post-traumatic stress disorder in rape victims. In J. Oldham, M. B. Riba & A. Tasman (Eds.), Annual Review of Psychiatry (Vol. 12). Wahington, D. C.: American Psychiatry Association. Foa, E. B., Steketee, G., & Rothbaum, O. (1989). Behavioral/cognitive conceptualizations of post-traumatic stress disorders. Behav The, 20, 219-239. King, D. W., King, L. A., Foy, D. W., Keane, T. M., & Fairbank, J. A. (1999). Posttraumatic stress disorder in a national sample of female and male Vietnam veterans: risk factors, war-zone stressors, and resilience-recovery variables. J Abnorm Psychol, 108(1), 164-170. King, D. W., King, L. A., Gudanowski, D. M., & Vreven, D. L. (1995). Alternative representations of war zone stressors: relationships to posttraumatic stress disorder in male and female Vietnam veterans. J Abnorm Psychol, 104(1), 184-195. King, D. W., King, L. A., & Vogt, D. S. (2003). Manual for the Deployment Risk and Resilience Inventory (DRRI): A collection of measures for studyng deployment-related experiences of military veterans. Boston: National Center for PTSD. King, L. A., King, D. W., Vogt, D. S., Knight, J., & Samper, R. E. (2006). Deployment Risk and Resilience Inventory: A collection of measures for studying deployment-related experiences of military personnel and veterans. Military Psychology, 18(2),89-120Weathers, F. W., Litz, B. T., Huska, J. A., & Keane, T. M., (1994). PCL-M for DSM-IV. National Center for PTSD - Behavioral Science Division. Boston. Kline, R. B. (2005). Principles and practice of structural equation modelling 2nd ed. New York: The Guilford Press. Marôco, J. (2010). Análise de equações estruturais: fundamentos teóricos, software e aplicações. Pêro Pinheiro: ReportNumber. Schnurr, P. P., Lunney, C. A., & Sengupta, A. (2004). Risk factors for the development versus maintenance of posttraumatic stress disorder. J Trauma Stress, 17(2), 85-95. Pais–Ribeiro J, Honrado A, & Leal I (2004). Contribuição para o estudo da adaptação Portuguesa das Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS) de 21 itens de lovibond e lovibond. Psicologia, Saúde & Doenças, 5, 229–239. Walser, R. D., Westrup, D. (2007). Acceptance and commitment therapy for the treatment of post-traumatic Stress Disorder and trauma-related problems: a practitioner´s guide to using mindfulness and acceptance strategies. Oakland: New Harbinger publications, Inc.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.